Capítulo 5
ODS 1 – Erradicação da pobreza Rodrigo Machado e Marcos Sorrentino
1. SOBRE O QUE DEFINE A POBREZA O que define a condição de pobreza, ou a sua manifestação enquanto fenômeno ou situação na qual se enquadram milhões de seres humanos iguais a nós em todo o planeta? Para subsidiar a tarefa de conceituar o fenômeno, Crespo e Gurovitz (2002, p. 3) apresentam uma síntese do que entendem como evolução histórica a partir de diferentes abordagens desenvolvidas ao longo do século XX, explicitando que “ao compreender a complexidade do fenômeno, seus diferentes conceitos e formas de abordagem, torna-se possível conceber políticas públicas que busquem trazer soluções eficazes para o problema”. Diniz e Diniz (2009, p. 401), citando Hagenaars e de Vos (1988), trazem a possibilidade de sintetizar as abordagens em três: “a. Pobreza é ter menos do que é objetivamente definido como mínimo absoluto; b. Pobreza é ter menos do que os outros na sociedade; e, c. Pobreza é o sentimento de não se ter o bastante para sobreviver”.1 Diante dessa complexidade cuja compreensão é determinante – não apenas para se conceber o que é pobreza, mas também para responder a seus desafios de superação –, as últimas três décadas assistiram a um debate, em certa medida paradigmático, sobre a concepção de pobreza. Fahel, Teles e Caminhas (2016) apresentam esforços decorrentes da necessidade de ultrapassar a abordagem unidimensional do rendimento de indivíduos e grupos, apontando para uma concep-
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Nas considerações finais de seu artigo, Romão (1982, p. 367) faz um alerta diante de afirmações de que a preocupação com a complexidade que envolveria o fenômeno da pobreza tenderia a afastar estudiosos de suas intenções. Adverte o autor que “tais desculpas apenas empobrecem o estudo que visa, exatamente, elucidar o conceito mais complexo de pobreza. Se for adotada aquela posição, é de prever-se que o diagnóstico da pobreza será inconcludente”.
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