Caderno Temático Ficção Seriada Brasileira: Infantis

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caderno temático

INFANTIS

INFANTIS
INFANTIS
Gabriela
Borges
Daiana
Sigiliano
Larissa
Oliveira
Leony
Lima Mariana Meyer Pedro Martins
Vinícius
Guida
INFANTIS

Borges

Lima

Borges

Oliveira

Lima Mariana Meyer Pedro Martins

Guida

Ya Ya

Gráfico Vinícius Guida Diagramação Leony Lima

As figuras e menções a obras e autores, bem como os trechos replicados neste livro respeitam o artigo 46, do Capítulo IV, da legislação sobre direitos autorais (Lei n.º 9.610, de 19 de fevereiro de 1998): “Não constitui ofensa aos direitos autorais: [...] a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra”.

EXPEDIENTE Organizadores Gabriela
Leony
Larissa Oliveira Redação Gabriela
Daiana Sigiliano Larissa
Leony
Vinícius
Capa Hsu
Projeto
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 7 INTRODUÇÃO 9 PERCURSO DA PESQUISA 15 A TURMA DO PERERÊ 23 DETETIVES DO PRÉDIO AZUL 41 PATRULHA SALVADORA 52 QUE MONSTRO TE MORDEU? 73 QUE TALENTO! 88 SÍTIO DO PICAPAU AMARELO 102 TUDO O QUE É SÓLIDO PODE DERRETER 124 UM MENINO MUITO MALUQUINHO 145 REFERÊNCIAS 158

Apresentação

Elaborado a partir dos projetos de análise audiovisual do Observatório da Qualidade no Audiovisual, este e-book é o segundo volume da coleção de cadernos temáticos sobre a Ficção Seriada Brasileira. O objetivo destas publicações é a popularização da ciência e a divulgação científica para o público em geral, utilizando uma linguagem acessível nos debates teóricos sobre a qualidade, tema que norteia nosso trabalho.

Desde 2013, o Observatório da Qualidade no Audiovisual, vinculado à Universidade Federal de Juiz de Fora, realiza pesquisas na área da Comunicação e publica seus resultados em plataformas digitais e artigos científicos.

O projeto que semeou estes cadernos fez o levantamento e registro de mais de duzentas ficções seriadas produzidas no Brasil entre 2000 e 2019 em televisão aberta e por assinatura e executou sessenta e cinco análises nas categorias minisséries, episódicas, transmídia e infantil. Todo o trabalho realizado por pesquisadores de graduação e pós-graduação está disponível para leitura na plataforma hipermídia do

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Observatório e em artigos publicados em congressos e periódicos.

Neste caderno, realizamos curadoria, revisamos e apresentamos oito análises de séries da categoria infantil, contemplando diversidades temáticas, de produção e de canais. Aqui abrangemos relevantes produções da TV Globo, SBT, TV Cultura, TVE Brasil, Gloob e Disney Channel. Muitas destas ficções partiram de livros, histórias em quadrinhos e curtas, demarcando a essência transmidiática presente em produtos voltados ao público infantil.

As análises abordam a qualidade a partir de indicadores formulados especificamente para as necessidades deste público. Dentro deste contexto, chamamos atenção ao aspecto da qualidade que, para Pereira (2005), vai além da ausência de violência e “dissimula questões mais amplas relacionadas com a qualidade, a diversidade, a identidade cultural e a regulamentação da televisão para crianças” (PEREIRA, 2005, p. 6). A autora reconhece que a qualidade da programação infantil ainda

requer não só um conjunto de valores e de princípios ao nível dos conteúdos, mas também um sentido de responsabilidade para com o público infantil, baseado no cumprimento da legislação existente, na adesão a normas

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profissionais específicas, bem como no reconhecimento e no respeito de valores e práticas sociais mais amplas da sociedade em que se inserem (PEREIRA, 2005, p. 9).

Desta forma, a análise e crítica dos conteúdos audiovisuais contribui para que “as crianças tenham acesso a programas de qualidade para que desenvolvam suas competências e habilidades de leitura das imagens e dos discursos televisivos e possam criar conteúdos criativos e inteligentes” (BORGES, 2014, p. 60).

É importante que a qualidade no audiovisual seja discutida em todas as esferas e, principalmente, pela comunidade, para que juntamente com pesquisas acadêmicas seja possível reivindicar e elaborar conteúdos midiáticos que, distribuídos em qualquer tela, proporcionem experiências pautadas na formação de públicos mais informados, mais críticos e seletivos.

Agradecemos o apoio financeiro da Fapemig, Capes, CNPq e as Pró-Reitorias de Pesquisa e Pós-Graduação, Extensão e Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora que permitiram a realização deste projeto.

Desejamos uma boa leitura a tod@s!

Borges,

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Gabriela
Leony Lima e Larissa Oliveira

Introdução

A discussão sobre a televisão de qualidade (quality television) teve início, no contexto britânico, nos anos 1980. De acordo com Machado (2014), o termo ganhou repercussão mundial após a publicação do livro M.T.M.: Quality Television (1984), organizado por Feuer, Kerr e Vahimagi. A partir de 1990 a TV de qualidade se torna um tópico recorrente no âmbito acadêmico e mercadológico. Neste contexto, as reflexões sobre o tema começam “[...] a sofrer injunções características da complexidade não apenas dos estudos de Comunicação e da indústria da comunicação, mas também do envolvimento de instituições governamentais e organizações não governamentais nos debates sobre a televisão” (LOPES; MUNGIOLI, 2013, p. 2).

Como pontuam McCabe e Akass (2007), Cardwell (2007), Thompson (2007), Machado (2014), Borges (2013) e Lopes e Mungioli (2013), apesar de ser pautada por diversas abordagens teóricometodológicas as discussões e definições sobre a televisão de qualidade abrangem a forma de utilização dos recursos técnico-expressivos, o

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desenvolvimento de uma linguagem inovadora, o modo de organização da programação, o papel social e pedagógico do meio, as demandas da audiência, a organização do sistema televisivo, a atuação dos canais e o papel desempenhado pelos profissionais da comunicação.

Para Machado (2014), o debate sobre a televisão de qualidade ressalta a importância das produções ao explorarem a hibridização de gêneros em suas múltiplas perspectivas, quebrando a normatividade do meio. Isto é, ao subverter padrões discursivos e temáticos a televisão cumpre o seu papel de oferecer uma ampla variedade de critérios e valores. Segundo Lopes e Mungioli (2013), as reflexões da qualidade no âmbito televisivo dependem de uma série de fatores, tais como “[...] quem está analisando o programa; quais as referências culturais de quem o analisa; quando foi produzido e quando foi transmitido; qual aspecto está sendo analisado [...]; se análise se ancora no ponto de vista do receptor; do realizador ou da emissora” (LOPES; MUNGIOLI, 2013, p. 5). Neste sentido, para as autoras o termo envolve o contexto, a subjetividade, as estratégias de legitimação e a vinculação a um determinado grupo social. Mulgan (1990) apresenta um conjunto de critérios segundo os quais pode-se discutir a qualidade

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na televisão, dentre eles as propriedades dos recursos técnicos, que incluem elementos como roteiro e fotografia e a habilidade de transformar as demandas da audiência em produtos que possam demonstrar valores éticos e morais, contemplando a pluralidade cultural, a representatividade. Para Mulgan (1990), a televisão de qualidade deveria englobar os diferentes aspectos citados, entre eles a primazia dos recursos técnico-expressivos, a assimilação dos desejos dos espectadores ou o emprego da diversidade, com um conjunto amplo de características.

Pujadas (2001) coloca três perspectivas sob as quais é possível pensar a qualidade no meio televisivo. A primeira delas é a estética, associada aos recursos técnicos e ao campo artístico. Já a segunda refere-se ao âmbito sociológico; para Pujadas (2001), diferentes grupos sociais avaliariam a televisão de qualidade de forma distinta, de acordo com suas próprias referências.

A terceira, por sua vez, diz respeito à ética, ou seja, os valores morais transmitidos, que são julgados por segmentos sociais a partir dos elementos éticos e morais que esperam que sejam veiculados na televisão.

Na discussão proposta por Borges (2014) a autora estabelece três planos para a análise

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dos programas de qualidade na televisão: plano da expressão, plano do conteúdo e mensagem audiovisual. O plano da expressão diz respeito aos recursos técnico-expressivos, como fotografia, edição, figurino, dentre outros. Já o plano do conteúdo engloba a análise dos temas e narrativa. A mensagem audiovisual, por sua vez, une as análises da expressão e do conteúdo, tendo como foco o modo de construção e o endereçamento do programa ao público.

Buonanno (2004) faz distinção entre ficção de qualidade e qualidade na ficção. Para a autora, a ficção de qualidade tem caráter subjetivo, enquanto a qualidade na ficção faz referência a dois elementos básicos que sustentam essa qualidade: a qualidade do ambiente produtivo e a indigenização. A primeira diz respeito ao processo produtivo, incluindo a qualificação da equipe, as propriedades técnicas e as práticas de administração e gestão. Já a indigenização envolve a perspectiva local e nacional, ou seja, elementos que remetem à experiência da própria localidade, voltando-se ao consumo interno, o qual é determinante em termos mercadológicos, inclusive em âmbito internacional.

Já Cardwell (2007) coloca que os programas de qualidade devem possuir determinadas características de conteúdo, estrutura, tema e

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tom, sendo que narrativas complexas, com temas intrincados ou mesmo com técnicas distintas de edição, estimulariam o engajamento do espectador. Nesse sentido, para Cardwell (2007), os programas de qualidade constituiriam um gênero em si, e o pertencimento ou não a tal gênero não define uma produção como boa ou ruim. No entanto, boas produções devem, segundo a autora, levar à reflexão sobre temas relevantes, com a possibilidade de novas perspectivas a cada vez que se assiste tais programas.

No âmbito das produções nacionais, a discussões sobre a televisão de qualidade se popularizaram a partir dos anos 1970, com a consolidação da Rede Globo (LOPES; MUNGIOLI, 2013; FREIRE FILHO, 2004). O chamado ‘padrão Globo de qualidade’ reúne uma série de fatores como, por exemplo, os aspectos técnicos, industriais, estéticos, artísticos e autorais.

Neste sentido, observamos que o debate sobre a televisão de qualidade permeia diversas perspectivas e pontos de interesse. Ressaltando a importância de refletirmos sobre os modos como as narrativas ficcionais seriadas televisivas nacionais são desenvolvidas na contemporaneidade.

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Percurso da pesquisa

A partir dos estudos sobre a qualidade na ficção televisiva, este projeto tem o objetivo de analisar as narrativas ficcionais seriadas brasileiras, produzidas entre 2000 e 2019, a partir da definição de parâmetros de qualidade.

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bibliográfico e audiovisual

Realizamos um levantamento das narrativas ficcionais seriadas brasileiras exibidas na TV aberta e na TV por assinatura no período de 2000 a 2019, totalizando 206 produções. Dessas, 128 foram ao ar na TV aberta e 78 na TV paga. Além dos títulos dos programas, o levantamento também indica o período de exibição, o canal e a sinopse.

15 O projeto é dividido nas seguintes etapas: 1) Levantamento bibliográfico e audiovisual; 2) Metodologia de análise; 3) Análise de conteúdos audiovisuais. Levantamento

Metodologia de análise

A metodologia utiliza a semiótica de Umberto Eco no que diz respeito à análise dos planos da expressão, do conteúdo e a mensagem audiovisual. Nesse contexto, é importante considerar também o papel dos espectadores/ interagentes uma vez que estas produções analisadas contam com a interação do público, neste sentido os contornos da cultura participativa e os aspectos da literacia midiática serão de suma importância para a análise. Sendo assim, a análise abrange a reflexão sobre os elementos estilísticos intrínsecos aos produtos audiovisuais, tais como a complexidade narrativa, os temas abordados, a criação de personagens, a encenação, a dramaturgia, o uso dos recursos técnico-expressivos, o engajamento do público, entre outros.

Considerando a amplitude do levantamento e os aspectos gerais de cada produção, o corpus de análise foi dividido em quatro categorias. São elas: minisséries, séries episódicas, séries com ação transmídia e séries infantis. Posteriormente, as produções foram selecionadas a partir de dois requisitos, a disponibilidade dos conteúdos

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e o tempo de execução do projeto. Dessa forma, chegamos à amostra de 16 minisséries; 14 séries episódicas, 20 séries com ação transmídia e 14 séries infantis, as quais foram analisadas.

Os parâmetros de qualidade foram elaborados a partir dos estudos realizados por Borges (2014); do Observatório da Qualidade no Audiovisual e das características de cada categoria definida na seleção de amostra. Nesse sentido, a análise dos programas que compõem as categorias (minisséries, séries episódicas, séries com ação transmídia e séries infantis) é norteada pela descrição do Plano da Expressão e pelos parâmetros de qualidade do conteúdo, que dialogam com os aspectos específicos das produções, e da mensagem audiovisual.

Os indicadores do Plano da

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Expressão levam
em conta a
produção
de sentido a partir dos
seguintes elementos
estéticos:
ambientação, caracterização dos personagens, trilha sonora, fotografia e edição.

Ampliação do horizonte do público

Refere-se à apresentação de temas e trabalhos que são pouco conhecidos e que podem contribuir para ampliar o repertório cultural do público, dando a conhecer novas problemáticas e pontos de vistas, ajudando assim a promover a integração e combater preconceitos, por exemplo.

Estímulo ao debate de ideias

Refere-se à apresentação de propostas que sejam, por natureza, polêmicas, contraditórias e férteis no

18 (BORGES, 2014)
Os indicadores de qualidade do Plano do Conteúdo são ampliação do horizonte do público, estímulo ao debate de ideias, diversidade de pontos de vista, promoção da identificação do espectador, apelo à imaginação, conflito e personagens do programa.

sentido de que farão os telespectadores refletirem sobre aquilo que assistem num programa de televisão. Na área infantojuvenil a avaliação deste indicador refere-se à apresentação de propostas que apresentem valores positivos e que fomentem a reflexão por parte das crianças e adolescentes.

Diversidade de pontos de vista

Contribuir para a veiculação de uma pluralidade de perspectivas e pontos de vista, gêneros, sujei tos representados, temas e formatos. Ao oferecer ao público a possibilidade de conhecer diferentes realidades e pontos de vista, assim como ter con tato com conteúdos relevantes que correspon dem às suas necessidades e aos seus interesses, o discurso audiovisual contribui para a formação de um público consciente dos direitos e deveres dos cidadãos.

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Promoção da identificação do espectador

São mecanismos utilizados pelo programa para que o espectador se identifique com as narrativas veiculadas.

Apelo à imaginação

Em que medida a(s) narrativa(s) estimula(m) o desenvolvimento das capacidades cognitivas e emotivas das crianças e adolescentes.

Conflito e personagens do programa

Entender os conflitos abordados no enredo de cada programa e quais os direcionamentos são percorridos pela produção, bem como a ação dos personagens frente aos desafios propostos.

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Os

atuam no intuito de refletir sobre os dados obtidos na análise do plano da expressão em conjunto com o plano do conteúdo.

“A análise da mensagem audiovisual leva em conta o modo de endereçamento do programa, ou seja, a forma como este é construído para comunicar-se com o público” (BORGES, 2014, p. 69) e abrange os seguintes indicadores: inovação/experimentação;

e

da participação

2014).

Experimentação

Avaliam em que medida o programa apresenta um formato diferenciado e uma proposta estética que possa surpreender e demandar a interação do público

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indicadores de qualidade da Mensagem Audiovisual
originalidade/criatividade
solicitação
ativa do público (BORGES,
Inovação /

Originalidade / Criatividade

Avaliada em termos do formato, da apresenta ção e da abordagem do tema.

Solicitação da participação ativa do público

Reflete sobre os mecanismos utilizados pela pro dução para estimular a participação e interação do público.

A análise dos programas

conta com indicadores específicos para a faixa etária. Apelo à curiosidade

A proposta do programa apela aos sentidos visu ais e auditivos, assim como aos processos cognitivos de significação dos espectadores.

