VOLUME 14 POESIA MARANHENSE/LUDOVICENSE: OS POETAS ESQUECIDOS – 1972 - 1990

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VOLUME 14 POESIA MARANHENSE/LUDOVICENSE: OS POETAS ESQUECIDOS –1972 - 1990 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SÃO LUIS – MARANHÃO 2024

POESIA MARANHENSE/LUDOVICENSE:

OS POETAS ESQUECIDOS –

1972 – 19901

Rodrigues (2008) 2 afirma com base em Ortega y Gasset e Julian Mariais, que as gerações literárias compreenderiam, grosso modo, um período de 15 anos. Esta seria a escala.

Nos anos 50/60, Cruz (Machado) (2006) 3 refere-se à Galeria dos Livros, do emblemático Antonio Neves, onde eram lançados os livros, nas famosas noites de autógrafos. Era Arlete Cruz quem organizava as ‘noitadas’, distribuindo os convites, o coquetel, no espaço cedido, sem custos, para aqueles então jovens literatos, artistas, intelectuais:

Formávamos, assim, um grupo de artistas, ou de pessoas ligadas à arte, com várias tendências e gerações, não chegando a se constituir um movimento organizado (nem sequer éramos da Academia Maranhense de Letras, excetuando-se um ou dois), com alguns mais participativos do que outros, mas todos amigos: Bernardo Almeida, José Chagas, Antonio Almeida, Nauro Machado, João Mohana, Carlos Cunha, Paulo Moraes, Venúsia Neiva, Luiz de Mello, Bandeira Tribuzzi, Manoel Lopes, Fernando Moreira, Henrique Augusto Moreira Lima, Olga Mohana, Ubiratan Teixeira, Bernardo Tajra, Déo Silva, Lourdinha Lauande,, Murilo Ferreira, Sérgio Brito, Reynaldo Faray, José Frazão, Maia Ramos, José Maria Nascimento, Jorge Nascimento, Helena Barros, Antonio Garcez, Fernando Braga, Moema Neves, José Caldeira, Erasmo Dias, Reginaldo Telles, José Martins, Yedo Saldanha, Domingos Vieira Filho, Lucinda dos Santos, Márcia Queiroz minha mãe Enói, que me acompanhava sempre), Dagmar Desterro, Mário Meireles, Nascimento Morais Filho, e José Sarney [...] alguns mais tarde se juntariam a nós, como Pedro Paiva, e Ambrósio Amorim (ambos de volta a São Luis), Chagas Val, Virginia Rayol, Alberico Carneiro, Lucia e Leda Nascimento, Othelino Filho, Aldir Dantas, Carlos Nina, Péricles Rocha, José de Jesus Santos, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Lenita de Sá, Luiz Carlos Santos, Nagy Lajos, Aurora da Graça,, dentre outros. (p. 97).

É nesta mesma época que aparece o Suplemento Literário do Jornal do Maranhão – por um período dirigido por Arlete Cruz (Machado) -, um semanário da Arquidiocese dirigido por José Ribamar Nascimento. Nas manhãsdesábadoreuniam-setodosporlá,agregando-seaogrupoJoséCarlosSousaeSilva,JamersonLemos, Lima Filho, Fernando Nascimento Moraes e Orlandex.

Surge o Plano Editorial SECMAi e o Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”ii, com objetivo de incentivar a produção intelectual e literária de alto nível do Maranhão. Para Leão (2008) 4, os novos nomes revelados pelos concursos literários “Gonçalves Dias” e “Cidade de São Luís”: [...] vêm confirmar mais uma vez esta respeitada tradição, com obras que revelam, além do talento de seus autores, originalidade e competência intelectual acima da média, corroborando um novo quadro de escritores dignos desse título e dos mestres que os inspiram e guiam. A classificação de novíssimos escritores como Bioque Mesito, Bruno Azevedo, Igor Nascimento, Josoaldo Lima Rego, José Marcelo Silveira, Márcio Coutinho, Gilmar Pereira da Silva, Wilson Marques de Oliveira, Francisco Inaldo Lima Lisboa, Wilson de Oliveira Costa Dias, Felipe Magno Silva Pires, entre outros que já vinham traçando a sua trajetória literária há algum tempo, como Geraldo Iensen, Lenita Estrela de Sá, além deste cronista, inclusos alguns escritores com obras já sedimentadas – Fernando Braga, Chagas Val, Jomar Moraes, Herbert de Jesus Santos, entre outros.

1 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_antologia_ludovicense_gera__o_30

2 RODRIGUES, Geraldo Pinto. A Geração de 45 na poesia brasileira. In POETA POR POETA. São Paulo, Marideni, 2008, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/geracao_de_45_na_poesia_brasileira.html , acessado em 09 de março de 2014

3 CRUZ (MACHADO), Arlete Nogueira da. SAL E SOL. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

4 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

O Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, foi criado em 1955 por lei municipal, mas realizado somente a partir de 1974 pela Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FUNC).

Silva (2013) 5 ao analisar os espaços de publicação, afirma que estes recebem tratamento de lugares (lieux), no sentido empregado por Eliana Reis (2001) 6, como espaços de “expressão oficial dos grupos” e de criação de laços de identificação, vínculos afetivos e sociais entre os agentes (milieu) - “Lieux du Milieux”.

Estes lugares apresentam-se, portanto, como fontes privilegiadas para a análise do trabalho de construção da memória dos agentes e grupos que por eles ligavam-se, afirmavam-se e se distinguiam por coalizões distintas:

Para Borges,Abreu, Garrone e Chalvisnki (2016, os editores daAntologia daAkademia dos Parias) 7

A poesia produzida no Maranhão até o final dos anos 1940 permaneceu presa a uma linguagem do final do século 19, predominantemente parnasiana. Foi o poeta Bandeira Tribuzi, voltando de Portugal onde fora seminarista, quem trouxe para São Luís, em 1947, algo do modernismo português de Fernando Pessoa e Almada Negreiros, além de poetas brasileiros da Semana de Arte Moderna de 22, principalmente Mario de Andrade e Manuel Bandeira.

Ainda assim, os escritores que começaram a escrever nos anos 1950 na capital maranhense foram muito mais influenciados pela Geração de 45, cuja proposta era combater os ‘excessos’ do modernismo brasileiro. Salvo algumas exceções, somente no começo da década de 1970, com o movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Vieirato Gaspar, Valdelino Cécio e Raimundo Fontenele, entre outros), a poesia maranhense liberta-se da estética do soneto e se aproxima do lirismo, da ironia e do verso livre da escola modernista.

Os anos 70/80, aqui (no Maranhão) convencionados Geração Luís Augusto Cassas:

[...] abrem-se com o poeta Jorge Nascimento (1931), continuando com Arlete Nogueira (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Cunha Santos Filho (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954), Adailton Medeiros (1938)... Este último, tendo participação confirmada na vanguarda Práxis, no eixo Rio/São Paulo, sob a liderança de Mário Chamie. (Corrêa,2010) 8

O Movimento “Antroponáutica” nasceu no Liceu9 entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)10; segundo Jomar Moraes o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)11. Dinacy Corrêa (2010) 12 diz ser integrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem naantologiadocitadomovimento: Luís AugustoCassas(1953),Chagas Val (1948), Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952). Tanto Dinacy quando Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê” 13 , – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80.

5 SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014

6 REIS, Eliana T. dos. JUVENTUDE, INTELECTUALIDADE E POLÍTICA: ESPAÇOS DE ATUAÇÃO E REPERTÓRIOS DE MOBILIZAÇÃO NO MDB GAÚCHO DOS ANOS 70. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, UFRGS, 2001 citada por SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014

7 BORGES, Celso; ABREU, Fernando; GARRONE, Raimundo; CHALVINSKI, Marcelo. AKADEMIA DOS PÁRIAS: A POESIA ATRAVESSA A RUA. Teresina: Halley, 2016.

8 CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf

9 Escolafundadaem1838, hojeCentro deEnsinoMédio “Liceu Maranhense”,ondeSoterodos Reis foiprimeiro diretor eprofessor.

10 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de Educação e Cultura, s.d.

11 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994.

12 CORRÊA, 2010, obra citada

13 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84.

HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008

ParaMesito14,aantologiaHoradeGuarnicê,dos anos70,correspondeaumageraçãomuitoboaequeprojetou nomes como Chagas Val, Valdelino Cécio, Rossini Corrêa, Raimundo Fontenele e LuísAugusto Cassas. Aliteraturadisponívellistaos várioscomponentes dessesdiversos movimentos. Em contatocom alguns deles, afirmam que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas - e Lenita Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao “Antroponáutica”...

Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014) 15, assim se coloca:

Não participei, a rigor, de movimentos literários formais em São Luís do Maranhão. Se se conceber a ideia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência, sim, participei, posto que sempre fui um agregador e transformei a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração. Não era a única, porém, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa.

Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia.

Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo.

Em outro contato, Corrêa 16confirma:

[...] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Comprovação da sua existência se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica.

Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas.

Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não posso deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar.

[como você vê esse(s) movimento(s)? percebe-se que vocês participaram de vários desses, a partir dos anos 70... o que significou e por que naquele cadinho, surgiram tantos movimentos tentando revitalizar a literatura/poesia de São Luís? qual a efetiva participação de vocês?]

14 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm

15 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014.

16 CORRÊA, Rossini. CORRESPONDENCIA ELETRONICA, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 20 de maio de 2014.

Na minha compreensão, mais ou menos formais, pouco se me deu, pouco se me dá, os movimentos foram os acontecimentos reais, que alimentaram vocações e permitiram que a fidelidade à causa da cultura sobrevivesse no cenário da história do Maranhão.

A nossa efetiva participação era simplesmente total. Estávamos congraçados e arrebanhados, como sugeria Bandeira Tribuzzi – ‘mantenham-se arrebanhados’ – e assim permanecemos até que cada um passasse a escrever de maneira singular o seu destino intelectual

Deste cadinho de gente surgiram nomes como os de Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, César Teixeira, Josias Sobrinho, Cyro Falcão, Edmilson Costa, Ribamar Corrêa e outros mais, cujas pegadas deixaram marca na areia, na poesia, na música, na pintura, no jornalismo e nas ciências humanas.

A nossa participação era total, porque a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’.

Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neoromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994) 17. São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968).

Concordamos quesedevaser acrescentadanessafaseo grupodo Guarnicê, “nascidos” em 1982, tendocomo participesJoaquimHaickeljuntocomCelsoBorges,ecoadjuvados porRobertoKenard,IvanSarney,Ronaldo Braga, e Nagibinho (irmão de Joaquim), que produziam e apresentavam o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Rádio Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense, se servindo do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense (VAZ, 2011)18; chegaram a publicar uma Revista – Guarnicê.

Seria uma 10ª fase?

A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração acima 19 [a anterior], aponta, em seu Nomes e Nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível

17 ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994

18 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DISCURSO DE RECEPÇÃO A JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL, Cadeira 47. Proferido em 13 de Setembro de 2011. Revista do IHGM, no. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 47, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011

19 [Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidianosocialatravessadopelacontestaçãopoética(Gullar,Tribuzi).Some-seaessesnomes,odeLagoBurnet,DéoSilva,José Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de Mello e outros.] IN http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400 os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm

de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica. (In GUERRA ERRANTE, 2012) 20 .

Sobre o Guarnicê, buscamos tanto em Haickel (2014) 21:

“Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente” , quanto em Corrêa (2014) 22, a explicação necessária sobre esse “movimento”:

Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, João Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno. Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu).

Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado de poemas de Edmilson Costa despertou o 'interesse literário' da Polícia Federal do Maranhão.

O programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estreia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal,seuultimo numero23.Eteveem seunúcleonão mais quecincopessoas – Joaquim Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília.

“Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) 24 . Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento Antroponáutica:

Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponáutica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino

20 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400 os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm

21 HAICKEL, Joaquim. Em Correspondência pessoal a Vaz, Leopoldo, em 11/03/2014: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é de do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”.

22 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014.

23 BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003.

24 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003.

Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira.

1984 surge a Antologia Guarnicê, para comemorar o primeiro ano do Suplemento/Revista. Reúne 25 poetas e 60 poemas. De Antonio Carlos Alvim a Wanda Cristina; de Cesar Teixeira a Wagner Alhadef; Francisco Tribuzi a Paulo Melo Souza. Recebe capa e ilustrações de Erico Junqueira Ayres e a seleção dos poemas fica a cargo de Celso Borges e Joaquim Haickel. Nauro Machado, no Caderno Alternativo, publica uma critica implacável à Antologia Guarnicê, que segundo ele, os poemas ali editados representavam “um simples ódio contra o sistema ou a vida”, com a média beirando a “entronização de um compromisso que se pretendendo político consegue apenas baratear a Arte como um produto também cultural”. Recomenda que os poetas se submetam à orientação de alguém experimentado. Não tarda a resposta, dada por Celso e Joaquim... No ano seguinte, a Antologia Erótica Guarnicê. No dizer de Roberto Kenard, o Guarnicê nunca chegou a ser um movimento. Era tão somente uma publicação.

Lima (2003) 25 afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE –Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson Brito, Aldo Leite, e muitos outros.

Em setembro de1974,surgeo jornal A Ilha, criado porPaulo Detoni,Luis CarlosJatobá eJoãoGonzaga Ribeiro, circulando até abril de 1977. Entre seus redatores e colaboradores Fernando Moreira, Jomar Moraes, Cesar Teixeira, Clerton Araujo, Edson Vidigal, Cícero da Hora, Nonato Mota Coelho, Cosme Junior, José Chagas, Antonio Carlos Lima, Nilson Amorim, Josemar Pinheiro, Carlos Andrade, Gerd Pflueger, Roldão Lima e Rogério Araujo. Voltado para assuntos de literatura, cinema, turismo e artes plásticas.

Os membros desses diversos movimentos são identificados, também, como a Geração Mimeógrafo, iniciada pelo poeta Ribamar Feitosa – natural de Parnaíba-PI -; com o nome de José Rimarvi publica, em 1969, o livro Planície quase minha, impresso no SIOGE. Em 1978, lança – em parceria com José Maria Medeiros – o livro Jo-Zé, datilografado em estêncil e rodado em mimeografo. Depois de alguns lançamentos nesse mesmo formato, e ao lado de poetas estudantes da UFMA, já em 1979, cria a revista Vivência, porta-estandarte do movimento Arte e Vivência, e como integrantes, além do próprio Feitosa, Celso Borges, Antonio José Gomes, JoséMariaMedeiros, Robson Coral, RitadeCássiaOliveira,Nonato Pudim,IvanhoéLeal, Luis Carlos Cintra, Euclides Moreira Neto, Cunha Santos Filho, Kiko Consulim.

Em 1984, Feitosa aparece nas páginas da revista Guarnicê... Em suas páginas, também aparece João Ewerton, manifestando suas inquietações sobre o futuro das artes plásticas: ele é o presidente da Associação Maranhense de Artes Plásticas, onde transitam, entre os anos 1970 e 1980, Nagy Lajos, Ambrósio Amorim, Dila,Jesus Santos, Antonio Almeida,PériclesRocha,Lobato, A. Garcês, RosilanGarrido,Luiz Carlos, Airton Marinho, Ciro Falcão, Fransoufer, Marlene Barros, Rogério Martins e Tercio Borralho, utilizando-se dos mais diversos espaços para suas exposições, como o Cenarte, da Fundação Cultural do Maranhão; Galeria do Beco, de Zelinda Lima e Violeta Parga; Solar Nazeu Quadros, da UFMA; Centro de Arte Japiassu, criando em 1972 por Rosa Mochel, Fátima Frota e Péricles Rocha; Galeria Eney Santana, ateliê de Nagy Lajos, e a galeria da Caixa Econômica Federal. Da geração de artistas que se firmam nos anos 80, Miguel Veiga, Paulo Cesar, Donato, Geraldo Reis, Fernando Mendonça, Cosme Martins, Marçal Athaide.

Segundo Lima (2003), os cadernos de cultura, por essa época, ainda eram raros, embora São Luis estivesse vivendo um processo de ebulição cultural, com os seus teatros, músicos, artistas, poetas, escritores e movimentos literários. Mas, diz ele, entre as publicações e periódicos de São Luis, entre 1975 e 1980, circula o suplemento Sete Dias, no jornal O Estado do Maranhão, na coordenação Pergentino Holanda – estreara na poesia em 1972 com Existencial de agosto -, Antonio Carlos Lima e Carlos Andrade. Pelas folhas do tabloide passaram ainda José Cirilo Filho, Walter Rodrigues, Benito Neiva, Leonardo Monteiro, Ivan Sarney, Viegas Netto, Cunha Santos Filho, Evandro Sarney, Ligia Mazzeo, Carlos Cunha, Bernardo Tajra, Edison Vidigal, Dom Mota, Alex Brasil e Érico Junqueira Ayres. Américo Azevedo Neto inaugura a coluna “Cartas a Daniel”, como destinatário Daniel de La Touche. Sete Dias circulava aos domingos, como caderno de entretenimento,

25 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003

com seções deliteratura, crônicas, poesiaemusica,alémdecinema.Abrecaminhoparaos chamados cadernos de cultura do jornal, surgindo já na década de 1980 o Caderno Alternativo.

Nesses anos 1980, Josué Montello continua publicando um livro por ano e chega ao mercado literário da Europa; Lago Burnett, Francklin de Oliveira, José Louzeiro... Entre os mais fecundos, na poesia, estão José Chagas e Nauro Machado...

Ubiratan Teixeira, Américo Azevedo, Benedito Buzar, Milson Coutinho, Nonnato Masson, Manuel Lopes, Joaquim Itapary, Chagas Val, Viriato Gaspar, Lenita Estrela de Sá, Elsior Coutinho, Jorge Nascimento, Francisco Tribuzi, João Alexandre Junior, Laura Amélia Damous, Alex Brasil, José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Ariel Vieira de Moraes, Rossini Corrêa, Virginia Rayol, Herbert de Jesus Santos, Ivan Sarney e Raimundo Fontenele são outros nomes associados à produção literária dos anos 80 – alguns sob a tutela de planos editorais públicos, como o do SIOGE – conforme Lima (2013)26; e outros de maneira independente. Grande parte da produção intelectual maranhense é veiculada na revista Vagalume, editada por Alberico Carneiro.

