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Quatorze de março de 2019

Sobre a rainha das tretas matinais. No movimento rotineiro de remexer as cadeiras, no sobe desce, lá vou eu entrando no buzu e de repente minha bolsa térmica abre, quase derrubando o alimento sagrado da guerra diária. Aí um gaiato exclama: — Cheirou, cabocla! E deve ser um bife suculento!

Um show de risada, e eu bem bicuda e desaforenta dei aquela olhada segura, arrancando os óculos escuros como protagonista de filme hollywoodiano. Não satisfeito, outro cara disse: — A cabocla tem olhar de matadora, Deus é mais!

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Parece que a gaiatice transborda nesse dendê aqui. Achando pouco, ele continuou: — É, ela é indígena, você viu que tem uma parada amarela na marmita, deve ser cuscuz.

Novamente o povo gargalhando. Eu não me aguentei de rir e ele continuou: — Tem espírito de pedreiro, apesar de ser meio madame! Mistura a porra toda para pegar a sustância, retada!

Eu pensando nesse papo miscigenado, regateiro... É verdade, a comida conta muito de que lugar cada qual é... Na hora de descer:

— Olhe, nega, venha de novo com essa marmita incendiária e traga caruru que amanhã é sexta!

Desço morta de vergonha, saculejando meu almoço, que realmente é bife com cuscuz. Ah, minha Salvador!

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