
4 minute read
25 de Abril Sempre
from OsmusikéCadernos 2
by osmusike
25 de Abril Sempre9
César Machado cesar250474@gmail.com
Advertisement
Comemorar Abril é, antes do mais, manter Abril vivo aqui e agora. E manter Abril vivo, aqui e agora, é continuar a manter presente o espírito e continuar a cumprir os desígnios de um Povo, fielmente interpretados no gesto de um grupo de capitães que, numa certa madrugada, devolveu à Pátria o seu sentido mais profundo e fraterno. Mais que a força das armas, é a singular eloquência dos cravos que traz para a Revolução de Abril o registo que poderia ser traduzido com Daniel Filipe: “E, no entanto, é doce dizer Pátria sonhar a terra livre e insubmissa inteiramente nossa Sonhá-la como se pedra a pedra a construíssemos”
Anos e anos de escuridão haviam transformado a Pátria numa outra coisa. Numa coisa a que alguém chamou “Pátria, lugar de exílio”. Numa outra coisa a que foi associado um grupo de valores que foi sempre o contrário do que fomos nós. E que, em sendo o contrário do que somos nós, nos traiu, nos negou, nos amputou de muito do melhor que somos. Abril torna presente o reencontro com a Pátria, agora sim, na sua essencial autenticidade. Na sua raiz mais profunda, da terra, do povo e do destino a redescobrir e a reconstruir. Não é demais, nunca, invocar e homenagear os que lutaram por um país livre, de homens livres, aberto ao mundo do seu tempo. Esses foram os que combateram o combate justo, os que lutaram pela Pátria, no que ela tem de melhor tradição da Pátria Portuguesa. Que foi grande quando saiu do cais e se abriu ao mar, ao mundo e ao futuro. E não quando andou para trás e oprimiu. Que se realizou quando uniu e abraçou. E não quando viveu amarrada a valores do passado. Que foi grande quando se libertou, e não quando nos cercou o céu com arame farpado, como referiu Baptista Bastos.
9 Texto lido pelo autor nas comemorações Oficiais do 25 de Abril realizadas pela Assembleia Municipal de Guimarães
Entre as mais ignóbeis injustiças feitas à Revolução de Abril, a tentativa de uns tantos, que constantemente olham o momento libertador aliado a processos de descaracterização ou negação dos valores Pátrios. Alguns persistem nesta infâmia. É nossa obrigação desmontá-la! É nossa superior obrigação desmontar este ultraje. Por respeito a Abril, por respeito aos que lutaram por Abril antes de Abril (tantos morreram sem saber qual a cor da liberdade) e pelo respeito que devemos a nós mesmos. DESCOBRIR O MAR DE VOLTA Eis o sonho que Abril trouxe. Eis o sonho que Abril nos deu. Descobrir o mar de volta. Teremos nós realizado o nosso sonho? Perguntaram um dia a Manuel de Fonseca se havia realizado os seus sonhos. Respondeu o Poeta:
“Os meus sonhos, realizo-os sonhando-os”. Inseparável da matriz libertadora de Abril, a sua dimensão poética transportou a nossa Revolução para um território de sonho coletivo que haveria de ficar na memória de todos na tela de Vieira da Silva que atestava:
“A POESIA ESTÁ NA RUA”. Por muito que se tenha passado, entretanto, isso ninguém mais nos tira. Do nosso património, do património de todos nós, consta essa viagem, aquele haver viagem, o desenho inacabado que a todos incumbe continuar. Não estaremos sempre todos no mesmo rumo. Mas agora estamos todos no mesmo barco. E agora somos nós que escolhemos a direção a tomar. E se grande é a viagem e enorme o desafio, é de nós que dependemos no caminho. A nós incumbe descobrir o mar de volta. Mar Feliz a que regressamos. Não está livre de perigos a nossa viagem. A viagem que quisemos fazer. Que vimos fazendo. A viagem para a qual todos somos necessários. São tais perigos que tornam mais necessário o empenhamento de todos nós. Deram-nos o mar de volta para navegar. Deram-nos o mar como destino. Mas não nos deram o mar. Tal é a nossa tarefa: navegá-lo. Tal é a nossa aventura.
Ora, disse O’Neil -
“É no mar que a aventura tem as margens que merece” Assim também na nossa viagem. Assim também nesta aventura que continuamos a querer correr. Sabemos que com a latitude destas margens o erro, a falha, são hipóteses nunca previamente afastadas. Não tenhamos medo. Não recusemos participar nesta viagem por receio de errar. Abracemos esta aventura! Que é o desenho do nosso futuro, a concretização da nossa esperança. Ninguém o fará por nós. Mesmo porque não queremos, nem permitiremos, que alguém o faça por
nós.
Estejamos dispostos a lutar sempre para que ninguém o faça em vez de nós! Tenhamos presente Abril aqui e agora e sempre. E a construir e renovar Abril, esse dia inicial inteiro e limpo, mantenhamos limpa a sua senha, a sua marca: TERRA DA FRATERNIDADE GRÂNDOLA VILA MORENA