Bioque Mesito27 respira fundo e desabafa:

Ufa! Chegamos à década de 80. O que falar dessa década se até os críticos, professores acadêmicos, literatos fecham os olhos para ela? Nós, não. A poesia das décadas de 80, 90 e início deste século vem com muita felicidade (apesar de todos os contras) honrado, com bastante autoridade, a tradição dos poetas da Cidade de Sousândrade. Sempre quando se trata da poesia dessa época, recai o conceito de poesia marginal, contra o sistema, panfletária. O que não se observa em um primeiro momento é o que de potencial tem esses poetas. Mesmo a “Akademia dos Parias” e suas performances pelos becos do CentrBruno Azevedo (2012) 28 ao referir-se à revista/editora Pitomba, criada por ele, Celso Borges, e Rouben da Cunha Rocha assim se posiciona:

A Pitomba é uma forma positiva de recusa à calhordice geral, ao amadorismo da oficialidade, devolvendo a ofensa na forma de livros ofensivos, porque ousamos achar que o livro é um troço importante, Maranhão, é transgressora.

Pitomba é uma revista com 44 páginas e tiragem de 500 exemplares. Sem periodicidade, privilegia a produção de artistas contemporâneos das regiões Norte-Nordeste, poetas, prosadores, artistas plásticos, músicos, ilustradores, quadrinhistas e fotógrafos de fora do centro do mapa cultural brasileiro. Editada por Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha. O projeto gráfico é de Bruno Azevêdo, com colaboração de Celso e Reuben. A revista sai com o apoio da livraria Poeme-se e do Chico Discos.

Os editores da Revista Pitomba eram: Bruno Azevêdo – escritor. Formado em História, faz mestrado em Ciências Sociais. Autor de Hemóstase (2000); A Bailarina no Espelho (2007); Breganejo Blues - novela trezoitão (2009); e Monstro Souza - romance festifud (2010). Em 2009, fundou a editora Pitomba! livros e discos; Celso Borges - poeta e jornalista, publicou 8 livros de poesia, os últimos: XXI, Música e Belle Époque, compõem a trilogiaA posição da poesia é oposição, em formato livro CD. Desenvolve projetos de poesia no palco, entre eles Poesia Dub, A Palavra Voando e Sarau Cerol; Reuben da Cunha Rocha – ensaísta, poeta e tradutor, com trabalhos publicados nas revistas Cult,Autofagia e Modo de Usar & Co. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP. Tem inédito o livro Guia prático de atentado ao Papa.

Lima (2003) faz outro registro importante do período: a coleção Documentos Maranhenses, da Academia Maranhense de Letras, idealizada por Jomar Moraes e com o apoio das ALUMAR.

“Sr. Zaratustra, ligue para 227 1712. Assunto: entrevista”. “Zaratustra ligou!”. O pedido de entrevista era do Guarnicê, publicado em dois suplementos do jornal. Zaratustra escrevia aos domingos no Jornal Pequeno e provocava polemicas com suas criticas sobre o meio artístico maranhense. Era o homem sem face da imprensa local. “Ninguém falaria comigo se eu revelasse a identidade de Zaratustra [...] assim eu posso trabalhar tranquilo”. Vinte anos depois da entrevista, a identidade vem à tona: Euclides Moreira Neto revela que

26 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003

27 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm

28 AZEVEDO, Bruno. ...PRA NÃO VOMITAR. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014

Zaratustra foi o médico Ivanildo Ewerton, ‘na maioria das vezes’. O próprio Euclides vestia a máscara, assim como a cenógrafa Nerine Lobão.

Não devemos esquecer a “Akademia dos Párias”. Lima e Outros (2003) 29 confirmam que já em 1985 Celso Borges abrira uma janela na revista Guarnicê para a Akademia dos Párias, que contava em seus quadros com Fernando Abreu, Raimundo Garrone, Ademar Danilo, Sonia Jansen, Antonio Carlos Alvim, João Carlos Raposo, Paulinho Nó Cego, Guaracy Brito Junior, Ronaldo Reis, Gisa Goiabeira, Maristela Sena, Rozendo, Henrique Bóis, entre outros.

“Bem vindos, los párias!”, os saudou Celso no lançamento da revista Uns e Outros, em 1984.

Os Párias? - Pergunta-se Félix Lima, e responde que recebem influencias variadas: de Ferreira Gullar e Mário Quintana a Lobão e Caetano; de Whitman e Drummond a Leminski e Chacal; e ainda Angela Rôrô, Elomar, Bukovski, Poe, etc. Anunciam o novo e pregam o desregramento e o anti-academiscismo. “Nenhum de nós vai à missa aos domingos”, advertem30

Para Mesito31:

É bem verdade que desse grupo [Akademia dos Párias] apenas meia-dúzia escrevia uma poesia de qualidade, séria. Os Parias foi um grupo efêmero e evaporou. Apenas três poetas desse grupo sobreviveram – Paulo Melo Souza, Celso Borges e Fernando Abreu. Este último, apesar de dois livros lançados na praça, não conseguiu empolgar, como no tempo dos Parias, atualmente, faz composições para o cantor Zeca Baleiro. Já Paulo Melo Souza e Celso Borges respiraram outras fontes e levaram a poesia por outras fronteiras. Celso Borges, sempre compromissado com a estética da palavra, em seus poemas parece chegar a gritar com a insatisfação por que passa o momento da poesia produzida no Brasil. Paulo Melo Souza é outro importante poeta dessa época e continua, entre seus poemas, buscando e aprimorando seu estilo, sem se falar que é um combatente exímio contra as politicagens que permeiam nosso Estado. Paulo Melo é um poeta antenado com as modificações do pensamento humano e da literatura.

De acordo com Pedro Sobrinho, em seu Blog32

A AKADEMIA DOS PÁRIAS – A POESIA ATRAVESSA A RUA será lançado dia 19 de maio, às 20h, na Livraria Poeme-se, na Praia Grande, com direito a recital de poesia com os integrantes da Akademia, entre eles, Fernando Abreu, Guaracy Jr, Paulo Melo Sousa, Garrone, Paulinho Nó Cego, Rezende e Celso Borges.

O que é quem são os Párias?

Nos anos 1980 uma geração de jovens poetas, em sua maioria da Universidade Federal do Maranhão, reúne-se em torno da revista Uns & Outros e formam a Akademia dos Párias. Vestem a roupa da irreverência e assumem uma linguagem que dialoga com a prosa de Charles Bukovski e John Fante, o reggae de Bob Marley e Peter Tosh, a poesia de Leminksi, o rock brasileiro e a geração marginal nascida na zona sul do Rio de Janeiro na década anterior.

Politicamente o Brasil vive a agonia da ditadura militar, o fim da censura e o surgimento da geração cocacola, conforme leitura do compositor Renato Russo (Legião Urbana), que forma, ao lado de Cazuza (Barão Vermelho) e Arnaldo Antunes (Titãs), o triunvirato do melhor da poesia nascida das letras e atitudes incorporadas ao rock e ao mundo pop daqueles anos.

Entre 1985 e 1989, principalmente, realizam recitais regados a vinho barato, catuaba e diamba, e espalham pelas ruas, becos e bares da ilha, uma dicção poética até então inédita na cidade. Akademia dos Párias: a poesia atravessa a rua reúne quase 100 poemas dos mais de 420 publicados nas oito edições da revista Uns & Outros, porta voz da Akademia. Na obra estão versos de 25 desses poetas, entre eles Ademar Danilo, Antonio Carlos Alvim, Celso Borges, Fernando Abreu, Garrone, Guaracy Brito Jr, Joe Rosa, Mara

29 LIMA, Félix Alberto, e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 ANOS 1983-2003. São Luis: Clara; Guarnicê, 2003.

30 LIMA e Outros, 2003, obra citada..

31 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm

32 PEDRO SOBRINHO, in Na Mira Pedro Sobrinho, disponível em http://www.blogsoestado.com/pedrosobrinho/2016/05/04/akademia-dos-parias-lanca-livro-dia-19-de-maio/, publicado em quarta-feira, 04 de maio de 2016.

Fernandes, Marcelo Silveira (Chalvinski), Paulinho Nó Cego, Paulo Melo Sousa, Rezende, Ronaldão, Ribamar Filho e Suzana Fernandes.

– Esta antologia não é um acerto de contas com os Párias. Há, claro, algum rigor na escolha dos poemas, mas também um olhar generoso sobre o que aquilo representou, tanto para as pessoas agentes daquela intervenção como também para o momento cultural e político que São Luís vivia – afirma o poeta Celso Borges, um dos organizadores da antologia ao lado de Fernando Abreu, Raimundo Garrone e Marcelo Chalvinski.

Segundo Garrone, boa parte dos poemas escolhidos sobreviveu esteticamente ao tempo. “Outros, em menor número, já envelheceram, mas estão presentes porque têm a cara daquela década”, diz.

Ribeiro (2016)33 em entrevista com os poetas Celso Borges e Fernando Abreu sbre o lançamento de “Akademia dos Párias: a poesia atravessa a rua”, antologia que celebra os 30 anos do movimento poético que agitou a ilha dá como::

O surgimento da Akademia dos Párias se dá no apagar das luzes da ditadura militar brasileira, que assombrou o país por 21 anos. “Coincidiu também com uma abertura gráfica, editoras como a Brasiliense começaram a publicar [Paulo] Leminski, Chacal, John Fante, [Charles] Bukowski”, lista Fabreu. “Caprichos e relaxos, Drops de abril, Pergunte ao pó, Cartas da rua e Mulheres eram bíblias, umaespécie de Pentateuco particular”,

Tanto FernandoAbreu revela ser de São Luís, embora criado em Grajaú:

[...] foi estudar piano. A Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo funcionava ao lado de sua casa, na Rua da Saavedra, no Centro da cidade, o que gerou uma pergunta de um desconfiado Gilles Lacroix, então professor do instrumento na instituição: “mas é só por isso que você quer estudar piano?”, referindo-se ao fato de ele morar perto da escola. “Não. Quero estudar piano por que quero ser músico”, respondeu.

Foi por pouco: Fabreu, como hoje o jornalista e poeta é conhecido pelos amigos mais íntimos e leitores em geral, não tinha, no entanto, piano em casa, para as lições Olga Mohana, então diretora da EMEM, orientou-o a procurar dona Maria Eugênia Borges, que morava na Rua da Paz, também no Centro, e tinha um piano em casa. Era a mãe do poeta Celso Borges Fabreu tinha por volta de 14 anos e CB estava às voltas com o lançamento de Cantanto [ed. do autor], sua estreia na poesia, de 1981.

“Uma amizade atávica”, exclama Fabreu, para lembrar-se, logo depois, de que o avô de Celso ajudara seu pai a se estabelecer em São Luís. “Ele ficou anos ocupando um imóvel, sem pagar aluguel. Com a barbearia custeou seu curso de odontologia, depois pagou os aluguéis, mas nada teria acontecido sem aquela força”, agradeceu.

As lembranças vão se emendando umas às outras como cigarros acesos nas baganas dos anteriores, embora ninguém fume durante a entrevista regada a água e coca-cola. No Cafofo da Tia Dica, detrás da Livraria Poeme-se, na Praia Grande, converso com os poetas sobre os 30 anos que a Akademia dos Párias, movimento integrado por eles nas décadas de 1980 e 90, completa em 2016, e que será comemorado com o lançamento da antologia Akademia dos Párias: a poesia atravessa a rua

“Eu sou mais ou menos seis anos mais velho que toda a turma”, revela Celso, à época já formado em jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) – onde grande parte dos párias se encontrou, principalmente nos corredores do curso de Comunicação Social –, pai de família e com carteira assinada no Sistema Mirante de Comunicação. “Eu tinha completa liberdade na rádio [Mirante FM, inaugurada há pouco], levei Ademar Danilo [jornalista e dj] para fazer o Reggae Night, ele já tinha um conhecimento fabuloso do ritmo”, lembra.

“A gente ouvia Bob Marley, Peter Tosh, Jimmy Cliff. Foi através de Ademar que começamos a ouvir outros nomes da Jamaica”, enumera Fabreu. “O estúdio era pequenininho, mas uma vez Celso levou a galera lá, botou a gente sentado no chão, crivou de perguntas e publicou uma entrevista”, conta. O papo saiu na Guarnicê, que era um encarte do jornal O Estado do Maranhão – depois a revista circularia de forma independente –, editada por Celso com Roberto Kenard e Joaquim Haickel.

“Outro cara importante foi Ronaldão. Era um cara versado em Bob Dylan, Kraftwerk, Pink Floyd. Encarnou um personagem, sumiu. Ninguém sabe por onde anda. A última vez que eu falei com ele, ao

33 RIBEIRO, Zema. UMA AMIZADE ATÁVIDA. In JP TURISMO, São Luis, sexta-feira, 6 de maio de 2016. Disponível em https://zemaribeiro.wordpress.com/

telefone, foi em 1997. Guaracy [Brito Jr.] também já sacava muito de música, Joy Division”, Celso lista outros autores de poemas que estarão na antologia.

ACERTO DE CONTAS, de Rezende.

A revista Uns & Outros atrai discípulos e chega à marca de oito edições temáticas, com a ultima circulando em 1995.

Ao mesmo tempo, 1985, surge o “Poeme-se” - que deu origem ao famoso sebo do José de Ribamar. Destacando-se além deste, Paulo Melo Sousa, juntando-se a eles: Luis Resende, Wilson Martins, Eduardo Julio, Elício Pacífico, Claudio Terças e Rosa Ewerton. Sua proposta, divulgada em poema-cartaz a partir de fotografiadeMobi, édesenvolverumapoesiasocial,“tentar fazer da poesia um instrumento de transformação ligado as realidade”, afirma Lima (2003) 34. Mais tarde, o grupo abre mão do engajamento social e parte para a divulgação de uma poesia livre em espaços alternativos:

Tínhamos um movimento em prol da Poesia. Eu [Ribamar Filho] e outros amigos. Reuníamo-nos, constantemente, aos fins de semana, pra discutir, planejar, ler, uns pros outros, nossos poemas. E aí tivemos a idéia de escolher um nome para o grupo. Cada um de nós ficou comprometido em sugerir um. E a minha sugestão foi: POEME-SE. Pegou”… Ge-ni-al. Muito criativa, mesmo, essa performance do substantivo em verbo, assim, pronominalizado e nessa força imperativa. Mas, qual a intenção, a mensagem intrínseca do neologismo? “A idéia era exortar a todos a assumir a poesia, a ter uma atitude poética, vestir a camisa da poesia. E nós fazíamos isso, literalmente. Confeccionávamos (e vestíamos) camisetas, publicávamos posters, vendíamos cartões, divulgando a poesia.

[...]

Agora, falemos do POEME-SE. Como tudo aconteceu?

“Até 1980, eu costumava frequentar, muito, as bancas de revistas, de livros usados, na Magalhães de Almeida. E aquilo mexia comigo, sei lá… Mas quem me influenciou mesmo, de verdade, nesse ramo, foi Ribamar Feitosa. Em 1984, ele abriu um Sebo na Magalhães de Almeida, o primeiro nesse estilo, aqui em São Luís. Eu ia muito, comprar livros, no Sebo de Feitosa. Havia, também, nesse tempo, um jornal de publicação nacional, só sobre livros, o LEIA – que trouxe uma matéria extensa, a respeito de SEBOS, muito interessante. E eu fiquei com aquela ideia de botar um negócio desses, num local fechado e

citada..

34 LIMA e Outros, 2003, obra

organizado. Aquele nosso movimento literário, da adolescência, já não existia mais, o Grupo estava disperso, e eu me apropriei do nome. Em 1988, instalei e inaugurei a POEME-SE, numa sala de 20 metros quadrados (antiga sede do PT), na Rua do Sol. Em 1990, transladei-a para a Praia Grande. Em 2001, adicionei, à livraria, um cybercafé. A parte de café decaiu e ficou só a Internet. A Praia Grande foi muito importante. O POEME-SE agregou vários movimentos e atividades intelectuais e literárias aqui do Maranhão: recitais, leitura de poesias, debates, lançamento de livros e teve o seu próprio festival de poesia, por dois anos: Festival de Poesia do POEME-SE ”35

O grupo extingue-se e Paulo Melo Sousa vai criar o “espaço” Papoético!

ZecaBaleiro,antesdepartirparaSãoPaulo em1989,publicaa revista Undegrau (1988),nalinhadoGuarnicê, “só que mais irreverente, sem anúncios ou textos oficiais”, informa Lima e Outros (2003) 36

Com Zeca estão: Henrique Bóis, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, e Solange Bayma.Arevista fica apenas em seu primeiro número; e teve a colaboração de Itamir, Geraldo Reis, Érico, Mondego, Garrone, Noberto Noleto, Josias Sobrinho, Paulo Melo Sousa, Celso Borges, Lúcia Santos, Francisco Tribuzi, Paulinho Nó Cego, Luis Pires, Marcelo Silveira, Paulinho Lopes, Ribamar Feitora, Emilio, Joe Rosa, Ramsés Ramos, e Edgar Rocha.

E esta outra geração (1990/2000...) que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas e urbanoides. [...] Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento LiterárioVagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmico-universitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa: Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura.(In GUESA ERRANTE, 2012)37

Aparecem,assim,novos gruposorganizados,comoocasodo Poeisis,aoqualpertenceAntônioAílton,Bioque Mesito, e pelos poetas co-geracionais Danyllo Araújo, Geane Fiddan e Natinho Costa. Outros nomes que aguardam publicação, possuindo obras inéditas de grande relevo estético, são a poeta Jorgeana Braga (A casa do sentido vermelho, Sangrimê, Cerca Viva), Nilson Campos (o romance A Noite, além de contos e poemas), e a sensível poeta Rosemary Rego, com uma obra lírica surpreendente. Uma geração, afinal, não se faz somente de poetas publicados e, às vezes, alguns de seus melhores talentos estão entre aqueles inéditos em vida, como é o caso de vários exemplos, como o deKonstantinos Kaváfis, Emily Dickinson eCesário Verde38 . Sobre esse movimento,AntonioAílton39 deu-me o seguinte depoimento:

O “movimento Poesis” iniciou-se em 2006, a partir da iniciativa de Geane Lima Fiddan e do poeta Bioque Mesito, os quais convidaram Antonio Aílton, Rosimary Rego, Hagamenon de Jesus, Paulo Melo Sousa, Raimundo Nonato Costa (Natinho Costa), Daniel Falcão Bertoldo (músico), e Danilo Araújo, grupo que foi crescendo por convites a outros poetas, tais como José Couto Corrêa Filho e César Borralho (este na

35 CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/ , publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014.

