Caderno Temático de Documentário

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DOCUMENTÁRIO


Expediente Os cadernos são uma publicação do Projeto Competências Midiáticas Audiovisuais: O caso de Juiz de Fora. Equipe Coordenadora Gabriela Borges Martins Caravelas Equipe Gabriel Telles Lucas Caetano Márcia Barbosa da Silva (UEPG/ALFAMED) Renata Dorea Tatiana Vieira Lucinda Vinícius Guida Diagramação Vinícius Guida

Editorial Em plena era digital nos vemos mergulhados em um mar de informações. A todo momento estamos expostos a imagens que transitam entre as experiências de visionamento do mundo e percepções mediadas. Produzimos e consumimos algo de natureza midiática a cada segundo ao enviar, receber e postar mensagens, fotografias, GIFs, memes e vídeos. É nesse contexto que se insere a literacia midiática: mais do que um campo de estudo, esse termo traz luz à necessidade de avaliarmos os conteúdos que lemos, assistimos, mas também criamos. Neste caderno, exploraremos as potencialidades de uma percepção crítica de produções audiovisuais documentais dos mais diversos âmbitos: do cinema documental aos vlogs passando pelo telejornalismo. Com proposta de interverções didáticas, o Observatório da Qualidade no Audiovisual pretende auxiliar educadores na discussão dessas temáticas junto aos seus alunos. Em que medida a realidade está contida na representação? É mais difícil perceber as ideologias inseridas no gênero documental do que na ficção? E por que e a quem isso importa? Estas perguntas sem respostas definitivas são convites para que repensemos juntos a construção de nossa sociedade. Boa leitura!


Documentário Datar o início do documentário é definir o nascimento do próprio cinema. Afinal, em suas primeiras experimentações, os pioneiros da sétima arte buscavam registrar o cotidiano, fazendo com que um ordinário vagão de trem se transformasse na mais alta tecnologia. Os filmes documentais foram importantes aliados das jornadas etnográficas, como espaço descritivo de culturas e costumes, criando desse modo uma forte relação entre a pesquisa ao auxiliar seu desenvolvimento. Sua função artística se desenrolou após a aproximação dos circos das chamadas aberrações e feiras de curiosidade voltadas para as massas. A definição de gêneros no audiovisual torna-se cada vez mais complexa: o hibridismo entre os modos de criar documentário gera também uma liberdade nas formas de contar uma história. Atualmente existem, inclusive, documentários produzidos através da animação, mostrando que o principal nessa modalidade não é a busca pela veracidade crua, mas o discurso embutido e o ponto de vista retratado na obra. Mas, afinal, o que é documentário?, livro de Fernão Ramos (2008), desdobra os elementos dessa modalidade cinematográfica tão renomada. Se na ficção temos a

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certeza da invenção de uma história, com atores e roteiro pré-estabelecidos, com o documentário tendemos a acreditar se tratar da própria realidade. Nesse sentido, a intenção do realizador está diluída e, muitas vezes, ocultada. Cria-se, portanto, uma maior necessidade de reflexão sobre a forma como o filme foi construído: desde a posição da câmera até os cortes durante as falas. Diferente de uma reportagem, o documentário não exige tantas normas ou comprometimento com o formato jornalístico. Esse espaço delicado do fazer cinematográfico reflete na criação de uma narrativa que registra uma perspectiva (do seu ou de seus realizadores) e seus desdobramentos. Os filmes-documento tangenciam diversos formatos que perpassam o clássico modelo expositivo com entrevistas, o imaginativo campo da animação e filmes experimentais. Exploram, portanto, as definições e os limites da realidade assim como delimitam os meios de capturar uma memória ou acontecimento.

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Tipos de documentário Poético Subversão das convenções da montagem em continuidade e da localização muito específica no tempo e no espaço. Prioriza, desse modo, a forma.

Expositivo Fala diretamente com o espectador contendo legendas ou narração que apresentam uma perspectiva ou argumento.

Observativo Observação com o mínimo de interferência no espaço filmado. Filmes sem narração, efeitos sonoros e, até mesmo, sem entrevistas.

Participativo O cineasta se torna um ator social no espaço que busca retratar. A equipe e o realizador aparecem nas imagens e/ou no áudio.

Reflexivo Os procedimentos da realização integram o próprio filme. Os personagens podem, também, filmar e opinar sobre a produção.

Performático Desvia-se da representação realista. Faz uso de licenças poéticas, estruturas narrativas menos convencionais e formas de representação mais subjetivas.

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Como fazer Equipe § Mediador conduz as atividades e interage com os participantes § Monitor registra as atividades em áudio, foto ou vídeo § Produtor auxilia os participantes na realização do documentário § Editor edita o vídeo produzido pelos participantes Em sala de aula as atividades podem ser conduzidas pelo professor(a) e o registro pelos alunos.

Material Filmes a serem exibidos; projetor de multimídia; caixas de som; câmeras de vídeo ou celulares; microfone de lapela; computador para edição; jogo de montagem narrativa (opcional).

