Jornal O Ponto - setembro de 2009

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20 • Cultura

Editor: Clarisse Simão - 7º Período e diagramador da página: Raoni Jardim - 8º Período

Belo Horizonte, 27 de setembro de 2010

O Ponto

Cinema, foto e moda pela mesma ótica

Especialista da Universidade de Estocolmo realiza palestras na Fumec sobre a moda no cinema e na fotografia Foto: Pedro Cunha

ANA PAULA MARUM 8º PERÍODO Seja nas relações intrapessoais ou em um contexto socioeconômico, a moda faz parte do nosso cotidiano. Até mesmo para aqueles que negam o interesse por ela. Através dessa conexão com o mundo, é possível compreender fenômenos como o cinema e a fotografia. Pensando nisso, a Fumec realizou um evento internacional direcionado aos estudantes e profissionais de Design e Comunicação, que contou com a presença da diretora do curso de moda da universidade de Estocolmo, na Suécia, dra. Louise Wallenberg. Nos dias 23 e 25 de agosto, Louise Wallenberg apresentou palestras aos alunos e abordou os temas: “Hitchcock e Dior: Moda no Cinema Hollywoodiano nos anos 50” e “(In) diferença sexual na Fotografia de Moda de Helmut Newton” respectivamente. Antes do evento, a diretora concedeu uma entrevista ao jornal O Ponto contando sobre seu campo de pesquisa, a relação entre o cinema dos anos 1950 e a indústria da moda e a indefinição do gênero e da sexualidade no trabalho do fotógrafo Helmut Newton. A diretora falou também do curso de moda da Universidade de Estocolmo e de como os alunos são voltados para uma base mais teórica e social. Eles estudam arte, história da moda e sua relação com o mundo. Diferente do curso de Design de Moda da Fumec, que além da teoria, os alunos produzem suas criações. Louise Wallenberg se mostrou interessada em conhecer o curso de Design de Moda, bem como se dispôs a apresentar o curso de moda da universidade sueca. A idéia de pesquisar a moda no cinema dos anos 50 deve-se ao fato de que, nesta época, a moda estava presente como arte de uma forma especial, maior do que nos filmes que

vieram antes e depois desse período. Estilistas e diretores que inspiraram nas películas cinematográficas para darem origem ao new look e ganharam notoriedade por isso. É o que acontece com o famoso cineasta anglo-americano, Alfred Hitchcock (1899-1980) e o estilista francês, Christian Dior (1905-1957), que faziam sucesso na época buscando sempre a perfeição. Wallenberg explica ainda que, nos anos de 1950, os diretores tinham divas que representavam um ideal feminino e, por isso, era necessária a parceria de um estilista para a construção de um figurino especial que transpareça esse ideal, atribuindo o figurino como elemento extremamente importante no filme, já que o cinema passava a concepção de satisfação heterossexual, todas as mulheres se tornavam mais femininas e, consequentemente, mais “casáveis”. Dessa forma, o cinema funciona como um divulgador de uma nova moda (new look), como uma “vitrine”, já que após a II Guerra Mundial há um resgate da feminilidade que existia na década de 1930. Na palestra, foram apresentados trechos de três filmes de Hitchcock: Janela Indiscreta (1954), Ladrão de Casaca (1955) e Intriga Internacional (1959). Os três, estrelados pela atriz norte-americana Grace Kelly (1929-1982) e cuja moda estava em maior destaque. Nestes filmes, os personagens da diva de Hitchcock se tornam algo desejável, como um objeto. “Nos filmes de hoje, os diretores apenas escolhem alguns estilistas para compor o figurino. Não existe uma conexão forte com o diretor. A não ser que ele

solicite algo. Atualmente, essa relação dos estilistas de alta costura ocorre mais com as atrizes no tapete vermelho”, explica a diretora. Na quarta-feira (25), Wallenberg falou de sua pesquisa sobre o trabalho do fotógrafo alemão, Helmut Newton, que foi o mais influente na fotografia de moda. Suas fotos escandalizaram a sociedade européia entre as décadas de 1960 a 1980. Newton encurtou as distâncias entre o transexualismo, androginismo, heterossexualismo e homossexualismo. As modelos fotografadas eram sempre altas, com pernas compridas, lembrando o formato fálico. Ele criou um estilo particular na fotografia marcado pelo erotismo, sadomasoquismo e alusões fetichistas. “São mulheres nas fotos, mas nas fotografias de Newton, poderiam ser um homem. Além disso, é impossível trabalhar com a fotografia de moda sem a influência deste fotógrafo.” Louise Wallenberg falou ainda das suas impressões sobre a moda brasileira e como pretende estudar mais sobre ela. “Fui à loja do Ronaldo Fraga e adorei as coleções dele. De certa forma, a moda aqui não é muito

diferente da Sueca. Tem suas diferenças, claro, mas em geral são bem parecidas. Confesso que conheço muito pouco, mas este é um dos meus objetivos nesta viagem: aprender mais sobre a moda brasileira”, comenta a doutora.

Coordenadora do curso de moda da Universidade de Estocolmo, Louise Wallenberg

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