1 minute read

A Cidade

Next Article
Obrigado Francisca

Obrigado Francisca

Subi à montanha para ver a cidade: - ei-la, agora, tecida no vale, adormecida num berço verde que já foi lago, lagoa, golfo, baía, vulcão, cratera e fundo dos oceanos ferventes quando os peixes se transformavam em répteis e em aves e chegou a glória das primeiras flores, estas que nos aquecem os olhos nesta primavera de emergência e desassossego.

Olhando o vale, avisto o mar. Para lá da névoa adormecida e das colinas transparentes, sinto a ressonância do mundo. Sempre a cidade me levou ao mar, por um caminho só, o do longo vale que, por entre fábricas e tecidos, me levou às ondulações das póvoas marítimas, com um verso de Baudelaire no sangue: “Homem livre, sempre amarás o mar.”

Advertisement

E chegamos ao último milésimo de segundo do universo: algumas guerras, sem sentido, por território e poder, com deuses que morrem e outros deuses que nascem. E permanece a glória das flores que atravessaram a sombra: primaveras recentes, com o mês de abril vigilante na cidade para que os energúmenos não derrubem as sete portas da cidade aberta por onde caminhará o homem livre.

Firmino Mendes, 21-23 de março de 2021 firminomendes@gmail.com

25 - Subi à montanha para ver a cidade - Foto de João Mendes.

This article is from: