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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER – ANO IV – NÚMERO 30 – CURITIBA, AGOSTO DE 2013

Os rumos de uma manifestação págs. 6, 7 e 8 Moda e personalidade

Estamos em obras

Se conhecer facilita a construção da autoimagem

Estação leitura

pág.3

Reformas na Rodoferroviária de Curitiba causam transtornos para passageiros

pág.9

pág.10

Tubotecas incentivam a leitura nos ônibus da capital


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Número 30 – Agosto de 2013

OPINIÃO Na edição deste mês de agosto, o jornal Marco Zero reaviva um assunto que já está esfriando na boca do povo: as manifestações que aconteceram no país no mês de junho, e que trouxeram algumas mudanças para os brasileiros. Uma delas foi a rejeição no Congresso Nacional da PEC 37, que restringia o poder de atuação do Ministério Público. Outra foi a forma de transmissão dos protestos. Um grupo conhecido como Mídia Ninja foi às ruas com celulares e notebooks e passou a mostrar em tempo real o que acontecia nas manifestações, o que fez as pessoas se perguntarem porquê não viam muitas daquelas cenas na televisão. Os prós e contras dessa nova forma de se fazer Jornalismo são comentados pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, Guilherme Carvalho. A menos de um ano do início da Copa do Mundo no Brasil, nossa equipe foi conferir o andamento das obras na Rodoferroviária de Curitiba. O que encontraram por lá foram passageiros irritados em meio à confusão causada pela reforma. Veja também nesta edição como funcionam as tubotecas, implantadas em dez estações-tubo na região central da cidade, e algumas dicas de moda de acordo com cada tipo de corpo. Boa leitura!

Equipe Marco Zero

O Marco Zero

Expediente

Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome, por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.

Uma sombra que ainda assusta Livro-reportagem retrata o drama vivido em Hiroshima Wikimedia Commons

Ao Leitor

O que você está achando das obras nas estações-tubo em Curitiba?

Hiroshima após o ataque

Davi Oliveira

O

livro Hiroshima foi escrito pelo jornalista John Hersey para contar o episódio do dia 6 de agosto de 1945, na cidade que sofreria a maior tragédia nuclear de todos os tempos: Hiroshima, no Japão. Hersey nasceu na China, em 1914, e mudou-se para os Estados Unidos com 11 anos, onde estudou em Cambridge e Yale. Na primeira parte do livro, o autor faz um relato sobre os personagens. Explica a explosão e a catástrofe da bomba, os moradores da cidade em busca de sobrevivência e fala dos dias de horror que se seguiram. A narrativa descreve que, no dia 6 agosto de 1945, os japoneses ouviram um alarme indicando a aproximação de um avião inimigo. Era um B-29, batizado de “Enola Gay”. Daquela aeronave foi lançada a primeira bomba atômica sobre um alvo humano. Em instantes, os prédios desapareceram junto com a vegetação, transformando Hiroshima num campo deserto. Tudo ficou destruído em um raio de 2 km do centro da explosão. Morreram mais de cem mil pessoas e

O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Uninter

Diagramação: Cíntia Silva e Letícia Ferreira

Coordenadora do Curso de Jornalismo: Nívea Canalli Bona

Projeto Gráfico: Cíntia Silva e Letícia Ferreira

Professor responsável: Roberto Nicolato

Douglas Rengel

outras cem mil foram atingidas de diversas formas. O autor descreve as histórias de seis sobreviventes: a srta. Toshiko Sasaki, doutor Masakazu Fujii, sra. Hatsuyo Nakamura, padre Wilhelm Kleinsorge, doutor Terufumi Sasaki e reverendo Kiyoshi Tanimoto. A narrativa conta em detalhes o que cada um deles fazia até o momento em que viram o grande clarão. Além de contar os fatos, desenvolve também o pensamento, os sentimentos e as emoções dos personagens, além de contextualizar a vida de cada um, suas respectivas profissões e a razão pela qual estavam em determinado local quando a bomba explodiu, além de revelar a que distância cada um se encontrava do centro da explosão. Num segundo momento, menciona o pânico que tomou conta da cidade. A população com muito sangue pelo corpo, prédios em ruínas e o fogo se alastrando. Famílias procuram pelos seus parentes e os menos feridos tentam ajudar aqueles sem condições de se mover. E em meio ao desespero, as pessoas procuram um lugar seguro. As chamas se alastram pela cidade e os sobreviventes movem-se para as chamadas “áreas seguras”. Em uma dessas áreas, às margens do rio Kyo, o padre Kleinsorge Uninter Rua Saldanha Marinho, 131 CEP 80410-150 – Curitiba-PR E-mail comunicacaosocial@grupouninter.com.br

Telefones 2102-3336 e 2102-3377.

tenta manter a ordem enquanto o reverendo Tanimoto procura salvar o máximo de feridos. A sra. Nakamura e seus filhos adoeceram ao beber a água contaminada do rio. A intoxicação por radiação levou milhares de pessoas à morte nas semanas que seguiram ao ataque e deixando sequelas nos demais. Aos poucos, a cidade foi sendo reconstruída, mas um ano após o fato, a vida dos seus personagens ainda estava abalada e a saúde fragilizada. No capítulo final, escrito 40 anos depois, Hersey conta como foi a vida dessas seis pessoas e de que forma a bomba atômica impactou seus dias para além do momento da explosão. Não é a toa que Hiroshima é considerada a reportagem mais importante do século XX. A obra de Hersey é um retrato da face mais assustadora da Segunda Guerra Mundial. Sua forma de analisar e contextualizar cada passo dos personagens reflete o estilo único de um dos repórteres mais brilhantes de todos os tempos. Por isso é referenciada, até hoje, por ativistas na luta contra as armas nucleares. Mais do que uma narrativa sobre os efeitos devastadores da bomba que atingiu a cidade japonesa, Hersey escreveu um dos maiores clássicos do jornalismo literário. Melhor jornal-laboratório do Paraná em 2010: primeiro lugar no Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná

Evidente que tais obras têm causando transtornos aos passageiros e motoristas, Bruno Dziepois acabam dicz, 20 anos, gerando muita publicitário lentidão no trânsito. Porém devemos pensar lá na frente, pois esta é uma situação que futuramente irá contribuir para a circulação de todos e, principalmente, dos ônibus. Por enquanto não vi nenhum benefício. Muito transtorno isso sim: trânsito lento, ônibus Jennifer Simocirculando em ne de Andravias públicas, de, 20 anos, estações-tubos estudante desativadas. Se estou certa, tais obras estão até atrasadas, pois já deviam estar em fase final. Espero que depois de concluídas realmente tragam melhorias para o transporte coletivo de Curitiba. As obras estão atrapalhando bastante o trânsito, ainda mais durante o dia, quando o fluxo Marcelo Balde veículos é man, 43 anos, maior, e ainda motorista de mais porque caminhão temos que fazer entregas em locais próximos a estas obras. O movimento de caminhões, carros e ônibus perto torna-se também um perigo, podendo até causar acidentes. Se o problema que estão causando agora for resolver problemas futuros da sociedade, então que se criem Marcio Nato, esses para que 35 anos, cantor e estudante não haja mais de Jornalismo no futuro.


