William James, a construção da experiência

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pragmatista. A ideia não é mais definida como uma representação ou uma modificação da mente, mas como um processo através do qual a mente se produz. Esse já era o tema dos avanços essenciais da psicologia, por volta dos anos 1880-1890.6 Nos Princípios de psicologia (1890), as realidades psicológicas são tratadas como fluxos que se cruzam e se interpenetram num verdadeiro “emaranhado”. A consciência não se define como uma realidade substancial, nem mesmo como um ato reflexivo; ela é o movimento daquilo que se torna consciente. Ali está demonstrado, na verdade, como a consciência não para de traçar seus limites no pensamento, como ela se estende ou se contrai fora do inconsciente que a contorna. O mesmo movimento é retomado mais tarde (por volta de 1904), porém bem mais amplificado, quando James instaura o “empirismo radical” e introduz a noção de experiência pura. Trata-se dessa vez de mostrar que existe um plano de pensamento que precede todas as categorias psicológicas ou filosóficas tradicionais e que estas últimas, longe de serem constitutivas, devem, pelo contrário, ser constituídas a partir desse plano. O sujeito, o objeto, a matéria e o pensamento são descritos não como dados ou formas a priori, mas como processos que se formam no pensamento ou fora dele. Tanto no plano psicológico como no plano filosófico, destacar o movimento daquilo que está sendo feito implica, a cada vez, uma crítica das formas nas quais costumamos distribuir com antecedência os fluxos de vida, de pensamento e de matéria. Se o empirismo radical é a filosofia de James propriamente dita, o que dizer então do pragmatismo? O pragmatismo não é uma filosofia. Como em Peirce, ele é um método, apenas um método, cuja máxima geral, tomada de empréstimo a este último, é a seguinte: “não há 6. James nasceu em 1842. Orientou-se primeiramente para os estudos de fisiologia e de medicina; mas, sob influência de Wundt e de Helmholtz, que admirava, voltou-se para a psicofisiologia. A partir de 1877, tornou-se professor, publicando seus primeiros artigos importantes. A maioria dos artigos desse período, reformulados, resultou, ao fim de doze anos de trabalho, na publicação de Princípios de psicologia (1890) ao qual se seguiram A vontade de crer (1897), Variedades da experiência religiosa (1902), Pragmatismo (1907), O significado da verdade e O universo pluralístico (1909). James morreu em 1910 em decorrência de problemas cardíacos, deixando uma obra inacabada (Alguns problemas de filosofia) e uma série de artigos reagrupados sob o título Ensaios em empirismo radical.

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