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George Bosela/Stockshing

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER – ANO IV – NÚMERO 31 – CURITIBA, SETEMBRO DE 2013

Douglas Rengel

Lixo que dá o que comer

Eles ganham a vida com recicláveis págs. 6 e 7

“Não somos invisíveis”

Prédios de cara nova

Espaço multicultural

Garis contam como enfrentam o preconceito no dia a dia. pág.9

pág.5

Projeto “Motion Layers” leva mais cor e arte aos edifícios da cidade.

pág.10

Bandas de garagem e canja de viola se encontram no mesmo lugar.


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Número 31 – Setembro de 2013

OPINIÃO A edição 31 do jornal Marco Zero vai contar a história de algumas pessoas que percorrem o centro de Curitiba recolhendo lixo reciclável. Uma delas é Beatriz, que vai para as ruas acompanhada de suas duas filhas, de oito e três anos de idade, e da sobrinha, que tem cinco anos. Outras pessoas que também trabalham com lixo são os garis. Nesta edição, duas delas, que atuam na praça Tiradentes, contam como convivem com o preconceito no dia a dia. Apesar da invisibilidade e da indiferença, há também o lado bom da profissão. Onofra, inclusive, disse que sempre quis ser gari. Na página 9, você vai ver um projeto que está levando mais cor e arte para espaços que até então não eram muito percebidos: as laterais dos prédios. O “Motion Layers” utiliza a técnica do stêncil, e os dois murais que já estão prontos homenageiam o cinema e a música. Além disso, há também um resgate da história do Teatro Universitário de Curitiba, Ensaio Fotográfico, Crítica de Cinema e muito mais. Boa leitura!

Equipe Marco Zero

O Marco Zero

Expediente

Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome, por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.

Vidas em troca de poder político Fran Bubniak

Artigo V Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo XXI 1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. [...] Artigo XVIII Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.”

Letícia Ferreira

O

s trechos acima fazem parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos que foram cruelmente infringidos na Síria na noite do dia 21 de agosto de 2013. O ataque químico, no subúrbio de Damasco, deixou a humanidade, em plena Era Moderna, perplexa com a crueldade cometida. A cidade mais antiga habitada no mundo foi bombardeada com uma chuva de mísseis de gás sarin. Cerca de 2,5 mil pessoas, entre jovens, crianças e idosos, morreram em menos 24 horas. Sem ter a chance nem ao menos de serem atendidas, as vítimas que não morreram na hora do bombardeio ficaram amontoadas agonizando no chão. Fotos e 13 vídeos divulgados pelo Comitê de Inteligência do Senado Americano revelam o que se pode afirmar como o fim de qualquer esperança de um sistema democrático, e a perda do sentido de líderes ou de um presidente para se manter no poder ou lutar por obtê-lo. A vontade de vencer superou a importância da vida no conflito político entre militantes ligados a Al Qaeda, a Irmandade Mulçumana, e o sistema autoritário do presidente

O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter

Diagramação: Cíntia Silva e Letícia Ferreira

Coordenadora do Curso de Jornalismo: Nívea Canalli Bona

Projeto Gráfico: Cíntia Silva e Letícia Ferreira

Professor responsável: Roberto Nicolato

O que você acha dos motoristas de Curitiba?

“Artigo III Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Bashar al-Assad. A luta pelo poder na Síria teve seu início em 2011, sendo que cerca de 100 mil pessoas já morreram e milhões fugiram. Não foi a primeira vez que os sírios sofreram com armas químicas, pois, segundo investigações do Comitê de Inteligência do Senado Americano, houve três ataques pequenos semanas antes. Porém, mesmo ciente deste uso, as forças norte-americanas fecharam os olhos e deixaram um ataque maior ocorrer. O que não surpreende, visto que as consequências políticas geradas por este ataque químico tomou proporções mundiais e, como esperado, a ONU mostrou como seu grande poder é simbólico e figurativo. Mesmo tendo provas concretas não pôde fazer nada, teve dificuldades em entrar na cidade e em ter acesso às vítimas. A guerra foi a grande solução pensada, não pela ONU, mas pelo país que mais se beneficia com guerras no mundo. Essas foram as palavras em um discurso todo cheio de humanismo do presidente que ganhou as eleições nos EUA com a promessa de retirar os soldados do Iraque. Porém, os cidadãos americanos não estão mais se convencendo por discursos bonitos, e mais de 50% da população rejeitou a hipótese de guerra, mesmo sendo com ataque em pontos estratégicos e específicos. A solução que irá ajudar realUninter Rua Saldanha Marinho, 131 CEP 80410-150 – Curitiba-PR E-mail comunicacaosocial@grupouninter.com.br

Telefones 2102-3336 e 2102-3377.

mente os sírios veio da Rússia, que propôs uma negociação: a entrega das armas químicas. O que derrubou totalmente a proposta de ataque do governo norte-americano que iria se beneficiar junto com a Comunidade Europeia nas relações internacionais sobre o petróleo e na indústria bélica. Assad confessou o uso de armas químicas para o governo russo, porém não assumiu a culpa do ataque na cidade de Damasco e acusou os militantes de terem cometido o massacre para culpá-lo. Mas, segundo informações da Inteligência Americana, houve uma reunião que Assad havia realizado com seus militares e que teria dito: “Quero realizar um acordo de paz sendo vencedor de uma batalha rápida e com grandes proporções”. Os sírios, mesmo tendo todos os seus direitos humanos infringidos, ainda sonham com um país onde eles possam viver em paz, e que seus filhos possam ir à escola e voltarem com vida. A opinião popular que está na linha de fogo do conflito se divide, uma vez que alguns acreditam que os americanos devem tomar o poder para que não ocorra outro ataque. A outra metade da população crê que retirando as armas, eles ficam livres de ver seus irmãos morrerem, e serem enterrados sem os rituais sagrados. Mas o pedido unânime é paz. Melhor jornal-laboratório do Paraná em 2010: primeiro lugar no Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná

Reprodução

Ao Leitor

Os motoristas são muito apavorados. Por qualquer coisa, eles estão buzinando, Rubens de não são legais. Souza, 32 Alguns motoanos, empreristas são bons, sário. outros são ruins, mas a gente vai levando. Tem que ter paciência, coisa que eles não têm.

