Jornal de Abrantes - outubro 2021

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PATRIMÓNIO / NOMES COM HISTÓRIA / Grupo

Rua General Manuel António Morato – antiga rua da Cadeia //Teresa Aparício

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foi a figura homenageada no topónimo referido. Este militar nasceu em Campo Maior em 1811 e com 22 anos assentou praça em Lagos, onde participou, ao lado dos liberais, nas lutas então travadas no Algarve contra as tropas de D. Miguel. Decidiu depois seguir a carreira das armas e é no posto de capitão, integrando o Regimento de Infantaria 11, que chega a Abrantes em 1854, onde ficou a residir com a família. Mas que fez este militar de tão relevante para merecer entrar na toponímia abrantina? É que foi ele o autor da” Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes”, a nossa primeira monografia feita com a seriedade possível, dadas as precárias condições da época. E como é que um militar, que nem sequer era abrantino, nómada por contingências da profissão, se lembrou de empreender uma obra desta envergadura? Em 1947, D. Maria II determinou que em cada um dos Concelhos do Reino houvesse um livro onde fossem redigidos os Anais do Município, registando aí os factos mais relevantes acontecidos no ano. Só em 1860 a Câmara resolveu pôr esta portaria em prática, solicitando a Manuel António Morato a responsabilidade da realização desta nada fácil tarefa, por lhe serem reconhecidos “os devidos merecimentos literários”, acrescentando o pedido para que anexasse aos Anais um estudo das antiguidades de Abrantes. Mesmo em condições adversas, o país vivia então em constantes

guerrilhas políticas, e com dificuldade em consultar o Arquivo Central e boas bibliotecas, Morato aceitou. Logo no ano seguinte entregou à Câmara as “Memórias Históricas” e a seguir redigiu os Anais entre 1860 e 1865 e, como foi depois transferido para Lamego, os de 1866 a 1868 são da responsabilidade de João Valentim da Fonseca Mota. Os Anais e os acontecimentos mais próximos foram registados com bastante rigor, o mesmo não acontecendo com os factos mais recuados que, por dificuldade de acesso a fontes fidedignas, enfermam de bastantes incorrecções e imprecisões. Este trabalho só foi divulgado ao público 120 depois de ter sido redigido, quando Eduardo Campos tomou entre mãos a pesada tarefa de fazer uma rigorosa cópia do manuscrito, de analisar cuidadosamente o texto, de o anotar e organizar de modo a poder ser publicado, o que veio a acontecer no início da década de oitenta do século passado, encontrando-se disponível para quem o quiser comprar ou consultar na Biblioteca Municipal António Botto.

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Esta é uma das seis ruas que desemboca, em sentido norte/ sul, na Praça Raimundo Soares Mendes, mais conhecida por Largo do Município. Confina com o edifício da Câmara e para esta rua dava outrora a porta de entrada da cadeia civil, o que deu origem ao antigo topónimo. Há notícia de que a Casa da Câmara, onde se albergam os serviços do município, hoje descentralizados num outro edifício da mesma praça, já se situava neste local no reinado de D. Manuel I, portanto desde os finais do século XV, ou princípios do XVI e ali se tem mantido até hoje, embora sofrendo várias alterações ao longo dos anos. Reparações várias, mas todas elas pouco sólidas, foram feitas durante todo o século XVII até que, em 1715, D. João V ordenou que fossem executadas obras de fundo no referido edifício e, como havia dinheiro, tudo foi rápido de modo que em 1717 as obras já estavam concluídas. Por essa altura foram também comprados uns pardieiros anexos, para nesse espaço se fazerem “casas de aposentadoria” para os visitantes e também para ali ficar instalada a cadeia civil que, por falta de condições, tinha sido transferida para o Castelo. Mais tarde, a cadeia mudou para o edifício destinado a albergar as Repartições Públicas e o Tribunal, construído em 1904 no local onde se situara o antigo Convento da Graça e onde hoje está instalada a ESTA (Escola Superior de Tecnologia de Abrantes). Em meados do século XX ainda aí se encontrava a cadeia, podendo então qualquer pessoa ir visitar os presos à janela, conversar com eles e até levar-lhes alimentos. Depois as cadeias passaram a ser mais centralizadas e hoje já não há cadeia em Abrantes, sendo os presos da região levados para outras localidades, certamente com melhores condições, mas menos prático para os familiares que os querem ir visitar. Mais tarde, em Janeiro de 1910, a Câmara atribuiu a esta rua o nome de 2 de Maio de 1909, data da inauguração da iluminação pública com energia eléctrica, sem dúvida um importante melhoramento para Abrantes. A partir de 28 de Maio de 1986, passou a ser designada por Rua General Manuel António Morato, mas a verdade é que pouca gente a conhece por este nome e também poucos sabem quem

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Consultas: - Campos, Eduardo, Introdução (com notas biográficas) da Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes, C.M de Abrantes, 1981. - Campos Eduardo, Toponímia Abrantina, C.M de Abrantes, 1989 - Morato, Manuel António e Mota, Joaquim V. F, Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes, C.M de Abrantes, 1981

Outubro 2021 / JORNAL DE ABRANTES

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