Jornal O Ponto (nº 103) - Maio de 2017

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 17  |  Número 103  |  Maio de 2017  |  Belo Horizonte / MG

Distribuição gratuita

Oscar Niemeyer

ESPECIAL Arquieto deixa legado em suas obras espalhadas por todo o mundo Pag. 07 - 09

Cultura

No altar das montanhas Serra da Piedade comemora 250 anos

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Comportamento Pag. 10 e 11

Funk na arena Estilo musical divide opiniões Pag. 04

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02  •  Opinião

Editor e diagramador da página: Pietra Pessoa

Belo Horizonte, maio de 2017

O Ponto

O Mundo em Erupção João Eduardo 3º Período A imagem de uma criança vítima de uma explosão na cidade de Allepo retrata bem a situação de caos que o país tem enfrentado desde 2007. Ao passar as mãos em sua cabeça e ver o sangue verter, ela não chora. Simplesmente para e olha. Coberta de terra de escombros e sentada no corredor de um hospital, não tem parentes ou família a acompanhando. Tanta tristeza e desolação tem um sentido visível? Quem não se recorda da emblemática e triste foto de um bebê morto em uma praia turca em 2015? Fugindo da Guerra na Síria, a família da criança embarcou mar adentro em uma fuga desesperada. A embarcação naufragou e o bebê não resistiu.

Como esta criança, milhares já morreram. Numa terra completamente a mercê de grupos extremistas e ditadores, será possível a construção da paz? Tudo começou em 2007, numa Síria até então pacata e tranquila, governada por Bashar Al-Assad. Grupos foram às ruas protestar contra o presidente ditador, que recebeu o cargo de seu pai. Em protestos pacíficos, a população exigiu reformas e foi brutalmente reprimida pelos exércitos do governo. Em plena “Primavera Árabe”, as repressões começaram a gerar um efeito reverso na Síria. Grupos começaram a se organizar e se armar contra o presidente, que manteve sua postura repressiva. A partir daí a história começou a tomar contornos trágicos e devastadores. Imaginemos um país menor

do que o estado do Paraná com centenas de grupos lutando por coisas diferentes em uma única guerra. Religião, política, questões sociais. Tudo isso regado à muito sangue e sofrimento. Esta é a Guerra da Síria, que está prestes a completar dez anos. Há uma solução? Como conseguir a paz e a trégua numa terra onde tantos querem tantas coisas diferentes? O diálogo e a escuta parecem não ser nem cogitadas pelos grupos, que vislumbram apenas a conquista de territórios e a morte de inimigos. Talvez a maior tragédia desta guerra seja o ISIS, mais conhecido como “Estado Islâmico”. Grupo formado por terroristas fanático-religiosos que desejam implementar a força o islamismo pelo mundo. Com bombas, guerras e aliciamento de crianças, os homens do ISIS têm levado o

terror não somente pela Síria, mas por vários países da Ásia. Países da Europa também já sentiram a força destes homens que não se importam com suas vidas, nem com as dos outros. A intervenção da Rússia e Estados Unidos na Guerra tem sido notável, agravando ainda mais a crise internacional que já é apontada por alguns estudiosos como um prenúncio para outras guerras. Além da economia completamente fracassada e arruinada, a Síria agora assiste passiva à massa de refugiados que saem aos milhares tentando fugir da malfadada guerra. Países da Europa e até mesmo da América Central são os destinos mais procurados pelos refugiados, que desejam fugir da Guerra que se instalou no País. Belo Horizonte recebeu um grupo de refugiados, trazidos com o apoio

A intolerância em debates sociais online Ana Júlia Ramos 5º Período A ascensão da internet e sua consequente popularização abriu espaço para todo mundo. Uma forma inicialmente democrática, no entanto, pode se tornar conflituosa quando os limites do respeito são esquecidos. Estamos vivendo um momento na sociedade como um todo no qual debates sociais ganham força a cada dia, a informação não chega mais apenas por meio de vias tradicionais (como o jornal, revistas, televisão e rádio) e cada indivíduo é um produtor de conteúdo em potencial. Esse poder adquirido pelo cidadão “comum” - não mais somente a um jornalista formado, por exemplo - tem ganhado ênfase e infelizmente muita das vezes é em decorrência de intolerância e negatividade. Quando uma notícia é divulgada em mídias sociais,

instantaneamente os comentários já começam a surgir. É claro que ao divulgar uma informação na internet o usuário sabe que estará tornando algo público e consequentemente poderia se preparar para todo tipo de resposta que viesse, mas a questão colocada em jogo é o efeito social que a atitude engloba. Uma simples publicação, para algumas pessoas, já diz tudo sobre a outra - o que não é um bom sinal. Certas visões políticas são encontradas dentro de entrelinhas inexistentes, gostos nem ao menos definidos são nomeados e muita confusão acontece no meio disso tudo. Às vezes alguém só queria deixar um simples comentário em algum rede, porém por ter se expressado talvez de forma ambígua é atacada ferozmente por outros milhares de internautas que nunca tentaram entender ou simplesmente contextualizar a fala do outro.