Ketlin Jeane Gomes, estudante de Publicidade e Propaganda.

Depende muito da pessoa e do dia. Quando chove, eles não respeitam, acabam fazendo o que não devem, e em dias de sol eles são mais tranquilos.

Eu sou usuário do transporte público, e acho que varia muito do motorista. Tem uns que Diogo Andreato respeitam, não Oliveira, 19 anos, estudan- passam em sinal amarelo, te de Publicie param antes dade. da faixa de pedestres para eles atravessarem, e tem motorista que não está nem aí para nada, avança sinal, desrespeita o usuário, dá freadas bruscas e trata o usuário como lixo dentro do ônibus. Alguns motoristas ficam muito nervosos, muito agressivos. Eu acabei de Elisson Raul Maia, 18 anos, tirar a minha Monitor de te- carteira, e leatendimento. vejo que um simples erro num semáforo faz com que eu receba várias buzinadas. As pessoas não têm mais paciência, não têm mais a calma que é necessária no trânsito. O motorista curitibano está ficando cada vez mais sem paciência.


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Gênero ou transgênero?

Divulgação

PERFIL

Diferenças? Apenas na cabeça dos outros. Bilobran

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m 22 de outubro de 1954, nasceu o menino Geraldo Eustáquio de Souza, nome herdado do admirado pai. Pelo menos foi o que médico disse: É um menino.

Porém, aos quatros de idade, Geraldo já percebe que tem algo diferente com ele; não se interessa muito por carrinhos, as bonecas são muito mais interessantes... Mas porque um menino iria gostar de bonecas? “Porque eu adoro banhá-las”, diz Geraldo. Mas espera aí, menino brincando de boneca? Não seria carrinhos ou bola o correto? Mas existe correto? Não. Geraldo gosta de bonecas e morre de vontade de aprender a dançar balé. Seu maior sonho é de um dia acordar e estar tudo em ordem, ou seja, estar com um corpo que seja o reflexo de seus sentimentos e anseios, sem ser censurado. Esta situação não é invenção da mente brilhante e criativa da pessoa que voz fala. Esta circunstância é real, muito real. Mais do que a maioria das pessoas imaginam. Geraldo, na verdade, é Letícia Lanz, hoje com 62 anos. Ele passou 50 anos de sua vida sendo algo que ela não sentia ser. Depois de uma adolescência difícil, casou com uma mulher. Nunca sentiu-se atraído por homens, nunca teve nenhum tipo de relacionamento homoafetivo. “Fui educado para ser um herói masculino e nunca me adequei. É muito difícil para um homem aceitar que não se enquadra nas

go, clientes, profissionalmente ficou numa pior. Apesar do estranhamento, seus filhos nunca deixaram de amá-lo e respeitá-lo como pai. Deu a volta por cima de todas as dificuldades, enfrentou o mundo para ser que ela realmente é, e hoje apesar de encarar o preconceito de uma sociedade que tem problemas em aceitar o que é “diferente” , Letícia se diz uma pessoa realizada, tem uma família que a apoia, voltou a trabalhar, atua como psicanalista e

As meninas gostavam da minha companhia, mas nenhuma queria namorar comigo. Eu já era um tanto afeminado, mas não me interessava por meninos, nunca fui homossexual, sempre gostei de mulheres, sou uma transmulher lésbica!!

(in)tolerância do stablishment nacional pela ‘diversidade’ e pela ‘diferença’ – seja diferença do que for.” Marco Zero : Com que idade percebeu que tinha algo diferente? Letícia: Aos quatro anos de idade eu já sabia que eu não era menino. Muitas vezes eu ia dormir pensando que acordaria no dia seguinte e tudo estaria certo, meu corpo seria como eu me sentia. Como foi a sua adolescência? Fui uma criança muito bonita, cresci ouvindo: É tão bonitinho que parece uma menina”, imagine a adolescência?! As meninas gostavam da minha companhia, mas nenhuma queria namorar comigo. Eu já era um tanto afeminado, mas não me interessava por meninos, nunca fui homossexual, sempre gostei de mulheres, sou uma transmulher lésbica! - brinca Letícia.

Cláudia Bilobran

Claudia

tradições e no que se espera dele”, afirma. Constituiu família, teve três filhos e um neto. É economista e psicanalista muito requisitado. Estudou nas melhores escolas, fez especializações no Japão. Muitos empresários já dependeram de suas opiniões e pareceres para fechar negócios ou melhorar suas empresas. Mas apesar do casamento bem estruturado, uma família unida e sucesso profissional, Geraldo não conseguia ser completamente feliz. Sentia que estava em uma condição de gênero errada, e isso o incomodava muito, pois ele não se sentia verdadeiro. Depois de muito sofrimento calado, um infarto que quase o levou à morte resolveu ser quem ele realmente era. No início foi muito difícil para sua esposa que, com muito amor e compreensão, acabou entendendo o que se passava com Geraldo, que na verdade é Letícia. A mulher de Letícia, A. D., tem 58 anos e é psicóloga. Conta que quando o marido teve uma crise e saiu de casa, há oito anos, ela achou que ele estava com outra, até que conversaram. “Meu marido não tem outra, ele é a outra. Fiquei tranquila”, diz, bem humorada. Foram tempos difíceis, bem difíceis, pois como se apresentar vestido com roupas femininas perante toda a família? E no trabalho? Perdeu o empre-

Letícia: “Meu marido não tem outra. Ele é a outra”

faz palestras sobre transgêneros. Atualmente é uma das estudiosas da teoria Queer. Sobre o que os outros pensam dela, ela diz: “Reconheço perfeitamente o mal-estar (marca registrada de transfobia e identidade de gênero mal-resolvida) que a minha presença pode causar no “conservadorismo bem-comportado” das organizações, tanto em função do meu discurso libertário quanto em função da minha indumentária, digamos, pouco adequada à “seriedade” do ambiente. Se os meus alargadores na orelha e o meu piercing no queixo já eram sérias restrições à minha contratação, o uso de roupas femininas ultrapassou todos os limites da

Sua família, como reagiu? Apoiou? Só me aceitei realmente aos 50 anos. Foi muito complicado, pois eu cresci como homem e me relacionei com mulheres. Sou casado há 35 anos com a mesma mulher, tivemos três filhos e temos um neto. Foi um choque muito grande para a família toda, mas sempre existiu muito amor entre nós e, apesar das dificuldades, que não foram poucas, eles me apoiaram e apoiam muito até hoje. Como você se “relacionava” com seu corpo? Nunca tive problemas com o meu órgão genital, mas sentia que faltava alguma coisa, quando coloquei os seios, me senti completa. E essa ideia de que a pessoa nasce no corpo errado, você concorda?

