Revista Açucenas

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DEZEMBRO 2022 1

Macapá - Amapá AÇUCENAS

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FOTO: HICK DUARTE

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SUMÁRIO

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Do Amapá para o mundo

Heliane Braga: 1° Comandante geral do Amapá

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Uma história de amor: 52 anos de jornalismo

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Tani: A artista amapaense que venceu o prêmio ‘‘Música do Ano’’

Do sumo etério ao molde de uma vida

Casa-viva: Um espaço de sonhos idealizado por uma sonhadora

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AÇUCENA: Flor originária da América do Sul e comumente encontrada próxima de rios e riachos, conhecida popurlamente no norte do Brasil como Açucena, Flor-de-lis e Estrela do Norte.

Expediente Editora Chefe: Patrícia Lima Editora de arte: Maria Clara Araújo Diagramação: Maria Clara Araújo Revisão: Anna Clara Trindade Reportagens: Mariana Braga Maicon Teles Maria Clara Patrícia Lima Laura Medeiros Jdean Monteiro Vetores: PurePNG, FreePik Orientação: Professora Lilian Do Rosário Universidade Federal do Amapá - UNIFAP Curso de Jornalismo Matéria: Planejamento Gráfico

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DO EDITOR Patrícia Lima

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uando surgiu a ideia de mostrarmos a comunidade acadêmica e quem sabe ao mundo uma revista, decidimos que o tema seria ‘mulheres’. Mulheres que fazem, que são, que querem, que vivem e que representam a história Amapaense. Começamos nossa busca por mulheres que poderiam representantar o nosso estado e região. Buscavamos histórias e vivências diversas, mulheres que nasceram e cresceram no Amapá e que se orgulhavam de suas raízes. Por fim, encontramos nossas estrelas do norte, nossas açucenas, mulheres que iam muito além do que procurávamos. Essa revista é de donas Marcianas, de Rayanes, de Tanis, de Alcineas, de Helianes, de Moaras e de todas as mulheres do norte do Brasil que nos encantam com suas histórias e trajetórias. Agradecemos a cada umas de nossas protagonistas, a disponibilidade e o cuidado que tiveram com nossa equipe. E aos nossos leitores, desejamos que possam enxergar as personagens apresentadas aqui como mulheres extraordianárias. Mergulhe, escute, perceba! Esse trabalho foi feito com muito carinho para todos vocês.


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DO AMAPÁ

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MUNDO Rayane é a Amapaense convidada para fazer parte do projeto “Segundo Ato”, da empresa de streaming Netflix Brasil.

Rayane Penha foi a única cineasta amapaense selecionada para o projeto. ‘Segundo Ato” tem como objetivo incentivar a produção audiovisual de roteiristas e produtores negros e indígenas, além de aumentar o número desses profissionais no mercado audiovisual brasileiro. Além disso, é uma oportunidade para exibir as narrativas sobre as diferentes identidades que representam a diversidade do país. Texto: Mariana Braga

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Fotos: Reprodução

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A cineasta começou a atuar na área aos 16 anos, por meio de uma iniciativa do Governo do Amapá em promover cursos de teatro e cinema no estado. Rayane explica um pouco sobre o início da sua carreira e de como surgiu o seu amor por arte e cinema: “Consegui mudar para a turma de cinema e descobri que no processo da produção você tinha que escrever, e eu sempre gostei muito de escrever! Lá, acabei me descobrindo e fazendo várias coisas durante a formação.”.

FOTOS: Reprodução do documentário UTOPIA

Em janeiro de 2022, Rayane teve seu segundo curta-metragem “Utopia” premiado como Melhor Filme - Júri, na 4a edição do Festival Olhar do Norte.

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“[o filme Utopia] Foi por conta de um Edital do Canal Futura que eu ganhei, mas inicialmente foi muito difícil para eu conseguir participar, não entendia nada desses processos, tentei achar uma produtora para escrever, mas ninguém queria aceitar”, relata ela, sobre as dificuldades que enfrentou para que seu trabalho chegasse mais longe.

