
17 minute read
Cravos e Nicolinas as Festas nos anos de 1974 1975
from OsmusikéCadernos 2
by osmusike
José Ribeiro velhosnicolinos@gmail.com
Testemunhos:
Advertisement
António Amaro das Neves Gaspar Vitorino de Sousa Ferreira José Carlos Ferreira Gomes Correia José da Cunha Oliveira Ribeiro
LIBERDADE!
Outono de 1974. O país vive a ressaca do 25 de Abril. O regime tinha sido deposto. Respira-se enfim. Fervilham as movimentações políticas. Todos têm opinião sobre tudo e sucedem-se as Assembleias, Reuniões Gerais e debates mais ou menos ad hoc.
Aproximam-se as Festas Nicolinas carregadas, há vários séculos, aos ombros dos estudantes vimaranenses. Diz-nos José Carlos Correia, que seria presidente da Comissão de Festas neste 1974: “Nos meses pós 25 de Abril houve muita agitação no Liceu, com sucessivas RGA’s a propósito de tudo e mais alguma coisa, mas foi das poucas escolas onde não houve saneamentos”. António Amaro das Neves, aluno do Liceu de Guimarães de então, diz-nos também: “aqueles eram dias em que tudo se discutia”.
ELITISMO
As Nicolinas, na senda “progressista”, eram acusadas de elitismo e anacronismo. A história repetia-se. Já nos tempos de uma anterior revolução, aquela que desembarcou na implantação da República, pelos idos de 1910, houve acusações do mesmo jaez. Como diz António Amaro das Neves, “muitos defenderam que as festas dos estudantes a S. Nicolau, com os seus batuques de selvagens, não eram próprias de um meio civilizado, pelo que deviam ser extintas”. Já por essas alturas os estudantes faziam questão de rebaixar os caixeiros, considerando-os de estatuto social inferior.
Regressando a 1974, o elitismo era manifesto na desconsideração dos estudantes da então Escola Industrial que não tinham o estatuto Nicolino. Há um conhecido episódio que se passou pouco antes, quando os estudantes do Liceu, em dia de Roubalheiras, afixaram à entrada da dita escola a placa que surripiaram à Casa dos Pobres, numa mensagem clara. Em Coimbra, poucos anos antes, em 1969, o Presidente da Associação Académica, o vimaranense e Nicolino Alberto Martins, no famoso episódio do “peço a palavra”, tinha desencadeado a Crise que culminou no Luto Académico e, entretanto, na sequência, o traje académico havia sido abolido.
PROCESSO DE ELEIÇÃO DA COMISSÃO
Outono de 1974. Aproximam-se as Festas Nicolinas e o primeiro passo para a sua prossecução é o processo de eleição da Comissão de Festas. Foi feita, como desde há décadas atrás, ao pé do chafariz, no Largo Martins Sarmento, junto ao Convento do Carmo. Chafariz, com mais de quatro séculos, ele próprio anterior à mais antiga notícia que temos sobre as Nicolinas, datada de 1645, e que estava desterrado do seu lugar original para onde regressou recentemente: o Largo do Toural. Diz-nos António Amaro das Neves que “[a eleição decorreu] com todos os eleitos a envergarem trajo casual, como hoje se diria, em vez do rigor da capa e da batina da tradição. Sinal dos tempos…” (A fotografia seguinImagem 40 - Comissão de Festas Nicolinas 1974

te prova-o)
Eleita no Jardim do Carmo pelas 15 horas do dia 4 de novembro Assembleia presidida por-Alberto José Guedes Lameiras
