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Entrevista Avelino Gaspar: "O sucesso atinge-se graças às pessoas"

O Comendador e fundador do Grupo Lusiaves, Avelino Gaspar, aborda, nesta entrevista, o sucesso dos 37 anos do grupo empresarial assente no principal pilar: as pessoas. O CEO do grupo projeta o ano em curso e fala de alguns dos investimentos sempre com o foco na sustentabilidade

Este ano o Grupo Lusiaves completa 37 anos, sempre com um crescimento sólido e sustentável. Quais as razões que explicam este sucesso?

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Acima de todas as razões, o sucesso atinge-se graças às pessoas. Pessoas que se identificam com o nosso projecto, que acreditam em nós e que sabem que estamos sempre a fazer tudo para as valorizar. Sem a garra e o empenho dos nossos colaboradores nunca teríamos chegado onde chegámos. Depois não podemos esquecer a relevância da nossa capacidade de investimento, pois tudo o que se ganha é investido em equipamentos, novas fábricas e em pessoas. Esta é a única forma que conhecemos de garantir a sustentabilidade futura. Por último, destacaria a importância de acreditar no que fazemos, no que produzimos, na capacidade de fazermos produtos de qualidade e de só fazermos mais se soubermos fazer bem. E isto tudo sempre estando atento atento à opinião dos nossos colaboradores e dos nossos clientes. É com base nestas premissas que o Grupo Lusiaves se tem conseguido afirmar ao longo destes 37 anos e é com base nelas que queremos continuar a trabalhar, sem fugir um milímetro daquele que é o nosso foco: a satisfação dos nossos clientes.

E o que podemos esperar do Grupo Lusiaves em 2023, num ano que se antevê particularmente exigente?

Todos os anos e todos os dias são par- ticularmente exigentes e 2023 é só mais um. Temos vários projectos a aguardar licenciamentos para fazer investimentos em 2023 de mais de 50 milhões de euros. O nosso compromisso é trabalhar muito, dar o nosso melhor e procurar fazer de 2023 o melhor ano de sempre. Mas isso só acontecerá se acreditarmos, se tivermos as pessoas certas e se todos trabalharmos arduamente e em conjunto para fazer as coisas acontecer. Em 2023, o que o mercado, os clientes e os fornecedores podem esperar do Grupo Lusiaves é a continuidade de um trabalho de qualidade, transparente e sério, três pilares que fazem parte do nosso ADN e que têm dado muito bons resultados.

Algum desses projetos que estão a ser equacionados para 2023 tem o foco na internacionalização?

Sem dúvida. Depois de ao longo dos anos termos feito um percurso ímpar e consistente no setor alimentar em Por- tugal, a internacionalização constitui um dos principais focos. Investimos recentemente na aquisição de uma participação no maior grupo avícola da Escandinávia, no norte da Europa, e que são líderes do mercado avícola em cinco países (Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Irlanda). Trata-se de um grupo avícola com um carácter inovador muito forte e isso é muitíssimo importante para partilharmos experiências e aprender e ensinar uns com os outros.

Obviamente que também temos a ambição de reforçar a presença dos nossos produtos nos quatro continentes para onde já exportamos, numa estratégia sustentada e de visão de longo prazo. Portugal, como é sabido, é uma economia pequena e muito exposta ao mercado global, uma situação que nos obriga a encontrar novas oportunidades, abrindo novos caminhos em mercados mais pujantes mas também mais exigentes.

A instalação da Central Fotovoltaica da Quinta da Cruz, em Soure, deu um forte contributo para o aumento da sustentabilidade ambiental do Grupo e o reforço da autossuficiência em matéria de eletricidade. A aposta na sustentabilidade através das energias renováveis é para manter?

Há vários anos que o Grupo Lusiaves tem vindo a apostar fortemente na transição energética. Não apenas porque tornamos as nossas empresas mais competitivas e sustentáveis, ao passarmos a produzir energia limpa, a ter processos produtivos mais eficientes e a aplicar modelos de economia circular. Mas, sobretudo, porque com esta redução das emissões de CO2 estamos a dar um importante contributo para as mudanças climáticas e evitar o consumo excessivo de recursos do planeta.