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CIDADE Passageiros reclamam dos problemas causados pelas obras no local Guilherme Fiuza

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ontinua difícil a situação dos passageiros na Rodoferroviária de Curitiba. As obras de ampliação do prédio, que existe desde 1972, têm causado transtornos e quando há o mau tempo o problema se agrava. As empresas que operam no terminal trabalham em espaços improvisados e, com o movimento bem acima do normal, a rotina de desembarque está sendo alterada. Devido às obras de revitalização, os portões de embarque e desembarque da Rodoferroviária foram modificados, o que ocasiona confusão. Em muitos pontos não há piso e os passageiros encontram dificuldades para puxar as malas de rodinhas entre pedras da construção e a areia. O gestor de equipamentos urbanos da URBS, Pedro Rosso, reconhece os problemas e diz que os espaços que estão em obras foram reabertos emergencialmente. Rosso informa que a ala interestadual, que é a parte da frente da Rodoferroviária, foi fechada e que toda a operação ocorre apenas no bloco estadual, nos fundos do prédio. As obras continuam até o final do ano. A vendedora Enise Costa veio de Peruíbe (SP), e chegou à capital paranaense logo pela manhã. “Tive que desembarcar na rua. Molhou toda a bagagem. É um transtorno isso aqui. Era necessário ter mais planejamento”, lamenta. O curitibano Giovani Branco, que regressou de Balneário Camboriú (SC) no início da tarde, disse que estava preocupado com as condições da rodoferroviária. “A gente ficou sabendo que muitas pessoas tiveram que desembarcar na rua. É deprimente isso”. A rigor, as obras estão se concentrando na ala interestadual do principal terminal da cidade, que está parecendo um verdadeiro “parque das assombrações” durante o período da noite. Conforme o novo plano estrutural, os guichês para a venda de passagens passarão a ficar no piso

Tive que desembarcar na rua. Molhou toda a bagagem. É um transtorno isso aqui. Era necessário ter mais planejamento Enise Costa, vendedora superior da rodoferroviária. Haverá elevadores, escadas rolantes e rampas de acesso especiais para o trânsito seguro das pessoas com deficiência física. De outra forma, a possibilidade de haver uma linha de ônibus da categoria expresso, que fará viagem em uma linha de ligação entre a Rodoferroviária e o aeroporto, não está descartada. Mesmo estando a par de que as reformas estão sendo feitas em razão de um bem maior para a cidade (a Copa do Mundo da FIFA é, querendo ou não, um dos principais fatores para tal obra ser feita), o momento não é para satisfação. É bem verdade que existem muitas faixas que

visam explicar sobre os locais de acesso, plataformas entre outras informações, mas os infortúnios ocorrem nos momentos de grande pico de movimento, em especial nos feriados prolongados. Todo e qualquer embarque, independente do destino ser o próprio Estado do Paraná ou não, está sendo feito na ala estadual da rodoferroviária. As compras de passagens estão todas centradas na ala estadual da Rodoferroviária. Os ônibus com viagens locais continuam com seus bilhetes sendo adquiridos nos guichês tradicionais. Por sua vez, as passagens para viagens interestaduais só podem ser compradas na área externa. As companhias de transporte rodoviário tiveram os seus guichês afixados, temporariamente, em containers. Neles é que se dá todo o processo conhecido de compra dos bilhetes para as viagens interestaduais. Ali funcionam empresas como Cometa, Itapemirim, Penha, Nacional Expresso, Eucatur e Gontijo, entre outras.

As obras estão se concentrando na ala interestadual do principal terminal da cidade, que está parecendo um verdadeiro “parque das assombrações” durante a noite

Fotos: Guilherme Fiuza

Transtornos na Rodoferroviária


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PERFIL

Marcelo Ortiz fala de sua carreira Vinícius Garcia

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ádio. Faz tempo que ele se faz presente nos lares brasileiros e curitibanos. Mesmo com o surgimento da televisão, o aparelho de áudio mostra-se firme nos dias de hoje, principalmente quando o assunto é futebol. O que parecia o fim para o radinho, já que a televisão trazia a inovação de transmissões com imagem, foi apenas um incentivo a mais para o seu crescimento. Hoje, em Curitiba, em qualquer estádio que se vá há torcedores, mesmo presentes na partida, ouvindo o jogo por meio dele. O curitibano demonstra uma paixão pelo rádio esportivo e faz com que a audiência em dias de jogos e programas esportivos sejam incrivelmente altos. Um dos radialistas que trazem a emoção ao torcedor através do rádio é Marcelo Ortiz. Profissional na área há mais de 20 anos, ele é um dos principais nomes da rádio 98FM - do Grupo GRPCOM - e do jornalismo esportivo de Curitiba e do Paraná. O jornal Marco Zero, conhecendo a fama que o radialista conquistou ao longo dos anos, conversou com ele sobre sua carreira e a profissão. Confira: Marco Zero - Como você ingressou no jornalismo? E na editoria esportiva? Marcelo Ortiz – Bom, eu comecei em 1990, e de cara já como repórter de futebol amador. Naquela época era muito difícil conseguir um emprego, ainda mais

em jornalismo. Mas como eu estava desde os 17 anos tentando, consegui uma oportunidade e aos 19 já estava ingressando na área. Em 1992, passei a ser narrador e estou até hoje atuando da maneira que todos me conhecem. Há quanto tempo você é comentarista esportivo? Estou nesta área há 23 anos. Comecei na Rádio Paraná, que abriu as portas para eu iniciar. Quais as dificuldades para um jornalista esportivo? E o que é mais gratificante? Cara, a dificuldade sempre será o fato de o jornalista esportivo ser questionado a toda hora pela opinião que ele dá. Você não pode fazer um comentário negativo sobre determinado time que você já torce para o rival e vice-versa. Então é complicado porque sempre estão questionando a nossa opinião, julgando-a de forma tendenciosa. E o mais gratificante é, com toda certeza, o reconhecimento dos ouvintes. Você estar em algum lugar e alguém te parar para parabenizar pelo trabalho, ou até mesmo dar uma dica de algo que você fez e ele não gostou e quer que mude, isso faz com que você se sinta bem pelo reconhecimento e audiência do seu trabalho. Já aconteceram situações divertidas e controversas na sua carreira? Já em 1991. Eu já estava fazendo jogos profissionais, mas fui escalado para um jogo amador. Cheguei lá e estava tendo o jogo da categoria Júnior antes da partida dos adultos. Fui até o vestiário e perguntei se já tinham

Estou no radiojornalismo há 23 anos. Comecei na Rádio Paraná, que abriu as portas para eu iniciar.

