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Carlos Boos e Guabiruba em dois momentos

De bairro de Brusque a cidade emancipada. Conheça a história do sonho que virou realidade

Por Juscelino Carlos Boos (neto do ex-prefeito Carlos Boos)

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Tão logo fui convidado para escrever algumas linhas sobre a nossa querida Guabiruba, me vi na obrigação de nelas incluir a pessoa de Carlos Boos e dividir esta linda história em dois momentos distintos: num primeiro momento, farei um apanhado da situação de Guabiruba na qualidade de simples bairro do município de Brusque e, num segundo, a abordagem versará sobre a emancipação e as consequências daí originadas.

Como ainda acontece com certa frequência, os mandatários municipais não davam muita importância aos seus bairros. Com Guabiruba, não foi nada diferente. Ruas em péssimas condições, pontes por construir e reformar, ruas por serem abertas, rede elétrica insuficiente que só chegava ao centro de Guabiruba, mesmo assim de forma precária, sem serviço telefônico e outras tantas melhorias que já eram reivindicadas pela comunidade local a qual sequer era ouvida.

Descontente com toda esta situação, o professor Carlos Boos, pessoa muito atuante em sua comunidade, morador da localidade de Guabiruba Norte Alta, hoje Bairro Aymoré, empreende- dor no ramo de fecularias, olarias e alambiques e sócio fundador da Cooperativa de Consumo dos Agrários do Município de Brusque, com sede no centro de Guabiruba, ainda na década de 1940, resolve tentar mudar toda esta situação de penúria pela qual passava sua amada Guabiruba.

Para que efetivamente houvesse alguma alteração no cenário Guabirubense, ele se envolve na política buscando uma vaga para vereador. Contando com o apoio maciço dos moradores de Guabiruba, Carlos Boos é eleito pela primeira vez como vereador de Brusque, cuja eleição ocorreu no dia 23 de novembro de 1947, obtendo 449 votos. Em 3 de outubro de 1950, foi eleito pela segunda vez como vereador obtendo na oportunidade 368 votos.

Na sua terceira eleição, ocorrida em 3 de outubro de 1954, 322 eleitores o reelegeram. Houve ainda uma quarta eleição ocorrida em 1958, oportunidade em que novamente foi reeleito com 483 votos. Foram ao todo quatro legislaturas como vereador, onde Carlos Boos sempre participou das mesas diretoras e, em 1960, ano do Centenário de Brusque, foi o presidente da Câmara de Vereadores.

Enquanto vereador de Brusque, Carlos Boos sempre procurou resolver os problemas que encontrava no dia a dia em Guabiruba e também em Brusque, fato facilmente constatado nos anais da Câmara Municipal onde estão registrados seus pleitos, lembrando que grande parte do acervo da Câmara foi destruída pelas enchentes ocorridas em diversas oportunidades.

Mas, Carlos Boos com sua visão futurista, não se conteve em apenas ser vereador de Brusque. Ele buscava algo maior para a sua Guabiruba. Desde que chegou à vereança, não escondeu de ninguém que seu objetivo maior era buscar a emancipação de Guabiruba, chegando a ser chamado de “louco”, ainda mais que, muitos dos vereadores de Brusque e até mesmo moradores de Guabiruba com certo status, eram radicalmente contra este pleito, já que não vislumbravam nenhum futuro para a Guabiruba emancipada.

Todo este pessimismo em relação à emancipação de Guabiruba, em nada fez Carlos Boos desistir do seu objetivo. Ao contrário, ele foi buscando o apoio de alguns vereadores mais ligados a sua pessoa, até que, seu nome surge para ser candidato a Prefeito Municipal de Brusque, servindo como o “fiel da balança” nas eleições de 3 de outubro de 1960, isso porque, a UDN de Cyro Gevaerd precisava que o PSD de Carlos Boos lançasse candidato próprio para poder vencer as eleições. Mas, como isso não aconteceu, já que o PSD se aliou ao PTB, seguindo orientação nacional do partido, os políticos da UDN convenceram Carlos Boos a se candidatar pelo PRP (Partido da Representação Popular) vislumbrando com seus votos ajudar na vitória de Cyro Gevaerd, mas para isso, segundo os comentários, ele deveria obter mais de 2 mil votos.

Chamado de candidato do povo, obteve 2.481 votos, enquanto que Cyro se elegeu com cerca de 4.200. Destaque-se que, a participação de Carlos Boos naquela eleição, não só foi muito desejada pelo candidato Cyro Gevaerd, mas também foi muito bem recebida pelo candidato Francisco Roberto Dall’Igna do PTB. Prova disso, é que os dois apoiaram o projeto de emancipação de Guabiruba e Botuverá, proposto por Carlos Boos, inclusive o vereador Francisco Roberto Dall’Igna votou favoravelmente pela emancipação.

Encerradas as eleições municipais de 1960, Carlos Boos volta a falar da emancipação de Guabiruba e cobrar o que lhe fora prometido. Após diversas tratativas, em 28 de dezembro de 1961, o ainda vereador Carlos Boos e o vereador João Baptista Martins apresentam o Projeto-Lei 533 que cria os municípios de Guabiruba e de Botuverá.

