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FICHA TÉCNICA DIRETOR
EDITORES ASSOCIADOS
Bruno Santos
ILUSTRAÇÕES João Paiva.
TEMAS EM REVISÃO
EDITOR-CHEFE Daniel Nunez
André Villarreal, Guilherme Henriques, João Nuno Oliveira, Vasco Monteiro.
FOTOGRAFIA Pedro Rodrigues Silva, Maria Luísa Melão,
COMISSÃO CIENTÍFICA
HOT TOPIC
Ana Rita Clara,
Jorge Miguel Mimoso.
Solange Mega.
Ana Silva Fernandes, Carlos Raposo,
RUBRICA PEDIÁTRICA
Cristina Granja,
Cláudia Calado, Mónica Bota.
Eunice Capela, Gonçalo Castanho, José A. Neutel, Margarida Rodrigues,
CASO CLINICO ADULTO 2 Noélia Alfonso, Rui Osório.
AUDIOVISUAL Pedro Lopes Silva.
DESIGN Luis Gonçalves (ABC).
Miguel Jacob, Miguel Varela, Nuno Mourão, Pilar Crugeiras,,
CASO CLINICO PEDIÁTRICO Ana Raquel Ramalho, Marta Soares.
Rui Ferreira de Almeida, Sérgio Menezes Pina,
CASO CLINICO NEONATAL/TIP
Stéfanie Pereira,
Nuno Ribeiro, Luísa Gaspar.
Vera Santos.
BREVES REFLEXÕES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA Inês Simões.
CARTAS AO EDITOR Catarina Jorge, Júlio Ricardo Soares.
VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS Hugo Costa, Teresa Mota.
LIFESAVING TRENDS Alírio Gouveia.
Periodicidade: Trimestral Linguagem: Português ISSN: 2184-9811
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Propriedade: CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DO ALGARVE Morada da Sede: Rua Leão Penedo. 8000-386 Faro Telefone: 289 891 100 | NIPC 510 745 997
PARCERIAS
EDITORIAL Caro Leitor, É com muito agrado que anuncio a publicação de mais uma edição da sua revista LIFESAVING Scientific. Convido-o à leitura desta última edição do ano 2022, lançada em simultâneo com a 26ª edição da LIFESAVING – Revista de Emergência Médica. Vemos assim consumado, uma vez mais, o nosso compromisso de publicação trimestral assídua e pontual. São muitos os motivos de interesse para desvendar nesta edição nº 4 (do Volume 2) da LIFESAVING Scientific. Apostámos, mais uma vez, na diversificação de conteúdos, que apresentamos em rúbricas com diferentes formatos: artigos de revisão e opinião, hot topic, casos clínicos (adulto e neonatal), e cartas ao editor. Destacamos a revisão da literatura sobre a infeção pelo vírus Monkeypox, com a intenção de consciencializar os profissionais de saúde para reconhecimento da doença, implementação de medidas de saúde pública, e dos esquemas vacinais. Apresentamos igualmente uma revisão da literatura sobre o papel da ecografia em meio pré-hospitalar, com identificação das diversas aplicações clínicas desta ferramenta de diagnóstico e decisão clínica. No hot topic desta edição disponibilizamos para leitura um artigo de atualização sobre a abordagem da insuficiência cardíaca aguda no pré-hospitalar, com destaque para a utilização da ecografia como auxiliar de diagnóstico cada vez mais importante no nosso dia-à-dia. A rubrica pediátrica desta edição apresenta um artigo sobre agressividade e violência na adolescência, da autoria da Psicóloga Tânia Paias. Trazemos também ao leitor um artigo de reflexão sobre o ensino e o treino em situação de Catástrofe e Multivítimas, com destaque para o modelo de resposta leccionado no Curso MRMI (Medical Response Major Incidents). Apresentamos ainda nesta edição dois casos clínicos, um deles referente a um caso raro de disseção coronária espontânea em adulto, e outro sobre um recémnascido com malformação rara, submetido a manobras de reanimação e com necessidade de transporte inter-hospitalar. Não esquecemos os contributos dos leitores, que nos enviaram as Cartas ao Editor, que nesta publicação se endereçam a dois artigos publicados, um no domínio da eficácia dos dispositivos mecânicos de compressão torácica, e outro sobre a utilização de quetamina por via nebulizada. Agradecemos uma vez mais a preferência dos leitores pela nossa publicação, que muito tem crescido com o contributo na submissão de novos artigos, e com a divulgação alargada do projeto a nível nacional. Votos de uma excelente leitura, Com elevada consideração e estima, Bruno Santos Coordenador Médico das VMER de Faro e Albufeira Diretor do Projeto LIFESAVING
bsantos@chalgarve.min-saude.pt
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ÍNDICE 08
ARTIGO DE REVISÃO I O PAPEL DA ECOGRAFIA EM MEIO PRÉ-HOSPITALAR: UMA REVISÃO DA LITERATURA
18
ARTIGO DE REVISÃO II VÍRUS MONKEYPOX, REVISÃO DA LITERATURA. UM NOVO CONTEXTO EPIDÉMICO DEPOIS DA COVID19?
26
HOT TOPIC ABORDAGEM DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA NO PRÉ-HOSPITALAR: QUAL O FUTURO PARA AS NOSSAS VMER?
34
RUBRICA PEDIÁTRICA QUANDO A EMERGÊNCIA VEM DE DENTRO…. UM OLHAR SOBRE O MUNDO INTERNO DOS JOVENS E SUA RELAÇÃO COM A VIOLÊNCIA!
40
CASO CLÍNICO ADULTO DISSECÇÃO CORONÁRIA ESPONTÂNEA: UMA CAUSA RARA DE ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO
46
ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP DA SALA DE PARTOS ATÉ POSSIBILIDADE DE ECMO:UMA MALFORMAÇÃO RARA NUM RECÉM-NASCIDO SEM DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL
52
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA MRMI (MEDICAL RESPONSE MAJOR INCIDENTS) - MADEIRA INTERNATIONAL DISASTER TRAINING CENTER: FORMAÇÃO INTERNACIONAL EM GESTÃO DE CATÁSTROFE
56
CARTA AO EDITOR COMPRESSÃO MECÂNICA OU MANUAL? – AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DE UM “KIT MÃOS LIVRES” NUMA RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR
60
CARTAS AO EDITOR CETAMINA NEBULIZADA EM CONTEXTO PRÉ-HOSPITALAR: UMA MODALIDADE ANALGÉSICA ADICIONAL?
64
VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS SÍNDROME DE WELLENS – QUANDO UMA INVERSÃO DA ONDA T INVERTEU O DIAGNÓSTICO
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ARTIGO DE REVISÃO I
ARTIGO DE REVISÃO I
O PAPEL DA ECOGRAFIA EM MEIO PRÉ-HOSPITALAR: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Laura Gonçalves 1 1
Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
RESUMO
necessidade de se adquirir
medical disease or trauma. The
A ecografia tem vindo a ganhar
competências específicas nas áreas
articles cited in this review were
interesse na área da emergência
da ecocardiografia e do Doppler
developed in doctor-based and
pré-hospitalar (EPH) pelo
transcraniano.
paramedic-based systems.
aperfeiçoamento tecnológico e pela
Tal como qualquer outra nova
In general, the use of USPHE seems to
padronização do seu uso, em
tecnologia introduzida na prática
be feasible whether “on location” or
contexto de emergência intra-
clínica, não é a ferramenta em si que
during transport and it does not seem
hospitalar. O objetivo deste artigo é
melhora o nível de cuidados
to delay definitive treatment. In some
apresentar uma revisão da literatura
prestados, mas sim a informação que
contexts, the USPHE seems to change
acerca das principais aplicações da
acrescenta ao algoritmo de decisão
patient management, although its
ecografia em EPH (EEPH), quer em
do médico que a utiliza. Portanto, a
impact on outcome is not yet
situações de suspeita de patologia
aposta do sistema deve estar na
established. In truth, evidence has
médica, quer em situações de trauma.
auditoria de qualidade, na formação
been mounting over the years that
Os estudos aqui citados foram
dos profissionais, na investigação e
supports the use of USPHE in the
realizados em sistemas de EPH
na integração da tecnologia como
context of dyspnea and trauma, asks
baseados em médicos
parte de uma resposta eficiente e
for caution when used in cardiac
ou paramédicos.
sustentável das organizações de EPH.
arrest and points to the need to
De uma forma geral, o uso de ecógrafo parece ser viável, quer no local, quer durante o transporte, e não
develop specific skills, like Palavras-Chave: Ecografia em emergência pré-hospitalar, Trauma, Patologia médica, Tecnologia, Inovação
compromete o tempo até ao
echocardiogram, transcranial US, etc. As any other new technology introduced into clinical practice, it is
tratamento definitivo. Em alguns
ABSTRACT
not the tool itself that changes the
contextos, a EEPH parece modificar a
Ultrasound (US) has been gaining
level of care, but the added value that
gestão do doente, ainda que esteja
ground in the area of pre-hospital
it introduces to the decision algorithm
por estabelecer que impacto isto terá
emergency (PHE). This is probably
of the doctor that uses it. Therefore,
no outcome. Assim, ao longo dos
due to standardization of its use in
the investment should be on quality
últimos anos, vem se acumulando um
intra-hospital emergency, as well as,
audits, education, investigation and
conjunto de evidência que apoia o
to the technological advances. The
integration of technology into the
uso da EEPH em contexto de dispneia
aim of this article is to present an
response system of PHE.
e trauma, pede precaução no seu uso
overview of the literature about the
em contexto de paragem cardio-
use of US in pre-hospital environment
-respiratória (PCR) e aponta para a
(USPHE), in cases of suspected
Keywords: Ultrasound in pre-hospital emergency, Trauma, Medical disease, Technology, Innovation
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9
INTRODUÇÃO
prioridades de investigação na área
trauma, pelas particularidades e
Tem se procurado melhorar os
da EPH3. Estabeleceram como
desafios inerentes a este contexto.
cuidados em EPH desde que estes
principais perguntas: “(1) Que tipos de
Por último, apresenta-se uma reflexão
foram criados. Alguns autores
exames ecográficos poderão ser
acerca da viabilidade da EEPH, bem
defendem que o progresso nesta
aplicados em ambiente pré-
como, sobre as perspetivas futuras
área prende-se com a investigação,
hospitalar? (2) De que forma é que a
desta temática.
desenvolvimento tecnológico e
ecografia pode afetar a gestão e
investimento financeiro em
encaminhamento dos doentes? (3)
APLICAÇÕES
essencialmente 3 áreas: 1)
Como podem os profissionais adquirir
A EEPH tem sido apresentada como o
atualização de equipamentos e
e manter as suas capacidades em
único meio complementar de
infraestruturas; 2) criação de
ecografia?” Outras questões como o
diagnóstico (MCD) imagiológico
programas que diminuam o risco
custo e resultados em saúde têm sido
passível de ser utilizado em contexto
para as equipas de EPH e 3)
também levantadas na literatura.
extra-hospitalar7. De uma forma geral,
implementação de ferramentas,
Desde então, a evidência científica
o uso de ecógrafo parece ser viável,
práticas e estratégias que, em
vem se acumulando em relação ao
quer para avaliação do doente no
última instância e em articulação,
uso da EEPH. Provavelmente, as
local, quer durante o transporte
contribuam para a melhoria dos
áreas de aplicabilidade mais 10
(ambulância ou helicóptero)7,8,9.
resultados em saúde 1. Em relação a
promissoras serão aquelas em que o
Igualmente, a EEPH não parece
este último ponto, a ecografia tem
tempo é um fator prognóstico major
atrasar a chegada do doente ao
vindo a ganhar terreno na EPH, com
(por exemplo, PCR, acidente vascular
hospital8,9,10. Pelo contrário, pode em
ênfase, nos países desenvolvidos.
cerebral (AVC), trauma grave, etc) e o
alguns casos até acelerar o
Isto deve-se principalmente a duas
seu uso será mais frequente perante
tratamento definitivo (1) pelo melhor
questões. Em primeiro lugar, ao
doentes críticos3,5. Contudo, a sua
encaminhamento dos doentes, (2) por
aperfeiçoamento da tecnologia,
relevância neste ambiente está ainda
possibilitar um início mais precoce do
com criação de dispositivos cada
sob debate2,4,5.
tratamento e (3) por permitir dar
vez mais portáteis (pequenos e
Este estudo foi realizado a partir de
alertas valiosos aos profissionais que
leves) e baratos, com maior
uma pesquisa extensa da literatura,
irão receber o doente2,5,10. A EEPH
qualidade de imagem e
utilizando a base de dados PubMed®.
parece modificar a gestão do doente
durabilidade 1,2. Em segundo lugar, a
Foram adicionados outros artigos, a
em alguns contextos, ainda que esteja
crescente utilização do ecógrafo
partir das referências daqueles
por estabelecer que impacto terá no
por médicos não radiologistas, em
selecionados numa primeira fase.
outcome do doente7-11.
contexto intra-hospitalar, fez com
O objetivo deste artigo é apresentar
A acurácia da ecografia no contexto
que o point-of-care ultrasound
uma revisão da literatura acerca do
pré-hospitalar varia significativamente
(POCUS) se tornasse rapidamente
uso da EEPH, em situações de trauma
entre estudos e é dependente do tipo
num padrão de atuação e que
ou não. Os estudos aqui citados
de exame realizado (por exemplo,
houvesse vontade de o aplicar
foram realizados em sistemas de EPH
ecografia pulmonar, ecocardiograma,
também em contexto
baseados em médicos ou
etc). Por isso, sempre que possível,
extra-hospitalar2.
paramédicos. Tal como Ketelaars e
apresenta-se esta informação para
No sentido de perceber de que forma
colaboradores, apresenta-se, em
cada uma das aplicações descritas
é que esta tecnologia poderia ser
primeiro lugar, as aplicações da EEPH
abaixo. Ainda assim, a acurácia da
transposta para a EPH, bem como,
com base na estrutura airway,
ecografia aliada á avaliação clínica é
que impacto é que poderia trazer aos
breathing, circulation, disability, and
alta quando comparada com apenas
cuidados dos doentes, um painel de
exposure/environment (ABCDE)6.
esta última2.
especialistas na área definiu o papel
Separadamente, apresenta-se a
da ecografia como uma das 5
evidência acerca do seu uso em
10
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ARTIGO DE REVISÃO I
A. Via aérea
Apenas 30% dos casos de
estudo em cadáveres, nos quais, por
Os métodos que possuímos na
entubações esofágicas foram
inerência, a palpação da membrana
prática clínica para confirmação do
reconhecidas por visualização e/ou
cricotiroideia é difícil. Reportaram
correto posicionamento do tubo
auscultação. Ou seja, em 70% dos
uma média de 3.6s (intervalo
endotraqueal (TET) são a auscultação
casos isto não teria sido detetado
interquartil (IQR), 1.9-15.3s) até à
pulmonar, a radiografia e a
caso a capnografia e/ou a ecografia
identificação da membrana e uma
capnografia. Em contexto pré-
não tivessem sido usadas. Nenhuma
média de 26.2s (IQR, 10.7- 50.7s) até
-hospitalar, a primeira é, muitas vezes,
das EDB foram detetadas por
se completar todo o procedimento. A
afetada pelo ambiente ruidoso do
capnografia. A sensibilidade e a
taxa de sucesso foi de 20 em 21
local e a segunda não está
especificidade da EEPH foram ambas
tentativas15.
disponível2. Por sua vez, a
de 100% e esta avaliação demorou
capnografia é o goldstandard, no
em média 30 segundos (s) (desvio
B. Sistema respiratório
entanto, não permite diferenciar entre
padrão 8-120s)12.
A EEPH tem sido utilizada na
uma entubação traqueal ou
avaliação de doentes com dispneia,
endobrônquica (EDB)12,13. Além disso,
A.1. Intervenções em Via aérea
nomeadamente, no sentido de
tem limitações em situações
A cricotiroidotomia de emergência é
diferenciar causa pulmonar de causa
relativamente comuns na EPH: PCR,
um procedimento de resgaste da via
cardíaca. Num estudo observacional
estados de baixo débito cardíaco,
aérea de última linha. Em contexto de
prospetivo, Laursen e colaboradores
tromboembolismo pulmonar e
trauma ou de outra patologia que
descreveram uma sensibilidade de
hipotermia1. Nestes casos, a EEPH
dificulte a avaliação da via aérea, a
94.4% (IC 95%, 72.7–99.9%) e uma
pode ser útil.
identificação da membrana
especificidade de 77.3 % (IC 95%,
Há uma probabilidade de 6 a 16% de
cricotiróideia pode ser difícil2,14. Além
54.6–92.2%) para diagnosticar edema
intubação esofágica em contexto de
disso, a realização de uma
pulmonar. A identificação de 3 ou
emergência13 e a prevalência de
cricotiroidotomia pode provocar lesão
mais linhas B num plano longitudinal,
deslocamento do TET não
laríngea/traqueal ou até não ser bem
entre 2 costelas, em 2 áreas
reconhecida é de 4.8% a 25%, em
sucedida. O uso de ecografia tem
pulmonares (anterior ou lateral),
contexto pré-hospitalar12. A acurácia
sido sugerido, de forma a aumentar a
bilateralmente, foi a definição
da ecografia em meio intra-hospitalar
sua eficácia e diminuir as suas
utilizada para fazer o diagnóstico de
para deteção destas situações, que
complicações2,14. You-Ten e
edema pulmonar15. Os autores
podem ser catastróficas, é elevada
colaboradores reportaram uma taxa
consideraram que em 22.5% (IC 95 %,
(sensibilidade de 98.9% (intervalo de
de sucesso de palpação da
9.0–36.0 %) destes doentes a
confiança (IC) 95%, 93.3-99.8%) e
membrana cricotiroideia de apenas
avaliação por EEPH alterou o
especificidade de 100% (IC 95%,
39% em grávidas com índice de
tratamento em ambiente pré-
51.6-100%)). Em contexto extra-
massa corporal > 30kg/m2, enquanto
hospitalar15. A mediana de tempo
hospitalar, também se verificam estes
que a taxa de sucesso para
para a realização desta avaliação foi
valores12, 13.
identificação dessa membrana com
de 3min15. Zanatta e colaboradores,
Zadel e colaboradores usaram a
ecógrafo foi de 100%14. Uma das
num estudo de caso-controlo,
deteção de deslizamento pulmonar
possíveis desvantagens será o tempo
utilizaram um protocolo de avaliação
(‘lung sliding’) e a excursão
necessário para a realização deste
semelhante ao descrito. Reportaram
diafragmática bilaterais como
exame, em contextos frequentemente
uma sensibilidade semelhante na
indicadores de entubação traqueal
dramáticos. Ainda assim, a realização
avaliação de edema pulmonar (100%),
bem sucedida. Realizaram esta
de cricotiroidotomia aberta (bisturi e
mas uma especificidade mais elevada
avaliação em 124 doentes assistidos
bougie) guiada por ecografia parece
(94.4%) do que aquela reportada por
em EPH. Ocorreram 13 entubações
ser um procedimento rápido15. Curtis
Laursen e colaboradores9.
esofágicas (10,5%) e 3 (2,4%) EDB.
e colaboradores realizaram um
Consideraram que o diagnóstico
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ARTIGO DE REVISÃO I
realizado através de EEPH tinha
mitigar intervenções desnecessárias.
de 2 dias19. Avaliaram
modificado o tratamento em 42.3%
O diagnóstico, localização e
subsequentemente a sua
dos casos. Para além da sua
drenagem de derrames pleurais
performance e capacidade de
utilização no diagnóstico diferencial
clinicamente relevantes pode também
interpretação dos dados,
de dispneia, a EEPH também pode ser
ser feito através do uso de ecografia.
comparando-as com a de um
utilizada para monitorizar o
Este método parece ser mais seguro
especialista na área. Em termos de
tratamento de doentes sob
e eficaz do que uma toracocentese
aquisição de imagem, pelo menos 1
continuous positive airway pressure
realizada “ás cegas”2.
em 3 janelas foi classificada como
(CPAP)17.
