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Saudades da dona Claudia

Com 36 anos a mais do que a cidade, aposentada dizia que sua família prosperou com muita união e trabalho

“Guabiruba tem 36 anos a menos do que eu”. Essa afirmação foi feita por Claudia Fischer Carminatti (96) na tarde de 12 de abril, em sua casa no bairro São Pedro. “Já tinha minha primeira filha. Ela já fez 70 anos. Minha primeira filha é 10 anos mais velha do que a cidade e eu já sou uma velha coruja”, emenda.

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Dona Claudia conta que ela e o marido Oswaldo não acompanhavam de perto o cenário político do município, pois estavam sempre ocupados com o cultivo da terra, os afazeres com os animais, a cancha de bocha, a produção de queijinho e nata para os fregueses e, claro, os cuidados com os cinco filhos - quatro mulheres e um homem.

Oma de 12 netos e seis bisnetos, dona Claudia diz que se recorda de algumas visitas do então prefeito Carlos Boos. “Todos os prefeitos foram bons, mas ninguém nunca nos ajudou. Tudo sempre foi fruto do nosso trabalho”, afirma.

Já da vida em família, ela lembra de todos os detalhes. Quando pequena era o “xodó dos pais”, que além dela tiveram mais oito meninos e três meninas. Estudou até a quarta série e já aos 14 anos começou a trabalhar na fábrica da Büettner. Diz que em casa tinha pouco serviço e que começou a trabalhar mais depois de casar.

Ia para a escola a pé e descalça. “Naquele tempo não tinha nada. Mal tínhamos um casaquinho para colocar. Era um tempo pobre. Há 90 anos não existia nada. Mudou. Esse tempo de agora é melhor”, acredita.

Foi casada por 74 anos, até ficar viúva há cinco, quando em suas palavras, o marido teve uma morte bonita. “Tava na cama um pouco doentinho. Não chegou a ir para o hospital. Ele estava nesse quarto mais perto da cozinha. Eu fiquei em pé na frente dele, que se virou para mim e deu uma risada. Pensei, nossa está ficando bem melhor. Então, ele se virou e morreu”, relata.

“Meu Deus do Céu! Parece que aquilo eu vejo sempre na frente dos meus olhos. Eu chorava muito. Ele era um querido. Uma pessoa boa. Nunca ofendeu ninguém. Ele gostava de ver gente. Se alguém reclamava que estava com fome ele vinha aqui e dizia: Cláudia faz um prato de comida para este homem”, recorda.

Dona Claudia conta que ela e o marido se conheceram no casamento de uns primos. “Ele olhou um pouco para mim. Eu olhei um pouco para ele”, diverte-se ela, enquanto mostra a foto do casamento dos dois na Igreja Matriz de Brusque, guardada com outras lembranças em uma caixa de sapato. O vestido de noiva foi costurado por uma das irmãs.

A aposentada se orgulha de ter construído uma família unida. Diz que todos ganharam um “pedação de terra” e ficaram contentes. Fala das visitas frequentes que recebe dos familiares, já que mora com uma cuidadora.

Dona Claudia também destaca a saudade das duas netas, Bárbara e Ana, que moram na Alemanha. O sentimento só não é maior do que o sentido quando uma das filhas foi morar no país, há vários anos. “Naquele tempo não tinha telefone. Esperava uma carta uma vez por mês. Eu sou uma pessoa muito mole. Eu rezava para esquecer um pouquinho e com tanto serviço que tinha, às vezes, até conseguia”, diz.

Ela também lembra dos tempos em que acordava por volta das 4h para trabalhar na roça, sem deixar para trás os afazeres da casa. “Eu cozinhava sempre para a família toda. Matava um franguinho na mesma hora que fazia, porque não tinha geladeira. Também não tinha gás, era tudo no fogão a lenha. Macarrão eu também fazia na hora. Esticava com uma garrafa”, detalha.

Ao contar sobre o cuidado dos filhos e netos, dona Claudia transborda amor e saudade pelos olhos claros. É pura emoção!

Ela não teve tempo de ver sua entrevista impressa nesta edição. Lúcida até os últimos momentos, se despediu da família no primeiro dia do mês de maio. Agora, ela é quem deixa saudades.