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Seu primeiro filme “Carta sobre o nosso lugar: Mulheres do Vila Nova” retratou a história de sua família, e suas obras possuem um tom pessoal e representativo, buscando apresentar as origens da diretora. A cineasta ainda conta que, em um futuro próximo, deseja dar inicio ao seu primeiro projeto de longa-metragem.


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PRA DESCREVER UMA MULHER NÃO É DO JEITO QUE QUISER PRIMEIRO TEM QUE SER SENSÍVEL SE NÃO, É IMPOSSÍVEL QUEM VER, POR FORA, NÃO VAI VER POR DENTRO O QUE ELA É É UM RISCO TENTAR RESUMIR

MULHER ‘‘Mulher’’ - Elba Ramalho


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Comandante-geral do Amapá A coronel Heliane Braga de Almeida, de 42 anos, foi escolhida para estar à frente do comando geral da Polícia Militar do Amapá (PMAP). A cerimônia ocorreu no dia 16 de maio, após o convite feito pelo governador do estado, Waldez Góes. Heliane atua na instituição há 23 anos e já foi subcomandante do 1º batalhão da PM e do batalhão ambiental, e também foi comandante do Batalhão de Policiamento Rodoviário Estadual (BPRE). Texto: Maicon Teles - Fotos: Reprodução

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A militar é de uma família

humilde natural de MacapáAP. Estudou a vida toda em escolas públicas; hoje, além de ser bacharel em Segurança Pública pela Academia de Polícia Militar do Cabo Branco/Universidade Estadual da Paraíba, também é graduada em Direito e em Fisioterapia. “Quando recebi o convite, tomei um susto, porque eu não esperava. Imagina você estar em uma instituição ocupada em grande parte por homens – são 16 coronéis, e eu sou a única mulher dentre eles. A probabilidade maior seria que fosse um deles e eu já estava conformada, nunca tinha almejado esse cargo por essa questão lógica.”, declarou a comandante-geral.

FOTOS: Acervo do GOV Federal do Amapá

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Apenas em 1950 surgiu a ideia de empregar mulheres em missões policiais no Brasil, e o primeiro estado a ter um policiamento ocupado por elas foi São Paulo. A partir disso, só em 1970 que as demais corporações passaram a dar lugar às mulheres. No decorrer dos anos, cresceu gradativamente o número de mulheres em corporações. No Amapá, em 78 anos de história da instituição, essa é a primeira vez que uma mulher assume o posto de comandante-geral da Policia Militar.

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Vitória Araújo, de 19 anos, pretende exercer a profissão e tem a coronel como inspiração; seu sonho é um dia ocupar o lugar de comandante geral. A estudante destaca a importância de ter uma mulher no comando geral da polícia: “É uma representatividade feminina

muito grande e também é um incentivo enorme para todas as mulheres que sonham em seguir a carreira militar. Ter ela no comando faz nós mulheres termos coragem para ir em busca de nossos sonhos, mesmo sabendo do preconceito que existe em nossa sociedade acerca de mulheres dentro das corporações militares.”

A respeito da representatividade de mulheres ocupando lugares que são majoritariamente ocupados por homens, a comandante-geral afirma que não se imagina exercendo esse papel, mas sabe da importância que o seu lugar tem na vida de outras meninas que almejam seguir por essa profissão:

Por ainda ser uma das profissões dominadas por homens, atualmente apenas

nesse sentido, eu me sinto constrangida até, mas ao mesmo tempo me sinto honrada, prestigiada, lisonjeada por estar ocupando esse espaço, pois sei do peso dessa responsabilidade.”.

de 46.180 pessoas do sexo feminino e 357.501 do sexo masculino, entre praças – pessoas que tem apenas ensino fundamental, médio ou médio técnico – e oficiais – pessoas com nível superior.

