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Abril com primavera nos cravos liberdade
from OsmusikéCadernos 2
by osmusike
Isabel C. Viana, CIEC, Instituto de Educação, Universidade do Minho icviana@ie.uminho.pt
Nota de abertura
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A antecipar o efeito que um momento comemorativo produz em cada um de nós, sobretudo se após um tempo que apropriamos e expectámos de genialidade, adivinho que só nos imaginamos inquietos a adivinhar tantas projeções do nosso agir como cidadãos do e pelo mundo. Neste fio de caminho, uma breve nota de agradecimento e de reconhecimento público para todos aqueles que proporcionaram a grandeza que nos propõe OsmusikéCadernos 2, em particular, aqueles presentes ou ausentes, que em grande rigor, responsabilidade e qualidade cidadã nos recebem e reúnem em contexto confortável de acolhimento com vivência democrática. Propício ao envolvimento, à participação e colaboração, contribuindo para algo que interpreto de relevado valor na narrativa pessoal de cada um e na memória com história de Guimarães com vivência de democracia e de cada um de nós, um espaço afetivo de construção de identidades. O tema abril, que agora cumpre ponto de memória que sonha democracia e canta liberdade, lançanos um apontamento crítico de continuidade da democracia, que não se deixa intimidar com impactos disruptivos da COVID-19, antes descobre FUSÃO na vontade para resolver novos problemas além soluções lugar-comum. Emerge para inventar e gerar valor genuíno distintivo que nos instiga a descobrir novas vontades e liberdades, cruzar e envolver. A pretender procurar destacar a participação e a colaboração como vetores geradores de novos conceitos, capazes de desenvolver outros e o valor de indagar como o passado, em fusão continuada com o presente, nos premeia com futuro através da cumplicidade e (re)invenção de descobrir Portugal e cantar abril. Para tudo isto contamos com todos vós que cantam a liberdade, muitos e inesquecíveis. De tudo que me proporcionam perspetivar, pressinto fusão nas forças Identidades, Investigação, Património, Cultura, Liberdade, Participação, Cidadania Inteligência Criativa, apta para projetar resiliência numa sociedade em transição continuada, gerenciada, muitas vezes, de forma intangível pelo “fenómeno da globalização” e manietada por medos, assumindo aquelas forças como heterónimos representativos de identidades próprias com interesses comuns, com marca de narrativa cultura cidadã, capaz de desenvolver a competência global. Entendida como a capacidade e disposição para compreender e agir
sobre questões de importância global, com intenção de permitir, criativa e corresponsabilizadamente, fortalecer o conhecimento e a curiosidade para aprender, neste contexto particular, aprender a construir liberdade para investigar o mundo, reorganizar perspetivas, comunicar ideias, ter atitude e tomar decisão. O que a seguir se conta é uma estância para contemplar abril e sentir liberdade em cenários de emergência COVID-19, onde é urgente agarrar a democracia com vivência de sermos Portugal e galgarmos mundo.