As análises realizadas são disponibilizadas na plataforma hipermídia do Observatório da Qualidade no Audiovisual.

infantojuvenis

A turma do Pererê

TVE Brasil

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A Turma do Pererê é um seriado infantil produzido originalmente pela TVE Brasil em 2001, exibido de segunda à sexta-feira às 11h30. Posteriormente, em 2010, foi produzida uma nova temporada com 26 episódios inéditos e exibidos na TV Brasil de segunda à sexta às 10h. Baseado nas histórias em quadrinhos criadas por Ziraldo, o programa acompanha as aventuras do Saci Pererê e seus amigos, explorando cenários naturais tipicamente brasileiros.

Os quadrinhos começaram a ser publicados na revista O Cruzeiro, em 1959, e em outubro de 1960 ganharam sua própria revista, intitulada Pererê. A revista foi produzida mensalmente até 1964. Em 1975, a editora Abril reiniciou a produção da história que gerou dez novos números.

A lenda do Saci Pererê retrata o personagem como uma criança travessa e dotada de poderes sobrenaturais advindos de sua carapuça vermelha.

Segundo a tradição oral, o Saci se encontra nos moinhos de vento e pode ser capturado com uma peneira. Recorrente no folclore brasileiro, a primeira versão escrita da história foi produzida por Monteiro Lobato em 1918 no livro O Saci-Pererê: resultado de um inquérito.

Na história desenvolvida por Ziraldo, o Pererê é retratado como amigo querido dos animais e dos moradores da floresta. Ambientada na floresta ficcional da Mata do Fundão, A Turma do Pererê acompanha as aventuras do Pererê (Raphael Logam), do índio Tininim (Felipe Hauit) e de seus amigos animais: o coelho Geraldinho (Matheus de Sá), a onça Galileu (Nicolas Bartolo), o macaco Alan (Pedro Henrique), o jabuti Moacir (Paulo Júnior), o tatu rosa Pedro Vieira (João Pedro Zappa) e a coruja Professor Nogueira (Silvo Guindane). Com histórias diversificadas, o programa discutia também a relação do homem branco com a natureza através do arco narrativo dos personagens Compadre

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Tonico (Alexandre Dacosta) e Seu Neném (Orã Figueiredo) que vivem atormentando Galileu.

A primeira temporada de A Turma do Pererê foi exibida originalmente em 2001 na extinta TVE Brasil, às 11h. O bloco infantil matutino da emissora durava 2h, das 10h às 12h. O espaço escolhido na grade de programação se justifica pelo horário em que, possivelmente, o público infantil estaria disponível para assistir televisão, antes do almoço e do horário escolar. O seriado era exibido entre o nacional Ilha Rá-Tim-Bum e o britânico Teletubbies.

A segunda temporada estreou junto com o bloco de programação infantil Hora da Criança na TV Brasil. O segmento apresentava cerca de 35 horas semanais voltada para esse público, cerca de 5h diárias. A Turma do Pererê iniciava o bloco às 10h e, em sequência, era exibida a animação francesa Princesa Sherazade.

As reprises do programa eram exibidas às 12h30, integrando uma grade de programação com horários diversificados. Nesse sentido, eram exibidos programas pela manhã e, também, à tarde, permitindo que uma parcela ampla do público-alvo pudesse usufruir da programação como, por exemplo, os estudantes dos dois turnos.

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No plano da expressão, a análise dos cenários do programa demonstra que são compostos, primordialmente, por espaços naturais que retratam a vida dos animais em seu hábitat natural e sua relação com os indígenas e o Pererê. As cenas foram gravadas em florestas naturais como a Floresta Nacional da Tijuca e o Parque Estadual do Grajaú, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Outras locações, como a casa de Seu Neném foram gravadas em casarões históricos em Rio das Flores (RJ).

A ambientação e a fotografia são naturalistas e procuram aproximar ao máximo os personagens de seus reais espaços naturais. No entanto, os moradores da floresta também interagem com o espaço urbano como, por exemplo, a própria casa do Pererê.

O figurino dos personagens procura se aproximar das características dos animais, mas também integra recursos narrativos que os distancia da realidade como, por exemplo, o coelho Geraldinho que é retratado em vermelho vivo e o jabuti Moacir que é um mensageiro e usa um chapéu com asas em alusão ao Deus da mitologia grega Mercúrio. Além das fantasias, os atores que interpretam animais também são maquiados com cores muito próximas dos tecidos, permitindo que os

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rostos se fundam ao figurino. A caracterização do Pererê está de acordo com a lenda, com sua carapuça vermelha e o característico cachimbo. O índio Tininim faz parte da tribo ficcional dos Parakatoka, originária da Mata do Fundão. Sua caracterização inclui uma tanga, colar de marfim, cabelo liso e faixas brancas nos braços que fazem alusão às pinturas corporais desses povos.

A trilha sonora é composta exclusivamente por artistas nacionais. A música de abertura intitulada A Turma do Pererê foi composta por Nico Rezende e Paulo Lima e interpretada por Ney Matogrosso. A canção de encerramento, Grande Final, de Moraes Moreira, integra a trilha sonora do especial infantil homônimo produzido pela Rede Globo em 1983. Além disso, também estão presentes durante o episódio faixas instrumentais que são usadas a fim de criar cadência e ritmo assim como identificar determinados momentos específicos como, por exemplo, de agitação ou tensão.

A edição do programa é estruturada de maneira linear: os acontecimentos seguem o modelo narrativo clássico com apresentação, conflito e solução em sequência. Nesse sentido, não foram observados flashbacks e outras variações temporais.

Assim como nas histórias em quadrinhos, o Pererê é retratado como uma criança alegre e com muitos amigos em detrimento do praticante de travessuras conforme o folclore. Além disso, no programa o personagem também se distancia da lenda ao ser caracterizado como filho adotivo da carinhosa Mãe Docelina (Mariah da Penha) e não como um jovem independente, morador da floresta e, possivelmente, órfão. A escolha do desenvolvimento desse arco narrativo implica em menor carga dramática no seriado e permite que componentes lúdicos e humorísticos sejam explorados. A casa em que eles moram é simples e próxima a Mata do Fundão, assim como sua estética, em contraponto aos casarões dos fazendeiros que estão mais distantes e não respeitam a natureza.

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O coelho Geraldinho é descrito como o mais novo da turma, inquieto e curioso. Agitado como o animal que representa, o personagem se interessa por ciência e novas descobertas e vive repensando qual profissão pretende seguir quando crescer. O tatu rosa Pedro Vieira tem uma função narrativa semelhante: ele é descrito como o inventor e o faz tudo e, além disso, está ligado à solução de alguns problemas na narrativa. Essas caracterizações servem como mote para promover a curiosidade do público e desenvolver seu interesse sobre esses temas.

Galileu é uma onça pintada vegetariana, sensível e carinhosa. O personagem representa o medo irracional dos humanos por animais selvagens de grande porte e só usa sua força para defender os amigos dos perigos. Ele está constantemente fugindo dos fazendeiros Seu Neném e Compadre Tinoco, que não medem esforços para captura-lo, embora sempre sem sucesso.

Seu Neném e Compadre Tinoco são donos de grandes terras, ricos e poderosos na pequena cidade. Os personagens estão sempre obstinados a caçar Galileu e representam o antagonismo da trama. Em contraponto, a passividade e inocência dos animais e dos seres da floresta, a dupla é representada como irracional e promove a reflexão sobre o lugar do homem branco em relação à natureza. Nesse contexto, os arcos narrativos que os envolvem sempre carregam uma mensagem de respeito ao meio ambiente.

O macaco Alan é caracterizado como um ser inteligente e dotado de diversos dons. Ele gosta de ler, cantar, tocar instrumentos e dar sábios conselhos para os amigos. Nesse sentido, o personagem contrapõe as figuras humanas que agem irracionalmente e com desrespeito ao ambiente em que estão inseridos, mostrando-se

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muito mais consciente e sagaz do que os bípedes que historicamente o sucedem.

Moacir é um jabuti mensageiro que passeia pela Mata entregando cartas aos demais personagens. Ironicamente, a profissão dele demanda agilidade enquanto sua característica principal é ser lento. O personagem apresenta intertextualidade com a mitologia grega e sempre usa um capacete com asas, representando o Deus Mercúrio. Seu papel na narrativa está ligado a trazer à tona novos fatos e informações, materializando a metáfora de sua profissão.

Outro integrante humano da turma é o índio Tininim, melhor amigo do Pererê. Ele é a representação do amante da natureza, respeitoso com todos os animais e, também, com as plantas. No entanto, a dualidade da personalidade

humana se mostra em alguns momentos quando o personagem age de maneira passional visto que para tentar agradar é capaz de se envolver em confusões.

A coruja Professor Nogueira é o único personagem animal que não é representado por um humano, maspor meio de um fantoche e, também, é o único adulto morador da floresta na história. Ele representa o saber dos mais velhos e está sempre disposto a ajudar a turma com seus conhecimentos e sua vasta biblioteca. Esse personagem tem o papel de representar na narrativa a moral social e também o aconselhamento a partir de sua vivência. Outra característica relevante é que ele tem o papel de despertar a curiosidade dos jovens, mas não costuma entregar todas as respostas e sim despertar e desenvolver seu próprio senso crítico e reflexivo.

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Para trazer a linguagem dos quadrinhos para o âmbito da televisão as passagens são desenvolvidas com animações, como a abertura, e onomatopeias que servem de setas indicativas para os próximos acontecimentos.

Os créditos são apresentados com o último frame do episódio incorporado a uma página de revista em quadrinhos. Os cortes e enquadramentos são selecionados a fim de que se mostre apenas uma perna do ator que interpreta o Pererê para trazer verossimilhança à história e corresponder a lenda. Em outros momentos, são utilizados efeitos especiais para dar a ilusão da única perna do personagem como, por exemplo, quando ele se locomove utilizando seu moinho de vento.

Em relação ao plano do conteúdo, a ampliação

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do horizonte do público está presente em diversos momentos como, por exemplo, no episódio O projeto secreto. Nesse episódio são apresentados alguns conceitos ao público como o que seria um protótipo, imbricado na narrativa em que Seu Neném e Compadre Tonico desenvolvem uma arma para caçar Galileu. Também é explicado o funcionamento da Internet e da Web, iniciando pela compra on-line do modelo da arma e pela fala de Tininim ao explicitar que já navegou por diversos sites.

A diversidade de pontos de vista também pôde ser observada em diversos episódios. Como, por exemplo, em Festa de Aniversário. Nessa história, o aniversário do Pererê é atrapalhado por uma enorme tempestade que impede que os animais da Mata do Fundão compareçam a sua festa. No início, o personagem está ressentido, mas no decorrer do episódio seus amigos vão explicando seus motivos e indicando porque não conseguiram ir. Ao final do episódio, Pererê ainda está chateado com Moacir porque ele ainda não apresentou nenhuma justificativa e logo é revelado ao público que foi ele quem ajudou a salvar todos os outros do alagamento.

No episódio As férias pudemos notar a tentativa de promover a identificação no telespectador

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a partir do arco narrativo que se desenvolve sob a rotina dos estudantes. Nesse caso, os personagens fizeram um pacto de guardar seus brinquedos em uma árvore durante as aulas para se dedicarem aos estudos até que se inicie o período de férias. Quando os brinquedos somem, o público vai descobrindo aos poucos que os personagens quebraram o pacto e não têm com o que brincar. Em busca de uma solução para o problema procuram o Professor Nogueira que empresta sua biblioteca particular para as crianças se divertirem. Nesse sentido, são tratados temas como o compromisso com a escola, a importância de momentos destinados ao lazer e entretenimento e também o incentivo à leitura.

O apelo à imaginação está presente em elementos lúdicos na narrativa e na representação dos personagens animais de forma antropomórfica, ou seja, animais com comportamentos e sentimentos humanos. Galileu visita o psiquiatra e Alan é um ávido leitor, deslocando o público de uma realidade estática para um espaço onírico onde os bichos pensam e sentem tanto quanto os humanos (ou em determinados casos até mais). Além disso, as pistas deixadas pelo Professor Nogueira para a resolução da situação-problema do episódio também colaboram para transpor o pensamento do público, permitindo que junto

com os personagens repensem seus modos de vida e procurem soluções para situações cotidianas.

O formato de narrativa audiovisual adotado em A Turma do Pererê é episódico, isto é, são histórias independentes, sem continuidade, com fechamento no mesmo episódio. Nesse sentido, apesar de alguns arcos narrativos serem recorrentes como, por exemplo, a caça ao Galileu, os temas abordados são distintos.

A narrativa segue o modelo clássico linear iniciando-se com a apresentação da temática, um fato que gera conflito e, por fim, uma solução. As histórias alteram o personagem principal, mas têm em comum o fato de que as soluções são organizadas em grupo. Dessa forma, não há um fio condutor estático da narrativa e a problemática inicial pode ser desenvolvida a partir de um dos integrantes da turma, mas

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integrando vários outros durante o episódio.

Por fim, a mensagem audiovisual da série demonstra que, ao buscar incorporar a linguagem dos quadrinhos à narrativa audiovisual, os criadores experimentam intercalar elementos clássicos dessa linguagem com a composição estética do seriado. Além disso, alguns dos principais elementos mágicos da história original também são incorporados com efeitos especiais.

É importante ressaltar que o programa colabora para a difusão do folclore nacional nas novas gerações. A história do Saci Pererê reformatada explora elementos narrativos que extrapolam a lenda original e podem desenvolver a curiosidade do público sobre ela.

Segundo dados do Banco Mundial, em 1998, durante a produção da primeira temporada, apenas 1,5% da população brasileira tinha acesso à Internet. Nesse sentido, a rede mundial de computadores ainda era uma novidade no país e restrita a poucos, o que justifica o não uso de ferramentas on-line complementares à televisão. No entanto, em 2010, 40,5% da população

brasileira tinha acesso e mesmo assim não foram encontrados quaisquer produtos complementares na web. Além disso, as informações sobre o seriado também não estão catalogadas e bem localizadas no site da TV Brasil.

A série contempla um universo ainda pouco explorado nas ficções brasileiras, o folclore e as histórias tradicionais de nosso povo. Dessa forma, ao ser uma narrativa transmídia, que nasce dos quadrinhos e contam-se novas histórias na TV, a expansão proposta pelos criadores e roteiristas demonstra ser de qualidade com forte apelo à imaginação e à curiosidade, o respeito à natureza e com diversidade tanto na escalação de elenco quanto de sujeitos representados.

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Por Vinícius Guida
40 Ficha Técnica Baseado na obra de Ziraldo Autoria: Wilson Rocha Direção: Sonia Garcia Período de exibição: 13/07/2001 a 09/08/2001 e 12/04/2010 a 17/05/2010 Temporadas: 2 Número de episódios: 46 Duração: 25min

Detetives do prédio azul Gloob

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Detetives do Prédio Azul é produzida pela Conspiração Filmes, sendo a primeira série original do canal Gloob. O enredo é centrado em três amigos (Tom, Mila e Capim nas seis primeiras temporadas; e Pippo, Sol e Bento a partir da sétima), que vivem em um prédio antigo. Com o objetivo de solucionar os mistérios do prédio, o trio se equipa no seu esconderijo secreto e se torna os Detetives do Prédio Azul. O único obstáculo do D. P. A. é Dona Leocádia (Tamara Taxman), a síndica que está sempre fazendo de tudo para impedir suas brincadeiras.

A análise aqui descrita se atém à uma amostra de episódios de temporadas da série que compreende a 1ª a 7ª temporada. É válido ressaltar que, antes do início da 7ª temporada, a produção do programa decidiu promover uma série de mudanças para manter a história ‘fresca’, renovando a equipe de direção e parte do elenco, que incluiu a saída de Caio

Manhente e Cauê Campos, dois dos protagonistas, sendo substituídos por Anderson Lima e Pedro Henriques Motta. Já na 8ª temporada, Letícia Pedro também foi substituída por Letícia Braga, trocando completamente o trio principal na história. A série conta com o spin-off Vlog da Mila, que se passa após o fim da 7ª Temporada de Detetives do Prédio Azul. Nele, a personagem conta sobre as magias novas, amigos e inimigos e o tudo que acontece no reino de Ondion.

Após o fim da 8ª temporada, a Globo anunciou um longa-metragem para o cinema, D. P. A.: O Filme. O filme atingiu a marca de um milhão de espectadores, tornando-se o filme brasileiro de maior público de 2017. Após o número expressivo de público, o longa ganhou duas continuações até o momento, intituladas D. P. A. 2: O Mistério Italiano e D. P. A. 3: Uma Aventura no Fim do Mundo.