12% do efetivo das polícias militares “Nunca me imaginei sendo um símbolo é formada por mulheres. São cerca

FOTOS: Acervo do GOV Federal do Amapá


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Filmes

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1. A mulher fantásti- 2. Revelção

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3. Alice Júnior

ca (Filme Chileno)

(Documentário)

(Filme Brasileiro)

4.Divinas Divas

5. A morte e a vida de 6. Entre-laços

e documentários

com mulheres

TRANS Por Céu Leehi

(Documentário)

Marsha P. Johnson (Documentário)

(Filme Japonês)


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JORNAL

1976

2001

RÁDIO BLOG

REDAÇÃO

2022

2010

1985

TELEVISÃO

Uma história de amor: Cinquenta e dois anos de Jornalismo Professora, poeta e escritora, a jornalista Alcinéa Cavalcante conta um pouco da sua trajetória na profissão. Nascida em fevereiro de 1956, Alcinéa Cavalcante é uma referência no jornalismo Amapaense. Em um bate-papo direto, ela compartilha um pouco de si e da sua trajetória ao longo dos cinquenta e dois anos de carreira. Com humildade, serenidade e muita experiência, Alcinéa demonstra sua paixão pela escrita e compromisso com seu papel de comunicadora.

1998 FOTOGRAFIA

Texto: Maria Clara Araújo

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Fotos: Maria Clara Araújo


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ALCINÉA - Meu pai era jornalista e sempre li muito. Comecei escrevendo em jornais de grêmio e não parei mais. Sempre fui apaixonada por jornalismo por ser algo que não cai na rotina. Todos os dias são diferentes, todo dia é novidade. PERGUNTA - Como você descreveria a sua maneira de informar a população? ALCINÉA - Tenho muita responsabilidade ao levar a informação para a sociedade. Tenho muito cuidado, checo tudo, não abordo a vida pessoal. Procuro sempre a verdade, o fato como aconteceu. Acredito que a maior riqueza de um jornalista é sua credibilidade. Quando ele perde a credibilidade, pode dar adeus a carreira; acabou tudo.

FOTO: Reprodução/Acervo pessoal de Alcinéa Cavalcante

PERGUNTA - Como foi o seu primeiro contato com o jornalismo?

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ALCINÉA - Uma pessoa comum. Serena, calma e feliz. Sempre evitando qualquer tipo de conflito.

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PERGUNTA - No início da sua carreira, existiam outras jornalistas mulheres que te inspiraram no Amapá?

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PERGUNTA - Como você se descreveria? Quem é Alcinéa Cavalcante?

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ALCINÉA - Jornalismo era profissão de homem. Talvez eu tenha sido a primeira mulher. Não tenho certeza. Mas não lembro de alguma mulher fazendo jornalismo aqui no Amapá na época. Naquele tempo as mulheres eram locutoras de rádio ou apresentavam programas de música ou infantil. Talvez tivesse alguém fazendo coluna social, no máximo. PERGUNTA - O que você acredita que tenha sido o seu diferencial nesses anos de trabalho? Algo que possa ter sido um fator para você ser uma referência do jornalismo amapaense. ALCINÉA - A busca constante do aprendizado, muita leitura, orientação e conselho dos mais experientes, humildade para perguntar a eles, muito estudo e respeito aos entrevistados. E sempre colocando a ética acima de tudo. Como dizia Ernest Hemingway,que foi um grande escritor e jornalista: ‘‘Nessa arte somos todos aprendizes’’. Sigo isso até hoje.


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PERGUNTA - Poderia contar um pouco sobre um momento ou um trabalho em que você se deu conta da importância e do impacto da forma que você exerceu e ainda exerce a profissão de jornalista? ALCINÉA - São tantos momentos! Mas cito a reportagem que fiz sobre o fato de algumas instituições, inclusive internacionais, estarem usando os ribeirinhos do Amapá como cobaias humanas numa

pesquisa sobre malária. Fiz a matéria que, inclusive, foi manchete no Estadão e outros jornais. Deu um rebuliço, e a pesquisa acabou sendo suspensa. Autoridades da saúde e o presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado vieram ao Amapá para conferir e tomar providências. Foi muito gratificante para mim tirar os ribeirinhos dessa situação humilhante e criminosa que estavam sendo submetidos.