Finalmente, a confirmação do
adequada ou ótima em
O diagnóstico de pneumotórax tem
posicionamento de sonda gástrica,
aproximadamente 50% dos doentes;
sido realizado com o auxílio da
especialmente em doentes em que
no entanto, a capacidade de
ecografia através da deteção do seu
que seja necessário aspirar o
interpretação das imagens obtidas, de
padrão típico - desaparecimento de
estômago para facilitação da
uma forma correta, foi pobre. O
deslizamento pulmonar, ausência de
ventilação, pode também ser
consenso entre médico e especialista
linhas B e aparecimento de linhas A
realizado com o auxílio de um
foi classificado como fraco ou muito
horizontais16. Especialmente durante
ecógrafo. Este procedimento parece
fraco, em relação à (1) avaliação da
o transporte do doente em
ser rápido e ter uma elevada
função sistólica do ventrículo
helicóptero, em que a auscultação do
acurácia2.
esquerdo (VE), (2) tamanho do VD, (3)
doente é, não raras vezes, inviável, o
deteção de derrame pleural e (4)
uso de EEPH tem sido descrito.
C. Sistema cardiovascular
avaliação do tamanho da VCI [19].
Griffiths, numa revisão sistemática e
C.1. Choque
Estes achados poderão indicar um
meta-análise, demonstrou que,
A avaliação de doentes com
aumento da dificuldade técnica com a
mesmo quando realizado por
hipotensão/choque é das aplicações
inclusão de parâmetros
enfermeiros ou paramédicos sem
mais comuns da ecografia em
ecocardiográficos. Aliando este facto
experiência prévia, a sua
contexto de emergência16,18. Tem sido
ás particularidades do ambiente
especificidade parece ser alta (99%
utilizada não só no diagnóstico
pré-hospitalar, a interpretação destes
(IC 95%, 98–100%)). No entanto, a
(diferenciar entre causas de choque,
parâmetros em contexto de choque
sua sensibilidade parece ser mais
nomeadamente causa cardíaca
poderá ser pouco viável, quando
baixa do que aquela reportada para o
versus causa não cardíaca), mas
realizada por médicos com pouca
meio intra-hospitalar (61% (IC 95%,
também no tratamento destes
experiência em ecocardiografia19.
27–87%))11. A sensibilidade aumenta
doentes (administração de fluidos,
Ainda assim, foram desenvolvidos
se o pneumotórax for clinicamente
administração de inotrópicos, etc) 2,16.
protocolos para gestão do choque em
significativo11.
De uma forma geral, esta avaliação
contexto intra-hospitalar, como o
passa pela observação da cavidade
protocolo Fluid Administration Limited
B.1. Intervenções em Sistema
pericárdica, avaliação da dimensão
by Lung Sonography (FALLS), cujo
respiratório
do ventrículo direito (VD), avaliação
principal foco é a avaliação pulmonar
A principal importância da deteção/
da contratilidade miocárdica, medição
– exemplificando o racional, fará
exclusão de um pneumotórax é poder
do diâmetro da veia cava inferior
menos sentido procurar anomalias do
decidir realizar ou não drenagem por
(VCI), avaliação da pleura e do
VE, quando já se excluiu edema
toracostomia. A percentagem de
parênquima pulmonar, entre
pulmonar16. Estes protocolos, ao
toracostomias realizadas
outras2,9,16,18.
incluir poucos e/ou simples
desnecessariamente é alta, em
Charron e colaboradores
parâmetros ecocardiográficos,
contexto pré-hospitalar,
apresentaram um estudo em que
poderão potencialmente ser mais
especialmente em situações de
submeteram médicos de EPH a um
adequados a profissionais com
PCR2,11. O ecógrafo poderá assim
programa de treino ecocardiográfico
menos experiência na área.
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13
C.2. PCR
facto de terem sido reportados
viabilidade do uso de Doppler
Em 2010, Breitkreutz e colaboradores
aumentos das pausas entre
transcraniano, em contexto pré-
demonstraram, através de Focused
compressões, para além dos 10s
hospitalar25,26. No primeiro estudo
Echocardiographic (FoCUS) em
recomendados6,20,21,23,24. Neste sentido,
avaliaram 25 doentes,
ambiente pré-hospitalar, que 75% dos
apesar do ERC concordar que o
independentemente da doença
doentes considerados como estando
POCUS tem um papel crescente
primária que tinha motivado a
em atividade elétrica sem pulso
nestas situações, é necessário que
ativação dos meios de emergência.
(AEsP), estavam na verdade em AEsP
este tipo de avaliação seja feita por
Depois da visualização da artéria
com movimento cardíaco coordenado
um profissional com experiência
cerebral média (ACM) utilizando o
(pseudo-AEsP)22. Naturalmente, a
na área6.
modo Doppler, realizaram medições
pseudo-AEsP está associada a uma
do fluxo no segmento proximal (M1)
maior sobrevivência6. Neste sentido, a
C.3. Intervenções em C. Sistema
da ACM utilizando sonografia Doppler
EEPH tem sido utilizada neste
cardiovascular
espectral25. Esta avaliação foi feita
contexto para responder a questões
A cateterização venosa periférica
por neurologistas. Em média demorou
simples (com/sem movimento
(CVP) é um dos procedimentos mais
2min e em 20 dos 25 doentes
cardíaco coordenado). Foram
comuns em ambiente pré-hospitalar.
incluídos no estudo foi possível
realizados estudos que
Doentes com CVP difícil são 14
realizar as medições necessárias
demonstraram uma capacidade de
submetidos frequentemente a várias
para o diagnóstico de trombose da
obter imagens adequadas (eixo longo
tentativas de canulação infrutíferas.
ACM25. Estes números são
para-esternal ou subxifóide/
Em doentes críticos isto poderá
sobreponíveis àqueles reportados
subcostal) e de avaliar corretamente
comprometer a sua ressuscitação. A
para o contexto intra-hospitalar25. Em
a presença/ausência de batimento
utilização de ecógrafo como guia
2012, este grupo publicou a segunda
cardíaco de 100%, para profissionais
parece aumentar a taxa de sucesso e
parte do estudo26. Doentes com
de EPH com pouca experiência em
diminuir as complicações deste
suspeita de AVC foram submetidos a
ecografia20,21. No entanto, este
procedimento1,2.
Doppler transcraniano, com a opção
método não deve ser utilizado como
de ser utilizado um agente de
parâmetro único na decisão de
D. Sistema Nervoso Central
contraste (microbolhas), nos casos
suspender Suporte Avançado
D.1. AVC
em que houvesse uma janela
de Vida6.
É amplamente conhecido que a
temporal inadequada26. Estes autores
Além disso, o uso de POCUS em
redução do tempo entre evento e
reportaram uma sensibilidade de 90%
situações de PCR pode até ajudar a
trombólise está associado a uma
(IC 95%, 55.5–99.75%), uma
identificar a causa da PCR e, com
menor morbimortalidade no AVC2, 25.
especificidade de 98% (IC 95%
isso, permitir decidir qual o melhor
Tem sido levantada a hipótese de a
92.89–99.97%), um valor preditivo
tratamento2,5,6. Apesar do European
ecografia transcraniana e o uso de
positivo de 90% (IC 95%, 55.5–
Ressuscitation Council (ERC)
técnicas especiais de radiologia
99.75%) e um valor preditivo negativo
reconhecer este papel no diagnóstico
poderem permitir uma deteção mais
de 98% (IC 95%, 92.89–99.97%) [26].
de tamponamento cardíaco e de
precoce desta doença,
Estes e outros trabalhos abrem,
pneumotórax, deixa a ressalva em
nomeadamente em contexto pré-
assim, a porta para a sonotrombólise,
relação ao diagnóstico de
hospitalar. Isto poderia significar um
ou seja, a utilização do próprio agente
tromboembolismo pulmonar - a
melhor encaminhamento de doentes
de contraste (microbolhas) para
dilatação do VD é um fenómeno
e um início antecipado do tratamento
dissolução do trombo. Em potência,
frequentemente encontrado no
- neuroprotecção e até trombólise.
esta poderia ser realizada no local,
coração parado, independentemente
Um grupo de investigadores
sem necessidade de submeter o
da sua causa6. Outra das limitações
desenvolveu um estudo de duas
doente a Tomografia Computorizada
do uso da EEPH, neste contexto, é o
partes, cujo objetivo era avaliar a
ou Ressonância Magnética2,26.
14
Indice
ARTIGO DE REVISÃO I
TRAUMA
ser feita esta avaliação: no local ou
transcraniano. Os custos, os défices
Pelas especificidades inerentes ao
durante o transporte? Em 2018, Brun e
na formação, os tempos de transporte
trauma decidiu-se apresentar a
colaboradores verificaram, num outro
curtos, o receio de se atrasar o
evidência científica acerca deste
ECR, que uma avaliação extended FAST tratamento definitivo e a falta de
tema separadamente dos restantes. A
poderia ser realizada no local, durante
avaliação ecográfica de doentes que
o transporte ou de forma repetida, sem limitações ao uso da EEPH1,2.
sofreram trauma tem também tido
prejuízo da sua viabilidade ou
Alguns autores defendem que a
um crescente interesse, em EPH,
eficiência29. Embora estes resultados
aquisição das competências em
principalmente no que toca à
aumentem a confiança na utilização da
POCUS pode ser atingida com uma
avaliação da cavidade abdominal. De
EEPH em meio pré-hospitalar, é de notar
combinação de educação teórica,
facto, a acurácia da abordagem FAST
que a sensibilidade da ecografia na
treino prático e mais do que 50
parece ser semelhante àquela
deteção de lesões de órgãos sólidos e de avaliações clínicas, a maior parte delas,
reportada para o contexto
pequenas quantidades de líquido livre
intra-hospitalar27.
intra-abdominal é inerentemente baixa e de aprendizagem do FAST, por exemplo,
Uma das questões levantadas na
que a patologia aórtica traumática não
começa por ter uma inclinação abrupta,
literatura, em relação a este assunto,
pode ser detetada por este MCD2.
mas entre as 30 a 100 avaliações
prende-se com o tempo até
Portanto, parece mais razoável utilizá-lo
aplana2. Portanto, para avaliações mais
tratamento definitivo, pela sua
para incluir uma suspeita de diagnóstico especializadas, como ecocardiograma,
relevância no prognóstico destes
do que para excluí-la, não substituindo,
doentes. Em 2021, Lucas e
assim, a TAC em situações de trauma de triagem específicos, etc o treino terá de
colaboradores publicaram os
alta cinética2.
ser, muito provavelmente, mais extenso.
resultados de um estudo controlado
Além disso, ainda não é claro se o seu
Apesar do interesse no POCUS, em dois
randomizado (ECR), em que
uso poderá alterar o destino do doente,
terços das organizações de emergência
compararam o diagnóstico, estratégia
alocando-o ao hospital mais apropriado, europeias não estão disponíveis
e tempo até admissão na sala de
ou alterar o seu próprio tratamento, já
programas de treino creditados30.
emergência e bloco operatório.
em meio intra-hospitalar6. No entanto,
Tal como acima exposto, os tempos
Alocaram os doentes a um grupo que
alguns estudos parecem apontar para
de avaliação ecográfica são
recebeu apenas exame clínico (EC) e
uma alteração positiva na gestão
curtos12,15,25. Igualmente, este tipo de
a outro grupo que recebeu exame
do doente27.
exame pode ser realizado no local,
clínico e avaliação por FAST
O uso de ecografia foi também
durante o transporte ou nos dois
(EC+FAST), no meio pré-hospitalar28.
reportado na identificação de fraturas
momentos, sem comprometimento
Estes autores reportaram que, no
de ossos longos com potenciais
da eficiência da resposta pré-
grupo EC+FAST, o tempo médio
vantagens de redução e imobilização
-hospitalar28. Ainda assim, mais
diminuiu significativamente em 13min
precoces, bem como de triagem e
importante será a informação que pode
até admissão e, em 15min, até ao
notificação apropriadas1,2.
acrescentar ao algoritmo de decisão do
tratamento cirúrgico28. Também
evidência científica são algumas das
sob supervisão2,5. Ainda assim, a curva
Doppler transcraniano, protocolos de
emergencista; em última instância, é
outros estudos reportaram esta
CONCLUSÃO
isto que parece permitir uma redução
redução de tempo até a admissão
Ao longo dos últimos anos, vem se
do tempo até ao tratamento
hospitalar27. Reportaram também alta
acumulando um conjunto de evidência
definitivo28,29. Portanto, o receio de que
sensibilidade (94.7%) e especificidade
que apoia o uso da EEPH em contexto
possa atrasar o tratamento definitivo é
(97.6%) do EC+FAST na deteção de
de dispneia e trauma, pede precaução
cada vez mais infundado.
líquido livre intra-abdominal
no seu uso em contexto de PCR e
Os estudos que dispomos neste
comparativamente com o EC apenas
aponta para a necessidade de se
âmbito são, de facto, heterogéneos e
(80.0%, 84.4% respetivamente). Outra
adquirir competências específicas nas
de qualidade variável, denotando o
das questões é em que timing deve
áreas da ecocardiografia e do Doppler
contexto também ele extremamente
Indice
15
16
mutável e imprevisível em que os
decisão do médico que a utiliza. A
programa que assegure a qualidade
profissionais de EPH trabalham, com
possibilidade de adquirir informação,
do sistema de uma forma
diferentes áreas de especialização e
de outra forma inatingível, acerca da
longitudinal, que crie um ambiente
capacidades técnicas díspares. Se é
patofisiologia do doente crítico “no
favorável à investigação,
legítimo dizer que ainda não é
local” não pode ser subestimada. No
nomeadamente, desenvolvimento de
definitivo que o uso da EEPH traga
entanto, a ferramenta mais valiosa na
estudos com outcomes centrados no
melhores resultados em saúde,
ambulância não é a tecnologia nela
doente, que possibilite a aposta na
também o será dizer que não é a
contida, é a capacidade de decisão
formação contínua dos profissionais
ferramenta em si que melhora o nível
dos profissionais de EPH. Dito isto,
e que permita a integração de nova
de cuidados prestados, mas sim o
não parece ser demais sublinhar a
tecnologia na resposta do sistema, às
upgrade que esta traz ao algoritmo de
importância da criação de um
situações de EPH
16
Indice
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COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
17
18
18
Indice
ARTIGO DE REVISÃO II
ARTIGO DE REVISÃO II
VÍRUS MONKEYPOX, REVISÃO DA LITERATURA. UM NOVO CONTEXTO EPIDÉMICO DEPOIS DA COVID19?
Ramiro Sá Lopes 1 1 Interno de Formação Específica de Medicina Interna do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve - Faro
RESUMO A infeção pelo vírus Monkeypox (VMPX) tem nos roedores o seu reservatório natural, sendo os macacos e os humanos hospedeiros ocasionais. Maioritariamente localizado em África com surtos de infeção episódicos até 2003, aquando de um surto nos Estados Unidos da América (EUA) por importação de animais ou associado a viajantes provenientes daquele continente. Em maio de 2022 verificou-se um aumento de casos de infeção por VMPX fora de África, maioritariamente em homens com
mal-estar geral e cefaleias, existindo,
men that have sex with men. Due the
no entanto, múltiplas formas de
number and widely diffused cases
apresentação. O diagnóstico pode
among continents, the World Health
ser confirmado pelo teste
Organization declared the disease as
Polymerase Chain Reaction (PCR) nas
a public health emergency of
lesões ou identificação do VMPX
international concern.
noutros fluídos ou tecidos, associado
The transmission can occur due to
a contexto epidemiológico sugestivo
direct contact, with fomites or via
da doença.
respiratory droplets. The disease has
Não existe tratamento dirigido ao
an incubation time ranging from 5 to
VMPX, apesar da eficácia descrita
21 days, with no transmission until
dos antivíricos contra a varíola. O uso
the onset of symptoms.
de vacinas para a varíola contribui
The clinical features are characterized
para a prevenção como profilaxia pré
by the presence of pustules, fever,
e pós-exposição.
malaise, and headache, but it can have a multiple presentation form.
relações sexuais com homens (HSH). Dado o número de casos e a
Palavras-Chave: Vírus Monkeypox; surto; rash; lesões vesiculopustulares; vacinação.
distribuição geográfica, foi
The diagnosis can be confirmed by the PCR testing of lesions or identification of MPXV in other
classificada em julho 2022 pela Organização Mundial de Saúde
ABSTRACT
(OMS) como emergência de saúde
The Monkeypox infection (MPXV) has
pública mundial.
in small rodents its natural reservoir,
A transmissão pode acontecer
and human and non-human primate
através de contacto direto, com
are occasional hosts. Mainly endemic
objetos contaminados ou gotículas
in Africa, until 2003 with an outbreak
respiratórias. O período de incubação
in the United States of America
pode ir de 5 a 21 dias, não existindo
following importation of animals or
transmissão até início de sintomas.
linked to travelers from Africa. In May
Estes caracterizam-se pelo
2022, emerged a new outbreak in
aparecimento de pústulas, febre,
non-endemic countries mainly among
tissues or fluids, considering an appropriate epidemiologic setting. There is no treatment available for the MPXV infection, although suggested efficacy of smallpox antiviral therapeutics. Smallpox vaccines play a significant role in prevention used as pre or post-exposure prophylaxis.
Keywords: Monkeypox virus; outbreak; rash; vesiculopustular lesions; vaccination.
Indice
19
20
INTRODUÇÃO
desde 1980 após a erradicação da
conhecimento das vias de
A infeção causada pelo vírus
varíola, suspendeu-se o uso de
transmissão, as possíveis
Monkeypox (VMPX) tem nos
vacinas com vírus OTPX .
manifestações clínicas e diagnóstico,
roedores o seu reservatório natural,
A doença em Humanos manteve-se
de forma a rastrear o maior número
sendo os macacos e humanos
endémica nos países da África Central
de indivíduos expostos e identificar
hospedeiros ocasionais .
até 2003 com o aparecimento de
cadeias de transmissão. A
É um membro da família Orthopoxvirus
surtos pontuais nos EUA após contacto
implementação de medidas de
(OTPX), sendo o mais conhecido o
com animais importados e viajantes
prevenção, sejam elas de isolamento
vírus da varíola . O vírus de dupla
provenientes daquele continente .
ou uso de vacinas, reveste-se de
cadeia DNA foi inicialmente
Em maio de 2022, um novo surto de
extrema importância no controlo da
identificado em macacos num
doença por VMPX fora de África
disseminação da infeção.
laboratório dinamarquês em 1958, e
acordou a comunidade científica
documentado a primeira vez em
internacional, com mais de 3000
humanos em 1970 durante a
casos apenas no primeiro mês
4
1
2
3,4
1-5,13,17
VIAS DE TRANSMISSÃO .
Apesar dos hospedeiros naturais do
campanha de irradicação da varíola na
Este surto esteve ligado maioritária,
VMPX não serem completamente
República Democrática do Congo .
mas não exclusivamente, a
conhecidos, pensa-se que o vírus
O vírus da varíola, erradicado através
transmissão entre HSH . Em julho de
tem vários hospedeiros possíveis
de campanhas de vacinação , está
2022, a OMS declarou a infeção por
baseado na deteção de anticorpos
VMPX como emergência de saúde
do VMPX e OTPX numa grande
manifestações clínicas semelhantes .
pública global , sendo que em
variedade de roedores e primatas
Dados prévios mostram que a vacina
setembro de 2022 os números
(humanos e não humanos)3.
da varíola com vírus vaccinia (outro
ascendiam a mais de 25000 casos, na
Os surtos de VMPX começam
vírus OTPX) tem taxas de proteção de
sua maioria em países europeus .
inicialmente com a transmissão de
85% contra o VMPX. No entanto,
É necessário, portanto, aumentar o
animais para humanos, desencadeando
3,4
3
relacionado com o VMPX, com 4
20
Indice
1-6
7
8
ARTIGO DE REVISÃO II
a transmissão humano-humano. Em
como via de transmissão primária3. O
risco conhecido para o surto atual1-5.