36 LIMA e Outros, 2003, obra citada.

37 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400 os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm

38 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

39 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico.

verdade mais como “participação” em alguns momentos), além de Graziella Stefani, que não escrevia, mas deveria fazer o marketing do grupo.

A ideia era promover ações abrangentes de realizar projetos de incentivo à leitura, de criação e encontros literários e, sobretudo divulgação, unindo, nesta divulgação poesia e música erudita através de recitais em locais públicos e significativos de São Luís, com ideia de expansão para o interior do Estado. Foram montados grandes recitais públicos acompanhados de piano, violoncelo, percussão, violão, flauta, gaita, etc., sendo o mais marcantes na Praça Gonçalves Dias, na Escola de Música do Maranhão e no Teatro João do Vale40, o maior e mais importante deles41, o último com direção da Cássia Pires. Foram feitas chamadas pela TV para esses recitais, e foram filmados [registro fílmico]. Receberam certo [e parco] patrocínio particular e público.

Pela necessidade de receber patrocínios mais significativos, o que só seria possível como pessoa jurídica, foi criada a POIESIS – ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES, em 19/05/2006, totalmente legal, com registro civil de pessoa jurídica e estatuto próprio, com Antonio Aílton Santos Silva como presidente, Geane Lima Ferreira Fiddan como vice-presidente, Fábio Henrique Gomes Brito [Bioque Mesito] como primeiro secretário, Raimundo Nonato Costa e Rosemary como tesoureiros. Hagamenon e Paulo ficaram no Conselho Fiscal.

Na verdade, após a criação da Associação seguiu-se apenas o que já estava programado, isto é, os recitais e organizou-se um projeto de “feira literária”, que não foi em frente porque se soube que a Prefeitura de São Luís começava a organizar a 1ª FELIS, como ocorreu logo depois.

Com a dispersão de muitos membros para estudos e saídas do estado, como foi o meu caso, a Associação ficou em latência, cada um realizando projetos individuais até o momento.

Outro grupo que surge nessa época, o Grupo Carranca, capitaneado pelos poetas e escritores Mauro Ciro Falcão e Samarone Marinho, comparsas das atividades do Curare - e vice-versa.Apartir de 2000, a existência dos dois grupos se encontra praticamente paralelas, e confundidas. Pertencentes a uma faixa geracional um pouco diferente – embora quase coeva –, os membros do Grupo Carranca aceitaram dividir seus espaços e iniciativas, durante algum tempo, com o Grupo Curare. Durante vários anos, as reuniões e encontros do Grupo Curare e Grupo Carranca aconteceram na casa do jornalista Gojoba, sempre com bastante aconchego e diversão. A participação de vários membros do antigo Curare consta das antologias de poemas e contos organizadas pelo grupo Carranca, que agitaram o cenário literário de São Luís entre 1999 e 2002. De lá para cá, os membros de ambos os grupos, agora identificados pelos laços comuns, com seus projetos e propostas definidos, trabalham para construir a identidade da nova literatura maranhense42 . AntonioAílton também se refere a esses grupos, Curare, e Carranca43:

Em relação ao CURARE, é bom ressaltar que os diálogos, discussões e encontros informaisdeterminantes para o impulso e maturação da literatura de muitos de seus membros -, consolidaram uma amizade duradoura entre partes de seus membros, tanto que alguns consideram que um certo ‘espírito’ desse grupo não se extinguiu.

O papel aglutinante desse grupo foi sempre do poeta Hagamenon de Jesus (junto com Antonio Aílton, Ricardo Leão, Dyl Pires, Bioque Mesito). Houve também uma confluência dessa amizade com membros do grupo Carranca (jovens e iniciantes poetas), o qual era encabeçado por Mauro Ciro e Elias Rocha, encontrando-se dominicalmente na residência do jornalista Gojoba, pai de Mauro Ciro.

A principal contribuição do grupo (reduzido a um pequeno núcleo) foi ou tem sido, a meu ver, o incentivo e impulso para a busca de uma superior qualidade da produção (poética ou teórica), o incentivo ao crescimento e destaque de cada um – o que pode ser constado nas premiações recebidas pelos membros do grupos (ver relação dos concursos), as quais são motivos de alegria e discussão conjunta.

40 Geane Lima pode dar informações mais precisas sobre estes recitais, pois ela os organizou mais efetivamente e era quem dialogava com os músicos, sobretudo sobre questões financeiras.

41 Não lembro a data, mas tenho a filmagem.

OBS: Da relação “Poiesis” em seu texto, não participaram Jorgeane Braga nem Natanílson Campos. Estes eram sim do CURARE. Também não me lembro de Mobi fazer parte desse grupo, ao menos com esse nome...

42 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

43 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico

Leão (2008) 44 – ao comentar os resultados dos concursos de 2007 da SECMA e do Concurso Literário “Cidade de São Luis”, afirma que todos estes novos talentos fazem parte, ao fim e ao cabo, de um mesmo grupo, amaiorpartenamesmafaixageracional, outrosem faixasdiferentes, depoetas,escritores eintelectuais que, lutando por visibilidade e reconhecimento no cenário da literatura maranhense contemporânea:

[...] já vêm trabalhando há pelo menos dez anos, quando não mais, no sentido de produzir uma obra capaz de continuar, com dignidade e competência, a tradição de literatura que o precede, com profundo respeito aos grandes autores maranhenses do passado, mas também com ousadia e inovações.

Para Dyl Pires45, a geração de poetas dos anos 90 foi favorecida por algumas pessoas importantes, instituições que ofereciam editais e concursos para publicações, além de lugares onde todos se encontravam.

Entre seus livros de formação, estão A Poesia Maranhense no Século 20 - Antologia (1994), organizado por Assis Brasil; o último número da revista publicada pela Academia dos Párias (8º Andar); O Circuito da Poesia Maranhense, livro organizado por Dilercy Adler; as antologias poéticas do Grupo Carranca; o Suplemento Vagalume, de Alberico Carneiro.

As figuras do poeta Paulo Melo Sousa e Couto Corrêa Filho e suas respectivas bibliotecas serviram de espaço para que os poetas da Geração 90 tivessem acesso à variadas fontes literárias e também como espaço de encontro. “Couto abria sua casa para nos receber em sábados dionisíacos. Ali era a nossa Movelaria Guanabara”, lembrou.

Ele destacou também a importância dos projetos de fomento à produção literária promovidos pela Fundação Municipal de Cultura, a Secretaria Estadual, o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas (SIOGE), entre outras instituições.

Já Bioque Mesito46 reconheceu que a geração daquela época foi sendo valorizada quando passou a assinar prefácios de livros e a participar de suplementos literários. Ele ressaltou nomes de outros artistas fora da literatura que contribuíram para a formação da estética do trabalho deles, como o artista visual Binho Dushinka.

Assumindo uma postura mais contemporânea, afirmou não ter influência da poesia de Nauro Machado e que nomes como Augusto Cassas, Mauro Portela, Alberico Carneiro, Celso Borges, Chagas Val e Fontenelle foram mais importantes na sua formação como poeta.

Estamosdianteda GERAÇÃO 90,quetinhaentreseusmembros, alémdeDylPires,BioqueMesito eSebastião Ribeiro, representantes do grupo de poetas daquela geração, nomes como Agamenon Almeida, Eduardo Júlio, Antônio Ailton, Ricardo Leão, Jorgeana Braga, Mauro Ciro, Lúcia Santos, Marco Polo Haickel, Natan, entre outros perdidos na lembrança.

Em 1995, segundo Leão (2008) 47, surge o Grupo Curare com a promessa e a intenção de publicação de uma revista, infelizmente não concretizada, e da organização de eventos literários diversos, a fim de divulgar o surgimento de mais uma confraria de amigos, praticantes de uma poesia e literatura sérias, no sentido da constante busca de preparo e erudição, a fim de contribuir com a renovação dos quadros da literatura maranhense:

Tratava-se, destarte, de um projeto pretensioso. Porém, não se produz arte literária, sobretudo dentro de uma tradição longa e respeitada como a maranhense, de modo impune e sem grandes pretensões, até mesmo alguma megalomania. É necessário, portanto, recapitular um pouco dessa história, antes que sejamos os únicos que ainda se lembrem dela.

[...] O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o

44 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

45 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254

46 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254

47 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro.

RicardoLeão recorda que aideiainicial demontar ogrupo fora dele e de Dyl Pires, após um encontro ocorrido em 1995 na Biblioteca Pública Benedito Leite, no anexo aos fundos, onde se elaborou uma lista inicial de amigos e conhecidos comuns, constante de uns 25 nomes, entre os quais vários que já se vinham destacando em concursos locais e nacionais. O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Polo Haickel. O encontro havia, pois, acontecido. Como o projeto da revista naufragou após um tempo, faltou um evento que registrasse e existência do grupo (LEÃO, 2008).

Antonio Aílton Santos Silva (2014) 48, um dos jovens literatos participe de diversos desses movimentos, em especialdoCurare,deuumdepoimentomuitoesclarecedor,aopedirsuabiobibliografia;transcrevo-aemparte - a integra está no devido lugar -, pois muito diz sobre como funcionavam esses movimentos, ou grupos, e esclarece muitos pontos. Vamos aos “FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS”:

As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. [...] Apague-se certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” - Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009).

[...] Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA [...] O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. [...] Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce... Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?...

[...] Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, [...] além da jovem poeta Rosemary Rego.

[...] Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires.

A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres

48 SILVA, Antonio Aílton Santos. FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS - DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico.

poucas para o grupo, queríamos mais. Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996).

[...] O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este, sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão.

Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix - Concours "Brésil, Terre Latine", Alliance Française/UFMA/Academia Maranhense de Letras.

O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das ideias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros.

O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus (Edição do autor, 2002).

[...] Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007.

Dilercy Adler (1995) 49 organiza a antologia (a primeira) Circuito de Poesia Maranhense – 100 poemas, 61 autores, contando com a colaboração de José Chagas, Arlete Machado, Alberico Carneiro, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Paulo M. Sousa, Leda Nascimento, e do grande homenageado, Nauro Machado; as fotos foram de Edgar Rocha. O objetivo era mostrar a produção maranhense de poesias durante a 47ª ReuniãoAnual da SBPC, realizada em São Luis.

Logoaseguir, 1998,começaaorganizaras antologiasdaSociedadedeCulturaLatinadoEstadodoMaranhão, Latinidade50. A SCL-MA tem em sua diretoria, além da Dilercy (presidente), Ana Maria Costa Felix (vice), Roberto Mauro Gurgel Rocha (1º Secretario); Cesar Maranhão (2º Secretário); José Rafael Oliveira (Tesoureiro),ePauloMeloSousa(DiretorCultural).ASCLfoifundadaem1909naItália;em1942, asegunda,

49 ADLER, Dilercy Aragão. CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE. São Luis: UNICEUMA, 1995

50 ADLER, Dilercy (Organizadora). I COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 1998.

em Portugal; o Brasil foi o terceiro país a recebê-la, pelo final dos anos 70, fundada por Joaquim Duarte Batista; no Maranhão foi criada em 25 de junho de 1997, no Palácio Cristo Rei. No ano seguinte, sai a sua primeira coletânea; com periodicidade de dois anos. Foi até a quarta edição, em 200451.Atualmente, Dilercy dirige a SCL-Brasil, desde 2013, quando do Projeto Gonçalves Dias; a seccional do Maranhão está se reestruturando, já que ela não pode acumular as funções...

Em 1996, é publicada uma antologia de jovens poetas - posteriormente chamada Safra 90, que consagrou um bom número dos que faziam parte da configuração original do grupo Curare:AntônioAílton Santos Silva, Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior), Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito), Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa, Jorgeane Ribeiro Braga, Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos), Ricardo Leão (Ricardo André Ferreira Martins), entre outros:

[...] Entretanto, não foi inteiramente um sucesso, pois a antologia surgiu com a proposta de divulgar a jovem poesia de todo o Estado; embora o pessoal do grupo Curare fosse a maioria, a antologia não estava atrelada à existência de um grupo, pois havia outros antologiados que não comungavam de ideias comuns e mesmo pertenciam a faixas geracionais diferentes, como o caso de Ribamar Filho, o “Riba” do sebo Poeme-se, ex-integrante da Akademia dos Párias. 52

Para Mesito53 ,

Os poetas do Safra 90 (nome dado a uma antologia lançada pelo governo local, em 1997, formada por 23 poetas que compunham a cena poética do final do século 20 e início do século 21) poucos, desses poetas que integram esta antologia, ainda demonstram que vieram para ficar. Nomes como Antonio Aílton, Rosemary Rêgo, Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Dyl Pires, Jorgeane Braga, Eduardo Júlio, Paulinho Dimaré, Marco Pólo Haickel, - estes três últimos nomes, apesar de não fazerem parte do Safra 90, comunicam do mesmo momento literário, e todos já possuem importantes premiações locais e nacionais, além de possuírem seus livros lançados. O que demonstra, para os que fazem vista grossa ou que desconhecem, que a produção maranhense continua muito boa e a renovação está acontecendo com qualidade.

As propostas do Grupo Curare são efetivadas em um evento, no inicio de 1998, quando surge a ideia de uma exposição e recital, intitulada Sygnos.doc, acontecida no Palacete Gentil Braga, promovida pelo Curare com o auxílio do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, principalmente na figura de seu diretor, Euclides Moreira Neto. Esta exposição absorveu muitos esforços, consumindo muito tempo, nervosismo e paciência. O evento, entretanto, finalmente aconteceu, garantindo um marco existencial e histórico para o Grupo Curare, ao qual se somaram novos nomes, como os poetas César William, Couto Corrêa Filho, Eduardo Júlio, Dylson Júnior, Gilberto Goiabeira, Judith Coelho e Rosemary Rego54

Alberico Carneiro55 tem uma grande contribuição, com o seu Suplemento Literário do Jornal Pequeno: O Guesa Errante56. Vem publicando sistematicamente antologias dos novos poetas. Desde 2002, seus anuários

51 ADLER, Dilercy (Organizadora). II COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São

Luis: Produções, 2000.

ADLER, Dilercy (Organizadora). III COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2002.

ADLER, Dilercy (Organizadora) IV COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2004.

52 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

53 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm

54 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm

55 ALBERICO CARNEIRO - Poeta e romancista, editor do suplemento Guesa Errante, Suplemento Cultural e Literário do JORNAL PEQUENO. Admirável poeta e professor nasceu em Primeira Cruz, no dia 15 de maio de 1945, e viveu a infância no Arquipélago de Farol de Sant‘Ana, no litoral oriental do Estado. In http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/alberico_carneiro.html

56Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/

retratam não só o panorama da literatura brasileira, e em especial a maranhense, como dá oportunidade aos novos autores:

Um anuário cultural e literário não é tão só um documento de resgate, frio e estanque. Mais que isso é o registro de invenções ficcionais de poéticas de várias linguagens que incluem desde o poema, a prosa e passa pela música, o cinema, o teatro, o folclore, o artesanato e as artes plásticas em geral. [...] É a celebração de um acontecimento raro no panorama da literatura maranhense nos dias atuais [...] Anuário é a biografia e a autobiografia de um raro sobrevivente no mundo das Letras da Atenas Brasileira, o Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. É um marco do aniversário da poesia em festa e em estado de graça que, em sua força emotiva, nos comove e emociona através das linguagens verbal (do poema, do conto, do romance, do ensaio, da crítica) e não verbal (das artes plásticas, da música, dos semáforos, dos sinais de comunicação gestual e do que há de corpográfico na dança, no teatro, no cinema e no dia-a-dia do Universo. [...] A publicação dos Anuários serve também para constatar que a linha editorial do Suplemento não contempla exclusivamente os artistas consagrados, pois dá destaque aos novos, inclusive aos quase desconhecidos e aos desconhecidos, desde que suas produções apresentem valor no processo evolutivo da criação literária maranhense.57

57 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/24/Pagina17.htm
São Luís na Poesia Matérias JP Turismo

ANTROPONÁUTICA, CINCO DÉCADAS DEPOIS, OU PARECE QUE FOI ONTEM LUÍSAUGUSTO CASSAS

Capa daAntologia do MovimentoAntroponáutica, São Luís – MA, 1972
Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino

1972. Tinha 19 anos. Amava os Beatles, Drummond, Caetano, Gullar e os Rolling Stones. E queria mudar o mundo pela poesia.

O nomeAntroponáutica, título de um dos mais belos poemas de Bandeira Tribuzi encerrado com o antológico “o infinito maior é o próprio homem”) foi a senha que nos agrupou (eu,Valdelino, Fontenele,Viriato e Chagas Val) em torno de objetivo comum: derrubar os falsos moinhos de vento da velha ordem que pretendia restabelecer o caos e o atraso quando se comemorava o cinquentenário da Semana deArte Moderna. E, claro, vender o nosso peixe lírico-atômico assado nas brasas interiores.

Ademais, Tribuzi tinha cada de guerrilheiro-zen. Trazia na travessia coimbrã de retorno à urbe a memória da revelação do sol português e repovoava a nossa imaginação com a encarnação moderna de outro grande incompreendido que comera o pão que o diabo amassou:Antonio Gonçalves Dias. Poeta, jornalista, consultor econômico de programas governamentais, esse perfil não o cindira da provedoria doméstica. Era comum cruzarmos com ele, na travessia para o Liceu Maranhense, retornando do mercado, trazendo em uma das mãos um cofo de legumes, e na outra, uma galinha viva. Essa simplicidade franciscana exibia rico simbolismo: era um mestre em repartir a luz.