Não tem como, no entanto, se manter apenas do lado crítico da situação e não ver o lado bom e democrático da internet. É óbvio que os assuntos se tornaram mais acessíveis e na palma da mão de qualquer um que possua um aparato digital e uma conta numa rede social, mas é igualmente importante destacar a necessidade de aprender a lidar com tanta liberdade e acesso fácil. Não é só porque algo se encontra ao seu alcance que você irá ultrapassar todos os limites do bom senso e sair escrevendo tudo que surge na mente. Algo que me casa medo e receio é a perda gradual da profundidade nesses debates. Ver pessoas se considerando PHDs e experts em vários assuntos delicados e disseminando tais ideias sem nenhum cuidado é uma questão que pode chegar a se tornar perigosa. A internet é rápida como um raio e em

questão de segundos, informações falsas e equivocadas são compartilhadas por milhões de pessoas que tomam tudo aquilo como verdade e notícia real. O fato, inclusive, já prejudicou indivíduos até chegar ao ponto de tirar a vida dos mesmos (como o caso de uma mulher carioca que foi acusada de “bruxaria” e consequentemente morta por causa disso). Isso não é normal e não deve ser aceito. É necessário aprender. Aprender a lidar com o novo, aprender a lidar com o diferente, mas acima de tudo: aprender no sentido literal da palavra. Não se deixar levar pelo calor do momento na hora de criar ou compartilhar um fato ou boato no qual você não tem toda a certeza da veracidade. É sobre não perder a liberdade de expressão, de forma alguma, mas sim expressar a opinião em todo e qualquer meio - mas com responsabilidade e respeito.

Fale com

da Igreja Católica. Com o desejo de ajudar, as famílias hoje estão bem instaladas e trabalhando. A saudade do país de origem é grande, mas a garantia de se manter vivo é maior. Missões humanitárias e grupos religiosos insistem em permanecer na Síria para ajudar àqueles que não quiseram ou não conseguiram sair. Não há um fim próximo, e pelo contrário, as armas químicas agora são o novo trunfo utilizado na disputa. Sem um consenso, ainda assistiremos a muitas crianças mortas nas praias e soterradas em escombros, famílias destruídas e povos exilados. Tristeza para o homem, que se diz “humano”, mas que não reconhece no outro sua própria imagem.

o ponto Coordenação Editorial Prof. Hugo Teixeira · Jornalismo Impresso Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora orientadora Daniel Washington · Técnico Lab. Prod. Gráfica Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa · Aluno voluntário Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Telefone: (31) 3228-3014 e-mail: jornaloponto@fumec.br Presidente do Conselho de Curadores Prof. Antonio Carlos Diniz Murta Reitor da Universidade Fumec Prof. Dr. Fernando de Melo Nogueira Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira Técnico Lab. Jornalismo Impresso Luis Filipe Pena Borges de Andrade Monitores de Jornalismo Impresso Pietra Pessoa Tiragem desta edição: 1.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

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2 - Opniao 2

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

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Cultura  •  03

Editor e diagramador da página: Pietra Pessoa

O Ponto

Belo Horizonte, maio de 2017

Evento mundial, que teve a primeira edição no Rio de Janeiro, retorna ao Brasil no ano de seu 32º aniversário Marcos Fam 7º Período

Crédito: João Pedro Sousa Lima

Logo do Rock In Rio ganha destaque na cidade do Rock

3 - Rock in Rio 3

Multidão assistindo shows do Rock in Rio em 2015 sofrendo severas críticas por parte do público devido à mistura dos estilos musicais. Muitos se perguntam: como pode um festival de rock trazer bandas de axé, hip-hop, reggae e outros estilos distintos do rock? Na maioria das vezes os fãs reagem de forma mais tranquila, mas às vezes a idolatria e amor pelo rock ultrapassam os limites, como foi o caso do cantor Lobão, que sofreu vaias e acabou deixando o palco com seis minutos de show e duros xingamentos durante a segunda edição por estar escalado no famoso Dia do Metal, que tinha como grande nome os brasileiros e mineiros do Sepultura, que iniciavam sua meteórica carreira. Mesmo com essa polêmica e discussão, Medina sempre intercalou bandas e artistas de estilos variados para mostrar a diversidade cultural e fazer com que públicos diferentes convivessem em paz mesmo em shows que fogem do padrão do rock tradicional. Para a edição de 2017, que será realizada nos dias 15, 16, 17, 21, 22, 23 e 24 de setembro, a escolha do local foi o Parque Olímpico do Rio de Janeiro, com o intuito de aproveitar mais o espaço e proporcionar maior mobilidade urbana ao público. O evento terá atrações como The

Who, Alice Cooper, Ney Matogrosso, Tears For Fears, Bon Jovi e outros, além da maior banda de metal, Sepultura. Acima de tudo, o Rock In Rio é um evento que tem como prioridade ser um veículo de comunicação de emoções e causas. Ele utiliza os shows e a música como uma linguagem universal, usando essa virtude para reunir pessoas não só como contato público, mas estar próximo e impactar a vida das pessoas, usando parte da renda para projetos sociais, construção de escolas, criação de ONGs e outros, por exemplo. Para Tereza Godoy, 68 anos, aposentada, o Rock In Rio foi “uma experiência fantástica”, pois acompanhava sua filha mais velha, Erika Fam, que comemorava seu aniversário e que nunca tinha participado de um evento desse nível. Ela lembra que curtiu muito, usando pulseiras e colares que era distribuído no evento. Godoy ressalta que o momento de êxtase e marcante foi o show do A-Ha e que se sentiu jovem ao estar presente em um evento de tamanha grandeza e também ao mostrar ao mundo o lado da música brasileira. Já para Erika Fam, 43, a experiência de vivenciar o Rock In Rio ao lado de sua