Divulgação

Narrador da 98FM revela histórias inesquecíveis na profissão

- Marcelo Ortiz, comentarista esportivo

as escalações, e me disseram que sim, e as peguei, dos dois times. A transmissão começou e passei a escalação dos times para o narrador, que começou a transmitir o jogo. Lá pelos 15 minutos, um torcedor me chamou à beira da arquibancada e disse que o narrador havia falado um nome errado. Eu disse a ele que poderia ser pela distância da cabine para o campo, mas o torcedor disse que o narrador estava errando o nome de todos os jogadores, chamando eles por outros nomes. O desespero bateu, e quando fui verificar havia passado as escalações dos times de juniores ao invés dos adultos. Foi horrível, nunca passei tanto desespero na carreira. Qual momento da sua carreira você considera que foi algo inesquecível? O momento mais inesquecível foi o Torneio de Toulon em 1998. Foi meu primeiro evento internacional, eu fazia tudo lá. Inclusive o Alex, que hoje joga no Coritiba, estava lá. Foi inesquecível. Você já cobriu a Copa da Alemanha. Como foi? Você vai para a Copa de 2014? Incrível. Eu cobri a da Alemanha e da África do Sul. Aconselho todos os jornalistas

a um dia cobrirem uma Copa do Mundo, pois é a melhor coisa para a nossa profissão. A Copa que você acompanha pela televisão não é a mesma que você vê lá, porque lá você tem muito trabalho a fazer. Mas estar ao lado dos melhores jornalistas do mundo, é simplesmente fantástico, vale muito a pena. Sim, com toda certeza estarei em 2014, não perco por nada.

Para finalizar, você acha que um jornalista esportivo deve dizer o seu time do coração ou não? Eu não vejo necessidade. Não sou contra quem fala, mas eu prefiro não dizer porque quando se diz o seu time do coração você automaticamente compra briga com as torcidas rivais ao seu clube do coração. Então prefiro não dizer e aconselho aos jovens de carreira a fazerem o mesmo.


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CIDADE

Uma estação, três histórias Diego Gangas

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á dois anos o cobrador Sergio Ferraz, 33, sai de Almirante Tamandaré às 5h da manhã em direção à estação-tubo Santa Felicidade/Bairro Alto, na Praça Tiradentes. Diariamente, antes de chegar ao trabalho, ele precisa conseguir troco no bairro onde mora. Com o caixa vazio, Sérgio, como todos os cobradores, é responsável por levar dinheiro trocado. “A empresa não fornece, eu tenho que me virar. O passageiro não quer saber, ele precisa de troco”. É com esse dinheiro que o cobrador às 6h começa a receber os primeiros passageiros. Projetada para proporcionar maior conforto enquanto as pessoas aguardam o ônibus, algumas estações-tubo deixam a desejar nas condições de trabalho. Para Ferraz, ir ao banheiro durante as seis horas em que trabalha é o que mais o incomoda. “Banheiro é o maior problema. Quando o motorista encosta, ele fica um pouco aqui e eu vou ao sanitário da lanchonete”. Passar o inverno no tubo também é outra dificuldade. “É horrível. Encana muito vento, às vezes chove dentro do tubo e tem muita umidade”, declara. Ao meio-dia, Sérgio contabiliza o dinheiro e a quantidade das

passagens em seu turno e retira a diferença do valor utilizado por ele no início da manhã. Quem inicia o turno da tarde é Cerli de Fátima Zuconelli, 49, que há quatro meses resolveu mudar de profissão. Ex-cozinheira, ela diz gostar da nova função. “Gostei, é diferente. Não é muito cansativo, são só seis horas”, comenta. Apesar de pouco tempo como cobradora, Cerli não tem dúvida ao dizer qual é a maior dificuldade que enfrenta: “É ruim ficar direto no tubo e não poder ir ao banheiro”. Sem experiência de passar um inverno na estação da Praça Tiradentes, a cobradora já sabe como é um dia de calor dentro da estação. “Tem dia que pega muito sol e o sol fica queimando”. Em um dos horários de maior movimento de passageiros, Francisco Pereira Santana Sobrinho, 49, é o responsável pelo último turno que começa às 18h. Há 10 anos como cobrador da estação-

A empresa não fornece, eu tenho que me virar. O passageiro não quer saber, ele precisa de troco” - Sérgio Ferraz, cobrador

-tubo Santa Felicidade/Bairro Alto, ele já se acostumou a acompanhar a rotina de quem embarca e desembarca apressadamente. Francisco é cumprimentado por passageiros com quem criou uma relação de empatia. E com eles troca algumas palavras, constantemente interrompidas por pessoas que passam pela catraca e começam a ocupar a estação; rotina que se repete diariamente, mas que não o incomoda. Ele explica o segredo para ficar tantos anos na mesma função: “Eu gosto do que eu faço”, pontua. Nem o frio é capaz de tirar o ânimo de quem já passou por 10 invernos no local. “Se der três ou quatro graus de temperatura eu coloco duas ou três jaquetas e me esquento”. Os cobradores recebem uma jaqueta da URBS para passar o inverno, e caso queiram usar mais agasalhos só podem usar por baixo da jaqueta fornecida. À meia-noite o último turno se encerra. O higienizador será o responsável por limpar e cuidar do local durante a madrugada. Francisco recolhe o dinheiro das passagens, embarca no último ônibus da linha Pinhais/Campo Comprido e vai em direção à empresa de ônibus Araucária – responsável pelo tubo em que trabalha – para entregar o valor do seu turno. Assim ele estará liberado e dentro de poucas horas, três rotinas serão recontadas.

Diego Gangas

Além de receber a passagem, os cobradores das estações-tubo em Curitiba têm uma rotina de histórias e dificuldades

Sérgio Ferraz, cobrador da estação-tubo Santa Felicidade/ Bairro Alto.