áreas endémicas, dadas as múltiplas
contacto prolongado e próximo, pode
Em Portugal, foi diagnosticado o
vias de transmissão zoonótica, o
levar a transmissão via aerossóis, o
primeiro caso a 17 de maio de 20225,
contacto direto com animais, mortos
que coloca os profissionais de saúde
sendo que em setembro existiam 903
ou doentes, através da caça,
em maior risco de infeção1.
casos confirmados e um total na
manuseamento da carne e consumo de
A transmissão nosocomial do VMPX,
União Europeia (UE) de 20083, com
carne de animais selvagens, está ligado
entre pacientes e profissionais de
Espanha a liderar13, 18.
à transmissão a humanos3,9, estando
saúde, é fator de preocupação quer
Quanto à previsão da evolução do
também descrita transmissão por
em regiões endémicas quer em
surto, existem vários modelos
mordedura, bem como transmissão
não-endémicas, cujos surtos são
preditivos sendo, no entanto,
indireta e gotículas respiratórias3.
habitualmente graves e prolongados,
inconclusivos. Um dos modelos
O índice de transmissibilidade entre
potenciados por fatores tais como
realizados no Reino Unido, assumindo
humanos é variável, existindo
fragilidade dos doentes, práticas de
a transmissão sexual como forma de
estimativas entre 0,815 e 2,13,
higiene hospitalar e uso de
contágio numa rede específica, prevê
demonstrando o potencial de
procedimentos geradores de
um surto de grandes dimensões na
circulação do vírus na população
aerossóis3. A implementação de
população de HSH, mas baixa
humana10. Tendo em conta o índice
medidas como o uso de equipamento
probabilidade de transmissão
de transmissibilidade, o VMPX é
de proteção individual (EPI), gestão
sustentada no resto da população,
historicamente menos transmissível
de material contaminado e medidas
mesmo na ausência de medidas de
que a varíola, cujo índice de
de isolamento devem ser rapidamente
controlo de saúde pública14. Noutro
transmissibilidade está estimado
realizadas para minimizar a
estudo, usando um modelo com
entre 4-63. No entanto, existe uma
transmissão do VMPX1-6.
características demográficas de
grande heterogeneidade na
países desenvolvidos, mas não
transmissão do VPMX, havendo
SURTO ATUAL
assumindo a transmissão sexual,
dados que relatam índices de
Inicialmente documentado em maio
prevê que mesmo sem o uso de
transmissibilidade superior,
de 2022 no Reino Unido, outros países
medidas de controlo de saúde
associados a superspreaders3.
europeus rapidamente anunciaram
pública, o surto seja reduzido em
Historicamente, o não reconhecimento
casos de VMPX. Apesar de a Europa e
número e duração15.
ou erro diagnóstico é o maior
os EUA serem o epicentro, o surto
Apesar do curso do surto permanecer
determinante na propagação da
atual é multinacional, incluído mais de
desconhecido, a discrepância entre
infeção, sendo o tamanho da cadeia
50 países1, 3, 6, 8.
os estudos mostra a incapacidade de
de transmissão o maior preditor da
Com uma taxa de mortalidade baixa, a
os modelos matemáticos estimarem
gravidade e dimensão do surto13.
transmissão humano-humano
adequadamente a progressão do
Em humanos, a identificação do
continua, e com crescimento
mesmo. A ausência de dados reais
VMPX está documentada em urina,
exponencial3, com índice de
das vias de transmissão, prevalência
lesões cutâneas, zaragatoas
transmissibilidade nas fases iniciais
e populações em maior risco,
nasofaríngeas, sémen, sangue e fezes
do surto estimado em 2,43 em Itália3,12.
principalmente na fase inicial do
e, portanto, pensa-se que a
Nos casos documentados nos EUA até
surto, dificulta as previsões.
transmissão via gotículas
final de julho de 2022, 94%
respiratórias, contacto com fluidos
correspondiam a casos de HSH com
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
corporais ou lesões, e objetos
exposição sexual ou contacto íntimo
E DOENÇA
contaminados, sejam vias de
recentes. Comportamentos sexuais de
O erro no diagnóstico ou
contágio possíveis1-5,10,11. Contudo, a
alto risco, nomeadamente relações
subdiagnóstico do VMPX pode levar a
evidencia epidemiológica não
sexuais desprotegidas, com múltiplos e
surtos maiores e mais longos. No surto
favorece a transmissão via aerossóis
desconhecidos parceiros, são fator de
presente, há múltiplos relatos de erros
Indice
21
de diagnóstico inicial em doentes que
lesões na mucosa anorectal, estas
Um caso suspeito refere-se a um
mais tarde tiveram confirmação da
últimas habitualmente associadas a
individuo que:
infeção por VPMX. Tal deveu-se,
dor anorrectal, proctite, tenesmus ou
•
maioritariamente, a manifestações
diarreia (ou combinação de
clínica iniciais atípicas incomuns não
sintomas). Cerca de 70 pessoas
descritas previamente nos casos
foram admitidas no hospital, a
infeção por VMPX em África3.
maioria para controlo de dor
As manifestações clínicas em
anorrectal grave ou tratamento de
sintomas: febre de início súbito
humanos habitualmente surgem após
sobre-infeção de tecidos moles.
(≥38,0ºC), astenia, mialgia,
um período de incubação entre 5 a 21
Foram admitidos também doentes
dorsalgia, cefaleia,
dias1. No surto atual, as estimativas
com faringite ou epiglotite com
Ou
apontam para uma média de 7,6 - 8,5
limitação da ingesta oral, lesões
dias de período de incubação3, sendo
oculares, lesão renal aguda ou
que os dados atuais sugerem que pode
miocardite17.
existir transmissão do vírus desde o
Neste surto, tendo em conta a
início dos sintomas até à sua resolução6.
apresentação atípica com úlceras
explicadas por outros
Existem relatos de doentes infetados
genitais ou perianais, o estigma 22
diagnósticos diferenciais, e
sem rash ou pródromo16, estando
negativo associado a
descritos 20% com rash e sem
comportamentos promíscuos da
pródromo, e apenas 11% com rash3.
comunidade homossexual, e a
Sinais e sintomas comuns surgem no
inexperiência com o VMPX, a infeção
curso da doença como febre (62%),
tem sido confundida com outras
linfadenopatias (56%), letargia (41%),
infeções sexualmente transmissíveis
como um individuo que
mialgias (31%) ou cefaleias (27%),
(IST) comuns, e muitas vezes os
apresente exantema (macular,
alterações que habitualmente que
doentes têm alta medicados com
papular, vesicular ou pustular
precedem o rash cutâneo17.
antibióticos, com demora no
A apresentação mais comum é lesão
diagnóstico correto até 11 dias após
ou lesões cutâneas, primeiramente na
início de sintomas3.
região anogenital (73%), corpo (55%),
Seja contacto, nos últimos 21 dias antes do início dos sintomas, de um caso provável ou confirmado de infeção por VMPX e que apresente um ou mais dos seguintes sinais/
•
Apresente exantema (macular, papular, vesicular ou pustular generalizado ou localizado) e/ou queixas ano-genitais (incluindo úlceras) de início súbito, não
podendo coexistir com um ou mais sintomas/sinais como febre de início súbito (≥38,0ºC), astenia, mialgia, dorsalgia, cefaleia e adenopatia18. •
Um caso provável é definido
generalizado ou localizado) e/ou queixas ano-genitais (incluindo úlceras) e um ou mais dos seguintes critérios: •
Seja contacto, nos últimos 21 dias
face (25%), e palmas das mãos ou
ABORDAGEM DIAGNÓSTICA
antes do início dos sintomas, de
plantas dos pés (10%) (ou
Tendo em conta o local de
um caso provável ou confirmado
combinação de localizações) com
apresentação dos doentes,
de infeção por VMPX;
aumento do número de lesões com o
habitualmente em consultas abertas
tempo, com ou sem manifestações
de IST, Serviços de Urgência, Equipas
sistémicas17. O tipo de lesões
de abordagem pré-hospitalar,
cutâneas é muito variável, descritas
consultas de Dermatologia17,18 é
como maculares, pustulares,
necessário definir normas de
vesiculares ou com crosta, com
orientação clínica. Assim, estão
ou níveis serológicos detetáveis de
apresentação de lesões em múltiplas
definidas internacionalmente várias
IgM para vírus OTPX ou aumento de
fases evolutivas, sendo em 58%
recomendações nesse sentido e, em
descritas como vesiculopustulares3, 17.
Portugal, a Direção Geral de Saúde
Num estudo em 16 países17,
(DGS) publicou recomendações para
envolvendo 528 doentes, 41
promover a deteção precoce de casos
apresentaram-se apenas com lesões
suspeitos, a notificação, confirmação
Considera-se caso confirmado de
na mucosa oral e 61 doentes com
e investigação epidemiológica5,18.
infeção por VMPX se dor detetado
22
Indice
•
Identificação como homossexual, bissexual ou HSM;
•
Múltiplos parceiros/parceiros casuais nos últimos 21 dias antes do início dos sintomas;
•
Resultado positivo para vírus OTPX,
4 vezes da titulação de IgG em amostras recentes, na ausência de vacinação contra varíola ou infeção por VMPX e sem outra exposição conhecida a vírus OTPX18.
ARTIGO DE REVISÃO II
ADN do VMPX por PCR em tempo
TRATAMENTO
pela FDA para o tratamento de
real e/ou sequenciação numa
Doentes infetados com VMPX
complicações da vacinação para a
amostra biológica18.
beneficiam de tratamento de suporte
varíola, existindo protocolos de
O diagnóstico com PCR em tempo
e controlo álgico implementado
tratamento de surtos por vírus OTPX.
real é baseado na deteção do gene
precocemente6. A gravidade da
Não existem, no entanto, dados
rp018 do género OTPX5 presente em
doença depende da resposta
sobre benefício no tratamento de
produtos biológicos de lesões
imunitária do hospedeiro,
infeções por VMPX, podendo ser
cutâneas ou anogenitais (97%),
comorbilidades, status vacinal, sendo
considerada em casos em que a
zaragatoas nasofaríngeas (26%),
que a maioria apenas necessita de
vacinação profilática com vacinas
sangue (7%) e urina (3%)17. Em
medidas de suporte básico6.
esteja contraindicada6.
biópsias cutâneas, os achados
Atualmente não existe tratamento
Existem ainda o cidofovir e o
histopatológicos do VMPX não
antivírico específico aprovado para
brindicifovir, antivíricos aprovados para
diferem dos presentes em infeção por
infeções por VMPX. No entanto,
tratamento de infeção por varíola, no
varíola1, não sendo por isso
antivíricos desenvolvidos para o uso
entanto, não existem dados sobre
considerada forma de diagnóstico
em infeção por varíola podem
segurança para infeção por VMPX6.
fidedigna.
mostrar-se eficazes, principalmente
Na abordagem de um caso suspeito,
na doença grave1, 6, não estando, no
VACINAÇÃO
provável ou confirmado, as unidades
entanto disponíveis na maioria dos
Historicamente e no que diz respeito
de saúde e os profissionais devem
países. Podem ser considerados em
à infeção do VMPX, a vasta maioria
instituir medidas de prevenção e
casos de apresentação com doença
das infeções em Humanos em África
controlo de infeção por contacto e
grave tais como doença hemorrágica,
e mundialmente, ocorreram em
gotícula3, 6, 18, desde o primeiro
sépsis, encefalite, infeção ocular ou
pessoas não vacinadas para a
contacto como doente.
periorbitária, dor não controlada, e
varíola1, sendo que se considera que
Para prestação de cuidados de
infeção dos tecidos moles com
o aumento do número de casos de
saúde, sejam eles avaliação, colheita
necessidade de intervenção
VPMX se deve à cessação do
de produtos biológicos, ou
cirúrgica, bem como nos casos de
programa de vacinação da varíola,
tratamento, os profissionais de
imunossupressão grave, primária ou
após irradicação da mesma3.
saúde devem usar, após verificação
secundária, crianças com < 8 anos,
Atualmente, a vacina contra a varíola é
de lesões suspeitas, equipamento de
grávidas ou em período de
composta por uma estirpe altamente
proteção individual: respirador de
amamentação. O tratamento deve
atenuada e não replicativa do vírus
partículas (FFP2), avental ou bata de
ser administrado o mais
vaccinia aprovada na União Europeia
manga comprida, luvas descartáveis,
precocemente possível6.
desde 2013, tendo sido aprovada nos
touca e proteção ocular1,6,18.
O tecovirimat é um antivírico ativo
EUA em 2019 também para o uso
As medidas de isolamento de caso
contra infeções por vírus OTPX,
contra a infeção por VMPX18.
suspeito, provável ou confirmado,
nomeadamente a varíola, aprovado
Nos países da União Europeia foi
que recorre às unidades de saúde,
pela Food and Drug Administration
adotada uma estratégia mista de
devem ser mantidas até confirmação
(FDA), não estando, no entanto,
vacinação. Inicialmente, e tendo em
de caso ou resolução espontânea
aprovado para tratamento de infeções
conta a disponibilidade da vacina a
das lesões18. Se doente em regime
por VMPX1,8. Num estudo retrospetivo
nível internacional, foi apenas
ambulatório, as recomendações de
no Reino Unido, o uso de tecovirimat
considerada uma estratégia de
isolamento são semelhantes, com
mostrou diminuição do viral shedding,
vacinação pós-exposição19. No
autovigilância, e devem ser mantidas
podendo diminuir o risco de
entanto, e com a mudança de
até resolução espontânea das
transmissão do vírus3.
estatuto do surto de infeção humana
lesões, que se estima poder ocorrer
A administração endovenosa de
por VMPX pela OMS7, foi incluída
após 2-4 semanas18.
imunoglobulina vaccinia foi aprovada
também a profilaxia pré-exposição
Indice
23
como forma de mitigação do surto19.
o início da doença, sendo que se
No estudo de avaliação da eficácia
administrada entre os 4 e 14 dias,
das várias estratégias de vacinação,
pode reduzir os sintomas da doença,
foi considerado que a vacinação
mas não preveni-la6.
pré-exposição é a estratégia mais
Em Portugal, nas recomendações da
eficiente se for difícil identificar a
DGS19 a vacinação é dirigida a
cadeia de transmissão, e quando o
pessoas até 4 dias após exposição,
alvo é um grupo menor de doentes.
assintomáticas, podendo ir até aos 14
Mesmo quando se consegue
dias se assintomáticas, priorizando-
identificar a rede de contatos, a
se, no entanto, aqueles com menos
vacinação pós-exposição mostrou-se
tempo decorrido desde exposição19.
apenas marginalmente mais eficaz
Quanto a grupos específicos, como
que a primeira estratégia19.
grávidas ou população pediátrica, os
Considera-se que com a vacinação
dados sobre utilização da vacina são
pré-exposição, estando contemplados
limitados, e não existem dados
indivíduos com múltiplos contatos
disponíveis na amamentação. Deverá
sexuais casuais ou múltiplos 24
ser considerada, se os benefícios
parceiros sexuais, e profissionais de
ultrapassarem os riscos19.
saúde com risco de exposição, poder existir uma efetividade contra a
PROGNÓSTICO
infeção na ordem dos 85%4, 6,19. Sendo
A taxa de mortalidade da infeção por
assim, em Portugal a DGS19 emitiu
VMPX está entre 0 e 11% em países
normas de orientação clínica com
africanos, e é mais alta entre
recomendações sobre critérios de
crianças. Além disso, indivíduos com
vacinação, semelhantes em outros
menos de 40 anos (dependendo do
países na UE e EUA1,6.
país), podem ser mais suscetíveis à
A vacinação é indicada para todos os
infeção tendo em conta o estado
indivíduos com mais de 18 anos. Os
vacinal para a varíola1.
critérios de vacinação pré exposição
Até final de setembro de 2022,
incluem, de uma forma geral, os
contavam-se com 14 óbitos
grupos de risco como os HSH,
associados à infeção do VPMX em
mulheres e pessoas trans em regime
países não endémicos6.
de profilaxia pós exposição para o
24
Indice
Vírus da Imunodeficiência Humana
COMENTÁRIO
(VIH) e/ou pelo menos, uma IST nos
Após quase 3 anos de contato com
últimos 12 meses, HSH com
a pandemia pelo vírus SARS-CoV2,
imunossupressão grave, ou ainda
eis que surge um novo desafio de
profissionais de saúde, com elevado
saúde pública, de proporções, até à
risco de exposição19.
data, desconhecidas.
Quanto aos critérios de vacinação
Dada a frequência do diagnóstico
pós exposição, quando mais cedo for
incorreto da infeção por VMPX, é
administrada, melhor. O Center of
provável que o surto atual tenha
Disease Control and Prevention (CDC)
maiores dimensões do que
recomenda a vacinação até 4 dias
atualmente se pensa, com potencial
após a exposição de forma a prevenir
para crescimento, considerando as
ARTIGO DE REVISÃO II
características de surtos prévios vírus
May 2022. Euro Surveill. 2022 Jun; doi:
vaccinia. Associadamente a isso, a
10.2807/1560
the 2022 Monkeypox outbreaks in non-endemic
Center for Disease Control and Prevention.
countries. Lancet Microbe. 2022; doi: 10.1016/
saúde por indivíduos em fase
Monkeypox. (Acedido a 22 de setembro):
S2666-5247(22)00183-5
contagiosa e não diagnosticados,
Disponível online: https://www.cdc.gov/poxvirus/
pode contribuir para surtos
monkeypox/response/2022/index.html
Tittle V., Gedela K., Scott C., Patel S., Gohil J.,
Nuzzo JB, Borio LL, Gostin LO. The WHO
Nugent D., et al. Demographic and Clinical
Apesar do presente surto afetar
Declaration of Monkeypox as a Global Public Health
Characteristics of Confirmed Human Monkeypox
desproporcionalmente homens, gay,
Emergency. JAMA. 2022; doi:10.1001/
Virus Cases in Individuals Attending a Sexual
bissexual ou outros HSH, a infeção pelo
jama.2022.12513
Health Centre in London, United Kingdom: An
Joint ECDC-WHO Regional Office for Europe
Observational Analysis. Lancet Inf. Dis. 2022; doi:
Monkepox Surveillance Bulletin, 21 setembro 2022.
10.1016/S1473-3099(22)00411-X
recorrente procura de cuidados de
associados a cuidados de saúde.
VMPX não é uma “doença de gays”
6.
7.
8.
como não é uma “doença de África”, podendo afetar qualquer pessoa.
9.
Doshi R.G.S., Doty J., Babeaux A., Matheny A.,
15.
16.
17.
Bisanzio D.R.R. Projected burden and duration of
Girometti N.B.R., Bracchi M., Heskin J., McOwan A.,
_John P. Thornhill, M.D., Ph.D., Sapha Barkati, M.D.,
A consciencialização dos
Burgado J., et al. Epidemiologic and Ecologic
Sharon Walmsley, M.D., Juergen Rockstroh, M.D.
profissionais de saúde para
Investigations of Monkeypox, Likouala Department,
Monkeypox Virus Infection in Humans across 16
reconhecimento da doença e uso de
Republic of the Congo, 2017. Emerg. Infect. Dis.
Countries — April–June 2022. N Engl J Med 2022.
equipamento de proteção adequado,
2019; doi: 10.3201/eid2502.181222
doi: 10.1056/NEJMoa2207323
a implementação de medidas de
10.
Grant R., Nguyen L.L., Breban R. Modelling
18.