Na época de realização desta análise, a série era exibida em diversos horários durante o dia no canal pago Gloob: às 6h, 11h30, 12h, pela faixa matutina, e na parte da tarde ocupava os horários das 16h, 18h15 e 19h. Entre os horários de exibição da série, estão as produções Ana e os Robôs, Hora do Gloobinho, Tem criança na cozinha, Esquadrão Bizarro, Alvinnn! e os Esquilos, Miraculous: As aventuras de Ladybug e Catnoir e Valentins. Detetives do Prédio Azul é

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uma das produções com mais audiência do canal, sendo assim o programa está inserido nos horários nobres da programação do Gloob.

No plano da expressão, destacamos que os cenários mais explorados em Detetives do Prédio Azul são as instalações do prédio em que vivem. Entre eles os corredores, a portaria, o esconderijo, o apartamento da Dona Leocádia (Tamara Taxman) e dos detetives. A ambientação da série é essencial para o desenvolvimento da trama. O prédio é onde as ações acontecem e o lugar em que os detetives se preparam para uma nova investigação. Além disso, muitas aventuras e mistérios decorrem de problemas nas instalações do prédio ou situações relacionadas ao espaço. Como no episódio Acabou a água, da primeira temporada, em que falta água no prédio e a partir disso os detetives começam uma investigação para saber o motivo.

O figurino dos personagens é composto por capas de cor verde, amarela e laranja e quando não estão caracterizados como detetives as roupas utilizadas são coloridas e estampadas. No momento em que os protagonistas decidem começar investigação, a primeira atitude tomada por eles é ir ao esconderijo e vestir as capas. Sendo assim, a caracterização possui uma função narrativa na trama.

A trilha sonora de Detetives do Prédio Azul é composta por três músicas ao longo de todas as temporadas. A canção “Detetives do Prédio Azul”, “Avança Como Um Trem” que é usada no encerramento e a “Música de Natal” que fez parte de um episódio especial de Natal na 8ª temporada. As duas primeiras canções possuem versos que remetem à personagem Dona Leocádia (Tamara Taxman), a principal vilã da história do trio de detetives. Como, por exemplo, na letra de “Avança Como Um Trem”: Não tem namoradão/ Perturba a vizinhança/ Sua esperança/ É viver um novelão. Neste sentido, a trilha sonora da série dialoga

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com o próprio enredo da trama. Apesar disso, as músicas não possuem nenhuma influência direta na narrativa.

A fotografia de Detetives do Prédio Azul é naturalista. Porém, as cores verde, vermelho e amarelo presentes nas roupas dos protagonistas acabam prevalecendo em grande parte das cenas.

D.P.A. desenvolve seus arcos narrativos na cronologia presente em todos os seus episódios. Sendo assim, a edição da série é definida como linear.

Na análise do plano do conteúdo, percebe-se que a série tem como principal elemento narrativo as aventuras dos três detetives pelo prédio azul. Inseridos como um dos principais motivos dos mistérios estão temas pertinentes e de grande relevância. Entre eles a reciclagem, a preservação do ambiente, a falta de água, entre outros. Neste sentido, a série apresenta alguns conceitos sobre estes assuntos agregando conhecimento ao público.

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Por exemplo, no episódio “Calorão” em que Leocádia (Tamara Taxman) utiliza seu ar condicionado antigo para se livrar do calor. A partir disso o pai de Mila (Letícia Pedro) explica que aparelhos de ar condicionado antigos liberam gases CFC’S que são grandes poluentes da atmosfera.

Outro destaque da série é o estímulo ao pensamento crítico. Como no episódio “Jornalistas do Prédio Azul” em que os detetives descobrem que Dona Leocádia (Tamara Taxman) foi alvo de uma mentira divulgada em uma matéria de um jornal e a fim de retratar a imagem da personagem, o trio decide fazer uma matéria explicando a versão verdadeira do acontecimento.

A produção apresenta diversidade em seus personagens. O trio de protagonista é composto por uma menina de pele clara, Mila/Sol (Letícia Pedro/ Letícia Braga), um menino negro Capim/Bento (Cauê Campos/Anderson Lima) e um menino de pele clara Tom/Pippo (Caio Manhente/Pedro Henriques Motta). Além disso, um elemento importante da série é a retratação de uma personagem feminina sem que haja reforço de estereótipos ou discursos baseados no gênero da personagem. Mila (Letícia Pedro) veste a capa vermelha e sonha em ser uma bruxa, para fazer magia assim como Leocádia. Ao longo da trama a personagem descobre que sua

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família é envolvida com magia e vai embora para Ondion ao fim da 7ª temporada, para aprender mais. Capim (Cauê Campos) gosta de histórias de terror e quer ser um escritor quando crescer. Nos primeiros episódios da 7ª temporada o personagem se muda para São Paulo para jogar futebol na seleção júnior do São Paulo, mas volta no fim da temporada para o casamento do pai. Tom (Caio Manhente) é o líder do clubinho, é ele quem cria as regras e as invenções para ajudar nas investigações. Ele vai embora junto com a sua mãe para a Índia, no começo da 7ª temporada. Sol (Letícia Braga) é a enteada de Severino que substitui Mila a partir da 7ª temporada. Ela possui um par de óculos que veem através dos objetos e tiram fotos. Bento (Anderson Lima) não acredita na existência de magia dentro do prédio e procura uma explicação científica para todos os acontecimentos. Pippo (Pedro Henriques Motta) é muito otimista e impulsivo na hora de tomar algumas decisões, o personagem adora comida e culinária e sempre anda com um lançador de molho de tomate no bolso.

Detetives do Prédio Azul promove a identificação do público infantil a partir de elementos como as aventuras e brincadeiras vividas pelos personagens, como saber se Dona Leocádia (Tamara Taxman) é ou não uma bruxa, e pelas discordâncias com os

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pais, característica comum da fase da infância.

No que tange a mensagem audiovisual, a presença da magia e de uma suposta bruxa na série, marcada pela personagem Leocádia (Tamara Taxman), promove a curiosidade do telespectador e instiga a imaginação. De modo que, em alguns momentos, a série apresenta cenas em que a personagem tem atitudes semelhantes às de uma bruxa e em outros instantes Dona Leocádia (Tamara Taxman) não demonstra nenhuma característica que confirme a suspeita.

Detetives do Prédio Azul é inovadora ao inserir temas como preservação do ambiente, reciclagem, entre outros, nas aventuras e brincadeiras dos protagonistas. Desta forma, a série fomenta o debate destes assuntos de uma forma eficaz para o público infantil. Outro elemento de destaque da produção é o estímulo à curiosidade presente através do olhar atento e crítico dos protagonistas sobre os acontecimentos ao seu redor e as investigações realizadas.

A série conta com vídeos no canal Mundo Gloob no YouTube. Os vídeos fazem parte de quadros temáticos da produção. Como, por exemplo, o Talk Show do Severino, um programa de entrevistas conduzido pelo porteiro do prédio; o Deu Bug com

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vídeos com compilações de momentos divertidos da série; a websérie Vlog da Mila: Os Mistérios de Ondion e No Som do D.P.A com os clipes musicais das três canções presentes na série. Detetives do Prédio Azul também possui publicações na página do Mundo Gloob no Facebook. Grande parte dos posts são relacionados a atualizações sobre a série, fotos e vídeos. Através da página o canal promove a participação do público por meio de vídeos com desafios como “Encontre o objeto perdido sem explicação” e enquetes como “Qual capa você gostaria de usar”.

Apresentando um caráter de diversidade tanto em sua narrativa quanto em escolhas estéticas e de sujeitos, Detetives do Prédio Azul busca instigar o telespectador mirim em aspectos como a curiosidade, atenção e problemas sócio-ambientais. A constante renovação de elenco e personagens permite a longevidade da série despertando interesse para desdobramentos transmidiáticos além de novas temporadas.

Por Mariana Meyer

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51 Ficha Técnica Autoria: André Rodrigues Direção: André Pellenz e Vivianne Jundi Período de exibição: 15/06/2012 – presente Duração: 22min

Patrulha Salvadora

SBT

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Patrulha Salvadora (SBT, 2014-2015) é uma série infantojuvenil derivada da telenovela Carrossel produzida e exibida pelo SBT, sob licença de Televisa. Escrita por Íris Abravanel e dirigida por Reynaldo Boury, a trama foi veiculada originalmente entre 11 de janeiro de 2014 e 24 de janeiro de 2015 em quatro temporadas. A ficção conta com os mesmos personagens e atores da versão brasileira da telenovela Carrossel, remake da obra mexicana Carrusel (Canal de las Estrellas, 1989). Carrusel é refilmagem de Jacinta Pichimahuida, la maestra que no se olvida (Canal 9, 1966), adaptação para a televisão argentina da série de contos literários de Abel Santa Cruz, originalmente publicados pela década de 1940 na revista Patoruzú, no mesmo país.

Do universo criado por Santa Cruz também se originaram um livro (Cuentos de Jacinta Pichimahuida [1964]), uma radionovela (Jacinta Pichimahuida, la maestra que no se olvida [1964]), seis telenovelas (Jacinta Pichimahuida, la maestra que no se olvida [1966], Señorita Maestra [1983], Carrusel [1989], Carrusel de las Américas [1992], Vivan los niños! [2002] e Carrossel [2012]), uma história em quadrinhos (Jacinta Pichimahuida [1975]), uma série

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(Patrulha Salvadora [2014]), quatro filmes (Jacinta Pichimahuida, la maestra que no se olvida [1974], Jacinta Pichimahuida se enamora [1977], Carrossel – O Filme [2015] e Carrossel 2: O sumiço de Maria Joaquina [2016]), três musicais (La magía de Carrusel [1991], Carrossel – O Show [2013] e Carrossel – O Musical [2017]), dois programas de TV (Carrossel TV [2013] e Clube do Carrossel [2013]) e um desenho animado (Carrossel [2016]).

Na spin-off, a Patrulha é formada por Maria Joaquina (Larissa Manoela), Cirilo (Jean Paulo), Carmen (Stefany Vaz), Jaime (Nicholas Torres), Daniel (Thomaz Costa), Davi (Guilherme Seta), Alícia (Fernanda Concon), Mário (Gustavo Daneluz) e Rabito (Fenômeno). Outros personagens da telenovela também participam da nova trama, como Jorge (Léo Belmonte), Valéria (Maisa), Adriano (Konstantino Atanassopulos), Olívia (Noemi Gerbelli), Matilde (Ilana Kaplan) e Jurandir (Carlinhos Aguiar). Apesar disso, a série não se passa no mesmo universo ficcional de Carrossel, e sim na fictícia cidade de Kauzópolis.

Os episódios da Patrulha Salvadora são inspirados nas aventuras do desenho animado estadunidense Scooby-Doo, produzido pela

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Hanna-Barbera, e baseia-se na tríade crianças aventureiras, um cachorro e crimes misteriosos.

Em sua gênese, a Patrulha Salvadora ajuda crianças e animais que precisam de socorro simples, porém, desejam atuar em situações mais perigosas. Dessa forma, são concebidos com superpoderes para desvendar os crimes na cidade de Kauzópolis. Cada patrulheiro tem um poder que se relaciona com seus dons naturais: Cirilo tem o poder da bondade, Daniel tem a super inteligência, Davi tem o poder da pontaria perfeita, Alícia tem a ultra velocidade, Jaime tem a super força, Carmen tem visão de longo alcance, Maria Joaquina é a detentora de uma bolsa de utilidades, Mário é o encantador de animais e Rabito é o super cão.

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Os planos do grupo são sempre contestados e criticados pela delegada Olívia, que trabalha no Extratogésimo Sexto Distrito Policial, e é responsável pelos problemas na região. Como uma clássica narrativa de mistérios, a equipe policial não consegue solucionar os crimes, que acabam sendo desvendados pelos membros da Patrulha.

A série tem 52 episódios divididos em quatro temporadas. O SBT também produziu dois episódios especiais, exibidos no fim do ano de 2014 e início de 2015, rememorando as aventuras dos patrulheiros. Na época que a série foi exibida, o SBT dedicava grande parte de sua programação ao público infantil durante a semana com a manutenção do programa Bom dia & Cia. na faixa matutina, a produção da telenovela Chiquititas (SBT, 2013-2015) e a reapresentação de Rebelde (Televisa, 2004-2006), ambas no período noturno.

No sábado da estreia de Patrulha Salvadora, em 11 de janeiro de 2014, a emissora reservou 16 horas de sua grade para conteúdos infantojuvenis. A série era exibida no período noturno. Em 2014, o SBT disponibilizava vários programas dedicados ao público de 4 a 16 anos, sendo o único canal da televisão aberta a produzir conteúdo inédito

para esta faixa etária.

As temporadas do seriado foram produzidas e exibidas de forma ininterrupta nos sábados da emissora, investindo em uma narrativa que alterna entre o desenvolvimento de uma macroestrutura por temporada e microestruturas que se concluem em, no máximo, um a dois episódios.

Nas duas primeiras temporadas os patrulheiros enfrentam as maldades do colega de classe Jorge. O vilão arquiteta o desaparecimento de crianças para uma área de concentração. Derrotado pela Patrulha, Jorge sequestra Maria Joaquina e se alia aos Sete Pecados Generais (associação de vilões relacionados aos pecados capitais compilados pelo Cristianismo) para destruir a cidade. Porém, os membros do esquadrão utilizam seus poderes e aniquilam os Generais, recuperando a amada de Cirilo, que permanecia congelada. A terceira temporada inicia com um grande roubo a uma joalheria de Kauzópolis. O vilão é o mágico Salazar e sua equipe do mal é composta pelo Espelho Conselheiro, Ninjas Mágicos e outros vilões que são contratados ao longo dos episódios. No fim desta temporada, após a derrota de Salazar, surge um Sacerdote que conduz o corpo do mágico a um sarcófago. Por

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fim, a quarta temporada explora a encarnação de um faraó egípcio no corpo de Salazar e o enfrentamento entre a Patrulha, o novo vilão e as pragas lançadas à cidade por seres místicos do Antigo Egito. Tais pragas dialogam com as dez maldições presentes no livro bíblico Êxodo.

No plano da expressão, observamos que a ambientação da série é a cidade distópica de Kauzópolis, em que se misturam contemporaneidade e retrocesso nas práticas sociais e no contato com culturas de outras épocas. Nesta cidade, se estabelece o quartelgeneral da Patrulha Salvadora que funciona em um prédio abandonado, porém o espaço é equipado com aparatos tecnológicos, químicos, mágicos e de segurança. É controlado pelo computador Júpiter, programado por Carmen

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e Daniel, que monitora o quartel-general e a cidade à procura de anormalidades.

Em contraponto ao espaço ocupado pelas crianças, existe a Delegacia do Extratogésimo Sexto Distrito Policial. A fachada é um prédio também antigo, internamente a sala de recepção é extravagante e repleta de cores e as celas de cárcere se assemelham às de faroeste. Nesse sentido, o espaço causa estranheza, pois ao mesmo tempo coexistem elementos modernos como divisões de espaço por módulo, computadores, impressoras e celulares e elementos antigos como um Fusca estacionado na porta, máquina de escrever, arquivos de aço e telefone de discagem em corda. Todavia, a postura da Delegada, atuando como xerife da cidade e demonstrando dificuldade com tecnologia,

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dialoga com a construção proposta de reafirmar a desenvoltura nativa das novas gerações com o ambiente digital e a necessidade de atualização por parte das anteriores. Por ter sido rodada ao mesmo tempo que a telenovela Chiquititas (SBT, 2015), a série reaproveita cenários e elementos cênicos, tais como fachadas de prédios e carros. Além disso, diversas cenas são filmadas na sede, galpões e estacionamentos das empresas de Silvio Santos, como o próprio SBT e a Jequiti Cosméticos.

A caracterização dos personagens é bastante influenciada pelo formato de gravação empregado pelo SBT. As filmagens são realizadas de forma linear, mas por locações e escala de elenco. Desta forma, o uso de uniformes pelo elenco minimiza erros de continuidade e barateia custos de produção. Todos os personagens presentes na série utilizam uniformes.

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Os integrantes da Patrulha, em seu dia-a-dia, vestem camisas com a marca do esquadrão e calças, bermudas, saias ou jardineiras em tons xadrez cinza e amarelo em referência ao uniforme da Escola Mundial, de Carrossel. Nas situações de embate com seus inimigos, os personagens se transformam e ganham cores diferentes em seus uniformes, além de um acessório especial conforme os poderes.