Crédito: João Pedro Sousa Lima

No ano de 1985, o Brasil passava por grandes transformações e chegava ao fim o longo período do governo militar. O país começava a dar os passos para a volta da democracia. Diante desse cenário de renascimento, surgia o maior evento de música do planeta, o Rock In Rio, e era a primeira vez que a América do Sul recebia um evento de tamanha grandeza. Idealizado pelo empresário brasileiro, Roberto Medina, o Rock In Rio nascia em 1985 no Rio de Janeiro, com grande repercussão mundial. O evento foi realizado pela primeira vez entre os dias 11 e 20 de janeiro em uma área construída para o evento chamada “Cidade do Rock”, com 250 mil metros quadrados, na Barra da Tijuca. Esse local disponibiliza o maior palco já construído no mundo, com 5 mil metros quadrados de área, além de 50 lojas dentro de um pequeno shopping e dois imensos fast foods. A infraestrutura do evento atende a 1,5 milhão de pessoas, o que equivale a cinco eventos de Woodstock, realizado durante os anos 80. Antigamente, o evento não tinha pausas em sua programação, ou seja, eram 10 dias ininterruptos de festa e música. A primeira edição do festival registrou um público de quase 2 milhões de pessoas ao longo dos dez dias de duração. O concerto de rock ganhou fama e destaque devido ao fato de que grandes estrelas da música mundial não visitavam

e não faziam turnês pela América do Sul, e com o evento, o público e os fãs passaram a ter a grande oportunidade de ver de perto ídolos do rock. Diante dos momentos antológicos do Rock In Rio, a primeira edição do festival ganha certo destaque até hoje por ter sido o primeiro e maior festival de rock’n’roll do mundo e por ter contado com 15 artistas brasileiros e 16 internacionais. Entre os nomes que passaram pela Cidade do Rock, estavam presentes Iron Maiden, Whitesnake, Queen, Scorpions, Ozzy Osbourne, AC/DC, Yes e outras bandas internacionais. Porém, o evento não foi só de rock internacional. Bandas como Barão Vermelho, liderado por Cazuza, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, e os cantores Pepeu Gomes, Moraes Moreira e outros representaram a música brasileira. Vale ressaltar o show histórico do Barão Vermelho, que se apresentou no dia 15 de janeiro de 1985, no mesmo dia em que Tancredo Neves era eleito presidente do Brasil após os 21 anos de ditadura militar. Cazuza aproveitou o momento para fazer um discurso que entraria para a história da redemocratização do Brasil. “Que o dia nasça feliz, feliz pra todo mundo, com um Brasil novo”. O enorme sucesso do Rock In Rio levou o empresário Roberto Medina a promover mais vinte e duas edições, sendo que as edições dos anos de 2018 e 2019 serão sediadas em Lisboa e Las Vegas, respectivamente. No entanto, o Rock In Rio não vive só de amores e elogios. Nas últimas edições o evento vem

mãe, foi surreal. “Imagine só, na época eu tinha apenas 14 anos e estava presente em um evento daquele porte. “Fiquei embasbacada com tudo aquilo, com os shows – vi A-Ha, pensa bem! Uma mega estrutura, com muita gente bonita e bem descolada na época. O Rock In Rio representou pra mim quase uma transição de criança pra jovem”, relata. Ainda segundo ela, “nos cenários nacional e internacional, acho que depõe muito a favor da nossa capacidade de produzir e sediar algo tão grandioso. Artistas mega renomados em uma estrutura faraônica!”. ”Depois que vim morar no Rio de Janeiro, vejo de perto toda a mobilização para que o Rock In Rio seja o sucesso que é e que sempre foi”, completa. De acordo com Erika, a mudança maior no evento é a questão da estrutura física. “Antigamente o palco era o estádio do Maracanã, e hoje existe um local especialmente para o evento, batizado como Cidade do Rock. Um lugar imenso que já está integrado a cidade pensado para receber tanto o público quanto os artistas”, pontua. Para ela, é uma verdadeira Disney, com direito a tirolesa, além do mega espaço de entretenimento.

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4  •  Comportamento Belo Horizonte, maio de 2017

Editor e diagramador da página: Pietra Pessoa

Funk na Arena

O Ponto

Conheça as opiniões de quem é a favor e contra o estilo musical Pietra Pessoa Rachel Silveira 3º e 5º Períodos

Prós

“Queria dar à minha família o melhor de mim Ter fé e esperança pra um dia ser Mc Dar a casa pra minha coroa é o que eu to querendo Ver meus irmãos feliz e não ver eles sofrendo.” Mc Pedrinho Talvez você se surpreenda ao descobrir que o funk é um elemento cultural brasileiro, que várias vezes expõe a realidade dos locais onde diversas pessoas são criadas, que serve de fonte de renda e identidade para estes indivíduos que nasceram na periferia e viram na música uma chance de vida. O produtor de vídeos de funk, Tom Produções, que trabalha neste ramo há 6 anos, confessa que existe preconceito contra este estilo musical e relaciona isto ao lugar de origem do ritmo, a periferia. “O funk veio da periferia, então o preconceito é inevitável. Já teve vez que eu estava para fazer produções de vídeos para casamento e quando descobriram que costumamos trabalhar mais com funk, cancelaram”. Ainda segundo o produtor, o ritmo da

música, a batida e a história, que devem ser interessantes, são os critérios utilizados por ele para escolher qual cantor produzir. Dennison de Lima Gomes, mais conhecido pelo nome artístico Dennis DJ, produtor musical e DJ brasileiro, afirma que o funk é um elemento cultural e está em seu momento máximo. “O Brasil é muito rico de ritmos e eu rodo o mapa todo e hoje eu posso dizer que todo mundo sabe o que é o funk”, opina. A filósofa Beatriz opina que a questão é que as pessoas possuem preconceito pelo fato de o funk retratar, explicitamente, a realidade social. “O sexo, por exemplo, é um ato extremamente presente na sociedade, e que, inclusive, também é encontrado em outros estilos musicais, só que não de maneira explícita”, ressalta.

O funk, enquanto estilo musical, contribui para enriquecer a cultura brasileira ou é incitador do uso de drogas, sexo irresponsável e violência? Desde que apareceu no Brasil, na década de 70, as divergências de opiniões sobre sua influência, positiva ou negativa nas pessoas, permeia pela sociedade. Com sua ascensão na última década, esta discussão só aumenta.