Direcção Geral de Saúde. Abordagem de casos de
saúde pública, de educação
human-to-human transmission of monkeypox. Bull.
infeção humana por vírus Monkeypox. 31 de maio
comportamental e de isolamento, e
World Health Organ. 2020; doi: 10.2471/
de 2022. Norma nº 004/2022.
implementação de esquemas
BLT.19.242347.
vacinais serão os principais
19.
Direcção Geral de Saúde. Abordagem de casos de
Blumberg S., Lloyd-Smith J.O. Inference of R (0) and
infeção humana por vírus Monkeypox. 31 de maio
determinantes no controlo da
transmission heterogeneity from the size
de 2022. Norma nº 004/2022.
transmissão do vírus, e, portanto,
distribution of stuttering chains. PLoS Comput. Biol.
controlo do surto
2013; doi: 10.1371/journal.pcbi.1002993
11.
12.
Rao A.K., Petersen B.W., Whitehill F., Razeq J.H., Isaacs S.N., et al. Use of JYNNEOS (Smallpox and
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1.
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new outbreak. Rev Esp Quimioter. 2022 Jul. doi:
Occupational Exposure to Orthopoxviruses:
10.37201/req/059.2022
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Amesh Adalja, Tom Inglesby A Novel International
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Monkeypox Outbreak. Ann Intern Med.2022;
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Riopelle JC, Munster VJ, Port JR. Atypical and
10.15585/mmwr.mm7122e1.
2.
3.
Unique Transmission of Monkeypox Virus during
4.
European Center for Disease Prevention and
the 2022 Outbreak: An Overview of the Current
Control - Monkeypox situation update. Acedido a 22
State of Knowledge. Viruses. 2022 Sep 11;14(9).
de setembro de 2022. Disponível online: https://
doi: 10.3390/v14092012
www.ecdc.europa.eu/en/news-events/
Bunge E.H.B., Chen L., Lienert F., Weidenthaler H.,
monkeypox-situation-update
Baer L., Steffen R. The changing epidemiology of
5.
13.
14.
EDITOR
JOÃO OLIVEIRA Médico VMER
REVISÃO
Endo A.M.H., Abbott S., Ratnayake R., Pearson C.,
human monkeypox—A potential threat? A
Edmunds W., Fearon E., Funk S. Heavy-tailed sexual
systematic review. PLoS Negl. Trop. Dis. 2022. doi:
contact networks and the epidemiology of
10.1371/journal.pntd.0010141
monkeypox outbreak in non-endemic regions, May
Perez Duque M, Ribeiro S, et al. Ongoing
2022. MedRxiv. 2022; doi:
monkeypox virus outbreak, Portugal, 29 April to 23
10.1101/2022.06.13.22276353
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
25
26
26
Indice
HOT TOPIC
HOT TOPIC
ABORDAGEM DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA NO PRÉ-HOSPITALAR: QUAL O FUTURO PARA AS NOSSAS VMER? José Maia de Sousa1,2,3 Assistente Hospitalar de Medicina Interna Médico na VMER de Braga 3 Formador de Ecografia Point-Of-Care (POCUS) 1 2
RESUMO
ABSTRACT
A INSUFICIÊNCIA CARDIACA
A insuficiência cardíaca aguda (ICA) é
Acute Heart Failure (AHF) is one of
A insuficiência cardíaca (IC) é uma
um dos principais motivos de
the main problems that drives
síndrome clínica caracterizada por
recorrência aos serviços de urgência,
patients to the emergency room and
sintomas como dispneia, edema
podendo levar a complicações
may lead to potential life-
periférico e fadiga, que resulta de
ameaçadoras de vida. O pronto e
threatening complications. Its fast
uma disfunção estrutural ou
correto diagnóstico é essencial para
and correct diagnosis is essential
funcional do enchimento ventricular
melhor abordar estes doentes, sendo
for their appropriate approach, and
cardíaco ou da sua capacidade de
que a rápida instituição da terapêutica
the prompt administration of the
ejeção sistólica.1, 2
adequada terá implicações no rápido
correct therapeutic strategy will
A insuficiência cardíaca aguda
alívio de sintomas e inclusive impacto
have great impact on symptom
refere-se a uma instalação gradual ou
na mortalidade e duração da estadia
relief, survival, and length-of-stay. In
rápida de sintomas de IC, com
no serviço de urgência ou hospitalar.
this article, the objective was to
gravidade suficiente para levar os
Neste artigo pretende-se fazer uma
make a brief review of the current
doentes a recorrer aos serviços de
breve revisão do atual estado da arte
state of the art in terms of Acute
saúde, podendo inclusive representar
acerca da insuficiência cardíaca
Heart Failure, including some
risco de vida. Calcula-se que a sua
aguda, incluindo também algumas
novelties and main caveats and
incidência esteja a aumentar, sendo a
novidades e principais ressalvas e
singularities about the prehospital
causa mais frequente de
particularidades na componente
approach to these patients. In the
hospitalização após os 65 anos nos
pré-hospitalar da abordagem destes
Pre-Hospital Emergency (PHE), the
países desenvolvidos.2, 3 A
doentes. Na Emergência Pré-
presence of trained professionals,
mortalidade intra-hospitalar desta
-hospitalar (EPH), a presença de
specific drugs, non-invasive
entidade varia entre 4% a 10% e a
profissionais treinados, fármacos
ventilation (NIV), analyses or
mortalidade a um ano após alta pode
específicos, ventilação não invasiva
portable point-of-care ultrasound
ser entre 25% a 30%. Estas duas
(VNI), análises ou ecografia “point-of-
(POCUS) , are all added value in the
mortalidades são maiores nos
care” (POCUS), são todos mais valias
management of the patient with
doentes com IC de novo e nos
na abordagem do doente com ICA
AHF, especially in the face of
doentes com IC crónica
sobretudo perante a suspeita de
suspected cardiogenic shock, as
descompensada, respetivamente.1, 2 É
choque cardiogénico, desde que não
long as they do not delay the
igualmente um cenário frequente em
atrasem o socorro e o adequado
appropriate referral to the indicated
ambiente pré-hospitalar.4, 5 Contudo,
encaminhamento para a instituição de
health institution.
muitas vezes os sintomas de
saúde indicada. Palavras-Chave: Insuficiência Cardíaca Aguda, Ecografia Point-Of-Care, POCUS, Pré-hospitalar, Choque cardiogénico
insuficiência cardíaca – como por Keywords: Acute heart failure, point-of-care ultrasound, POCUS, prehospital, cardiogenic shock
exemplo a dispneia – são inespecíficos e tornam-na num
Indice
27
•
Falência Ventricular Direita
desafio diagnóstico, especialmente
para a recuperação, decisão ou
em cenários sem meios
transplantação;
Isolada, com disfunção do
Alteração da classificação da
ventrículo direito (VD) e/ou
IC Aguda.2
hipertensão capilar pulmonar;
complementares de diagnóstico
•
como o pré-hospitalar.5
está associada habitualmente a
Ainda que a bordagem da IC aguda no pré-hospitalar seja considerada de
CLASSIFICAÇÃO
aumento da pressão venosa
extrema importância, a falta de
E BREVE ABORDAGEM
central e hipoperfusão periférica
evidência científica sólida nesta
As novas Guidelines organizaram a
de instalação rápida ou gradual,
temática é uma constante, e prende-
classificação da IC Aguda segundo as
com baixo débito cardíaco (DC) e
se com as sucessivas alterações à
suas principais apresentações clínicas:2
PAS reduzida, correspondendo a
definição da patologia, às suas
•
Descompensação aguda da IC:
um perfil seco e frio ou húmido e
múltiplas e diferentes apresentações
caracterizada principalmente
frio. O tratamento compreende a
e à grande variabilidade dos sistemas
pela sobrecarga hídrica por
utilização de diurético nos
de emergência pré-hospitalar entre
retenção hidro-salina gradual ao
doentes congestivos e a
os diferentes países.4, 6
longo de dias e pelo aumento
utilização de inotrópicos/
das pressões de enchimento do
vasopressores conforme a
GUIDELINES 2021: DESTAQUES
ventrículo28 esquerdo (VE), pode
existência de hipoperfusão
Nas últimas guidelines da Sociedade
apresentar-se como um perfil
periférica/hipotensão; também o
Europeia de Cardiologia (ESC) para o
hemodinâmico quente e húmido
suporte circulatório mecânico e
diagnóstico e tratamento da IC,
ou frio e seco, respetivamente
a TSR podem ter indicação no
lançadas em 2021, e
com pressões arteriais
doente refratário
comparativamente à anterior versão
sistólicas (PAS) normais ou
de 2016, várias foram as mudanças
reduzidas. O tratamento passa
caracterizado por uma disfunção
relevantes no que concerne à
pela utilização de diuréticos,
cardíaca severa com
abordagem da ICA, nomeadamente:
inotrópicos/vasopressores em
hipoperfusão sistémica de
•
Incremento na força da evidência
caso de hipoperfusão periférica/
instalação gradual ou rápida, com
(de IIb para IIa) da utilização de
hipotensão e eventualmente
aumento das pressões de
diuréticos tiazídicos em
suporte circulatório mecânico
enchimento do VE, baixo DC e
combinação com diuréticos de
ou terapêutica de substituição
baixa PAS. O perfil hemodinâmico
ansa, em doentes com edema
renal (TSR).
é principalmente o húmido e frio e
Edema Agudo do Pulmão,
o seu principal tratamento
diuréticos de ansa isolados;
caracterizado maioritariamente
implica o uso de inotrópicos e
Redução na força da evidência (de
por acúmulos de fluídos no
vasopressores, com eventual
IIa para IIb) na utilização de
leito pulmonar com aumento
necessidade de suporte
vasodilatadores como terapêutica
da pós-carga do VE e respetiva
circulatório mecânico ou TSR.
inicial para melhoria de sintomas
disfunção diastólica,
e redução da congestão;
apresenta-se normalmente
periférica (com sinais como
O uso rotineiro de opióides
como um perfil quente e
oligúria, extremidades frias,
passou a estar não recomendado,
húmido que se desenvolve
alteração do estado de
com a exceção de doentes com
rapidamente em horas, com
consciência, lactato > 2 mmol/L,
dor ou ansiedade severa;
PAS normais ou elevadas. O
acidose metabólica, SvO2 <65%)
Incremento na força da evidência
tratamento passa
nem sempre se faz acompanhar
(IIb para IIa) na utilização de
essencialmente por diuréticos
de hipotensão arterial. Por outro
suporte circulatório mecânico no
e vasodilatadores.
lado, a utilização de agentes
resistente ou refratário aos •
•
•
choque cardiogénico com ponte
28
Indice
•
•
•
Choque Cardiogénico,
De ressalvar que a hipoperfusão
inotrópicos pode agravar essa
HOT TOPIC
hipotensão, pelo que, no doente
estabelecidos, medicação,
cardíacas e não cardíacas como
hipotenso, estes devem ser
oxigenoterapia e ventilação não-
por exemplo as arritmias
usados em combinação com
invasiva (VNI) representaram uma
auriculares ou ventriculares, o
agentes vasopressores,
presença constante na maioria das
AVC isquémico ou a disfunção
preferencialmente a
regiões, enquanto que a utilização de
renal. Assim, estes têm
noradrenalina.
Ecografia Point-Of-Care (POCUS) e as
principalmente um alto valor
análises point-of-care eram pouco
preditivo negativo.1, 2
1, 2, 4, 6
•
Um ensaio clínico randomizado
A INSUFICIÊNCIA CARDIACA
utlizadas ou mesmo disponíveis.
NO PRÉ-HOSPITALAR
Um estudo realizado na Finlândia,
realizado na Dinamarca,
DIAGNÓSTICO NO PRÉ-HOSPITALAR
comparando os doentes com IC Aguda
examinou a utilização do
Os Serviços de Emergência Médica
que chegavam ao hospital
NT-proBNP POC na marcha
são extremamente variáveis na
acompanhados de profissionais de
diagnóstica do médico pré-
Europa, com um espectro desde
emergência pré-hospitalar (EPH) com
hospitalar, em doentes com
sistemas que providenciam apenas
os que chegavam não acompanhados,
dispneia severa e suspeita de
suporte básico de vida, a sistemas
não conseguiu demonstrar diferenças
ICA. Na análise dos resultados,
com presença de pessoal médico a
estatisticamente significativas em
não houve evidência de melhoria
bordo com capacidade de suporte
termos de sinais vitais à chegada, de
no encaminhamento direto para a
avançado de vida, como o português;
tempo de permanência no serviço de
cardiologia, no tratamento ou nos
daí a dificuldade em implementar
urgência (SU) ou de mortalidade
outcomes. Contudo, o estudo
linhas de orientação para o pré-
hospitalar. Contudo, analisando a
teve limitações como a falta de
-hospitalar de forma homogénea e
população acompanhada pelos
experiência no uso da tecnologia.
realizar estudos internacionais
profissionais da EPH, estes doentes
Aguardam-se replicações do
multicêntricos. Ainda assim, está
tinham mais comorbilidades e estavam
mesmo ensaio para corroborar ou
mais que estabelecido que as vítimas
mais instáveis à apresentação, pelo
contrariar esta evidência.8
de dor torácica ou dispneia aguda de
que estes dados são indicativos de que
possível causa cardíaca são melhor
a EPH poderá ter sido benéfica na
A ecografia pulmonar foi
abordadas com recurso a um sistema
estabilização dos doentes.
proposta como um novo standard
7
médico a bordo.
Um grupo de investigadores de
O FUTURO DO DIAGNÓSTICO
pulmonar em doentes com IC
NO PRÉ-HOSPITALAR
Aguda, até porque foi
diferentes nacionalidades, publicou em 2019 um estudo exploratório
Ecografia POC (POCUS)
para o diagnóstico de congestão
de emergência com profissional 4
•
demonstrado que a visualização Análises Point-Of-Care (POC)
ou não de um padrão B, se
multinacional (18 países) para avaliar
Da mesma forma que existem
correlaciona com elevado grau de
a acuidade diagnóstica da IC Aguda
meios de EPH equipados com
certeza respetivamente com a
no pré-hospitalar. A conclusão foi de
dispositivos de leitura de gases
presença ou ausência de água
que os profissionais médicos de
sanguíneos, é também uma
extravascular pulmonar.9-11
emergência pré-hospitalar treinados
realidade a medição de péptidos
(Figura 1)
identificavam mais facilmente esta
natriuréticos nesses mesmos
A combinação desta com o exame
entidade nosológica do que os
meios. Sabe-se que
ecográfico do coração e da veia cava
profissionais paramédicos, sendo a
concentrações normais de
inferior (VCI) é ainda mais informativa
mesma mais fácil de diagnosticar do
péptidos natriuréticos tornam o
na abordagem inicial da ICA, até porque
que o tromboembolismo pulmonar e
diagnóstico de IC Aguda pouco
esta permite – além de suportar o
mais difícil do que o síndrome
provável; já os valores elevados
diagnóstico – fazer uma monitorização
coronário agudo (SCA). A utilização
podem estar associados a um
da resposta inicial à terapêutica e
de protocolos de abordagem
grande espectro de patologias
inclusive da resposta hemodinâmica à
5
•
Indice
29
• Tratamento farmacológico na ICA em contexto pré-hospitalar A abordagem farmacológica da ICA na EPH deve seguir as mesmas orientações para o tratamento hospitalar, guiado pelo tipo de apresentação clínica – como já abordado anteriormente – desde que não atrase o transporte para a instituição de saúde adequada. De notar que a utilização recomendada de furosemida é na dose de 40mg endovenosa nos doentes que não estão habitualmente medicados com diurético e de uma dose endovenosa
Figura 1 – Ecografia pulmonar com linhas B num doente com ICA
pelo menos equivalente à dose oral
30
terapêutica inotrópica.
TRATAMENTO NO PRÉ-HOSPITALAR:
diária nos já medicados com este
Mas mais importante ainda do que a
A diferentes apresentações da IC
fármaco. A utilização de
perspetiva do profissional que
Aguda são bastante heterogéneas e a
vasodilatadores sublinguais ou
diagnostica e trata a ICA, é a evidência
sua correta identificação fenotípica é
endovenosos deve ficar reservada para
de que a utilização da ecografia
essencial para a instituição da
aqueles que tenham uma PAS ≥ 110
pulmonar na EPH permite rapidamente
terapêutica adequada.
mmHg. Os betabloqueadores mantêm-
diagnosticar, além de tratar e oxigenar
Invariavelmente, a abordagem da IC
se como primeira linha no controle da
mais adequadamente os doentes com
Aguda deve iniciar-se com a pesquisa
frequência cardíaca nos doentes com
dispneia de etiologia cardíaca ou não
da causa da descompensação como o
fibrilhação auricular rápida e ICA.6
cardíaca – principalmente evitando
Síndrome Coronário Agudo, a
Atualmente as recomendações são
medicação inadequada nos doentes
emergência hipertensiva, as taqui- ou
mais a favor de evitar o uso de opióides
com doença pulmonar crónica e a
bradi-disritmias, o tromboembolismo
– como por exemplo a morfina – uma
duração da estadia no SU. Embora não
pulmonar agudo, entre outros, que têm
vez que esta foi associada a maiores
tenha ainda sido possível provar a sua
os seus protocolos e algoritmos
taxas de intubação orotraqueal,
influência direta na mortalidade dos
específicos de abordagem.
admissão em cuidados intensivos e
doentes, sabe-se que os doentes
Então, qual o papel da EPH na fase
mortalidade.1, 2, 6, 19
submetidos e ecografia pulmonar
inicial do tratamento da ICA (Tabela 2)?
3, 12
1, 6
1
Se por um lado a abordagem da ICA no
pré-hospitalar chegaram ao hospital
• Ventilação Não-Invasiva (VNI)
com menores índices de hipercapnia,
pré-hospitalar não deve atrasar a
parâmetro que por sua vez está
transferência para a unidade hospitalar
A utilização da VNI na ICA pré-
associado com um aumento da
adequada para o tratamento –
-hospitalar foi eficaz na redução da
mortalidade hospitalar aos 7 dias nos
correndo o risco de aumentar a
intubação orotraqueal, na rápida
doentes com ICA.
mortalidade,
Por fim, é importante referir que embora
se sabe que a instituição precoce de
a POCUS pré-hospitalar tenha muitas
terapêutica medicamentosa
vantagens (Tabela 1), esta não deve
VNI têm importância no prognóstico
SCA (e foi considerada segura nos
atrasar o transporte do doente instável
destes doentes.
doentes com enfarte). Até à data, não
11
13
para o serviço hospitalar adequado.
4, 11
30
Indice
14
por outro lado também 15-17
18
e de
redução do stress respiratório e na redução da mortalidade em doentes de alto risco, nomeadamente nos
houve diferenças estatisticamente
HOT TOPIC
Tabela 1 – Vantagens da ecografia point-of-care na EPH; DPOC: doença pulmonar obstrutiva crónica; VCI: Veia Cava Inferior; VPP: Valor Preditivo Positivo; VPN: Valor Preditivo Negativo; SU: Serviço de Urgência
Tabela 2 – Recomendações atitudes na abordagem da ICA na EPH; PNI: pressão não-invasiva; SpO2: saturação periférica de oxigénio; ECG: eletrocardiografia; CPAP: continuous positive airway pressure6
significativas entre os modos bi-nível
nomeadamente:
Habitualmente os doentes estão
ou de pressão contínua (CPAP). Uma
- fluid challenge (Cloreto de sódio ou
instáveis e com alteração do estado
vez que o CPAP não requer treino
Lactato Ringer >200 mL em 15-30
de consciência, pelo que a VNI apenas
muito especializado nem
min.) desde que não haja sinais de
poderá ser utilizada em doentes muito
equipamento muito caro, é o mais
sobrecarga hídrica;
selecionados, com boa resposta
recomendado no cenário pré-
- dobutamina pode ser usada para
inicial; caso contrário, deverão ser
-hospitalar. Contudo, em settings
aumentar o débito cardíaco;
submetidos a ventilação invasiva.20
bem equipados e com equipas
levosimendan em doentes já sob
experientes, o modo bi-nível é
betabloqueador;
CONCLUSÃO
preferível, especialmente em doentes
- vasopressores apenas com
A ICA é uma síndrome complexa e
com hipercapnia.
necessidade extrema de manter PAS
difícil de diagnosticar, principalmente
na presença de hipoperfusão
quando nos baseamos apenas na
persistente (noradrenalina será o
história clínica e exame objetivo. A
fármaco mais adequado);
POCUS e os péptidos natriuréticos
Choque cardiogénico, como já
- rápida transferência para um local
POC mostraram-se como promissores
definido previamente, é caracterizado
com unidade de cuidados intensivos
auxílios ao diagnóstico e correta
pela presença de sinais de
cardíacos e/ou com capacidade de
identificação dos doentes com esta
hipoperfusão sistémica e doentes
suporte mecânico cardiovascular.
síndrome, permitindo em última
habitualmente instáveis.