Já o núcleo da Delegacia tem suas roupas inspiradas em modelos militares. Delegada Olívia veste blusa social, saia e quepe. Matilde, a investigadora, utiliza calça e camisa social e terninho, além de um cinto com algemas. O carcereiro Jurandir, além do quepe e das vestes sociais, adiciona um colete laranja que o diferencia dos tons empregados em seu núcleo. As cores dos uniformes da Delegacia variam conforme a temporada, iniciando em tons de azul e vermelho e posteriormente em cinza e roxo. Os vilões são sempre construções fantasiosas ou estereotipadas, como o Mágico Salazar, que utiliza cartola, terno e gravatas de tons extravagantes ou o faraó que vive em uma tumba com outros personagens vestidos conforme a época.

Em relação à fotografia, percebe-se que para demarcar o ambiente incomum da cidade de

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Kauzópolis são utilizadas variações de cores em ambientes externos com tons de laranja e roxo. Essas diferenças procuram alertar o telespectador que tais aventuras não têm compromisso com a realidade e não se localizam no mesmo espaçotempo que a telenovela Carrossel.

Em comparação com a telenovela, a trilha sonora de Patrulha Salvadora não alcançou o mesmo apelo de Carrossel. A última vendeu cerca de 250 mil cópias em seu primeiro volume

e Patrulha apenas 20 mil.

Nas plataformas digitais, a trilha ficou restrita ao iTunes e Spotify. Os episódios eram embalados pelas canções originais Patrulha Salvadora, Patrulheiros, Muleke Doido, e por regravações pelo elenco de músicas da telenovela como Amiguinho por Stefany Vaz, Adolescente por Nicholas Torres e Rabito por Gustavo Daneluz. Outras músicas de sucesso ganharam nova roupagem como Os super-heróis, originalmente interpretada pelo MPB4 na voz do coro regido por Arnaldo Saccomani e Cowboy fora da lei, de Raul Seixas, na voz de Nicholas Torres. Músicas de outros cantores também são incorporadas como Dig Bom (Cyz), O Vira (Falamansa) e Carimbador Maluco (Tihuana).

Em sua maioria, as canções se relacionam com personagens e são executadas em momentos específicos da trama. Por exemplo, Rabito é tocada em cenas quando Mario e Rabito estão em alguma aventura, já Muleke Doido toca quando Cirilo está em cena. Esta última possui um clipe protagonizado por Cirilo e Maria Joaquina inspirado no clássico vídeo de Thriller de Michael Jackson.

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A série não possui vinheta de abertura com creditação dos atores e equipe técnica, tal creditação acontece ao longo da introdução do episódio. Porém, existem vinhetas de cortina para intervalos e uma apresentação especial de transformação dos personagens em superheróis repetida em todos os episódios em que a Patrulha enfrenta vilões, nela, é utilizada a música homônima título da série.

A edição, feita de forma linear, é inspirada em histórias em quadrinhos. A introdução do episódio, onde se rememora os acontecimentos de episódios passados, transcorre como a leitura do narrador de um gibi, continuando no último quadro como live-action. As transições de cena e congelamento para o encerramento do episódio também são realizadas em animações deste tipo. Nesse sentido, a construção dialoga com a proposta da série de tratar-se de aventuras inverossímeis e lúdicas, como lidas em quadrinhos de super-heróis.

Para auxiliar a compreensão da série, são exibidos bumpers com observações sobre algumas cenas, guiando o telespectador como, por exemplo, no episódio O caso dos brinquedos desaparecidos, em que Jaime acredita que o criminoso é o vendedor de sorvetes e surge uma

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observação alertando “As aparências enganam”, ou na cena de investigação, em que pistas de outro crime surgem e aparece o texto “Os casos não possuem ligação entre si!”. Tais inserções são patrocinadas pela Nestlé, com o personagem Gênio do leite fermentado Chamyto.

Em relação ao plano do conteúdo, a relevância da ficção seriada se dá no que tange o empoderamento de crianças, propondo ampliação do horizonte do público. Uma vez que os poderes heroicos dos personagens dialogam com dons e talentos naturais, a trama transmite a mensagem de que todas as crianças podem realizar coisas extraordinárias, além dos

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valores morais, éticos e familiares já presentes nas produções de Íris Abravanel.

Patrulha Salvadora busca inserir a criança no ambiente social como ser atuante e questionador, fazendo frente a organizações instituídas como a polícia. Os embates entre a equipe e a delegada trazem à tona o olhar infantil e curioso, além de apontar para questões sociais como miséria, direito dos animais, sequestro e o trabalho infantil. Também encontramos o estímulo à participação cívica com referência à democracia, como percebido no episódio “O caso do ataque da Nut”, em que a turma faz uma votação para discutir, democraticamente, a permanência de Cirilo no Esquadrão.

Além dos temas abordados acima, destacamos a inserção de assuntos cristãos como o malefício dos pecados capitais constantes na terceira temporada e o plot da quarta temporada inspirado nas pragas infligidas por Deus ao faraó para a libertação do povo hebreu da escravidão. Tais ideias são amenizadas e readequadas para serem compreensíveis e palatáveis ao público infantil. Estimulando o pensamento, a narrativa procura apresentar, pautada na diversidade de pontos de vista, várias perspectivas e uma complementaridade destas acerca dos

conflitos propostos. Isso é refletido nas variadas personalidade dos integrantes da Patrulha, como a racionalidade em Carmen e Mario, as emoções pronunciadas em Cirilo e Davi, a impulsividade de Alícia e Jaime e a desconfiança de Maria Joaquina e Daniel.

Por exemplo, no episódio “O Caso dos Hambúrgueres Loco Burguer”, Jaime e Alícia se viciam nos hambúrgueres de uma nova lanchonete e Maria Joaquina e Daniel desconfiam que possa ter alguma substância viciante no lanche, desta forma são realizados testes químicos por Mário e interpretados os dados por Carmen. A quantidade de personagens e suas diferentes maneiras de ver o mundo promovem a identificação do espectador.

Na narrativa, o conflito se dá em proteger a cidade de Kauzópolis dos vilões. Nesse sentido, encontramos dois momentos de clímax, um referente à temporada e outro presente em cada episódio, sendo o da temporada de maior peso dramático e os episódicos de menor peso, usufruindo da pequena potência de vilões secundários. De forma criativa, existe apelo à imaginação no desenrolar da história com a estética dos jogos de videogame do gênero de aventura.

Como citado anteriormente, os conflitos e personagens do programa seguem o mesmo perfil proposto em Carrossel. Cirilo é ingênuo, inocente, doce e de boa índole, está sempre disposto a ajudar os amigos e a quem precise. Não se conformando com as injustiças, possui o dom do coração puro e continua apaixonado por Maria Joaquina. De origem rica, de perfil extremamente responsável e arrogante em algumas atitudes, Maria Joaquina procura estar na moda no seu modo de se vestir. Seu superpoder é uma bolsa de utilidades de onde sai diversos objetos que ajudam a desvendar os mistérios de Kauzópolis. Já Jaime tem o poder da força. Gordo e bruto, costuma resolver seus conflitos com briga, porém seu lado bondoso prevalece nas relações, assim como Davi, que

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é sensível, de personalidade doce e detém o poder da pontaria. Madura, Carmen comanda o computador central dos patrulheiros. Respeitosa e educada, seu superpoder é a visão. É bem próxima de Daniel, incorruptível e líder intelectual da turma, que em sua integridade não compactua com injustiças e tem o poder do super-QI. Também de personalidade forte, Mario tem um contato muito próximo com os animais, tendo o poder de encantá-los. Seu cachorro Rabito, sensível e corajoso, se torna o supercão. Por fim, admiradora de esportes e brincadeiras radicais, Alicia tem o poder da velocidade, por isso é comum vê-la com um skate quando está em ação com a Patrulha Salvadora.

No que diz respeito à mensagem audiovisual, compreendemos que para o SBT o investimento em Patrulha Salvadora marcou a reativação do núcleo de ficção seriada da emissora, que com inovação e experimentação, pela primeira vez, produziu uma série infantojuvenil numa narrativa livre das amarras de roteiro impostas por Televisa na concepção do remake da telenovela Carrossel.

A originalidade e criatividade fica por conta da equipe de roteiro que percebeu uma brecha interessante para a criação de uma spin-off, em

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que o público já estava consolidado e o desafio seria manter a qualidade audiovisual para não perder o interesse de quem se identificava com Carrossel. Como Carrossel é um sucesso na América Latina, possuindo vários remakes, a missão de realizar uma spin-off não é simples, ao mesmo tempo que se bem feita, poderia se tornar um produto comercializável em outros países.

Houve liberdade nas ações de engajamento propostas, como a inserção na programação da emissora de plantões jornalísticos apresentados pela personagem Valéria. Intitulados Plantão JK, instigava o público a desvendar o que havia por trás de vídeos da internet e comentar nas redes sociais.

No site oficial do SBT, foi criada uma página especial para o programa que disponibilizava conteúdos, como íntegras, sinopses, fotos, perfis de personagens e informações de bastidores. Essa área contribui para a imersão do telespectador no universo ficcional e estimula a desvendar os processos de produção e gravação do produto, apelando à criatividade do espectador.

Como solicitação de participação ativa do público, foi criada uma página no Facebook

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administrada pela emissora para os fãs interagirem entre si e com a emissora sobre os assuntos da série, além de apresentar lives e fotos de bastidores convocando os fãs para assistirem a obra no horário da exibição original no SBT.

A ficção seriada segue todos os parâmetros de qualidade audiovisual presentes na pesquisa de Borges (2004), tanto no plano de expressão, quanto no plano de conteúdo e mensagem audiovisual. É uma iniciativa inovadora por parte do SBT em fazer uma obra que não seja remake de outras produzidas por estúdios da América Latina, além de ser um spin-off, que já trabalha com questões de ampliação de um universo montado anteriormente e popularmente conhecido entre o público infantojuvenil.

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Por Leony Lima
72 Ficha Técnica Baseado na obra de Abel Santa Cruz Autoria: Íris Abravanel Direção: Sonia Garcia Período de exibição: 13/07/2001 a 09/08/2001 e 12/04/2010 a 17/05/2010 Temporadas: 2 Número de episódios: 46 Duração: 25min

Que monstro te mordeu? TV Cultura

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Que Monstro te Mordeu? é um seriado de televisão brasileiro criado por Cao Hamburger e Teodoro Poppovic, exibido de 10 de novembro de 2014 a 15 de janeiro de 2015 na TV Cultura. A trama se inicia quando uma criança desenha um monstro e ele ganha vida em um lugar chamado de Monstruoso Mundo dos Monstros. A partir disso, a narrativa acompanha a personagem Lali (Daphne Bozaski), uma menina metade monstro, que certo dia surge no monstruoso mundo. Neste universo, conhece criaturas e várias situações inusitadas acontecem com Lali (Daphne Bozaski) e seus amigos monstros – Luísa (Melina Meghini), Dedé (Hugo Picchi) e Gorgo (Sidnei Caria).

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Quando Cao Hamburger e Teodoro Poppovic começaram a criar os monstros, optaram por deixar as próprias crianças produzirem as criaturas. Por isso, 18 crianças fizeram desenhos dos monstros e, posteriormente, Cao e Teodoro os transformaram em personagens da série. Cada episódio traz um personagem novo para tratar de determinada temática. Por exemplo, no quarto episódio é introduzido o monstro “Queroquero” e a partir disso o consumismo é abordado ao longo da trama.

Exibida nas sextas-feiras às 11h30, com reprises às 19h30, a série foi inserida em um horário direcionado com o objetivo atingir o público infanto-juvenil. A programação da TV Cultura na época era composta por programas infantis no período da manhã e da tarde. Entre as produções presentes na grade estavam O causo do Dia, Inglês com Música, Os Sete Monstrinhos, Quintal da Cultura, Era uma vez no Quintal, entre outros.

Após a exibição de Que bicho te mordeu? na televisão, a história ganhou uma adaptação para o teatro sob direção da premiada atriz Carla Candiotto, com exibição no Centro Cultural Fiesp em São Paulo. A série também é

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composta por web-episódios de três minutos no canal do YouTube, que fazem parte de quadros temáticos. O canal conta com os números musicais da atração, vídeos de bastidores, vídeos de ciência com o Dr. Z, charadas no quadro “Que monstro sou eu”, vídeos de culinária no quadro “Gorgourmet”, oficinas com crianças, vídeos de notícias do Monstruoso Mundo dos Monstros no quadro “Bafo Monstro” e, por fim, um quadro de curiosidades chamado “Hit Umus”. Além disso, foram lançados pela Sesi-SP editora três livros de receitas do “Gorgourmet”, incluindo volume de sucos, receitas doces e receitas salgadas.

No plano da expressão, analisamos o cenário do Monstruoso Mundo dos Monstros, onde acontecem todos os conflitos da série.

Este universo é composto por elementos que fazem o mundo parecer uma grande floresta como arbustos, construções de pedra, cipós, lagos, entre outros. Além disso, elementos lúdicos como lápis e livros estão presentes neste ambiente. Nas cenas de planos abertos, em que o Monstruoso Mundo dos Monstros é exibido de forma mais ampla, estes recursos são apresentados em forma de computação gráfica.

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Um dos cenários importantes para a narrativa é a casa do Dr. Z, o cientista. A casa possui aparatos tecnológicos como televisão, computador e de outros equipamentos em que o personagem realiza experimentos, além disso, também há vários livros pelo local. É neste ambiente em que ocorrem grande parte dos conflitos da protagonista, além de ser o lugar em que o Dr. Z faz descobertas de novas espécies de monstros.

A caracterização dos personagens apresentados na série é derivada de animações feitas por computação gráfica ou de fantoches manipulados por atores. Todos os personagens da série foram criados por crianças, com exceção do monstro Morgume (Aguinaldo Rodrigues

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Feitosa), um ginseng mutante que foi criado por Dr. Z para ser seu assistente no laboratório. Sendo assim alguns deles se assemelham com objetos reais, como Luísa (Melina Meghini) uma poltrona cor-de-rosa, Gorgo (Sidnei Caria) um latão de lixo e Dedé Haroldo (Hugo Picchi) uma bola de chiclete.

Os monstros são compostos por elementos lúdicos, como as cores, as texturas utilizadas, formas e contornos dos personagens, como, por exemplo, bocas exageradas, diversos olhos, o que contribui para a imersão do público infantil na trama.

No episódio “Moda Monstra” a protagonista Lali (Daphne Bozaski) muda seu figurino com acessórios, apliques, para participar de um concurso de moda no Monstruoso Mundo dos Monstros. Este é o único momento em que há mudança na caracterização dos personagens.

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Que monstro te mordeu? faz uso de trilha sonora em seus episódios e em alguns explora as canções através de números musicais.

No primeiro episódio “Humano ou Monstro” a canção “Mais Normal” de Clarice Falcão é apresentada em um número musical da personagem Lali (Daphne Bozaski) em um momento da trama em que ela busca sua identidade no Monstruoso Mundo dos Monstros. Outras músicas como “Quero-Quero” de Tim Bernardes, “Medo do Escuro” de Jorge Mautner, “Banho” de John Ulhoa também integram os números musicais da trama. Apesar de ser uma produção direcionada para crianças, as canções exploradas na narrativa abordam temas que também dialogam com outros tipos de público, como a diferença, o consumo, o medo, entre outros. Além deste uso específico, a trilha sonora é composta majoritariamente por músicas

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instrumentais.

A fotografia da série conta com alto contraste entre os tons e explora cores vivas, como tons de amarelo, verde, vermelho, marrom e azul. Sendo assim, a fotografia contribui para realçar os ambientes e a vivacidade presente no Monstruoso Mundo dos Monstros.

No episódio “Controle Remoto Universal” há uma mudança na fotografia para demarcar a mudança de temporalidade. Neste sentido, a fotografia simula uma cena exibida na televisão, já que Lali (Daphne Bozaski) volta no tempo pressionando um botão de controle remoto.

