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Cariocas fazem aulas de rabalogia: “o primeiro passo é se lembrar que você é uma grande gostosa” Nos treinos de rabalogia, o som é funk 150bpm e o foco é mexer o bumbum. As aulas fazem sucesso no Rio de Janeiro e as adeptas (quase todas mulheres) têm diferentes motivações: fazer um exercício diferente, ganhar autoconfiança com o próprio corpo, mandar bem nas festas, se soltar na hora do sexo ou “só mexer a raba mesmo”, como disse uma das alunas à repórter Elisa Soupin, do portal G1. A carioca Greca Ariel, de 22 anos, lançou seu projeto Rabalogia no início da pandemia e as aulas acontecem on-line. Para ela, o rebolado está muito além de ser um mero passo de dança: “O rebolado tem muitos significados. Existe a sensualidade, a libido, mas também tem a ver com celebração e a resistência. Muitas meninas procuram a aula porque querem se soltar, se sentirem mais à vontade, terem mais intimidade consigo mesmas e com o próprio corpo. Rebolar tem uma capacidade de potencializar isso, está em um lugar muito profundo”. A professora Jéssica Queiroz, que dá aulas presenciais no projeto Corpo Solto, concorda: “Essa aula é uma terapia, uma forma de você quebrar os tabus com seu corpo, inclusive na questão do desempenho sexual. É sobre dominar o movimento e sentir como pode funcionar em você”, afirma. A jornalista Elisa Soupin entrevistou também Taísa Machado, do AfroFunk Rio, e perguntou o que ela quer dizer quando afirma que “tem que colocar marra” na hora que está dançando: “Bom, o primeiro passo é se lembrar que você, com o seu corpo, é uma grande gostosa. A segunda é uma dica mais prática: abre o peitoral. A terceira é: olha por cima do ombro, do jeito que as antigas do samba ensinaram. Então você está lá, sendo uma grande gostosa, com peitoral aberto e olhando por cima do ombro”, explicou.

Apesar do tom brincalhão, para Taísa a dança funk é uma significante ferramenta de empoderamento: “Olhando para o passado do Brasil percebemos que os povos originários entendiam a dança como linguagem formadora de cidadania e não um mero entretenimento. Em diversas culturas indígenas, assim como a de muitos povos africanos trazidos para o Brasil, a dança faz parte do cotidiano político e filosófico da comunidade, seja para rituais fúnebres, para louvar aos deuses, ou para casamentos e outros ritos de passagem do cidadão pela vida. É importante ressaltar também que esses povos tinham um entendimento sobre sexualidade e corporeidade diferente da ética católica vigente no mundo ocidental branco”, escreveu a atriz e dançarina em um artigo publicado no portal medium.com.

Crianças são repreendidas em Portugal quando falam “brasileiro” na escola “Falar ‘brasileiro’ virou moda entre as crianças portuguesas, que gostam de imitar youtubers famosos. Mas os alunos têm sofrido represálias dos professores nas escolas de Portugal, onde há cada vez mais relatos de discriminação, xenofobia e conflitos em salas de aula devido à intolerância com a diversidade da língua portuguesa”, informa o jornalista Gian Amato, que assina a coluna Portugal Giro, publicada no jornal O Globo. Ele afirma que os exemplos de discriminação são muitos: “Começam no ensino básico

e acompanham a trajetória do aluno brasileiro até a universidade”. Como exemplo, ele cita o caso de uma aluna brasileira que diz ter sido repreendida em sala de aula porque não pronunciou uma consoante com a entonação que um professor achava correta. Amato cita também o depoimento de um pai carioca que vive em Portugal: “A filha de uma conhecida se esforça para falar como a gente, passa o dia todo vendo os vídeos no YouTube. O pai briga dizendo que ela não é

brasileira e ela chora. Eles adoram imitar o que dizemos, até mesmo comigo no trabalho. Mas na escola tem que ter a pronúncia correta. Os educadores aos poucos vão moldando os alunos brasileiros para entrarem no ritmo, tipo: pronomes depois do verbo, como amo-te”. O pai conta também que sua própria filha, uma menina de quatro anos, passou a reproduzir o que aprende na escola e agora corrige a família em casa quando ele ou a esposa falam da forma brasileira: “Ela deve ouvir na escola e corrige a gente. E também tem o sarcasmo de ficar dizendo ‘tô falando brasilêro’. Semana passada, ela disse que entrou um amiguinho novo na escola e que fala brasileiro”. Leros DEZEMBRO 2021

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