Estudo de caso - Kuala Lumpur City Center - Alberto Burler Marx

Kuala Lumpur City Center Park Projeto Paisagístico – 1º bimestre 2022/1 Hime, Lucas; Estudante; Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, lucasphime@gmail.com 1

Resumo: Roberto Burle Marx foi um dos maiores paisagistas brasileiros. Sua trajetória começou quando era pequeno. Ele foi capaz de pintar a paisagem de seus projetos mesclando arte e paisagismo. Além disso foi o primeiro a usar plantas nativas em seu trabalho. Sua última obra foi o Kuala Lumpur City Center Park, onde usou de todas as suas técnicas de paisagismo e conseguiu fazer um projeto baseado na cultura de outro país Palavras chave: Burle Marx; Paisagismo; Malásia Abstract: Roberto Burle Marx was one of the greatest Brazilian landscape designers.

His trajectory started when he was little, he was able to paint the landscape of his projects mixing art and landscaping. In addition, he was the first to use native plants in his work.

His last work was the Kuala Lumpur City Center Park, where he used all his landscaping techniques and managed to make a project based on the culture of another country.

Keywords: Burle Marx; Landscaping; Malasia.

Introdução Roberto Burle Marx foi um dos maiores paisagistas brasileiros da modernidade. Em seus últimos anos de vida foi convidado a desenvolver o projeto paisagístico do Kuala Lumpur City Centre Park (KLCC Park). Na época foi um dos projetos arquitetônicos e paisagísticos mais ambiciosos do mundo sendo uma área total de 400 mil m2 sendo 200mil m 2 reservados para o tratamento paisagístico.

Neste projeto foi feito um estudo minucioso da cultura local e costumes da população, com o intuito de fazer um projeto que fosse o mais próximo possível dos gostos dos cidadãos malaios.

Para o desenvolvimento do projeto foi imposto a Burle Marx trabalhar em conjunto com uma delegação malaia, a fim de dar embasamento cultural no parque.

Por conta disso ele e sua equipe fizeram diversas viagens para a Malásia para conhecer os costumes e tradições da população do país, sempre visando entender o que ela significava para aqueles que ali moravam. Além dos costumes, essas 1

Estudante de arquitetura e urbanismo no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

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viagens apresentaram a flora local para o paisagista, o que veio a ser parecida com a brasileira por conta do clima do país.

Por fim, depois de estudar muito da cultura malaia, ele conseguiu criar uma obra que é relevante até os dias de hoje. Implementando no paisagismo espécies locais, geometrias islâmicas e técnicas de controle de temperatura por conta do clima, além de ter se aproveitado da antiga paisagem da cidade, que havia sido documentada.

O paisagista Roberto Burle Marx nasceu na cidade de São Paulo em 1909. Filho de Wilhelm Marx, judeu alemão que vendia couro, e de Cecília Burle, pernambucana, com descendência francesa. Seu pai foi criado em Trier, cidade natal de Karl Marx, que era primo de seu avô.

Desde pequeno, Burle Marx já apresentava interesse pelo paisagismo, ele e sua mãe cuidavam de sua horta doméstica. Quando se mudou para o Rio de Janeiro em 1913, o pequeno paisagista ficou responsável pelo jardim da sua casa no Leme.

Por conta de uma enfermidade no olho, seus país o levaram para Berlim, na Alemanha, em busca de tratamento. Foi lá que conheceu o Jardim Botânico de Dahlen, onde se encantou pela diversidade da vegetação brasileira. Foi na Alemanha que ele começou a estudar a flora. Esse foi o princípio do seu estudo, depois teve que se aprofundar no seu conhecimento para finalmente se tornar o maior paisagista do Brasil.

Burle Marx ficou reconhecido por ter sido o primeiro a utilizar de espécies nativas na produção de seus projetos e foi o precursor do uso e implementação em seus projetos de temas como sustentabilidade; design; ciência e arte. Reconhecido nacionalmente e internacionalmente como um dos principais paisagistas do século, foi intitulado como o verdadeiro criador do jardim moderno pelo Instituto dos Arquitetos Americanos.