Neste quadro, estamos muito satisfeitos com o investimento que fizemos na Central Fotovoltaica de Soure e já estamos a preparar um aumento da mesma. Estamos determinados a investir fortemente na produção de energia solar e daí termos definido como objectivo produzir 100% das nossas necessidades de eletricidade através da energia solar e também da energia eólica, funcionando esta como um complemento que aproveita o vento. Para além disso, queremos aumentar também a produção para vender para a rede elétrica nacional, como é o caso da que produzimos em Soure onde assumimos o compromisso de fornecer electricidade a um preço que muito beneficiará os portugueses.

A sustentabilidade é um compromisso há muito assumido no nosso Grupo, seja na produção de eletricidade através de fontes renováveis, seja na valorização de sub-produtos, na utilização de viaturas elétricas, nas embalagens reutilizáveis, na redução dos consumos de eletricidade com equipamentos e elementos mais eficientes. Há muitos, muitos anos que deixamos de utilizar o fuelóleo para a produção de água quente e valor, passamos pelo gás natural, mas, mesmo este há muito que foi substituído pela biomassa seja para a produção de vapor e água quente, mas, também para o aquecimento das nossas instalações de produção.

Sente, como fundador de um dos maiores grupos empresariais de Portugal no setor agroalimentar em Portugal, uma responsabilidade acrescida em matéria ambiental? Como tenta que o Grupo corresponda a essa responsabilidade?

Sem dúvida que sentimos e assumimos uma grande responsabilidade ambiental em tudo o que fazemos. Daí que a nossa preocupação seja sempre implementar as melhores práticas em tudo o que fazemos e, para garantir que as mesmas estão bem implementadas, recorremos a auditores externos que nos fiscalizam, aconselham e auditam. Para cada projeto que fazemos , começamos sempre a fazer um estudo de impacte ambiental, depois um licenciamento ambiental e um acompanhamento constante através dos nossos auditores internos. Além disso, estamos a desenvolver um conjunto de projetos diferenciados cujo foco essencial é a nossa preocupação com a sustentabilidade ambiental e em contribuirmos para um futuro mais verde. Desde logo, estamos a desenvolver um conjunto de soluções que nos vai permitir reutilizar a água que utilizamos no processo nas nossas fábricas, desta forma contribuindo para uma optimização dos recursos hídricos que são escassos.

Por outro lado, apesar de termos um Centro de Incubação, onde nascem os nossos pintos, que é dos mais eficientes da Europa e do Mundo, estamos neste momento a fazer um novo Centro de Incubação que será ainda mais tecnológico e mais eficiente e onde o bem estar animal vai ser uma referência mundial. Isto numa empresa que foi a primeira em Portugal a ser certificada pelo respeito pelo bem estar animal em toda a cadeia de produção.

O grupo a que tenho a honra de presidir continuará a estar na linha da frente da sustentabilidade ambiental, contribuindo, desta forma, para apoiar as comunidades onde desenvolvemos a nossa atividade. O futuro, seja qual for o itinerário ou os projetos a abraçar, terá de ser construído sobre três pilares: o compromisso sério pela proteção dos recursos naturais, a inovação tecnológica, que nos permite fazer mais e melhor, e o desenvolvimento de uma economia circular. Queremos fazer mais e melhor de forma ambientalmente sustentável, e darmos o nosso contributo para um planeta mais verde. Não hesitaremos em continuar a investir em equipamentos que contribuam para um melhor ambiente.

'Mais do que um grupo, uma família. Mais do que fazer muito, fazer bem. Mais do que os números, sem dúvida, as pessoas'. Este lema continua válido? Como tem lidado com o enorme desafio que é reter as pessoas nas empresas no pós-pandemia?

