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Impacto da inflação nas empresas e na vida das famílias
from LusiNews nº 61
Aúltima grande crise de 2009 que assolou o mundo com início nos EUA, colocou pressão nos bancos centrais e nos governos para injetarem liquidez nas economias como forma de estímulo e promoção aos negócios e ao desenvolvimento. Desde então e com esse fim, a Reserva Federal dos EUA e o Banco Central Europeu (BCE) implementaram políticas expansionistas de “impressão”. Nunca existiu tanta moeda em circulação como em 2022 e nunca tinha sido tão barato obter empréstimos e gastar dinheiro. As taxas de juro historicamente baixas facilitaram o acesso ao crédito e incentivam o consumo das famílias e o investimento das empresas, mas, ao mesmo tempo, desincentivam a poupança. Juntando às políticas monetárias o impacto da pandemia Covid19 nas cadeias de abastecimento e por último a invasão russa à Ucrânia, criaram-se as condições para uma inflação crescente durante o ano de 2022 e cujo impacto permanecerá durante 2023.
Impacto Da Infla O Nas Fam Lias
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Para as famílias, a inflação pode ser um desafio financeiro. Quando os preços dos produtos aumentam, o poder de compra diminui. Isto significa que será necessário mais dinheiro para comprar a mesma quantidade de bens e serviços. Este facto provoca um aumento nas despesas e uma diminuição no orçamento disponível para outras coisas, como a poupança ou investimentos. A inflação tem impacto nos investimentos das pessoas. Se os preços subirem mais do que as taxas de rendimento das poupanças, o valor real dos investimentos vai diminuir. Isso terá impacto na capacidade das famílias constituírem poupança para a reforma, por exemplo, ou para outros objetivos financeiros a médio e longo prazo.
PARA AS EMPRESAS O IMPACTO DA INFLAÇÃO FAZ-SE SENTIR A VÁRIOS NÍVEIS
A inflação pode afetar os custos de produção. Quando os preços dos materiais, energia e outros consumos aumentam, os custos de produção aumentam tam- bém para as empresas. Este facto coloca pressão na estrutura das empresas e cria dificuldades na sua capacidade de competir no mercado. Este facto assume particular importância sobretudo se as empresas não forem capazes de refletir estes custos na cadeia de valor e aumentar os preços dos seus produtos ou serviços de maneira correspondente.
Além disso, a inflação pode ter também um elevado impacto nas empresas que estabelecem contratos de longo prazo com os seus clientes, como por exemplo, as empresas de construção. Estas empresas têm tido dificuldade em garantir os preços acordados em contratos de longa duração e acabam mesmo por renegociar os contratos existentes ou abandonar projetos.

A inflação pode também afetar a tomada de decisão das empresas em relação a investimentos e expansão dos seus negócios. Se as expectativas de inflação forem altas, as empresas podem ter maior resistência em efetuar novos investimentos, pois o valor que teriam disponível para o fazer pode não ser suficiente, ao mesmo tempo que os custos futuros aumentam. O resultado da quebra de investimento empresarial é um menor ou inexistente crescimento económico.
Subida Das Taxas De Juro
As taxas de juros são aumentadas para combater a inflação, porque taxas de juros mais altas reduzem o nível de gastos na economia. Quando o banco central aumenta as taxas de juro, fica mais caro o acesso a crédito. Isso reduzirá os gastos, diminuindo o nível geral de procura por bens e serviços na economia. Quando a procura diminui, os preços também diminuem, o que ajudará a reduzir a inflação.
Aumentar as taxas de juros é uma ferramenta que os bancos centrais utilizam para ajudar a controlar a inflação, pro-
A Infla O Pode
SER DEFINIDA COMO O AUMENTO GERAL E PERSISTENTE NOS PREÇOS DE BENS E DOS SERVIÇOS NUMA ECONOMIA. ESTA PODE TER UM IMPACTO SIGNIFICATIVO TANTO NAS FAMÍLIAS QUANTO NAS EMPRESAS, E PODE AFETAR A MANEIRA COMO CADA UM GASTA E INVESTE SEU DINHEIRO.
curando com esta destruir excesso de liquidez existente na economia. Há então, neste contexto, uma relação inversa entre inflação e taxas de juro. Quanto mais altas as taxas, menor será a inflação e vice-versa.

Este ciclo de subida das taxas de referência iniciou-se em 2022 e irá continuar em 2023. Isto significa que os novos empréstimos serão mais caros, ou seja, será mais difícil obter dinheiro emprestado. Ao mesmo tempo, os empréstimos existentes serão afetados e as prestações dos mesmos já subiram e irão subir mais, refletindo o aumento da Euribor na Europa. O Banco Central Europeu prevê continuar a subir as taxas Euribor e que a inflação diminua para os
3% no final de 2023, reduzindo-se para 2% até 2025.
É importante que as pessoas e as empresas estejam cientes de como a inflação pode afetar as suas finanças e façam planos adequados para lidar com esses efeitos. Isso inclui tomar medidas como ajustar orçamentos e investimentos para a inflação esperada e considerar a proteção contra este risco, através de investimentos em ativos que podem ser menos afetados pelo aumento dos preços. A compreensão e a preparação adequadas podem ajudar as famílias e as empresas a navegar eficazmente pelos efeitos da inflação.
É portanto expectável que 2023 seja um ano difícil no que diz respeito à gestão financeira da dívida das famílias e das empresas. As famílias enfrentarão subidas não só nas prestações dos créditos à habitação mas também nos créditos ao consumo. Isto significa também que existe o erro de incumprimento no crédito à habitação, sendo expectável que surjam, no mercado, imóveis à venda pela ativação das hipotecas.
Por seu lado, as empresas deverão repensar ou estruturar os seus investimentos para refletir a nova realidade económica. Esta alteração ou ajuste na estratégia deverá refletir-se também na gestão do dia-a-dia da empresa e dos seus custos, como consumos (eletricidade, água e outros), gastos com pessoal, matérias primas, etc.
Em resumo, a inflação pode ter um impacto significativo nas famílias, agravando o custo de vida e a gestão financeira e, nas empresas, afetando o poder de compra, os custos de produção e a tomada de decisão de investimento. Importa, portanto, analisar com particular cuidado os investimentos, gastos e financiamentos, de forma a evitar uma exposição à inflação e procurando otimizar o contexto económico existente.