Que bicho te mordeu? possui uma edição linear, ou seja, não explora outras temporalidades além da cronologia presente em sua narrativa. Apenas no episódio “Controle Remoto Universal” a série

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explora de flashbacks em que a personagem Lali (Daphne Bozaski) mostra para Dr. Z que ele está sempre ausente. Os conflitos ocorrem na mesma cronologia, em que um tema diferente é abordado a partir de uma situação que acontece com Lali (Daphne Bozaski) no episódio. Sendo assim, cada um possui um arco narrativo isolado que se encerra no mesmo episódio.

Em relação ao plano do conteúdo, o universo ficcional de Que monstro te mordeu? apresenta temas complexos como o consumismo, o medo, o conceito de família, diversidade, entre outros. Apesar de serem abordados de uma forma lúdica e descontraída, os episódios não deixam de trazer os assuntos de forma profunda, proporcionando um diálogo até mesmo com outros públicos além do infantil. Como, por exemplo, o consumismo abordado no episódio “Quero-quero”, em que a personagem Lali (Daphne Bozaski), seduzida pelo monstro “quero-quero”, começa a comprar alguns brinquedos e ao longo do episódio tem o desejo de consumir cada vez mais. Dessa forma, é possível perceber que há um esforço em abordar a influência da publicidade e sua relação com o consumo.

A série conta com inserções dos personagens representantes do Monstruoso Mundo dos

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Monstros que aparecem na trama para explicar de forma didática certos termos e questões. Como, no episódio “Almoço de Monstromingo” em que eles discutem o que é família e no episódio “Resort Monstro” em que os personagens definem o significado do termo V.I.P, no caso da série o termo é adaptado para V.I.M que significa very important monster. Neste episódio, os representantes traduzem cada palavra do termo e em outro momento do episódio discutem sobre misturar palavras em inglês com português dando opiniões sobre o assunto.

Neste sentido, a trama promove o debate dos temas, contribuindo para a ampliação do horizonte do público e o estímulo à reflexão de temas relevantes de uma maneira eficaz.

A série apresenta ampla diversidade entre seus personagens, cada um possui características

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físicas e perfis diferentes. Lali (Daphne Bozaski) é uma menina monstra, Luísa (Melina Meghini) é uma poltrona rosa, Gorgo (Sidnei Caria) é um latão de lixo, Dr. Z (Paulo Henrique Santos) é um cientista atrapalhado e Dedé Haroldo (Hugo Picchi) é um monstro feito de chiclete. Além disso, a diversidade é um dos temas trabalhados na série quando Lali (Daphne Bozaski) chega ao Monstruoso Mundo dos Monstros e não se identifica com os outros habitantes do lugar.

Apesar de tratar da diversidade, a série deixa essa questão de lado em momentos pontuais. No episódio “Nasceu um chifre em mim!”, a protagonista Lali (Daphne Bozaski) faz um novo corte de cabelo e começa a chamar a atenção dos habitantes do Monstruoso Mundo dos Monstros. Por isso, Luísa (Melina Meghini) sente inveja de sua amiga e passa a usar um chifre em sua cabeça, o que faz superar o sucesso do cabelo de Lali (Daphne Bozaski). Neste sentido, é possível identificar um reforço de estereótipo feminino e destaque para a rivalidade entre mulheres.

A série apresenta essas questões em torno de situações do cotidiano da protagonista. Como no episódio “Almoço de Monstromingo” em que, a partir de um almoço de domingo em família, são debatidos a alimentação saudável e o preconceito em relação a determinados tipos de comida. Por trazer situações que fazem parte do cotidiano dos telespectadores a trama promove a identificação e se aproxima do público.

Por fim, na mensagem audiovisual, Que bicho te mordeu? estimula a imaginação do público ao apresentar um universo lúdico e repleto de fantasia e imaginação.

Um dos principais elementos que contribuem para a imaginação dos telespectadores é a proposta da série, de que o monstro imaginado por uma criança ganha vida e vai para o Monstruoso Mundo dos Monstros. A partir disso, a série utiliza várias sequências fantasiosas, como no episódio “Humana ou Monstro” em que Lali (Daphne Bozaski) se imagina da cor azul, com rabo maior. E também quando há

a presença de cenas dos órgãos internos da personagem conversando entre si.

A série também estimula o exercício da cidadania ao contar com a presença de um órgão de representantes do Monstruoso Mundo dos Monstros, demonstrando as funções que os membros possuem dentro de uma comunidade, que no universo ficcional da série é ser responsável pelas decisões importantes para o Monstruoso Mundo dos Monstros.

A produção também estimula o público a saber mais sobre o corpo humano, através das inserções dos órgãos de Lali (Daphne Bozaski) ao longo dos episódios e sobre a ciência a partir dos experimentos e descobertas do Dr. Z (Paulo Henrique Santos). Todos estes elementos de caráter educativo são apresentados de forma lúdica, divertida e leve, proporcionando uma comunicação eficaz com o público infantil.

A TV Cultura promoveu a comunicação com o público através da sua página no Facebook, que conta com posts de vídeos, fotos, entre outros. A série também possui um canal no YouTube que conta com conteúdos extras da série, como os números musicais, bastidores, entre outros. No canal foi realizada uma estratégia para

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promover a participação do público. Em um dos vídeos do quadro “clipe musical”, que mostra os personagens cantando uma música inédita, a protagonista Lali (Daphne Bozaski) fez uma dancinha engraçada chamada “Shikabum”. A ideia veio do episódio do ‘Monstro da Vergonha’, em que a Lali grava um vídeo seu dançando e cantando e esse vídeo vaza na monstronet.

A partir disso, o telespectador que quisesse participar da brincadeira da Lali (Daphne Bozaski) e dos outros monstros poderia gravar um vídeo fazendo sua versão de dancinha engraçada e enviá-la no próprio canal do YouTube da série. Os mais divertidos foram exibidos numa playlist especial da página.

Que monstro te mordeu? é inovadora ao proporcionar um alto nível de informação para o público através da explicação didática de termos. Estimulando a imaginação com a ludicidade de cenários e personagens, o universo de Cao Hamburger e Teodoro Poppovic é extremamente rico para aproximar o público da ciência e da cidadania.

Por Mariana Meyer

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87 Ficha Técnica Baseado na obra de Cao Hamburger Autoria: Cao Hambuger e Teodoro Poppovic Direção: Arthur Warren, Gustavo Suzuki e Maria Farkas Período de exibição: 10/11/2014 a 15/01/2015 Temporadas: 1 Número de episódios: 50 Duração: 30min

Que talento! Disney Channel

Que Talento! é a primeira série original brasileira para o Disney Channel, a trama é produzida pela Cinefilm e coproduzida pela Intro Pictures e Buena Vista International.

A série é uma comédia musical e aborda o cotidiano da agência de talentos Barulho Talents, comandada por Champ (Gabriel Calamari) e na escola E=MC2, onde os personagens estudam. Champ leva para a agência Bruno (Bruno Martini), um músico que foi substituído da banda Os Açucarados por seu rival, Gelzinho (Jonathan Well). Champ é primo de Mayra (Mayra Arduini), que acabou de chegar do interior para morar com a família. Mais tarde, Bruno e Mayra se juntam e formam um grupo musical chamado College 11. Além disso, a Barulho Talents possui outros integrantes. Frank (Johnny Franco) é um ator que só consegue papéis em filmes de terror independentes, geralmente interpretando papéis de monstros e zumbis. Shirley (Gabrielle

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Vacirca) é uma garota determinada a entrar no Guiness Book a qualquer custo. Chororô (Isabella Costa) se inscreveu para a Barulho Talents para descobrir seu talento. Milton Carter (Pedro H. Meirelles) é um hipnotizador que tenta seguir os passos do avô. E ainda há Hiroshi (Cristiano Kunitake), um excelente jogador de futebol. Para gerenciar esse lugar, Champ conta com a ajuda de seus irmãos, João (Bruno Gonzales) e Carol (Nathalia Cano).

Na terceira temporada outros personagens se integram no elenco, como Victoria (Valeria Baroni), prima de Shirley, Lucas (Bruno Peixoto), que gerencia o Youclub e vive um romance com Mayra. Além de Sarita (Isabella Scherer), que está disposta a se tornar uma grande estrela. Para divulgar as notícias da empresa, a Barulho Talents utiliza uma plataforma digital para realizar conversas através do chat entre os integrantes do grupo. O canal também divulga as histórias e situações que acontecem no cotidiano dos integrantes. A partir dessas conversas, o público acompanha as histórias que acontecem na casa de Champ, na escola E=MC2, onde todos estudam, e nos shows da College 11. Todos os episódios abordam o ambiente tecnológico em que vivem crianças e jovens nos dias de hoje,

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como: vídeos que se tornam virais, situações que acontecem na Internet.

A série Que Talento! foi exibida às 19h30 aos sábados e domingos no Disney Channel. A faixa de horário destinada à produção dialoga com o público juvenil ao qual a produção pretende atingir.

A Disney optou por produzir a série após os integrantes da banda College 11 participarem de dois episódios da primeira temporada da telenovela Violetta. A partir disso, foi encomendado opiloto de uma série de comédia em queambos componentes da banda estariam envolvidos. Em meados de novembro de 2013, foi gravado opiloto, mas apenas em fevereiro o Disney Channel aprovou a gravação da primeira temporada de Que Talento!.

A série apresenta um enredo que explora números musicais no decorrer dos episódios. Desta forma, a produção dialoga com séries e franquias estadunidenses produzidas pela própria Disney. Como, por exemplo, High School Musical, Camp Rock entre outras.

A análise de indicadores do plano da expressão constatou que, na maior parte dos episódios, a

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trama se passa na escola E=MC2 e na agência de talentos Barulho Talents. Os dois ambientes são fundamentais para o enredo, já que são os principais cenários onde as ações dos personagens se desenvolvem.

A escola é o local em que as pessoas que participam da Barulho Talents se encontram. Por se tratar de um ambiente educacional, o colégio é composto por salas de aula, carteiras, refeitório, murais de aviso nos corredores, entre outros. Todos esses elementos contribuem para a imersão do telespectador na trama, já que nos remetem a um ambiente de ensino. Já a Barulho Talents é o ambiente em que os personagens treinam seus talentos. Dessa forma, o lugar foi palco de muitas apresentações musicais e artísticas durante a série. O cenário explora elementos descontraídos como: instrumentos musicais, objetos de decoração. Além de objetos como placas de trânsito, sinalizações, entre outros, que nos remetem a um ambiente de uma garagem, que é o lugar onde a Barulho Talents está localizada.

A série conta com personagens adolescentes. Desta forma, o vestuário utilizado é composto por roupas joviais, com peças despojadas, coloridas, estampadas, entre outras. Apesar de

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frequentarem um colégio, na escola E=MC2 não há obrigatoriedade de uso de uniforme, desta forma os personagens se vestem como querem para assistir às aulas. Neste contexto, em cenas do cotidiano, como na escola, as roupas utilizadas são mais simples. Já em ocasiões especiais, como apresentações musicais, os figurinos dos personagens passam a ser mais glamorosos, utilizando peças com brilho e acessórios. Por ser um figurino que remete ao público adolescente, a caracterização contribui para trazer verossimilhança e para gerar identificação com o público alvo da série.

A trilha sonora de Que Talento! é composta, em grande parte, pelas canções originais da banda College 11 que integra a trama da série. Muitas vezes, as músicas eram executadas no decorrer dos episódios através das apresentações da banda. Já em outros casos, as canções eram inseridas em cenas do cotidiano dos personagens,

sem que houvesse um momento dedicado, especificamente, para uma apresentação. Por estratégia mercadológica do Disney Channel, as músicas da série eram compostas em inglês. Entre as canções que compõem a trama estão: “We Got Talent”, “Get Up”, “Home”, “Rock It”, entre outras. As faixas posteriormente fizeram parte de álbuns musicais com a trilha sonora de cada temporada da série.

Que Talento! apresenta uma fotografia naturalista, explorando cores como amarelo, roxo, azul, através dos figurinos e dos cenários. No decorrer da série existem pequenas mudanças na fotografia como, por exemplo, para sinalizar

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uma sequência fantasiosa. Entretanto, a fotografia não apresenta nenhuma influência direta no desenvolvimento da trama.

A partir das conversas pela internet, os personagens contavam aos amigos determinada aventura que viveram. Como os relatos eram intercalados com o arco narrativo do episódio, em alguns momentos eles funcionavam como uma narração dos acontecimentos que estavam por vir. Como, por exemplo, no episódio “Que Talento” da primeira temporada, em que Mayra (Mayra Arduini) conta como foi a gravação no estúdio depois da confusão na Barulho Talents e, logo depois, é exibida a cena da banda tocando no estúdio. Apesar de se passar no futuro, em momentos pontuais a trama possui edição linear, ou seja, os arcos narrativos seguem uma ordem cronológica.

Que Talento! é uma série de comédia musical que traz em sua narrativa as confusões e aventuras do cotidiano dos personagens.

No plano do conteúdo, identifica-se que, apesar de explorar situações engraçadas em grande parte dos episódios, a produção também aborda

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temas pertinentes como o poder de tomar decisões, responsabilidades, compromisso com os estudos, relacionamentos, entre outros. Por outro lado, a série aborda esses assuntos de forma superficial, explorando apenas para desenvolver a trama. Neste sentido, a trama não promove o debate dos temas de forma a agregar conhecimento ao público.

A série não apresenta grande diversidade entre seus personagens. A grande parte dos personagens possuem pele clara e pertencem a classe média alta. Como, por exemplo, os Mayra (Mayra Arduini), Champ (Gabriel Calamari), Bruno (Bruno Martini). Na segunda temporada a personagem Chororô (Isabella Costa) integra a trama e é a única personagem negra na série.

A produção apresenta uma dinâmica específica, em que existe a constante comunicação dos personagens através da internet. Durante a trama os personagens também interagem com celulares, produzem vídeos para o Canal da Barulho Talents no YouTube, etc. Além disso, os personagens apresentam dilemas nos relacionamentos e nos estudos no decorrer da trama. Esses elementos apresentados são marcantes entre os jovens. Outro fator presente entre adolescentes é a admiração por artistas,

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youtubers, entre outros. Nesse sentido, a produção contou com um episódio em que os youtubers Marimoon, Becca Pires, Bruna Vieira, Maira Medeiros e Igor Saringer fizeram parte da trama como personagens. Desta forma a série promove uma grande identificação com o público juvenil.

A série promove a imaginação do público a partir do uso de sequências fantasiosas. Como, por exemplo, no episódio “Frank de volta a Hollywood” Carter (Pedro H. Meirelles) sonha com Frank (Johnny Franco), ou no episódio “O College voltou” em que Bruno (Bruno Martini) passa a ver e ouvir música em todos os lugares.

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A série possui como protagonistas os personagens

Mayra (Mayra Arduini), Bruno (Bruno Martini) e Champ (Gabriel Calamari). Mayra e Bruno são amigos que integram a banda College 11. Mayra (Mayra Arduini) é meiga, gentil e uma das garotas mais populares da escola E=MC2, já Bruno (Bruno Martini) é um garoto tímido, atrapalhado e que possui uma grande paixão pela música. Champ (Gabriel Calamari) gerencia a Barulho Talents e está sempre com uma nova ideia para alavancar o sucesso dos integrantes da agência.

Os episódios de Que Talento! iniciam-se com um equilíbrio, logo depois surge uma situação de conflito gerada por algum personagem. E, por fim, já no final do episódio esse desequilíbrio é solucionado.

Em relação à mensagem audiovisual, Que Talento! é inovadora ao inserir a comunicação através da tecnologia no desenvolvimento da trama. Além de incorporar a dinâmica dos

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dispositivos móveis, a produção também aborda temas que envolvem o uso da tecnologia, como vídeos que viralizam na internet, memes, entre outros. Desta forma, a série consegue promover um diálogo mais próximo com o público adolescente.

Que Talento! também contribui para a identificação do público ao apresentar diversos elementos presentes no universo adolescente, como dúvidas sobre o futuro, problemas com a escola e relacionamentos, além da presença de youtubers na trama. Apesar de incentivar o diálogo com o público juvenil, a série não promove discussões aprofundadas sobre esses temas.

A página do Disney Channel no Facebook e a conta no Twitter apresentam publicações sobre novidades de Que Talento!, além de fotos e vídeos da série. Através do canal do Disney Channel no YouTube são divulgados os videoclipes da banda College 11, vídeos de bastidores, teasers de episódios, entre outros conteúdos da série.