Pintura do colombiano Fernando Botero

Papo furado, ninguém nasce no corpo errado, pois é uma questão de aceitação própria e da sociedade. Quando nascemos não temos escolha. Já caímos em uma família que tem uma religião definida, uma postura política e quando o bebê vem ao mundo, se tem um pênis é definido como homem e se tem vagina é mulher. E isso define o que o indivíduo vai gostar, mas não é assim que acontece, já que isso não define o que o indivíduo vai gostar ou como ele vai ser. O ideal seria poder expressar o gênero com o qual a pessoa mais se identifica e no qual sente-se mais confortável. Poder vestir e se comportar do modo que melhor expresse a sua identidade, sem ser vítima de avaliações e julgamentos hostis e preconceituosos baseados na crença absurda de que deve existir um corpo adequado a cada tipo de roupa - e não o contrário. Defendo pura e simplesmente o direito de livre expressão dos indivíduos, amplamente assegurado na nossa Constituição e que, naturalmente, pressupõe a livre expressão de gênero (e sexualidade!) de cada e de todas as pessoas. Qual o conselho que daria para quem se encontra em uma situação igual a sua? Não vai ser fácil, mas se é isso que te deixa feliz, corra atrás e orgulhe-se dos seus desejos, em vez de se envergonhar deles. Corra atrás deles, em vez de se sentir envergonhada e culpada por eles estarem na sua vida. Abra-se para o mundo, seja a pessoa que você é, viva a sua verdade, em vez de refugiar-se em religiões-armário, com medo de ser punida pelo fato de estar viva e querer lutar pela sua felicidade. Aproveite a sua vida, pois ninguém está aqui para sofrer, mas para viver, crescer, amar, rir, criar e ser muito feliz.


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CIDADE

Janaina Menegusso

Sábado é dia de feira de orgânicos

Produtos de uma das barracas da feira orgânica no Passeio Público

Os curitibanos têm encontro marcado todos os sábados pela manhã no Passeio Público onde acontece a tradicional Feira de Orgânicos Janaina Menegusso

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inco horas da manhã. Esse é horário que Rosemeri Ribas Danrat, agricultora familiar há mais de 15 anos, chega ao Passeio Público para montar a barraca e deixar todos os produtos arrumados para os clientes. Rose, como é chamada, trabalha 12 anos na tradicional Feira dos Orgânicos, que acontece todos os sábados pela manhã naquele parque. Ela e sua família vivem das vendas de hortigranjeiros produzidos na Região Metropolitana de Curitiba, onde também moram. Tudo que produzem conseguem vender. “A procura por alimentos saudáveis, sem agrotóxico, é grande por parte do curitibano”, afirma, lembrando que cada vez mais a população está em busca de alternativas de qualidade de vida. A venda de produtos orgâni-

cos começou em 1989 em apenas três barracas junto à Feira do Artesanato no Largo da Ordem. Em seis de julho de 1993, foi oficialmente denominada de Feira Verde com, então, oito barracas, e em 2005 passou a ser chamada de Feira de Orgânicos, atualmente com um número um pouco maior, 23 barracas, que são montadas no Passeio Público.

Falta de estacionamento Rosemeri Ribas diz, no entanto, que a maior preocupação hoje dos produtores não são os moradores de rua, a prostituição ou a falta de segurança, e sim a ausência de estacionamento para os clientes. “Claro que temos aqueles que vêm de bicicleta e até mesmo a pé. Certamente são privilegiados com isso, mas têm os que moram longe e precisam do carro. Aí sentem dificuldades para achar lugar para deixar seus veículos. Isso acaba fazendo com deixem de vir prestigiar o Passeio Público e a feira também”, lamenta.

Ozir Natal dos Santos, 54 anos, produtor orgânico, há 20 anos vende produtos na feira e chegou a participar de sua abertura quando ainda era no Largo da Ordem. Ele diz que tudo mudou muito desde aquela época. “O parque era todo aberto, pouca segurança. Às vezes tínhamos que correr atrás dos marginais que atacavam as senhoras que faziam compras. Agora com o modulo policial aqui e o parque todo fechado temos mais segurança. Não totalmente, mas está bem melhor,” comentou. Ozir Natal e a mulher Sandra

Eu venho todos os sábados. A qualidade dos produtos, a simpatia dos feirantes, tudo é muito bom Marli de Campos, aposentada

Mara Ribas dos Santos, 51 anos, foram coordenadores por 12 anos da feira. Em 2000, Sandra recebeu um prêmio entregue pelas o rg a n i z a ç õ e s das Nações Unidas (ONU) referente ao projeto desenvolvido por mulheres agricultoras, voltado para a melhoria da produção agrícola e das condições de trabalho no campo. Ela foi a primeira mulher brasileira a receber esse prêmio, com projeto sobre plantação de alimentos sem agrotóxicos. Os produtores também gostariam que houvesse um aumento do número de frequentadores do local. Mas para isso, é necessário mais divulgação daquele espaço, segundo afirma Claúdia Capeletti, feirante há 13 anos, e coordenadora da Feira de Orgânicos. “Tínhamos que ter um espaço na mídia para que esse projeto seja mais visto pelos curitibanos”, aponta.