X

Contra

“Eu não preciso mais beber e nem fumar maconha... Você sentando, mozão, me deu onda Ai que vontade de fuder, garota Eu gosto de você, fazer o que? Meu pau te ama.” MC G15 Em contrapartida, talvez você se surpreenda ao ler letras de músicas que canta ou dança e perceber que não tinha reparado no significado das palavras. Palavras que mostram vulgaridade e que influenciam os ouvintes a sempre pensar de maneira sexual. Segundo Priscilla Karen de Souza Pessoa, de 22 anos, “em uma música tudo influencia, desde a letra até a voz de quem canta”. Ivan Assis, de 55 anos, concorda com esta afirmação e opina que o funk pode fazer a cabeça de pessoas facilmente influenciáveis”. Assis completa dizendo que o maior problema do funk é “o recado mal dado, que pode se transformar em uma influência negativa para quem ouve e que não trás nada muito construtivo, além de ser nocivo”, diz.

É preciso ressaltar que todos os entrevistados que se manifestaram contrários ao estilo musical escutam o ritmo. Todavia, a afirmam que escolha de ouvir não é deles. De acordo com as fontes, por conta própria não escutam de jeito nenhum, porém é impossível não se depararem com o funk “através de terceiros, quando passo em algum lugar e está tocando”, confessa Assis. A filósofa declara que o problema, na verdade, é o que acontece em todos os tipos de festas, como a violência, as drogas, entre outros. Beatriz Parreiral ainda ressalta que, apesar de a polícia interferir bastante em bailes funk e estes serem reconhecidos como lugar da brutalidade, todas as celebrações possuem estes tormentos, desde raves até festas de formatura. Fotos: Pietra Pessoa

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Sustentabilidade  •  05

Editor e diagramador da página: Sara Lacerda e Rachel Silveira

O Ponto

Belo Horizonte, maio de 2017

O FUTURO ESTÁ EM NOSSAS MÃOS

Fotos: Arquivo pessoal

Entenda como pequenas atitudes podem auxiliar o meio-ambiente e conheça as histórias de pessoas que se esforçam para transformar o mundo em que vivemos atualmente

Sara Lacerda Rachel Silveira 5º Período Sustentabilidade, na sua definição mais simples, está relacionada à atitudes e/ou ideias ecologicamente corretas, viáveis socialmente e economicamente. Um exemplo de que pequenas atitudes podem modificar o mundo ao seu redor, é Luís Filipe Pena Borges, design gráfico de 26 anos, que fabrica e desenvolve mecanismos de preservação do meio ambiente. Há cerca de cinco anos, as atitudes de Luís se evidenciaram mais, quando este começou com seu primeiro projeto: O Minhocário, que tem como principal função dispensar o lixo orgânico residencial de forma sustentável, reduzindo até 51% de resíduos de uma residência urbana. “Foi simples a fabricação do minhocário. Eu peguei o projeto na internet e com o tempo fui adaptando para ver o que dava pra melhorar, gastei cerca de R$190,00 e demorei em média duas horas para fabricá-lo”, conta Luís Filipe, que depois de algum tempo, expandiu o interesse sobre mecanismos sustentáveis, produzindo então seu próprio coletor de chuvas. O Design Gráfico conta que o Coletor de Chuva é um mecanismo que reserva a agua da chuva, possibilitando seu uso para fins não potáveis (Se torna potável apenas depois de devidamente filtrada). Para ter seu próprio coletor de chu-

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vas é importante saber que são necessários dois dias inteiros para produção, conhecimento básico de hidráulica, e sai por cerca de R$500,00. Segundo Luís: “Os mecanismos se sustentam. Você usa a agua que coleta da chuva, para molhar as plantas. Usa o Humos (fezes da minhoca) para alimentar as plantas, e usa as plantas para se alimentar. O que sobra dos alimentos volta para as minhocas. É um ciclo”. completa Luís. Um sonho sustentável Laura Botelho de Carvalho, tem 30 anos e, há quase 2, realizou seu sonho da maneira mais consciente possível no que se trata a preservação do meio ambiente. No dia 06 de setembro de 2015, ela e o biólogo botânico, Filipe Rodrigues se casaram no Caravaggio, um salão de festas e eventos em Belo Horizonte, e resolveram realizar a cerimonia preservando seus ideais ambientalistas. Segundo Laura, o principal objetivo era reduzir o consumo. “Todas as compras que fizemos foram de coisas que nós realmente precisávamos, prioridades. Nossa intenção era buscar sempre reutilizar. É importante que evitemos ao máximo gerar resíduos quando realmente nos importamos com a saúde do nosso planeta”, orienta. A cerimonia foi simples. Os elementos usados foram poucos e visavam total respeito

ao meio ambiente: “Usamos guardanapos de tecido, que foram feitos pela minha avó e minha tia avó. Não usamos forma de doces. Estendemos folhas de bananeira na mesa e colocamos os doces por cima, usando as travessas de prata que o lugar já disponibilizava. Além disso, uma das coisas mais importantes foi em relação a ornamentação. Não usamos nenhuma flor de corte. As plantas usadas estavam em vasos, que depois do casamento foram para o nosso jardim”, conta Laura. Além disso, uma das principais atrações da festa foram as grandes árvores jabuticabeiras, colocadas no altar: “Após a cerimonia, uma foi para nosso jardim, como símbolo do casamento. A outra foi devolvida, e trocada por outras plantas”, relata a bióloga. Como os noivos são biólogos e priorizam atos sustentáveis em suas vidas no geral, o mesmo ocorreu no casamento. Comparado ao consumo de outras festas, os gastos são absurdamente mais baixos. Toda o evento ocorreu de forma natural. “Você deve viver a sustentabilidade todos os dias, em tudo. É como uma filosofia de vida”, finaliza Laura. O Desing da Consciência O Cerne é um desdobramento do projeto extensionista de Desing de Resíduos da Universidade FUMEC. A oficina fica no prédio FEA e tem a Professora Juliana Pontes Ribeiro como coordenadora. Segundo