O ambiente de 1972 era tóxico, mas alegre. Éramos felizes, mas não sabíamos. Erasmo Dias arranchado nos Apicuns, chorava desolado no enterro de Natasha Trupskaia, gata vadia que Erasmo proclamava de elite, e Sérgio Brito retrucava, afirmando que transava com todos os gatos vagabundos dos telhados. Carlos Cunha em verve hecatômbica deixara empenhado o filho, CarlosAnaxímenes, no BarAthenas e demorara resgatar o vale,oquevaleuchoroerangerdedentesdos clientes.OvelhosábioRubãoAlmeidadesanovelavaaosventos, a bola branca com cinco carreteis de linha zero, que alavancava os “bodes” de Zezé Caveira, até depositá-los no colo de Deus.

Era questão de modernidade ou morte.Anossa juventude – todos estávamos no vintenário – exigia posição a altura. Afinal, tínhamos o necessário: duas mãos e o sentimento do mundo. Mas estávamos mais para desbunde poético-tropical que movimento, essa coisinha androide, com manifesto, programação, parecendo pré-vestibular acadêmico. Éramos na antirrotação da ordem, um contramovimento. Nossa sede eram os bares da vida.

FonteneleeViriato,mais afoitos,passaramocomunicadodeguerraaosjornais.Valdelino,eraopublicrelation da guerrilha. Eu e Chagas Val nos especializamos em bastidores, operações especiais e profecias de bar. Todas deram certo. Depois, seguidos pelas mulheres, seguimos adiante para as nossas milionárias carreiras-solo. O IML não registrara nenhum cadáver passadista. Na verdade, já estavam mortos. O que fizemos foi cuspir o último gole na cova.

Cécio, LuísAugusto Cassas – Fonte: www.literaturalimite.com.brPublicação do Guesa Errante – Ano 1- Ed. 44- dez_2002

50 anos depois, releio a Antologia Poética do Movimento Antroponáutica (lançada pelo Departamento de Cultura do Estado, em 72),com capa do compositor César Teixeira. E um frio saudoso percorre-me a espinha. Tribuzi, o patrono virou adubo de rosas. Valdelino foi brincar de boi no céu. Chagas Val pulou nas águas do encantamento. O tempo que converte tudo em elegia, desfalcou-nos do “técnico” e “torcedor de bar”, José Ribamar Estrela Vasquez, que nos legitimava pela maturidade da presença etílica, compensando nossa jovialidade.

Refletindo na poesia os nossos enigmas, estigmase paradigmas – o louco, o filosófico, o palhaço, o visionário, – vivendo e antivivendo nossa ira de ser, a lembrança doAntroponáutica sempre foi um sinalizador do menino interior. Cinquenta anos depois, através de mergulho na psicoterapia, ascese do azul, cavalgado os portais do manicômio e paraíso, redescobrimos a essência do real, a poesia.

Em 1972, éramos poucos.Agora somos muitos.Arrependimentos? Deveríamos ter amado mais, ousado mais, errado mais, e ter cumprido a promessa feita aTribuzi, no poema “Compromisso”, de “ República dos Becos.” Tocar fogo nessaAcademia. Teria prestado serviço de utilidade às gerações vindouras.

Em 1972, minha utopia era mudar o mundo pela poesia. Hoje, véspera de emplacar 70, nos idos de março, única certeza é que o mundo só poderá mudar pela poesia.

"O INFANTE TERRÍVELERALUÍSAUGUSTO CASSAS"

RAIMUNDO FOTENELE

Cassas & Fontenele: antroponautas!

Foi através do poeta Viriato Gaspar que travei conhecimento com o jovem poeta Cassas, no início dos anos setenta. Apesar de pouca idade o poeta já estava amadurecido para a poesia. Através da leitura e, em consequência, do conhecimento de uma vasta gama dos nomes mais importantes do fazer poético, tanto nacionais quanto estrangeiros.

E nossa convivência se tornou mais constante quando em 1972, junto aos poetas Viriato, Valdelino e Chagas Val, demos luz, ou melhor, parimos o Movimento Antroponáutica.

Renovação da literatura maranhense, sim. Derrubada de mitos intocáveis, também. Busca de um lugar ao sol em meio a tantas estrelas de brilho fosco, certamente.

Mas recusamos para o nosso movimento que fosse o mesmo balizado por regras e normas.Aprimeira delas é que não ia ter, como de fato não teve, um lançamento oficial do movimento, com a previsível distribuição para os presentes e para a imprensa do tal Manifesto, indispensável aos eventos dessa natureza.

Portanto, “abaixo a trova e os manifestos”, poderia ter sido um dos nossos lemas. O outro seria vão todos à puta que pariu com Academias de Letras e tudo, fardões e chás das cinco, vão todos, incluindo nós mesmos. Irreverência era isso aí.

Ao mesmo tempo privar da amizade de Cassas, ouvi-lo recitando suas criações poéticas em série, “a mulher está crescendo para os lados”, a sutileza do seu verbo encarnado, da sua poesia forte, metralhadora giratória, mas também retroescavadeira revolvendo a palavra e a matéria original, de onde nascem o poema e o encantamento, foi de grande importância para meu aprendizado e aprimoramento como poeta.

Eu que, por essa época, não passava de um caboclinho vindo do interior, que jamais ouvira falar em Pound ou Eliot, nem em Rimbaud ou Baudelaire. E estes livros estavam ali à minha disposição, graças ao rico acervo que o jovem poeta Cassas possuía e não cansava de aumentá-lo.

Mesmo afastados pelas circunstâncias da vida, sempre que estava em São Luís para o lançamento de algum novo livro, nunca deixava de ir visitar o poeta Cassas, que residia num espaçoso e transado apartamento do bairro Renascença. Visitá-lo, por a prosa em dia, e degustar um almoço da saborosa culinária maranhense que o poeta tinha a generosidade de me ofertar.

Até hoje nossa amizade continua, uma amizade de mais de cinquenta anos, e que continuará, mesmo depois que formos conversar e escrever versos lá pelas bandas do céu dos poetas, que a gente nem sabe onde fica, mas com certeza chegaremos lá.

Um poemas de Cassas:

COMPROMISSO

(a Bandeira Tribuzi)

1

Tenho um encontro marcado às seis horas da tarde naAvenida Beira-Mar E não posso faltar

Não é para salvar o mundo combater a solidão que fui convocado nem para esperar algum barco salvar um amigo em naufrágio que fui convidado

O motivo do compromisso não digo a vocês é secreto garanto não é político juro não é romântico aposto seja econômico

Sei apenas que às seis horas da tarde tenho um encontro marcado naAvenida Beira-Mar E não posso faltar 2

Fosse convidado a presidir uma reunião da ONU sobre direitos humanos não compareceria

Fosse passear no bosque com a Branca de Neve me atrasaria

Fosse o que fosse decolar pra Bangkok fugir pra Bahia casar com Teresa transar com a Maria passar férias em Marte depor a favor da arte tocar fogo naAcademia Hoje eu não iria porque não posso faltar a um encontro marcado às seis horas da tarde naAvenida Beira-Mar 3

Não posso faltar diz minha moral burguesa não posso faltar diz o código de honra não posso faltar diz o relógio de pulso não posso faltar não posso faltar

dizem o protocolo e o livro de ponto não posso faltar grita alto minha consciência: não posso faltar não posso faltar não posso faltar

Desejo de saber o porquê dos horizontes imperscrutáveis dos vínculos indissolúveis das filas intermináveis dos alcoólatras irrecuperáveis dos rostos indecifráveis das mulheres insaciáveis dos amores incontroláveis dos conflitos irreversíveis dos cumes inatingíveis das ideias irreconciliáveis dos poderes irrevogáveis padrões inconspurcáveis e depois de tudo perguntar:

por que não posso faltar?

Vontade de tomar o trem da Refesa o primeiro que sair da estação ferroviária e partir rumo ao ar puro de Perizes saber como vão as garças marrecas seriemas ( bom-dia, senhoritas!) E depois seguir até o final da linha só para poder faltar a esse compromisso 4

Vontade de seguir no barco que segue paraAlcântara

Vontade de caçar jaçanãs em São Bento

Vontade de seguir o primeiro impulso: cortar os pulsos deixar o sangue jorrar só pra conhecer o fator rh E por imposição testamentária

Do morto

meu corpo cheirando a perfume francês rosas vermelhas e lágrimas de saudade seguiria triunfalmente (os olhos abertos) pelas ruas da cidade

Na programação uma modificação: o trajeto do enterro vai se desviar E pontualmente às seis horas da tarde britanicamente às seis horas da tarde

o morto passaria naAvenida Beira-Mar

Não para desmarcar o encontro não para se justificar Apenas senhores para ver o mar

Poetas maranhenses, da esquerda para direita (superior): Arlete Nogueira da Cruz, Bandeira Tribuzi, José Maria Nascimento, Luís Augusto Cassas, José Chagas: na parte inferior: Ferreira Gullar, Gonçalves Dias, Nauro Machado, LauraAmélia Damous, Celso Borges e FernandoAbreu - Foto: Divulgação

Nós nos acostumamos a “ler” a cidade, ou as cidades, nos escritos poéticos, como cenários pop, punk-urbanos, tecnológicos, darks, paisagens de consumo ou escrituras da periferia. E é claro que estes são, digamos assim, lugares-comuns de sua representação e de seu reconhecimento. Fazem parte do desejo de controle e universalidade que o território urbano possui, como um redemoinho, que a tudo arrasta para si.

Mas, se compararmos cidades brasileiras como São Paulo, Brasília, Teresina e Recife, Salvador ou São Luís, para ficarmos apenas nestas, vemos que elas podem ter imensas diferenças. Em concepção, estrutura, espaços, temporalidades.As cidades, mesmo em sua dimensão urbana, não compõem, em sua maioria, hiper-realidades futuristas. E isso também devemos entender como possibilidades de convivência de múltiplas realidades em um mundo contemporâneo. São realidades que não devem ser rechaçadas ou abominadas em nome da atualidade, de uma afirmação dessa atualidade presentista, nem já futurista. Devem, sim, ser compreendidas. Já não vivemos em supostas vanguardas que precisam rasgar qualquer memória que vier da tradição para autoafirmar-se como movimento e iconoclastia, tudo precisa ser ponderado e considerado.

Em contraste com a representação da metrópole ou da megalópole contemporânea, a maioria das cidades brasileiras fazem parte de um processo histórico de povoamento, construção e formação. Muitas de nossas cidades têm um forte passado colonial e arquitetônico, balizado noutro sentido, o da permanência e da memória social materializadas em casarões que deixam vazar os séculos através de suas janelas, dos seus becos e suas ruas estreitas, das arcadas de pedra e ferro, da iluminação crepuscular sobre os telhados, do calçamento do anoitecer, de uma natureza simbólica insinuante. São caracteres e entranhas de um espaço que naturalmente irá comunicar-se de algum modo com a alma daqueles que o vivem, percebem, sentem – e que o escrevem.

Praça João Lisboa, São Luís do Maranhão, Início do Século XX, 1910 – Fonte: Iphan

É o caso da cidade de São Luís do Maranhão, uma cidade entre lugares, entre geografias e, portanto, entre sensibilidades diferentes, que vão do sentimento da província à cidade-mundo.

Praça Deodoro

Sombra errática, sem lenitivo, farrapo humano, despercebido agônico, pisei infinitas vezes o teu chão coletivo, de tantos corações mecânicos.

Vejo-te agora, depois de tantas viagens, a mesma velha Praça, e de lembranças choro, porque nada vi, em outras paragens, o que em ti deixei, Praça Deodoro.

Quando emudecerem todos os glóbulos de minha fétida carne, e o Jornal Pequeno berrar na primeira página que eu morri,

partindo sem o imortal fardão da academia, o povo há de cantar a minha poesia em teus bancos, plantar-me estátua em ti. (Para o poeta Nauro Machado) [Alex Brasil. Razões do Corações. Ed. do autor, 2000, p. 103]

Algumas das mais contundentes apresentações do espaço de São Luís estão, sem dúvida, na prosa. São vários os romances que se utilizam da cidade de São Luís, principalmente da velha cidade histórica, com seus sobrados e janelões, ruas históricas, largos e igrejas, na composição de seu enredo. É notório, por exemplo, que as tramas de Josué Montelo são também dramas do lugar, de pertencimentos. Havemos de lembrar não apenas do extraordinário Ostambores deSãoLuís (1975),masaindade Os degraus doparaíso (1965),de Cais da Sagração (1971) e de Largo do Desterro (1981), bem como de tantos outros de seus títulos cujo espaço narrativo irrevogável é a antiga São Luís.

Desde o século XIX, na verdade, o meio e a paisagem ludovicense já se fazia presente de modo determinante e até arquetípico, por exemplo, no livro O Mulato, de Aluízio Azevedo, publicado em 1881. Para dar encaminhamento a toda a história, começa o autor pela carregada descrição da cidade:

Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem-cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido (…)[i]

São Luís nas paisagens poéticas

São Luís pode ser vista como uma cidade lírica, não apenas porque possa se orgulhar de um número significativo de grandes vates, mas porque grandes poetas foram ou são tocados sensivelmente pelo corpo seculardesuas paisagens construídas eseus estuários, porsuacondiçãohistóricaesimbólica, eempreenderam a construção de sua sensibilidade através de sua voz poética.

Umapena,semdúvida,équenãosehajaaindacompreendidoessaimportânciaetodasassuaspotencialidades. Já na segunda metade do século XIX a cidade aparece efetivamente como paisagem poética, ou seja, como um espaço vivenciado, sentido e configurado poeticamente pelo sujeito lírico, apesar de que o período lançava seu olhar principalmente para a natureza, em seu sentido selvagem e arrebatador. Da cidade provincial, são suas áreas amplas, os “flancos do oceano”, os quintais da infância, laranjeiras, mangueiras, como parece aludir

Sousândrade, nas paisagens internas de seu Harpas Selvagens (1857). Mas Inácio Xavier de Carvalho, em seus Frutos Selvagens (1894), já escreve no poema O sino de São Pantaleão: Em minha terra, o sino mais sentido, o mais triste de todo o Maranhão, é o grande sino, há muito erguido da velha e secular São Pantaleão…[ii]

O poema prossegue, e, nele, o sino acaba personificando uma subjetividade lamentosa e soluçante, que dobra pelos entes partidos, num cenário lacerante de uma cidade que já nasce antiga, secular. É o registro de um exemplo. É, porém, a partir do nosso tardio modernismo, com escritores como Bandeira Tribuzi (1927-1977), Odylo Costa, filho (1914-1979), Nauro Machado (1935-2015), José Maria Nascimento (1940) e, principalmente, José Chagas (1925-2014), Ferreira Gullar (1930-2016) e Arlete Nogueira da Cruz (1936), que a cidade, com seus aspectos, edificações, ruínas e vivências, ganha força temática, simbólica e como motivo literário em si mesmo, no horizonte de uma experiência temporal, contemplativa e social. Podemos dizer que uma abordagem lírico-memorial de São Luís chega a solidificar-se aos poucos e constituir-se numa linha temática frequentada por vários autores.

Tal linha poética vai constituir-se muito provavelmente, não somente influenciada pela historicidade e pela própria arcada do tempo incrustrada nos casarões, seus azulejos e telhados, dando-lhes ar imemorial, mas também pela confluência de olhares que chegam ou retornam à cidade, tais como o de Chagas e Tribuzi, e até mesmo o do piauiense H. Dobal (1927-2008). Este, embora tendo seu chão efetivo em Teresina e Campo Maior, em A cidade substituída (1978) mergulha na paisagem ludovicense e sua evocação[iii] – talvez por influência de Odylo, com quem tinha proximidade, ou do próprio Chagas, o maior cantor da velha Cidade dos Azulejos os e de seus velhos bairros, em todos os tempos.

Não podemos desprezar também o fato de que várias questões estiveram sempre em pauta sobre o patrimônio arquitetônico de São Luís, revitalizações, e tombamentos também vinham sendo pensadas no período, 1955, 1978, 1986 e 1997[iv]. E isso tudo pode ter fluxos comunicantes com olhar dos autores, numa possível contribuição com a percepção em relação a essa paisagem, a qual por sua vez já era extensão da própria casa, da flanêurie poética costumeira no território boêmio da Praia Grande e adjacências, e das suas próprias experiências espaço temporais dos seus bardos.

Devemos ter sempre em mente, também, em relação a essa linha que toca uma lírica memorial do lugar, especificamente no caso do Maranhão e do espaço antigo de sua Capital, é que o centro dessa poesia nem sempre é realmente “o” lugar, ou sua realidade. O lugar, a cidade, surgem muitas vezes como componente fundamental das espessuras e das experiências convocadas na configuração do poema ou da obra, cuja diretriz tem como centro, na verdade, questões relacionadas à condição humana, à existência, ao ser e ao tempo, à vida – e, com ela, os espaços de vivência (relacionados ao estar no mundo, ao contexto) ou de experiência (travessias marcantes das realidades e situações vividas, com seus padecimentos, disposições, afetos e afecções significativas e pessoais, e que nos faz chamar alguém de “experiente”)[v], prerrogativas do fazer poético.

Pois bem, não podendo falar de todos os que merecem, mais detidamente, nem de maneira profunda, pela necessária brevidade deste texto, traremos uma pequena mostra dessa poética.

É com os grandes autores do nosso modernismo que a cidade entra de modo veemente na obra dos autores.

Em Bandeira Tribuzi, encontramos a tensão entre a cidade platônica (o poeta e seu lugar na polis, o qual Tribuzi assumirá como poeta-economista-planejador sensível) e a imagem utópica da terra em sua poética de liberdade pelo amor e pela canção: “Ó minha cidade,/deixa-me viver,/que eu quero aprender/tua poesia… A enfrentar martírios, lágrimas e açoites/, que floriram claros sóis da liberdade” – lemos e ouvimos Louvação a São Luís, hino oficial da cidade. Ele também pinta os cenários do passado, dando o tom de um lirismo saudoso e da vida cotidiana e social: “Neste velho sobrado quantas/ meninas houve, noite alta, escutando rimas e modinhas/ no lirismo das serenatas/(velhas mucamas vigiando/ a ira do senhor da casa)[…]” (O Sobrado[vi]). Ou ainda: “Ao longo da rua o pregão se expande,/ A voz do menino, musical, soluça/ Perdida na chuva, cujo som invade/Atarde suave como suave música.[…]” (O pequeno vendedor[vii])

Em volume de poemas e obras, porém, é muito provavelmente José Chagas o poeta que mais se dedicou à cidade de São Luís e com ela imbricou o seu poetar, de tal modo que o difícil é, na verdade, encontrar alguma obra na qual não haja essa presença ou sua evocação.

