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Grã Ordem Afonsina “Protocolos de Criatividade Turística

Florentino Cardoso florentinocardoso@sapo.pt

A melhor alavanca de atração de turistas externos ao território é a animação das cidades com atividades de diferente cariz cultural, promovidas regularmente pelas autarquias ao longo de todo o ano. O valor económico e social destas realizações é enorme, pois para além de superar de forma exponencial as verbas investidas, reforça a visibilidade externa da cidade ou do território e cria nos residentes hábitos especiais de consumo. Há até eventos que podem mudar o destino de um território, como é o caso das chamadas «Sextas-Feiras 13», evento que ocorre em Montalegre por iniciativa da Câmara Municipal sempre que um dia 13 calha a uma sexta-feira. Tendo começado em Vilar de Perdizes à volta do tema da Medicina Popular, este evento tornou-se em poucos anos um verdadeiro “caso de estudo”, na medida em que reveste uma identidade particular e uma fortíssima capacidade multiplicadora.

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O desenvolvimento turístico de Guimarães terá de passar pela criação de relações emocionais entre a cidade e as pessoas, pela colocação da emoção como o pilar da experiência turística, pela atração de turistas a partir da oferta de acontecimentos exclusivos e memoráveis baseados na história, na cultura, nos saberes locais, nas lendas, no artesanato, na gastronomia (entre outras manifestações materiais e imateriais únicas e peculiares). A arte de encantar, emocionar e transformar a sensibilidade dos turistas, marcar o seu espírito com experiências inesquecíveis e gerar o desejo de as reviver, indo além do sentimento de satisfação, tem de ser o desafio do futuro. Apesar do imaginário coletivo do povo barrosão ser suficientemente diferenciador, será que o «esoterismo» tem mais potencialidades turísticas para se impor a um mundo de animações culturais atrativas e competitivas do que, por exemplo, a mística que envolve a «Fundação de Portugal»? Não será a Cidade de Guimarães aquela que neste país reúne melhores condições para ser o palco privilegiado de grandes manifestações culturais, únicas e singulares, associadas à Fundação de Portugal, capazes de constituírem uma marca de identidade particular e de se transformarem

numa importante alavanca de atração de turistas nacionais e estrangeiros?

Para que isto aconteça, é fundamental que a Cidade coloque o património imaterial como paradigma do seu desenvolvimento económico e social, à semelhança do que fez no passado recente com o património físico monumental classificado de Património da Humanidade.

Além de aumentar a notoriedade da Cidade e atrair mais visitantes e turistas, a organização de grandes eventos culturais e temáticos em várias alturas do ano permitirá um melhor aproveitamento dos recursos endógenos, como é o caso das associações culturais (verdadeiras indústrias criativas) e do excecional palco de eventos que é o seu Centro Histórico.

Sucede que, entre os anos de 2010 e 2018, o município de Guimarães aumentou em mais de 62% o investimento nos domínios da cultura e do desporto, crescendo de 6,5 milhões de euros para cerca de 11,5 milhões de euros, valor que representa 13,3% das despesas totais e ultrapassa em mais dois pontos percentuais o investimento médio dos 308 municípios portugueses. Em 2019 o orçamento da cultura foi de 7 milhões de euros, assentando em quatro tipos de programas, a saber: Festas de Interesse Concelhio, Protocolos de Descentralização Cultural, RMECARH e Excentricidades. Os Protocolos de Descentralização Cultural englobaram 66 associações culturais e envolveram um investimento do montante global de 69.100 €, distribuído por sete tipos de entidades: Bandas Musicais e Orquestras, Grupos Folclóricos Federados, Grupos Folclóricos Não Federados, Grupos de Teatro, Grupos Corais, Grupos de Música Popular e Escolas de Música.

Que resultado tem produzido este investimento no contexto da animação turística da Cidade?

Aquilo que sabemos é que com a celebração dos «Protocolos de descentralização cultural» em que a Câmara Municipal investe quase 70 mil euros por ano - cada associação contratante fica obrigada a contribuir com um certo número de atuações (em regra duas), como contrapartida da quantia que recebe. E com que critério são utilizados estes créditos sobre as associações ao longo do ano?

Ora, em nosso modesto entender, este recurso poderia ser aproveitado para «financiar» a criação de programação cultural (eventos) especialmente destinada aos visitantes e turistas. Bastaria consignar esses «créditos» para a realização de eventos desenhados para esse fim, utilizando as performances de cada grupo cultural. Os «Protocolos de descentralização cultural» deveriam converter-se em «Protocolos de criatividade turística», ou seja, num instrumento que incentivasse

as associações culturais (indústrias criativas) à criação das mais variadas performances artísticas ou culturais relacionadas com os valores históricos e culturais associados a Guimarães, especialmente direcionadas para os visitantes/turistas.

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