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Onze de julho de 2019

Ele gracejava em tom de esperteza o seu desenrolar com as vendas, baixa estatura, bem franzino: — Tia, prefiro vender minha mercadoria escondido no shopping. Aqui, o que vendo de R$1, lá eu vendo de R$2!

Muita gente no ônibus achando lindo, romantizando, e eram 20h no buzu, vendendo na Paralela. Uma senhora exclamou: — É digno, ele poderia estar nos assaltando!

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Meu olho nem revirava mais, só faltou sair da caixa. Poderíamos pensar múltiplas teorias: quem sabe ele ajuda a sustentar a casa, não estuda, tá ali por diversão (tem gente louca que já ouvi falando isso), mas a história que trago aqui hoje é velha para os nossos olhares. Antepassados, pais, conhecidos que passaram por isso. Sem espaço para cumprir o tempo certo de despertar o ser brincante. Tem gente que aplaude: “Que pessoa esforçada!”, mas esforçado é um termo que deveria ser abolido dos dicionários, remete à escravidão, à servidão sorrateira e costumeira fixada neste país de tanta gente medíocre, às vezes periférica e que acha que é burguesa. Foda-se sem licença poética e pouco respeito aos ouvidos da sensibilidade. Tudo é muito subliminar ultimamente, caríssimos. Segura o rojão que vai ser pesado, se apegue à sua crença ou descrença, porque como Gonzaguinha pensava

na “pureza da resposta das crianças”, eu penso como nós, educadores, conduziremos esses jovens no futuro. Como vou encarar a sala de aula hoje?

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