2019 - Notícias - Julho/Agosto

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as distâncias para celebrar o encontro sempre transformador. Quando se faz diálogo não permanece como é: áreas interiores que ficavam às sombras até aquele momento, ignoradas por nós mesmos, vêm à luz. Quem dialoga cresce no conhecimento de si mesmo antes de conhecer o outro, acolhe a própria unicidade e a oferece sem alguma pretensão. Nada é mais contrário ao diálogo do que o espírito de prepotência ou de revanche. Nada de mais propício à pequenez que não causa medo, da simplicidade que não engana, da pureza que liberta da suspeita de ambiguidade e de subterfúgios. O diálogo não instrumentaliza o outro. Clara e as irmãs que na existência cotidiana atravessam os gargalos da discórdia e da divisão, da inveja e da murmuração, com o perdão, a reconciliação e a intercessão abrem os espaços da acolhida e da comunhão (cf. Regra de Santa Clara X,6; IX,7-11). As cartas escritas a Inês de Praga são testemunhos de quanto Clara fosse disponível e pronta para entrar em diálogo com o outro, quanto ela era convicta que na partilha fraterna pode-se compreender melhor o que agrada a Deus e fazer-lhe adesão. Clara escuta as questões de Inês e as responde (cf. III Carta 29-41); convida a irmã de longe a buscar por sua vez o diálogo com quem pode iluminá-la de acordo com a verdade da vocação recebida (cf. II Carta 15-18), a fim de percorrer com segurança o caminho dos mandamentos do Senhor (cf. II Carta 15). Clara sabe traduzir o seu “habitar” na comunhão trinitária também no diálogo dos

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gestos: fazer dar um ovo à irmã tentada de sufocar-se, beijar o pé que a atingiu na face, cobrir as irmãs que dormiam no frio durante a noite, traçar o sinal da cruz sobre seus corpos adormentados... O caminho do diálogo conduz a abraçar o outro.

No diálogo, a nossa história No início da história carismática de nossa Família Franciscana existem dois diálogos memoráveis: aquele entre o Senhor e Francisco na noite de Espoleto, prolongado depois na gruta perto de Assis (cf. 1ª Celano 6), e aquele entre o Crucifixo e Francisco na Igreja de São Damião (cf. 2ª Celano 10). Uma das viradas determinantes nesta história foi impressa sem dúvida pelos vários diálogos entre Francisco e a jovem Clara (Legenda de Santa Clara 3). Como não pensar, pois, que todos nós nascemos na Porciúncula, em Santa Maria dos Anjos, cuja festa nos faz ouvir de novo o diálogo entre o anjo e Maria, aquele diálogo que marcou o tempo no qual o Senhor “empenhou-se em salvar-nos” (Cf. Compilação de Assis 14). Tudo me leva a renovar junto com os frades o desejo e o empenho para ser com a nossa vida “lugares” de encontro com a Palavra de Deus e com as palavras dos seres humanos. E peço a vocês, minhas senhoras, que continuem a ser mulheres de diálogo, em nome do Senhor.

Roma, 25 de julho de 2019

Festa de São Tiago

Frei Michael Anthony Perry, ofm Ministro Geral e Servo Prot. 109202 www.OFM.org

Capa: Santa Clara. Atribuído à escola de Parmigianino, Mosteiro Santa Inês, Florença.

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