Presidente- José Carlos Ferreira Gomes Correia Tesoureiro- José Carlos das Neves Macedo Guimarães Vice-presidente- José Alberto Ribeiro Gomes Alves Secretário- Henrique Alcino Mendes Carvalho Machado Primeiro-vogal da Academia- Gaspar Vitorino de Sousa Ferreira Segundo-vogal da Academia- António Manuel da Costa Machado Faria Primeiro-vogal de Festas- Simão Roriz Marques Segundo-vogal de Festas- José Maria Teixeira de Oliveira Nogueira Chefe de Bombos- Abel Fernando de Bessa Monteiro Subchefe de Bombos- Fernando José de Matos Martins Fernandes
Socorremo-nos, novamente, de José Carlos Correia que afirma que “[a eleição] foi pacífica e dentro daquilo que até aí vinha sendo habitual, ou seja, reunião no Largo do Carmo, candidatando-se os estudantes na hora e sendo a votação por voto ‘mais ou menos secreto’, isto é, cada um de nós segredava ao ouvido do ‘Presidente’ o seu voto”. Esta escolha sempre se manteve democrática, mesmo durante os tempos da ditadura do Estado Novo, resistindo a interferências da Mocidade Portuguesa porque, antes de mais, era da ‘rapaziada vimaranense’. E, de novo, naqueles tempos de política exacerbada, não se deixaram manobrar pelos atores de então. Diznos de novo José Carlos Correia que “as únicas tendências políticas organizadas eram as de extremaesquerda e tinham o bom senso de não de meterem em coisas que poderiam ser ‘perigosas’ e, como tal, mantiveram-se fora de problemas”.
PEDITÓRIO
Mas as Festas implicam a recolha de fundos. O usual peditório decorreu com normalidade. Os estudantes, não se podendo identificar pelo traje, identificavam-se através de um cartão autenticado pela secretaria do Liceu e pela direção da AAELG. Ouçamos outra vez José Carlos Correia, Presidente da Comissão de Festas que refere que“o financiamento das Festas foi feito através dos moldes habituais, ou seja, com peditórios porta-a-porta, sem qualquer tipo de apoio municipal, peditórios esses em que a malta (leia-se os membros da Comissão) ia aprovei-
tando para surripiar uns cobres que davam para uns lanchezitos melhorados e com um peditório mais substancial nas empresas da zona de Moreira de Cónegos, Vizela e Lordelo”.
PROGRAMA DAS FESTAS
António Amaro das Neves reporta que, “No essencial, o programa das festas de 1974 seguiu o modelo dos anos anteriores, que eram tempos de altos e baixos nas festas a S. Nicolau. Nos anos antecedentes, havia números que eram vítimas de intermitência: as Posses, o Magusto e as Danças. Nenhum deles se realizou em 1974. Dos números tradicionais, só se realizaram o Pinheiro, o Pregão e as Maçãzinhas. Por outro lado, não falharam dois números de introdução recente: o Baile de encerramento e a Gincana (então rebatizada como Prova de Perícia Automóvel).
As inovações daquele ano foram as “Reuniões de Convívio” no ginásio do Liceu, nos dois sábados que antecederam o Pinheiro e uma novidade absoluta, fruto daqueles dias, uma mesa redonda, também no Ginásio do Liceu, onde se debateram as propostas dos partidos para ‘um ensino verdadeiramente democrático’, em que participaram representantes dos partidos políticos: Miller Guerra, pelo Partido Socialista, Amândio de Azevedo, representando o Partido Popular Democrático, José Craveiro da Costa, em representação do MDP/CDE, António José Cruz Mendes, pelo MRPP e Gonçalo Reis Torgal, em representação dos Núcleos Sindicais. O moderador foi Acácio de Melo, professor do Liceu. O PCP não se fez representar por recusar sentar-se ao lado do MRPP…”. Vejamos, então: No dia 29 de novembro, como é de antigo costume, saiu o Cortejo do Pinheiro.