O Disney Channel realizou uma ação na página do Facebook para promover a série. O trio de protagonistas (Mayra, Champ e Bruno) participaram de um hangout exclusivo para os

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leitores no Google+ da Revista Atrevida.

Apesar de buscar uma linguagem inovadora, tendo seus episódios permeados pelo ambiente tecnológico vivenciado atualmentepelo público infanto-juvenil, tais como vídeos virais, citações da internet, muita música e uma comunicação ágil por gadgets e computadores, a série agrega pouco às temáticas propostas, sendo superficial na resolução dos conflitos e dos problemas de seus personagens. Além disso, a falta de diversidade em seu elenco e a trilha sonora em língua inglesa afastam a série do cenário brasileiro, tornando-a um produto universal que pouco reflete sobre as identidades nacionais.

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Ficha Técnica Autoria: André Rodrigues Direção: Daniel Caselli e Juliana Vonlaten Período de exibição: 24/05/2014 a 15/04/2016 Temporadas: 3 Número de episódios: 52 Duração: 22min

Sítio do Picapau Amarelo TV Globo

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Sítio do Picapau Amarelo é, originalmente, uma série de livros de literatura fantástica composta por vinte e três volumes escritos pelo autor brasileiro Monteiro Lobato entre 1920 e 1947. Essas histórias ultrapassaram as páginas dos livros e viraram filmes (O Saci [1951]; O Picapau Amarelo [1973]), cinco adaptações para séries de televisão, uma série de animação e diversos outros produtos dentre peças teatrais e álbuns musicais.

Em julho de 2000, a TV Globo, que já havia produzido em 1977 uma versão do Sítio, assina um contrato com os herdeiros de Monteiro Lobato para produzir uma nova adaptação para a televisão.

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A estreia foi marcada para uma sexta-feira, 12 de outubro de 2001, em comemoração ao Dia da Criança. Essa adaptação foi ao ar até o dia 7 de dezembro de 2007 contando com sete temporadas no total.

Nesta análise nos debruçamos sobre a primeira temporada desta versão, exibida de 12 de outubro de 2001 a 22 de agosto de 2002 e compreendendo, em sua maioria, adaptações das histórias literárias. A partir da segunda temporada, os personagens passam a integrar aventuras não-contidas nos livros de Lobato. O cenário principal da trama é um sítio, batizado de Picapau Amarelo, onde mora Dona Benta (Nicete Bruno), uma senhora de cerca de sessenta anos que vive em companhia de sua neta Lúcia (Lara Rodrigues), apelidada por Narizinho e a empregada, Tia Nastácia (Duh Moraes). Narizinho tem como amiga inseparável uma boneca de pano velho chamada Emília (Isabelle Drummond), feita por Tia Nastácia. Durante as férias escolares, Pedrinho (César Cardadeiro), primo de Narizinho, passa uma temporada de aventuras no Sítio. Juntos, eles desfrutam de aventuras explorando fantasia, descoberta e aprendizagem que incluem a convivência com criaturas mágicas como o Visconde de Sabugosa (Cândido Damm), a Cuca (Jacira Santos), o Saci

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(Isak Dahora), Conselheiro (Zé Clayton), Marquês de Rabicó (Aline Mendonça) e Quindim (Sidney Beckencamp). Em várias ocasiões eles deixam o sítio para explorar outros mundos, como a Terra do Nunca, a mitológica Grécia Antiga, o espaço sideral e um mundo subaquático conhecido como Reino das Águas Claras.

Inicialmente, esta versão do Sítio do Picapau Amarelo era exibida diariamente dentro do bloco TV Globinho do programa Bambuluá (TV Globo, 2000-2001), comandado pela apresentadora Angélica. Com o fim de Bambuluá, a série se tornou um programa independente na grade. Na época a emissora dedicava cerca de duas horas e meia à programação infantil, que se iniciava às 9h25. Esse espaço de tempo compreendia o programa apresentado por Angélica, que continha uma telenovela transcorrida na fictícia cidade de Bambuluá retratando as aventuras de Angélica e os Cavaleiros do Futuro, e as intervenções da TV Globinho, uma espécie de emissora de TV da cidade, que exibia desenhos animados como Digimon, Arthur e Monster Rancher. A série foi reprisada na tevê pelo Canal Futura em 2008, pelo VIVA em 2010, pelo Gloob em 2012 e pela TV Cultura em 2013. Porém, nenhuma dessas exibições contemplou a íntegra das sete temporadas produzidas.

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O sucesso de Sítio do Picapau Amarelo foi imediato, chegando a 15 pontos de audiência, segundo o Estadão. Com isso, diversos produtos licenciados foram lançados, como revistas, gibis, fitas VHS, CDs, DVDs, álbuns de figurinha, bonecos, fantasias, materiais escolares, roupas, jogos e brinquedos com alta vendagem.

No plano da expressão, observamos que a ambientação desta fase do Sítio tem como cenários principais a chácara de Dona Benta, o Arraial dos Tucanos, o laboratório do Visconde e a gruta da Cuca.

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Para trazer verossimilhança à série, a cenografia do vilarejo de Arraial dos Tucanos buscava reproduzir as cidades do interior de São Paulo, onde Monteiro Lobato nasceu, com a presença de um pequeno comércio, áreas de mata e rio.

Neste espaço habitam criaturas folclóricas como o Saci, a Iara e a Cuca. Também contribuindo à verossimilhança, grande parte das gravações externas eram feitas num sítio localizado na Ilha de Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro. Na mesma cidade, porém em outro imóvel, haviam sido gravadas as externas da versão de 1977 com direção de Geraldo Casé. Para aproximar a trama da contemporaneidade, foram incluídas no ambiente interações com computadores, micro-ondas, carros e celulares.

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Outros cenários, como a gruta da Cuca, foram montados nos estúdios da Renato Aragão Produções, em Vargem Grande. Nestas construções, percebe-se o grande uso do fator lúdico e da união entre cenários reais e virtuais, como é possível identificar na gruta da Cuca. Neste local, encontramos elementos que dialogam com o imaginário do universo em que vive uma bruxa. Além de ser um ambiente sombrio, úmido, frio e nebuloso, tem a presença de caldeirão, poções e velas, geralmente utilizados em rituais mágicos. Pelo caldeirão, também ocorre a comunicação de Cuca com outras bruxas, em um efeito virtual.

Na história Viagem ao céu fica explícito o uso de computação gráfica para a construção da representação e interação dos personagens com o espaço sideral. Este recurso é empregado para emular o céu, estrelas, cometas, asteroides, satélites e um dragão pertencente ao São Jorge. Em Reino das águas claras são também usados efeitos de computação gráfica, que emulam ambientes subaquáticos para trazer a impressão ao telespectador de que, apesar de os personagens humanos continuarem respirando e andando como em terra, os fatos transcorrem no fundo do mar.

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A caracterização dos personagens desta versão se diferencia das anteriores. Principalmente, porque a boneca Emília é interpretada por uma criança. Com exceção do filme O Saci (1951), a boneca Emília havia sido interpretada por atrizes adultas nas outras quatro versões para a TV.

O figurino é composto por um vestido de cores amarela e vermelha, seu cabelo segue os mesmos tons numa peruca feita de pano. Dona Benta segue a caracterização típica de uma vovó, utilizando óculos, cabelos brancos em coque e roupas em tons pastéis, de tricô e croché. Já Tia Nastácia foi representada por uma atriz mais magra, apesar de a personagem Nastácia ser mais conhecida pela imagem

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de uma mulher gorda, tanto pelas ilustrações dos livros como em outras adaptações para TV e cinema. Sobre Tia Nastácia é válido lembrar que, em entrevista a Silveira Peixoto, Monteiro Lobato contou que a personagem literária era inspirada em uma mulher magra, chamada Anastácia, que realmente existiu e trabalhava em sua casa, como cozinheira e babá dos filhos dele. Ela é descrita como uma negra alta, magra, de canelas e punhos finos. Na série encontramos outros personagens negros como tio Barnabé, interpretado por João Acaiabe que tem seu figurino inspirado em capoeiristas e colete com motivos africanos. O Saci, personagem de Isak Dahora, utiliza apenas um macacão e gorro vermelho, sendo utilizado dublê e efeitos visuais para aparecer na televisão com apenas uma perna.

Nesta temporada eram também usados efeitos especiais de chroma key para que o Visconde de Sabugosa parecesse ter mesmo o tamanho de um sabugo de milho. O sábio tinha vestes imitando um milho nas cores amarelo e verde, óculos, com uma cartola também verde e cabelos ruivos. Visconde era interpretado pelo ator Cândido Damm, que nesta versão deu um padrão de voz mais grossa ao personagem.

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Bonecos como Marquês de Rabicó, Conselheiro e Cuca eram fantasias operadas por controle remoto e posteriormente dublados, o que trazia um aspecto robótico aos personagens. Sobre a última, a intenção da direção era que a aparência da Cuca não ficasse demasiadamente assustadora para a faixa etária a que o programa se dirigia. Sendo assim, a personagem tinha um visual inofensivo, se assemelhando à construção do personagem Barney, da ficção Barney e seus amigos (PBS, 1992-2010), com rosto e cauda de jacaré, e corpo de mulher, com um vestido e capa de bruxa. Os primos Narizinho e Pedrinho utilizam roupas comuns às crianças de 8 anos de idade. O figurino varia conforme os episódios, porém alguns itens são marcantes como as faixas e tique-taques na cabeça de Narizinho e o estilingue de Pedrinho. Esta caracterização carrega uma rápida identificação com o telespectador.

Grande parte da trilha sonora da série é formada por regravações de canções compostas para a versão de 1977 e presentes nos discos Sítio do Picapau Amarelo (1977) e Sítio do Picapau Amarelo – Vol. 2 (1979), produzidos por Dori Caymmi, Guto Graça Melo e Max Pierre. As canções referem-se aos personagens e cenários

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da série, exaltando suas características. Desta maneira, unem a nostalgia da versão antiga com arranjos e cantores para a nova geração.

Narizinho, composta por Ivan Lins e antes cantada por Lucinha Lins, foi regravada pela baiana Ivete Sangalo. O Tema da Cuca foi interpretado em tom heavy metal por Cássia Eller e sua banda. Pedrinho ganhou arranjos pop do Jota Quest, Ploquet Pluft Nhoque reviveu eletronicamente nas mãos do grupo Pato Fu e Rabicó ganhou uma sonoridade roqueira com Paulo Ricardo. Gilberto Gil permaneceu com a sua música-tema, Sítio do Picapau Amarelo, numa versão acústica que, curiosamente, havia sido gravada em 1994. Carlinhos Brown, Zeca Pagodinho, Cidade Negra e Max Viana também estavam presentes nessa nova trilha do Sítio, ao

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lado de outros intérpretes da MPB convocados para criar músicas inéditas. Foi o caso de Lenine, que refez o tema do Visconde de Sabugosa, originalmente de João Bosco, e de Jorge Vercilo com sua canção Reino das Águas Claras.

A trilha foi lançada em dezembro de 2001 em um kit com a fita VHS com a história O Reino das Águas Claras. Por se tratarem de canções temáticas, são executadas durante a série em cenas específicas com a presença do personagem em questão. Fora isso, são veiculados instrumentais que auxiliam a ambientação como, por exemplo, rocks em clima sombrio da gruta da Cuca ou violas caipiras em stock-shots do Arraial dos Tucanos.

A fotografia da série, em geral, é naturalista e não explora grandes variações para a produção de sentido na série. Em momentos pontuais, podemos perceber grosseiras alterações na imagem, sendo utilizadas para demarcar ambientes e sequências fantasiosas nas

aventuras vividas pela trupe. Por exemplo, em Reino das águas claras as cenas subaquáticas têm exacerbados os tons azuis numa forma de representar o fundo do mar. Também são notadas diferenças de fotografia em Viagem ao céu, comparando-se o ambiente de lua em tons mais azulados e frios e de Marte com tons mais quentes.

Nos episódios analisados, a edição da série mantém uma construção linear. As histórias, apesar de serem divididas em episódios, acontecem em apenas uma cronologia.

Antes da vinheta, com o título da história e o episódio do dia, ocorre um resumo das partes anteriores da história corrente, sempre narrado por um dos personagens.

A abertura da série mistura animação e atores reais. Embalada pela música homônima de Gilberto Gil, inicia-se com uma contagem regressiva cunhada por um pica-pau amarelo no tronco de uma árvore, após é refeita a mesma animação de título utilizada na versão de 1977 revelando-se um livro, o qual se abre e vemos os personagens reais interagindo em cenários animados. Este efeito busca representar a imersão do telespectador na obra de Lobato

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e reforçar o caráter lúdico e de imaginação presentes na produção.

No âmbito do plano do conteúdo, a obra criada por Monteiro Lobato se mostra rica, ampliando o horizonte do público não só com seus personagens, mas também com intertextualidades.

Por exemplo, em Viagem ao céu, encontramos personagens como São Jorge e seu dragão, que exploram histórias e assuntos como a fé. Já em Memórias da Emília, o personagem clássico Peter Pan ingressa no sítio brasileiro com questões como amadurecimento e coragem, estimulando o pensamento de questões comuns ao mundo infantil.

A relevância da obra também se dá pela construção questionadora de Emília sobre a realidade e a sapiência de Visconde de Sabugosa sobre temas como história, geografia e ciências. Os dois protagonizam debates de ideias entre ciência e empirismo.

Em Viagem ao céu, Visconde decide explorar o espaço para saber se realmente haviam chegado à lua com o pó de pirlimpimpim, enquanto Emília decide fazer uma votação

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democrática (ou contagem de narizes) para decidir se o local em que estavam era ou não a lua. Ambas atitudes podem, inclusive, dialogar com a promoção da conscientização política e social, já que o primeiro exerce o papel de investigação e o outro de liderança.

Papéis adversos também podem ser identificados em Dona Benta e Tia Nastácia. As duas personagens adultas divergem em pontos de vista, já que a primeira é representada como grande estudiosa e conhecedora da ciência e a segunda como mulher de grande fé e crédula em mitos e folclores. Desta forma, na maioria dos temas confrontados pelos personagens, são demonstrados pontos de vista científicos por Dona Benta e empíricos por Tia Nastácia.

Filmada em um ambiente rural e desprovido de grande tecnologia, a série apresenta desafios aos personagens e busca despertar a curiosidade do público para resolvê-los. Também na história Viagem ao céu, na ausência de um telescópio para admirar os astros, os meninos decidem

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construir um próprio com gravetos, barbantes e canos.

A produção se mostra oportuna no que tange a perpetuação do universo ficcional de Monteiro Lobato, autor brasileiro que buscava retratar nos seus livros temas de interesse público de sua época, como a questão do petróleo brasileiro na história O poço do Visconde. Neste caso, a trama se adequa ao público infantil com apresentação de assuntos como a Geologia e conflitos capitais e ideológicos, temas contemporâneos que promovem a identificação do espectador.

Tratando-se de histórias com criaturas fantásticas, são inúmeros os apelos à imaginação do telespectador. O pó de pirlimpimpim é o maior exemplo deste fato, já que, com ele, é possível viajar para qualquer mundo ou época.

Diferentemente dos livros onde o pó era aspirado pelo nariz, nesta versão era jogado em cima das cabeças dos personagens assim como em Peter Pan. Na versão de 1977, o pó mágico havia sido transformado em uma palavra mágica, pela Censura Federal, para evitar comparações com a cocaína. Deste modo, os moradores do Sítio apenas gritavam “pirlimpimpim” para viajarem de um lugar para outro.

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A narrativa do Sítio do Picapau Amarelo contempla dois momentos: o cotidiano no sítio e conflitos com vilões locais como a Cuca, que tenta acabar com as crianças do Arraial, e o Saci que apronta travessuras com o tio Barnabé e tia Nastácia, e uma viagem fantástica que desvenda outros mundos e coloca os personagens em outras situações de perigo.

Segundo Cardoso (2001), os conflitos e personagens do programa possuem importância para o imaginário infanto-juvenil, tão próximo quanto os personagens de Walt Disney para os americanos.