Sonia Gutierrez, empresária, 57 anos, compra produtos há mais de 15 anos. “Os curitibanos são mesmos privilegiados, por terem um espaço como o Passeio Público. O incentivo é muito bom, o agricultor pode ter esse espaço para mostrar seu trabalho no campo e oferecer produtos de ótima qualidade,” relata. Ela considera um absurdo as pessoas que moram próximo virem de carro. “Por que não vêm de bicicleta, de ônibus?. É muito mais saudável”, ressalta. “Eu venho todos os sábados. A qualidade dos produtos, a simpatia dos feirantes, tudo é muito bom. Costumo dizer que passear aqui, conversar com as pessoas, é um remédio pra mim”, afirma Marli de Campos, aposentada, 58 anos, e frequentadora há mais de 15 anos da feira. “Mesmo com a dificuldade que enfrento para deixar meu carro, não deixo de frequentá-la”, garante.


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Para muitos, eles são invisíveis

O alimento das ruas

Andrade

Jussara Andrade

Jussara

Vendedores ambulantes oferecem opções de comida rápida na região central Vinícius Garcia

Profissionais da limpeza no centro de Curitiba convivem diariamente com todo o tipo de preconceito

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porque há coisas boas em ser gari. Situações curiosas fazem parte do dia a dia dessas pessoas. Idilia descreveu um episódio em que achou uma quantia em dinheiro na rua. “Já encontrei 200 reais, há 14 anos. Estava no meio fio. O dinheiro eu gastei, não tinha dono. Estava sem documento”, conta. Para Onofra, que sempre quis ser gari, essas dificuldades são superadas de certa forma, pois é uma coisa que lhe agrada. “Gosto de trabalhar na rua, eu via os outros e imaginava que fosse bom”.

Idilia Machado de Lara, 60 anos (acima) e Maria Elisabeth da Silva, 48 anos. Ambas são gari na região da Praça Tiradentes, no Centro. Jussara Andrade

les saem cedo de casa quando muitos ainda estão dormindo. Enfrentam o trânsito caótico da capital para chegar no horário certo ao trabalho. Com vassoura, pá e um carrinho para coletar o lixo, os garis, profissionais da limpeza, têm a tarefa de todos os dias manter a cidade limpa. São pessoas anônimas à procura de “restos” que a sociedade despeja nas ruas. Idilia Machado de Lara, 60, é gari há 19 anos, por acaso. Um dia andando na rua, desempregada, encontrou a filha de uma amiga que comentou sobre a vaga de emprego no qual trabalha até hoje. Ela relata que sua profissão é respeitada por boa parcela das pessoas, contudo, ainda há aqueles que a discriminam, muitas vezes pelo traje. “Tem gente que passa por nós e tampa o nariz. Não somos sujos, trocamos o uniforme duas vezes por dia, mas tem gente que tem nojo”, comenta. A mesma situação é vivida quase todos os dias por Maria Elisabeth da Silva, 48, que se tornou gari por falta de oportunidades, uma vez que não frequentava a escola. Ela também relata sofrer preconceito da sociedade em relação ao seu trabalho. “Às vezes passam esbarrando na gente, como se não nos vissem”, desabafa. As dificuldades enfrentadas por esses profissionais não giram em torno apenas do preconceito. Dias de chuva são dias árduos de trabalho. Onofra Alves, 57, trabalha há 25 anos como gari, limpando ruas em Curitiba e comenta que a chuva dificulta a tarefa. “Dia de chuva não dá pra trabalhar, tem que esperar a hora de ir embora ou de parar”. Maria também sente na pele a mesma dificuldade. “A gente se molha, começa a chuva, tem que ficar parado, é cansativo. Temos a capa, mas mesmo assim...”. Apesar do preconceito e da invisibilidade, esses profissionais gostam da profissão que exercem

Quem se lembra do caso Boris Casoy? O preconceito com garis é um problema enfrentado por esses profissionais por todo o país e das mais diversas formas. Sofrem discriminação não só nas ruas, mas também na TV, que também já foi palco de um ato parecido com os relatados na matéria. No dia 31 de dezembro de 2009, garis participaram de uma vinheta de Ano Novo veiculada num telejornal da TV Bandeirantes, quando o então apresentador ofendeu um deles, sem perceber que o áudio estava aberto, com a seguinte frase: “Que 'm...': dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo da escala do trabalho”’. O áudio repercutiu na mídia e Boris Casoy e a TV Bandeirantes foram na ocasião condenados por lei a pagar o valor de R$ 21 mil ao gari que sofreu o insulto.

Vinícius Garcia

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uem nunca andou no centro e comeu uma pipoca ou um cachorro-quente na barraca de rua? Há anos o curitibano é acostumado a fazer um lanche rápido pelas ruas, devido ao seu tempo sempre corrido. Normalmente, olhamos e conversamos superficialmente com as pessoas responsáveis por esta alimentação fast food, mas desde muito tempo elas estão ali, no mesmo local, com seu carrinho, ganhando o seu dinheiro vendendo comida. A vida de um vendedor ambulante é corrida, pois precisa acordar cedo para estar sempre a postos da população que vem para o trabalho, ou então de quem está voltando, mais à tarde. César José, vendedor ambulante há mais de 30 anos, conta que Curitiba é um local excelente de trabalho, por apresentar regulamentação para o exercício da profissão. “Olha, faz mais de 30 anos que estou aqui nas ruas vendendo minhas comidas, tapioca, coco gelado, e eu te afirmo que Curitiba é o melhor lugar para este tipo de profissão. Aqui não é simplesmente ter um carrinho e sair pra rua. Existe uma lei, a profissão é regulamentada e todos devem segui-la. Todos os dias de manhã, a fiscalização passa aqui fazendo

César José, vendedor ambulante há mais de 30 anos

uma chamada tipo de escola, e se você faltar por 15 dias, está fora”, disse César, que ainda comentou do tempo que ganhou para a família ao exercer esta profissão. “Eu consegui trabalhando, como vendedor ambulante, dar um grau de instrução para meus filhos melhor do que o meu, não pelo salário que tiro, mas por poder ter tempo de conviver com minha família e conduzi-la pelo melhor caminho”, finalizou o vendedor.

