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CIDADES
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a crítica MANAUS, SEXTA-FEIRA, 17 DE ABRIL DE 2015
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a crítica MANAUS, SEXTA-FEIRA, 17 DE ABRIL DE 2015
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CHORO E CONFLITOS Antonio Menezes
Antes do conflito, o diálogo entre polícia e invasores não deu resultado e muitos gravaram a conversa nos celulares
Antonio Menezes
Surpreendidos com a ação policial, que não lhes permitiu entrar na invasão, grupo tentou resistir com barricadas de fogo
Lucas Amorelli
Crianças e adolescentes também foram barrados pelos policiais, que se postaram em pontos de entrada da invasão
Antonio Menezesi
Acompanhada do neto, mulher chora pela perda do investimento feito na construção de barraco na invasão destruída
Invasores prometem retornar ao local
Homens e mulheres que perderam os barracos, destruídos por um trator, disseram que não têm para onde ir e que, por isso, assim que as forças policiais deixarem o terreno, vão voltar a invadir. Área, de 160 mil m2,é destinada a expansão do PIM Fotos: Euzivaldo Queiroz
LUANA CARVALHO cidades@acritica.com
“Eu fugi da enchente no Careiro Castanho (a 102 quilômetros de Manaus) em busca de uma oportunidade. Resolvi invadir porque não acho justo ver pessoas que não necessitam sendo contempladas com apartamentos dos programas de habitação e nós, que precisamos, ficarmos na miséria”, desabafou a dona de casa Gilda Ferreira, 35, que paga R$ 400 de aluguel no bairro Nova Vitória, Zona Leste. De acordo com Gilda, ela não precisou pagar para demarcar o lote. “Pode até existir uma quadrilha, mas eu garanto que mais de 50% das famílias que invadiram necessitam. Eu não paguei um centavo para ninguém, e nem vou pagar. Mas também não vou desistir. Quando eles saírem, eu vou invadir de novo”, completou. Assim como ela, outros ocupantes estão determinados e prometem resistência. Com cinco filhos, a empregada doméstica Maria Marly Brito, 48, também
Frase
Em números
# Eles começaram a obstruir a rua e foi necessário o uso progressivo da força ” Paulo Padilha Capitão da PM
mora de aluguel e lamentou a reintegração. “Meu sonho era ter uma casa própria. Eu mesma estava construindo minha casa de madeira. Mas eles derrubaram”. VIOLÊNCIA
A reintegração foi marcada por vários momentos tensos e violentos, que cessaram por volta das 11h quando uma forte chuva afastou os ocupantes. Antes, alguns jovens jogaram pedras na guar-
Devastação causada na área do Distrito 2 foi denunciada por A CRÍTICA
5 mil Famílias estavam instaladas na invasão que foi dividida em duas partes. Ao todo, a área possui mais de 160 mil metros quadrados. O caso foi denunciando por A CRÍTICA no início do mês. A área é destinado à expansão do Polo Industrial de Manaus (PIM). nição. Policiais do Batalhão de Choque apontavam as armas para os adolescentes e disparavam tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. A multidão se escondia atrás decarrosouemcasasdemoradores. O representante do Comando de Policiamento Especial (CPE), capitão Paulo Padilha, comentou sobre a ação. “De início foi pacífico, mas por volta de 7h30 eles começaram a obstruir
a rua e foi necessário o uso progressivo da força, com material químico e armas não letais”. De acordo com o comandante, ainda não há uma previsão para o término da reintegração. “A ação vai durar até que a última família seja retirada. A PM vai ficar aqui atéque as terras sejam entregues aos proprietários”, ressaltou. REPERCUSSÃO
A ação da polícia foi criticada por moradores da comunidade. Na internet, as opiniões se dividiram. A internauta Fabíola Borges Pinto escreveu: “ausência do Estado completa! Como uma invasão dessa magnitude acontece e ninguém faz nada antes da devastação da área?”. “Onde estão as políticas de habitação desse Estado?”, escreveu Analú Vieira em um dos comentários do portal acritica.com. Já Elcio Ferreira defendeu a estratégia da polícia. “A polícia tem que agir com rigor, principalmente contra os líderes de todas as invasões no nosso Estado. São um bando de bandidos”.
SAMU, auxiliado por invasores, retira mulher que passou mal durante ação da PM
Polícia investiga quadrilha Delegado disse que trabalho de investigação feito na invasão será encaminhado ao CAO-Crimo e DRCO
À tarde, com quase todos os invasores foram do terreno, homem rompe bloqueio, mas não consegue evitar a derrubada de barraco por trator usado pela polícia
Delegado do Gabinete de Gestão Integrada da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSPAM), Frederico Mendes informou que a polícia está trabalhando na identificação dos líderes das invasões. “Vamos reunir as informações junto aos órgãos competentes e devemos encaminhar ao Centro de Apoio Operacional de Combate ao Crime Organizado (CAO-Crimo) e ao Departamento de RepressãoaoCrimeOrganizado(DRCO)”. De acordo com o delegado, os suspeitos cometem crimes ambientais,estelionato,extorção,es-
bulho, entre outros. “Vamos investigar para junto ao poder judiciário pleitearmos prisões. Enquantonãohouverisso,vãocontinuar com as invasões. Frederico também fez um alerta aos compradores de lotes. “Queremos informar que esta prática é um crime e as pessoas devem ficar conscientes disso”. Segundo o delegado, os ocupantes compram terrenos de R$ 300 a R$ 2 mil. “As pessoas se arriscam e perdem dinheiro. Elas precisam pagar aos líderes e até pela água nessas invasões”.
MOVIMENTO
O representante de ocupação do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), Jailes Pimentel, disse que apoia os ocupantes, emboraaestratégiautilizadapela organização seja diferente. “Nós optamos por fazer nossas ações em imóveis públicos porque há umapossibilidaderealparaquea solicitação para uso de habitação e interesse social seja atendida”. O movimento aderiu às ações realizadas por todo o Brasil em defesa ao direito à moradia e reforma urbana e ocupou, na última
quarta-feira, um prédio da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), na avenida Umberto Calderaro, no bairro Adrianópolis, Zona Centro Sul. Aproximadamente cem famílias estão no local. De acordo com Jailes, há um grande déficit de moradia na capital. “O último levantamento apresentado no seminário nacional promovido pela Defensoria Pública, pelo menos 150 milde Manaus vivem em áreas de risco, moram de aluguem ou em imóveis cedidos.
Em ritmo acelerado, família tenta salvar o investimento feito na compra de telha para cobrir o barraco enquanto trator destroi um barraco nas proximidades