Com abril estamos Portugal
Abril, quantos dos teus cravos são vontade de cantar liberdade, viver Guimarães e sonhar Portugal! As memórias de abril transportam-me para uma lembrança marcante na infância, a queda do muro da escola, aquele que separava os meninos das meninas e os faziam acreditar em sonhos de nada e a ter orgulho numa sacola cheia de coisa nenhuma e, ainda, a marcante ingenuidade de perguntar pelo motivo de não ser uma ideia de sempre, a de manter juntos meninos e meninas. Foi o fim do início traduzido em muitas línguas e lido por pessoas de todas as idades e condição social. Motivou muitas narrativas que voaram e se leram e releram em vários tempos e lugares. A estranheza que nos causa revela-nos segredos de cantar abril com Portugal. Conhecido como um sonhador de liberdade muito sábio, que nos agarra o coração e se eleva na visibilidade da invisibilidade do sentir com saber e oferece cravos vermelho vivo, um símbolo de paixão, que nos arrebata com amor e o ser liberdade. É bom escalar abril para um espaço de liberdade sem fim, onde a imaginação nos presenteia com a escuta do silêncio e o impulso da vontade de abraçar Portugal e as suas gentes e gritar estamos liberdade, em múltiplas formas de habitar abril e com vontades que sonham. É necessário mapear abril sempre, sabemos que há coisas que ficam perdidas na ausência (Mia Couto, 2020), mas é necessário manter abril com liberdade, sem deixar de sonhar Portugal, cantar Guimarães e deixar pegada. Abril guarda cravos vermelho vivo, um tipo de flor que precisamos de conhecer melhor, de descobrir o seu desabrochar à luz do sol e observar a forma como se põe bonita sempre que se canta a liberdade com sonhos de Portugal e hino à democracia. A querer dizer-nos que é coisa simples, algo invisível para os olhos, mas muito visível para o coração (Saint-Exupéry, 2001). Sonoridades de vida na urgência do aqui e agora, que nos elucidam de que estar vivo é sentirmo-nos vulneráveis, mas não fracos. A vulnerabilidade é o único caminho para a coragem de abril com vozes plurais que não se cansam de gritar liberdade com vontade de habitar e crescer em e por abril, com perceção de múltiplas imagens, aquelas que dizem respeito ao mundo em torno de nós, em variadas modalidades sensoriais, capazes de dominarem o nosso presente psicológico (Damásio, 2020).
Não é possível ser-se liberdade sem falar de emoções. A liberdade não acontece porque somos destemidos, acontece porque, mesmo com medos, seguimos em frente. Fomos empurrados abruptamente para uma pandemia que nos engole, que nos carrega com medos. Contudo, dia após dia vivemos silêncios, vivemos longe de nós tempo de mais, vivemos na indiferença de tudo e até de nós próprios. Esta lucidez convida-nos a viver a urgência do aqui e agora com sensatez e vontade de esperança e confiança na liberdade, com vivência de elogio à democracia, a abrir-nos perspetivas de compreendermos a própria vida, sem inibirmos a imaginação. Confrontados com a imaginação, a necessidade de evidências esbate-se como que por magia e passamos a saboreá-las com sorrisos de espanto (Menéres, 2003). Com abril aprendemos tantas coisas, por um lado, aprendemos que sentimos o vazio da liberdade e, por outro, na liberdade sentimos a esperança da democracia.
Nota final
O que é que abril nos diz que devemos fazer! O espaço que ocupa na liberdade é plural e afirma os direitos humanos, com vozes que preenchem a imaginação de todos e de cada um, com possibilidade de muitas histórias em autoria e coautoria, costuradas com vontades de democracia e utopia de paz trajada de arco-íris. Abril, a liberdade, Portugal e a democracia são espaços multilingues que ligamos com sonhos de vida com alegria e teias de imaginação que caçam para libertar, sem possibilidade de matar ou aprisionar as vozes que habitam abril. É o abril mais carregado de nostalgia de vida com alegria que experimentamos, que me faz desejar pedaços de vida para todos e com todos, que me faz desejar que criem memórias. Não deixem de abraçar os silêncios e as ausências com a felicidade de voltar com liberdade e imaginação que pinta a democracia da cor que ela quiser, sempre que afirma os direitos humanos com eco de mais pessoas, mais mundo. Viva abril com primavera nos cravos liberdade.
Referências Bibliográficas
Damásio, A. (2020). Sentir & Saber. A caminho da consciência. Lisboa: Círculo de Leitores. Menéres, M. A. (2003). Imaginação. Histórias de vida, vivências, afectos, poesia, uma pedagogia do encantamento.
Porto: Editores Asa Mia Couto (2020). O mapeador de ausências. Porto: Editorial Caminho. Saint-Exupéry, A. (2001). O Principezinho. Lisboa: Editorial Presença.