Todos os dias a fiscalização passa aqui, e se você faltar por 15 dias está fora. César José, vendedor A vendedora de pipoca, Adriana Del Valle, conta que apesar de ser bom sempre ver pessoas diferentes e não ter pressão, o clima prejudica muitas vezes o serviço. “Estar sempre vendo pessoas diferentes e não ter a pressão no trabalho é sempre uma coisa muito gostosa, só que o clima faz com que trabalhar na rua se torne ruim por algumas vezes. Nestes 15 anos que estou de vendedora ambulante, ficar sempre exposta ao tempo me fez pegar problemas de saúde como bronquite, então o clima muitas vezes atrapalha a saúde e o trabalho”, afirma Adriana.


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George Bosela/Stockshing

ESPECIAL

Eles cuidam

Marginalizados pela sociedade, os cata da coleta de materi

Dados do lixo em C

De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente toneladas de lixo. Há uma década, eram 31,7 mil toneladas. aumentou cerca de 10%, o volume de lixo doméstico cresceu forço realizado pelos catadores e serviços municipais de cole apenas 22% de todo o lixo produzido em

Douglas

Jennifer Pulcinelli

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ocê já se perguntou quanto produz de lixo por dia? A resposta é em média 2,3 quilos. Agora multiplique esse número por 1.848.943 habitantes – população de Curitiba, estimada pela Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE. A conta passa de 4 mil toneladas de resíduos produzidos diariamente na capital paranaense.

Curitiba tem cerca de 15 mil carrinheiros pelas ruas da cidade, que tiram do lixo o sustento de suas famílias. Mesmo prestando um serviço indispensável para o meio ambiente, muitas vezes acabam sendo descriminados e marginalizados pela sociedade. Isso porque as pessoas não se dão conta que esses trabalhadores são os maiores responsáveis pela coleta de lixo reciclável na capital paranaense. A equipe do jornal Marco Zero saiu às ruas do centro da capital para conhecer o dia a dia de homens e mulheres que percorrem a cidade em busca do seu sustento. Beatriz Garcia, 56 anos, catadora, que estava acompanhada das duas filhas, de 8 anos e 3 anos, além da sobrinha de 5, sai de sua residência na Vila Capanema, com seu carrinho às 14 horas em direção ao centro da cidade. E só retorna quando este está cheio, quase sempre já no meio da noite. Durante o percurso, ela depende da ajuda e boa vontade de pessoas que lhe trazem comida, e às vezes, algumas moedas. Seu único medo é em relação à segurança das filhas. Quando questionada sobre o que planeja para o futuro, ela não vacila: “Já perdi a oportunidade de fazer planos, só rezo pra que o lixo continue dando o que comer pra mim e pras meninas”. Com uma rotina diária exaustiva, famílias inteiras são flagra-

Fotos: Douglas Rengel

Rengel

já perdi a oportunidade de fazer planos. Só rezo pra que o lixo continue dando o que comer pra mim e pras meninas” Beatriz Garcia, catadora das puxando carrinhos cheios pelas ruas da região central da cidade, como por exemplo, a de Mariele Terezinha Moreira, 21 anos, catadora, que trabalha com seu esposo e o filho de apenas 4 anos. Desde a gestação da mãe, o pequeno Mateus Moreira acompanha a luta dos pais diariamente com a coleta de lixo nos comércios do cento da cidade. Natural de Nova Laranjeiras, Centro-Sul do Paraná, Mariele trabalha há cinco anos como catadora e relata que a maior dificuldade e tristeza nesta profissão é ouvir os insultos, fazendo-a sentir-se como um incômodo para os outros. Sobre a vaidade, natural para qualquer mulher, apesar de ser jovem, ela relata que já “deixou isso pra lá”, assim como a perspectiva de um futuro melhor, e que seu único desejo é que o filho estude.

Catadora Beatriz Garcia acompanhada das filhas

Já a história de vida do seu João Leoprim, 69 anos, casado e aposentado, não começou com o recolhimento de resíduos recicláveis. Até a “meia idade”, trabalhou como pedreiro e mestre de obras e há 19 anos complementa sua renda como catador de papel. Leoprim garante que as maiores conquistas durante sua vida, inclusive a casa própria e a educação dos filhos, vieram com o dinheiro do lixo. Hoje seus três filhos são casados, e um deles mora há nove anos nos Estados Unidos. Mesmo com a idade avançada, ele recolhe sozinho por mês uma tonelada e meia de lixo, que é separado em sua residência e posteriormente vendido para uma cooperativa de lixo reciclável no bairro Parolin.


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do seu lixo

adores de papel são responsáveis por 90% ial reciclável de Curitiba

Curitiba

e mensalmente são produzidas 50, 5 mil Isso significa que enquanto a população u cinco vezes mais. E apesar de todo eseta de lixo dados da SMMA mostram que Curitiba é reciclado.

O benefício para o comércio Pimp My Carroça chega a Curitiba

Carrinheiros fazem fila em frente a mercado na praça Carlos Gomes

A relação entre os comerciantes e os catadores de papel gera um sentimento de parceria, pois na maioria das lojas existe um “combinado” para a retirada diária do papelão e até mesmo do próprio lixo produzido por aquele estabelecimento. Quando eventualmente um catador retira o material no ponto de outro é como se isso infringisse um código de ética entre eles, gerando um clima de tensão. Para os comerciantes, o serviço que os carrinheiros desempenham só acarretam benefícios, pois o serviço de coleta pública não atende nos horários de maior necessidade. A gerente de uma loja de calçados na rua João Negrão, Vânia Aparolli, afirma que todo

o lixo que a loja produz é retirado por um único catador, apelidado carinhosamente de Baiano. Ele é considerado parte da equipe, pois existe uma relação de confiança e honestidade construída durante os anos em que o Baiano retira o material da loja, o que lhe garante acesso aos interiores do comércio, sem nenhuma fiscalização. Segundo Vânia, o único problema é quando o catador tira férias. Houve uma ocasião, em que outro o substituiu, e os funcionários o flagraram roubando, por isso quando o Baiano não aparece o material é colocado na calçada para que qualquer catador o leve. Embora as histórias de dona Beatriz, da jovem Mariele e do

aposentado João Leoprim passem despercebidas para grande parte da sociedade, a função que eles exercem é de extrema relevância para todos. Em comparação com o serviço de coleta pública oferecido pela Prefeitura Municipal de Curitiba, estima-se que os 15 mil catadores da capital paranaense recolham cerca 90% do lixo reciclável produzido na cidade, sendo este número quatro vezes maior do que o montante recolhido pelos caminhões dos dois programas da prefeitura, o Lixo que não é Lixo e o Câmbio Verde. E talvez sejam por causa deles – cidadãos comuns que às vezes são olhados com maus olhos – que hoje carregamos o apelido de “Capital Ecológica”.