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A oficina visa estimular as competências midiáticas a partir de dois pontos: a compreensão crítica e a produção criativa de mensagens. As atividades são propostas no âmbito da análise, por meio da discussão dos conceitos, e da expressão criativa, quando os participantes produzem conteúdos. 9


LEVANTAR OS CONHECIMENTOS PRÉVIOS SOBRE DOCUMENTÁRIO

ETAPAS OFICINA DE

APRESENTAÇÃO DE OUTRAS LINGUAGENS E PERSPECTIVAS

PRODUÇÃO CRIATIVA DE UM DOCUMENTÁRIO DE CURTA DURAÇÃO

DOCUMENTÁRIO

ANÁLISE DA PRODUÇÃO DOS PRÓPRIOS PARTICIPANTES DISCUSSÃO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DO DOCUMENTÁRIO 10

A Oficina visa estimular as

competências midiáticas. Para saber mais, acesse o link!

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Análise O que é documentário?

• Ação

• Ação

Apresentação do documentário Ilha da Flores (FURTADO, 1989) ou outro que combine elementos típicos da ficção com a narrativa documental. Perguntar se esse filme é um documentário. Chamar a atenção para aspectos ficcionais presentes no documentário, por meio de questões provocadoras

Esta pergunta é proposta para o grupo sem que haja qualquer indicação sobre o tema. Os participantes emitem a sua opinião e discutem sobre a sua relação com os filmes e documentários, se costumam assisti-los e de que forma o fazem.

• Objetivos Perceber qual é a relação dos participantes com o documentário, se conhecem o gênero e se são capazes de identificar suas principais características.

Obs: Se possível, anotar num quadro para todo o grupo acompanhar ou ter alguma pessoa para registar por escrito em um caderno e também tirar fotos.

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É ou não é documentário? Por quê?

• Objetivos Apresentar o papel da imagem e do som na construção da narrativa documental. Mostrar como as escolhas do diretor influenciam e o roteiro organiza a produção de sentido do documentário.

• Questões provocadoras 1. 2. 3. 4.

A encenação dos personagens é previamente combinada/roteirizada? Em que momentos a trilha sonora ganha destaque? Qual é o efeito da inserção de imagens de arquivo e animações? O que pretende o realizador ao declarar que este não é um filme de ficção?

Ilha das Flores Jorge Furtado (1989) Livre 13


Análise Representação ou realidade? • Ação Exibir o corte sugerido do filme Edíficio Master (COUTINHO, 2002) ou outro que apresente perspectivas diferentes sobre uma mesma temática. A pergunta é proposta para o grupo. Os participantes emitem sua opinião sem que haja interferência do mediador que ao final aponta as diferenças entre as narrativas.

• Objetivos Mostrar como a montagem e a seleção das fontes constroem a narrativa documental. Obs: ressaltamos que o corte foi realizado com o objetivo de causar contraste e as duas personagens não aparecem em sequência no filme original. Essa informação só deve ser revelada ao final dessa etapa.

• Questões provocadoras 1. Quais as diferenças de perspectivas entre as duas personagens? 2. O que você pode dizer sobre o tempo/lugar/cenário? 3. Se no filme as duas históras estiverem separadas isso tem que efeito? 4. Em que você acha que a mídia influencia na sua vida? 5. O que te faz acreditar em um documentário?

Edíficio Master Eduardo Coutinho (2002) 12 anos 14

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Expressão

Edição e exibição de filmes

Divisão das equipes

A edição do filme deverá obedecer às indicações dos grupos como, por exemplo, a ordem de montagem das cenas. Após a exibição dos vídeos de cada turma discutir sobre como a experiência da realização e comparar com o resultado final. Ressaltar as características documentais e os elementos das discussões anteriores presentes em cada vídeo. Discutir sobre o que gostaram na edição e o que achavam que poderia ser diferente. Também questionar sobre a realização de outra produção e o que resultou dessa experiência. Pensar para quem se dirige esse vídeo e como seria a sua recepção.

• Ação

• Ação Dividir em duas equipes e propor que uma entreviste colegas e outra professores e funcionários Dar algumas noções sobre uso da câmera, microfone e corte de cena. Sugerir que o tema do filme seja a felicidade a partir da pergunta Você é feliz?, direcionada aos entrevistados. Após a realização do vídeo, reunir as equipes para captar suas impressões, informar que a edição será feita pelo grupo e marcar o próximo encontro.

• Objetivos Levar os participantes a perceber como se produz um documentário e exercitar a linguagem da narrativa documental. Permitir a reflexão sobre diferentes perspectivas na produção dos próprios participantes.

• Objetivos Apresentar a relação entre o momento de análise e de expressão e refletir sobre o fazer audiovisual e a produção de sentido.

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O Observatório O Observatório da Qualidade no Audiovisual é um espaço de discussão sobre a produção audiovisual contemporânea veiculada na televisão e em outras plataformas de convergência. O grupo tem como foco o desenvolvimento de projetos que visam a curadoria de conteúdos audiovisuais de qualidade. Procuramos refletir, referenciar e construir um repertório de boas práticas no meio audiovisual, que discuta aspectos da qualidade que interessam ao debate sobre a importância do audiovisual e da literacia midiática no entendimento das relações entre produção, interação e consumo na sociedade contemporânea.

Para saber mais, acesse observatoriodoaudiovisual.com.br


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