Plenamente válido. E o enorme desafio com que as empresas se debatem atualmente é conseguir reter pessoas. Na minha opinião, a melhor forma de reter as pessoas é mostrar-lhes o que estamos a fazer, os nossos projectos , as nossas intenções, envolvê-las nos processos , ouvi-las, estar muito próximo delas, sentir as suas dificuldades, tratá-las muito bem e melhorar permanentemente as condições de trabalho.

Por condições de trabalho refiro-me não apenas aos investimentos que temos feito na construção de novos refeitórios e espaços de convívio nas várias unidades, mas também a pagar acima da média do sector, como estamos a fazer, fazendo uma distribuição da riqueza criada pelos colaboradores. Durante o ano passado, fizemos dois aumentos de salários à maioria dos colaboradores com menores rendimentos, nas atividades que geraram resultados positivos e este ano em janeiro procedemos aos maiores aumentos de sempre.

É essencial que as pessoas se revejam na nossa identidade, acreditem no nosso projecto e estejam de corpo e alma no nosso Grupo.

Uma das características associada ao Grupo Lusiaves é a excelente capacidade de integração de pessoas de várias nacionalidades. A estratégia de recrutamento de mão de obra de outros países vai prosseguir? Somos um Grupo muito inclusivo e essa política é para prosseguir porque temos muito orgulho no trabalho que realizamos nesta área. Recrutamos pessoas de diferentes idades e condições sociais e de diferentes necessidades sem olhar à cor, raça ou religião. No nosso grupo todos têm lugar. E a prova disso é que temos colaboradores de 26 nacionalidades. Continuaremos com esta política de responsabilidade social, porque só assim conseguiremos combater a discriminação racial e étnica e a xenofobia. Estamos a dar um forte contributo para um mundo mais justo e inclusivo.

Outra das bases em que assenta a estratégia do Grupo Lusiaves é a área da responsabilidade social, no apoio a instituições nos concelhos onde o grupo desenvolve a sua atividade. É para manter esta visão humanista? Acredito que esse é o maior legado que posso deixar a quem me seguir. Nasci e cresci no seio de uma família humilde, razão pela qual conheço perfeitamente as dificuldades por que passam algumas famílias e instituições. A forma de contribuirmos para uma sociedade mais justa é apoiar quem mais necessita e os mais vulneráveis. E, nesta vertente, o Grupo Lusiaves tem dado provas e pretende continuar a dar o seu contributo, numa verdadeira política de responsabilidade social. Tenho muito orgulho nos apoios que temos dado às comunidades onde estamos instalados, permitindo a construção ou modernização de equipamentos escolares ou de saúde, a aquisição de ventiladores pelos hospitais durante a pandemia do Covid, a oferta de equipamentos a corporações de Bombeiros, a realização de actividades essenciais por parte das colectividades, ou mesmo na distribuição de géneros alimentares por aqueles que mais precisam ou no apoio à erradicação da pobreza, dando a possibilidade a pessoas sem-abrigo terem uma casa e iniciarem um novo ciclo na sua vida.É este sentido de responsabilidade, intrínseco no ADN do Grupo Lusiaves, do qual nunca abdicaremos. Só com este sentido de responsabilidade e de pro- ximidade com a comunidade onde desenvolvemos a nossa atividade conseguimos marcar a diferença.

Tem enfatizado que os tempos que se avizinham continuam a ser de incerteza, mas em contrapartida mantêm uma forte dose de otimismo. Em que assenta essa sua visão claramente positiva? Um líder, mesmo quando não tem 100% de certeza, só pode ter pensamentos e atitudes positivas. Ninguém segue pessoas sem crença e sem atitudes positivas. É influenciando positivamente os que nos rodeiam que se consegue inverter o rumo das coisas menos boas que nos acontecem a todos. É acreditando nas nossas capacidades e nas do que nos rodeiam, criando um ambiente positivo ao nosso redor.

Desde que iniciei a minha vida empresarial há duas palavras que me têm acompanhado nas minhas decisões: empreendedorismo e resiliência. Foi sempre sustentado nelas que o Grupo Lusiaves tem percorrido um caminho de sucesso. Apesar de se perspectivar alguma volatilidade dos mercados, se continuarmos motivados e continuarmos a trilhar o nosso caminho, focados na qualidade do produto que lançamos para o mercado e na satisfação plena dos nossos clientes, tenho a certeza que continuaremos o ritmo de crescimento sustentado.