Trata-se de um projeto que através do financiamento colaborativo que já beneficiou diversos catadores nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro em 2012, sendo produzido por e para pessoas que pensam no coletivo da maneira mais transparente possível. O objetivo do projeto é reconhecer e valorizar o trabalho desses profissionais, que só na capital paranaense coletam diariamente de 445 a 550 toneladas de resíduos. O Pimp My Carroça Curitiba está previsto para acontecer no fim de outubro. O local ainda está indefinido. Durante o evento, os catadores chegarão com seus carrinhos e os entregarão para a equipe do Pimp. Lá, eles passarão por uma reforma estrutural, recebendo também equipamentos de segurança: retrovisores, faixas reflexivas, cordas e luvas. Além de serem personalizados com a arte de grafiteiros locais, ficando novinho

em folha. O catador por sua vez, não fica de fora: ele, que geralmente chega cansado e faminto, abastece as energias com um belo lanche. Passa por um checkup caprichado com clínico geral, oftalmologista, fisioterapeuta, especialista em dependência química e ainda recebe uns mimos a mais: corte de cabelo, manicure e até massagem! Todo mundo pode participar desse dia. Enquanto todo o trabalho é feito, haverá uma programação variada com performances musicais e artísticas de representantes da cultura local, debates sobre a situação dos resíduos na cidade, exibição de filme e muito mais! O evento é encerrado com uma carroceata pelas ruas da cidade: uma exposição ambulante das carroças recém pimpadas. Quer apoiar este projeto social? Acesse: www.catarse. me/em/pimpcuritiba Informações do site: www. catarse.me


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MODA

Customização: crie seu estilo Fazer sua própria roupa está ficando cada dia mais comum

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ara tudo dá-se um jeito, não é? Até mesmo para aquela roupa velha jogada no guarda-roupa que você pensa estar “batida” e usada demais. A customização é uma junção entre economia e moda, e é capaz de transformar qualquer roupa simples, sem uso, desgastada, em uma peça única e nova. Qualquer coisa pode ser customizada e renovada, desde vestuário, sapatos, acessórios, até móveis e paredes. O importante é usar a imaginação. A estudante Laura Camargo conta que teve a ideia de começar a customizar peças depois que viu um clipe na internet, no qual uma cantora usava blusa de lã bordada com pérolas. “Achei que ia ser um jeito bacana de deixar meu cardigan velho com uma cara vintage chique”. Ela conta ainda que procura inspiração na internet, pois acha difícil criar uma customização do zero. “Claro que cada um customiza conforme seu gosto, mas no youtube mesmo tem vários tutoriais para auxílio. Desfiei uma calça minha usando estilete e lixa de parede, tudo seguindo os vídeos”,conta. O sentido da palavra customização vem de personalizar e adaptar. Esse termo surgiu da expressão “custom made” que significa feito sob medida, ou seja, customizar é adaptar uma

Reprodução

que precisava de um colar para compor seu “look”, e de última hora conseguiu fazer um com dicas de um canal na tv. “Maxi colar está super na moda, mas eu não tinha um naquela hora. Lembrei de um que era confeccionado com grampos de cabelo e fiz, ficou lindo”. Hoje em dia criar seu próprio estilo está cada vez mais fácil. Há tutoriais em forma de fotos e vídeos na internet, blogs, sites e até páginas só sobre customização dentro das redes sociais. Tudo para auxiliar na hora em que todos pensam não ter uma roupa pra sair num sábado à noite, por exemplo. Uma vantagem também: você chegar a uma festa e encontrar alguém com uma blusa igual é mínima, já que a sua é exclusiva. Esse é o lado

bom de fazer sua própria roupa. Uma das páginas mais curtidas sobre moda e inspiração do Facebook é a “CUSTOMIZAÇÃO”, ela traz fotos e tutoriais de várias tendências de moda que você pode fazer. A maioria é fácil e rápida.

o

Valle

determinada peça às necessidades de cada pessoa. O conceito chegou ao Brasil nos anos 1990, logo após a onda do comportamento individualista se espalhar pelo mundo e reorganizar a relação entre moda e consumidor. Com isso, a busca por maneiras de se diferenciar das demais pessoas utilizando a criatividade e a individualidade tornou-se um novo conceito de moda. O legal da customização é buscar ideias e não ter medo de errar na hora da transformação. Quando você mesmo muda uma roupa ou acessório, você também estampa o seu verdadeiro estilo ali. Isabelli Cisz, estudante, conta que procurava uma peça mais larga nas lojas há muito tempo, quando teve a ideia de pegar uma calça do pai e transformar em uma saia. “O gancho da calça masculina é um pouco mais alto que o da feminina, por isso o caimento fica melhor, combina com determinados tipos de blusinhas e camisas”, explica. Customizar é para qualquer um, basta apenas ter boa vontade, paciência e arriscar de vez em quando. “Há poucos dias eu tingi uma calça velha minha com água sanitária. Eu queria uma lavagem mais clara e diferente então comecei a procurar referências na internet”, comenta Isabelli. Vale tudo na hora de inovar, aplicar tachinhas, rebites, spikes, pérolas, pedraria, cortar, rasgar, pintar e tingir uma peça para que ela fique com o seu estilo. Gabrieli Cisz, dentista, diz

Colar feito com grampos de cabelo

Reproduçã

Thainara

sxc.hu

Página sobre customização no Facebook


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Raíssa Domingues

CULTURA

Divulgação

Obra ao lado sendo desenhada

Obra que remete ao filme “O iluminado”

Curitiba

Arte

e cinema colorindo o centro de

Domingues

Três artistas se juntam para revitalizar um espaço esquecido: as laterais dos prédio da cidade