Juliana, o projeto inicial era capacitar beneficiários para uma atividade produtiva que os retirasse da situação de vulnerabilidade social e oferecesse a eles uma opção de gerar renda. Já o Cerne (o desdobramento do plano inicial), pretende ampliar essas atividades e entrar em parceria com empresas que possuem resíduos sólidos reaproveitáveis, o que óbviamente aumenta o alcance geográfico do projeto em relação aos grupos de beneficiários, “Dessa maneira, o projeto vai ao encontro de necessidades contemporâneas de consciência ambiental e retorno social das empresas”, conta Juliana. Para realizar seus projetos o CERNE aplica a sustentabilidade em seu âmbito integral que é constituído de quatro pilares de análise, estratégia e aplicação, sendo estes: econômico, social, cultural e ambiental. Estes fundamentos implicam que, para que algo seja sustentável, deve ser economicamente viável, socialmente justo, culturalmente aceito e ambientalmente correto. Os projetos desenvolvidos pelo CERNE possuem um custo baixo de produção. Isto é possível porque a matéria prima utilizada são os resíduos doados pelas empresas parceiras e pelo uso de práticas artesanais, que faz pouco ou nenhum gasto de água e eletricidade, além de não exigirem o uso de máquinas para serem realizadas. Juliana conta ainda que: “tudo o que é produzido

conta com a participação de quem se beneficia. Eles ajudam no processo de criação e produção.” Além disso, visando ajudar ainda mais o ambiente, o CERNE se preocupa com a escolha do acabamento de seus materiais, prezando para que este não prejudique que o objeto possa ser reciclado posteriormente e faz pouco ou nenhum uso de embalagens. Com o objetivo de divulgar e registrar tudo o que é produzido pelo projeto Design de Resíduos, além de dar informações à comunidade acadêmica e à comunidade que se encontra entorno da Universidade FUMEC foram criadas três cartilhas com informações sobre sustentabilidade e o conteúdo que é feito pelo CERNE. O Cerne Folhas é um caderno de artigos produzidos pela equipe de alunos e professores. Nele é explicado como o Projeto de Extensão se tornou o CERNE; qual o objetivo de cada cartilha e com que intuito elas foram criadas; como ocorreu o processo de criação da identidade visual e como é a criação dos materiais gráficos do Projeto Design de Resíduos. O Cerne Sementes se trata de uma publicação no formato passo a passo. Nesta cartilha, as tecnologias que são desenvolvidas no projeto são explicadas de forma simples para que possam ser reproduzidas pelas pessoas em suas próprias casas. O Cerne Quebra-galhos apresenta resoluções ecológi-

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06  •  Sustentabilidade

Editor e diagramador da página: Sara Lacerda e Rachel Silveira

Belo Horizonte, maio de 2017 cas para os problemas do cotidiano como o descarte do lixo eletrônico e do óleo de cozinha, levando a sustentabilidade para dentro das residências particulares. Além disso, elas também trazem links de sites que contenham informações sobre o produto específico que cada cartilha aborda e uma lista de locais ou empresas que fazem a reciclagem dos mesmos. A participação dos estudantes da Universidade FUMEC, em conjunto com os professores, é de extrema importância, já que uma das intenções do projeto é a de desenvolver a autonomia dos jovens. Estes planejam e criam oficinas, cursos e treinamentos que estejam ligados tanto ao design quanto ao artesanato. “Essa experiência ajuda a formar, nesses graduandos, a capacidade de desenvolvimento de metodologias para ações interdisciplinares em sua futura profissão. Além disso, também ajuda a consolidar a consciência deles sobre a importância do pensamento socioambiental na profissão”, afirma Juliana. A moda e a sustentabilidade Carolina Oliveira e Maria

O Ponto Fróis são estudantes de moda da UFMG desde 2014 e há quase um ano resolveram empreender de uma forma diferente. As estudantes montaram o Selo Brechó, bazar online, com o intuito de trabalharem com o que gostam visando a sustentabilidade: “Nosso objetivo é mostrar que dá para se vestir bem, gastando pouco e de maneira consciente”, afirma Maria Fróis, uma das idealizadoras do projeto. A partir do momento em que os gastos excessivos são cortados, surge o Brechó. Afinal, você aproveita o que ainda pode ser usado, com um preço bem mais acessível ao invés de simplesmente descartar a peça produzindo mais lixo com aquilo que ainda pode ser usado. “Uma das indústrias que mais gastam água é a indústria da moda. E para piorar, hoje em dia com os Fast Fashions (Padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados rapidamente) as roupas se tornam simplesmente, descartáveis”, afirma Carolina. A moda Slow (The Slow Fashion Moviment), é um movimento sustentável criado

pela inglesa Kate Fletcher, professora e consultora de Design Sustentável. O principal objetivo do movimento é incentivar a consciência quanto ao que consumimos. “O Slow Fashion tem como base pegar o que já foi produzido e reutilizar. É interessante porque você não está jogando aquela peça fora, jogando ela no lixo. Você está colocando ela em um lugar onde outra pessoa pode ter acesso a essa peça, gostar dela e comprar por um preço bem bacana. Você está reciclando, e talvez sem que nem perceba”, afirma a empreendedora Carolina. Mesmo que sejam vistos com olhares preconceituosos e não tenham muito incentivos, os bazares são extremamente importantes. Com esse mercado, você dá vida a algo que outra pessoa não quer mais. Você pega algo que muitos pensam ser descartável e oferece um novo olhar: mais bonito, mais sustentável e, principalmente, mais consciente. Grandes problemas enfrentados mundialmente estão diretamente ligados ao meio ambiente e a forma como ele vem sendo desgastado, des-