Pedrinho e Narizinho são crianças comuns de classe média, conscientes de valores morais e temas como respeito ao próximo e à natureza. Narizinho é órfã, por isso mora com a avó, e Pedrinho passa apenas as férias no sítio. Representam uma faixa de idade que está imersa no aprendizado no mundo, funcionando como elo de identificação junto ao telespectador infantil. Personagens adultos, como Dona Benta, representam autoridade e sabedoria. Tia Nastácia, a cozinheira, incorpora a “ama de leite”, presente no imaginário brasileiro marcado pela escravidão. Por fim, Tio Barnabé é a representação do equilíbrio entre sabedoria e

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senso comum, trazendo também elementos da cultura africana para a narrativa. De extrema importância para a obra, Emília instaura a dúvida e a curiosidade. Boneca que fala, assim como Pinóquio, é feita de pano, mas coberta de razão. A personagem representa o princípio da realidade pelo viés de uma imaginação criadora. Ao misturar o imaginário com o carnee-osso cria-se um universo paralelo onde a linha dimensional entre o sonho e o despertar é tênue.

No que diz respeito à mensagem audiovisual, os personagens representados por bonecos permitiram a experimentação e inovação a partir das narrativas de Lobato. Com efeitos de computação gráfica, o sábio Visconde de Sabugosa tinha dimensão de um sabugo de milho, interagindo com os personagens em tamanho reduzido e possibilitando a inserção destes entre locais pequenos.

Já bonecos operados por controle remoto como a Cuca, Rabicó e Conselheiro foram remodelados para se tornarem antropomórficos, isto é, bípedes com características humanas, facilitando a produção do programa. Na literatura, estes personagens se referiam a animais de fato, se tornando uma solução original e criativa, diferente da versão de 1977, na qual a fantasia

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era em formato de bola desenhada com representação de suíno ou adicionado chifre de rinoceronte.

A comunicação com o público se deu por meio de um site oficial criado pela TV Globo no portal Globo.com. Na página, produzida em flash, era possível encontrar um resumo dos episódios, a história de Monteiro Lobato, sinopse do Sítio do Picapau Amarelo, brindes como planos de fundo e desenhos para imprimir, jogos como quebracabeça, jogo da memória, troca de roupas de boneca, dentre outros, o que apela para a curiosidade do espectador.

Como solicitação da participação ativa do público, havia uma seção chamada “Mural

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dos amiguinhos”, em que telespectadores cadastrados no portal poderiam deixar recados relacionados ao programa para serem publicados na página.

O Sítio é uma obra importante para nossa literatura, dramaturgia e sobretudo, imaginário. Cativa crianças desde o lançamento dos vinte e três volumes de Lobato a partir de 1920, mais de cem anos atrás. A ficção da TV Globo foi sucesso em termos de audiência e venda de produtos relacionados com a edição e, na medida do possível e da época, solicitou a participação do público a partir de um mural no site da Globo, o que fez os espectadores terem interação com

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outras crianças que gostavam da obra.

Lobato foi um autor criticado por usar termos racistas em suas obras, como “macaca de carvão”, “carne preta”, “beiçuda” e “um frangalho de nada”, a série, portanto, não trabalha com esses termos, o que fez a audiência não entrar em conflito direto com a obra audiovisual. O que vemos é apenas uma dicotomia entre o elitista e o popular, em que a elite, representada por vovó Benta possui um conhecimento científico e o popular, representado por Tia Nastácia, possui o conhecimento empírico.

Podemos perceber que a série explora os elementos de qualidade nos diversos indicadores de qualidade analisados, contudo, consideramos que os movimentos de personagens antropomórficos e os efeitos especiais não trazem inovação estética. Porém, em termos narrativos, a série expande de forma satisfatória a literatura de Monteiro Lobato.

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Por Leony Lima
123 Ficha Técnica Baseado na obra de Monteiro Lobato Autoria: Márcio Trigo e Roberto Talma Direção: Roberto Talma Período de exibição: 12/10/2001 – 07/12/2007 Temporadas: 7 Número de episódios: 1159 Duração: 25min

Tudo o que é sólido pode derreter TV Cultura

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Tudo o que é sólido pode derreter é uma série infantojuvenil criada por Rafael Gomes e Esmir Filho produzida pela Ioiô Filmes para a TV Cultura. Exibida pela emissora entre 10 de abril e 3 de julho de 2009, a trama deriva do curta homônimo, dirigido por Rafael Gomes e filmado em 2005, vencedor de diversos prêmios de importantes festivais infantojuvenis como o Oberhausen, na Alemanha.

O seriado de treze episódios acompanha a história de Thereza (Mayara Constantino), uma adolescente de quatorze anos, estudante do primeiro ano do Ensino Médio. A jovem acabou de perder seu tio Augusto (Luciano Chirolli), escritor e ator de peças teatrais. Dessa forma, também apaixonada por literatura, a jovem entra de cabeça nos livros que seus professores passam no colégio. Essa relação faz com que

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tudo da vida de Thereza vire uma releitura moderna de obras que geralmente são cobradas nos vestibulares das universidades, como Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, Senhora de José de Alencar e O auto da barca do inferno de Gil Vicente.

Thereza e os amigos de escola são pessoas da classe média paulistana. Estudam em uma escola pública, andam de ônibus e conversam pela internet. Passam por situações semelhantes as de muitos jovens nessa faixa etária, como a timidez, os problemas familiares e as questões existenciais. Num paralelo entre as leituras da sala de aula e os conflitos da adolescência, o diferencial da série está na relação direta entre as angústias da jovem e as reflexões provocadas pelas obras que ela estuda nas aulas de Literatura.

Realidade e ficção se imbricam na imaginação de Thereza (Mayara Constantino), em que autores e personagens ganham vida para interagir com o mundo contemporâneo.

Outra ponte entre o real e o fantástico é o falecido tio. Assim como os outros seres imaginados, ele aparece para a sobrinha, estabelecendo contatos

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que a ajudam a atravessar seus conflitos e a aguçar sua interpretação sobre os livros.

A produção fez parte da terceira edição do projeto Direções, por um novo rumo na teledramaturgia promovido pela TV Cultura em parceria com a SescTV. O projeto tinha como objetivo o debate, a pesquisa e a experimentação de novas linguagens em teledramaturgia e investiu em suas duas primeiras edições em teleteatros e na terceira em ficções seriadas.

Além da infantojuvenil Tudo o que é sólido pode derreter, foram produzidas as minisséries adultas Unidos do livramento, inspirada em contos de Machado de Assis, João Miguel do homônimo livro de Raquel de Queiroz e O Amor Segundo B. Schianberg do cineasta Beto Brant.

Exibida às sextas-feiras no horário de 19h30, a série foi posicionada em horário estratégico para atingir o público jovem. A programação da TV Cultura na época, segundo dados da Folha Ilustrada, tinha forte presença de programas infantis no período da manhã e da tarde, boa parte da programação era formada por animações estrangeiras e reprises de programas próprios, como Cocoricó e Castelo Rá

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Tim Bum. Para anteceder Tudo o que é sólido pode derreter foram escolhidas a série juvenil estadunidense Resgate do voo 29 que tratava de jovens perdidos em uma ilha devido a um pouso forçado e o programa Pé na rua, apresentado por Gabriela França e João Victor D’Alves, que trazia quadros sobre cultura, estilos musicais e debates do universo jovem.

Antes de discutirmos sobre os indicadores de qualidade da série, é importante ressaltar que, como dito anteriormente, a trama teve como ponto de partida o curta metragem homônimo produzido em 2007 por Rafael Gomes. O curta foi inspirado no conto There’s a hole in everything (Existe um buraco em tudo, no português), do escritor inglês Mark Illis.

Apesar de manter a premissa de aproximar o cotidiano adolescente de obras literárias, o curta apresenta personagens e ambientações

diferentes da adaptação para a TV. Na história, Rosa (Mayara Constantino) estuda em um colégio bilíngue e tem poucos amigos. Na trama, o estudo do livro Hamlet, de Shakespeare, faz a jovem refletir sobre a morte repentina do tio.

Após o encerramento da primeira temporada na TV Cultura, em 2009, ainda foram lançados conteúdos referentes ao universo ficcional. Em 2010, foi publicado o box com todos os episódios da série, making of e quatro e-books.

Os e-books, selecionados a partir das obras exploradas nos episódios, foram Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente; Dom Casmurro, de Machado de Assis; Poemas, contendo Ismália, de Alphonsus de Guimaraens; e O guardador de rebanhos, de Fernando Pessoa. Em 2011, Rafael Gomes lançou uma versão adaptada dos episódios da TV. O livro, editado pela Leya, mantém as mesmas histórias da trama da TV Cultura, mas apresenta pequenas mudanças devido ao formato.

No plano da expressão da série, a ambientação é fundamental para o desenvolvimento dos arcos narrativos da série. É a partir dos conflitos na escola e em casa que Thereza estabelece, mesmo que muitas vezes de maneira inconsciente, a

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correlação com as obras literárias. Algumas sequências se passam nas ruas de São Paulo, na academia de natação da personagem, e em pontos turísticos da metrópole, porém apenas de maneira pontual.

Além de trazer verossimilhança para a trama, a locação da escola pública contribui para a identificação do público. Por ser sido gravada em uma escola em São Paulo, o ambiente apresenta vários elementos que são reconhecidos pelos telespectadores. Tais como a ausência de aparatos tecnológicos e a presença de lousas de giz, cadeiras de madeira e armários de aço.

A casa da protagonista reflete a realidade social e econômica da personagem. Nesse sentido, ao longo das cenas podemos acompanhar não só a relação que Thereza tem com a sua família,

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mas a rotina da casa. Isto é, os atendimentos que Marta (Ana Andreatta), mãe de Thereza, faz em sua residência, os produtos que Décio (Marat Descartes), pai de Thereza, vende em sua loja, etc. Dessa forma, a ambientação de Tudo o que é sólido pode derreter cumpre a função de reforçar o universo ficcional e estimular a identificação do público.

Com exceção das sequências fantasiosas, que misturam mundos ficcionais da literatura e com os arcos dramáticos do episódio, a caracterização dos personagens apresenta poucas variações. Na maioria das cenas os jovens estão usando o uniforme da escola, já nas sequências fora do ambiente escolar os personagens usam roupas genéricas. Isto é, o figurino não reflete diretamente a personalidade do personagem na trama, apenas Ígor, que é chamado de nerd pelos colegas, usa óculos e suéter, reforçando o

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estereótipo.

Já nas cenas em que Thereza, por exemplo, conversa com personagens literários, sempre estão representados com roupas de época ou fantasias como acontece com o Padre Antônio Vieira, o autor Gonçalves Dias. Nessas sequências fantasiosas, identificamos um esforço explícito para incluir em cena a obra a qual o episódio se refere. Podemos perceber a quebra de estereótipos na representação de Auto da barca do inferno com um demônio mulher e um anjo negro.

Nesse sentido, de modo geral, a caracterização dos personagens na série dialoga com o contexto em que eles estão inseridos. Porém, não apresentam grandes variações e composições elaboradas.

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No que se refere a trilha sonora, as músicas presentes nas cenas da série procuram dialogar com o público alvo, sendo em maior parte rocks alternativos e indie pops, como Quinto andar de Tiê e Sorte e azar do grupo Pato Fu. O recurso de trilha é bastante utilizado para construção de clima e ritmo nas cenas e nas transições. A canção de abertura As coisas, de Érika Machado, se aproxima da poesia e do lúdico, num forte diálogo com a imaginação presente na série. Ainda na vinheta de abertura reforça-se a questão lúdica, já que a personagem interage com um livro popup em que, a cada página, os personagens fixos surgem junto a suas características marcantes, como o de Dalila que busca a fama.

Tudo o que é sólido pode derreter apresenta uma fotografia naturalista, a variação de iluminação e o uso de filtros podem ser observados apenas em cenas pontuais da trama. Como, por exemplo, quando Thereza imagina o pai de Marcos dando sermões durante o jantar. Nesse contexto, a mudança da fotografia é usada na série para ressaltar alguma situação imaginada pela protagonista.

A série é pautada por uma edição linear, os acontecimentos seguem uma ordem

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cronológica. Apenas em alguns episódios, como o O Guardador de Rebanhos (Alberto Caeiro), que apresenta alguns flashbacks de Thereza e Dalila. O recurso é usado para aprofundar e contextualizar o arco narrativo focado na amizade das personagens. O mesmo acontece quando a protagonista lembra das conversas que tinha com o tio. Dessa forma, o uso da edição não linear não é predominante na trama.

No que diz respeito ao plano do conteúdo, o universo ficcional de Tudo o que é sólido pode derreter consegue aproximar os temas, muitas vezes complexos, de obras clássicas da literatura luso-brasileira com o cotidiano dos jovens. Nesse sentido, conflitos como a autoridade dos pais, os amores platônicos e as amizades, se tornam pontos de interseção com as discussões propostas pelos autores.

Ao assistir a trama, os telespectadores criam, mesmo que indiretamente, uma familiaridade com os assuntos e a proposta das obras. Dessa forma, podemos afirmar que a série da TV Cultura estimula a leitura e aproxima os jovens dos clássicos da literatura luso-brasileira.

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Porém, é importante ressaltar que as discussões propostas pelos roteiristas não apresentam informações densas e complexas, elas servem como ponto de partida para despertar o interesse dos telespectadores. A ampliação do horizonte do público e o estímulo à reflexão de temas relevantes estão presentes no programa e cumprem a sua função de maneira eficaz.

Os temas abordados nos treze episódios de Tudo o que é sólido pode derreter dialogam diretamente com o cotidiano dos jovens. Um aspecto interessante é a forma como essas discussões são apresentadas na série, estimulando sempre a reflexão e a diversidade de pontos de vista.

Essa questão pode ser observada nos diálogos de Thereza com o seu tio. Nos diálogos, a personagem repercute os acontecimentos e as suas opiniões de uma maneira muito enfática e unilateral, posteriormente, Augusto mostra outras questões que deveriam ser consideradas pela sobrinha. Dessa forma, os assuntos sempre são tratados, dentro da proposta da série e, considerando as limitações da duração do episódio, de modo dinâmico.

Como iremos tratar mais adiante, Tudo o que é sólido pode derreter não apresenta diversidade

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no que diz respeito ao perfil dos personagens. Porém, os temas abordados nos episódios são amplos tanto nos arcos narrativos focados nos personagens quanto nas obras exploradas. Ao longo dos treze episódios os jovens refletem sobre questões como a insegurança, a rivalidade, as dúvidas da primeira vez, a amizade e tem como pano de fundo as obras de distintas escolas literárias como humanismo, realismo, modernismo e simbolismo. O modo como essas obras são introduzidas na trama também é um ponto pertinente. Os assuntos não são tratados de maneira distante do público, pelo contrário há uma aproximação muito clara (e didática) entre os livros e os arcos narrativos desenvolvidos pela protagonista. Nesse sentido, os plots despertam a curiosidade em conhecer melhor as obras e promovem identificação do espectador com os conflitos vividos por Thereza. As temáticas dialogam diretamente com o público alvo.

A trama também estimula a imaginação do público, já na abertura da série é possível observar elementos lúdicos. Na sequência, os personagens são apresentados dentro de um livro que Thereza está folheando. Cada um deles está inserido em um contexto característico

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como, por exemplo, Marta está no seu consultório e Décio em sua loja de enxovais.

Os arcos narrativos de Tudo o que é sólido pode derreter são construídos com base na imaginação de Thereza. Isto é, é partir da correlação que a protagonista faz da ficção com a realidade, que surgem os conflitos ao longo do episódio. Como, por exemplo, em Os Sermões (Padre Antônio Vieira), a personagem está lendo os ensaios para a aula de literatura e começa a questionar o relacionamento que ela tem com os pais. O mesmo acontece em Macunaíma (Mário de Andrade), quando Thereza usa trechos do romance de Mário de Andrade para pedir desculpas aos amigos. Em alguns momentos a protagonista também imagina as possíveis conversas que teria com o tio, caso ele estivesse vivo. Dessa forma, o universo ficcional da série é

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construído em torno da imbricação da realidade com a ficção.

Os episódios de Tudo o que é sólido pode derreter tem como ponto de partida a obra de um escritor brasileiro. Geralmente o livro/poema é apresentado durante as aulas de literatura e Thereza usa as discussões presentes na obra para refletir sobre seus problemas pessoais. Por exemplo, quando a personagem estava estudando Dom Casmurro, de Machado de Assis, ela traçou um paralelo entre a relação dos personagens do livro com os problemas no relacionamento de Dalila e João Felipe. Nesse sentido, os episódios sempre exploram dois arcos narrativos centrais: o do livro e do cotidiano de Thereza. A resolução dos arcos se dá no final do episódio, apesar de estarem inter-relacionados com todo o universo ficcional da série, é possível assistir e compreender os episódios isoladamente.