Vida de trabalhador em dia de chuva Mau tempo altera a rotina de pessoas que utilizam a rua para ganhar o sustento da família

P

rotegido por uma capa amarela, debaixo de uma garoa fina, o gari Geraldo Lafaiete, 58, varre parte da calçada de petit-pavê na Rua XV de Novembro, no Centro de Curitiba. Uma manhã como qualquer outra em sua rotina de trabalho, modificada apenas pelo contraste dos guarda-chuvas de quem apressadamente passa ao seu lado quase sem notá-lo. Há um ano e meio responsável por limpar parte da área central

da cidade. Geraldo Lafaiete, ao contrário das pessoas que se escondem da chuva, parece não se importar mais em ter que trabalhar em um típico dia chuvoso de inverno. “A capa protege um pouco. Só se a chuva for muito grossa que atrapalha”, comenta. Lafaiete trabalha das 7h às 15h15 e sabe que pode se proteger debaixo da marquise caso chova muito forte e voltar às suas atividades apenas quando o tempo melhorar. “Se o mau tempo continuar

eu tenho que ficar aqui o dia todo”, declara. Situação semelhante enfrenta Paulo Roberto, 61, que há dois meses distribui panfletos na esquina das ruas barão do Rio Branco com a XV de Novembro. Em dia de chuva, ele tem seu espaço limitado a ficar em frente a uma loja de roupas. “Aí eu não posso andar na rua e entrego menos papel”, comenta. Ele experimenta seus primeiros dias de inverno no calçadão. Traja um paletó azul escuro que cobre

um agasalho de lã, o que não o impede que demonstre a sensação de frio. “Se eu fico muito tempo parado aí começa a dar mais frio”. Do outro lado da rua está sua “supervisora”, responsável por verificar se Paulo Roberto e os demais panfleteiros fazem a distribuição dos anúncios corretamente, faça chuva ou faça sol. Os dias da nova estação não são vistos de forma negativa para Edmar Tiago Souza, 55, que com alguns guarda-chuvas debaixo do

braço fica à espera de quem desça desprotegido das estações-tubo na Praça Tiradentes, para logo anunciar o produto ao valor de dez reais. Tiago não se importa em ficar boa parte do dia na chuva. Para ele, estes são os melhores dias. Ele consegue o material em uma loja de produtos importados e tem a chance de conseguir um dinheiro extra. “Quando chove eu tenho que aproveitar, sempre tem gente que sai sem guarda-chuva”.


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ESPECIAL

Os rumos de uma man

Depois de um período conturbado, uma análise do foi, como foi e do que estã Presidente Dilma Rousseff

Fotos: Reprodução

11 de junho

é vaiada durante a abertura

Protesto em São

da Copa das

Paulo reúne cerca

Confederações.

de 3 mil pessoas e começa a repercutir internacionalmente e nas redes sociais. Cerca de 20

15 de junho

pessoas são detidas. Comunidade brasileira manifesta-se na Irlanda e

Segundo dia de protesto

14 de junho

7d

em São Paulo também registra confrontos com são detidos.

ho

un

ej

a polícia e manifestantes

Pablo Bandeira

6 de junho

Primeira manifestação contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo, organizada pelo Movimento Passe Livre

N

A Folha de S. Paulo informa que sete jornalistas do jornal foram atingidos durante os

16 de junho

em Nova Iorque.

protestos.

Como o Brasil chamou a atenção do mundo

o último mês de junho uma onda de protestos varreu o país em várias capitais, e até mesmo, no interior. Um grande número de pessoas descontentes com a situação política e social do Brasil foi às ruas, e elas erguiam as mais variadas bandeiras e reivindicavam diferentes melhorias. Mas o que fez com que tantas pessoas saíssem de suas casas? O que houve de novo nesse movimento? O que se pode dizer é que não se via uma mobilização nacional desta proporção desde 1992, quando estudantes “liderados” pela União Nacional do Estudantes (UNE), e pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), os chamados “caras-pintadas” pediram o impeachment do então presidente e hoje senador Fernando Collor de Melo. O que se pode afirmar é que a internet tem sido uma ferramenta útil aos manifestantes, pois é através da rede que eles combinam os atos e pontos de encontro. Para o professor de Ciências Políticas do

Centro Universitário Uninter, Pedro Leonardo Medeiros, a internet barateou o custo do acesso à informação, e também permitiu que este fosse mais rápido. Entretanto, ele indica que a rede não é causa das manifestações, visto que em outros tempos da história brasileira a população já havia se mobilizado. Segundo Medeiros, o papel fundamental da internet foi o de divulgar com maior velocidade os protestos, informações que talvez não fossem tão exploradas nas emissores de T.V. Em seu livro O show do Eu, Paula Sibilia descreve um fenômeno social que ela chama de extimo, que nada mais é do que a exposição da vida do indivíduo por sua própria vontade. Medeiros comenta que isto pode ter sido o grande impulsionador das massas. Primeiro porque quem foi às ruas publicou nas redes

O “eu” manifestante é o meme da vez - Pedro Medeiros, professor e cientista politico

sociais suas histórias e fotos das manifestações, o que teria incentivado a adesão de mais pessoas; segundo porque ao ver tais fotos multiplicando-se pela rede muitos sentiram a necessidade de estar lá, para contar sua própria versão dos fatos. “O meme da vez é o eu manifestante”, diz. Mas isso não diminui a importância dos fatos que, para Medeiros, se traduz em um acordar nacional para as questões políticas. Isso significa que os jovens que antes não liam sobre o assunto, tão pouco sabiam de como se dá os processos políticos no país, começaram a pesquisar e a questionar seus representantes. Termos que outrora eram desconhecidos, como por exemplo, PEC (Proposta de Emenda à Constituição), tornaram-se comuns.

A rua é de “todos” Algo que chamou a atenção de muitos foi o fato de que as ruas foram tomadas por pessoas que em outros tempos não eram vistas em manifestações. Uma vez


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nifestação

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NACIONAL

ão sendo as manifestações de um país que era apenas telespectador 22 de junho 18 de junho

17 de junho

21 de junho

24 d

e ju

Mesmo com o pronunciamento de Dilma Rousseff, os protestos

Presidente Dilma diz que o Brasil A presidente Dilma Rousseff

"acordou mais forte" e assegura que o seu governo está ouvindo

faz um pronunciamento de dez

"as vozes da rua". Durante a tarde,

minutos em cadeia nacional sobre

o prefeito de São Paulo, Fernando

os protestos no Brasil.

continuam pelo país. Em Belo

nho

Horizonte, uma manifestação reúne mais de 60 mil pessoas.

Haddad, inicia negociação com o Movimento Passe Livre e admite

Dilma reúne-se com 26 prefeitos e 27

pela primeira vez reduzir o preço

governadores e propõe cinco pactos,

das passagens. Seis cidades

entre eles um plebiscito que autorize

brasileiras anunciam redução no

a instalação de uma Constituinte toda

preço das passagens.

dedicada à reforma política.