Após muita discussão no plenário da Câmara Municipal de Brusque, em sessão solene realizada em 28 de abril de 1962 foram emancipados os municípios de Guabiruba e Botuverá com o voto minerva (voto de desempate) do vereador João Baptista Martins, presidente da Câmara de Vereadores. O projeto aprovado pelos legisladores foi encaminhado à Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, que ratificou a decisão da Câmara Municipal de Brusque, através da Lei Promulgada nº 821 de 7 de maio de 1962. O sonho de Carlos Boos finalmente se concretizou sendo motivo de muitas comemorações no ainda bairro Guabiruba. Pois bem, agora Guabiruba não é mais um simples bairro de Brusque, mas município. Alguns desafios, como: onde vai ser a prefeitura? Quem será seu prefeito provisório? Quem participará das eleições municipais como prefeito e vereador que ocorrerá em outubro de 1962? Questões que precisavam ser resolvidas imediatamente, já que a instalação do município estava programada para o dia 10 de junho de 1962, ou seja, praticamente um mês depois. Como Carlos Boos foi vereador em Brusque, por quatro legislaturas, o natural seria ele ser indicado como prefeito provisório, contudo, não era esta sua intenção.

Primeiro prefeito eleito

O seu desejo maior era novamente participar de mais uma eleição, não de uma eleição como as outras, mas sim, de uma eleição muito especial para ele, a primeira eleição para Prefeito do Município de Guabiruba. Seu desejo, era ver o povo de Guabiruba novamente votando na sua pessoa, não mais como vereador de Brusque, mas sim, como candidato ao cargo maior do novo município que, graças ao seu projeto de lei, foi emancipado.

Respeitada a sua vontade foi formada uma comissão composta de várias pessoas influentes de Guabiruba, para que fosse escolhido o nome de quem iria governar a cidade de 10 de junho de 1962 até 31 de janeiro de 1963, quando assumiria o prefeito eleito. Esta Comissão, presidida por Carlos Boos, escolheu o nome do Sr. Henrique Dirschnabel como Prefeito Provisório, bem como, foi escolhida a casa do Sr. Léo Kormann como sede da primeira Prefeitura de Guabiruba e ainda, escolhidos alguns nomes para ocuparem os cargos de Delegado de Polícia, da Escrivania de Paz, da Coletoria e outros. Também, nomes para concorrerem ao cargo de Vereador. A primeira eleição municipal de Guabiruba ocorreu no dia 7 de outubro de 1962, tendo como candidatos Carlos Boos, Arcênio Wippel e Aniberto Kohler. Na oportunidade, Carlos Boos foi eleito com 833 votos, alcançando mais de 51% dos 1620 votos válidos.

Ao assumir a prefeitura em 31 de janeiro de 1963, o novo Prefeito encontrou um cenário, como já esperado, com muitas dificuldades, como por exemplo, a falta de maquinário (caminhões caçambas, patrola e outros). Mas isso não foi motivo para desânimo, ao contrário, foi feita a contratação de um caminhão particular e de funcionários visando de imediato restaurar as estradas do município. Tratativas foram ocorrendo perante o Governo do Estado visando o recebimento de recursos materiais e financeiros, já que até então, quase nada se arrecadava, mas as despesas estavam acontecendo.

Graças a amizade que Carlos Boos teve com o Governador Ivo Silveira, muita coisa mudou em Guabiruba, como as inaugurações das redes de energia elétrica nos bairros Aymoré, Guabiruba Sul e São Pedro. A abertura de novas estradas como a atual rua Antônio Fischer (travessia Gandolfi, que liga o centro ao bairro São Pedro), a travessia entre os bairros Aymoré e Pomerânia (atual rua Vereador Wilson Antônio Gums) dentre outras.

Aos poucos, Guabiruba ia tomando ares de cidade, claro que ainda dependia muito de Brusque, principalmente dos empregos nas empresas centenárias e do comércio. Porém, este cenário, com o passar dos anos foi mudando e hoje, muitas pessoas que moram em Brusque, trabalham nas empresas de Guabiruba, que cresce a cada dia, principalmente no setor de malhas com inúmeras empresas, a maioria de propriedade de guabirubenses.

Claro que Carlos Boos não foi o único responsável por todo este crescimento e riqueza gerada no nosso município. Os prefeitos que o sucederam, os empresários e a população em geral, também deram sua contribuição neste sentido, mas com certeza, a persistência dele em emancipar Guabiruba, foi imprescindível para que acontecesse o que estamos vivenciando na atualidade.

Para reflexão de todos, fica a pergunta: O que seria da nossa querida Guabiruba se ela ainda fosse um bairro de Brusque?

Parabéns Guabiruba. Parabéns a todos os guabirubenses e aos que adotaram Guabiruba como sua cidade, pelos 60 anos de emancipação político-administrativa.

Guabiruba, ontem um sonho e hoje uma realidade.