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25 de Abril sempre

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Obrigado Francisca

Obrigado Francisca

Álvaro Nunes alvaroamanunes@gmail.com

“Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo” (Sophia de Mello Breyner Andresen)

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“há muitos anos, no tempo em que o teu pai andava na escola, num país muito distante vivia um povo infeliz e solitário, vergado sob o peso de uma misteriosa tristeza. (…) Esse país agora já não se chama País das Pessoas Tristes, chama-se Portugal e é o teu país. E o tesouro pertence a ti, és tu que agora tens que cuidar dele. (…) Porque esta história não é uma história inventada. É uma história verdadeira, aconteceu mesmo. Pergunta os teus pais ou aos teus professores e eles contar-te-ão mais coisas sobre o País das Pessoas Tristes e sobre o Dia da

Liberdade.”

Este curto excerto, destinado aos mais novos, extraído do livro de Manuel António Pina, intitulado “O Tesouro”, recomendado pelo Plano Nacional de Leitura (PNL), conta um pouco dessa história do 25 de Abril de 1974, ocorrida há 46 anos, que merece ser lida, ou recontada por aqueles que a (não) vivenciaram.

De facto, este e muitos outros textos literários permitem compreender que o 25 de Abril abriu muitas portas do país que estavam fechadas, como a da Descolonização, a da Democracia e a do Desenvolvimento, que eram os três “D” e objetivos da Revolução de Abril.

Porém, “As portas que Abril abriu”, que o poeta Ary dos Santos tão bem canta no seu poema homónimo, entreabririam apenas alguns limiares e nem todas as portas da liberdade foram abertas. Realmente, há ainda muitas portas semicerradas e outros “D”, por cumprir: o da Desigualdade, o do Desemprego, o da Descentralização, o da “Descorrupção”, e demais coisas e loisas como a Doença Covid-19, entre vários 2D” dos dias decorrentes ...

De facto, “Nesta Hora”, assim se intitula um outro poema de Sophia, (como aliás em todas as horas) “é preciso dizer a verdade toda/Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo/Pois é preciso ´que o povo regresse do seu longo exílio” (…), pois, como acrescenta “Meia verdade é como habitar

meio quarto/Ganhar meio salário/Como só ter direito/A metade da vida”

Porque, realmente, a vida é para viver por inteiro, sem restrições: “de nenhum fruto queiras só metade”, disse Torga no seu poema “Sísifo”, é quiçá preciso recomeçar sem desistências e pugnar até ao fim contra as prepotências, desmandos e ataques insidiosos como os vírus reais e outras viroses políticas latentes, que como bichos da fruta mordem por dentro. Neste 25 de Abril de 2021 o tempo é pois de resiliência e responsabilidade pessoal e coletiva, para recuperarmos a liberdade agora mitigada, que nos obriga a ficar em casa. Com efeito, só assim o sonho e a utopia de um mundo melhor (e agora adiado), terá pernas para andar em direção a um “Abril de Sim Abril de Não”, como o canta Manuel Alegre:

“Eu vi Abril por fora e Abril por dentro vi o Abril que foi e Abril de agora eu vi o Abril em festa e o Abril lamento Abril como quem ri como quem chora.

Eu vi chorar Abril e Abril partir vi o Abril de sim e Abril de não Abril que já não é Abril por vir e como tudo o mais contradição

Vi o Abril que ganha e Abril que perde Abril que foi Abril e o que não foi eu vi Abril de ser e de não ser.

Abril de Abril vestido (Abril tão verde) Abril de Abril despido (Abril que dói) Abril já feito. E ainda por fazer.”.

Portanto, passados estes 47 anos de Abril, (idade da maturidade), importa voltar ao “chão puro: algarves de ternura”-, como Alegre canta; e seguir o exemplo daquele “que na hora da vitória/respeitou o vencido/Aquele que deu tudo e não pediu a paga/Aquele que na hora da ganância/Perdeu o apetite/Aquele que amou os outros e por isso/Não colaborou com a sua ignorância ou vício/Aquele que foi fiel à palavra dada à ideia tida” (…), isto é, seguir aquela coluna de chaimites que Salgueiro Maia comandou, e de novo enfrentar novos desafios, sem oportunismos carreiristas.

Só assim teremos o “25 de Abril Sempre”, a várias vozes plurais.

De facto, tal como “Era uma vez o 25 de Abril” de José Fanha, a história tem de continuar a ser uma narrativa aberta e um tempo de magia, intemporal e atemporal, na qual todos devemos assumirmo-nos como personagens participantes, civicamente ativas. Com efeito, é um imperativo de cidadania reviver este “Romance do 25 de Abril”, que João Pedro Messeder tão bem conta e recontá-lo, na esteira de J. Jorge Letria no seu “25 de Abril contado às crianças … e outros” …

Obviamente, também, multiplicar estas manifestações verbais em atos e ações, sejam elas “Vinte e Cinco a Sete Vozes”, ou muitas mais …Efetivamente, “Vinte e Cinco a Sete Vozes”, é um livro divertido de Alice Vieira centrado no relato de 7 pessoas (ou vozes) de três gerações diferentes, que contam as suas memórias sobre o 25 de Abril, que o Plano Nacional de Leitura recomenda para o grupo etário infantojuvenil.

Tudo começa quando uma investigadora chegou à escola de gravador na mão e começou por falar com o “baldas” Paulo Jorge, do 7º. J:

“Mas se queres um conselho, quem te dava um depoimento bué de fixe era a Madalena, assim com muita gramática e os verbos todos certos, tás a ver? Não sabes quem é a Madalena? É só perguntares. Anda no 7º. B, toda a gente a conhece. Cinco a tudo, estás a topar? Escreve artigos para o jornal da escola, nunca se balda. Há quem lhe chame a betinha da Quinta da Marinha (…) Para ser franco, minha, eu também não sei grande coisa. Para mim, 25 de Abril, 5 de outubro, 1º- de novembro, 1 de Dezembro e o 1º. de Maio é tudo a mesma coisa, ou seja, é feriado e isso é que interessa”.

Por isso, a conversa passaria depois para a Madalena e o jornal escolar “Topas”, orientado pela professora de inglês, pelos pais e avô de Madalena, o pai de Paulo Jorge, e ainda por uma professora aposentada do 1º. ciclo, que em vozes diferentes historiariam os seus 25 de Abril.

E você, o que pensa sobre o (feriado do) 25 de Abril, em especial quanto à sua abordagem nas escolas e na família?

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