Outras capitais aderem às manifestações, que se repetem por todo o país. Em São Paulo, o protesto reúne 65 mil pessoas. No Rio de

26 de junho

Janeiro, o movimento atinge a marca dos

Belo Horizonte assiste à maior das

cem mil manifestantes

manifestações, com mais de cem mil pessoas. A presidente Dilma

que os optantes se diversificaram, também suas pautas começaram a diferir, e isso gerou mais algumas dúvidas quanto aos motivos que levaram tantos a protestarem e com tantas pautas diferentes. Isso pode ser explicado por um conceito conhecido como “privação relativa”, ou seja, mesmo que o indivíduo não esteja passando fome, ou outro problema deste porte, pode sentir “lesado” ao comparar-se com os demais. Como explicado por Medeiros, a participação da classe média pode ser entendida como um descontentamento quando comparada à vida deles e dos mais ricos. E não somente novas “caras” estão marchando, mas a cada dia que as manifestações avançavam, novos temas surgiam. O que começou em São Paulo com um pedido de redução de tarifa, logo

ganhou outros gritos, como por exemplo, corrupção ser considerado crime hediondo, a saída de Renan Calheiros da presidência do Senado, investir 100% do lucro do Pré-sal na educação e novos pedidos a cada dia. Isso desacreditou os resultados que o movimento alcançaria, pois, seria difícil tantas pautas serem votadas de uma única vez. Mas não foi o que se comprovou na última semana de junho, quando o presidente do Senado, Renan Calheiros, aprovou um cronograma de votações nunca visto antes, e para espanto de muitos, algumas das reivindicações foram votadas e aprovadas. Foi o caso da PEC 37 (que restringia o poder de investigação do Ministério Público) que seria votada no segundo semestre, mas acabou sendo antecipada e reprovada.

Essas conquistas deixaram muitos felizes e esperançosos, mas Medeiros alerta para o fato de que o ritmo acelerado pode prejudicar as decisões tomadas. Para ele, é mais vantajoso que cada ponto seja discutido separadamente e, mesmo que isso demore mais tempo, garante mais qualidade ao resultado. Passadas as grandes manifestações, agora os protestos tomam um rumo diferente, pois estão focados em pautas mais específicas. Podemos citar os manifestantes acampados em frente à casa do governador do Rio do Janeiro, Sérgio Cabral, ou as passeatas contra Geraldo Alckmin, em São Paulo. Está em cena também o black bloc, que ao contrário do que muitos pensam, é formado por pessoas de todos os níveis sócio-culturais.

Rousseff recebe representantes de oito centrais sindicais, em mais uma etapa da sequência de encontros programada em resposta às ruas.

11 de julho Primeira aparição dos Black Blocs em São Paulo. Cerca de 30 manifestantes vestidos de preto formam o cordão que remete a um método de ativismo político com tendências anarquistas.

27-28 de junho Em dois dias, sete matérias relevantes, que estavam há muito para ser votadas, são aprovadas em plenário, como o fim do voto secreto para a cassação de mandatos de parlamentares, tornar a corrupção um crime hediondo, incluir o transporte público na lista de “direitos sociais” da Constituição,

Manifestantes ocupam a

e fim da PEC 37, emenda constitucional que

Câmara de Vereadores do

tirava do Ministério Público o poder de conduzir

Rio de Janeiro em protesto

investigações criminais.

22 de julho

contra a CPI dos ônibus .

Papa chega ao Brasil para a Jornada

9 de agosto

Mundial da Juventude. Manifestantes

Agência Brasil

promovem beijaço gay e vão até o

23 de julho

Palácio Guanabara, onde entram em confronto com a polícia.

Filipe Gonçalves de Assis e Felipe Garcia, integrantes do Mídia Ninja, são presos sem motivo aparente, enquanto transmitiam uma manifestação no Rio de Janeiro. Nesse momento, 15 mil pessoas assistiam às imagens transmitidas ao vivo online.

Infografia: Leticia Ferreira


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Fotos: Mídia Ninja

ESPECIAL

A crescente fama do Mídia Ninja faz repensar modelo de jornalismo vigente hoje Cíntia

Mídia Ninja

O que a mídia de elite tem a temer?

Silva

A

ntes de chegar ao ponto central desse texto, vamos fazer uma pequena recapitulação do que aconteceu no dia 06/06/2013. Os integrantes do Movimento Passe Livre estão há oito anos organizando protestos com o objetivo de acabar com a tarifa cobrada pelo uso do transporte coletivo pois, segundo eles, o transporte só será público no momento em que for gratuito. O movimento não era tão conhecido pelo grande público até o dia 06 de junho, quando 150 pessoas participavam de um protesto pacífico em frente à Prefeitura de São Paulo e foram recebidos de forma violenta pela Polícia Militar. No dia seguinte, as 150 pessoas se transformaram em 5 mil. No dia 17/06, o impressionante número de 250 mil pessoas participou de um protesto nacional. Aquelas foram as semanas mais tumultuadas na história recente do país e todos pudemos ver isso na TV. Os grandes meios de comunicação, que no início tiveram a reação de repúdio, acabaram voltando atrás e admitindo a força das crescentes manifestações (vide Arnaldo Jabor admitindo que errou ao dizer que a manifestação era ignorância política). Foram horas de transmissões que tinham como foco os protestos que tomavam as ruas. Do alto de prédios e helicópteros, jornalistas renomados foram escalados para acompanhar e comentar minuto a minuto tudo o que acontecia. E foi nesse cenário que uma forma diferente de cobertura dos fatos chamou a atenção. O grupo Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação, popularmente conhecido como Mídia Ninja, revolucionou o modus-operandi de cobertura dos protestos. Resgatando o slogan “câmera na mão e ideia na cabeça”, do cineasta

Glauber Rocha, os integrantes do grupo se muniram dos seus celulares e notebooks e foram às ruas para mostrar full time os protestos. Era uma nova visão do que acontecia, pois as pessoas podiam estar dentro das manifestações, e não “sobrevoando-as”. Enquanto quem estava com seu televisor ligado via do alto uma multidão de pessoas segurando cartazes, quem estava conectado podia observar Filipe Gonçalves de Assis e Felipe Garcia sendo presos sem motivo aparente. E, nesse momento, 15 mil pessoas assistiam às imagens transmitidas ao vivo online. São dois tipos de transmissões

A internet já estava dando mostras de tudo isso mesmo antes da Mídia Ninja aparecer - Guilherme Carvalho, Presidente do Sindijor bem diferentes: a feita pelas mídias ditas “tradicionais” e essa pela mídia “livre”, que não tem uma grande estrutura bancada pelas grandes empresas de comunicação e leva seus equipamentos dentro de um carrinho de supermercado.

Repensando o jornalismo Em um primeiro momento, houve uma questão a ser respondida: a mídia Ninja faz jornalismo? Sim, a mídia Ninja é formada por jornalistas, e não jornalistas também. Um dos seus fundadores, Bruno Torturra, foi repórter da revista Trip por 12 anos e roteirista do programa “Esquenta” na rede Globo, mas decidiu deixar para trás o emprego nas redações para se dedicar ao Mídia Ninja.

Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná –Sindijor/PR- Guilherme Carvalho, o mídia Ninja deixa para nós alguns pontos a se pensar em relação à profissão. “É um grupo que disponibiliza conteúdos informativos que podem estar concorrendo com conteúdos jornalísticos, o que acaba colocando a atividade na parede, pois temos que repensar a função do jornalista a partir do que está acontecendo”, afirma. Desde que a internet surgiu, os jornalistas já estavam lidando com uma ferramenta que poderia mudar o modo de se distribuir informação, visto que na rede todos podem produzir e divulgar conteúdo. Essa prática não nasceu com a Mídia Ninja, pois “a internet já estava dando mostras de tudo isso mesmo antes dessa mídia alternativa aparecer”, diz Carvalho. Uma das primeiras lições que um estudante de jornalismo aprende na faculdade é que o profissional da área deve relatar fatos, e nunca estar inserido nele. Esse é um dos aspectos quebrados pela Mídia Ninja, visto que os integrantes do grupo acabam fazendo parte do acontecimento que transmitem, já que são personagens da história que estão contando. O que tem um lado positivo e outro negativo, como conta o presidente do Sindijor/PR. “ O aspecto positivo é que você tem um jornalista inserido naquele meio, e assim ele pode absorver completamente tudo o que está sendo divulgado por meio da sua câmera, colocando o público dentro da manifestação o tempo todo, sem edição de imagens, o que dá um retrato mais fiel da realidade”, explica. O ponto negativo seria que, “o fato de estar ali presente pode retirar do jornalista a possibilidade de percepção das outras partes da história, o que pode fazê-lo perder a sua objetividade e, nessa profis-

são, é fundamental ser objetivo. Em alguns momentos, ele pode acabar esquecendo que o jornalismo também é feito desses critérios imparciais.” Em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, Torturro afirmou que a ficha da sociedade caiu, e foram muitas fichas de uma vez só, pois enquanto a mídia convencional apontava as fichas (dos helicópteros) a equipe do Mídia Ninja estava no chão pegando essas fichas. É uma declaração que pontua bem a diferença de tratamento da notícia entre essas outras mídias. Em tempos onde muitos jovens condenam o trabalho das grandes emissoras pelas redes sociais, um trabalho como o da Mídia Ninja acaba trazendo um novo fôlego. Mas será que as grandes emissoras devem temer esse fenômeno? Em relação a isso, Torturro opina: “A internet de alguma forma remodelou a estrutura de comunicação do mundo inteiro, o que faz com que os meios de comunicação de massa tenham que rever suas formas de fazer jornalismo.” Isso acaba colocando a mídia em cheque, pois a partir do momento em que uma informação é divulgada na internet, mas não nos grandes meios, as pessoas acabam se perguntando porque a TV não está dando a notícia. Segundo Carvalho, esse foi um dos motivos da ampla cobertura da manifestação feita pelos grandes veículos. “Se eles não fizessem essa cobertura, as redes sociais iam fazer, a Mídia Ninja também, e esses grandes meios iriam perder a credibilidade”. Para finalizar, o presidente do Sindijor/PR ainda completa: “Com certeza, essa mídia alternativa concorre com os meios de comunicação e, ainda mais, acaba remodelando-os, mas eles não vão ser inimigos e, sim, tendem a caminhar juntos”.


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MODA

A roupa reflete a sua personalidade Vista-se como você é sem fugir das tendências da moda

Eni Santana

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maneira consciente ou inconsciente como nos vestimos fala sobre o nosso momento e sobre quem somos. O tecido, cores e estampas, assim como a forma da roupa, transmite uma mensagem, um sentimento. São verbos, substantivos e pronomes. Toda imagem é sentida pelo outro. Transmitir uma sensação, boa ou ruim, depende das referências de cada um e da referência coletiva. Quem afirma é a consultora de imagem, Sylvia Cesário Pereira. “Sem a autopercepção correta, não se consegue construir um estilo original e refratário da personalidade. Alcançar este objetivo ajuda a viver melhor consigo mesmo e com seus desafios. O autoconhecimento possibilita realçar os dotes físicos e

atenuar áreas problemáticas do corpo. Além disso, ajuda a ser original, sem copiar ninguém, nem seguir tendências que possam construir um retrato que vá contra a sua personalidade”. Grande parte das mulheres está em busca do corpo perfeito. Mas qual é o corpo perfeito realmente? Essa é uma questão bastante complicada de ser respondida, pois ao longo da história a concepção de corpo ideal foi sendo modificada. Portanto, o corpo ideal é aquele que você tem desde que esteja saudável. “Porque todo mundo é perfeito de formas diferentes”, explica a cantora Demi Lovato. Nesta página, as dicas de vestidos para eventos noturnos da consultora de imagem, Sylvia Cesário, e que vão lhe ajudar a construir aquilo que você deseja transmitir. Seios fartos e ombros largos Decote V; não usar mangas curtas na altura dos seios, nem bordados ou detalhes no decote, pois passam a impressão de serem ainda maiores, não usar decote canoa.

Mulheres baixas Vestidos mais longos; Decote profundo; Uma cor apenas; Saia menos volumosa. Braços grossos Mangas soltas até o cotovelo, com uma leve transparência; nunca justas.

Seios pequenos Altas

Decotes rasos, redondos ou quadrados; bordados e babados valorizam o busto. Ombros estreitos Decote ombro a ombro, com mangas curtas ou longas; saias pesadas e sem volume.

Tronco longo e pernas curtas Cintura alta; saias longas.

Vestidos com corpo e saia em diferentes texturas, cores ou tecidos, com detalhes médios.


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CULTURA

Próxima parada “Estação Leitura’’ Claudiane Santos

Simone Leal

D

esembarcar do ônibus e se deparar com uma biblioteca é uma realidade que está acontecendo em Curitiba desde o início do ano. No último dia 28 de março, a capital paranaense inaugurou as quatro primeiras Tubotecas, na Praça Rui Barbosa, no Centro da cidade. Trata-se de um projeto realizado pela Fundação Cultural de Curitiba juntamente com a Urbs (Ubarnização Curitiba S/A) e o Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba). O objetivo é incentivar a leitura entre as pessoas que utilizam o transporte público através da instalação de bibliotecas dentro das estações-tubos. O projeto também está presente em outras localidades como a Praça Carlos Gomes, Estação Central e Avenida Marechal Floriano e, ao todo, são dez tubotecas funcionando na cidade. As bibliotecas instaladas dentro das estações-tubos funcionam a partir de uma estrutura básica e um sistema simples. Existe uma estante com livros que podem ser retirados e levados para casa pelos passageiros. Não há a necessidade de fazer cadastros ou passar por qualquer outro procedimento, porém é necessário ter o bom senso de devolver a obra após a leitura. O projeto começou com cinco mil livros doados pela Biblioteca da Universidade Federal do Paraná, disponibilizando para os curitibanos os gêneros de literatura, crônicas, contos, romances, poesia, história em quadrinhos, infantil e infanto-juvenil.