O site era mais visitado por gente de fora, pois pouquíssimas pessoas aqui tinham acesso à internet. E era engraçado (ou trágico) ver que o Brasil não conhecia o Amapá, pois eu recebia muitos e-mails de gente perguntando se aqui tinha supermercado, por exemplo, se tinha campo para dentista, como se chegava aqui, se tinha estrada, se indígenas andavam pelas ruas, se havia onças, jacarés e outros bichos nas ruas.

3 GERAÇÃO 1980

Eu só conseguia atualizar o site do meu computador, pois havia um programa específico para isso. Então se eu estivesse na rua e desse de cara com um fato tinha que correr pra casa pra postar.

4 GERAÇÃO 1970

PERGUNTA - Sobre o seu blog, poderia

contar um pouco de onde veio a ideia e quais eram suas expectativas para a plataforma? ALCINÉA - Sempre fui muito antenada. Então, quando a Internet chegou, resolvi fazer um site (www.ana.com.br). O objetivo era dar visibilidade ao Amapá, mostrar que o Amapá existe, suas belezas, sua riqueza e o que ocorria por aqui nos diversos setores (saúde, educação, turismo, cultura, economia, esportes, etc.).

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Depois disso surgiram os blogs - que eram mais usados por adolescentes, eram chamados de diários de adolescentes - e não precisavam de um programa específico, podiam ser atualiza-

dos de qualquer computador. Num ano eleitoral, com tanta notícia rolando, eu resolvi criar um blog, pois assim eu podia a qualquer hora e de qualquer lugar postar as notícias em cima do lance, bastava que eu estivesse com meu note-

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book na bolsa ou pedisse algum lugar que me emprestasse um computador. Gostei tanto da facilidade de atualizar o blog e da interação que depois fiquei apenas com o blog.


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- ALCINEA -- CASA VIVA -- TANI - MARCIANA -- RAYANE -- HELIANE -

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Do sumo etério ao molde de uma vida A região chamada de Comunidade Car-

mo do Maruanum fica situada às margens da estrada para o município de Laranjal do Jari, cerca de 60 km da capital Macapá. É de lá que sai o barro, matéria-prima para produção das louças que transformaram a vida de Dona Marciana Dias.

Texto: Jdean Monteiro - Fotos: Jdean Monteiro

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Ao falarmos do povo preto, evidenciamos cultura, tradição e ancestralidade, estes repassados de geração em geração, dos mais velhos aos mais novos. Essas tradições marcam e moldam a vida de artesãos como Marciana Nonata, nossa personagem apresentada aqui. Dona Marciana é uma senhora de 82 anos, viúva, mãe, avó, tia, comadre, marabaxeira e artesã. Ela conta que o ofício de louceira chegou à sua vida aos 22 anos, logo após o seu casamento, e quem a ensinou a produzir louças foi sua cunhada, Dona Raimunda. Há 60 anos, a produção de louças com barro do Maruanum tem sido seu trabalho.

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“Desde muito pequena eu via minha mãe e minha tia fazendo peças de barro e queria fazer isso. Hoje, eu trabalho com artesanato e amo esse ofício. Nós, louceiras, iniciamos as produções das peças assim que o barro é extraído. Amassamos o barro com a ajuda do caripé para dar qualidade ao produto, depois colocamos no sol para secar e descansar cerca de um dia. No fim, polimos e finalizamos as peças’’, conta a artesã. O processo da extração do barro é feito de maneira comunitária; homens e mulheres se ajudam. Os homens são responsáveis pela perfuração da terra, enquanto as mulheres, pela extração do barro.


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Dona Marciana explica que antes de todo o processo ser feito, cada um pede à mãe do barro a permissão para a sua retirada. A louceira conta que essa prática é algo muito importante, pois, se o barro for de má qualidade, as peças também serão. Logo, pedir permissão é pedir a bênção das divindades. Assim, a comunidade é abençoada com bons produtos da terra. As peças são produzidas ao longo do ano, entretanto, os artesãos conseguem ter uma produção maior durante o verão, uma vez que o sol é fundamental durante o processo de produção das peças. “Eu já fui pra muitos lugares e conheci muita gente nesse Brasil todo. A pedido do Governo do Estado do Amapá, participamos de Feiras de Exposições e sempre conseguimos vender nossas peças. Isso nos dá a certeza de que nosso trabalho é bem feito. Sem falar que nossas tradições são apresentadas para todo o país.”. Para Dona Marciana, as tradições repassadas por seus ancestrais precisam ser mantidas pelas gerações futuras. Para além disso, é uma honra e alegria fazer parte da história da cultura do Estado do Amapá.