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uem circula pelo centro de Curitiba, na região das ruas XV de Novembro e Marechal Deodoro, já pode observar que prédios antes descuidados e invadidos pelas pichações estão de cara nova. O projeto “Motion Layers”, formado pelos artistas Celestino Dimas, Leandro Lesak (Cínico), Eduardo Melo (Artstenciva) e a produtora Michelle Micheleto, quer trazer arte para a cidade através da utilização de murais públicos, nesse caso as laterais de prédios antes pouco percebidas pelas pessoas. A técnica utilizada pelos artistas é o stencil, método que une cortes em superfícies e ilustração. Os dois murais já prontos abordam dois tipos de artes. Em um, a homenagem ao cineasta americano Stanley Kubrick e no outro ao pianista Ray Charles. Para o estudante Pedro Lana, que passava pelo edifício localizado na rua XV de Novembro, a iniciativa é incrível, “ainda mais em Curitiba, que é uma cidade cinza” Dimas, um dos artistas, conta que em 2008 foi morar em um edifício muito alto próximo ao centro histórico, com uma vista ampla e lá ele conseguia observar muitas coisas, como os prédios, a poluição visual e as cores da cidade. Aliado a essas considerações, surgiu a ideia de usar o stencil e o cinema, porque ambos de alguma forma utilizam uma tela grande para serem exibidos. A partir da ideia, surgiu o projeto que foi contemplado pela Lei

de Incentivo à Cultura, por meio do Mecenato Subsidiado, promovido pela Fundação Cultural de Curitiba. Os dois artistas, o Cínico e o Artstenciva, foram convidados por entenderem de arte urbana e serem especialistas em stencil. Até o final do projeto serão feitos quatro murais. Três individuais, com a pesquisa autoral de cada um e o quarto com a participação coletiva de toda equipe. Nos critérios de escolha dos edifícios foram considerados aspectos como visibilidade, viabilidade técnica, condições de paisagem e adequação ao orçamento. Dimas conta que “depois do mapeamento, oferecemos o projeto aos responsáveis dos imóveis, que aí aceitaram ou não “o presente”. Até aqui o trabalho está apenas

começando. São necessárias liberações de várias instituições, laudos técnicos, reuniões, visitas, materiais, equipamentos, serviços, orçamento e persistência.” Questionado

Se todos os prédios fossem assim, a pichação não estragaria a cidade Antenor Neto, Publicitário sobre qual foi a maior dificuldade para a execução dos murais até agora, o artista contou que a verba liberada em 2012 foi menor do que o pretendido, mas seguiram em frente com o projeto porque sabiam

que a proposta era importante para consolidar a universalização da cultura da cidade e revitalizar elementos urbanos. Os painéis, que se destacam em ruas movimentadas do centro da cidade, chamam a atenção pelas cores, pela técnica utilizada, pelo texto e porque podem ser vistos por quem está muito distante. No geral, a reação das pessoas que passam próximas dos muros é de surpresa e observação, gerando comentários e análises diferentes sobre a arte em escala monumental. “Se todos os prédios fossem assim, a pixação não estragaria a cidade”, comenta o publicitário Antenor Neto, ao passar pelo enorme sorriso de Ray Charles, em plena Marechal Deodoro. Raíssa Domingues

Raíssa

Ray Charles sorrindo na Marechal Deodoro


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CULTURA

Muita cultura, pouca valorização

Fran Bubniak

Apesar de sua história, Teatro Universitário de Curitiba ainda não tem sua devida importância no cenário cultural da cidade Davi da Silva

Thainara Valle

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Dinorá Freitas, moradora da região.

niak

Serviço: Endereço:Travessa Nestor de Castro, s/nº, Gal. Júlio Moreira - Centro Contato:(41) 3321-3312 patrisilva@fcc.curitiba.pr.gov.br Horário de funcionamento:13h às 19h (3ª a 6ª feira), 13h às 22h (sábado) e 14 às 18h (domingo)

Um pouco de história A Galeria Júlio Moreira, que liga a Praça Tiradentes ao Largo da Ordem, guarda uma história interessante. O projeto original havia sido planejado para uma lanchonete, mas no ano de 1976 foi inaugurado pelo então prefeito Saul Raiz como TUC, objetivando a centralização das atividades estudantis no âmbito cultural, que veio em atendimento a estudantes de vários cursos guiados pelos mesmos interesses de desenvolvimento das atividades culturais no meio universitário. A galeria, que foi construída para proteger os pedestres do tráfego intenso da Travessa Nestor de Castro, é uma homenagem ao pesquisador e historiador Júlio Estrela Moreira. Conta com pontos comerciais e de animação cultural, como revistaria, clube de xadrez (foto), lanchonete, além do Teatro Universitário de Curitiba. Fran Bubniak

“Isso aqui faz parte da história de nossa cidade. O teatro e a galeria não mereciam aquela falta de cuidado”

Bub

localizado, fica no centro da cidade e merecia este tipo de ação”, complementa a analista de crédito, Raquel Esquedino, que também aprovou as novas instalações. Atualmente, o TUC também oferece oportunidade para as “bandas de garagem” curitibanas se apresentar, bem como grupos musicais do gênero pop, rock, sertanejo e o teatro underground. Nem todas as atrações são gratuitas, mas ainda assim os preços são baixos. “Agora temos uma alternativa muito boa para frequentar nos finais de semana, um lugar bem localizado com atrações para todos os gostos e, ainda por cima, com ingressos acessíveis”, afirma o estudante Diego Ribeiro. Vale lembrar que o teatro atende a todas as idades e a múltiplas formas artísticas. De acordo com informações da Fundação Cultural, o TUC foi e continua sendo o catalisador e primeira escolha dos grupos de músicas pop/rock e do teatro de vanguarda da cidade, além de outros artistas. É um grande difusor de cultura popular. E para aqueles que pretendem conseguir um espaço para a exposição ou apresentação musical, isso é possível através de uma solicitação formal junto à administração do teatro. Quanto aos meios de divulgação, além do famoso boca a boca, existe a revista mensal da Fundação Cultural de Curitiba com programações culturais, site da FCC, redes sociais e o “Guia Curitiba Apresenta”.