Chagas veio do sertão da Paraíba, filho de lavradores de Piancó, passando pelo Vale do Mearim, Maranhão, porém, como diz o prefaciador do maior canto poético sobre São Luís até agora, Sebastião Moreira Duarte, é “a velha cidade colonial que lhe dará a pedra de definitivo encantamento, com que ele [Chagas] haveria de erigir quase que a totalidade do seu monumento poético”[viii]. O poeta paraibano-maranhense já traz em sua escrita a memória das formas cancioneiras populares, com suas redondilhas e seus arcaísmos, e com esta base, somada à erudição literária, histórica e filosófica, construirá seu monumental Os Canhões do silêncio, livro com o qual, em 1978, recebeu o prêmio no Concurso Literário Bandeira Tribuzi, promovido pela Sociedade de Melhoramentos e Urbanismo da Capital [São Luís], tendo a primeira edição em 1979.

Os Canhões do Silêncio (Fragmentos)

Os telhados estão leves sobre as coisas a verdade está limpa sobre os telhados e uma janela espia esta verdade até onde ela entorna em azul o seu teor de mistério […]

São Luís se mostra à vida para quem queira ou não queira, como coisa consumida em luz, em glória, em poeira.

E nunca se mostra igual, nem é só uma, são três:

mistura de Portugal e Holanda, em sonho francês.[1] (José Chagas)

O poeta José Chagas dedicou ainda grandes obras à cidade, tomadas em geral sobre a dominante do ser e do tempo, em intensas reflexões, sob o (des)amparo do silêncio, da ruína e da solidão. É o que poderemos encontrar em obras como Os telhados (1965), Maré memória (1973), e uma bela crítica sobre os bairros de São Luís, que o poeta faz através dos versos cadenciados de Apanhados do Chão (1994). Ele ainda faria um grande livro, desta vez com grande repertório de sonetos, num barroquismo ácido e denunciante, com o seu Os azulejos do tempo (1999).

Para o poeta Nauro Machado, esse mesmo espaço é o espaço da distopia entre o sujeito e o lugar. Ele já mostra a cidade não como acolhedora e receptiva do poeta, mas descambando para um caráter sombrio e infernal. A cidade é “mãe, madrasta e meretriz” parindo por vezes o abominável. Em sua poética, mostra a imagem de um mundo totalitário, de opressão contumaz, onde o poeta sofre masmorras de injustiça, às quais esmurra com sua palavra visceral. É uma poética que brada com força e pode lançar sua ira sobre o lugar, na sua condição de visão perene e ultrapassagem:

Ó terra má, flor de antraz, mãe madrasta e meretriz, dando à minha alma sem paz o que eu tenho e nunca quis, no corpo que ainda em mim jaz pisando o chão de São Luís [ix]

Importante lembrarmos que haverá um momento, um ponto de reconciliação entre a cidade e seu vate, pois ele mesmo entranhou-se na cidade que o encarna, e a cidade, pela altitude do poeta, acaba por baixar seus flancos, podendo hoje acrescentar aos seus epítetos honrosos o de Cidade de Nauro.

Já Ferreira Gullar torna essa polis a recordação originária para o corpo emocional-político que se inscreve como intimidade revolucionária, poesia de bandeira histórica, aliando o imaginário, a emotividade e a sensibilidade ao corpo histórico, de luta, engajado no social. Assim o corpo está, portanto, atravessado pela cidade como reminiscência habitada e como referencial, cujo ponto máximo parece ser o bastante conhecido Poema Sujo (1975). Assim sintetiza o poema: “O homem está na cidade/ como uma coisa está em outra/ e a cidade está no homem/ que está em outra cidade/ (…) a cidade não está no homem/ do mesmo modo que em suas/ quitandas praças e ruas”[x].

Numa pequena mostra da poesia mais recente que toma em si a cidade ou nela viram visagem, temos as seguintes obras: Alitania da velha, deArlete Nogueira, a mais importante de todas, inclusive já adaptada, em 1999, para um curta. É um poema litânico-simbólico, em que a protagonista representa a própria cidade escareada de São Luís. Continuando: meu poema em prosa, percurso descritivo-reflexivo-telúrico Imagine se Ponge vem beber na Praia Grande, publicado em Os dias perambulado & outros tortos girassóis (2008); o poema-livro No meio da tarde lenta (2012), de Ricardo Leão; Ilha do Amor: tratado do amor natural (2013), de Alberico Carneiro; O futuro tem o coração antigo (2014), belo poema-ensaio de Celso Borges, acompanhado de fotografias dos alunos do Curso Técnico em Artes Visuais do IFMA, e que marca um reencontro do poeta com a cidade; o visceral Éguas! (2017), de Dyl Pires; o extraordinário AIlha Naufragada ou canção dos insulados (2018), de Natan Campos, o poema Concerto para São Luís, do livro a desordem das coisas naturais (2019), de Bioque Mesito, e muitos outros, antológicos, que inclusive expandem a cidade para muito além do espaço provincial, dos seus becos e crepúsculos.

Além disso, são inúmeros os trabalhos poéticos que continuam a dar voz a esta cidade-ilha secular e a personalidades que com ela já se identificam, como é o caso daquela ternura imorredoura com a qual ficamos, inscrita no referido poema Praça Deodoro, deAlex Brasil, representativa daquele que escreve, dos bardos que compõem o Panteão, e da poeti–cidade que vivenciamos.

Texto: AntonioAílton

[i] AZEVEDO,Aluísio. O Mulato. 17 ed. São Paulo, Ática, 1998.

[ii] BRASIL, Assis. A poesia maranhense do século XX. Rio de Janeiro: Imago; São Luís: Sioge, 1994. (p. 54)

[iii] Cf. SANTOS, Silvana Maria Pantoja dos. Literatura e memória entre os labirintos da cidade: representações na poética de Ferreira Gullar e H. Dobal. São Luís: Editora UEMA, 2015.

[iv] COSTA, Flaviano Menezes da. Moradas e memórias: o valor patrimonial das residências da São Luís antiga através da literatura. São Luís: EDUFMA, 2015. p. 41 (nota).

[v] SILVA, Antonio Aílton Santos. Martelo & Flor: horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea. São Luís: EDUFMA, 2019.

[vi] TRIBUZI, B. In: CORRÊA, R. Modernismo no Maranhão. Brasília: Corrêa e Corrêa Editores, 1989. (p. 236)

[vii] Idem, p. 237.

[viii] In: CHAGAS, J. Os canhões do silêncio. 3 ed. São Paulo: Siciliano, 2002 (Coleção Maranhão Sempre).

[ix] MACHADO, Nauro. Trindade Dantesca (poema). São Luís: Ed. doAutor, 2008 (p. 107)

[x]GULLAR, Ferreira. Toda poesia (1950-1987). 5 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991.

CONCURSOS GERAÇÃO CASSAS ANTROPONÁUTICA GRUPO DO GUARNICÊ

Chagas Val

Bioque Mesito

Bruno Azevedo

Felipe Magno Silva

Pires

Fernando Braga

Francisco Inaldo

Lima Lisboa

Geraldo Iensen

Adailton Medeiros

Alex Brasil

Arlete Nogueira

Chagas Val

Cunha Santos Filho

Eloy Coelho Neto

Francisco Tribuzi

João Alexandre Júnior

Jorge Nascimento

Alex Brasil

Bernardo Filho

Celso Borges

César William

Chagas Val

Couto Correa Filho

Cunha Santos

Dilercy Adler

Eduardo Júlio

Eudes de Sousa

Fernando Abreu

Celso Borges

Ivan Sarney

Joaquim Haickel

Nagib Haickel Filho

Roberto Kenard

Ronaldo Braga

GRUPO

CURARE

Antônio Aílton Santos

Silva

Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito)

Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior)

Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa

Marco Pólo Haickel.

Gilmar Pereira da Silva

Herbert de Jesus

Santos

Igor Nascimento

Jomar Moraes

José Marcelo Silveira

Josoaldo Lima Rego

Lenita Estrela de Sá

Márcio Coutinho

Ricardo Leão

Wilson de Oliveira

Costa Dias

Wilson Marques de Oliveira

Luís Augusto Cassas

Ivan Sarney

Joe Rosa

Laura Amélia

Damous Lenita Estrela de Sá Lúcia Santos

Luís Augusto Cassas

Luís Inácio Araújo

Luís Moraes

Morano Portela

Paulo Melo Sousa

Raimundo Fontenele

Ronaldo Costa

Roberto Kenard

Rossini Correa

Sônia Almeida

Valdelino Cécio

Viriato Gaspar

Safra 90 Sygnos.doc

Antônio Aílton Santos

Silva

Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito)

Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior)

Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa

Marco Pólo Haickel.

Jorgeane Ribeiro

Braga

Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos)

Ricardo Leão (Ricardo André

Ferreira Martins)

Antônio Aílton Santos

Silva

Bioque Mesito

César William

Couto Corrêa Filho

Dylson Júnior

Eduardo Júlio

Gilberto Goiabeira

Henrique Gomes Brito)

Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior)

Hagamenon de Jesus

Carvalho Sousa

Marco Pólo Haickel.

Jorgeane Ribeiro

Braga

Judith Coelho

Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos)

Ricardo Leão (Ricardo André Ferreira Martins)

Rosemary Rego

Jorgeane Ribeiro

Braga

Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos)

Ricardo Leão (Ricardo André Ferreira Martins)

Akademia dos Párias Poeme-se Poeisis

Ademar Danilo

Antonio Carlos Alvim

Fernando Abreu

Gisa Goiabeira

Guaracy Brito Junior

Henrique Bóis

João Carlos Raposo

Maristela Sena

Paulinho Nó Cego

Raimundo Garrone, , Ronaldo Reis

Rozendo

Sonia Jansen

Claudio Terças

Elício Pacífico

Eduardo Julio

José de Ribamar.

Luis Resende

Paulo Melo Sousa,

Rosa Ewerton

Wilson Martins

Antônio Aílton

Bioque Mesito, Danyllo Araújo, Geane Fiddan

Jorgeana Braga

Mobi

Natinho Costa.

Nilson Campos

Rosemary Rego,

Undegrau OUTROS * Guesa Errante

Celso Borges

Edgar Rocha

Emilio

Érico

Francisco Tribuzi

Henrique Bóis

Garrone

Geraldo Reis

Itamir

Joãozinho Ribeiro, Joe Rosa

Josias Sobrinho

Lúcia Santos

Luis Pires

Marcelo Silveira

Mondego

Noberto Noleto

Paulinho Lopes

Paulinho Nó Cego

Paulo Melo Sousa , Ramsés Ramos

Ribamar Feitora

Sérgio Castellani, Solange Bayma.

Zeca Baleiro

Antonio Aílton

Bioque Mesito

Bruno Azevedo

César Borralho

Cyro

Daniel Blume

Danilo Araújo

Dílson Junior

Dyl Pires

Elias Rocha

Geane Fiddan

Hagamenon de Jesus, , José Neres

Jorgeana Braga

Mauro

Jorge Leão

Josualdo Rego

Mateus Gato

Natanílson Campos, Natinho Costa

Reuben da Cunha

Rocha

Ricardo Leão, Rosimary Rêgo, ,

*Carranca, Concurso de Poesia Nascentes, ou da Vida é uma festa

NAURO MACHADO59

NAURO

DINIZ MACHADO

2 de agosto de 1935

Filho de Torquato Rodrigues Machado e Maria de Lourdes Diniz Machado. É casado com a também escritora Arlete Nogueira da Cruz.

Poeta autodidata com vasto conhecimento em artes e filosofia. Comparado por alguns críticos a Fernando Pessoa, é original por ser poeta universal entre seus contemporâneos mais imediatos, como Ferreira Gullar, Lago Burnett, José Chagas e Bandeira Tribuzi. Se Gullar questiona a própria forma poética, Nauro Machado questiona a própria essência e destinação do ser humano, sem deixar de cultivar uma linguagem poética e uma técnica de versos exemplares. Sua obra apresenta traços de reflexão existencial angustiada e violenta que encontra poucas comparações na lírica de língua portuguesa.

Exerceu diversos cargos em órgão publicos entre eles DETRAN e EMATER e também na Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão. Nauro Machado sempre viveu em São Luís, ausentando-se apenas por breves periodos, sobretudo para o Rio de Janeiro para publicar boa parte de suas obras. No entanto, grande parte de sua vida Nauro dedicou à sua grande paixão, a poesia. Recebeu diversos prêmios, dentre eles Academia Brasileira de Letras e da União Brasileira de Escritores; teve varias de suas obras traduzidas para o alemão, francês e inglês.

Obras de Nauro Machado60: Campo sem base (1958); O exercício do Caos (1961); Do frustrado órfico (1963); Segunda comunhão (1964); Ouro noturno (1965); Zoologia da alma (1966); Necessidade do divino (1967); Noite ambulatória (1969); Do eterno indeferido (1971); Décimo divisor comum (1972); Testamento provincial (1973); A vigésima jaula (1974); Os parreirais de Deus (1975); Os órgãos apocalípticos (1976); A antibiótica nomenclatura do inferno (1977); As órbitas da água (1978); Masmorra didática (1979); Antologia poética (1980); O calcanhar do humano (1981); O cavalo de Tróia (1982); O signo das tetas (1984); Apicerum da clausura (1985); Opus da agonia (1986); O anafilático desespero da esperança (1987); A rosa blindada (1989); Mar abstêmio (1991); Lamparina da aurora (1992); Funil do ser (1995); A travessia do Ródano (1997); Antologia poética (1998); Túnica de Ecos (1999); Jardim de infância (2000); Nau de Urano (2002); A rocha e a rosca (2003); 81961

Abre-me as portas, mãe, enquanto as estrelas buscam em mim agora a treva infinda, sem luz alguma no meu olhar a vê-las nessa cegueira a ser da altura vinda. Assim, mãe, invado tua noite, a sabê-las eternamente em pó na luz que é finda só para mim, que vou comigo pelas

58 CRUZ (MACHADO), Arlete Nogueira da. SAL E SOL. Rio de Janeiro: Imago, 2006

59 http://pt.wikipedia.org/wiki/Nauro_Machado

NAURO MACHADO, ou a (poesia) entrevista. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 29 de dezembro de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/nauro-machado-ou-a-poesia-entrevista-5412.htm, acessado em 09/05/2014

BARBOSA FILHO, Hildeberto. NAURO MACHADO: poeta do ser e da linguagem. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina648.htm

CARNEIRO, Alberico. NAURO MACHADO - Um cirurgião para a alma de São Luís. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 21 de abril de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/nauro-machado um-cirurgiao-para-aalma-de-sao-luis-4353.htm

CARNEIRO, Alberico. NAURO MACHADO ao editor do JP Guesa Errante, Alberico Carneiro. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 21 de abril de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/nauro-machado-ao-editor-do-jpguesa-errante-alberico-carneiro-4352.htm

CARNEIRO, Alberico. PROVÍNCIA - O PÓ DOS PÓSTEROS Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 21 de bril de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/provincia-o-po-dos-posteros-4351.htm

60 http://www.jornaldepoesia.jor.br/nauro.html#bio

61 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/nauro_machado.html

GALERIA DOS LIVROS58

manhãs nascendo todas cegas ainda. Como fazê-las ser de novo vivas?

Como, se nunca delas fui um conviva às vidas feitas festas para as vistas? Para arrancá-las da morte onde as pus, quero essa noite, ó mãe, roubada à luz do céu que, embora cega, tu conquistas.

851

Todo o furor da vida esvai-se quando a natureza cobra o seu direito, e o tempo chega pelo verme andando para mamar seu leite em outro peito. Ó tempo-vândalo, ó furor de um mando na assinatura desse édito feito com toda a dor do punho mais nefando da natureza em seu madrasto leito! Troai dos lábios as blasfêmias hirtas pelo alfabeto além a se extinguir, tais os corpos trêmulos no fim, cadáver-verbo aberto pelo crime, embora de um Deus feito pai do hímen dessa mulher que é mãe também de mim.

CALENDÁRIO

Tomaste parte em nenhuma outra guerra. Não perdeste pés ou mãos dentro desta. Não abriste túmulo em nenhum lugar. Nada quiseste além dos teus haveres. Teu país de bois na aurora plantados, levou-o o tempo na usura do ocaso. Fizeste nada sábado, domingo, segunda, terça, quarta, quinta e sexta. Igual a todos, somaste semanas, Unindo a noite ao dia e o dia às noites.

Escuta: o tempo passa! E o teu passou. Passou o bonde, o colégio, a criança. Já o adulto vai-se: está chegando ao fim como um ronco doído em cosa podre, como um enlatado para ninguém. Made in Brazil. Tonel à água lançado No porto noite. Minha família! Ó alma.

Masmorra Didática, 1979

FILA INDIANA

Um atrás do outro, atrás um do outro, ano após ano, ano após outros, minuto após minuto, século após séculos, continuam

(a conduzir seus madeiros na perícia dos próprios dramas).

um após do outro, atrás um do outro, anos após ano, ano após outros, minuto após minuto, século após séculos, e de novo

um atrás do outro, atrás um do outro,

até a surdez final do pó.

AS PRAGAS

Porque não estive às portas de Madri, de onde escuto, ainda, o “no pasarán”. Te abjuro, Senhor, enfim, e a Ti, a quem, outrora, chamei de pai e bom.

Porque não estive às portas de Madri, lutando, às claras, com porcos-burgueses, luto e lutarei, em trevas, por aqui, Te abjurando, Pai, por milhões de vezes.

Entanto, saibam-no todos, e ouvi que aos homens-bestas, com meus punhos, sorvo-os enquanto, ao longe, às portas de Madri, se erguer, incólume, o sangue dos povos!

Décimo Divisor Comum, 1972

CAXANGÁ

Há um desespero real na palavra, um desespero contra o desespero, enlouquecido em tudo que é palavra incapaz de dizer o real nela, e um desespero dentro, um desespero da palavra assentada na palavra, de palavra assentada nela mesma, canal e boca de uma angústia virgem, de um dia novo contra a noite fora envolvendo de luto os nomes todos: Antônio, tênis, sonho, árvores, morte. Sombra dentro de sombra, mas girando em rodopio eterno, o pião da sombra, o que fazer da voz, senão clamar em uivos de absurda sombra, à noite geradora de braços e destroços vagando intérminos no extinto brado?

