REVISTA IHGM 38 - SETEMBRO 2011 - SEMINÁRIO I

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Domingos Vieira Filho na década de 50 do século XX, escreveu algo tão notável e precoce para seu tempo, em relação ao prestígio dos irmãos de pele de João do Vale. No livro “Folclore Sempre”, Vieira Filho, professor de geografia humana, comenta que em São Luís do Maranhão os brancos aceitam sem reserva a competição do negro e sua consequente ascensão social. Em Serra encontra-se a mesma elegância física, mental e literária de Vieira. Domingos tanto fez pela cultura do Maranhão, que sua atuação fez surgir a Secretaria de Estado da Cultura, sucessora ampliada dos órgãos culturais que dirigiu. Em seus escritos ele cita autores de muitos países e dá sempre a etimologia dos fatos que estuda e não apenas dos nomes. Dizem que o semblante reflete a pessoa. Os títulos dos livros são como os semblantes dos escritores, revelando sua alma. É notável o fato de Serra ter titulado dois de seus livros assim: “Epicédio à morte de Odorico Mendes” e “A Capangada”. Capangada é um termo bastante popular, e epicédio é uma flor erudita do vocabulário, usada para designar uma ode fúnebre. Em outros livros como “Um coração de mulher” e “Os melros brancos” vemos que o mesmo Joaquim Serra que foi um enamorado, um apaixonado, vergastava com classe os espertalhões e finórios como podemos observar no uso e no sentido do termo melro. Pietro de Castellamare era um de seus pseudônimos, o que revelava seu espírito jocoso e internacional. Traduziu muitos poetas franceses e praticava verdadeira exegese, pois não se cingia à tradução literal; muitas vezes usava expressões um pouco diferentes do original, para ser mais fiel ao pensamento do autor. Algo como, traduzindo o português de Portugal para o brasileiro, a melhor versão de “Rapariga”, seria “moça donzela”. Joaquim Serra nasceu quando espocou a Revolta da Balaiada, pouco antes de ser declarada a maioridade de Dom Pedro II. Como se sabe, Serra traduzia fluentemente do francês, conhecia o alemão, sabia latim, usou um pseudônimo italiano, estava por dentro de toda a etimologia grega de nossa língua culta e bela. Em São Luís era comum ouvirem-se pelas ruas e praças conversas em grego, latim, francês e alemão. Em sua fazenda de Itapecuru, Gomes de Sousa lia Goethe, no original. Sousândrade ensinava grego. Sotero era exímio em línguas. Assim se explica porque Joaquim Serra possui um estilo tão atávico, um pensamento tão claro, uma pedagogia tão didática no escrever, conversar, planejar e agir. Explica-se muito mais: porque aquela São Luis era chamada de Atenas Brasileira. Meus caros amigos, Estou muito feliz, honrado e emocionado. Vivo um momento importante em minha vida, um momento muito gratificante, pois a geografia sempre me fascinou e a história sempre foi o meu maior fator de aprendizado para a vida.


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