Fran

m lugar estreito, com um leve odor desagradável, mas ainda assim aconchegante. Gente de todas as idades, na maioria idosa. O encontro é marcado para as 15 horas diante de uma plateia de quase cem pessoas. Assim é o evento semanal de violeiros e apreciadores de música sertaneja, realizado no Teatro Universitário de Curitiba (TUC) há quase 30 anos. Quem comanda as apresentações é o vendedor Ilson Estefani, 58 anos, o “Gaúcho do interior do Paraná”, que veio para capital, em busca de oportunidade e de ensino para os dois filhos. Um sujeito simples que tem paixão pela música “caipira”, gosta de promover esses encontros e há 12 anos está à frente das apresentações da Canja. Gaúcho comenta que o Teatro é um pequeno pedaço do interior. “Acho que todas as pessoas que estão aqui são de fora e um dia se sentiram longe de casa. Somos uma família. É como se a gente estivesse na cidade da gente de novo”. Nos últimos anos o espaço estava quase abandonado, com pouca iluminação, circulação de viciados em drogas que, por sua vez, também praticavam pequenos roubos no local. No entanto, em 2008, o Programa de Recuperação dos Espaços Culturais da cidade chegou ao TUC. “Isso aqui faz parte da história de nossa cidade. O teatro e a galeria não mereciam aquela falta de cuidado e finalmente está recebendo a atenção que merece”, comenta Dinorá Freitas, moradora da região e que passa pelo local praticamente todos os dias. Não só quem frequenta o teatro ficou satisfeito, mas aqueles que passam por aquela parte aprovaram a mudança. “Agora com uma nova iluminação e muito mais movimento, o local parece estar mais seguro”, afirma o borracheiro, Claudemir José Bora. Ele lembra que o local estava praticamente abandonado antes da reforma. “O teatro é extremante bem


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RESENHA

A história de uma música Reprodução

@TÁ NA WEB Cíntia Silva

Cuidado! Like no Facebook pode viciar De acordo com o estudo da Freie Universität, em Berlim, a sensação que temos ao ganhar um like no Facebook é semelhante a ganhar um prêmio. E tem mais uma coisinha, likes podem ser viciantes, pois a aceitação social - seja ela online ou não - estimula a área do nosso cérebro ligada aos vícios. O estudo foi feito com 31 usuários do Facebook, e apesar de ser uma amostragem pequena, vale a pena ver os resultados no site: Tiago Mendonça como Renato Russo em “Somos tão Jovens”

S

omos tão jovens mostra a história de Renato Russo. O caminho mais fácil para contar essa história já tão conhecida pelo brasileiro seria realizar um filme biográfico padrão, contando o começo, meio e fim da vida do compositor. O espectador comum talvez esperasse do filme flashes da infância de Renato, os conflitos do sucesso, ascensão, queda e os problemas com drogas e a questão da homossexualidade. Porém, o diretor escolheu realizar um outro tipo de recorte e focar na juventude de Renato. Um bom conceito que permite compreender melhor essa fase da vida do artista. O filme joga os dados e pede para que o espectador pense sobre Renato Russo e tire suas próprias conclusões. Não há uma mitificação do cantor no filme, pois ele é apresentado de uma maneira livre e aberta. Muito interessante o ritmo leve da narrativa, pois não joga na cara do espectador quem é Renato Russo. Seria muito fácil transformá-lo em um artista controverso e apaixonado, com conflitos com drogas. Mas o diretor preferiu suavizar este lado e mostrar Renato Russo a partir da própria vida, ao invés de so-

Como eu me sinto quando... ...um(a) professor(a) me dá bronca por dormir em uma aula super entediante. Reprodução

Cesar

mente focar em seus dramas. O cantor é mostrado como um ser humano, igual a todos nós. Somos tão jovens apresenta um roteiro razoável. Um pouco exagerado em alguns momentos, mas que não prejudica o filme. Muito boa a atuação de Thiago Mendonça, pois ele conseguiu segurar muito bem um papel difícil e foi capaz de apresenta um Renato Russo plausível e comedido. Outros personagens como Dinho Ouro Preto, Fê Lemos e Herbert Vianna poderiam ter sido um pouco melhor trabalhados. O filme dramatiza um bom momento do rock brasileiro. Mesmo quem não gosta tanto de Legião Urbana vai poder visualizar como o movimento punk e depois o pós-punk estavam muito vivos na Brasília do começo dos anos 80. Somos tão jovens é um bom convite para questionarmos sobre o que é o rock brasileiro. Vivemos em um universo cinematográfico dominado principalmente por filmes estrangeiros e, por vezes, ficamos presos a este mundo e suas questões. É bom ver um filme mais próximo de nós. Somos tão jovens pode não ser perfeito, mas apresenta uma narrativa bem feita e questionadora. Reprodução

Sandro

@: http://youpix.com.br/redes-sociais-2/o-que-acontece-com-o-seu-cerebro-quando-voce-ganha-um-like-no-facebook/

Você pode me chamar de sonhador...

...mas eu não sou o único

Sabe aquelas situações engraçadas ou estressantes que você passa todos os dias em casa, na faculdade, no trabalho, na balada, na fila do pão... Elas estão todas reunidas em forma de gifs super engraçadas no Tumbrl “Como eu me sinto quando...”. A página criada por Marcelo Cidral já conta com 395.271 seguidores no Facebook e faz o maior sucesso na rede social. Para dar boas risadas das situações de desgraça alheia (e das suas), acesse: @: http://comoeumesintoquando.tumblr.com/ @: www.facebook.com/comoeumesintoquando

CHARGE Enquanto isso no Batel... Nossa! Calçada de mámore!

UAU, o fabuloso Shopping Pátio Batel

O que importa, é que o anti-pó lá do bairro logo vai chegar... logo logo...

Saída do Batel


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ballet

ENSAIO FOTOGRÁFICO

O no corpo masculino

Fran Bubniak

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este tempo no qual as mulheres desempenham cada vez mais atividades que faziam parte apenas do universo masculino, o contrário também acontece. Prova disso é a Companhia de Dança Masculina Jair Moraes, que tem como proposta um trabalho acelerado e diferenciado para o corpo masculino, com coreografias específicas para os homens.

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