Jornal O Ponto - março de 2005

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07 - Segurança - Daniel Simão

4/1/05

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Editor e diagramador da página: Daniel Simão

SEGURANÇA 7 ‘Olho Vivo’ pode ser discriminatório O PONTO Belo Horizonte – Março/2005

Apesar de a PM afirmar que não há preconceito, critérios de identificação de suspeitos são discutíveis Guillermo Tângari

Fabiana Lima e Ana Vitória 4º período O Projeto ‘Olho Vivo’ divulgou o número de ocorrências monitoradas pelo sistema no mês de janeiro. De acordo com o levantamento feito, das 220 ocorrências, 110 consistiram na abordagem de suspeitos nas ruas da capital. Esse número, embora significativo, tem maior importância se forem considerados os critérios utilizados na identificação do potencial criminoso, que normalmente está associada à cor e classe social das pessoas que circulam pelo centro. A reportagem de O PONTO esteve no local de funcionamento das câmeras, localizado no Comando da Polícia Militar(PM), na rua da Bahia acompanhando o trabalho dos técnicos e quais os procedimentos tomados na identificação de um suspeito. Pessoas bem vestidas não foram consideradas pelos técnicos do posto de policiamento. As opiniões daqueles que freqüentam as regiões monitoradas se divergem. Para uns o preconceito ocorre e está presente nas ações policiais já que a maior parte das pessoas abordadas são as mais pobres.João Evangelista,comerciante que trabalha no centro, relata que uma vez, caminhando com um sobrinho de 18 anos, foi surpreendido por policias que sem mais nem menos o levaram para a delegacia.“Estou revoltado. Sou trabalhador honesto. Só porque sou negro, não significa que vou cometer crimes”, indigna-se. Outras, no entanto, apesar de não concordarem com qualquer tipo de discriminação, acreditam que para a polícia é difícil determinar quem são verdadeiramente os suspeitos. Para Maria do Carmo Ferreira, costureira que costuma circular na região

central da capital, é preferível que a PM cometa excessos e não deixe ‘delinqüentes’ atuarem livremente. De acordo com o sub tenente Lopes, raça e vestes não são fatores relevantes para classificar uma pessoa como suspeito em potencial, mas influenciam.“O comportamento é o principal, já que tanto pessoas aparentemente mal vestidas quanto bem vestidas foram flagradas furtando outras pessoas”. Ele acrescenta ainda que, para que um indivíduo seja considerado suspeito, é necessário que ele fique muito tempo parado em determinado lugar, atento ao movimento ou trocando objetos com outras pessoas, o que pode ser eventualmente tráfico de drogas. Além dessa questão, outra preocupante diz respeito à agilidade do sistema. O PONTO recebeu a denúncia de que muitos suspeitos têm sido presos, em virtude das imagens gravadas, mas liberados em seguida por falta de provas, já que as imagens não têm chegado com rapidez aos postos da polícia. De acordo com o Secretárioadjunto de Defesa Social de Minas Gerais, Luís Flávio Sapore, as medidas cabíveis já estão sendo tomadas.Ele defende que o ‘Olho Vivo’ , como qualquer outro sistema de seguança, apresenta limitações normais de operacionalização.“ Problemas como este existem, e temos de aprender a lidar com eles, para assim podermos extingui-los”,afirma.Segundo ele as imagens ficam gravadas, mas por causa de uma lei estadual não é permitido seu uso, exceto em casos onde os suspeitos são levados às delegacias sem a presença de uma testemunha ou vítima. Sendo assim, o vídeo é liberado para procedimento legal, tornando o processo um pouco mais demorado.

Sistema apresenta falhas na segurança

No centro de monitoramento do ‘Olho Vivo’ técnicos observam os pedestres

Taxistas se armam em BH Daniel Carlos

Daniel Carlos e João Marcelo 5º período A falta de segurança enfrentada pelos taxistas que trafegam em Belo Horizonte, tem feito muitos deles se armarem no combate a violência. Normalmente portando armas, objetos pontiagudos e pedaços de madeira escondidos nos veículos, alguns taxistas tentam se proteger da ação dos bandidos. Marcelo Souza, taxista há 16 anos, afirma estar revoltado com a falta de comprometimento das autoridades. Para ele o Estado ao invés de desarmar o cidadão de bem, deveria primeiro deter os marginais. “Eu tenho que me armar.Tenho família, filhos, muita coisa para perder”, desabafa. Para Dirceu Efigênio Reis, presidente do Sindicato dos Taxistas ( Sincavir), a não existência de policiamento adequado e a insegurança generalizada, tem levado muitos taxistas a utilizarem meios de defesa próprios.“Hoje a situação está muito complicada para o profissional do táxi, já que por não ter como se defender, se tornou alvo fácil para assaltantes”, afirma. O sindicato da classe, através de seu diretor-secretário, Avelino de Araújo, informou que juntamente com a Polícia Militar (PM) está promovendo a operação ‘Pára Pedro’, que são blitze para taxistas feitas em toda cidade, que tem o objetivo de proporcionar maior segurança no exercício de suas fun-