A ficção é composta por doze personagens, oito no elenco fixo e quatro no elenco de apoio. A história não apresenta pluralidade dos sujeitos representados. O elenco recorrente da série não é diverso, apenas um episódio conta com a participação de um ator negro.

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Thereza é estudante do primeiro ano do ensino médio de uma escola pública em São Paulo. A personagem é estudiosa, questionadora e curiosa. Apesar de ter um bom relacionamento com os seus pais, Marta e Décio, a jovem sente muita falta do tio Augusto. A morte do tio não é abordada de maneira aprofundada na trama, o telespectador só sabe que ele morreu repentinamente e que provavelmente se suicidou. Thereza segue o estereótipo de outras tramas seriadas que se passam no âmbito escolar, é apaixonada pelo garoto popular do colégio que namora sua rival, Dalila.

Neste ponto a série reforça, mesmo em alguns momentos e de maneira superficial, o machismo, através do estereótipo da competição feminina, errando por não estimular a sororidade. Isto é, por mais que Thereza questione o porquê de não gostar de Dalila e faça as pazes com a amiga, vários conflitos da história são desencadeados

tendo como mote a disputa entre as meninas.

Interpretado pelo ator Victor Mendes, Marcos serve de fio condutor para o telespectador. Recém chegado à escola, o personagem, e consequentemente o telespectador, é introduzido por Thereza aos professores, aos colegas de classe e ao cotidiano da personagem. Marcos é tímido, tem uma relação complicada com os pais e se torna um dos melhores amigos da protagonista ao longo da primeira temporada. Já João Felipe é o aluno popular da escola, no início da série o personagem mantém um relacionamento com Dalila, porém, depois uma briga, ele se declara para Thereza.

Citada várias vezes na trama como a rival de Thereza, Dalila sonha em ser atriz. A personagem é extrovertida e faz curso de teatro. Apesar de ser caracterizada como rival e possível vilã da história, as atitudes da jovem não são questionáveis e

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servem apenas para desencadear os conflitos da protagonista.

Por se tratar de uma série direcionada para o público jovem, os adultos são minoria no universo ficcional de Tudo o que é sólido pode derreter. No elenco fixo temos os pais de Thereza e o tio. Marta é psicóloga e está sempre disposta a ouvir a filha e tirar suas dúvidas. Décio tem uma loja de produtos de cama, mesa e banho e traz leveza para a trama, as cenas em que o personagem aparece são, em sua maioria, cômicas. Por fim, Augusto é o grande ídolo de Thereza, mesmo após a sua morte a jovem imagina como seriam as conversas com tio. Envolvido com a arte, Augusto ajuda a sobrinha em reflexões e questionamento sobre as questões abordadas na série. Dessa maneira, os adultos de Tudo o que é sólido pode derreter representam um espécie de refúgio para Thereza.

Sobre a mensagem audiovisual, como já discutimos anteriormente, os temas abordados na série refletem diretamente as questões que envolvem o público jovem. Isto é, a relação com os pais, o namoro, a paixão platônica, as amizades, etc. Nesse sentido, os telespectadores conseguem se identificar facilmente com a

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trama. É a partir dessa aproximação do público que a série consegue introduzir de maneira eficaz os temas das obras literárias e gerar curiosidade nos jovens.

A proposta de Tudo o que é sólido pode derreter se torna pertinente por conseguir relacionar o cotidiano dos jovens com as obras clássicas da literatura luso-brasileira. Nesse sentido, o programa estimula o público a conhecer melhor os livros, poemas e autores que são abordados na atração, ou seja, existe apelo à curiosidade.

Os quesitos de inovação e experimentação da linguagem não são muito abordados na ficção, todavia, a premissa de trazer obras literárias para um contexto de produção audiovisual contemporâneo em uma ficção que se ambienta em um colégio juvenil é uma excelente demonstração de originalidade e criatividade.

A TV Cultura estimulou a participação ativa do público por meio do site oficial. Além da disponibilização da íntegra dos episódios, músicas da série, galeria de fotos, informações sobre bastidores e livros digitais dos clássicos os quais a narrativa foi inspirada para download gratuito, a página contava com um blog assinado pela protagonista. Os posts buscavam

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trazer reflexões sobre os acontecimentos da série e sugestões de músicas, como o post “Eu me transformo em outras”. O espaço do blog continha também opção para comentários dos telespectadores. Na postagem “Um post (bem) grande” de 27 de maio de 2009, foram escolhidos alguns comentários para serem respondidos.

Em suma, o roteiro não possui gaps e o blog trouxe contato entre espectadores e artistas da obra, além de quesitos do backstage. A obra consegue incentivar a leitura de clássicos para jovens estudantes a partir de uma ficção infanto juvenil leve e descontraída. Entendemos assim que Tudo que é sólido é uma obra que completa a maioria dos quesitos dos parâmetros de qualidade da teoria.

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Por Leony Lima, Mariana Meyer, Daiana Sigiliano e Vinícius Guida
Ficha Técnica Baseado na obra de Rafael Gomes e Esmir Filho Autoria: Rafael Gomes e Esmir Filho Direção: Rafael Gomes e Esmir Filho Período de exibição: 10/04/2009 – 03/07/2009 Temporadas: 1 Número de episódios: 13 Duração: 25min

Um menino muito maluquinho TVE Brasil

Um Menino Muito Maluquinho é uma série de TV brasileira produzida e exibida pela TVE Brasil em 2006. Baseada nas obras infantis do escritor Ziraldo, a atração conta a história do Menino Maluquinho, um garoto brincalhão, cercado de amigos, com uma imaginação fértil e um faro para novas aventuras e maluquices.

A história é narrada pela versão de 30 anos de idade do protagonista, relembrando suas aventuras de quando tinha 5 e 10 anos, respectivamente. O personagem também já foi adaptado para o cinema duas vezes: O Menino Maluquinho (Helvécio Ratton, 1995) e O Menino Maluquinho 2: Aventura (Fernando Meirelles e Fabrizia Pinto, 1998).

Apesar de ter apenas uma temporada, a série fez tanto sucesso que o canal de tevê por assinatura Disney Channel a incluiu em sua grade de programação, de segunda a sexta-feira, ao meio dia. Na TVE, produtora do programa, sua exibição era feita aos domingos, às 18h30, e reprisados nas

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sextas-feiras em dois horários, 11h30 e às 14h. A trama também foi exibida pelo canal TV Cultura todas as sextas-feiras, às 14h, com reprises às quintas-feiras na parte da manhã. Depois de um período longe das TVs, a série voltou a ser exibida pelo canal TV Brasil de 2011 a 2013 e na TV Escola de 2013 a 2014. Sua última transmissão foi em fevereiro de 2018 pela TV Câmara de São José do Rio Preto.

A obra foi produzida com apoio da Secretaria de Educação a Distância, Ministério da Educação, Secretaria de Audiovisual, Ministério da Cultura, Fundo Nacional de Cultura, com patrocínio da Petrobras e da Lei de Incentivo à Cultura da Agência Nacional de Cinema (ANCINE). Ganhou três prêmios, tendo sido indicada cinco vezes. Dessas cinco indicações, três foram em premiações internacionais, vencendo em uma delas.

No plano da expressão, percebemos que a ambientação se concentra nos cenários principais, que são: a casa de Maluquinho, focando na sala, cozinha e quarto, e a escola, focando na sala de aula e no pátio. Entretanto, a história também ocupa outros espaços, como a casa dos amigos de Maluquinho, o zoológico, o

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campinho do bairro, etc. O quarto de Maluquinho reflete bem sua personalidade, tanto com 5, quanto com 10 anos. O ambiente é repleto de brinquedos de diversos estilos, na maioria das vezes bagunçado, com muitos livros e materiais para leitura, que aponta para curiosidade do personagem por descobrir novas vivências.

A caracterização dos personagens é apresentada com figurinos de roupas cotidianas, com exceção da panela que Maluquinho usa na cabeça, um dos grandes mistérios da série.

Apesar de muitas especulações sobre como ele recebeu esse apelido e começou a usar a panela na cabeça, tal questionamento não é respondido na série, pois nem Maluquinho, nem os adultos, sabem ao certo a verdadeira história da panela

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na cabeça. Outra lacuna informacional deixada na trama é o verdadeiro nome do personagem, que em todos os episódios é chamado apenas pelo apelido.

A trilha sonora consiste na música de abertura Festa do Menino Maluquinho, de Antonio Pinto, além de instrumentais que compõem e ajudam a contar a história. A fotografia é naturalista, explorando bastante a luz natural. É usado com frequência um plano aberto com movimentações de câmera que dão visibilidade quase completa dos cenários.

Os episódios são procedurais, ou seja, cada um possui seu arco próprio, com introdução,

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desenvolvimento, clímax e desenlace, compartilhando o mesmo universo ficcional dos outros episódios da ficção e tendo um fechamento ao final de cada episódio, sem gancho para o próximo. São na faixa dos 30 minutos e geralmente começam com Maluquinho nos seus 30 anos relembrando alguma situação vivida. Esse início não é regra para todos os episódios, em alguns deles a narrativa é diferente, já mostrando a situação vivenciada pelo personagem principal, seguida dos comentários do personagem nas diferentes faixas etárias.

Como os episódios são construídos em diferentes linhas do tempo, eles não possuem uma ordem certa para qual época vai se iniciar a narrativa, mas uma vai dando espaço a outra e se complementando, mostrando situações parecidas que acontecem com Maluquinho em seus 5 e 10 anos. Além disso, os personagens conversam diretamente com o público, em comentários realizados no meio dos episódios,

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complementando o que está se passando nas cenas.

O último episódio da série apresenta uma narrativa diferente das demais. Ele é focado em Maluquinho com 30 anos vendendo a casa de praia de seus pais. É a primeira vez que o personagem com essa idade aparece fora da narração em off da série. A história mostra o encontro entre os três Maluquinhos, numa alusão ao passado, presente e futuro. Nesse episódio, não só os Maluquinhos se cruzam, como todos os personagens interagem entre si, fazendo a linha do tempo das histórias se fundir.

Na edição existem recursos gráficos que dão vida à imaginação do menino, como no episódio que ele ensina sobre consumismo, em que a mãe de Maluquinho explica que dinheiro não nasce em árvore e logo em seguida aparece uma animação de uma pessoa plantando dinheiro e nascendo uma árvore. Essa espécie de recurso acontece em quase todos os episódios e possui diferentes formas, desde colagens com os personagens até desenhos que misturam os personagens às fantasias. São artifícios que estimulam a imaginação do público, dando vida aos pensamentos mais criativos do menino, tornando-os visíveis.

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Em relação ao plano do conteúdo, a série introduz diálogos sobre padrões sociais de forma simples, ampliando o horizonte do público, como no episódio Bonito, Feio, em que Maluquinho, seu amigo Bocão e seu avô vão até o zoológico.

As crianças começam a discordar sobre quais animais são bonitos ou feios, mas, logo em seguida, o avô de Maluquinho explica para as crianças que esses conceitos são relativos, o que pode ser bonito para um, pode não ser para outro e vice e versa, e que isso não exclui a opinião do outro sobre algo. Na proposta de Valter Hugo Mãe (2018) em O Paraíso São Os Outros, não existe animal feio, nós é que não aprendemos a ver a beleza dele.

A princípio, o episódio mostra Maluquinho com 5 anos de idade no zoológico com seu amigo e seu avô, discutindo sobre o assunto, mas ele se estende para Maluquinho com 10 anos, quando Bianca, uma menina nova, chega ao colégio e todos os meninos se encantam, inclusive o protagonista. Apesar de todos os seus esforços para se aproximar, a menina o chama de feio, fazendo-o entrar em uma tristeza profunda e começar a entender, a partir de uma conversa com sua amiga Julieta, que a opinião de Bianca não é a mesma de outras pessoas.

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Os adultos possuem participação efetiva na série. Tanto pela versão de Maluquinho com 30 anos, que narra suas lembranças, quanto pelos pais do protagonista, que sempre o ajudam e apoiam em todos os momentos. O seu avô, senhor Hortêncio, também tem participação importante na trama, sendo um personagem alegre e que ensina Maluquinho a olhar o mundo através de novas perspectivas.

A professora Paula incentiva seus alunos a buscarem conhecimento de formas criativas e Dona Irene, personagem constante na linha do tempo em que o garoto tinha 5 anos, acoberta Maluquinho em suas aventuras pela casa. Ou seja, o incentivo às brincadeiras, descobertas e diversidade de pontos de vista são constantes. Na parte das crianças, os principais amigos

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de Maluquinho são Julieta, uma menina inteligente e esperta, que ajuda o protagonista em suas aventuras e que também é o par romântico do personagem, e Bocão, um menino meio atrapalhado, mas inteligente e sempre fiel ao Maluquinho. As três crianças se conhecem desde os 5 anos de idade e estudam juntos. Os conflitos entre o trio e o mundo é um parâmetro de qualidade na ficção, pois não só tem um disparador entre crianças e mundo externo, como também entre elas mesmas.

A narrativa promove a identificação com o espectador apresentando acontecimentos cotidianos da rotina de uma criança de 5 e 10 anos de idade como, por exemplo, a necessidade de brincar, as primeiras descobertas, as frustrações de notas baixas, os primeiros amores, os famosos “porquês” de tudo. Nesse sentido, o protagonista é construído de forma que se aproxima do público intimamente. Pela forma lúdica e criativa como

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Maluquinho vê a vida, percebe-se também o apelo à imaginação da criança espectadora.

No que se refere à mensagem audiovisual, no episódio Azul, Rosa a série evidencia inovação e experimentação nas discussões. A narrativa do episódio é marcada pelo debate da sexualidade e as definições convencionais de “coisas de menino” e “coisas de menina”. Na escola de Maluquinho, os meninos e as meninas se separam, alegando que meninas não podem fazer as mesmas coisas que os meninos e vice e versa.

No decorrer da trama, Maluquinho e Julieta fazem um plano para que os grupinhos voltem a conversar e parem com a divisão. Esse episódio traz o debate das construções de gênero dentro da nossa sociedade e o desconstrói de maneira simples, quando meninos e meninas se juntam ao final, entendendo que a separação por gênero é algo desnecessário. Debate este que ocorre também na época em que Maluquinho tinha 5 anos, em que a professora ensina aos alunos como é o processo de reprodução e a importância do macho e da fêmea para a vida.

A série apresenta um elemento de criatividade na quebra da quarta parede, em que os

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personagens olham diretamente para a câmera e conversam com o espectador. Os personagens comentam as situações que estão acontecendo no momento por meio das interrupções na narrativa. Essas quebras são feitas pela maioria dos personagens, desde as crianças até os adultos.

Apesar de ser baseada em histórias em quadrinhos, livros e filmes, a ficção não possui ação transmídia ou que promova a participação do público, deixando de lado também o quesito de apelo à curiosidade.

Em suma, a ficção seriada é um sucesso de audiência com reprises em diversos canais. Explora a obra de Ziraldo, que está no imaginário brasileiro e é significativa na literatura infantil brasileira, apresenta plano de expressão e de conteúdo de alto valor, com roteiro fechado e bem direcionado, todavia, percebemos que no que diz respeito à mensagem audiovisual não propõe a participação do público ou apela à curiosidade.

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Por Pedro Martins
157 Ficha Técnica Baseado na obra de Ziraldo Autoria: Anna Muylaert e Cao Hambuger Direção: Arthur Warren, Gustavo Suzuki e Maria Farkas Período de exibição: 19/03/2006 a 10/07/2006 Temporadas: 1 Número de episódios: 26 Duração: 28min

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Observatório da Qualidade no Audiovisual

É um espaço de discussão sobre a produção audiovisual contemporânea veiculada na televisão e em outras plataformas de convergência. Desenvolve projetos que visam o levantamento, a curadoria, a análise e a crítica de conteúdos audiovisuais. Procuramos refletir, referenciar e construir um repertório de boas práticas no meio audiovisual, que discuta aspectos da qualidade que interessam ao debate sobre a importância do audiovisual e da literacia midiática no entendimento das relações entre produção, circulação e consumo na sociedade contemporânea. observatoriodoaudiovisual.com.br observatoriodaqualidadeufjf oqaudiovisual oqaudiovisual

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