“Todas as áreas são importantes para mim: paisagismo, tapeçaria, design de joias, desenho, pintura, botânica. Uso todos como um poeta buscando palavras. E é com isso que me esforço mais. Eu não vou fazer uma pintura que é um jardim. Sem dúvida a pintura e as outras expressões artísticas influenciaram todo meu conceito de arte. Mas eu tento sempre evitar fórmulas. Eu odeio fórmulas. Eu amo os princípios”. ou (ROBERTO B.M.)

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Além de tudo, Burle Marx também foi um estudioso da arte plástica. Em 1928 ele voltaria a Berlim para estudar mais sobre pintura, ao mesmo tempo que aproveitava e fazia diversas visitas ao jardim botânico da cidade. Foi no ano de 1930 que ele retornará para começar sua carreira como paisagista. Começou utilizando de combinações cores e texturas das plantas para a criação de seus jardins, técnica aprendida enquanto estudava arte plástica. Era tamanha a sua conexão com a arte plástica que o paisagista pintava uma tela a óleo para cada jardim, antes de executálos.

Fazer jardim é fazer arte. Quando trabalho um jardim, penso nas leis que orientam os problemas artísticos: contrastes, textura, relação entre volumes, harmonia e oposição de cores. [...] Nunca pensei em um jardim bidimensional, jardim sempre tem terceira dimensão. E outra coisa importantíssima é a quarta dimensão: o tempo necessário para se observar esse espaço. Quando planto uma aleia ou agrupamento de árvores em relação a uma horizontal, estou fazendo arte. Se pensar em floração roxa perto da floração branca ou rosa, estou pensando pictoricamente, ou melhor, coloristicamente. Quando se faz um quadro, a cor depende da luz que incide, mas sempre se trabalha sobre uma superfície. No jardim, as cores e os volumes estão sujeitos às modificações climáticas. Num jardim, tenho de pensar que ele pode ser visto à noite num dia de tempestade, de chuva, ou ensolarado, e que a cor das plantas se modifica com as horas.

O jardim não é apenas um problema estético. Quando faço um projeto, tenho que conhecer o lugar: se tem clima tórrido, de montanha ou temperado; quais as plantas que nascem na região. É preciso conhecer também o usuário. Deve-se levar em conta tudo isso. Mas função estética é uma condição sine qua non; se existe um jardim, é porque existe uma composição estética. (REVISTA PROJETO, 1991, p.59-72)

Para o estudo da flora brasileira, ele fez diversas expedições para os biomas brasileiros, catalogando e coletando diversas espécies nativas. Por conta dessas viagens de pesquisa, hoje, seu sítio abriga cerca de 3.500 espécies de plantas tropicais e subtropicais cultivada em viveiros e jardins e é um dos bens tombados do Rio Janeiro, servindo, ainda hoje, como local de pesquisa da flora brasileira.

Linguagem Como foi falado anteriormente, Burle Marx tinha uma profunda conexão com a arte, seus projetos paisagísticos eram tratados como pinturas na malha urbana.

Ele sempre procurava a maior relação entre cores e espécies de plantas, atingindo resultados dignos de prêmios.

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Figura 01: Cobertura da sede do banco Safra (SP)

Fonte: https://images.adsttc.com/media/images/56d8/54d6/e58e/ced0/4f00/000f/slideshow/10271636_1306 607426032638_1419291037909017299_n.jpg?1457018067

Por tratar seus jardins como pinturas, o paisagista estava sempre em busca do equilíbrio entre a assimetria e o local, levando sempre em conta a paisagem já existente. Por conta de sua constante busca pelo novo, seus jardins eram sempre diferentes uns dos outros forçando o paisagista a estar constantemente procurando novas espécies que pudessem atualizar sua palheta de cores Em relação à minha vida como artista plástico, a formação disciplinar mais rigorosa para o desenho e a pintura foi o jardim … Eu estava interessado em aplicar, à própria natureza, os fundamentos da composição plástica, de acordo com o sentimento estético do meu tempo. Foi, em suma, a maneira que encontrei para organizar e compor meu desenho e pintura usando materiais menos convencionais”. (Roberto Burle Marx)