matado e mal utilizado nas últimas décadas. Por conta, disso é importante que o conceito de sustentabilidade e o respeito ao meio ambiente sejam difundidos entre a população como forma de conscientiza-la. Algumas mudanças podem ser feitas no nosso dia a dia para que o meio ambiente seja menos agredido como: fazer a separação do lixo para que os materiais recicláveis como o plástico, o papel e o metal sejam reutilizados, diminuindo sua produção. Também é possível que evitemos o gasto excessivo de água apenas tomando banhos mais curtos ou desligando a torneira enquanto escovamos os dentes ou lavamos o cabelo. São diversas atitudes simples que, ao se tornarem hábito em nossas vidas, ajudam o planeta. Outras formas de sustentabilidade são mais complexas e acabam atingindo o planeta de forma mais impactante. Empresas que tem grandes produções e, consequentemente, são responsáveis por uma poluição maior, exercem um importante papel ao mudarem seus conceitos e passarem a

ter atitudes mais sustentáveis. De acordo com um estudo realizado pela UniEthos, 69% das empresas brasileiras já reconhecem que inserir práticas sustentáveis em suas produções é uma necessidade. Além disso, o Brasil é um dos líderes mundiais na produção de aero geradores, que são utilizados para produzir energia eólica. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que nosso país é o quinto maior investidor mundial em energias renováveis. Em todo o mundo ainda há muito para ser mudado. É difícil reverter alguns danos que os seres humanos causaram para o meio ambiente ao decorrer dos anos, mas o crescimento da presença da sustentabilidade na vida de cada um e a preocupação de grandes empresas com atitudes favoráveis ao planeta nos dá a certeza de que a consciência começa a ser produzida em nós. “É saber que tudo que a gente faz gera algum impacto. O que fazemos gera pegadas e elas serão vistas de alguma forma, por alguém, quando sairmos daquele lugar” conclui a bióloga Laura.

As empresas e a sustentabilidade

Foto: Arquivo pessoal

Apple A famosa empresa americana que fabrica smartphones e outros produtos eletrônicos criou uma iniciativa de coleta de dispositivos e programas globais, o Apple Renew, que permite que se leve produtos usados da marca em qualquer Apple Store para reutilização ou reciclagem responsável. Além disso, a Apple também deixou de usar algumas substâncias tóxicas em seus produtos como o mercúrio, o chumbo, o arsênico e o berílio. Atualmente, 93% das instalações da Apple ao redor do mundo usam energia renovável.

Casamento de Laura e Filipe foi realizado com consciência e delicadeza

Faber-Castell A empresa alemã que produz material de escritório utiliza 100% de madeira reflorestada para a fabricação de seus EcoLápis e o que não é utilizado na fabricação serve para gerar energia. Até mesmo as cinzas, que resultam da queima da serragem, são aproveitadas como fertilizante por empresas de paisagismo. Natura A empresa brasileira de produtos de beleza e tratamento utiliza espécies nativas e exóticas em sua produção. Cada produto tem uma tabela com informações sobre o impacto ambiental de cada item e certificaões de que não são realizados testes em animais. A empresa possui o programa Carbono Neutro, onde se compromete a reduzir e a compensar as emissões de carbono. Além disso, em 1883, passou a oferecer a opção de refil para seus produtos, que são 54% menores do que a embalagem comum.

Foto: Welerson Rezende

Coca-Cola Company Corporação multinacional americana que fabrica e comercia bebidas não-alcoolicas, retorna para o meio ambiente toda a água utilizada nos processos produtivos. Desde 2000, a empresa reduziu em 28% a quantidade de água necessária para produzir 1 litro de bebida, economizando o recurso natural e, diminuíram o peso das garrafas PET para que menos plástico fosse utilizado. Além disso, Possuem a embalagem RefPET que é reutilizada, reduzindo a produção de garrafas por ano em 70 milhões.

Equipe do projeto CERNE em um dos seus eventos

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Especial  •  07

O Ponto

Belo Horizonte, Maio de 2017

Foto: Pietra Pessoa

Editor e diagramador da página: Pietra Pessoa

Foto: Letícia Gontijo

Carioca de nascimento, mas mineiro de coração. Assim pode ser definindo Oscar Niemeyer. Considerado um dos mais geniais arquitetos da humanidade, além de designer, escultor e escritor, Niemeyer deixou seu legado gravado para sempre pelo mundo, e, especialmente em Belo Horizonte. Convidado pelo então prefeito da capital, Juscelino Kubitschek, junto do governador Benedito Valadares, Niemeyer criou uma série de prédios na nova área nobre da cidade, batizada

Pampulha, com o que se tornaria o Conjunto Arquitetônico da Pampulha. Até a sua morte, em 2012, foram mais de 80 anos de carreira, foram mais de 100 obras projetadas, construídas e idealizadas, como o prédio da ONU, em Nova York, e o Palácio do Itamaraty. Coroado com o Pritzker, o prêmio máximo da arquitetura, em 1988, Belo Horizonte pode se orgulhar de ter algumas das principais obras do grande mestre espalhadas pela cidade. Começando pela Pampulha, encontra-se a Igreja São Francisco de Assis, ou Igrejinha da Pampulha.