Para permitir o início desta
análise, melhor medicá-los, tratá-los e
Nesse contexto, as equipas
abordagem no pré-hospitalar é lógico
encaminhá-los adequadamente.
extremamente especializadas, com
que apenas um profissional médico
Ambas têm vantagens e
médicos treinados na abordagem do
com larga experiência em
desvantagens. Se por um lado a
doente crítico, podem oferecer um
ecocardiografia poderá selecionar a
POCUS têm uma curva de
tratamento inicial de qualidade,
terapêutica mais adequada.
aprendizagem relativamente rápida e
2, 6, 20
• Tratamento do choque cardiogénico
6
Indice
31
32
com informações extremamente
contudo a sua especificidade é baixa.
são todas mais valias na abordagem
relevantes e fidedignas para o
Relativamente ao tratamento, a mais
do doente com ICA neste contexto,
diagnóstico e tratamento da ICA, por
recente definição dos perfis de
desde que não atrasem o socorro e o
outro lado é ainda necessário
apresentação da ICA permite uma
adequado encaminhamento para a
capacitar o pessoal médico da EPH e
abordagem mais personalizada às
instituição de saúde indicada.
é controversa a sua utilização por
necessidades de cada doente, e esse
Espera-se que no futuro se realizem
paramédicos, além de ter o potencial
tratamento pode logo ser iniciado no
mais estudos randomizados
de atrasar o socorro. Já o NT-Pro-BNP
pré-hospitalar (principalmente se
multicêntricos e multinacionais, para
POC pode ser utilizado por
apoiado por POCUS).
que se possam emitir recomendações
praticamente qualquer profissional do
A presença na EPH de profissionais
de qualidade e com alto grau de
pré-hospitalar, sendo de rápida
médicos, fármacos específicos, VNI e,
evidência nesta temática
execução e sem atrasar o socorro,
idealmente, ecógrafo e análises POC,
32
Indice
HOT TOPIC
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COMISSÃO CIENTÍFICA
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RUBRICA PEDIÁTRICA
RUBRICA PEDIÁTRICA
QUANDO A EMERGÊNCIA VEM DE DENTRO…. UM OLHAR SOBRE O MUNDO INTERNO DOS JOVENS E SUA RELAÇÃO COM A VIOLÊNCIA! WHEN THE EMERGENCY COMES FROM WITHIN… A LOOK AT THE INNER WORLD OF YOUNG PEOPLE AND THEIR RELATIONSHIP WITH VIOLENCE! Tânia Paias1,2 Psicóloga clínica 2Coordenadora PortalBullying – centro de ajuda online
1
RESUMO
“Um dos fatores mais importantes
século XX, associada ao conceito de
O período da adolescência é marcado
para o desenvolvimento psíquico das
crise. A partir da década de 80 é que
por grandes transformações internas
crianças e dos adolescentes reside na
este conceito começou a ser posto em
e externas, obrigando o adolescente a
capacidade de os adultos saberem ler
causa, por sugerir quase que uma
gerir os seus impulsos mais básicos.
as suas emoções.”
inevitabilidade no que concerne ao
Quando o ambiente em que vive não
Pedro Strecht
desenvolvimento de patologia,
lhe permite a livre expressão e
assumindo que o desviante seria a
reorganização para condutas mais
norma.⁴ Daniel Sampaio³ é perentório
adaptativas, a internalização da
INTRODUÇÃO
em expressar que é a dificuldade que
violência pode conduzir a
Como conceito de adolescência
o adulto sente na gestão e
comportamentos disruptivos
concebemos o período que medeia a
reorganização desta fase, que leva a
e destrutivos.
transição da infância para a vida
que seja sentida como uma crise; “Não
adulta, caracterizando-se por uma fase
há crise da adolescência, há sim uma
de grandes transformações ao nível do
crise do adulto de meia-idade (pais,
desenvolvimento físico, mental,
professores), que tem dificuldade em
emocional, sexual e social. São
acompanhar, tolerar e negociar com os
momentos de profunda reflexão
jovens as tarefas da adolescência.”
acerca de si, do outro, do mundo que o
É evidente que é um período de rutura,
rodeia, pretendendo, em última
de alterações, mas não tem que
instância, sedimentar a sua
necessariamente existir manifestação
personalidade, a integração no grupo
psicopatológica, verificando-se que as
de pares e o enquadramento, o melhor
dificuldades sentidas são transitórias¹.
Palavras-Chave: Adolescência; sofrimento interno; impulso agressivo; maturidade emocional; agressividade construtiva
ABSTRACT Adolescence is a period of life characterized by many changes, both physical and psychological, that oblige the adolescents to deal with their own internal impulses. When the environment doesn´t allow them to express and reorganize their feelings into adaptive behaviours, the internalisation of violent feelings can result in a disruptive and destructive conduct. Keywords: Adolescence; internal suffering; aggressive impulse; emotional maturity; Adaptive aggression
possível, dentro da sociedade em que vive.¹ A Organização Mundial da Saúde
Violências…
(OMS) define este período entre os 10
Apesar da adolescência ser uma fase
e 19 anos.²
e sugerir um processo de transição,
Dada a abrangência do conceito de
nem sempre assim o acontece, e
adolescência, bem como a diferença
quando se estende no tempo o jovem
nos comportamentos e estilos de
lida com dificuldades acrescidas,
vida³, esta foi, durante grande parte do
podendo-se gerar graves conflitos
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36
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RUBRICA PEDIÁTRICA
internos que, se exaltados pelo
que aumentam a probabilidade de o
Ora, o período pandémico gerou
ambiente externo, podem conduzir a
impulso agressivo emergir. Então,
ainda mais dúvidas e incertezas, se
uma deficiente utilização dos seus
torna-se fundamental compreender
já eram próprias da adolescência,
recursos internos.
que premissas estão na base daquele
aqui conheceram o seu expoente
Estes conflitos internos aumentam a
comportamento, para que este não se
máximo, e fez com que perdessem a
agressividade, a insegurança e a
cristalize e conduza a alterações na
perspetiva de futuro, o que é de uma
dúvida. O impulso agressivo, presente
conduta. Uma política de prevenção
agressividade extrema, potenciando
na condição humana, emerge com
primária, de conhecimento da
os sintomas de ansiedade e
maior força e a sua gestão dependerá,
realidade interna do jovem, de livre
depressão, expressos em
sempre, da maturidade emocional.5
exploração dos seus impulsos mais
dificuldades em dormir, pensar e
As crises de raiva a que assistimos
básicos, torna-se necessário, pois não
gerir a frustração10. Muitos destes
são, na maioria das vezes,
são os impulsos básicos em si o
sintomas ganharam expressão,
despoletadas por acontecimentos
problema, mas sim o comportamento
parecendo-se mais com problemas
externos, mas obedecem a
destrutivo que daí emerge8.
disruptivos e dificuldades em
necessidades emocionais internas. A
Nos últimos anos, e com as
cumprir regras, mas na realidade são
raiva e a ira são emoções muito
profundas alterações a que a
a manifestação clara das suas
intensas e poderosas e rapidamente
sociedade esteve sujeita em virtude
ansiedades e processos depressivos.
fazem com que o adolescente perca a
da situação pandémica, os jovens
A socialização digital também
racionalidade sobre o que se passa.
sofreram profundas alterações às
promoveu riscos adicionais; para
O ambiente por onde circulamos pode
suas dinâmicas relacionais
além de aumentar o risco de
inibir ou promover certas condutas, e
(afastamento dos pares, aumento do
violência, fez disparar o fenómeno
sabemos que a maior parte dos
uso da tecnologia, maior convívio
dos desafios online. Qualquer jovem,
alunos, durante o seu percurso escolar,
com os familiares), o que conduziu ao
numa tentativa de procura do risco,
vão estar expostos à violência6, pelo
aumento de stress, ansiedade,
alinha em desafios, mas estes
que importa, para além de a reprimir,
agressividade, ideação e
adquirem uma perigosidade adicional
permitir que a sua expressão seja
comportamentos suicidas.9
dado o uso online. Como esta fase
reorganizada e canalizada para um fim
Este movimento de sofrimento
denota uma maior permeabilidade e
bem mais adaptativo.
interno necessita ser desmontado
os adolescentes ainda não adquiriram
Na maior parte das vezes reprimi-la é
através da exploração das
a maturidade suficiente para
melhor que expressá-la, mas aqui há
condutas dos jovens, da
selecionar os conteúdos e para
sempre uma dose de incapacidade
ressignificação dos seus desejos e
avaliar os riscos envolvidos em
que pode originar problemas
interesses, do transformar a apatia
algumas práticas, tornaram-se alvos
psicológicos no manejo da
em vontade de querer fazer e,
de maior agressão e exposição.¹¹
agressividade, podendo conduzir à
acima de tudo, do desmontar da
O ambiente por onde o jovem se
depressão e a comportamentos
agressividade autodirigida.
move, seja ele escolar, familiar ou
autolesivos7 pela sua internalização.
Sabemos que a depressão, a ansiedade
demais contextos, influencia a sua
Ensinar a gerir a agressividade, fazer
e problemas comportamentais são as
conduta, podendo ora inibir, ora
perceber a transitorialidade do
maiores causas para a doença e
promover comportamentos. Para
comportamento, encontrar formas de
incapacidade nos adolescentes e que o
além do contexto e das dinâmicas
a reorganizar, conter e canalizar para
suicídio é a quarta causa de morte
grupais, importa também salientar e
um outro fim, parece ser a melhor
entre jovens dos 15 aos 19 anos², mas
promover as dinâmicas individuais
solução para lidar com a raiva¹.
nos últimos anos os comportamentos
como agentes de mudança. Para que
A baixa auto-estima, a insegurança, o
autolesivos tem vindo a aumentar,
tal seja possível importa compreender
medo, a baixa performance na escola,
tendo sido considerados como um
que necessitamos de orientar os seus
a pressão dos pares, são situações
problema de saúde pública.8
esquemas cognitivos, para que se
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38
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RUBRICA PEDIÁTRICA
ajustem as competências em função da situação. Por exemplo, no que à
conducts. •
Self-harming is the maximal
agressividade diz respeito, sabemos
expression of the internalized
que um jovem com reduzida
aggressiveness, and is a clear
propensão agressiva terá o caminho
indication that the adolescent
bastante mais facilitado já que não
does not have internal
terá que se esforçar tanto para
competences to canalize it to
“domar” os seus impulsos; mas pode,
outside himself.
pelo contrário, ficar sujeitos a maus-
•
The main question is not whether
tratos por não ter a agressividade
there is aggressiveness, but if the
necessária para se defender ou se
adolescent has the ability to
impor perante os seus pares. Importa
process it...
então compreender que a agressividade saudável, construtiva,
BIBLIOGRAFIA
aquela que nos faz agir em nossa
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própria defesa, aquela que impede que sejamos diminuídos, que faz com que digamos NÃO quando não nos sentimos confortáveis, que promove a nossa afirmação e confiança, deve ser
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COMISSÃO CIENTÍFICA
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CASO CLÍNICO ADULTO
CASO CLÍNICO ADULTO
DISSECÇÃO CORONÁRIA ESPONTÂNEA: UMA CAUSA RARA DE ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO Patrícia Varela Ramos1, Paulo Rita2, Mário Martins Oliveira3, Lígia de Sousa4 Interna de Formação Específica em Medicina Intensiva, VMER Vila Franca de Xira; Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia, VMER Vila Franca de Xira; 3 Assistente Hospitalar Graduado Sénior de Cardiologia no Serviço de Cardiologia do Hospital de Santa Marta - Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central; 4 Assistente Hospitalar Graduada de Cardiologia no Serviço de Cardiologia do Hospital de Santa Marta - Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central 1 2
RESUMO
intervenção terapêutica adequada,
treated, the EPH playing a leading
Objetivos: Os autores visam enfatizar
obter um prognóstico excelente.
role. CA is the gold standard for the
a importância da atuação da equipa diferenciada de Emergência Pré-
Palavras-Chave: Pré-Hospitalar; enfarte agudo do miocárdio; dissecção coronária espontânea; puerpério;
-Hospitalar (EPH) na abordagem do
diagnosis of SCD, allowing, with timely identification and appropriate therapeutic intervention, an excellent
enfarte agudo do miocárdio (EAM),
ABSTRACT
descrevendo um caso raro de
Introduction: The authors aim to
dissecção coronária espontânea
emphasize the importance of the role
(DCE) em mulher jovem, o seu
of the differentiated Pre-Hospital
tratamento e prognóstico.
Emergency team (EPH) in the
INTRODUÇÃO
Caso clínico: Trata-se duma puérpera
management of acute myocardial
A dissecção coronária espontânea
saudável com EAM com supra
infarction (AMI), describing a rare
(DCE) é uma entidade rara e
desnivelamento do segmento ST
case of spontaneous coronary
subdiagnosticada de síndrome
(EAMcST), avaliada pela Viatura
dissection (SCD) in a young woman,
coronária aguda (SCA)1, 2, 3.
Médica de Emergência e Reanimação
its treatment and prognosis.
Corresponde a 4% das SCA na mulher
(VMER), e submetida a angiografia
Case presentation: We present the
jovem1, 2, 3, sendo, contudo, a causa
coronária (AC) emergente, que
clinical case of a young woman, with
mais comum de EAM (15-20%)
revelou dissecção espontânea da
no pathological background,
quando associada aos períodos de
coronária anterior. Foi realizada
puerperal, diagnosed with ST-
gravidez e pós-parto2, 3, 4, 5. A idade
angioplastia primária dessa lesão
segment elevation AMI (STEMI) by
média da sua apresentação é 33
com colocação de um stent revestido,
the Emergency and Resuscitation
anos 6, 7. Traduz-se num vasto leque
com sucesso.
Medical Vehicle (VMER), who
de manifestações clínicas, incluindo
Conclusões: A DCE pode manifestar-
underwent emergent coronary
arritmias malignas, choque
se como EAMcST, que constitui uma
angiography (CA), which revealed
cardiogénico ou morte súbita, sendo
emergência médica com elevada
anterior coronary artery dissection.
a mais frequente (20-50%) o EAM
morbimortalidade, caso não seja
Primary angioplasty of this lesion
com elevação do segmento ST
atempada e adequadamente tratado,
was performed with successful
(EAMcST)4. Quando não identificada
assumindo neste contexto a atuação
placement of a covered stent.
e tratada precocemente, apresenta
da EPH um papel preponderante. A
Conclusion: SCD can manifest itself
uma elevada taxa de mortalidade
AC constitui o gold standard para o
as STEMI, which is a medical
(38-50%)1, 5, 6, 8. A angiografia
diagnóstico de DCE, permitindo, com
emergency with high morbidity and
coronária (AC) constitui o gold
a identificação atempada e
mortality, if not timely and adequately
standard para o seu diagnóstico1, 4, 9.
prognosis. Keywords: Emergency team; acute myocardial infarction; spontaneous coronary dissection; puerperium
Indice
41
A equipa diferenciada de Emergência Pré-Hospitalar (EPH) assume
A
particular importância neste contexto, tendo a sua ativação um impacto significativo na redução dos tempos de isquémia miocárdica, associando-se a taxas de reperfusão eficaz mais elevadas e traduzindo-se na redução da mortalidade intrahospitalar11. “Tempo é miocárdio”.
B
MATERIAL E MÉTODOS Análise dos dados disponíveis no ITEAMS (INEM TOOL for EMERGENCY ALERT MEDICAL SYSTEM) e processo clínico eletrónico hospitalar. CASO CLÍNICO
42 Figura 1 – Eletrocardiograma inicial com discretas alterações nas derivações V1-V4 (A). Eletrocardiograma após 5 minutos, mostrando marcada elevação do segmento ST nas derivações V1 a V4 (B).
Mulher de 33 anos, primípara, no 5º
endovenosa). Após estabilização
parede anterior. Analiticamente, valor
dia de puerpério, com parto eutócico
sem dor, foi transportada para o
máximo de troponina I de 53840 pg/
sem intercorrências e alta hospitalar
Centro de Hemodinâmica (CH) do
mL e NT pro-BNP de 51.9 pg/mL.
ao 3º dia pós-parto. Sem fatores de
Hospital de Santa Marta para
Assumiu-se o diagnóstico de
risco cardiovasculares (FRCV),
realização de AC emergente.
EAMcST por disseção espontânea da
história familiar de patologia cardíaca
A AC mostrou doença arterial de 1
DA, no puerpério, com uma evolução
ou morte súbita conhecidos.
vaso, observando-se estenose de
em Killip I.
Avaliada no domicílio pela VMER por
90% do segmento médio da artéria
Teve alta hospitalar medicada com
quadro de dor precordial súbita,
descendente anterior (DA), com
dupla antiagregação plaquetária,
opressiva, com irradiação ao dorso,
imagem compatível com dissecção
atorvastatina, lisinopril, pantoprazol e
de intensidade severa, com início em
espontânea (figura 2). Foi realizada
bromocriptina (para supressão
repouso, acompanhada por náuseas,
angioplastia primária dessa lesão
farmacológica da lactação).
com 30 minutos de evolução. Foi
com colocação de um stent revestido
Ao 8º dia pós-alta hospitalar, recorreu
realizado eletrocardiograma (ECG):
direto (3x38 mm), com sucesso e
à urgência por dor torácica e
ritmo sinusal, com discreta elevação
sem lesão residual. Além desta lesão
palpitações, sem alterações
do segmento ST nas derivações V1 a
culprit, evidenciava-se, ainda, a
electrocardiográficas face aos
V4, mais marcada decorridos 5
presença de dissecção da artéria
registos prévios; nova subida da
minutos (figura 1). Constatada
coronária direita (CD) (figura 3) que,
troponina I (4850 ng/mL). Apesar da
estabilidade hemodinâmica, sem
não sendo responsável pelo EAMcST
melhoria da dor, realizou angioTAC
sinais de insuficiência cardíaca.
e, considerando um fluxo coronário
(tomografia axial computorizada) das
Perante a presença de dor torácica
TIMI 3, optou-se por uma atitude
coronárias: patência do stent
típica associada a elevação do
conservadora. No ecocardiograma
previamente colocado, sem
segmento ST, foi assumido o
transtorácico (ETT), a fração de
estenoses ou imagens de disseção.
diagnóstico de EAMcST e
ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE)
Contudo, a DA distal apresentava
administrada dose de carga de
estava ligeiramente diminuída
pequeno calibre, podendo traduzir a
ticagrelor (180 mg oral), nitroglicerina
(45-50%), observando-se acinésia
presença de hematoma intramural.
