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Pão
o instante, apenas ele, de quem se vai para quem fica. apenas o instante, ou uma série dele, desconexos, tentando ainda algum abraço possível: 500g de farinha de trigo 400g de água morna, 1 colher de chá de sal, 10g de fermento. também uma metade de pipoca doce e a outra salgada, as canções sem razão, que já não há vontade, somente a dança das cadeiras a vigiar o acordo com a brisa. um. coloque a farinha em um recipiente grande o suficiente para misturar todos os ingredientes. pensava em um Deus possível com as mãos grandes a mover o trigo, a água, lento formulando os contornos, preenchendo os espaços com uma massa bíblica. dois. em outro recipiente adicione a água morna, o sal e o fermento. mexa bem até diluir todo o fermento e o sal. o sal que conserva a carne.
o sal que retira a umidade. o sal que inibe o crescimento dos microrganismos [de ação bacteriostática e bactericida: o sal despejado aos poucos sobre a rã: vós sois o sal da terra. três. acrescente o preparado anterior ao recipiente que contém a farinha. como acrescentar ao que se foi o que fica e pulsa, e salta, recebe o sol de toda manhã? quatro. misture bem todos os ingredientes com o auxílio de uma colher grande. [não é necessário amassar com as mãos, basta mexer bem, até que a farinha esteja diluída na água sêmen sangue suor lágrima a compor o rio da minha aldeia. cinco. cubra a massa com um pano, deixe levedar por cerca de uma a duas horas. morrer é não aceitar a espera, não entender o silêncio que a forma dispersa, cobrir com um pano e não saber o porquê. seis. entretanto preaqueça o forno e um tacho de ferro ou barro que vai cozer o pão a 200°C [esse passo é bastante importante antes de colocar a massa. de quem se foi guardou-se conselhos, os tons da fala em uma manhã de domingo.
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de quem ficou imagina-se o afeto da falta, se é sentido por quem partiu: um fim dado a um lapso metafísico descuidado, acenando, sorrindo. sete. no tacho coloque um pouco de farinha antes de pôr a massa para que não agarre.talvez tenha sido na juventude um amador, tão bom que não soube perceber o limite a separar o perder e o deixar ir, agarrado a um dos lados da ponte ameaçou jogar-se no rio inculto daquele dia, ou não, talvez as palavras ganharam volume e forma distintos nos anos, talvez a falta faça folhas secas saltarem. oito. faça um corte na parte superior da massa.que há uma forma simples de vencer a dor, que há um tom normal de acolher o grito, que há uma didática natural para aceitar o não estar do outro agora. abraço. abraço os cortes, os talhos, a vaga ideia do que seria a paz. nove. acrescente a massa, feche o tacho e deixe cozer durante meia hora.passado esse tempo retire a tampa e cozinhe por mais quinze minutos.depois deixe arrefecer
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