Outro aspecto fundamental e de pioneirismo em seus projetos foi o uso da flora nativa. Além de valorizar e implementar a questão da identidade nacional, o uso da flora nativa, no caso a brasileira, permite que seus projetos tenham fácil manutenção, facilitando tanto a implantação quanto o manejo posteriormente.

Sobretudo, o uso da vegetação local permitiu também que questões de sustentabilidade e preservação fossem levantadas na época, fazendo com que ele conseguisse salvar diversas espécies de extinção, levando para o seu sítio e as estudando.

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Além de seus vieses artísticos e do uso da vegetação nativa, o paisagista trabalhava em seus projetos a questão do tempo e do espaço. Para a construção de seus jardins cores não eram suficientes, ele tinha muito claro em todos os seus projetos que as plantas mudam com o passar do tempo, mudando sua coloração com base na estação do ano, clima e quantidade de luz e tempo que o observador despenderia para ficar ali. Portanto, a inclusão de elementos plásticos e naturais eram sempre pensados no ponto de vista do observador e não do resultado da obra, garantindo o melhor aproveitamento possível para os visitantes.

Kuala Lumpur City Center Park O último projeto paisagístico de Roberto Burle Marx se localiza na cidade de Kuala Lumpur na Malásia. Sua construção foi iniciada em 1995 e finalizada em 1997.

O complexo público/privado é o maior da Malásia e foi considerado o prédio mais alto do mundo em 1998 e substituiu o antigo hipódromo da cidade. Seu projeto arquitetônico foi feito pelo escritório Cesar Pelli Arquitetos Associados, o mesmo responsável pelo World Trade Center. Já seu projeto paisagístico foi feito por Roberto Burle Marx.

O edifício apresenta 88 andares e 452 metros de altura, marcando o principal acesso ao parque. Em sua base foi construído um edifício de 6 andares que serve de shopping para a cidade. Já na cobertura dessa pequena edificação, é possível contemplar toda a área desse parque, e nela foram feitos desenhos inspirados na arte malaia.

Já o projeto paisagístico, foi feito para complementar a paisagem da cidade e servir aos arredores da construção, que conta com de hotéis, edifícios de escritório, lojas, residências e equipamentos de entretenimento e cultura. Foi reservada uma área de aproximadamente 200.000m2 para a construção do parque, que serve de elemento integrador e de lazer para a cidade de Kuala Lumpur.

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Figura 01: Planta de implantação KLCC park

Fonte Burle Marx – Escritório de Paisagismo

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Projeto Como foi dito anteriormente, roberto Burle Marx se aprofundou na cultura local e com isso pode fazer um projeto com muitos aspectos culturais malaios. Todo o projeto foi pensado para fazer parte da cidade de modo que os cidadãos pudessem se relacionar com ele. Foi proposta a criação de um parque que servisse de contraste com o contexto urbano que o circundava quebrando relações da grande cidade, criando um refúgio no meio da malha urbana. Ainda foi pedido para que o projeto conseguisse amenizar os efeitos do calor local, atenuado pela grande cidade.

Como ponto de partida o projeto foi dividido em 3 setores, íntimo, acessível e geral. O setor íntimo são caminhos menores colocados no meio do parque, possibilitando ao visitante maior aproveitamento do promenade architecturale. Nele foram colocadas vegetações mais densas a fim de dar uma maior intimidade àqueles que irão passar por ali. Já o setor acessível do parque, o maior, foi pensado para que as pessoas pudessem realizar atividades físicas e andar no parque. Visando o conforto térmico, foram colocadas ao longo dos caminhos desse setor uma vegetação que protegesse os pedestres da incidência solar.Além disso, foram utilizadas espécies nativas do país, que se assemelhavam muito ás brasileiras. Por fim, no setor geral, foram traçados eixos para facilitar o cruzamento do parque.