Escutemos, uma vez mais, José Carlos Correia que refere que, “Nesse tempo e após as 19 horas, apenas tocavam caixa e bombo os antigos estudantes, homens… O Pinheiro era erguido no jardim que existia na esquina da Praça da República do Brasil e da Rua Dr. José Sampaio. Até esse ano tudo era feito manualmente, apenas com a ajuda de um aparelhómetro manobrado ‘à broa’. Um colega meu da Comissão, já falecido, disse-me que um empresário madeireiro, à troca de depois poder ficar com o Pinheiro, se propunha erguê-lo por meios mecânicos (como hoje, aliás, é feito). Depois de todo o cortejo e de termos entregue ao Zé das Vacas o valor combinado, mais figos e bagaço para o pessoal dos bois, constatei que não estava qualquer máquina no local. Questionado aquele meu colega, fui informado de que seria um camião com grua que dali a pouco tempo lá estaria. Completamente ‘rebentado’, não quis saber de mais nada e lá fomos para o Bar Avenida onde iríamos comer a mais que merecida ceia. Cerca das 6/7 horas fomos avisados de que o Pinheiro continuava deitado no chão porque não tinha aparecido camião nenhum e os lavradores
haviam-no tirado dos carros. Escusado será dizer que nessa noite não fomos à cama e, logo de manhã cedo, fomos tentar arranjar alguém que nos ajudasse. Essa ajuda veio de uma empresa de Covas que com um camião grua lá levantou o Pinheiro, tendo nós pago o serviço como era justo”. No dia 1 de dezembro organizou-se a Gincana nos campos de jogos do Liceu. A 4 de dezembro, realizou-se, no ginásio do Liceu, o já referido Debate com representantes partidá-
rios.
A 5 de dezembro, como manda o calendário, recitou-se o Pregão, da autoria do prolífico A. Meireles Graça, figura cimeira Nicolina, dedicado pelo autor “aos que morreram sonhando liberdade e aos que viverem sonhando democracia”. Note-se que foi o primeiro Pregão, em cerca de quatro décadas, que não teve de ser objeto de análise prévia pela Censura. Eis um excerto desse Pregão:
«Vamos soltar aqui de Nicolau Pregão
Que mostra uma vez mais ser o nosso patrono
O senhor da Verdade, o senhor da razão
Que no nosso País outrora tinha dono:
É Nicolau, o Santo, o nosso capitão
Somos todos na Festa os generais sem sonos
Abertos para a luta e para a evolução
Decretando à Mentira um total abandono!»
A 6 de dezembro, saiu o Cortejo das Maçazinhas “que, como já vinha a acontecer há alguns anos, teve uma adesão pequena, mas bem maior do que a atual”, na análise de José Carlos Correia.
No dia 7 dezembro, decorreu o Baile, “outra importante fonte de receita para as Festas, que não se realizou no Restaurante Jordão, mas sim no ginásio do Liceu com a atuação do Quarteto 1111, com o José Cid, o Michel, o Mike Sergeant e o Tozé Brito. Foi um êxito”, refere, ainda. Outras testemunhas afiançam ter havido contestação no público com várias bocas e alguma confusão…
Assim encerraram as Festas Nicolinas de 1974.

Foto 2. Cartaz do Baile das Nicolinas, 1974.
P.R.E.C.
No ano seguinte veio o ‘Verão Quente’ e o ‘Processo Revolucionário em Curso’, o ‘P.R.E.C.’. O país – e o Norte em particular –, estava a ferro e fogo. O 25 de novembro haveria de chegar quase em cima das Nicolinas. Com ajuda de José Ribeiro, que integrou a Comissão de Festas, vejamos o que se passou em 1975 numa penada: “Em pleno ‘PREC’, algumas forças políticas, bem presentes no meio estudantil sobretudo no antigo Liceu, tudo fizeram para acabar com esta secular tradição.
Recordo muito bem uma das tentativas. Eram normais, à data, as famosas RGA’s (Reunião Geral de Alunos). Bastava angariar pouco mais de meia dúzia de assinaturas.