91

Por que me bates com teus sinos, plágios de uma humana cruz, calvário torto, tu, coração vazio de apanágios, sem esperança de nenhum conforto? (Meu coração é gaveta de naufrágios, de esperanças puídas no alto porto, onde singro, sagrando em meus sufrágios de vertigens, um mar que é natimorto.) Porque me falas e escrutar não posso teu nome, grito que laboro e roço na plantação maldita que me bate, pudesse eu, pária do meu próprio mundo, arrancar de mim teu ser, qual imundo dente, coração, à ponta de alicate!

92

Meu aniversário!: dá-me, Goethe, o fogo que vi queimando nos lábios do teu ontem, pura energia, livrando-me do logro

de existir para onde os deuses apontem. Sarça ardente, crepúsculo que rogo, regresse eu à terra, e que as trevas me montem no tempo morto de um eterno logo, eterno aberto ao pronto desmonte em matéria e ruga, de olhar no meu rosto. e ao achar-me inteiro – e à Tua partilha exposto, elucida-me, Goethe, o em mim por quê: se não sei o vento, verbo do arvoredo, balbucio o tempo e nele retrocedo ao não ser próximo do estar no Ser.

LUIS CARLOS DACUNHA 62

CARLOS CUNHA

18 de maio de 1933 # 2007

Filho de Carlos José da Cunha e Edith Campos Cunha. Professor, jornalista, crítico literário, ensaísta. Poeta, crítico, ensaísta, cronista, jornalista, professor, graduado em história e geografia, membro da Academia Maranhense de Letras.Autor de muitos livros de poesia, desde o primeiro – Poesia de ontem (1968). Fundou, em 07 de dezembro de 1968, aAcademia Maranhense de Trovas. Falecido em 2007.

Para Neres (2209)63, além professor, folclorista, poeta, acadêmico e pesquisador Carlos, Cunha foi um incansável defensor das letras maranhenses.Ao longo de décadas, ele se prontificou a estudar criticamente as obras que eram publicadas. Autores que começam a caminhada rumo ao mundo das letras não ficavam no esquecimento e tinham seus trabalhos esmiuçados pelo olhar sempre atento do velho mestre. Desse modo, no livro “As Lâmpadas do Sol”, (de 1980), já é possível encontrar estudos sobre LuísAugusto Cassas, Raimundo Fontenele, Roberto Kenard, Wanda Crisitina e Déo Silva, autores que somente alguns anos depois iriam ter seus nomes projetados para além dos limites da Ilha.

Atento a tudo o que acontecia no campo das letras maranhenses, Carlos Cunha, no mesmo livro, também estudava nomes como Bernardo Almeida, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi, José Maria Nascimento, Nauro Machado, Oswaldino Marques, Nascimento Moraes Filho, Lucy Teixeira e José Sarney, autores que já eram reconhecidos na época. Em outro livro, intitulado “No Porão da Eternidade” (de 1982), que não é totalmente voltado para a literatura, pois aborda personalidades também de outras áreas, o arguto crítico faz um passeio pela obra indianista de Gonçalves Dias; lembra o passamento de Erasmo Dias e analisa “Canção das Horas Úmidas”, o primeiro livro de poema deArlete Nogueira da Cruz.

Anos antes, em 1974, o pesquisador maranhense já havia sido aclamado por seu importante trabalho “Poesia Maranhense Hoje/50 anos de poesia”, uma importante antologia de resgate dos poetas de nossa terra. Tais livros hoje são verdadeiras raridades, mas também são fontes para qualquer pessoa que se disponha a estudar a literatura maranhense.

Hoje, alguns anos após a morte do professor/poeta, sabemos que nem tudo o que foi garimpado por ele era ouro de verdade. Mas ele cumpriu com o seu dever de buscar pepitas de ouro onde outros só enxergavam um vazio literário.

JáAzevedo (2008)64 diz dele, Carlos Cunha, que

Dentre esta plêiade nova de valores que enobrecem o Maranhão cultural de hoje, avulta a figura simples do poeta e professor Carlos Cunha. Do professor não vamos falar, pois hoje é a vez do homem de letras.

(...) Para se ter uma idéia das imensas possibilidades do nosso amigo poeta, focalizaremos o soneto "Ponto

62 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/carlos_cunha.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Cunha_(escritor) http://wanda.cunha.zip.net/outros/ http://www.falandodetrova.com.br/carloscunha

63 NERES, José. CARLOS CUNHA – O GARIMPEIRO DE TALENTOS. In Blog Mais que palavras. Disponível em http://joseneres.blogspot.com.br/2009/07/carlos-cunha.html , acessado em 10/05/2014.

64 AZEVEDO, Ramiro. CARLOS CUNHA. In Blog da Wanda.Cunha, 26/04/2008, disponível em http://wanda.cunha.zip.net/outros/, acessado em 10/05/2014.

final", um dos muitos poemas da bagagem poética de Carlos Cunha. (...) Nossas horas de amor já se escoaram/no relógio da vida que vivemos! Assim é a abertura triunfal do poema elegante, ardente, sem preciosismos literários, porém o 'enjabement' - escoaram no relógio... - é bem preciso, toque de sensibilidade polifônica. Não mintamos pra nós, se percebemos/que as grandes ilusões se estrangularam. Figura arrojada, a prosopopéia deve ser manejada com grande tato e nos dois versos acima temos brilhantemente. - as grande ilusões se estrangularam em que a força do vocábulo estrangularam confere ao verso grande efeito na tessitura do tema. Fingimos para quê Beijos passaram/E as promessas de amor que nós fizemos,/foram tantas mentiras que esquecemos/ e os ponteiros sequer nem registraram. Um quarteto sutilíssimo que retrata fielmente o descompasso do arrebatamento amoroso inicial, cedendo a vez a um futuro tédio envolvedor. Deixa-me só, sozinho pela estrada/Comecemos os dois nova jornada/Nosso amor afinal está perdido./Não se pode viver senão amando,/a ti, eu nunca amei, foi delirando/que em teus olhos eu vi o deus Cupido!. O 'fecho de ouro' sela o poema de maneira consagradora. Se observamos bem constataremos que o soneto permite, tal a sua riqueza de conteúdo, vários 'fechos de ouro', como bem gostaria de expressar se Guilherme de Almeida. São Trabalhos literários como este que nos fazem manter aquela confiança nos recursos da gente intelectual maranhense, na fibra dos moços de hoje, no talento dinâmico que enseja tão somente que saiamos de província à Metrópole. (Carlos Cunha, de Ramiro Azevedo).

Punhal da aurora

Ainda escuto a fala do meu pai, iluminando o silêncio de tapeçaria da nossa casa de telhado verde. O rio que lavava a ruazinha estreita não vegetava mágoas.

Ainda escuto a canção da aurora que tocava o homem do realejo com seus olhares retos e o sorriso de orvalho.

Saudade de Maria com seu olhar umedecido de alvorada. Muitas vezes, muitas, percorri a rua carregando sonhos nas mãos inocentes, brincando com meus irmãos que nesse tempo eram apenas anjos de porcelana, num país sem memória. Hoje que Rominha tem outro nome e outras as crianças que ali residem, a perspectiva das casas tornou-se paralela. Deuses tiranos caminham sobre a lama viva e os jardins que sorriam, como as janelas, agora são de nuvens.

Como a infância corre depressa na terra grávida do tempo.

Os meus castelos, já não são fantasiados de papoulas, mas castelos de vento.

Os meus sonhos agora já não têm a cor do gerânio e o sol que havia no meu olhar tornou-se uma saudade ancestral.

(Cancioneiro do Menino Grande/1972)

Trovas

Saudade é vaso quebrado, guardado em maior recato; é o fantasma do passado colorido num retrato.

Confesso, na mocidade saudade não ter sentido; mas hoje sinto saudade daquele tempo perdido!

Saudade traz o perfume de tudo o que já passou; a saudade é um vagalume, resto de luz que ficou.

(In Minha Terra Tem Palmeiras/Clóvis Ramos/1970)

Condor Ferido

Para Jacimira, minha esposa

Eu já fui forte, ousado, destemido, um rochedo sem medo do oceano, primavera durante todo o ano um feliz vendaval sem ser vencido.

Eu fui condor, voando distraído, sem receio ou temor, sem desengano, conquistei corações qual um tirano, fui mais forte no amor do que Cupido.

Mas, tu chegaste, assim, na minha vida. E foste entrando, em mim, despercebida, deitando lá no fundo da minh'alma.

Pobre destino o meu, morrer assim: um furacão vencido pela calma. Foi tão-somente o que restou de mim.

(Areia Velha/1989)

São Luís é uma cidade que se veste de azulejos; o mar, quando tem saudade, banha seu rosto de beijos! Não me importo do passado, muito menos do presente. A vida é sempre um machado, cortando os sonhos da gente. Desconheço nesta vida quem passe sem ter saudade; é a mucama preferida da própria felicidade. Para a dor da solidão, a saudade é bom remédio; é um chá de capim-limão, a anestesia do tédio. Saudade é chuva caída na calha do coração; é centelha revivida, em noite de escuridão!

Saudade é vaso quebrado, guardado em maior recato;

é o fantasma do passado colorido num retrato.

Confesso, na mocidade saudade não ter sentido; mas hoje sinto saudade daquele tempo perdido!

Saudade traz o perfume de tudo o que já passou; a saudade é um vagalume, resto de luz que ficou. Quando Catullo morreu, Deus chorou em serenata, na porta grande do céu com mil violas de prata.

Conheço um barco veleiro, parado no cais, sozinho; assim sou eu prisioneiro no porto do teu carinho!

O céu noturno é mais lindo visto lá do meu sertão. Parece um colar luzindo no pescoço da amplidão.

Olhos assim como os teus, serenos, meigos, risonhos, parecem feitos por Deus numa alvorada de sonhos.

Meu retrato muito antigo, cheio de vida e de brilho, já não parece comigo, parece mais com meu filho.

PAULOAUGUSTO DO NASCIMENTO MORAES65

PAULO MORAES

23 de novembro de 1912 # 11 de setembro de 1991

Filho de José Nascimento Moraes eAnaAugusta Mendes Moraes, Paulo Moraes foi um dos mais importantes e contundentes intelectuais de São Luís.

Mas não somente a Ilha presenciou o trabalho deste integrante da família Nascimento Moraes. A cidade do Rio de Janeiro também o acolheu e presenciou o crescimento e desenvolvimento de PauloAugusto. Na Cidade Maravilhosa, o maranhense conviveu com os mais ilustres jornalistas da época, como Assis Chateaubriand, Samuel Walner e Jurandir Pires Ferreira.

Em 1971, Paulo Augusto foi homenageado pela Embaixada de Israel por ter realizado a cobertura da guerra no Oriente Médio. Tanto que o jornalista maranhense teve seus artigos traduzidos para uma publicação internacional. No ano seguinte, ele lançou seu único livro: "Aquarelas de Luz".

Após anos se dedicando ao jornalismo, PauloAugusto Nascimento Moraes conquista o direito de se tornar um imortal. Em 1982, ele assume a cadeira de nº 16 - fundador é Raimundo Corrêa de Araújo - da Academia Maranhense de Letras (AML); após a morte de Domingos Vieira Filho.

65 Fonte: O Estado do Maranhão - 23/11/2012 , disponível em http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Paulo+Augusto+Nascimento+Moraes&ltr=p&id_pe rso=5034

Salgado (2012) 66, em sua posse naAML, faz o elogio a Paulo Moraes, com estas palavras:

Indízivel reencontro na esfera da imortalidade, eles que tantas vezes trabalharam juntos na redação do jornal Pacotilha; conviveram no sobrado da rua de Santana, onde a família de Paulo generosamente acolheu Neiva Moreira por um período; e ainda nas ruas do Rio de Janeiro, quando Neiva acedeu ao conselho do amigo para marcar para sempre seu nome no jornalismo nacional.

Paulo Augusto do Nascimento Moraes, filho de Nascimento Moraes – este, alcunhado por Neiva Moreira como pontífice supremo do jornalismo –, marcou toda uma geração de jornalistas neste estado, abraçando o ofício de informar como sagrado sacerdócio. Carregava no sangue a paixão pelas palavras e fazia delas o seu instrumento de trabalho.

Esgotadas as possibilidades de continuar no Maranhão, devido aos parcos recursos que atormentavam o funcionamento do jornal Pacotilha, seguiu o jornalista para o Rio de Janeiro onde, nas palavras de José Chagas, “viu o que o Rio tinha de manso e violento. A Lapa era o laboratório onde o jornalista, o boêmio e o poeta pesquisaram a vida em todos os sentidos”. Lá, nos informa o poeta, trabalhou com Assis Chateaubriand em O Jornal; com Jurandir Pires Ferreira, em A Força da Razão e com Samuel Wainer, em Diretrizes.

Companheiro de Neiva Moreira na profissão e no amor pelo jornalismo, recebeu deste a seguinte apreciação: “A marca poética de Paulo Moraes, sem que ele mesmo tivesse dado conta, é o grande humanismo que conseguia produzir em torno de tudo o que fazia: humanismo e forte lirismo, transcendendo os limites do romantismo e formando quase que um realismo mágico e lírico”.

Poeta diletante, um curioso pelas aventuras da vida, não teve a preocupação de deixar registros, distraído na boemia e dedicado ao culto às amizades. Ao retornar do Rio de Janeiro para São Luís, retomou o ofício de reportar os acontecimentos. Graças ao esforço de seu irmão, o também acadêmico Nascimento Morais Filho, parte das poesias de Paulo foi reunida no livro Aquarelas de Luz, um misto de alumbramento filosófico e elogio às figuras femininas. Peço a devida permissão para citar um trecho do soneto que intitula aquela obra:

“Caminhemos então!...Tudo é sombra, querida!... As cigarras cantando!...As cigarras cantando Afugentam de nós as tristezas da vida!

Esta tarde morreu!...Tu mo afirmas, num beijo!

Eu te digo que não, entre prantos, chorando, Tu me dizes que sim, sepultando um desejo”.

Paulo não se formou em Direito, sonho de seu velho pai. Mas nem por isso o amor que os unia arrefeceu, assim demonstrado na carta que o filho, reverente, escreve ao genitor:“Sou seu amigo. Admiro-o muito. Devo-lhe o que sou”.

Cada um a seu tempo e modo, os jornalistas Neiva Moreira e Paulo Nascimento Moraes desempenharam a missão de honrar a herança deixada nesta Casa pelo folclorista e estudioso das coisas maranhenses que foi Domingos Vieira Filho. Tal como Jasão, que liderou os argonautas em busca do velocino de ouro, Domingos Vieira Filho empreendeu a busca por palavras e ditados maranhenses, ávido por revelá-los e cristalizá-los na memória de sua gente. Escreveu as importantes obras Folclore brasileiro: Maranhão (1977), A linguagem popular do Maranhão (1979),Breve história das ruas e praças de São Luís (1971) e outros interessantes estudos maranhenses, a maioria dos quais usava não assinar.

DEVOÇÃO

67

Penso em ti, minha mãe, com a ternura dos beijos

Os teus beijos de amor, de bondade e carinhos.

66 SALGADO, Natalino. DISCURSO DE POSSE – AML. INPalabvrado Reitor, publicadoem 14 dedezembro de2012,disponível em http://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/palavra_reitor.jsf?id=47, acessado em 10/05/2014.

67 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SECULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994, p. 98

Penso em ti, minha mãe, sem pensar nos desejos Das mulheres que amei às margens do caminho.

Penso em ti, minha ma~e, com os mesmos ensejos. Com que sempre te amei, com a pureza dos ninhos.

Penso em ti, minha ma~e, sem aflição e sem pejos, Mas trazendo na fronte a Coria de espinhos.

Penso em ti, minha ma~e, tua benção pedindo...

És a sobra do bem afastando os escolhos

Que, por vezes, mamãe, vão meu corpo ferindo.

Mal tu sabes, porém, que na luta prossigo, Relembrando esse amor que reluz nos teus olhos, Que me avisa do mal, alertando o perigo!

LUIZ DE MELLO68

1944

Iniciou sua trajetória no panorama literpario maranhense em meados da década de 60, colaborando em diversos suplementos literários de S. Luís. É autor de Meridiano Oposto (contos), Os Pintores Domingos e Horácio Tribuzi (ensaio histórico), Os Segredos de Guímel (contos) e Cronologia das Artes Plásticas no Maranhão.

Com impressionante paciência e perseverança, o escritor vem realizando um cuidadoso trabalho de investigação de fontes biográficas e bibliográficas, compilando registros de fatos e personagens da história da arte. Autor de quase uma dezena de livros, o contista e pesquisador Luiz de Mello tornou-se, ao longo dos últimos 20 anos, um especialista no mapeamento da histórica das artes plásticas.

Cronologia das Artes Plásticas no Maranhão, um livro singular, minucioso e surpreendente, baseado em pesquisa histórica, que cobre o período de 1842 a 1930, faz o formidável resgate de quase 100 anos de trabalho plástico em São Luís e parte do interior do Estado. Com 478 páginas, Cronologia das Artes Plásticas no Maranhão não é a primeira obra de pesquisa – de boa pesquisa e de interpretação saudável – assinada por ele ou feita por encomenda para estudiosos de diferentes áreas sociais, políticas e culturais. No ano de 2002, cercado por um grupo restrito de amigos e colaboradores, Luiz de Mello lançou outro fruto de sua pesquisa histórica e cultural, o livro Pintores Maranhenses do Século XIX.