Foto: Maria Rita Pirani

Guilherme Amorim 5º Período

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Além do estilo único de Niemeyer, ela tem a “mão” do paisagista Burle Marx e do pintor Cândido Portinari. A construção, feita em linhas curvas, é revestida de azulejos azuis e anéis que retratam a Via-Sacra. Também na região da Lagoa da Pampulha, encontra-se a Casa do Baile, inaugurada em 1942. Ela fica em uma ilha artificial, ligada à Orla da Pampulha por uma ponte de concreto. Desde 2002, abriga um centro que discute urbanismo, arquitetura e design. A diante, há o Iate Tênis Clube que o próprio Niemeyer definiu como “uma casa-barco de linhas duras que se lança sobre as águas tranquilas da Lagoa”. Finalizando o Conjunto, está o Museu de Arte Moderna

(MAM). Originalmente construído para abrigar um cassino, em 1943, funciona como museu desde 1957. Atualmente, o acervo gira em torno de 1400 obras, à beira da Lagoa. Saindo da Pampulha, inaugurada em 2010, a Cidade Administrativa Tancredo Neves, projetada por ele para abrigar a sede do Governo de Minas Gerais. Possui cinco edificações: Palácio Tiradentes, dois prédios (edifícios Minas e Gerais), secretarias de Estado Centro de Convivência e Auditório Presidente Juscelino Kubitschek além outras unidades menores. Leia mais a respeito aqui. Na região central de Belo Horizonte, mais algumas das edificações importantes projetadas por Niemeyer. Na Praça

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Foto: Laura França

Foto: Catherina Dias

Foto: Divulgação/PBH

Foto: Marina Sathler

Foto: Catherina Dias

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Foto: Lizandra Andrade

mado de Conjunto JK. O projeto original de 1951, que foi modificado, previa também a construção de supermercado, um museu de arte moderna, comércio, serviços, repartições públicas e residências para os funcionários. Niemeyer também projetou uma ampla área de lazer para atender aos moradores. O conjunto, que só ficou pronto em 1968, é próximo a outro dos pontos icônicos da cidade, o Mercado Central. Por fim, na região Norte, próximo ao Shopping Estação, está a ainda em construção, está o projeto da Catedral Cristo Rei. Prevista para terminar em 2020, a catedral terá três pavimentos e capacidade para 20 mil pessoas, e será mais uma obra do grande mestre à embelezar a cidade.

Foto: Divulgação/PBH

da Liberdade, a Biblioteca Pública Estadual, criada em 1954 pelo então governador Juscelino Kubitschek, e o prédio que leva o nome do arquiteto, o Edifício Niemeyer. A Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa foi criada em 1954, pelo então governador Juscelino Kubitschek. Embora o projeto arquitetônico tenha sido de Niemeyer, o projeto nunca foi totalmente concluído. Muito perto dali encontra-se um dos mais charmosos e icônicos edifícios da cidade, tem linhas e curvas que lembra as serras de Minas. Ainda na região central de BH, passando pela Praça Raul Soares, pode ser visto o Conjunto Habitacional Juscelino Kubitschek, popularmente cha-

Foto: Lizandra Andrade

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10  •  Cultura

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No altar das montanhas de Minas Há 250 anos, a Serra da Piedade mistura beleza, devoção e aventura em um dos mais belos cenários do estado João Eduardo 3º Período Tudo começou em 1767 na região da Penedia, em Caeté, cidade histórica a cerca de 60 km de Belo Horizonte. Ao brincar em torno da montanha até então chamada de “Sabarabuçu”, uma menina muda vislumbrou a imagem de Maria com o seu filho morto nos braços, passando, a partir desta visão, a falar normalmente. Este fato chamou a atenção do português Antônio da Silva Bracarena, que veio para Caeté trabalhar na construção de igrejas. Ao saber deste fato, converteu-se e decidiu se transformar em um eremita (monge que vive entre as montanhas). Ao lado de irmão Lourenço, que anos depois fundou na região de Catas Altas o Colégio do Caraça, ergueram no alto da Serra uma cabana e, ao lado, uma pequena ermida (capela), dedicada à Nossa Senhora da Piedade. Após a morte de Bracarena, a pequena ermida ficou por um tempo esquecida. Monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, então Pároco de Caeté, começou a incentivar os fieis a peregrinarem à Serra da Piedade. Fundou aos pés da Serra no ano de 1867 o Asilo São Luís, orfanato para abrigar crianças negras e abandonadas da região. Ao ver o estado de abandono em que se encontrava a igreja, fundou a Irmandade de Nossa Senhora da Piedade, com o intuito e missão de cuidar da ermida fundada por Bracarena. Monsenhor Domingos faleceu no Asilo São Luís em 1924, vendo a devoção e as romarias à Serra crescerem consideravelmente. Após a morte de Monsenhor Domin-

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gos, tomou posse como Vigário da Serra o Padre Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta. O padre continuou os trabalhos de Monsenhor Domingos até sua ida para a Europa, em 1926. Anos depois, retornou ao Santuário como Cardeal, e viu como a Serra necessitava de reformas para melhor acolher os numerosos romeiros que peregrinavam à Serra. Indicou para cuidar do Santuário o então professor Frei Rosário Jofilly, que permaneceu como Reitor por mais de 50 anos.

“O Santuário de Fátima em Portugal é muito bonito, mas nada se compara à Serra da Piedade. Ela está no nosso coração”. José Carlos e Joana D’arc Paraibano de nascimento, Frei Rosário executou as primeiras melhorias na Santuário. Uniu equipes e mobilizou políticos e empresários em torno da devoção a Nossa Senhora da Piedade. De inteligência notável e com um profundo amor pela Serra, Frei Rosário produzia queijos e vinhos em meio as montanhas. Viu em 1960 Nossa Senhora

