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Dona Trude: a mãe do prefeito

Por mais de 30 anos ela trabalhou na prefeitura, sem imaginar que o filho seria eleito chefe do Executivo

No primeiro dia de trabalho na prefeitura de Guabiruba, Maria Gertrudes Zirke (86), a dona Trude, jamais podia imaginar que o filho caçula, Valmir Zirke, no futuro seria o chefe do Executivo. Foram quase 36 anos dedicados a manter limpo e com um bom café, o prédio público mais importante da cidade.

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“Eu comecei a trabalhar na prefeitura com o primeiro prefeito eleito, que foi o Carlos Boos. Era no Paulo Kohler, só um quartinho, uma salinha. Antes eu morava na Águas Claras, com meu marido e filhos. Eu vim domingo de muda e na segunda-feira meu pai foi lá perguntar para o prefeito se tinha um emprego para mim. Ele disse: vai ter, porque a dona Landa vai para o grupo (Colégio João Boos). Na terça-feira já comecei a trabalhar e fiquei até o tempo do Orides (Kormann)”, conta. “Esses dias, no aniversário do Valmir, fui lá na prefeitura e vi as fotos. Quantos prefeitos eu passei. Quase todos! (risos)”, emenda.

Segundo ela, antigamente tinha pouco emprego e quando o marido Nildo (in memorian) não negociava animais, não tinha ganho nenhum. Por isso, antes de trabalhar na prefeitura, ela vendia toalhas e roupas de bicicleta, batendo de porta em porta. Lembra dessa época com carinho, pois diz que costumava ganhar cafés e almoços na casa das clientes.

Depois de iniciar o trabalho na prefeitura parou com as vendas. “Engravidei e quando acabou o resguardo fui obrigada a trabalhar, porque não era como hoje em dia, que ganha licença”, frisa ela, que dependia das filhas de 12 e 11 anos para cuidar dos bebês gêmeos. “Meu irmão ajudava a limpar pra eu não ganhar a conta. Entrava 7h30 e ficava até às 11h, depois voltava 13h30 até às 17h”, detalha.

Para dona Trude, todos os prefeitos com quem trabalhou eram bons. “Eram todos bons comigo, mas igual ao Carlos Boos não tinha. Ele era como um pai. Ele tinha pena da gente, porque éramos pobres. Então, se tinha alguma coisa ele dava para mim. Depois, veio o Vadislau Schmitt e achei que ia ganhar a conta, porque tinha mudado de partido. Todos eles depois eram de partidos diferentes, mas nunca deram a conta”, ressalta ela, que se aposentou na prefeitura e ainda trabalhou no local por mais alguns anos.

A aposentada conta que seu marido não queria que o filho mais novo entrasse para a política, mas se orgulha da trajetória de Valmir, que com o irmão gêmeo, nasceu em Guabiruba. “Agora sou a mãe do prefeito!”, comemora. “Eles nasceram aqui, só os dois, o restante na Águas Claras. Primeiro nasceu o Leomir, depois o Valmir, que é o neném da casa. Naquele tempo, a gente não fazia exame, então não sabia que eram dois. Eu ia trabalhar de bicicleta todo dia. Sexta-feira trabalhei e ainda fui buscar trato. De madrugada nasceram”, recorda.

Dona Trude, que hoje mora no mesmo terreno da filha Denise, conta sobre a infância e sua família. “O primeiro carro da Guabiruba era do meu pai. A primeira prefeitura foi na sala dele (Leo Kormann). Era grande, porque ele era alfaiate. Pediram se ele alugava, então falou que não queria nada e podiam usar”, relata.

A aposentada explica que nasceu em Guabiruba (então bairro de Brusque) e sentiu muita falta daqui quando foi morar no bairro Águas Claras, após o casamento. “A casa dos meus pais era onde hoje é a Câmara de Vereadores. Ali era tudo terra do meu pai. Nós éramos 10 irmãos. A minha mãe era de Brusque, a família dela veio da Alemanha e do pai, da Itália. Morei 10 anos lá em cima e deu uma saudade da Guabiruba, porque sempre fui acostumada aqui”, afirma.

Segundo ela, sua infância foi muito feliz e os costumes eram outros. “Meu pai era um homem bem de vida. Nós tínhamos muitas terras. Antigamente, até as crianças usavam terno,

Para dona

Trude, todos os prefeitos da cidade foram bons, mas diz que Carlos Boos foi como um pai para ela então ele tinha serviço o ano todo. Lá do Aymoré, Guabiruba Sul, rua São Pedro, vinha todo mundo na igreja do centro e de terno. Eu ia à missa com a minha prima. Nós tínhamos sapatos para os domingos, mas dia de semana a gente tinha tamanco para ir para a escola. Era frio, a sorte que era pertinho de casa. O professor era o Arthur Wippel, quando pai não podia vir, vinha o filho, que nem era professor. Era boa a nossa turma”, lembra.

“Nós tínhamos roupa para sábado, para domingo e dia de semana. Aos domingos, Deus o livre se não ia na missa. Quando eu casei e fui morar na Águas Claras eu estranhava tanto, porque era uma vez por mês só a missa. Pra mim, não era domingo se não ia”, afirma. “Na saída da missa quando pequena, o pai dava um dinheirinho e nós íamos na cooperativa comprar bala e doce. Depois brincávamos na minha tia ou lá em casa de esconder, fazia roda e cantava na varanda. Eu tinha uma boneca, que coloquei o nome de Claudete. Depois minhas filhas brincaram com ela”, emenda dona Trude, que sempre adorou dançar.

Hoje em dia, com problema no joelho, ela utiliza uma bengala para evitar uma possível queda, mas não dispensa uma boa dança nas comemorações em família. Mãe de sete filhos - quatro meninas e três rapazes -, dona Trude tem 14 netos e oito bisnetos. Uma família grande para levar adiante seus legados de amor e trabalho.