Para o piso foi pensado formas orgânicas visando a delimitação do lazer ativo e passivo, inspirada no padrão geométrico utilizado na indumentária malaia tradicional. Cerâmicas de alta resistência foram instaladas, a fim de permitir a

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passagem de carros e, principalmente, caminhões de lixo, facilitando a manutenção do parque.

Figura 02: Desenho de piso do KLCC

Fonte: Acervo Burle Marx & Cia. Ltda.

As terras resultantes das escavações do edifício foram aproveitadas para o manejo do terreno do parque, criando diversas ondulações. Foi usada também para criar uma elevação de quase 10m, que possui quedas d’água suaves e no fim uma piscina para uso lúdico e infantil. Em sua área mais baixa foi criado um lago que possui um show de chafarizes, conhecido como lago das sinfonias. Quando os jatos d’água estão desativados, essa grande massa de água vira um espelho d’água.

O projeto tem um tratamento especial na questão da área lúdica infantil. A área de lazer para crianças foi colocada estrategicamente na área central do parque, de forma a proteger as crianças das ruas da cidade e de proporcionar segurança tanto para os pais quanto para o publico infantil. A piscina foi também colocada próxima a essa área para facilitar o acesso. A segurança proporcionada é tanta que os pais deixam seus filhos ali sem supervisão, enquanto vão relaxar no parque.

Figura 03: Piscina Infantil KLCC Park

Fonte: https://www.petitgo.com/listing_display?listingid=1

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Considerações Finais Portanto, é notável que Burle Marx desenvolveu toda sua trajetória de carreira para o paisagismo. Sua metodologia de trabalho e relação com a arte proporcionaram a criação de diversos projetos paisagísticos originais, cada um com uma linguagem diferente. Além disso, sua constante pesquisa sobre a flora nativa brasileira, possibilitou os mais diversos arranjos de cores e espacialização, o que contribuiu ainda mais para a criação de suas obras.

O Kuala Lumpur City Center Park é seu último trabalho e também a prova de que o paisagista conseguia fazer projetos originais mesmo em uma cultura totalmente diferente da brasileira. Aplicando os mesmos princípios que haviam sido utilizados em projetos anteriores, o paisagista conseguiu criar em seu último projeto um local seguro e totalmente otimizado e culturalmente relevante, aplicando desenhos e vegetações presentes na Malásia.

Referências Outras tropicalidades.

São Paulo.

2017.

Disponível em: < https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/10.118/6356/>. Acesso em: 25 março. 2022 ONO, Julio. OBERTO BURLE MARX: UM NOVO OLHAR SOBRE O DESENHO NA PAISAGEM. Rio de Janeiro: 2011 How Brazil's newest Unesco World Heritage landmark is linked to KLCC Park.

Malasia.

2021.

Disponível em: < https://www.thestar.com.my/lifestyle/travel/2021/08/10/how-brazil039s-newestunesco-world-heritage-landmark-is-linked-to-klcc-park/>. Acesso em: 25 março.

2022 HUSSEIN, Hazreena. Barrier Free Park Design for the Disabled Persons: A Case Study of the KLCC Park. Malasia: 2006.

Memoria.

2013.

Rio de Janeiro.

Disponível em: http://www.burlemarx.com.br/memoria > .Acesso em : 26 de março de 2022

<

FERREIRA, Azevedo. A PERMANÊNCIA DA PAISAGEM: Os princípios do projeto paisagístico de Haruyoshi Ono. Pernambuco: 2012 A Master of Much More than Just Modernist Landscape] 04 Ago 2016. ArchDaily Brasil.

(Trad.

Souza, Eduardo) Acessado 26 Mar 2022.

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<https://www.archdaily.com.br/br/792669/roberto-burle-marx-um-mestre-muitoalem-do-paisagista-modernista> . Acesso em: 26 de março de 2022.

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