(0.5 mg sublingual) e morfina (2 mg
apical do septo inferior e anterior, e
ETT: VE não dilatado, FEVE 65%,
42
Indice
CASO CLÍNICO ADULTO
alterações segmentares da parede anterior prévias. Manteve terapêutica já instituída e estabilidade hemodinâmica. A reavaliação por angioTAC (2º mês), mostrou permeabilidade do stent da DA, sem estenoses, alterações do calibre ou dissecções. DISCUSSÃO Apesar da não totalmente esclarecida a etiologia da DCE nos períodos de gravidez e pós-parto, sabe-se que as alterações hormonais, fisiológicas e hemodinâmicas típicas da gravidez contribuem para a maior propensão das artérias a este tipo de lesão, ao invés dos típicos FRCV3, 4, 9, 10, 12, decorrendo a disseção da formação dum hematoma intramural vascular, na ausência de doença coronária aterosclerótica13. Estas mulheres têm uma Figura 2 – Dissecção da artéria descendente anterior média na angiografia coronária.
apresentação clínica mais severa associada ao EAM, com picos de troponina mais elevados e uma FEVE mais reduzida, ocorrendo mais frequentemente no primeiro mês pós-parto2, 6, 7, 9, 12. A taxa de recorrência é de 45%4, sendo imperativa uma vigilância apertada, permitindo a rápida identificação de futuras complicações. O objetivo do tratamento é estabilizar a vítima do ponto de vista hemodinâmico e ganhar tempo, com o rápido encaminhamento para CH de intervenção para angioplastia coronária primária14. Segundo a literatura, há que ponderar o risco/ benefício associado aos fármacos comumente usados no SCA associado a rotura de placa aterosclerótica, como os
Figura 3 – Dissecção da artéria coronária direita (com fluxo TIMI III) na angiografia coronária.
antitrombóticos. Assumida DCE, existem autores que desencorajam a
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Indice
CASO CLÍNICO ADULTO
sua administração pelo seu potencial
AGRADECIMENTOS
Kirkpatrick IDC, Jassal DS. Spontaneous dissection
de propagação da dissecção4, 6, 7, 12, 15,
Bombeiros Pedro Botas Cardoso e
of the coronary and vertebral arteries post-partum:
questionando-se a vantagem da sua
Nádia Silva (Bombeiros Voluntários
case report and review of the literature. BMC
administração no PH quando a
da Azambuja) pelo seu contributo na
suspeição de DCE é elevada e na
abordagem e trabalho de equipa
ausência de um diagnóstico
realizado; Dr.ª Ana Palricas, Dr. Bruno
definitivo. Neste caso, a
Ferreira e Enf. Marco Gaspar pelo
administração da dose de carga do
contributo para a realização deste
ticagrelor não se associou a
manuscrito
complicações do procedimento.
Pregnancy and Childbirth. 2012; 12:122. 11.
Silveira I, Sousa MJ, Rodrigues P, Brochado B, Santos RB, Trêpa M, Luz A, Silveira J, Albuquerque A, Carvalho H, Torres S. Evolução e impacto do transporte pré-hospitalar em doentes com enfarte agudo do miocárdio com elevação do segmento ST. Rev Port Cardiol. 2017; 36 (11):847-855.
12.
Agrawal N, Khunger A, Dalal K, Zahid U, Petrie T.
Contudo, sob dupla antiagregação
BIBLIOGRAFIA
Spontaneous Coronary Artery Dissection in a
plaquetária, obrigatória após
1.
Vicente MBA, Domingos LML, Dopico RR, Peralta
Postpartum Female: Case Report and Simplified
colocação de stent, ocorreu novo
TCM, Pereira GR, Ricardo JRB. Dissecção coronária
Algorithm for its Diagnosis and Management.
evento de urgência devido a provável
espontânea e Infarto Agudo do Miocárdio no
hematoma intramural em localização
puerpério: um verdadeiro desafio para o
vascular distal ao stent. Aspeto
cardiologista de intervenção. Brazilian Journal of
Engoren C, Economy KE, Ganesh SK, Gulati R,
imagiológico compatível com fase da
Case Reports. 2021; 01(3): 95-102.
Lindsay ME, Mieres JH, Naderi S, Shah S, Thaler DE,
Binhomaid MA, Alhusain F, Al Deeb M. Spontaneous
Tweet MS, Wood MJ. Spontaneous Coronary Artery
Coronary Artery Dissection with Sudden Cardiac
Dissection: Current State of The Science: A
Arrest in a Female Patient During her Postpartum
Scientific Statement From the American Heart
Period: A Case Report and Review. Am J Case Rep.
Association. Circulation. 2018; 137 (19):e523-e557.
fisiopatologia que antecede a
2.
disseção, tendo, no presente caso clínico, uma evolução clínica e angiográfica favorável, evidenciada na angioTAC ao 2º mês de evolução.
2021; 22:e930380. 3.
Cureus. 2019; 11(4): e4387. 13.
14.
Hayes SN, Kim ESH, Saw J, Adlam D, Arslanian-
Dönmez AA, Taş S, Altas Ö, Kocamaz Ö, Köksal C,
Al-Sadawi M, Shaikh S, Makmur JD, Salciccioli L,
Alp HM. Postpartum Spontaneous Coronary Artery
Kariyanna PT, McFarlane IM. Post-partum
Dissection: How to manage? Koşuyolu Heart
CONCLUSÃO
Spontaneous Coronary Artery Dissection: A case
Journal. 2015; 18 (1): 51-53.
A DCE, sendo uma situação rara em
report. Am J Med Case Rep. 2018; 6(10): 218-221.
mulheres jovens, representa um
4.
desafio diagnóstico, sendo imprescindível um elevado índice de
5.
N Engl J Med. 2020; 24: 2358-70.
Dissection in the Postpartum Period. Am J Perinatol
Abreu Silva EO, Furini FR, Mota FM, Correia de Lima
Rep. 2014; 5:e93-e96.
suspeição, mesmo na presença de ligeiras alterações do ECG. A
Cardiol. Invasiva. 2011; 19 (1):90-2. 6.
assumindo a atuação da EPH um papel preponderante neste âmbito.
7.
Truesdell AG, Delgado GA, Li J, Abbott JD, Atalay MK, Singh AK. Challenges in the management of postpartum spontaneous coronary artery
emergente para confirmação do seu
NOÉLIA ALFONSO Médica VMER
dissection. Interv. Cardiol. 2012; 4(3), 371-386. 8.
Elshatanoufy S, Kozlowski J, Dubey E, Sakr S, Gonik
restabelecer o fluxo coronário e
B. Subsequent Pregnancy in a Patient with
manter a estabilidade hemodinâmica.
Spontaneous Coronary Artery Dissection. J Clin
Este caso mostra a importância da
Gynecol Obstet. 2015; 4(1):177-178.
rápida identificação de fatores de
EDITOR
Dissection. Circulation. 2014; 130:1915-1920.
Está indicada a realização de AC diagnóstico, sendo crucial
Vijayaraghavan R, Verma S, Gupta N, Saw J. Pregnancy-Related Spontaneous Coronary Artery
boa evolução prognóstica,
Moussa HN, Movahedian M, Leon MG, Sibai BM. Acute Myocardial Infarction Due to Coronary Artery
V. Dissecção Coronária Espontânea. Rev. Bras.
reperfusão precoce associa-se a uma
15.
Kim ESH. Spontaneous Coronary-Artery Dissection.
9.
Tweet MS, Hayes SN, Codsi E, Gulati R, Rose CH,
risco para a ocorrência de DCE e o
Best PJM. Spontaneous Coronary Artery Dissection
seu célere encaminhamento e
Associated with Pregnancy. JACC. Vol. 70, nº 4,
tratamento adequado.
2017; 426-35. 10.
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
Cenkowski M, daSilva M, Bordun K, Hussain F,
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ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP
ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP
DA SALA DE PARTOS ATÉ POSSIBILIDADE DE ECMO: UMA MALFORMAÇÃO RARA NUM RECÉM-NASCIDO SEM DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL Ruth Lagies1, Marta Amado1 1
Serviço de Pediatria do Centro HospitalarUniversitário de Algarve (CHUA)- Unidade de Portimão
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
As malformações congénitas, embora
Genetic malformations remain an
A hérnia diafragmática é uma
raras, continuam a ser um desafio
interdisciplinary challenge for care
malformação congénita do diafragma,
diagnóstico e terapêutico para os
givers to new -borns. Even though
com passagem de conteúdo
profissionais de saúde que trabalham
pre-natal diagnostics become more
abdominal para a cavidade torácica,
no bloco de partos. Apesar da
and more available, not all
frequentemente associada a
possibilidade atual de um diagnóstico
malformations are known at birth.
hipoplasia e hipertensão pulmonares
pré-natal na maioria dos casos,nem
One of the more severe
graves. A prevalência em recém-
todas as malformações são
malformations that need immediate
-nascidos (RN) varia de 1 em 2500-
conhecidas ao nascimento. Uma
and specific treatment is
4000 nados vidos, com uma taxa de
malformação grave que necessita de
diaphragmatic hernia. We describe a
mortalidade de 30 a 60%1. Em 85%
um tratamento específico e imediato
case of a newborn after a pregnancy
dos casos a hérnia localiza-se à
no bloco de partos é a hérnia
without occurrences that was born in
esquerda, na posição póstero-lateral
diafragmática. Descrevemos um caso
a secondary level hospital presenting
(hérnia de Bochdalek). Menos
de um recém-nascido, fruto de uma
breathing difficulties and was
frequentes são as hérnias anteriores
gravidez sem intercorrências, que
diagnosed with diaphragmatic hernia.
(hérnias de Morgagni). Podem-se
nasceu num hospital de apoio
Care givers in hospitals providing
associar outras anomalias congénitas,
perinatal, que desenvolveu um quadro
neonatal support to intermediate or
como alterações cromossómicas,
de dificuldade respiratória grave e ao
low risk pregnancies without routine
génito-urinárias (25% dos casos) ou
qual se diagnosticou uma hérnia
nor diagnostic and therapeutic
cardíacas (em 20% dos casos)2.
diafragmática. O nascimento numa
equipment have to rely on qualified
Com o desenvolvimento de exames
unidade não diferenciada coloca
and specialised paediatric inter
de diagnóstico como a ecografia
desafios diagnósticos e terapêuticos
hospital transport available to reduce
morfológica, ressonância magnética
e acentua a importância da
mortality and morbidity of high risk
fetal ou testes genéticos, o
disponibilidade de um transporte
new-borns without prenatal
diagnóstico da hérnia diafragmática
neonatal qualificado no sentido de
diagnostic.
tornou-se um diagnóstico pré-natal
atenuar o impacto na
(DPN), documentado pela presença
morbimortalidade destes doentes.
de órgãos abdominais em posição intratorácica, com dois terços dos casos detetados no 2º trimestre de gestação3. A presença de
Palavras-Chave: transporte inter-hospitalar pediátrico; hérnia diafragmática; diagnóstico pré-natal
Keywords: pediatric inter-hospital transport; diaphragmatic hernia; prenatal diagnosis
polihidrâmnios, embora sugestiva,
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ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP
nem sempre está presente. O
CASO CLÍNICO
VAFO e óxido nítrico. Por hipotensão
diagnóstico atempado permite uma
Descrevemos um caso de um RN do
arterial esteve medicado com aminas
referenciação precoce para centros
sexo masculino, adequado à idade
(dopamina e noradrenalina). O defeito
de referência, com discussão
gestacional (peso 3720g), fruto de
do RN foi corrigido por cirurgia. ECMO
multidisciplinar do prognóstico e do
uma gravidez vigiada e sem
não chegou a ser necessário.
parto.4,5
intercorrências, nascido, num
Contudo, existem casos cujo
hospital de apoio perinatal, por
diagnóstico é feito após o
cesariana às 40 semanas de idade
DISCUSSÃO
nascimento, o que pode ter
gestacional (cesariana anterior e
O nosso caso demonstra como a
implicações claras na
diminuição dos movimentos fetais).
abordagem a RN com malformações
morbimortalidade destes RN.6 Ao
Rutura de bolsa amniótica intraparto,
graves desconhecidas ao nascimento
nascimento, muitos apresentam
com referência a abundante liquido
pode ser sub-ótimo. Ao invés de ser
dificuldade respiratória grave. Em
amniótico. Mãe de 27 anos, natural
intubado inicialmente (tal como
caso de ausência de DPN, a
do Nepal, segunda gestação, 0 Rh
indicado nesta situação), o RN foi,
combinação de dificuldade
positivo, serologias negativas, com
durante 20 minutos, ventilado com
respiratória, abdómen escavado,
imunidade à rubéola. Realizou 3
auto-insuflador manual. Nesta altura,
auscultação, nos campos
ecografias e ecocardiograma fetais
o diagnóstico ainda não era
pulmonares, de ruídos hidroaéreos e a
sem registo de alterações.
conhecido. Este tipo de ventilação,
ausência de murmúrio vesicular
Ao nascimento, com choro imediato
nesta patologia em especifico,
devem levar à suspeita de hérnia
mas respiração pouco eficaz, SDR,
conduz ao aumento de ar nas ansas
diafragmática. A radiografia de tórax
gasping. Frequência cardíaca
intestinais que, deslocadas no tórax,
confirma o diagnóstico.
mantida, mas mais audível à direita,
diminuem ainda mais o volume de
O desconhecimento do diagnóstico
palidez, hipotonia e reflexos
pulmão funcinal disponível, agravando
faz com que se apliquem técnicas
diminuídos. Índice de Apgar 4/6/6.
ainda mais a situação clínica. Nem o
habituais de reanimação (como
Iniciadas manobras de reanimação,
óxido nítrico inalado, para o
utilização de ventilação por pressão
com medidas gerais, aspiração de
tratamento da hipertensão pulmonar,
positiva) que podem complicar ainda
secreções e ventilação com pressão
nem a ventilação de alta frequência
mais a situação clinica. Neste caso
positiva com auto-insuflador manual,
(frequentemente necessária devido à
dever-se-á proceder à intubação
que se manteve pelo agravamento
hipoplasia pulmonar) estão
endotraqueal (IET) logo ao
clinico progressivo; aos 20 minutos
disponíveis no nosso hospital. A
nascimento associada a uma
de vida é realizada intubação
terapêutica com aminas e
ventilação adequada (com apoio a
endotraqueal. A radiografia de tórax
procedimentos como a intubação e a
ventilação de alta frequência
confirmou o diagnóstico de hérnia
cateterização da veia umbilical não
oscilatória (VAFO) e eventualmente a
diafragmática esquerda pelo que foi
fazem parte das nossas atividades
óxido nítrico) e tratamento
activado o TIP (transporte inter-
diárias. No entanto, o recém-nascido
medicamentoso especifico. Em casos
hospitalar pediátrico).
foi estabilizado até à chegada do TIP.
extremos está indicada a utilização
Após estabilização na Unidade de
Este caso demonstra como é
de ECMO (extra corporeal membrane
Cuidados Intensivos de Faro foi
importante que as equipas que
oxigenation).2,7
posteriormente transferido, via
cuidam de RN na sala de partos
terrestre, para o hospital de referência
frequentem regularmente cursos de
(Hospital de Santa Maria), a cerca de
formação a fim de serem capazes de
280 quilómetros de distância. O
estabilizar todos os RN que
transporte foi complexo, com
necessitem de cuidados e reconhecer
dificuldades ventilatórias e
os casos raros de malformações para
hemodinâmicas. Foi transportado em
depois os tratar adequadamente. Para
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ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP
além destes pormenores técnicos, a
MENSAGENS A RETER
situação de um RN com deterioração
•
Idealmente o diagnóstico de uma
súbita e imprevista associada a um
hérnia diafragmática deve ser feito
diagnóstico grave que necessita de
no período neonatal no sentido de
transferência interhospitalar é um
reduzir a morbilidade e mortalidade
choque para os pais; processar e lidar
perinatais já inerentes à situação;
com a doença é certamente melhor
•
com uma comunicação e preparação adequadas prévias ao nascimento.
É essencial evitar a ventilação por máscara e balão;
•
Sempre que possível o RN deve
Em situações de emergência há
nascer num centro de referência
pouco tempo disponivel para a
com cuidados intensivos neonatais
comunicação e transmissão
específicos, nomeadamente com
adequada de informação.
possibilidade de utilização de ECMO e cirurgia neonatal; •
Se o diagnóstico for realizado no
CONCLUSÃO
período pós-natal, o RN deve ser
O nosso caso demonstra a
intubado logo apos o nascimento e
importância do correto DPN de
transferido com emergência para
situações complexas para que seja
centro de apoio diferenciado, por
possível o encaminhamento
um transporte qualificado capaz de
antecipado destas situações para
lidar com a situação complexa da
centros com cuidados neonatais e
hipertensão pulmonar
cirúrgicos especializados, com mecanismos de terapêutica
EDITORA BIBLIOGRAFIA
específicos para a situação. O
1.
nascimento de patologias complexas
2.
Diaphragmatic hérnia, congenital, %142340
Diaphragmatic Hernia in Europe: The CDH EURO Consortium Consensus – 2015 Update.
desconhecido, em centros periféricos
Neonatology 2016;110:66–74 3.
para o transporte neonatal para o centro de referência cirúrgico com VAFO e óxido nítrico inalado, uma
Congenital Diaphragmatic Hernia. Seminars in Perinatology 2019 4.
Jancelewicz T, Brindle M, Prediction tools in
EDITOR
congenital diaphragmatic hernia. Seminars in Perinatology (2019) 5.
Lusk LA, Wai M, et al. Fetal ultrasound markers of severity predict resolution of pulmonary hypertension in congenital diaphragmatic hernia.
situação pouco frequente na realidade da região.
LUÍSA GASPAR Médica Pediatria
Cordier AG, Russo FM, Deprest J, Benachi A. Prenatal diagnosis, imaging and prognosis in
terapêuticos é um desafio. Salientamos a importância do TIP
Snoek K, Reiss I, Greenough A et al; Standardized Postnatal Management of Infants with Congenital
e ameaçadoras da vida, com DPN e com limitação de cuidados
OMIM - Online Mendelian Inheritance in Man®,
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NUNO RIBEIRO Enfermeiro VMER TIP
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7.
Canadian Congenital Diaphragmatic Hernia Collaborative, Puligandla PS, Skarsgard ED,
REVISÃO
Offringa M, Adatia I, Baird R, Bailey M, Brindle M, Chiu P, Cogswell A, Dakshinamurti S, Flageole H, Keijzer R, McMillan D, Oluyomi-Obi T, Pennaforte T, Perreault T, Piedboeuf B, Riley SP, Ryan G, Synnes A, Traynor M. Diagnosis and management of congenital diaphragmatic hernia: a clinical practice guideline. CMAJ. 2018 Jan 29;190(4):E103-E112. doi: 10.1503/cmaj.170206.
COMISSÃO CIENTÍFICA
PMID: 29378870; PMCID: PMC5790558.
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51
52
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REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA
MRMI (MEDICAL RESPONSE MAJOR INCIDENTS) - MADEIRA INTERNATIONAL DISASTER TRAINING CENTER: FORMAÇÃO INTERNACIONAL EM GESTÃO DE CATÁSTROFE Cátia Carvalho1,2,3 Assistente Hospitalar em Medicina Interna – Serviço de Urgência Polivalente do Hospital de São José (HSJ) Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do HSJ 3 Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC)
1
2
INTRODUÇÃO
Incidentes – MRMI, criada pelo Prof.
treino MACISM (Mass Casualty
A Ilha da Madeira tem uma
Sten Lennquist, ex-Presidente da
Simulation), treinando todos os
população que abrange cerca de
ESTES, sociedade europeia onde está
operacionais de varias entidades,
250.000 habitantes. Conta ainda com
subsidiado o Board Internacional
desde o pré-hospitalar, bombeiros,
cerca de 3000 turistas que
do MRMI.
técnicos de emergência pré-
diariamente visitam a ilha, dispondo
Em Outubro de 2010, o Board do
-hospitalar, elementos das forças de
assim, de um Porto marítimo onde
MRMI desloca-se à Madeira, a pedido
segurança, treinando num cenário
chegam cruzeiros oriundos de todo o
das Instituições regionais, para formar
multivítimas que recria assim, as
Mundo e um aeroporto que chega a
médicos e enfermeiros num curso de
condições para que seja dada uma
ter 30 voos diários.
simulação em Multivítimas nas
resposta adequada mediante o
Decorria o ano de 2010 quando o
Situações de excepção – Medical
cenário que encontram.
arquipélago voltou a ser atingido por
Response to Major Incidents (MRMI).