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Qual é a maior lição que uma mulher deveria aprender? Que desde o primeiro dia, ela sempre teve tudo o que precisa dentro de si mesma. Foi o mundo que a convenceu que ela não tinha. - Rupi Kaur

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TANI:

A artista amapaense que venceu o prêmio ‘‘Música do Ano’’ Desde os 18 anos trabalhando com música, a cantora Tani, de 23 anos, lançou seu primeiro EP que conta com 5 faixas sobre seu relacionamento consigo mesma, seus orixás e como é ser mulher preta na sociedade. Foi através da Lei nº 14.017 Aldir Blanc, que prevê auxílio financeiro ao setor cultural, que a cantora pôde produzir seu primeiro EP. Ela conta que havia outras músicas mas precisou reescrever todo o projeto, pois não conseguia mais relacionar sentimentos antigos ao novo trabalho proposto, o que, segundo a artista, foi um processo difícil, mas necessário. A rede de apoio que a artista criou na cena musical amapaense foi muito importante na consolidação de seu novo trabalho. Foi sua amizade com artistas locais como Mc Super Shock e Anthony Barbosa que a impulsionou para realização deste sonho. Texto: Laura Medeiros

Fotos: Laura Medeiros e Maicon Teles

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O processo de escrita das músicas que integram o EP foi significativo para sua autoidentificação como artista em um mundo que considera artistas aqueles que dispõem de grandes quantias de recursos e nomes robustos da mídia. Tani conta que se percebeu como artista a partir de suas tristezas:

“Eu percebi que era artista quando eu estava em sofrimento por não estar produzindo arte, então não tinha como não ser.”. Apesar dos recursos obtidos com a Lei Aldir Blanc, a produção precisou contar com editais e premiações da Secretaria de Cultura do Estado (SECULT) e da Fundação Municipal de Cultura (FUMCULT) para que pudesse ser finalizado, visto que os custos de projetos como esse são altos.

FOTO: Reprodução da capa do EP da cantora TANI

A cantora ressalta a importância da valorização da cultura no estado e de parcerias entre artistas locais independentes: “A gente fica se alimentando de parcerias, mas eu também gostaria de poder pagar por um trabalho desenvolvido para mim. E são valorizações de incentivo, como criação de leis e premiações, que nos dão a oportunidade de reconhecimento.”.

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Ao ter suas músicas rotuladas de “Nova Música Popular Amapaense”, ela questiona e prefere o termo “Música Preta”, que abrange suas referências, vozes do samba e blues, como Alcione e Elza Soares, e artistas locais como Pretogonista e Máfia Nortista, que cantam “Somos a nova MPA, Música Preta Amapaense, Música Periférica Amapaense” e acredita que suas músicas se encaixam nesse nicho de produção. “Independente do que eu fizer, sempre será considerado Música Preta, e esse é o mais legal: essa pluralidade da cultura preta construída nesse país.”, diz a cantora. A identificação do público com os sentimentos que a artista expõe em suas canções só aumenta a ideia de que os artistas locais são capazes de produzir e, mais ainda, de descrever em canções a cultura do estado. Tani diz que sabe do poder que a música tem e garante que pretende cada vez mais construir o seu trabalho com maestria através das histórias reais que cercam o povo preto do estado. “Eu sei do poder que a música tem, porque ela também me toca. Quando alguém diz isso pra mim, sei a potência que tem e, por eu ser uma artista preta e mulher, é o que me encoraja a continuar.”.


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TANI INDICA: 1. PLAYLIST: PRETO É O NORTE

:) :) :) Aponte a câmera do celular para o QR code e seja direcionado para a playlist no Spotify.