Acontece que uma dessas RGA’s, convocada por um grupo de opositores das Festas, tinha como ponto principal votar o fim das Nicolinas. Entrámos em pânico. Tínhamos que delinear uma estratégia que o impedisse. No dia da Reunião, com o ginásio à pinha e um barulho ensurdecedor, só era possível comunicar através da instalação sonora. A estratégia cumpriu-se: munidos de alicates, um grupo de ‘heróis’ do qual eu
fazia parte (a maioria viria a fazer parte da Comissão), cortou todos os fios da instalação sonora não permitindo a continuação da RGA. Que grande confusão! Tudo aos berros, sem se aperceberem no imediato do que tinha acontecido. Não foi, pois, possível levar a proposta a votação. Apesar de mais tentativas, os opositores foram vencidos pelo cansaço. As convocatórias eram sempre retiradas dos expositores, nem que para isso tivéssemos que dormir no Liceu. A continuação das Festas estava garantida. É minha convicção que, mesmo que levada a votação, esta estupidez não passaria, mas não podíamos correr este risco.
E assim, neste clima, se realizaram as festas de 1975.
A eleição decorreu nos moldes habituais junto do Chafariz. Uma fila de alunos ditava o nome do candidato preferido ao ouvido do Presidente, por norma do ano anterior. Estava eleita a Comissão sem registo de qualquer incidente. A fotografia do grupo, como mandava a tradição, foi tirada com o traje académico, contrariando a do ano de 1974.”

Imagem 41 - Comissão de Festas Nicolinas 1975
Eleita no Jardim do Carmo pelas 15 horas do dia 22 de outubro Assembleia presidida por José Carlos Ferreira Gomes Correia
Presidente- José Alberto Ribeiro Gomes Alves Tesoureiro- Henrique Alcino Mendes Carvalho Machado Vice-presidente- Gaspar Vitorino de Sousa Ferreira Secretário- Simão Roriz Marques Primeiro-vogal da Academia- António Manuel da Costa Machado Faria Segundo-vogal da Academia- José da Cunha Oliveira Ribeiro Primeiro-vogal de Festas- Bento Gomes Martins Ferreira Segundo-vogal de Festas- Francisco da Cunha Oliveira Ribeiro Chefe de Bombos- José Maria Teixeira de Oliveira Nogueira Subchefe de Bombos- Carlos Duarte da Silva Araújo Ribeiro
“As Festas decorreram com muitas bocas e até ameaças, mas, com exceção das Roubalheiras, Posses e Danças, todos os números foram realizados e com grande adesão da população.
Recordo que o cortejo das Maçãzinhas teve mais de 12 carros alegóricos. O meu tinha como tema precisamente o ‘PREC’. Em cima do carro, as figuras do momento. Otelo (eu) Rosa Coutinho, Álvaro Cunhal. Os símbolos do comunismo (foice e martelo) eram puxados por cordas e rastejavam atrás do carro.
Na Comissão de Festas reinava a confusão. Fora das grandes decisões, os mais novos queriam impor algumas regras. Os peditórios tinham que ser mais transparentes. Perante a ameaça de demissões é permitida a criação da primeira e, penso que única, ‘comissão sindical’ dentro da própria Comissão de Festas, que tinha como principal objetivo controlar os peditórios e obrigar os grandes a partilhar as decisões.
Criadores da comissão sindical foram: eu, José Ribeiro, o Xico Ribeiro, meu irmão, o Bento Ferreira e o Manuel Machado. Foi comprado um cofre com dois segredos onde era depositada a receita dos peditórios que ficou à guarda, na casa do Bento (Alameda S. Dâmaso), entretanto nomeado presidente do ‘sindicato’.”
Como reconhece António Amaro das Neves, nesses anos, opositor das Festas: “Estavam errados, os que defenderam que as Festas Nicolinas deveriam ser condenadas à extinção por serem elitistas. Hoje sabemos que não era preciso acabar com as festas, por causa da sua natureza elitista. Bastava acabar com o elitismo nas festas, que foi o que, com o tempo, aconteceu”.
MORAL DA HISTÓRIA
As Nicolinas são uma lição de resistência há mais de três séculos e meio.
Nunca se deixaram instrumentalizar. Tudo ultrapassaram: a Monarquia, a República, a Ditadura, as Revoluções e os censores, mais ou menos oficiais, que cada época instituiu.