Os operacionais alocados a este
um temporal. A chuva intensa,
Esta formação não é apenas
curso serão responsáveis por acionar
durante um longo período, provocou
direcionada a profissionais de Saúde,
e declarar um major incident, situação
cheias que arrastaram tudo à sua
como o nome poderia indiciar.
de exceção, criação de corredores de
passagem, a circulação rodoviária foi
Trata-se sim, de uma formação
acesso e evacuação, acionando
impedida por pedras e troncos de
internacional pós-graduada
todos mecanismos, subindo de
árvores arrastados pelas ribeiras e a
multidisciplinar com o principal
alerta, local, municipal, distrital,
cidade do Funchal foi inundada. Na
objetivo de promover resposta à
regional, chegando mesmo ao
sequência desta catástrofe, foram
catástrofe de uma forma integrada por
patamar nacional, onde todos os
confirmados centenas de
todas as células da Proteção Civil,
recursos disponíveis possam ser
desalojados, 47 mortos e 250 feridos.
englobando, bombeiros, profissionais
usados. Toda esta simulação só é
Esta catástrofe natural, evidenciou a
de Saúde (médicos, enfermeiros,
possível graças a um sistema de
necessidade premente de várias
psicólogos, assistentes sociais),
cartões (CPX) que substituem as
instituições da Região procurarem
profissionais de segurança e forças
vítimas reais e a uma disposição por
uma formação reconhecida
militarizadas, tais como, polícias,
setores, divididos num cenário de
internacionalmente no Ensino e Treino
militares, seguranças, bem como todos
salas, pavilhões, com recurso a
em Catástrofe. Formação essa que
os profissionais com responsabilidade
quadros brancos e telas impressas
veio da Escandinávia, nomeadamente
de gestão, de comando e controlo nos
com as realidades pretendidas (cena,
através do Medical Response to Major
Sistemas Integrados de Emergência
transportes, hospitais, centro de
Medica – SIEM.
coordenação e comando). Durante
O curso Medical Response Major
todo o exercício existe um plano de
Incidents é baseado numa forma de
comunicações fundamental para a
Palavras-Chave: catástrofe, MRMI, situações de excepção, simulação Keywords: catastrophe, MRMI, exception situations, simulation
Indice
53
54
A Sobre ou Subtriagem na Cena
gastos económicos muito superiores à
e/ou Hospitais,
tutela para a formação.
Eficiência nos Transportes
Em 2016, com o crescimento da
(tempos de espera);
família MRMI em Portugal e na Europa,
Utilização dos recursos
nasce a necessidade de centralizar um
hospitalares;
Centro de formação em Catástrofe,
Identificação de fatores críticos
criado no SESARAM e com forte apoio
Coordenação/Control são os pilares
limitantes para a capacidade
na Proteção Civil da Madeira. Nasce
da formação em catástrofe.
instalada nos Hospitais;
assim, o Madeira International Disaster
Mortes evitáveis e taxa de
Training Center – MIDTC, com a missão
protocolos para a uniformização da
complicações relacionadas com
de Formar, Educar e Diferenciar nas
resposta a situações de exceção:
índices de severidade no Trauma.
áreas do Trauma, Emergência e
boa gestão do cenário.
•
A base científica e de estrutura ao curso é o manual MRMID, Springer,
•
Sten Lennquist e o Curso MIMMS que constitui o esqueleto da teoria, em
•
que a temática da Comunicação, Triagem/Terapêutica/Transporte e
O sistema MACSIM pode fornecer
•
•
•
Alerta – tempos de resposta?
Os mesmos objetivos de treino em
Catástrofe, com especial enfoque no
•
Eficácia no processo de alerta;
LIVEX representam maiores
Curso MRMI.
•
Transmissão, tempos e
dificuldades nos recursos humanos e
Foi seu fundador, Pedro Ramos,
qualidade na Comunicação;
físicos (recintos), assim como, alocam
Cirurgião e na altura Diretor do
54
Indice
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA
Serviço de Urgência do SESARAM. O
multi-agência na Resposta”, tendo por
transformando-a numa possível
centro conta atualmente com cerca
base o crescente interesse na
doutrina adotada pelos responsáveis e
de 60 Instrutores das mais diversas
Formação por parte das mais variadas
pela Tutela, seria certamente uma
áreas do socorro.
valências da Sociedade Civil.
possibilidade em perfeita simbiose com
A massificação na Formação em
Ao longo dos cerca de 12 anos de
a política de socorro nacional
Catástrofe pelo MIDTC passa por 25
atividade do MRMI em Portugal, mais
cursos entre Outubro de 2010 e Outubro
de 2300 agentes de Proteção Civil
BIBLIOGRAFIA
de 2022, que decorreram na Madeira,
tiveram oportunidade de conhecer o
1.
Açores, norte, centro e sul de Portugal
curso MRMI e de treinar
Implementation of Medical Response to Major
continental, sempre com a colaboração
comportamentos e competências na
Incidents Course in Madeira, Portugal. Dezembro
de representantes de outros centros
Resposta integrada em situação
2020, Wroclaw Medical University
MRMI na Europa.
de exceção.
2.
Vale, Luis; Faria, Rui; Freitas, Dinarte, et al.
Lenquist, M. K. Medical Response to major incidents and disasters. A practival guide for all
Em abril de 2019, na Madeira, organizado pelo MIDTC/MRMI Portugal,
CONCLUSÃO
decorreu o Encontro de Centros MRMI
“Treinar mais, para fazer melhor” é uma
com a presença dos parceiros europeus
verdade indiscutível e no caso da
e com o Prof. Sten, como Convidado de
formação MRMI na Madeira como
honra e co-anfitreão, onde foram
centro difusor da ideologia de resposta
editados os estatutos da Associação
nas situações de excepção é um facto
Internacional do MRMI. Já em Outubro
demonstrado pela frequência dos
de 2022, foi realizado o 25º curso,
Cursos e pelo número de formandos. O
“Madeira Land” testando o plano de
feedback dado por estes, incentiva a
catástrofe da RAM – região Autónoma
continuar esta formação e a adaptar a
da Madeira. Também nesta reunião, e
formação às novas realidade virtuais
pela primeira vez na Europa, se propôs
– e-learning, sites, informatização do
uma alteração à sigla do curso MRMI.
sistema MACSIM, entre outros. Fazer
Manteve-se o acrónimo, mas com
uso de uma mesma linguagem em
necessidade de acrescentar numa
Catástrofe e treinar pessoas e recursos
segunda linha “Envolvimento
nesta metodologia de ensino,
medical staff. 2012, Springer
EDITORA
INÉS SIMÕES Coordenadora Médica da VMER de Portimão
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
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56
56
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CARTAS AO EDITOR
CARTAS AO EDITOR
COMPRESSÃO MECÂNICA OU MANUAL? – AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DE UM “KIT MÃOS LIVRES” NUMA RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR Leonor Neves da Gama1, Josiana Duarte1, Pedro Lopes2, Tiago Fiúza1 Serviço de Medicina Interna do Hospital do Litoral Alentejano; Médico da VMER do Litoral Alentejano; 2 Enfermeiro do Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica do Hospital do Litoral Alentejano; Enfermeiro da VMER do Litoral Alentejano e da SIV de Alcácer do Sal.
1
Caro editor,
superiores ao recomendado e com interrupções frequentes.
1,2
Além
adversas das vias de trânsito, assim como o layout físico do habitáculo
Na edição número 2, volume 2 da
disso, em meio pré-hospitalar, a
de passageiros da ambulância. À luz
LIFESAVING Scientific de maio de
manutenção de compressões de alta
do previamente citado, é claro que
2022, foi publicado um artigo de
qualidade durante uma paragem
cada um desses fatores contribui de
revisão intitulado de “Os dispositivos
cardiorrespiratória (PCR) é difícil
alguma forma para reduzir a
mecânicos de compressão torácica
devido ao número reduzido de
qualidade da RCP realizada.
na rede de ambulâncias SIV: um
elementos das equipas, ao cansaço
Os dispositivos mecânicos de
imperativo ou uma excentricidade?
físico dos profissionais, às várias
compressão torácica foram
– Análises e Discussão de um estudo
tarefas que se têm de realizar em
desenhados para realizar
de caso.”
simultâneo (como a obtenção de via
compressões torácicas na frequência
O maior problema da ressuscitação
aérea avançada, colocação de acesso
e profundidade especificadas pelas
cardiopulmonar (RCP) padrão é que
venoso, preparação e administração
guidelines, maximizando a qualidade
ela fornece apenas um terço do
de fármacos) e também pela
das mesmas de forma constante, e
suprimento sanguíneo normal para o
necessidade do transporte da vítima
que, desejavelmente, melhorem o
cérebro e 10-20% para o coração.
em segurança, assim como de todos
outcome dos doentes, nas condições
Segundo as últimas guidelines da
os profissionais envolvidos na
supramencionadas. A Figura 1
American Heart Association (AHA) e
prestação dos cuidados. A
apresenta os resultados de um ensaio
do European Resuscitation Council
variabilidade na profundidade e na
clínico randomizado realizado em
(ERC) para a RCP, está recomendado,
velocidade das compressões
modelos animais vivos (suínos), em
no adulto, que as compressões
aumenta drasticamente, traduzindo-
que se compararam diversos
torácicas devam ser aplicadas com
se num declínio na qualidade da
parâmetros hemodinâmicos durante a
uma profundidade de pelo menos 5
RCP. Assim, quando a vítima é
realização de RCP em situação
cm, mas não superior a 6 cm, a uma
mobilizada, o profissional de saúde
estática e em transporte em
velocidade de 100-120/min.
do meio pré-hospitalar vê-se sujeito
ambulância.4 Todos os parâmetros
Reconhecendo a importância destas
a condições desafiantes para uma
hemodinâmicos avaliados
questões, serão estas especificidades
RCP de qualidade. Transportar o
favoreceram a utilização dos
cumpridas?
doente apresenta um conjunto
dispositivos de compressão
Estudos recentes sugerem que as
totalmente diferente de desafios,
mecânica em detrimento das
compressões manuais raramente
incluindo o balanço da ambulância,
compressões torácicas manuais, com
atingem a profundidade adequada,
travagens bruscas, acelerações,
maior expressão durante o transporte
são aplicadas com velocidades
desacelerações e curvas, condições
em ambulância.
1
3
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57
Figura 1 – Parâmetros hemodinâmicos durante RCP: A – Pressão de perfusão coronária (CCP), End tidal CO2 (EtCO2) e Lactato sérico (Lac) em níveis basais (BL), durante ressuscitação cardiopulmonar (Cardiopulmonary Ressuscitation) em transporte por ambulância (Ambulance Transport) e após recuperação da circulação espontânea (ROSC). B – Pressão arterial sistólica (SAP) e diastólica (DAP) e pressão na aurícula direita (RAP), durante ressuscitação cardiopulmonar (Cardiopulmonary Ressuscitation) em transporte por ambulância (Ambulance Transport) e após recuperação da circulação espontânea (ROSC). C – Impedância transtorácica (curva verde) e pressão arterial (curva laranja) geradas pelo LUCAS vs compressões manuais (Manual CC) durante RCP realizada com a ambulância parada (Static) e em transporte (Transport); gráficos à esquerda representam a variabilidade da impedância transtorácica gerada pelas compressões torácicas nas mesmas situações.
58
Adaptada de Magliocca et al. “LUCAS Versus Manual Chest Compression During Ambulance Transport: A Hemodynamic Study in a Porcine Model of Cardiac Arrest.” Journal of the American Heart Association vol. 8,1 (2019): e011189. doi:10.1161/JAHA.118.011189
Os estudos científicos que têm vindo
já que, por exemplo, o tempo de
caso das vítimas em PCR, são
a ser apresentados não evidenciam
evolução da PCR será preditivo de
múltiplas as ações que se realizam,
diferenças significativas quando se
menor ou maior sucesso no
que devem ser antecipadas,
compara a utilização dos dispositivos
desempenho da equipa.
delegadas e supervisionadas pelos
mecânicos de compressão torácica
No entanto, tal como já referido, a
elementos presentes. No caso das
versus a realização de compressões
utilização destes dispositivos
vítimas em PCR que seja possível a
torácicas de forma manual no que
poderá apresentar um impacto a ser
utilização dos dispositivos
concerne ao retorno da circulação
considerado, sem estar relacionado
mencionados, o elemento que gere
espontânea, à sobrevida e à lesão
diretamente com o outcome da
os recursos existentes ficará seguro
neurológica.[5,6] Não sendo estes
vítima em PCR. A título de exemplo,
da qualidade constante na
achados significativos à data de hoje,
os Enfermeiros que exercem a sua
realização das compressões
por exemplo, a AHA não recomenda a
atividade nas ambulâncias SIV do
torácicas podendo assim dedicar
utilização destes dispositivos de
INEM é reconhecida a necessidade
uma atenção redobrada às restantes
forma rotineira.[7] Será desejável a
de aquisição e desenvolvimento de
ações realizadas.
realização de estudos em que haja
competências ao nível da gestão da
Em caso de necessidade de
um maior controlo das variáveis que
equipa e manter a melhor prestação
transporte da vítima, ainda em RCP, a
influenciam os outcomes avaliados,
de cuidados à vítima em causa. No
necessidade de manter as condições
58
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CARTAS AO EDITOR
de segurança da vítima e
BIBLIOGRAFIA
operacionais no terreno mantém-se,
1.
Koster RW, Beenen LF, Boom EB Van Der,
igualmente, imperativa. Ora, é
Spijkerboer AM, Tepaske R, Wal AC Van Der, et al.
conhecido que a realização das
Safety of mechanical chest compression devices
compressões torácicas de forma
AutoPulse and LUCAS in cardiac arrest: a
manual numa ambulância em
randomized clinical trial for non-inferiority.
movimento é acompanhada da
2017;3006–13.
diminuição das condições de
2.
2 Pl W, Sc B, Pl W, Sc B. Mechanical versus
segurança. Os dispositivos de
manual chest compressions for cardiac arrest
compressão torácica possibilitam a
(Review). 2018
continuidade das mesmas e que,
3.
Eng M, Ong H, Mackey KE, Zhang ZC, Tanaka H,
nesta situação ou noutras situações
Ma MH. Mechanical CPR devices compared to
em que as compressões não são
manual CPR during out-of-hospital cardiac arrest
praticáveis, passem a estar presentes
and ambulance transport: a systematic review.
com a qualidade pretendida.
2012;20(1):1
Na comunidade científica surgem
4.
Magliocca, Aurora et al. “LUCAS Versus Manual
alguns estudos de caso,
Chest Compression During Ambulance Transport:
nomeadamente em PCR por
A Hemodynamic Study in a Porcine Model of
Síndrome Coronária Aguda, que
Cardiac Arrest.” Journal of the American Heart
concluem que a manutenção de RCP
Association vol. 8,1 (2019): e011189.
com recurso aos dispositivos em
doi:10.1161/JAHA.118.011189
questão, mesmo durante a realização
5.
Bonnes, J. L., Brouwer, M. A., Navarese, E. P.,
de intervenção coronária percutânea,
Verhaert, D. V. M., Verheugt, F. W. A., Smeets, J. L.
tem demonstrado benefícios.
R. M., & de Boer, M.-J. (2016). Manual
Importa salientar que, tal como
Cardiopulmonary Resuscitation Versus CPR
todas as técnicas, o sucesso da sua
Including a Mechanical Chest Compression
utilização está diretamente
Device in Out-of-Hospital Cardiac Arrest: A
correlacionado com o treino das
Comprehensive Meta-analysis From Randomized
equipas que utilizam este tipo de
and Observational Studies. Annals of Emergency
dispositivos. A rede SIV INEM, a cada
Medicine, 67(3), 349. https://doi.org/10.1016/j.
“dia”, vê a sua rede alargada e
annemergmed.2015.09.023
potencia o acesso a uma prestação
6.
RibeiroG. C. de F. K. M., & ReisB. C. C. (2021). Uso
população. Sendo possível que essa
de dispositivos mecânicos de compressão
prestação seja melhorada, então
torácica na parada cardíaca: uma revisão de
será desejável que a utilização dos
literatura. Revista Eletrônica Acervo Saúde, 13(2),
dispositivos mecânicos de
e6209. https://doi.org/10.25248/reas.
compressão torácica seja alargada a
e6209.2021 7.
CATARINA JORGE Médica VMER
EDITOR
PiresT. de S. C. F., FontanaE. C. C., PintoC. E. R.,
de cuidados de excelência a toda a
esse meio, conscientes estes
EDITORA
Khan, S. U., Lone, A. N., Talluri, S., Khan, M. Z.,
autores de que a formação e o treino
Kaluski, E., & Khan, M. U. (2018). Efficacy and
dos seus profissionais são
safety of mechanical versus manual compression
premissas obrigatórias para o
in cardiac arrest - A Bayesian network
sucesso na sua utilização
meta-analysis. Resuscitation, 182–188. https:// doi.org/10.1016/j.resuscitation.2018.05.005.
JÚLIO RICARDO SOARES Médico VMER
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
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CARTAS AO EDITOR
CARTAS AO EDITOR
CETAMINA NEBULIZADA EM CONTEXTO PRÉ-HOSPITALAR: UMA MODALIDADE ANALGÉSICA ADICIONAL? Alice Brás1, Marta Sanhá1, Mafalda Martins1, Catarina Filipe1 1
Serviço de Anestesiologia - Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho
Caro editor,
intramuscular, intranasal ou intraóssea.
psicoreações mediadas pela
A ação anestésica é mediada
dissociação entre o sistema límbico e
A presente carta destaca recentes
maioritariamente pelo antagonismo
talamocortical e os efeitos
evidências da literatura presente no
não competitivo do receptor do ácido
anticolinérgicos que resultam em
artigo Nebulized Ketamine for
N-metil D-aspártico (NMDA), mas
sialorreia e broncorreia3.
Analgesia in the Prehospital Setting: A
também pela libertação central de
Nos últimos anos, tem-se assistido a
Case Series, publicado na revista
noradrenalina. O componente
uma utilização exponencial da
Prehospital Emergency Care, a 2 de
analgésico potente deve-se à inibição
cetamina em diferentes áreas. Neste
setembro de 2022. A leitura detalhada
dos recetores NMDA e ativação das
contexto, as propriedades respiratórias
deste artigo, elucida-nos sobre a
vias descendentes inibitórias
benéficas e a potência analgésica,
eficácia e praticabilidade da
monoaminérgicas. Adicionalmente, tem
têm-na tornado num dos fármacos de
administração de cetamina por via
um efeito potenciador da analgesia
eleição no paciente crítico adulto e
nebulizada para analgesia na atividade
opióide, prevenindo a tolerância e a
pediátrico, na emergência intra e
médica pré-hospitalar em 7 pacientes
hiperalgesia associada a esta classe
extra-hospitalar1, 2.
com dor moderada a severa1.
farmacológica Apresenta uma semivida
A administração de cetamina IV em
A cetamina, criada em 1962 e aprovada
de distribuição (а) de 4-7 minutos e de
doses analgésicas (0.1 - 0.3 mg/kg)
pela Food and Drug Administration
eliminação (β) de 2-3 horas, sendo
tem mostrado um adequado controlo
(FDA)
metabolizada a nível hepático pelo
da dor no pré-hospitalar. A cetamina
em 1970, é um fármaco único entre os
sistema do citocromo P450 .
em baixa dose mostrou uma redução
anestésicos e analgésicos existentes.