Sobre “Os Segredos de Guímel”, de Luiz de Mello (Prêmio Odylo Costa, filho, Concurso Cidade de São Luís–1993), Nelson Werneck Sodré e Renato Castelo Branco assim se expressaram, em O Guesa Errante69: [...] “Quanto aos contos, posso lhe dizer que são bons e até mesmo, o que raramente acontece nesses nossos tempos, com teor original. São originais na forma, quase sempre, e no conteúdo. Importa dizer, antes de tudo, que são bons e portanto merecem edição, merecem ser lidos, conhecidos, comentados. Gostei deles e li-os com interesse e prazer. Vá em frente.” (Nelson Werneck Sodré – Rio de Janeiro, 09/11/93)

“Acabo de ler Os Segredos de Guímel. É notável sua capacidade descritiva de ambientes e pessoas. Recriando um mundo judaico de Andrade, ou o bas-fond da Central do Brasil, você nos dá exemplos expressivos de sua capacidade de observação e análise, num estilo vivo e que é seu, muito seu. Outro exemplo bem representativo dessa sua faculdade literária é o encontro do amante de Elizabeth, Ab Cassis,

68In O GUESA ERRANTE, 3 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/3/Pagina553.htm

UMA VIAGEM PELA HISTÓRIA DAS ARTES PLÁSTICAS NO MARANHÃO. In O GUESA ERRANTE, 3 dejaneiro de2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/3/Pagina553.htm

CRUZ, Arlete Nogueira da. O REALISMO FANTÁSTICO DE LUIZ DE MELLO. In O GUESA ERRANTE, 3 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/3/Pagina554.htm

69 OPINIÕES SOBRE A OBRA. In In O GUESA ERRANTE, 3 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/3/Pagina555.htm

http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2013/12/05/interna_impar,147637/para-lembrar-da-historia-luiz-de-melloreedita-o-livro-baseado-nos-es.shtml

com o enigmático Velho e o agressivo Magriço. Mas, afinal, não faltam exemplos. Muito obrigado pela oportunidade de ler o seu livro.” [...](Renato Castelo Branco- São Paulo, 25/11/93)

FERNANDO OCTÁVIO MOREIRADACRUZ70

FERNANDO MOREIRA

25 de setembro de 1930 # Rio de Janeiro, no dia 27 de ju1ho de 1994.

Filho deAntonio Ribeiro da Cruz Júnior e Laura Rosa Moreira Ribeiro da Cruz. Formou-se em Letras NeoLatinaspelaFaculdadedeFilosofiadeSãoLuísdo Maranhão,eem1959,comoprofessorassistente,ingressou na referida Faculdade, onde desempenhou a função de professor durante 32 anos. Foi professor de Língua e Literatura Inglesa, Língua e Literatura de Expressão Francesa, LiteraturaAmericana, História das Literaturas e Língua Francesa na Aliança Cultural Brasileira. Além de professor, exerceu ainda a função de Diretor do Instituto de Letras e Artes (ILA) da UFMA . Em 1992, já aposentado da UFMA, voltou à sua função de professor de Inglês no Centro Universitário do Maranhão (CEUMA).

Fluente nas línguas francesa, inglesa e dono de uma cultura exemplar e de uma prodigiosa memória, Fernando Moreira a1iou tudo isso ao talento para a ficção - como contista, romancista e teatrólogo.

São de sua autoria as obras: “O Grupo” - contos, “Reunião em Família” (teatro), “Cinema: uma perspectiva histórica, social e artística” (ensaios), “Desenhos na Parede” (romance), “As figuras em cera” (novela).

Publicou ainda os trabalhos didáticos: “Aspectos da dramaturgia brasileira contemporânea”, “As Palavras e as Idéias”, volumes I e II, em colaboração com a Profa. Maria de Lourdes Barroqueiro, “Nine dramatists and ten great moments on theAmerican stage”, “Notes on XXth Century English Drama”.

Teatro Escolhido é o 19º título da Coleção Geia de Temas Maranhenses. O livro reúne peças teatrais de FernandoMoreira,quetambémescreveuromances,contos,ensaios,novelasecríticadecinema.Odramaturgo deixou uma obra quase totalmente inédita.

JOSÉ MARIANASCIMENTO71

18 de setembro de 1940.

Filho de João e Neuza. O pai era um homem simples que trabalhou como vigia do Matadouro. A mãe uma prendada e dedicada dona de casa. “Muito cedo rebelou-se contra toda e qualquer forma de ensino”. É um autodidata em tudo o que faz. Por longo tempo foi diretor do Suplemento Literário do Correio do Nordeste, nesta cidade. Ganhou prêmios literários em São Luís e em Recife, onde residiu por seis anos. Lançou os seus poemas em Manaus e em São Paulo. Casado com Maria da Graça, cantora lírica, tem duas filhas, Layane e Tayane. A partir de 1998, torna-se fotógrafo, exercendo as suas atividades artísticas com relativo êxito. Com uma visão existencial que bem pode, na prática, ser exemplo daquele axioma filosófico do domínio público, Antes bem viajado e bem vivido, que bem lido, a vida do homem José Maria Nascimento, no entanto, explica o dito e o ultrapassa, pois, cursou o primeiro ano ginasial e, pela sua própria obra literária, percebe-se o universo de leitura que tem, pelas várias abordagens do discurso poético que manipula e conduz sempre com a percepção do que está acontecendo em torno e além fronteiras. Não é temerário citar que inúmeros escritores de renome foram autodidatas e, a título de exemplo, citem-se Machado de Assis e Carlos Drummond de

70 FERREIRA, José de Mário Moraes. CAFé LITERáRIO HOMENAGEIA FERNANDO MOREIRA, publicado em 23.11.2012, disponível em http://www.cultura.ma.gov.br/portal/sede/impressao.noticia.php?loc=ccocf&id=108, acessado em 10/05/2014

MELO,Vilma Maria Carvalho de Melo. In Ciências Humanas em Revista/Universidade Federal do Maranhão. Centro de Ciências Humanas, São Luís, 2005. v. 3, n. , disponível em http://www.nucleohumanidades.ufma.br/pastas/CHR/2005_1/capa_v3_n1.pdf

71 CunhaSantosFilho.JOSÉMARIANASCIMENTO:VIAJANTESDOENTARDECER.InGUESAERRANTE,30denovembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina302.htm, acessado em 11/05/2014

JOSÉ MARIA NASCIMENTO: VIAJANTES DO ENTARDECER(II) . In GUESA ERRANTE, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina292.htm, acessado em 11/05/2014

NERES, José. JOSÉ MARIA DO NASCIMENTO: MEIO SÉCULO DE POESIA. Blog Recanto da Poesia, disponível em http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2649901, acessado em 11/05/2014

Andrade, em nível nacional. O autodidatismo, ao contrário de depreciar, dá ao escritor, que se superou ao praticá-lo, destaque.

Aos 63 anos de idade, José Maria Nascimento se faz representar, como poeta, pelos 12 títulos de livros de poesia que já editou, a maioria dos quais premiados em concursos literários, em São Luís e em Recife.

Obras Literárias

Células da esperança, São Luís, MA, 1960; Harmonia do conflito, São Luís, MA, 1965; Silêncio em família, Prêmio SIOGE, São Luís, MA, 1968, publicado sob os auspícios do Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, Tipografia São José, São Luís, MA, 1969; Contemplação dos templos, Edição SIOGE, São Luís, MA, 1977; Carrossel ensolarado, FUNC/SIOGE, São Luís, MA, 1981; Os Frutos da madrugada, SIOGE, seleção de poemas, São Luís, MA, 1984; Seleta poética, SECMA, São Luís, MA, 1987; Os Verdes anos da maturidade, SECMA/SIOGE, São Luís, MA, 1987; Constelação marinha, SIOGE, São Luís, MA, 1993; Turbulência, FUNC, São Luís, MA, 1995; Encontros e aflições na Zona de São Luís, Edição do autor, 2001.

Tristezas da Juventude

Só em pensar fico triste de não mais curtir as tristezas que sentia na minha juventude.

A tristeza chegava na hora certa. Era motivação para quase tudo: uma farra solitária uma carta de amor golpes de gilete no braço.

Era divertida a tristeza que eu vivenciava na mocidade. Os anos se passaram, as tristezas se dispersaram. Nunca mais tive tristezas iguais.

Hoje, deploro a falta daquelas tristezas: tão boas, tão inocentes e necessárias. (p.125)

Os abominados

Jorge, a vida estava na memória da vazante, nas cisternas repletas de antigos sonhos, nas ferrugens grossas dos portais da Zona.

Os pássaros embriagados com os nossos hálitos, as moscas afogadas no fundo das garrafas, os teus delírios despertando as prostitutas.

Pelos corredores dormem os amigos exilados. Vamos, talvez seja esse o derradeiro bonde! As carruagens já não [trafegam pelas ruas.

Caminhemos para o Sul que o Norte já nos cansa, e deprimem os urubus nos seus vôos famintos. Observa: por detrás das águas dormem as pérolas.

Basta de bater com os costados pelas calçadas! As ervas cobrem-te os pés com o sal da manhã. Não mais os pesadelos nos albergues soturnos.

Passeiam os bois pelas campinas da tua infância.

Eis a hora esperada! Eis o momento da Redenção. Vamos, Jorge, juntos alcançaremos o lado eterno. (p.55)

Paisagem vegetal Já não quero o mistério das rosas nem o silêncio das folhas no jardim.

Algo mais grave que as horas dolorosas senti-la distante como se fosse em mim.

Não desejo a surpresa de um corpo maduro, ainda que verde para o uso do lamento.

Algo mais que uma rosa no céu escuro enche-me os olhos de depressivo encantamento.

A tua imagem neste quarto ora silente ondula em mim um pensamento lasso:

Assim te tenho no que penso vagamente, sem contudo sentir-te nos meus braços.

(Nascimento, José Maria. Silêncio em Família. São Luís: Tipografia São José, 1969. p.37-39.)

Elegia para meu pai

Pai, já o teu sangue repugna a minha carne e o baque rude do teu precioso afeto estala em meu crânio como enormes pedras caídas de um eterno que não sei para a destruição dos teus ossos em que me abraço.

O meu grito se faz eco no teu sono e tu despertas, que bem sei, para ver nada. Eis que teu filho em lodo se transforma para o objeto da tua vergonha muda. E nesta angústia, pai, tu ainda flutuas e me arrastas do presente que não tenho para o passado em que morri contigo.

Se este delírio já te expõe um homem adulto é que teu sangue em minhas veias se revolta e o ódio bruto de saber que nada sei da morte me transporta para as portas de um inferno que um dia me ensinaste a evitar.

(p.35)

O Taciturno

Compreenderás que as coisas mais simples não tiveram explicações; que a tarde caindo ao findar do sonho mais fria se torna que a neve nos lábios de um cadáver noturno.

Compreenderás

ao calor dos fornos a utilidade do pão que te foi negado; e deste regato onde flui a solidão de outras sedes em vão beberás a água do teu mistério sabendo-te insaciável.

Compreenderás na melancolia de uma lágrima caída a verdade do pranto que já se faz sonoro; sentirás na própria carne a amarga frustração de uma difícil morte trabalhada na voragem da existência – e não ousarás proclamá-la aos céus. (p.45)

Arco-íris noturno

Urge o tempo que a noite é uma granada que a vida é mais que trevas quando de um abismo se contempla a luz de cada estrela.

Estes corpos submersos sabem o peso de uma bala quando em preces em vão se elevam; quando o homem é uma promessa para um sonho que se cala.

Dores tantas de outra infância que a Deus renega e clama. Bate um sabre em cada porta como um filho que retorna para o nada do que ama.

Uma náusea em cada morte dentre as ceias que são vãs; vestígios de sangue e rosas ornamentam as passarelas no velório das manhãs. (p.21)

(Nascimento, José Maria. Seleta Poética. São Luís: Edições SECMA, 1987.)

O Crucifixo

Os pés estão suspensos como plumas sobre vidro leve e ainda mais breve

que um grito já partido.

Porquanto aqui retorno à tragédia me acostumo ante o corpo em vertical como quem medido a prumo.

Somente a cabeça pende para o esquerdo do seu recurso. Cabe inteiro o corpo numa hóstia como a bênção na ternura dum soluço. (p.22)

Retorno à infância

Audaz fora a sua infância de remotas quedas à semelhança de um ferido passarinho.

Andara noites em seus sonhos de herói e nada teve que não lhe fosse renúncia.

Criara carneiros e cabras que o pai lhe negara; mamara nas vacas a pureza dos dias que grande já era para os seios da mãe.

De pedras e águas suas tardes forjou mas alto já era e a infância se foi.

Agora sozinho a criança não chora – que é velho e velho à infância retorna (p.23)

(Nascimento, José Maria. Seleta Poética. São Luís: Edições SECMA, 1987.)

O Cálice

Se é verdade que não mais retornam por que clamam tanto no meu sono?

Em que águas se afundaram os náufragos do silêncio e do medo?

Que novas sedes lhe chegam à alma, entorpecida por sufocantes caminhos?

Que outros infernos inauguram depois das tormentas do Purgatório?

Existirá o que sonharam em vida ou apenas o Nada no centro da Terra?

Se de todos, nenhum mais existe, por que divagam nos meus pesadelos?

Que outras moradas buscam os mortos, confusos, pelos confins do meu ser? (p.38)

Meu pai

Agora estás liberto, finalmente, do desvelo e da carne, vigia.

Pouco importa aos teus domingos se na segunda te serviam bóia-fria.

No matadouro, os quartos de boi sangram a sua última agonia. Para melhor qualidade do trabalho, o sonhar te foi proibido, vigia.

As cores das manhãs foram-te raras: estavas oculto em teu ser obscuro. A esclerose te assaltou de súbito, qual um ladrão que temias no escuro. Os teus cachorros ficaram calados, tristes, com a falta da tua companhia. Na rede o teu vulto se agasalha; no quarto, o clima é de sono, vigia.

Já não caminhas de retorno à tua casa, cruzando a Campina onde o gado repousa. Tanto teceste vigílias com o teu suor, para tudo acabar numa pequena lousa:

Aqui descansa João Baé. Trocou a noite pelo dia. Não foi um boêmio errante. Na vida, um simples vigia. (p.80-81)

(Nascimento, José Maria. Viajantes do Entardecer. São Luís: Lithograf, 2003.)

JORGE NASCIMENTO72

8 de janeiro de 1931

Fez o primário na Escola Modelo Benedito Leite e o Secundário noAteneu Teixeira Mendes.

Em Belém do Pará, trabalhou dois anos no Conselho Nacional de Petróleo, de 50 a 52. Trabalhou em São Luis no Jornal do Povo, como revisor e repórter, 1956/58; após ser classificado em segundo lugar num concurso para revisor do Jornal do Brasil, trabalhou nesse periódico entre 1957/1959. Colaborava na revista Legenda, na década de 60

Andarilho, aprendiz de jornalista, poeta aprendiz... É em Recife que apura a linguagem e cria os primeiros poemas – Ausencia restituida é de 1972, muito elogiado pela critica. Lá foi revisor tipográfico, respectivamente, do Jornal do Comércio, 1974; do Diário de Pernambuco 1975 e Diário da Tarde, também em 75. De volta ao Rio de Janeiro, trabalhou no Ministério da Educação e Cultura, como revisor de textos, indicado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade. De volta ao Maranhão, se reintegra à vida jornalistica e cultural do Estado,; Na Rádio Educadora, 64/66; no Jornal Pequeno, 75/79; no O Estado do Maranhão, 80/92, como repórter e copidesque; Secretário da Fundação Joaquim Nabuco, entre 1981/1982.

Membro da do Centro Cultural Gonçalves Dias; funcionário da Secretaria de Cultura do Maranhão, e depois no SIOGE.

De 1987 é Os mortos não leem os epitáfios das manhãs

Auto-retrato

72 BRASIL, Assis. JORGE NASCIMENTO - Uma Biografia de Jorge Nascimento. In GUESA ERRANTE, 20 de janeiro de 2006 , disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/20/Pagina651.htm, acessado em 11/05/2014

BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SÉCULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/jorge_nacimento.html , dezembro de 2008

Cresce dentro de mim, doloroso, humilde pranto; Alma surda e esquizofrênica, inútil de tristezas, Desertei da vida pela aspiração do amargo canto E mesmo assim ainda tive que banhar-me de torpezas;

Quem agora irá prover a insanidade do meu sonho, Eu, que sempre tive o bem ajustado e negro desvario De nunca permanecer nas proporções onde me ponho, Errante e só, comandado pela minha bússola de desvio

Sempre a refulgir, nos oceanos de uma sinistra paz; Meu reino imbecil, descoberto por defeituoso impostor, Repetente de todas as classes da infâmia sempre audaz;

Minha terra sombria de obscenidade, na voz de um homem A quem determinaram inteira sujeição ao destino opressor, Abençoado, enquanto vida tiver, as horas que me consomem!

De “AUSÉNCIA RESTITUÍDA, Poesia”, edição do Departamento de Cultura do Maranhão, Secretaria de Educação e Cultura, 1972. O livro está dividido em duas partes: “Átila” e “Nódoas de Carvão”, das quais foram selecionados os sonetos:

ÁTILA:

Antes da Batalha

Se, de repente, a presença da morte fosse mais além do pensamento, Numa definição de eternidade julgada para o obstáculo do castigo, O que seria de mim, sem filosofia para escapar deste vil tormento

De dúvidas flagrantes para destruir o alvo do meu coração inimigo ?

E padeço despido de metafísica ouvindo o lento suor cu.e vai crescer

Dentro de minha rebelião pornográfica, contra este espírito de calma, Assassino mercenário, vindo do exterior doido para matar o meu prazer, Inútil e degenerada fortaleza da cristandade, jagunço dos céus da alma,

Imaterialissimamente abstraio, caindo aos pedaços para vir saudar-me

A mim, seu dono e senhor nas solidões onde o pântano nunca se atreve

Com a megalomania dos seus bruxedos universais na tome de retalhar-me,

Igual a tantos outros viajantes reverenciosos nas enfermarias esganados, Como as vacas esquartejadas no matadouro fulminante desta hora breve, Deslizando no corredor vermelho sem os gritos dos infortúnios lancetados !

