Revista Medicação

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DESTAQUE CIENTÍFICO

Burnout: um mal que nos acomete Dra. Karina Borgonovi Silva Barbi Originalmente, o conceito de “burn out” surge na década de 60, relacionado com os indivíduos que “queimavam-se” pelo uso intenso e crônico de substâncias psicoativas. Em 1974, o psicólogo Herbert Freudenberguer descreve pela primeira vez a Síndrome de Burnout, definindo-a como a presença de sintomas em 3 dimensões: 1) exaustão emocional, caracterizada por sintomas físicos e psíquicos relacionado ao estresse; 2) despersonalização, caracterizada pela redução de sentimentos com o outro, como empatia e sensibilidade; e 3) falta de realização pessoal, caracterizada pelo sentimento de incapacidade profissional e pessoal. Atualmente, a Síndrome de Burnout ainda não é reconhecida como um diagnóstico pela CID-11, sendo considerada como um problema de saúde gerado pelo estresse crônico relacionado ao trabalho.

física e emocional tanto pelo aumento de carga laboral daqueles que trabalham, principalmente, em serviços hospitalares, como pelo medo da contaminação de si e da transmissão aos seus familiares. Essa percepção de piora foi notada por 59% dos médicos com burnout, afetando principalmente as mulheres, com 79%, referindo situações de intensa tensão no trabalho e na vida pessoal como consequência trazida pela pandemia. Por fim, as formas descritas para lidar com o burnout variaram bastante, desde padrões saudáveis, como atividade física, até os potencialmente prejudiciais, como o comer compensatório e a ingesta de bebida alcoólica. Independentemente do padrão individual, o investimento a ser feito é no apoio institucional, pois apesar do aumento relatado de 4% em 2018 para 11% em 2020, a procura por este serviço reduziu de 42% para 22%, demonstrando que apenas a oferta do serviço não é suficiente, devendo haver investimento em atividades informativas e de orientação, ativamente.

O Medscape, site especializado em informação e educação para a classe médica, publicou levantamentos sobre burnout em médicos brasileiros, com dados de 2018 e 2020. A remuneração insuficiente, carga horária excessiva e desrespeito por parte de chefes e colegas de trabalho foram as principais causas apontadas pelos médicos que apresentavam burnout. Apesar do reconhecimento dos sintomas, apenas 50% relataram terem procurado ajuda profissional. Por outro lado, cerca de 12% responderam que deixariam a medicina em função dos intensos sintomas da síndrome. Uma consequência bastante comum e potencialmente grave da Síndrome de Burnout é o desenvolvimento de depressão. Em ambos os levantamentos, cerca de 11% dos entrevistados afirmaram ter ambos os quadros, e 51% atribuíram a causa do quadro depressivo ao trabalho. A maior gravidade pode ser observada nas respostas sobre o comportamento suicida, com 33% dos médicos afirmando já terem tido pensamentos suicidas e 5% já terem feito uma tentativa de suicídio. Destes, apenas 47% procuraram por ajuda e, dos que não buscaram auxílio, 22% justificaram pelo receio da exposição. Sabidamente, a COVID tem sido um fator estressor adicional às situações descritas, aumentando a exaustão

04 | REVISTA MEDICAÇÃO | EDIÇÃO ABRIL-SETEMBRO/2021

REFERÊNCIAS 1. Ranjbar N.; Ricker M. Burn Bright I: Reflections on the Burnout Epidemic. The American Journal of Medicine. 2019, vol. 132 (3), pgs 272-75. 2. Ricker M.; Ranjbar N. Burn Bright II: Reflections on Solutions to Burnout. The American Journal of Medicine. 2019, vol. 32 (4), pgs 397-400. 3. Estilo de vida e burnout médico no Brasil. Medscape, 23 de janeiro de 2019. Disponível em: português.medscape.com 4. Estilo de vida e burnout médico no Brasil. Medscape, 11 de dezembro de 2020. Disponível em: português.medscape.com Dra. Karina Barbi é médica psiquiatra e membro do Departamento de Psiquiatria da SMCC. Mestra em Saúde Mental pela UNICAMP e Doutoranda em Psicologia pela PUC de Campinas. Docente e Supervisora da Residência Médica em Psiquiatria da Faculdade de Medicina da PUC Campinas


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