ções. “Essa operação tem dado alguns resultados, mas ainda é insuficiente”, conclui. Ele afirmou também que um convênio está próximo de ser fechado entre a Rádio Táxi, a PM e a Secretaria do Estado da Defesa Social.“O objetivo é monitorar os passageiros que utilizam esse meio de transporte”, declara. Alguns taxistas, no entanto, reclamam do trabalho feito pela PM.Vagner Sena, taxista que trabalha em um dos pontos da Afonso Pena, comenta que certa vez ao ser parado por uma das blitze do Para Pedro, na Av. Vilarinho em Venda Nova, foi revistado pelo policiais, que nada fizeram em relação ao passageiro.“Fico me perguntando se essas blitzen são mesmo para proteger os taxistas ou para puní-los”, questiona. De acordo com o cabo André Diniz os passageiros são o maior alvo dessas ações.“É claro que os passageiros são nossa maior preocupação, mas isso não impede que os taxistas também sejam revistados”, esclarece. Ele aconselha ainda aos taxistas que não andem armados, já que os bandidos estão sempre em vantagem. “Quando um indivíduo de bem tem uma arma para se defender normalmente ele a usa em situações adversas e se prejudica”, orienta. Os taxistas têm também acusado os policias de apreenderem suas armas quando revistados, mesmo tendo porte. Carlos Macedo teve faca, cas setete e arma apreendidos pe-

O taxista Robson Pereira mostra a marca da violência

la polícia.“Eles levaram tudo e disseram que eu não tinha motivos para me armar tanto” relembra. Ele constatou ainda, conversando com colegas, que normalmente as armas não são devolvidas. “Eles mandam a gente buscar, mas, quando chegamos, sempre inventam uma desculpa” desabafa. Segundo o cabo Diniz o taxista que tem porte de armas, pode utilizá-la, a não ser que esteja embriagado. “Tentamos avaliar qual a intenção do portador da arma. Se concluirmos que ele não tem condições de

usá-la adequadamente, apreendemos.” Ele acrescenta ainda que andar armado sem ter porte é crime, e que nesse caso a pessoa é encaminhada à delegacia, podendo ser autuado em flagrante. “Só pode ter arma quem tem autorização para usá-la. Em hipótese alguma, permitimos a posse de armas por indivíduos não habilitados”, conclui. De acordo com pesquisa feita pelo Sincavir, em média, cerca de seis permissionários são assaltados todos os dias na capital.

Apesar das câmeras do programa Olho Vivo terem a capacidade de girar 360 graus e poderem aumentar a imagem em até 200 vezes com nitidez, algumas pessoas continuam sofrendo com as ações dos marginais. Ao sair de um banco localizado na avenida Olegário Maciel com rua Tupis, Marcela Poliana Sousa Lima, que presta serviços gerais, encontrou com uma amiga, segundo ela bem embaixo de uma das câmeras do programa Olho Vivo.“Me lembro que ao sair da agência fiquei observando a câmera acima de mim”. Em seguida, duas mulheres bem vestidas sairam do mesmo banco e surpreenderamnas. Marcela contou que um policial de moto passou e quando ela pediu ajuda, ele se prontificou a fazer uma busca pela região, mas alegou que seria muito difícil encontrar as mulheres. Acrescentou também que ela deveria acionar a polícia para fazer o boletim de ocorrência. Em defesa do ‘Olho Vivo’, os técnicos disseram ser difícil registrar imagens logo abaixo do lugar onde as câmeras foram instaladas, porque geralmente é filmado o que está em torno delas. De acordo com o Sub-tenente Lopes, as pessoas costumam achar que o sistema é 100% eficaz, e por isso não aceitam falhas. “As pessoas acham que o olho vivo vai resolver a questão da violência, o que não é verdade.” Os operadores e militares aconselham as vítimas a entrarem em contato imediatamente com a polícia, logo que ocorrer o fato e passar todas as informações que possam facilitar na captura do infrator.

Mulheres também sofrem com violêcia Não apenas os homens, mas mesmo por parte de colegas de as mulheres têm sofrido com o trabalho, pelo fato de serem problema da violencia na capi- mulheres. Maria José da Saúde tal. Enfrentando as mesmas di- Souza é uma das taxistas mais ficuldades no dia a dia, as ta- antigas da cidade, com 22 anos xistas apesar disso, vem ga- de profissão. Ela trabalha no nhando seu espaço dentro da ponto de táxi da rua Santa Ricorporação, o que tem atraído ta Durão, esquina com a rua novas interessadas. De acordo Pernambuco, no bairro Funcom os dados concedidos pe- cionários e diz não ver motilo Sindicato dos Taxistas, do vos para ser tratada diferente6036 permissionários, 40 são mente. “Trabalho de seis da mulheres, número que embo- manhã até as dez da noite, e ra pequeno encaro, assim vem aumencomo eles, os “Sou mãe de tando consiproblemas da deravelmente três filhos, e profissão”, nos últimos quando comecei questiona. anos. Maria José já Os moti- a me dedicar ao foi assaltada vos apontados uma vez e pela classe são táxi meu afirma ter evia falta de emtado várias prego e a ne- marido estava outras tentaticessidade das desempregado. vas. “ Meus mulheres de anos de expeajudar nas Hoje ganho riência me despesas da ensinaram casa. Regiane quase o mesmo evitar esse tiCosta Mares é tanto que ele” po de violêntaxista há dois cia”, explica.. doi s anos. PaJá os passageira ela o táxi é Regiane Costa Mares, taxista ros parecem uma alternatiestar gostando va de trabalho, do serviço que ajuda a complementar as prestado. Segundo Edilson Nureceitas da família. “Sou mãe nes, usuário constante de táxis, de três filhos e quando come- as mulheres são mais gentis e cei a me dedicar ao táxi meu mais prestativas.“Me lembro da marido estava desempregado. primeira vez que fui atendido Hoje ganho quase o mesmo por uma mulher e fiquei um tanto que ele”, relata. tanto quanto encabulado. Com Em relação ao tratamento o passar do tempo, no entanto, recebido, muitas delas afirmam aprendi a valorizar e respeitar que sofrem discriminação até essa nova situação”, conta.


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