Desconhecimento

Mas será que as pessoas sabem como funcionam as Tubotecas e a retirada dos livros para leitura? Infelizmente este propósito passa despercebido por muitos. Elisabeth Felipe, 36, atendente de telemarketing, diz que desde a implantação da Tuboteca nunca parou para dar uma olhada. “Confesso que percebi, sim, a estante de livros dentro das estações, mas sempre correndo aqui e apressada ali nunca parei para observar e saber como funciona e o porquê dessa iniciativa”, diz.

Ela declara que com a correria entre um compromisso e outro acaba por não se atentar a parar e se desligar em meio a tantas atividades diárias. “Realmente, fico tão preocupada e ansiosa para resolver pendências da minha vida, que não me liberto para outras coisas. Acho que preciso mesmo me desligar e mergulhar em uma boa história” admite. O atendente de telemarketing, Bruno Henrique Saibert, 21 anos, ressalta os benefícios que a iniciativa pode trazer, “Mais do que apenas disponibilizar livros de forma bastante acessível, é entender que existe uma preocupação com o nível cultural da nossa cidade. Desta forma as pessoas passariam a analisar mais atentamente os acontecimentos ao nosso redor”, afirma. Já Ramires Souza, estudante de mecânica, 18 anos, aponta para a importância da leitura, visto que muitas pessoas estão conectadas nas redes sociais e navegando na internet. “Se olharmos em volta, percebemos a maioria das pessoas com seus celulares ouvindo músicas e acessando a internet, então nem dão atenção para um livro”, observa. Para ele, a instalação de bibliotecas dentro dos tubos foi bastante estratégica, pois diariamente passam muitas pessoas por cada uma delas. “Hoje os cidadãos não param mais para ler, pelo menos a maioria. E com a correria do dia a dia nem percebem estas iniciativas para se criar novos hábitos”, comenta. A princípio, os livros disponibilizados nas Tubotecas não deveriam ser de caráter didático, religioso e científico, mas em outra língua que não seja o português brasileiro, pode? Pela lógica, não, uma vez que o projeto está sendo aplicado em Curitiba, uma cidade brasileira, onde a maioria da população fala português. Porém, nestes locais existe a possibilidade de encontrar um livro em idioma estrangeiro. Roger Wellington Alves, 22, estudante, conta que foi pegar um livro na Tuboteca, na Rui Barbosa, e ficou admirado ao encontrar um exemplar em outra língua. “Peguei o livro alemão e fiquei surpreso por dois motivos. Primeiro, por entender que existem pessoas que estudam o idioma e um livro como esse pode ser de grande ajuda. Segundo, creio eu que a maioria não fala alemão, então fica um pouco complicado falar em incentivo à leitura e se deparar com uma obra escrita em outro idioma”, conta impressionado.

Fotos: Claudiane Santos

Livros nas Tubotecas incentivam a curiosidade dos passageiros

Passageiros escolhem livros para ler enquanto esperam o ônibus na estação-tubo

A ênfase é propagar a cultura na cidade Segundo a assessoria de imprensa da FCC (Fundação Cultural de Curitiba), os livros que são disponibilizados partem de doações, então o único processo que se realiza é o de separar os livros técnicos dos literários. O controle não existe, pois dizem que as pessoas que leem os livros não o devolvem de imediato, mas, sim, passam para outros leitores, portanto não existe uma análise se realmente os livros são devolvidos ou não. A assessoria também informa que a maior vantagem do projeto Tuboteca é de que não existe nenhuma burocracia quanto ao empréstimo dos livros, o que facilita muito para a comunidade pegar um exemplar. Outro ponto bastante relevante é o fato de o leitor não precisar se deslocar para uma biblioteca e fazer a carteirinha, pegar determinado número de livros e devolver em tal data estipulada. Sem dizer que tudo isso pode ser feito sem haver a necessidade de sair de seu trajeto. Mas dá ênfase sobre a questão de propagar a cultura da leitura de uma forma natural e sem pressão. De fato, segundo o professor doutor em Literatura, Eugênio Vinci de Morais, o projeto pode ser considerado uma boa iniciativa. “A princípio, me parece uma

boa iniciativa, por dois motivos. Primeiro, por causa do lugar onde os livros estarão à disposição dos cidadãos: em pontos de acesso ao transporte público circula o público que, em geral, tem menos acesso ao livro. Segundo, porque livro e ônibus é uma excelente combinação. Ler faz com que a viagem seja mais agradável e rápida. Além disso, combate um pouco a política absurda de implantar tevês em ônibus, com fins publicitários’’, diz. O professor também aponta que os gêneros literários disponibilizados contribuem para com a formação dos curitibanos, contudo, também poderia haver obras Primeira tuboteca instalada na praça Rui Barbosa, no centro de Curitiba

relacionadas à história geral, história do Brasil, sociologia, entre outras que incentivassem a formação cultural e intelectual do brasileiro. “A leitura em si mesma não é uma panaceia. A leitura acrítica pode criar monstros, parafraseando uma frase famosa’’, salienta. Por fim, ele também aponta que a preferência seria para que todos os livros fossem em português, mas obras em outro idioma não são um grande problema, uma vez que podem servir para o entretenimento de pessoas estrangeiras ou ainda despertar a curiosidade do curitibano em aprender outro idioma.


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CRÔNICA

Leticia Muller

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u não imaginava até onde poderia chegar a oposição entre o corpo e a mente. Não com 11 anos. Era dia 19 de dezembro e eu estava, com meus pais, na casa de minha avó, antecipando o Natal, pois viajaríamos no outro dia de manhã e só voltaríamos no início do ano seguinte. Já havíamos passado por quase todas as etapas do ritual natalino: rezamos, cantamos e nos cumprimentamos em frente ao enorme pinheiro de Natal, quase centenário, do qual minha avó cuidava com esmero há tantos anos que nem meu pai saberia contar. Ao pé da árvore, pacotes coloridos incrementavam a decoração e aumentavam a curiosidade de desvendar o conteúdo de cada um deles. Segui meus instintos infantis e abri primeiro os presentes maiores. Ganhei novos exemplares pra minha coleção de bonecas Polly e ansiava acabar de abrir os outros presentes para ir logo brincar com minhas novas bonecas. Não estava errada. Os pequenos pacotes eram roupas de todos os tipos: vestidos pra réveillon, conjuntos leves para o verão e biquínis. Como toda mãe que se preze, a minha quis logo me levar ao lavabo para que provasse aquele amontoado de chatices. Quis acabar logo com aquilo, e fui correndo experimentar as roupas. Todas serviram, mas ainda faltavam os biquínis. Tentei convencer minha mãe de que eles serviriam perfeitamente, que eram lindos, parecidos com os outros que eu tinha, etc... Mas não teve jeito. Tirei a blusa e provei a parte de cima da roupa de banho. Eu mal usava sutiã. Olhei pra minha mãe, e falei: - Pronto, perfeito. Quis me vestir rapidamente, colocar a blusa por cima do biquíni, e ir de encontro com minhas bonecas, mas minha mãe, ainda mais ágil, me estendeu a parte de baixo, prolongando a minha angústia: - Toma filha, veste isso para ver se serve. Amuada, obedeci. Despi-me e lá estava algo que, primeiramente, me fez gargalhar. Uma

