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A minha visão do 25 de Abril
from OsmusikéCadernos 2
by osmusike
há 1708 anos.
A minha visão do 25 de Abril
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José Alexandre Rodrigues Marques20 josealexandrerm@outlook.pt
Com o 25 de Abril, teve-se a oportunidade única de se mudar de regime político em Portugal. O Estado Novo oficializado em 1933 estava desgastado e depois de uma extensa ação governativa salazarista, sabia-se que o sucessor de Salazar seria um alvo a abater. O autoritarismo, o nacionalismo tradicionalista, a antidemocracia e o anticomunismo, o colonialismo, o corporativismo e o dirigismo económico começaram a ser postos em causa, sobretudo, a partir do fim da Segunda Grande Guerra. Em 1958, o regime foi severamente posto em causa com as eleições presidenciais às quais o General Humberto Delgado concorreu. A credibilidade do Estado Novo foi abalada. Em 1961, inicia-se o acontecimento que seria o definitivo culminar da ditadura portuguesa. Refiro-me à Guerra Colonial Portuguesa em que as colónias ultramarinas num contexto internacional de Guerra Fria decidem proclamar a sua independência face à metrópole. Com o facto de a Guerra do Ultramar estar a correr mal e na ânsia da tão esperada democracia, desde as 22h do dia 24 de abril, desenrolando-se pela madrugada do dia 25 de abril até à tarde, o Movimento das Forças Armadas derrubou o Estado Novo Português. Marcelo Caetano abandona o seu cargo de Presidente do Conselho de Ministros de Portugal. É totalmente errático e, na minha opinião, desrespeitoso enaltecer o 25 de abril como uma revolução sem sangue. É mentira. Morreram 5 pessoas durante a Revolução. Quatro civis foram mortos pela PIDE e um elemento da DGS também foi morto. O principal estratega da Revolução foi Otelo Saraiva de Carvalho, porém, Marcelo Caetano só entregou o poder ao General António de Spínola. A partir daqui, desenrolaram-se um conjunto rápido e brutal de acontecimentos que quase que transformaram Portugal numa província da URSS. Com o II Governo Provisório liderado pelo extremista de esquerda Vasco Gonçalves ocorreram ocupações de fábricas, campos agrícolas e residências devolutas. Substituiu-se uma ditadura de extrema-direita por uma ditadura de ex-
20 Aluno do 1.º ano da Licenciatura em Economia na Universidade do Minho Frequentou a Escola secundária Martins Sarmento e fez parte da Associação de Estudantes e representante dos alunos dos cursos científico-humanísticos no Conselho Geral da Escola. Atualmente integra a direção da JSD Guimarães
trema-esquerda. Existem processos sumários de saneamento (professores, empresários e proprietários). Ocorrem conflitos entre o Presidente da República, o moderado General Spínola, e o MFA. Em 28 de setembro de 1974, o MFA, usando métodos típicos dos tempos salazaristas, impede uma manifestação livre de apoio ao General Spínola, a “Maioria Silenciosa”. Depois de eleições, o PS forma governo com o PCP, mas os verdadeiros detentores do poder são o MFA e o Conselho da Revolução. Mais tarde, surge o Verão Quente de 1975 com o Processo Revolucionário em Curso, PREC, em que a esquerda radical tentou definitivamente transformar o país numa República Socialista-Soviética. Nacionalizou-se setores-chave da economia, reprimindo-se a sua liberdade ao máximo. Gerou-se uma grande convulsão social. Depois, nove oficiais moderados liderados por Melo Antunes, denunciam o PREC e o mesmo acaba. O moderado Pinheiro de Azevedo assume a liderança do Governo Provisório. Em 25 de novembro de 1975, antecipando-se a um possível golpe do MFA para recuperar o poder, o General Ramalho Eanes lança um contragolpe e conduz os moderados ao poder. Acaba-se a fase radical do pós-revolução. A democracia é finalmente instaurada. O 25 de abril trouxe a liberdade, mas não a democracia. Quem trouxe a democracia foi o 25 de novembro. Destarte, é sempre curioso e interessante o motivo de muita gente, especialmente de esquerda, não celebrar o 25 de novembro com o mesmo fervor que celebra o 25 de abril. Um acabou com uma ditadura de extrema-direita. Outro acabou com uma ditadura de extrema-esquerda. Ambos foram importantíssimos. O 25 de abril não foi um mar de rosas e só se concluiu com o 25 de novembro. Em democracia, conquistaram-se inúmeras vitórias positivas para o país. Edificou-se um Estado Social assente na maior proteção e dignidade do indivíduo. Abriu-se o país à Europa e ao Resto do Mundo. Zelou-se pela liberdade do cidadão e da imprensa. Os portugueses passaram a eleger sem receio e medo os seus representantes. Todo o país sentiu-se honrado pelo exercício atrativo e justo do jogo democrático. Deu-se a oportunidade a todos os jovens de estudarem gratuitamente. A cultura tornou-se acessível a todos. O país modernizou-se e desenvolveu-se. Hodiernamente, é triste e lamentável vermos que praticamente metade da população eleitora portuguesa não vai votar nem pratica a democracia. Ou seja, não honram e dignificam aqueles que se sacrificaram na madrugada do 25 de abril de 1974 e no dia 25 de novembro de 1975. Esperemos que se volte a acreditar na democracia portuguesa. Existem muitas razões potenciais explicadoras do afastamento progressivo dos portugueses face ao sistema político português. A mensagem de muitos políticos pode estar desgastada e não aspiracional ou pode não estar a ser transmitida de uma maneira correta. Os sucessivos défices orçamentais, aumentos da
dívida e situações de precariedade nacional descredibilizam uma parte significativa dos nossos representantes. A falta do assumir de culpas e erros dentro de alguns setores da política nacional e as promessas eleitorais não cumpridas ou esquecidas. E, por fim, os sucessivos escândalos de corrupção em altos cargos estatais. Todos estes aspetos estão a comprometer a democracia e a suscitar a progressão de movimentos extremistas e ultrarradicais. Torna-se necessário mudar-se a estratégia, os métodos, o comportamento e as atitudes com vista a reerguer plenamente a democracia e o desenvolvimento nacional.