O Grupo Lusiaves é um dos 42 associados da Business Roundtable Portugal, uma associação que tem procurado sensibilizar o Governo para a necessidade de medidas urgentes para melhorar a vida das pessoas, apoiar as empresas e reformular o Estado. Pode falar-nos um pouco sobre este projecto e do que o Grupo Lusiaves tem defendido?

O Grupo Lusiaves decidiu associar-se à Business Roundtable Portugal (BRP) porque nos revemos completamente naqueles que são os objectivos da Associação. Num mundo de muitas incertezas, tensões e conflitos, é fundamental pôr em prática medidas que acelerem o crescimento económico e social de Portugal. Só desta forma se consegue garantir um país mais justo e mais sustentável.

Por outro lado, o Grupo Lusiaves tem uma história de 37 anos que fala por si. Começámos como uma pequena empresa, fora dos centros urbanos, e fizemos um longo e árduo caminho até aos dias de hoje. Conhecemos bem as chamadas “dores de crescimento”, as dificuldades nos licenciamentos, as dúvidas em matéria de expansão, as incertezas em matéria de inovação e muitas outras que vão surgindo. O maior contributo que podemos dar é exatamente esse – como conseguir ultrapassar algumas das pedras que vão surgindo no caminho do crescimento.

Essencial Que As Pessoas Se Revejam

NA NOSSA IDENTIDADE, ACREDITEM NO NOSSO PROJETO E ESTEJAM DE CORPO E ALMA NO NOSSO GRUPO

Em suma, acreditamos que a BRP pode e deve desempenhar um papel fundamental na sociedade: construir e desenvolver uma visão de futuro e liderar uma verdadeira mudança de paradigma sócio-económico. E pode fazê-lo porque tem, entre os seus associados, um leque de grandes empresas, dos mais variados sectores, com experiências muito relevantes, e que podem propor e mesmo implementar medidas que impulsionem o crescimento das empresas e o bem-estar dos portugueses em geral.

Guerra, inflacão e subida dos preços das matérias-primas são termos que vamos continuar a ouvir cada vez com mais regularidade?

À excepção da guerra, os outros termos já faziam parte do nosso quotidiano. Há muitos anos que lidamos com inflações cíclicas e com preços permanentemente elevados de matérias-primas como sejam o milho e a soja, matérias que não são produzidas em quantidades suficientes no nosso país. No atual contexto, cabe às empresas manterem a resiliência e continuarem a investir, de forma sustentada, em projetos que possam contribuir para ajudar a alavancar a economia. Do meu ponto de vista, só desta forma conseguiremos ultrapassar esta fase, impulsionando as empresas, criando postos de trabalho, melhorando a vida das pessoas e apoiando as famílias mais vulneráveis.

O que é que ainda falta ao Grupo Lusiaves conquistar? Qual é o próximo grande desafio?

Tenho a perfeita consciência de que ainda nos falta conquistar muita coisa, porque se na área empresarial chegarmos à conclusão que já conquistámos tudo é porque não estamos a fazer bem o nosso trabalho. O grande desafio agora é continuar a criar produtos de valor acrescentado, mais elaborados e transformados, até chegarmos aos produtos prontos a comer. Para isso, estamos a desenvolver um novo projecto, que denominámos FabLab e que esperamos seja uma realidade a curto/médio prazo.

O outro grande desafio, em que já foram dados passos importantes, é continuarmos focados na internacionalização, uma decisão que nos irá ajudar a alavancar, ainda mais, o nosso crescimento no setor agroalimentar. 

^ dEsdE quE iniCiEi a MinHa vida EMprEsariaL HÁ duas paL avras quE ME tÊM aCOMpanHadO nas MinHas dECisÕEs: EMprEEndEdOrisMO E rEsiLiÊnCia

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