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MÚSICAS 1. Bandida Braba - Mc Deeh, Dropanda 2. Bandidas do Asfalto - Yanna Mc, Agatha sou, Amanda braba 3. Capim Rosa Chá - Deize Pinheiro 4. Loba Boba - Patrícia Bastos 5. Nazaré - Sabrina Zahara 6. Filha da Maré - Priisca


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CASA VIVA:

Um espaço de sonhos idealizado por uma sonhadora O museu de artes, que também é um espaço de empreendimento, recebe diariamente amantes das artes, grafites, dentre outras intervenções artísticas e clientes dos empreendimentos que funcionam no local. Texto: Patrícia Sousa Lima

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Fotos: Patrícia Sousa Lima

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Atualmente, a Casa Viva conta com estúdio de tatuagem, salão de beleza e com ateliê de artes, administrados por Moara Negreiros, que também é a dona do espaço. O lugar já teve negócios que foram desde bares a escola de dança, e esses empreendimentos são rotativos para que mais pessoas se sintam interessadas em fazer parte do lugar.

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🏘 Av. Almirante Barroso, 851, Centro Segunda - Sexta


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Um ambiente total e literalmente vivo e cheio de cores, a Casa Viva é um espaço que surgiu a partir de um amor por arte e design e foi colocado no papel, apresentado como trabalho de conclusão de curso por Moara. Ela conta que inicialmente sua mãe não gostou da ideia da criação de um ambiente artístico e aberto ao público, mas sua insistência logo abriu espaço para um lugar novo e rentável. “Em 2018, viajei para o Rio de Janeiro e lá eu pude conhecer lugares que eu não via aqui em Macapá, como espaços de galeria, por exemplo. Lá também tive contato com arte de rua e grafite e, quando voltei para Macapá, minha mãe havia feito um brechó na nossa garagem”, conta. “A partir disso, eu pensei em fazer da nossa casa um lugar artístico e que também nos desse lucro”. O espaço tem a magia de transportar as pessoas que o visitam para lugares mágicos, e foi a partir desse propósito que surgiu o nome Casa Viva. Ao entrar na casa, logo se percebe as possibilidades do que cada um pode ser ali dentro, com

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desenhos e grafites espalhados do inicio ao fim. O lugar já foi palco para várias intervenções artísticas e exposições de artes.

“Uma de minhas inspirações para a criação desse lugar se deu por conta de um programa que eu assistia muito em minha infância, que se chamava Castelo Rá-Tim-Bum. Esse castelo

era um lugar cheio de magia e inspiração, totalmente lúdico. Para mim, a arte tem esse poder de nos dar possibilidades, e poder fazer com que outras pessoas se sentissem assim me deixava feliz e, então, começamos a desenvolver oficinas e exposições aqui dentro”, explica a empreendedora.

Com poucos ambientes artísticos e abertos ao público em Macapá, a Casa é bastante procurada para visitação. Atualmente, é o principal ponto de encontro para os amantes das artes em Macapá. Como consequência do sucesso da galeria de arte e empreendimento, os artistas residentes e administração do local sustentam o desejo de manter o lugar aberto e cada vez mais vivo.

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“Infelizmente, aqui no estado tem poucos lugares de valorização da arte e da cultura, e isso acaba desvalorizando os nossos artistas locais. A casa tem esse grande potencial de estar hoje representando esse lugar cultural e de valorização dos nossos artistas.”, conta a administradora do espaço. Em 2023, a administração da Casa planeja desenvolver projetos com estudantes de escolas estaduais com o intuito de aproximar crianças e adolescentes de experiências educativas e culturais, através de vivências e da arte.


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Deus é mãe E todas as ciências femininas A poesia, as rimas Querem o seu colo de Madona A poesia, as rimas [...]

Deus é mulher Deus há de ser Deus há de entender Deus há de querer Que tudo vá pra melhor Se for mulher ‘‘DEUS HÁ DE SER’’ - Elza Soares


ARTISTA: ALMA NEGROT

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