As Festas sobreviveram reinventando-se, contando sempre com o melhor de cada sucessiva geração: a Juventude. E, também, com uma quantidade apreciável de ‘velhos’ que, resgatando a sua, todos os anos, ajudam a, mais do que não as deixar morrer, fortalece-las pelo exemplo e pelo legado. Temos, pois, um dever de gratidão para com aqueles e aquelas que lutaram contra as adversidades ao longo de séculos e, neste caso, para com os rapazes dos ‘anos da brasa’ de 1974/75. Bem hajam! Viva São Nicolau!
Manuel Alves Barbosa manuelalvesbarbosa@gmail.com
Quando a 17 de fevereiro de 1863 Henri Dunant, após ter assistido à carnificina provocada pela guerra na Batalha de Solferino, funda o Comité Internacional da Cruz Vermelha, estava longe de imaginar as repercussões que essa sua atitude teria no mundo inteiro. A batalha de Solferino aconteceu no norte de Itália a 24 de junho de 1859. Foi um episódio decisivo na luta pela unificação de Itália e também um momento importante na evolução do humanitarismo moderno. Está na origem do movimento da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e das Convenções de Genebra. Tropas aliadas francesas e sardas, comandadas pelo Imperador Napoleão III, enfrentaram soldados austríacos. Estavam em confronto mais de 300 mil soldados. Após quinze horas de luta sangrenta, mais de seis mil soldados mortos jaziam por terra e mais de trinta e cinco mil estavam feridos ou desaparecidos. Nem os serviços médicos franceses nem os serviços médicos austríacos conseguiam atender tanto ferido. Praticamente não havia serviço de transporte de doentes; a água e comida começavam a faltar. Um jovem suíço (Henri Dunant) que se encontrava na região a tratar dos negócios de seu pai, perante tamanho desastre, tomou a iniciativa de tratar dos feridos e moribundos. Na igreja de Castiglione fez o que pôde com a ajuda de voluntários locais. O grupo cuidou de todos os homens de forma igual, independentemente de que lado haviam lutado, inspirando a criação da frase “tutti fratelli” (todos irmãos). A batalha de Solferino levou Dunant a incentivar a criação de uma organização neutra e imparcial para proteger e assistir os feridos de guerra – Comité Internacional da Cruz Vermelha. Propôs ainda que deveriam ser criadas sociedades voluntárias para socorrer e tratar feridos de guerra e catástrofes, desencadeando a fundação de Sociedades da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho nos mais diversos países. Sugeriu ainda que fosse estabelecido um princípio internacional para servir de base para essas sociedades, culminando na assinatura das Convenções de Genebra, que a 12 de agosto de 2019 completaram 70 anos. Humanidade, Imparcialidade, Neutralidade, Independência, Voluntariado, Unidade e Universalidade: os Princípios Fundamentais que são o alicerce do compromisso do Movimento para atender as pessoas e
comunidades vulneráveis afetadas por conflitos ou desastres. O Comité Internacional da Cruz Vermelha é a única entidade a quem foram outorgados três Prémios Nobel da Paz. Após a fundação dessa enorme instituição muitos países lhe seguiram o exemplo fundando Sociedades Cruz Vermelha nos respetivos países. Um dos primeiros a fazê-lo foi Portugal, em 1865, pela mão do médico militar José António Marques. Ao longo da sua história a Cruz Vermelha Portuguesa esteve presente em praticamente todos os acontecimentos e catástrofes que assolaram o nosso país. Chamamos a especial atenção para o combate à Pneumónica ou gripe espanhola que ocorreu entre maio de 1918 e outubro de 1919. Embora seja um assunto ainda pouco estudado, existe documentação suficiente que demonstra o papel desempenhado pela Cruz Vermelha no combate à pandemia dessa época.