mancha avermelhada contrastava com os ursinhos azuis da minha calcinha. Olhava para aquilo meio hipnotizada pela dúvida, quando ergui o pescoço até alcançar o rosto de minha mãe, e vi seus olhos marejados em lágrimas. Olhei de novo para a mancha, e minha reação foi, de pronto, pedir desculpas. Até hoje não sei se ela me ouviu. Seu olhar perdia-se num vazio que nunca compreendi e me envolveu a tal ponto que lacrimejei por achar que havia algo de errado comigo. Sentei no mármore gelado, sem nem mais pensar em Polly, biquínis ou qualquer outra coisa que o valha. Ela sentou ao meu lado, me envolveu em seus braços e falou a verdade sobre o que estava ocorrendo.

Apesar de já ter estudado aquele assunto nas aulas de ciência, não imaginava que aconteceria comigo, ainda mais tão cedo. Vivia meu primeiro conflito interno de menina mulher. A natureza havia me pregado uma peça, ou cometido um terrível engano. Uma menina de 11 anos, que acabara de ganhar bonecas e estava louca pra ir brincar, não estava apta para entender que, teoricamente, poderia gerar outra criança. A tristeza era tanta que me sentia culpada, com medo da reação da família. Dos meus avós, eu tinha medo que eles pensassem que haviam me dado os presentes errados, ou que eu não havia sido sincera ao agradecê-los. Das minhas amigas, eu tinha medo da rejeição, pois em uma fase em que ser semelhante aos outros é o que mais importa, eu seria a única que estava passando pela tal transição. Do meu pai, vinha o maior medo: de perder o trono de menininha para mim mesma e quebrar a sua expectativa eterna de que eu fosse para sempre a sua criança.

Meu medo? Um sentimento de culpa por achar que havia feito algo errado, de não ter dado provas suficientes à natureza de que não estava pronta para aquilo e a fatídica descoberta de que não tinha controle sobre meu corpo. Afinal, eu era uma criança, e aquilo não estava certo. Não fazia sentido. Eu me sentia egoísta por pensar que poderia ter filhos, enquanto havia milhares de casais pelo mundo lutando para conseguir o que eu desprezava, a possibilidade de tê-los. Cheguei ao ponto de querer ocultar de mim mesma a verdade de ser mulher. Limpava-me até não haver mais nenhum vestígio, ação que consumia meio rolo de papel higiênico. Eu gastava por dia, em “purificação”, mais de dois rolos de papel. Fiquei cega para meninos. Não os olhava, apenas sentia sua presença, e a evitava. Não tinha mais a liberdade de entrar na piscina na hora em que bem entendesse, e em mim aflorou um pudor até então desconhecido. Já não me despia em frente a outras crianças no vestiário e olhava para minha calça de minuto a minuto, temendo um acidente que me levasse à humilhação já latente. Essa foi a primeira experiência em que comprovei que a mente não tem idade, mas o corpo sim. E aí ficou a dúvida... o que eu era? Uma menina ou uma mulher? E uma mulher já passada da menopausa? Ela pode ser mais jovial que uma moça no auge de seus 20 anos. O que elas são afinal? O que faz com que a chamem de velha ou jovem? O que define o que somos? O que os outros veem? Ou o que pensamos? Platão já dizia: “O corpo é a prisão da alma”.

@ TÁ NA WEB Jéssica Barbosa

Os blogs de moda que mais bombam nas redes! Todos sabemos que não só mulheres como também homens gostam de estar na moda, vestir as tendências e estar bem consigo mesmo. Pensando nisso, veja abaixo uma lista de alguns blogs de moda de Curitiba e também de outras cidades do Brasil, como por exemplo São Paulo. O primeiro é de três jornalistas curitibanas: Sabrina, Marina e Thaís, que são amigas. No blog Coisas de Diva, elas falam de moda, dão dicas de beleza, leitura, posts relacionado a tendências, entre outros. Vale a pena conferir. @: http://www.coisasdediva.com.br/ Bem interessante é também o blog curitibano de Jéssica B. Ela aborda tema diversos, com uma página no youtube onde posta tutoriais de maquiagem, beleza, comportamento e fala sobre outros temas, como suas viagens ao exterior. Ela conta suas experiência e tira muitas dúvidas. @: http://www.keepcalmdiy.com/ Outro blog que surgiu há pouco tempo é da estudante do Centro Universitário Uninter, Karoline Americo, que faz Publicidade e Propaganda. Ela criou o blog com o intuito de divulgar as tendências, dar dicas sobre beleza, comportamento e, claro, também fala sobre moda e ainda mostra os looks que estão bombando na cidade. Se você quiser conferir é o http://guriasarrumadas.blogspot.com.br/. Vale muito a pena! Outro endereço que faz que faz muito sucesso e existe desde o ano 2000 é da blogueira Lia Camargo, que mora em São Paulo e já teve muitos sites sobre moda. Lia fala sobre tudo: design, moda, game, filmes, maquiagem, música, brinquedos, bichos além de dar dicas e fazer tutoriais de maquiagem. É uma página que faz muito sucesso na rede. @: O blog é: http://www.justlia.com.br/. Lia Camargo, blogueira do Just Lia

CHARGE Zerinho - Mendigo Galã que nada

Amigo eu também quero ajuda, tira uma foto?

Apoio cultural MyPhone

OK!

Coloca no Face

Faz um favor, tira foto dos “parça” aí, todo mundo aqui quer uma ajuda

Reprodução

Ser ou não ser mulher?


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ENSAIO FOTOGRÁFICO

Largo

Os protagonistas do

Laura Weis

O

Largo da Ordem se tornou um ponto de encontro, tanto para jovens quanto para adultos. Aos domingos, as ruas antigas, bem no centro de Curitiba, se enchem de cor, movimento e, principalmente, alegria, pois neste dia acontece a tradicional feirinha, que mistura artesanato, arte e música. E entre tantas pessoas podemos encontrar curiosos personagens, alguns que já se tornaram marco da cena local.

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