É um anestésico geral de ação rápida,
da dor mais eficaz e com menores
A cetamina apresenta uma pluralidade
condicionando analgesia profunda,
efeitos adversos quando comparada
de indicações, incluindo sedação e
catalepsia e amnésia com preservação
aos opióides em contexto de dor aguda
analgesia, anestesia, tratamento de dor
dos reflexos laríngeos e do tónus
no serviço de urgência (SU)2. No
aguda e crónica, broncodilatação e,
muscular, e depressão respiratória
entanto, quando esta via é de difícil
mais recentemente, tratamento da
mínima. Os seus efeitos
acesso, como por exemplo em alguns
epilepsia refratária e da depressão .
simpaticomiméticos são uma
doentes pediátricos ou por recusa do
A molécula de cetamina tem dois
vantagem relativamente a outros
doente, a via intranasal surge como
estereoisómeros ativos, S(+) com
anestésicos cardiodepressores.
uma via opcional bem documentada.
atividade anestésica/analgésica, com
A cetamina é um fármaco seguro com
Uma vez que pode ser desagradável e
menor propensão a reações adversas
poucos efeitos adversos graves
consequentemente subóptima, a
que o enantiómero R(-). A cetamina
descritos. Estes estão mais
nebulização ativada por respiração foi
pode ser administrada por via oral,
frequentemente relacionados com os
sugerida como uma opção mais
subcutânea, intravenosa (IV),
seus efeitos catecolaminérgicos, as
confortável para o doente. Quanto aos
2
3
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CARTAS AO EDITOR
efeitos adversos, está associada a
intensidade da dor de 45% e 56% aos
BIBLIOGRAFIA
menor incidência de tonturas e fadiga,
minutos 30 e 120, respetivamente.
1.
comparativamente à administração IV.
Adicionalmente, as reduções dos scores
La Rosa X. Nebulized Ketamine for Analgesia in
Assim, permite uma melhor tolerância
de dor foram semelhantes a resultados
the Prehospital Setting: A Case Series. Prehospital
do doente, uma vez que os efeitos
anteriores, quando compararam a
emergency care. 2022:1-6.
psicomiméticos limitam
cetamina intravenosa em doses
frequentemente a sua administração4.
subdissociativas à morfina e após
Queiroz VNF, Zelezoglo GR, et al. Ketamine use in
Apresenta ainda analgesia comparável e
administração de cetamina intranasal4.
critically ill patients: a narrative review. Revista
tempos semelhantes de início e duração
Paralelamente, uma série de 4 casos
Brasileira de terapia intensiva. 2022;34(2):287-94.
de ação relativamente à via IV1. A
de adultos admitidos no SU por
cetamina nebulizada tem sido estudada
trauma ortopédico, com dor
anesthetic pharmacology. Neuropharmacology.
em casos de dor pós-operatória, dor
moderada-severa, revelou um alívio
2022;216:109171.
oncológica e terapêutica respiratória5.
considerável da dor aos 60 minutos
Lemos com interesse a série de casos
após administração durante 15
Hossain R, et al. Comparison of Nebulized
de Patrick et al1, que apresentou a
minutos de cetamina nebulizada, com
Ketamine at Three Different Dosing Regimens for
administração de cetamina numa dose
resolução completa em 3 doentes.
Treating Painful Conditions in the Emergency
de 1 mg/kg (diluída em 5 ml de soro
Dois dos doentes experienciaram
Department: A Prospective, Randomized,
fisiológico) via nebulizador ativado por
tonturas e um destes teve alterações
Double-Blind Clinical Trial. Annals of emergency
respiração (NAR) em doentes com dor
na perceção da realidade5.
medicine. 2021;78(6):779-87.
traumática e não traumática no
No seguimento do âmbito do trauma, a
pré-hospitalar. O NAR gera aerossóis
utilização de cetamina em casos de
Khordipour E, Motov S. Nebulized Ketamine Used
durante o fluxo inspiratório,
traumatismo cranioencefálico não é
for Pain Management of Orthopedic Trauma. The
acionando a válvula de abertura e
frequentemente aceite. Tal tem relação
Journal of emergency medicine. 2021;60(3):365-7.
sem o risco teórico de contaminação
com os resultados de um estudo não
do ambiente. Caracteriza-se por uma
controlado e que incluiu uma pequena
utilização familiar para o profissional
amostra, que sugeriram o aumento da
de saúde, com rápido início de ação,
pressão intracraniana (PIC) e do
boa eficácia analgésica e com
consumo de oxigénio cerebral após
possibilidade de titulação pelo
administração de cetamina. No
doente. Neste estudo, 6 dos 7
entanto, estes dados não têm sido
doentes tiveram alívio significativo da
corroborados, sendo que em conjunto
dor, definida pela redução de pelo
com a administração de midazolam,
menos 2 pontos na escala numérica
não mostrou aumentar a PIC, nem
da dor. Não se verificaram efeitos
reduzir o fluxo sanguíneo cerebral2.
adversos major, nem alterações
Deste modo, a cetamina nebulizada
significativas nos scores de sedação
surge como um adjuvante útil na
e apenas 1 dos doentes necessitou
analgesia multimodal, com redução
de reforço com fentanil1.
das necessidades de opióides e que
Um estudo randomizado prospetivo, que
permite uma analgesia rápida, efetiva
comparou a administração de 3 doses
e não invasiva. No futuro, novos
de cetamina (0.75, 1 e 1.5 mg/kg)
clinical trials devem ser realizados
através do NAR, mostrou excelente
para aceder e comparar a eficácia
analgesia com efeitos laterais mínimos
analgésica da cetamina nebulizada
em 120 pacientes adultos no SU.
com outras vias de administração e
Verificou-se uma diminuição da
com outros analgésicos
2.
3.
4.
5.
Patrick C, Smith M, Rafique Z, Rogers Keene K, De
Midega TD, Chaves RCF, Ashihara C, Alencar RM,
Hirota K, Lambert DG. Ketamine; history and role in
Dove D, Fassassi C, Davis A, Drapkin J, Butt M,
Fassassi C, Dove D, Davis AR, Ranginwala A,
EDITORA
CATARINA JORGE Médica VMER
EDITOR
JÚLIO RICARDO SOARES Médico VMER
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VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS
VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS
SÍNDROME DE WELLENS – QUANDO UMA INVERSÃO DA ONDA T INVERTEU O DIAGNÓSTICO Miguel Espírito Santo1, Joana Pereira1 1
Serviço de Cardiologia, Centro Hospitalar e Universitário do Algarve
Estes doentes estão em risco elevado de desenvolverem Enfarte Agudo do Miocárdio anterior extenso, pelo que têm indicação para coronariografia precoce. Frequentemente apresentamse assintomáticos e sem alterações (ou com alterações mínimas) dos biomarcadores de necrose miocárdica Figura 1. Ritmo sinusal, frequência cardíaca de 40 batimentos por minuto, discreto supra desnivelamento do segmento ST (< 1mm) em V2-V3, onda T bifásica em V2, e invertida em V3-V5, DI e aVL.
e, por isso, o reconhecimento do padrão eletrocardiográfico e a sua adequada
Homem de 54 anos, com antecedentes
angioplastia com implantação de stent.
valorização no contexto clínico são
de tabagismo, dislipidemia e acalásia,
A Síndrome de Wellens caracteriza-se por
fundamentais para o tratamento
recorreu ao Serviço de Urgência por
um padrão específico de alterações
atempado e a melhoria do prognóstico
síndrome gripal. Quando questionado,
eletrocardiográficas que, num doente com
dos doentes
referia ainda história de dor torácica pré-
história prévia de angina, têm elevada
cordial, mas que até então tinha sido
especificidade para lesão obstrutiva grave
BIBLIOGRAFIA
associada à patologia esofágica. No
no segmento proximal da DA.
1.
estudo analítico apresentava discreta
Os critérios definidores da SW são:
elevação da troponina T de alta
•
características anginosas;
sensibilidade, mas sem variação significativa na avaliação seriada com
História prévia de dor torácica com
•
e V3 (SW Tipo A), ou invertida, de
a presença de precordialgia, foi
forma profunda e simétrica nas
solicitada
de
mesmas derivações (SW Tipo B).
Eletrocardiograma de 12 derivações
As alterações da onda T podem
(Figura 1), que apresentava um padrão
estender-se a qualquer das
eletrocardiográfico designado por
derivações precordiais;
realização
Síndrome de Wellens (SW) e que,
•
reforçou a suspeição diagnóstica de
Segmento ST isoelétrico ou com elevação mínima do ponto J (<1 mm);
perante os sintomas apresentados, •
Ausência de onda Q e normal
doença coronária significativa. O doente
progressão da onda R nas
realizou coronariografia, que revelou
derivações precordiais;
lesão severa no segmento proximal da
•
Wellen’s Syndrome; Circulation (2019). 2.
Miner, B.; Grigg, W.; Hart, E.; Wellens Syndrome, StatPearls [Internet]. StatPearls Publishing (2022).
Onda T bifásica nas derivações V2
um intervalo de 4 horas. Contudo, dada a
Al-assaf, O.; Abdulghani, M.; Musa, A.; AlJallaf, M.;
EDITORA
TERESA MOTA Interna de formação Específica de cardiologia - CHUA EDITOR
Ausência de elevação ou elevação
artéria coronária Descendente Anterior
mínima dos biomarcadores de
(DA), tendo sido submetido a
necrose miocárdica.
HUGO COSTA Interno de formação Específica de cardiologia - CHUA
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CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO – Novembro de 2022
66
1. Objectivo e âmbito
2. Informação Geral
3. Direitos Editoriais
A Revista LIFESAVING SCIENTIFIC (LF Sci) é um órgão de publicação pertencente ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e dedica-se à promoção da ciência médica pré-hospitalar, através de uma edição trimestral. A LF Sci adopta a definição de liberdade editorial descrita pela World Association of Medical Editors, que entrega ao editor-chefe completa autoridade sobre o conteúdo editorial da revista. O CHUA, enquanto proprietário intelectual da LF Sci, não interfere no processo de avaliação, selecção, programação ou edição de qualquer manuscrito, atribuindo ao editorchefe total independência editorial. A LF Sci rege-se pelas normas de edição biomédica elaboradas pela International Commitee of Medical Journal Editors e do Comittee on Publication Ethics.
A LF Sci não considera material que já foi publicado ou que se encontra a aguardar publicação em outras revistas. As opiniões expressas e a exatidão científica dos artigos são da responsabilidade dos respetivos autores. A LF Sci reserva-se o direito de publicar ou não os artigos submetidos, sem necessidade de justificação adicional. A LF Sci reserva-se o direito de escolher o local de publicação na revista, de acordo com o interesse da mesma, sem necessidade de justificação adicional. A LF Sci é uma revista gratuita, de livre acesso, disponível em https:// issuu.com/lifesaving. Não pode ser comercializada, sejam edições impressas ou virtuais, na parte ou no todo, sem autorização prévia do editor-chefe.
Os artigos aceites para publicação ficarão propriedade intelectual da LF Sci, que passa a detentora dos direitos, não podendo ser reproduzidos, em parte ou no todo, sem autorização do editor-chefe.
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4. Critérios de Publicação 4.1 Critérios de publicação nas rúbricas A LF Sci convida a comunidade científica à publicação de artigos originais em qualquer das categorias em que se desdobra, de acordo com os seguintes critérios de publicação: Artigo Científico Original - Âmbito: apresentação de resultados sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar de adultos. Dimensão recomendada: 1500 a 4000 palavras.
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO
Temas em Revisão - Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar de adultos. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Hot Topic - Âmbito: Intrepretação de estudos clínicos, divulgação de inovações na área pré-hospitalar recentes ou contraditórias. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Rúbrica Pediátrica - Âmbito: Revisão sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar no contexto pediátrico. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Casos Clínicos (Adulto) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, relacionados com situações de
emergência em adultos. Dimensão recomendada: 1000 palavras. Casos Clínicos (Pediatria) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, em contexto de situações de emergência em idade pediátrica. Dimensão recomendada: 1000 palavras. Casos Clínicos (Neonatalogia) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, que reportem situações de emergência em idade neonatal. Dimensão recomendada: 1000 palavras. LIFESAVING Trends - Inovações em Emergência Médica - Âmbito: Artigo com estrutura de "Correspondência", privilegiando a divulgação de novidades tecnológicas, de dispositivos inovadores, ou de atualizações de equipamentos ou práticas atuais. Limite de Palavras: máximo 1500 palavras; Limite de tabelas e figuras:6
Imagem em Urgência e Emergência - Âmbito/Objetivo: divulgar imagens-chave no diagnóstico e abordagens de patologias no âmbito da urgência e emergência. Podem ser obtidas através do exame físico, investigação básica ou estudo imagiológico. O consentimento informado escrito é requerido no caso em que a imagem contenha a face ou outro detalhe que permita identificar os intervenientes. Estrutura do artigo: Título (que não deve conter o diagnóstico); autores e filiação; nota introdutória com descrição breve da imagem e/ou do seu contexto; 1 a 2 imagens; questão de escolha múltipla com 4 hipóteses (apenas uma resposta correta); texto explicativo da resposta correta com referência à literatura. Máximo de 300 palavras. Imagem: em formato .jpeg, com resolução original. Bibliografia: máximo de 5 referências
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4.2 Critérios gerais de publicação O trabalho a publicar deverá ter no máximo 120 referências. Deverá ter no máximo 6 tabelas/figuras devidamente legendadas e referenciadas. O trabalho a publicar deve ser acompanhado de no máximo 10 palavras-chave representativas. No que concerne a tabelas/figuras já publicadas é necessário a autorização de publicação por parte do detentor do copyright (autor ou editor). Os ficheiros deverão ser submetidos em alta resolução, 800 dpi mínimo para gráficos e 300 dpi mínimo para fotografias em formato JPEG (.Jpg), PDF (.pdf). As tabelas/figuras devem ser numeradas na ordem em que ocorrem no texto e enumeradas em numeração árabe e identificação. No que concerne a casos clínicos é necessário fazer acompanhar o material a publicar com o consentimento informado do doente ou representante legal, se tal se aplicar. No que concerne a trabalhos científicos que usem bases de dados de doentes de instituições é necessário fazer acompanhar o material a publicar do consentimento da comissão de ética da respetiva instituição. As submissões deverão ser encaminhadas para o e-mail: revistalifesaving@gmail.com
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4.3 Critérios de publicação dos artigos científicos. Na LIFESAVING SCIENTIFIC (LF Sci) podem ser publicados Artigos Científicos Originais, Artigos de Revisão ou Casos Clínicos de acordo com a normas a seguir descritas. Artigos Científicos O texto submetido deverá 68 as seguintes apresentado com secções: Título (português e inglês), Autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação), Abstract (português e inglês), Palavras-chave (máximo 5), Introdução e Objetivos, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos, Referências. O texto deve ser submetido com até 3 Take-home Messages que no total devem ter até 50 palavras. Não poderá exceder as 4.000 palavras, não contando Referências ou legendas de Tabelas e Figuras. Pode-se fazer acompanhar de até 6 Figuras/Tabelas e de até 60 referências bibliográficas. O resumo/ abstract não deve exceder as 250 palavras. Se revisão sistemática ou meta-análise deverá seguir as PRISMA guidelines. Se meta-análise de estudo observacionais deverá seguir as MOOSE guidelines e apresentar um protocolo completo do estudo. Se estudo de precisão de diagnóstico, deverá seguir as STARD guidelines.
Se estudo observacional, siga as STROBE guidelines. Se se trata da publicação de Guidelines Clínicas, siga GRADE guidelines. Este tipo de trabalhos pode ter no máximo 6 autores. Artigos de Revisão O objetivo deste tipo de trabalhos é rever de forma aprofundada o que é conhecido sobre determinado tema de importância clínica. Poderá contar com, no máximo, 3500 palavras, 4 tabelas/figuras, não mais de 50 referências. O resumo (abstract) dos Artigos de Revisão segue as regras já descritas para os resumos (abstract) dos Artigos Científicos. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 5 autores. Caso Clínico O objetivo deste tipo de publicação é o relato de caso clínico que pela sua raridade, inovações diagnósticas ou terapêuticas aplicadas ou resultados clínicos inesperados, seja digno de partilha com a comunidade científica. O texto não poderá exceder as 1.000 palavras e 15 referências bibliográficas. Pode ser acompanhado de até 5 tabelas/ figuras. Deve inclui resumo que não exceda as 150 palavras, organizado em objetivo, caso clínico e conclusões. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 4 autores.
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO
Cartas ao Editor - Objetivo: comentário/exposição referente a um artigo publicado nas últimas 4 edições da revista promovendo a discussão e visão crítica. Poderão ainda ser enviados observações, casuísticas particularmente interessantes de temáticas atuais que os autores desejem apresentar aos leitores de forma concisa. - Instruções para os autores: 1. O corpo do artigo não deve ser subdividido; sem necessidade de resumo ou palavras-chave. 2. Deve contemplar entre 500 a 1000 palavras, excluindo referências, tabelas e figuras. 3. Apenas será aceite 1 figura e/ou 1 tabela. 4. Não serão aceites mais de 5 referências bibliográficas. Devendo cumprir as normas instituídas para revista. 5. Número máximo de autores são 4. Breves Reflexões sobre a Emergência Médica Âmbito: artigo de reflexão/opinião, com a exposição de ideias e pontos de vista sobre tema no âmbito da emergência médica, do ponto de vista conceptual, podendo a argumentação do Autor convidado, ser baseada na sua experiência pessoal ou na citação de livros, revistas, artigos publicados, entre outros recursos de pesquisa, devidamente assinalados no texto; Estrutura do artigo: título, Autor(es) e afiliação; resumo e palavras-chave
(facultativos), introdução, desenvolvimento, conclusão final, referências bibliográficas. Limite de palavras: 1500 Resumo (facultativo): máximo 100 palavras, em formato bilingue (português e inglês) Palavras-chave: máximo 5 palavras chave, em formato bilingue (português e inglês) Limite de tabelas e figuras: 3 Bibliografia: máximo 5 referências bibliográficas “Vamos pôr o ECG nos eixos” - Âmbito: Análise e interpretação de traçados eletrocardiográficos clinicamente contextualizados - Formato: Título; Autores – máx. 2 autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação); 2 palavras-chave; 1 imagem (ECG ou tira de ritmo, em formato JPEG com resolução original); Legenda explicativa com breve enquadramento clínico e interpretação do traçado (ritmo, frequência, alterações da despolarização ou repolarização pertinentes no contexto) – máx. 300 palavras; Referências bibliográficas.
5. Referências Os autores são responsáveis pelo rigor das suas referências bibliográficas e pela sua correta citação no texto. Deverão ser sempre citadas as fontes originais
publicadas. A citação deve ser registada empregando Norma de Vancouver.
6. Revisão por pares A LF Sci segue um processo single-blind de revisão por pares (peer review). Todos os artigos são inicialmente revistos pela equipa editorial nomeada pelo editor-chefe e caso não estejam em conformidade com os critérios de publicação poderão ser rejeitados antes do envio a revisores. A aceitação final é da responsabilidade do editor-chefe. Os revisores são nomeados de acordo com a sua diferenciação em determinada área da ciência médica pelo editor-chefe, sem necessidade de justificação adicional. Na avaliação os artigos poderão ser aceites para publicação sem alterações, aceites após modificações propostas pela equipa editorial ou recusados sem outra justificação.
7. Erratas e retrações A LF Sci publica alterações, emendas ou retrações a artigos previamente publicados se, após publicação, forem detetados erros que prejudiquem a interpretação dos dados
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