da Piedade ser proclamada Padroeira de Minas Gerais pelo Papa João XXIII a pedido dos Bispos de Minas Gerais na época. Faleceu em 2000, deixando saudades nos devotos e peregrinos acostumados com seus sermões. Em 2010, após 50 anos da proclamação de Nossa Senhora da Piedade como Padroeira de Minas o Gerais, a Arquidiocese de Belo Horizonte iniciou uma série de obras e ações no Santuário, a fim de melhorar a infraestrutura, o acolhimento aos romeiros e o aumento da devoção a Nossa Senhora da Piedade através dos meios de comunicação. O trabalho, desde então, vem sendo liderado por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte e sua equipe. O Santuário ganhou melhorias em paisagismo, segurança, infraestrutura e acolhida. Dom Walmor fundou a Campanha “Faço Parte”, onde os devotos são convidados a fazer doações para a manutenção do Santuário. “Nossa Senhora da Piedade não é somente Padroeira de Minas Gerais, mas de todo o povo de Minas, e, neste ano Jubilar de 2017, onde celebramos os 250 anos de peregrinações a esta montanha sagrada, todos os mineiros são convidados a subir a Serra e fazer suas homenagens”, disse. Situada à cerca de 1.746 metros de altura, em dias claros é possível ver uma das mais belas vistas de Minas Gerais, em

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“Como nas grades do Santuário do Senhor do Bonfim em Salvador, os fieis cumprem a tradição de amarrar suas fitas nas grades que dão acesso a Ermida de Nossa Senhora da Piedade.”

um conjunto de montanhas que ganharam o nome de “magnífica arquitetura divina”. Várias cidades da região metropolitana de BH podem ser avistadas do alto da Serra, que tem atraído milhares de peregrinos em busca de espiritualidade e aventura. A subida à pé até o alto da montanha é uma tradição, principalmente na Sexta-Feira da Paixão, onde milhares de peregrinos sobem meditando os últimos passos de Cristo antes da Cruz. O casal José Carlos e Joana D’Arc de Andrade ficaram por um longo período longe do Santuário e se encantaram ao ver as reformas no conjunto arquitetônico da Serra. “Deus está nas montanhas e aqui encontramos o silêncio para meditar”, disse José Carlos. “Nós estivemos no Santuário de Fátima em Portugal a cerca de um mês. Lá é muito bonito, mas nada se compara à Serra da Piedade. Ela está no nosso coração”, afirmou o casal. A vendedora Luana Soares Carvalho saiu da cidade de Santa Luzia e trouxe toda a família para vir ao Santuário, cumprindo a tradição ensinada pela mãe. “A paz aqui é muito grande, saímos do Santuário completamente

renovados”, concluiu. Padre Fernando César do Nascimento é o atual Reitor do Santuário Nossa Senhora da Piedade. “A graça maior de poder celebrar esses 250 anos de peregrinações à Serra é poder colocar no coração de cada mineiro por excelência o desejo de serem autênticos servidores de Cristo Jesus”, afirmou. “Temos um caminho a ser trilhado neste ano com momentos culturais, de valorização da gastronomia, cuidando com carinho deste Santuário que é a casa de todos os mineiros”, concluiu. Para o ano de 2017 ainda estão previstas a reforma e a ampliação da Igreja Nova das Romarias, idealizada em 1974 para comportar um maior número de fieis. Existe uma expectativa para que a

Igreja Nova receba do Papa Francisco o título de Basílica Menor, devido à importância que representa para a Fé Católica em Minas Gerais. No último dia 31 de Março, o Santuário inaugurou o “Jardim das Oliveiras”, espaço para meditação que remete ao episódio bíblico da agonia de Cristo antes de sua prisão. Há também o projeto de construção do museu “Maria Regina Mundi”, que abrigará milhares de imagens de Maria, mãe de Jesus em seus mais variados títulos. A programação completa do ano jubilar pode ser encontrada no site www.santuarionsdapiedade. org.br ou na página do Santuário no Facebook.

“Inaugurada no final de março, a imagem em pedra sabão foi instalada em um jardim, onde dezenas de mudas de oliveira foram plantadas.”

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12  •  Esporte

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E la nave va!

Na esperança de repetir 2013, o Galão da massa avança nesta quinta participação do time mineiro na mais importante competição sul-americana Pedro Paiva 1º Período

classificar. Depois disso, o time enfrentará adversários difíceis e, para isso, deve mostrar um futebol bem melhor que aquele que vem apresentando até aqui. É bom lembrar que desde 1960, quando teve início a Copa Libertadores até o ano de 2012, o Atlético só havia participado em 4 oportunidades (1972,78,81,2000), chegando as quartas de final em 78 e 81. Desde 2013, quando venceu o torneio, o Atlético vem sistematicamente participando da Libertadores, o que mostra a qualidade do time nessas últimas edições. Espera-se, portanto, que agora, em 2017 o time faça prevalecer a sua qualidade, conquistando bons resultados.

Fotos: Divulgação Clube Atlético Mineiro

E aí está o Galo novamente na Libertadores. O time iniciou sua jornada pela competição por mais um título internacional de uma forma bastante tímida que, nem de longe, lembra a equipe que terminou o Brasileiro em 2016 com grandes apresentações, muito menos a que venceu em 2013 quando contava com Ronaldinho. O que se vê nas apresentações do Atlético, é um grupo desmotivado que não corresponde à expectativa e à paixão de sua torcida. Com poucas modificações, o Atlético continua com um bom

elenco, mas talvez a mudança do técnico tenha sido uma escolha infeliz. O fato é que a Copa Libertadores da América é um torneio em que os times têm que se desdobrar a cada jogo. O Galo iniciou essa competição com um empate na Argentina; conseguiu uma vitória sofrida em BH e uma derrota no Paraguai. O jogo contra o Libertad, no Independência no dia 26/04, foi o único dessa série que mostrou um time lutador, com talento necessário para seguir no torneio. Depois de golear o Sport Boys (5x1), o próximo desafio é enfrentar a equipe Argentina, Godoy Cruz, Atlético somente depender de seus resultados para se

Fred comemorando gol

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Tecnico do Atlético ineiro, Roger Machado Marques observando a partida

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