E, embora estejamos habituados a ouvir dizer que a “história não se repete”, no atual momento de pandemia que vivemos, a Cruz Vermelha é uma das muitas organizações que têm estado na linha da frente no combate à mesma e no apoio aos mais carenciados. No que diz respeito à presença da Cruz Vermelha Portuguesa em Guimarães, existem registos de, em abril de 1950, o cidadão vimaranense Carlos Pinto Leite ter procurado junto da sede nacional autorização para a fundação de uma Delegação em Guimarães, a cuja Direção era proposto presidir o então Presidente da Câmara João Martins da Costa (Aldão). Após estes registos, nada mais temos (para já) que nos permitam seguir o desenvolvimento deste assunto. Em 1980, um grupo de vimaranenses liderados pelo Doutor Luís Teixeira e Melo consegue obter autorização da Direção Nacional da Cruz Vermelha Portuguesa para a criação de uma Delegação, em Guimarães. Essa Delegação foi inaugurada a 22 de março de 1980. A Delegação de Guimarães da Cruz Vermelha Portuguesa tem sede na Rua Camilo Castelo Branco R/C nº 1, e atualmente é constituída pelos seguintes órgãos sociais: uma Direção da Delegação Local, uma Assembleia da Delegação Local e um Conselho de Curadores da Delegação Local. 6 eixos de intervenção / 35 projetos/atividades: Serviços de apoio à comunidade: Gabinete de Saúde; CVP nas Escolas; Zona de concentração e apoio à população (Covid19); Centro de Acolhimento e Emergência Social (apoio aos sem abrigo); Estrutura Operacional de Emergência; Brigadas de Testes Covid 19; Portugal +Feliz; Missão Continente; Banco do Bebé; Gabinete de apoio ao cuidador;
Voluntariado Geral: Voluntariado Hospitalar; Unidade de Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia; Centro Juvenil de S. José (apoio ao estudo); Olhares em perspetiva (Estabelecimento Prisional); Solidão acompanhada (apoio a idosos); Juventude Cruz Vermelha: Esvoaçar (apoio a crianças de bairros sociais); Hospital Divertido (apoio à Consulta de pediatria do HSO); Colorir o sábado na Casa da Criança; alimentação saudável; Copos…quem decide és tu… (combate ao alcoolismo); o meu sol # vive mais o verão (proteção solar); Corpo Europeu de Solidariedade; Inovação e Empreendedorismo: Comunidade Criativa de Inclusão Digital; Play4equality; Y Adapt; Bisar; Ensino e Formação: Cuidar em casa; Ensino de socorrismo; Violência e Igualdade de Género; Angariação de Fundos: Centro de Artes do Espetáculo S. Mamede; Loja Social; Participação em eventos; Donativos; Embrulhar uma causa; Angariação de associados. O ano de 2020 e os desafios atuais exigiram que a nossa Delegação se reinventasse. Obrigou-nos a refletir e a analisar e considerar as forças, fraquezas, as oportunidades e ameaças da nossa capacidade institucional. À data de hoje, podemos afirmar que conseguimos dar uma resposta digna da instituição que representamos. Fomos solidários interna e externamente, colocamos toda a nossa capacidade produtiva ao serviço das forças vivas do concelho, criamos respostas inovadoras e audazes no apoio a pessoas em situação de sem abrigo, no combate ao isolamento e solidão de pessoas idosas, na resposta ao socorro e emergência, enfrentamos com coragem e valentia a COVID 19 , contribuindo para o aumento da capacidade local e nacional de testagem, na disponibilização de condições dignas para o acolhimento de doentes COVID 19 , capacitamos organizações sociais para estratégias de prevenção e combate a surtos, entre outras. Enaltecemos o princípio do Voluntariado com a gestão da rede de emergência social municipal, que contemplou mais de 500 voluntários inscritos e mais de 150 ativações, nas mais variadas áreas de intervenção social, destinadas a pessoas idosas, crianças e jovens, pessoas em isolamento ou quarentena COVID 19, profissionais de saúde, entre outras. Bibliografia: Dunant, Henry - Memórias de Solferino, Lisboa - Cruz Vermelha Portuguesa, 2019. Plano de atividades para 2021 da Delegação de Guimarães da CVP