O Arconte Executado

A boca dos mortos é igual a um escorpião corrupto sem perspectiva, Observada apenas pelo verdugo quando vai se ajoelhar com o destino, Depois que os sentidos caíram com o olhar da fronte real e fugitiva, Longe do estrado, além. da crina verde do fantástico cavalo assassino,

Amaldiçoando as pastagens toscas com os resíduos da geada indiferente, Doendo a imaginação com a infinidade dos longos amores já corrompidos, Antes de receber na masmorra o candelabro para iluminar o inconsciente E devolvê-lo aos mendigos farsantes e cruéis, na pocilga dos grunhidos,

Reacendendo a vergonha da nudez que recorda o Santo da montanha homicida Para destruir o ilusionismo da sobrevivência, com o logro da eternidade,

Quando tudo está consumado, até mesmo a última parcela da Ceia dolorida,

Repercutindo nas trevas anónimas o grito selvagem do Inquisidor no cansaço, Onde a luz do jazigo será insculpida para a nascente origem da deslealdade, Com a epiderme da Face cravando-se nos antropofágicos filamentos do espaço!

NÓDOAS DO CARVÃO:

Desencontro

Sol é coletivo de relâmpagos, quando chovem estacas do pensamento, Descendo em verticalidade dolorida ao remontar o passado no desejo

Pavoneando-se de lascívia, ao ver o negro antes do seu linchamento:

Comovente macho africano, subjugado na raiva inflamada de um beijo

Lambendo o corpo todo, contra a maciez dos seios nos olhos impuros

Desta branca tão bela quanto o transatlântico voando pêlos espaços

O peso de suas ancas para ferir anaconda enroscada acima dos muros

De vegetais sanguíneos, defendidos por quatro serpentes: os braços,

Mordendo-se desesperados na forragem dos cavalos, perto da vacaria, Agora em silêncio furioso rolando pela grama que logo se desprende

No combate dos centauros de duas cabeças beijando o chão da agonia,

Sem perceber o latido dos cães rastejadores atrás da honra perdida, Trazendo à frente o caçador de adúlteros num espanto que ofende:

Olhando o negro agressivo espojado em bestialidade no animal da vida!

FERNANDO BRAGA 73

FERNANDO BRAGA DOS SANTOS GAMELLAS

29 de maio de 1944.

Formado pela Faculdade de Direito do Distrito Feedral, com pós-graduação em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB), e estágio em Direito Penal Comparado pela Universidade de Paris-Sorbonne. Reside, há alguns anos, em Brasília, onde continua a escrever poemas e trabalhos em prosa, muitos dos quais, estudos literários. Estreou em 1967, com o livro de poemas Silêncio branco, a que outros se seguiram, Chegança, 1970; Ofício do Medo, 1977; Planaltitude, 1978; O Exílio do Viandante, 1982; Campo Memória, 1990; O Sétimo Dia 1997 e Poemas do tempo comum, 2009.

Liberdade até as pedras negam a paternidade da terra.

no chão, não há reforma nem raízes.

os homens fingem acreditar em Deus, enquanto as crianças sonham com esfinges

73 MIRANDA, Zenilton de Jesus Gayoso. Blog doAntonio Miranda, publicado em outubro de 2008; ampliada e republicada em maio de 2010.; ampliada e republicada em setembro de 2012. Disponivel em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/fernando_braga.html, acessado em 25/04/2014.

e mitos, porque adormecem com fome

quero uma enxada e um arado, porque onde piso até as lágrimas proliferam.

quero a união dos povos e o amor de irmãos, porque dito a paz e não acredito em esmolas.

quero ajuda para construir, esperança para modificar e depois gritar: liberdade! liberdade!

(Chegança/1970)

Longe noturno

Meus olhos emigraram para São Luís minha cidade pavorosamente triste, onde um meio de céu esconde o rosto de Deus das vidraças da planície.

Vim aqui tornar-me em arbusto onde sou o argonauta deste verde.

Morto pão esquecido sobre a mesa foi minha ceia incrivelmente tarda.

Noturno vinho em resto abandonado ferve-me o corpo hipertencialmente reto, nesta noite sem data dalguma safra onde me disponho não mais sentir-me.

(Ofício do Medo/1977)

Linhas sobrepostas ao plano 1

Do plano finito os céus eu componho cerrado de pedras de aço antiplano no verbo do nada no tudo que exponho exercício de exílio desterro altiplano. Agouros no espaço perdidos nas dores com o credo do úmido em chão prateado

alentos de vida em versos de amores à vésperas da morte

o choro dourado. Pesadelo de insônia terrível agonia meu rosto na sombra do teu evangelho naufrágio de sinos em cruel letargia despenco da nave do ser-me mais velho.

No campo da memória 1

No campo memória, eu aro a palavra que se me apura; no canto cerrado, o poema me lavra e se me depura.

E assim eu canto: I

Galopa meu verso neste canto cerrado, em campo memória, e vai beber nas fontes dos Caruanas a organicidade líquida de São Luis, para que eu possa cantá-Ia neste meu desterro.

A ilha liberta-se pela memória piramidal de Bequimão e pelo romanceiro . de amor e morte dos Timbiras e da Canção do Exílio.

Na Quinta da Vitória, a metáfora sousandradina apura-se na memória de São Luís, como uma açafata de pedra e cal.

Ah! minha cidade!

Quero estar nestes versos por quilombos escravos. na dimensão de sombras, onde atreva entrave,

(O Exílio do Viandante/1982)

.......................................................

na entrevada raiz.

(Campo Memória/1991)

Longe noturno

Meus olhos emigram para São Luís Minha cidade pavorosamente triste, onde um meio de céu esconde o rosto de Deus das vidraças da planície. Vim aqui tornar-me em arbusto onde sou argonauta deste verde. Morto pão esquecido sobre a mesa foi minha ceia incrivelmente tarda.

Noturno vinho em resto abandonado ferve-me o corpo hipertencialmente reto, nesta noite sem data dalguma safra onde me disponho não mais sentir-me (Ofício do medo /1977)

JAMERSON LEMOS74 (1945 - 2008)

ARMADILHA

a música escorre pela noite como estreito regato igualmente minha mente escorre pela noite.

isso ou aquilo, antes, depois, uma rua tortuosa, pequena cidade a ferver distante.

Quanto tempo fui tolo?

A música escorre pela noite, pulsa como um coração.

Soneto da Terça

quando você se entristece uma coisa qualquer se me entrista. um gole de rum a mais que eu insista é coisa pouca e você não esquece.

quando, porém, se nada teça vida minha e pobre de artista você me toca e me diz: desista meu bom amor, amo-te na terça.

muito bem, tento-te de novo alma de pombo, espírito de corvo, sobras-te-me na estação.

74 http://poetaelmar.blogspot.com.br/2013/04/seleta-piauiense-jamerson-lemos.html http://180graus.com/blog-literario/lembranca-do-poeta-jamerson-lemos-299477.html

volvo-me a ti amor em praia, soluço de sol, sal de caia da casa. só a luz e verão.

ORLANDEX PEREIRAVIANA 75

10 de agosto de 1938

Nasceu em São Luis a 10 de agosto de 1938, filho de Edson MatosViana e Naura Bastos Jansen PereiraViana. Concluiu o Ginasial no Liceu Maranhense e Letras pela Faculdade de Filosofia da UFMA.

Exerceu o magistério no Liceu Maranhense, onde lecionou Desenho, Frances e Ingles, Lingua e Literatura Portuguesa e Brasileira. Lecionou Desenho no Ateneu Teixeira Mendes, Rosa Castro, Seminário Santo Antonio e Noções Elementares de Gramática Latina para o curso de Letras da UFMA.

Foi agente administrativo do INAMPS. Historiador, Jornalista, Poeta, aplicado àArte dramática. Contribuições na revista do IHGM

VIANA, O. P.

OS PRIMÓRDIOS DO BRASILAno LIX, n. 08, março de 1985 67-74

EXPLICAÇÕES SUCINTAS DO DESENHO DO MEDALHÃO (CRACHÁ) PARA SER USADO NAS SESSÕES SOLENES E FESTIVAS, PELOS MEMBROS EFETIVOS DO IHGM Ano LIX, n. 09, outubro de 1985 56-57

APOSIÇÃO DO BRASIL EM RELAÇÃOAS DEMAIS NAÇÕESAno LX, n. 11, março de 1986 35-40 AEXISTÊNCIAHISTÓRICADEANTONIO LOBO ano LX, n. 12, 1986 ? 78-98

PEDRO DA SILVA NAVA: MÉDICO, ESCRITOR, POETA, PINTOR E DESENHISTA Ano LXII, n. 14, março de 1991 43-52

AARTE DE FALAR BEMAno LXIII, n. 16, 1993 97-103

A IMPORTÂNCIA DO FOLCLORE E SEUS PRINCIPAIS ASPECTOS NO MARANHÃO Ano LXIV, n. 17, 1996 83-92

ANAAMÉLIA,AMUSADE G. DIAS, SUAGENEALOGIAE SEUS DESCENDENTES No. 21, 1998 106108

75 REVISTADO IHGM ,ANO LIX, MARÇO 1985, No. 8,p.66

CONCURSOS

FRANCISCO INALDO LIMALISBOA

Inaldo76 graduou-se em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e em Letras pelo Uniceuma. É especialista em Língua Portuguesa pela Universidade Salgado de Oliveira e Mestre em Ciências, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Em 1995, entrou para o quadro da então Escola Agrotécnica Federal de São Luís, atual IFMA– Campus Maracanã, onde trabalha até hoje.Além de professor, ocupa o cargo de diretor do Departamento de Desenvolvimento Estudantil (DDE). No Campus Maracanã, há 16 anos, Inaldo está à frente do premiado Fazend’arte, grupo pedagógico de teatro estudantil77

Venceu, em 2007, o Prêmio Água Fonte de Vida e Desenvolvimento, promovido pela Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão (CAEMA), na categoria texto teatral. No 31º Concurso Literário eArtístico da Cidade de São Luís, nesse mesmo ano, conquistou os prêmiosArturAzevedo, com o livro Nicéas Drumont: o gavião vadio, e GraçaAranha, na categoria novelas e romances, pelo livro Os novos degredados do Éden.

Entre suas obras, destacam-se, ainda, o livro de crônicas e contos Tudo Azul no Planeta Itapecuru (2005) e as peças teatrais Nossa Velha Canção (1996); Um grito vindo do Rio Itapecuru (1997); Babaçu is Business (1999); Moderniscravizando (2006); Os órfãos de Ayrton Sena (2004); Trangênicos or not Transgênicos (2005), entre outras. Assíduo participante do Festival Maranhense de Teatro, neste ano, apresentou o espetáculo E São Luís não virou Paris

Gilmar Pereira da Silva

Herbert de Jesus Santos

Igor Nascimento

Jomar Moraes

José Marcelo Silveira

JOSOALDO LIMAREGO78

1979

Tem dois livros de poemas publicados, paisagens possíveis, 2010 e variações do mar, 2012. Nas duas obras o poeta articula uma linguagem que corresponde ao tempo de sua emergência, urgência e vigência, porque a linguagem de criação, conforme entendemos, está sempre em vias de transição, em sua mobilidade diacrônica, no tráfego do presente, mas que pode apontar também tanto para o passado, quanto para o futuro, dado que é vertiginosa, instantânea e simultânea aos dados imediatos da mente do artista, em seu fluxo. Como diria Todorov, relendo Lavoisier, que releu o Qoélet, “o novo é o velho reinventado.” Mas reinventar é que se insurge como o xis da questão.

Josoaldo LimaRêgo, como poetade múltiplasleituras, temo méritode buscar eencontrarum discurso poético que corresponde à linguagem do seu tempo, ao despojar a linguagem dos artificialismos canônicos da retórica, da versificação e da métrica, como forma de apresentar a poesia, no poema, em estado mais natural possível. Articula um discurso poético, cuja base é a ressignificação ou renomeação dos seres e das coisas. Ele sabe que não há originalidade, pois original é o que preexiste. Então investe na autenticidade. E por que Josoaldo é um poeta autêntico? Porque lendo seus poemas pode-se dizer – este poema é um autêntico Josoaldo. Ele é um poeta que tem uma marca de individuação, cujas pegadas de curupira podem ser identificadas, cujo autógrafo são os próprios poemas que, sem estarem assinados ou rubricados, assomam como patente. Por que? Porque

76 http://www.ifma.edu.br/maracana/index.php?option=com_content&id=3373%3Ainaldo-lisboa-professor-do-maracana-tomaposse-na-academia-de-ciencia-letras-e-artes-de-itapecuru&Itemid=1

77 http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/dissertacao/Francisco%20Inaldo%20Lima%20Lisboa.pdf

78 CARNEIRO,Alberico. JOSOALDO LIMARÊGO -ARTICULAÇÕES& RESSIGNIFICAÇÕES. GUESSAERRANTE, 9 de março de2013, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2013/4/30/josoaldo-lima-rego articulacoes ressignificacoes4435.htm, acessado em 10/05/2014.

ele investe na poesia em estado puro na palavra. Os poemas têm voz e olhar próprios, quando Josoaldo opta pela audácia de apresentar a Poesia sem vestidos, anáguas, sutiãs e sungas, para que dela se possa tomar posse em plenitude, naquela nudez absoluta em que nasceu, como expressão de Beleza, em seu eloquente discurso em silêncio, sem as amarras dos espartilhos da sintaxe e da pontuação, em busca da completa naturalidade de suaessência, como quem sabequeum diaaPoesia voltaráasermúsica eseu alfabetoserãooolhar,as mímicas e os gestos. E basta.

Por outro lado, percebe-se em variações do mar, a angústia de um poeta que tem a consciência de que, no mundo em que vivemos, de televisão, celular e internet, o ser humano está só, isolado e perdido no mar da multidão. Não há mais necessidade de viajar por oceanos e mares para a pessoa encontrar-se sozinha com o soluço, o silêncio e a solidão. Coincidentemente, nos poemas de variações do mar, Josoaldo Lima Rêgo nos fala, em linguagem contemporânea, em perda e desterro, não da mesma maneira que está na Odisseia, no The Seafarer, no Moby Dicky, no Lord Jim, no Ulisses e em Omeros, mas da mesma maneira que está nas percepções de cada ser humano perdido no meio do redemoinho deste planeta Terra, perdido no meio do mar da multidão de sete bilhões de habitantes, que giram na cabeça do poeta Josoaldo, exilado em sua própria ilha de São Luís.

Márcio Coutinho

Ricardo Leão

Wilson de Oliveira Costa Dias

Wilson Marques de Oliveira

GERAÇÃO HORA DE GUARNICÊ / ANOS 1970

Hora de guarnicê: poesia nova do Maranhão /Antônio Moysés, Fundação Cultural do Maranhão / Fundação Cultural do Maranhão, 1975

CYRO FALCÃOEDMILSON COSTA -

FRANCISCO TRIBUZI79

Francisco José Santos Pinheiro Gomes

São Luís do Maranhão / 24 de janeiro de 1953

Filho do saudoso escritor José Tribuzi Pinheiro Gomes e da Sra. Maria dos Santos Pinheiro Gomes. Nasceu em São Luís do Maranhão, Brasil, em 24 de janeiro de 1953.

Fez o curso primário no Instituto Lourenço de Moraes e no Colégio Zoé Cerveira. O segundo grau, no Colégio Nina Rodrigues. No Colégio de São Luís, o Curso Técnico em Contabilidade. Formou-se em Química pela Universidade Federal do Maranhão,UFMA. Profissionalmente, exerceu o magistério, nos colégios Nina Rodrigues,Almirante Tamandaré e Unidade Integrada Bandeira Tribuzi. Foi chefe de gabinete do Instituto de Tecnologia e Meio Ambiente, no Governo João Castelo. É funcionário da Companhia Energética do Maranhão, onde trabalha, há 16 anos, como assessor de Comunicação Empresarial. Do primeiro matrimônio com Izaíde deAraújo Rodrigues, nasceram Clarice Rodrigues, poeta, e Vinicius Tribuzi Pinheiro Gomes. Do segundo matrimônio, com Maria das Dores, nasceram Artur e Raul Tribuzi.

A priori, optou pela pintura, seguindo a trilha do italiano Domingos Tribuzi, tio-avô do seu pai. Expôs seus trabalhos em várias mostras, nas quais logrou prêmios. No final da década de 70, ele entremisturou-se de pintura e literatura: “achava, a princípio, que a pintura era a minha arte. Ela não deixou de ser a minha arte, mas foi suplantada por uma arte maior, que é a poesia”, observa.

Publicou, em 1978, seu primeiro livro de poesia, intitulado “Verbo Verde”. Declama o Poema das Tardes, de sua lavra, com o qual ratifica a contiguidade entre palavras e cores: “Existe a tarde que eu invento e que arde/ Existe a outra tarde./A minha tarde é cinzenta/ e a tarde que existe e arde não é igual à tarde que se inventa./ Existe uma tarde e outra tarde/ entre a tarde que eu invento”.

É um poeta amplamente aplaudido nas principais antologias poéticas do Maranhão: “Atual Poesia do Maranhão”, deArlete Nogueira Machado; “Hora de Guarnicê – 1 e 2”, “Poetas da Ponte” e “Poesia Maranhão do Século XX”, organizada porAssis Brasil. Também, os seus trabalhos foram publicados em “As Lâmpadas do Sol”, ensaio de Carlos Cunha e “Um degrau”, revista literária da UFMA. Lembra os tempos de Guarnicê: “Foi uma antologia altamente festejada, porque mostrava toda a nova safra de poetas de São Luís.Aantologia virou movimento", afirma.

Mesmo fincado à terra Natal, propagou sua poesia no Sul do País. Recebeu menção honrosa especial no 5º Concurso Nacional de Poesia, em dezembro de 1992, organizado pelo Instituto da Poesia Internacional, em PortoAlegre. Conquistou o 1º lugar no Concurso de Poesia “Dia Luz”, promovido pela Cemar, em 1995. Com o poema “Delírio Tremens”, recebeu medalha de ouro, no 18º Concurso Nacional de poesia, pela Revista Brasília, em 1996. Foi destaque especial no Concurso Nacional de Poesia, através da Revista Brasília, neste ano. “Achei por bem mandar minha poesia para fora do Estado, para melhor dimensioná-la”, assevera.

Em constante produção literária, Francisco Tribuzi leva ao prelo três livros: “Azulejado”, prefaciado por HerberthdeJesusSantose “Tempoema”,ambosdepoesias.Oterceiro,intitulado“Sobaponte”,reúnecontos. Ainda há uma safra de 60 crônicas, entre as quais trinta foram publicadas em jornal.

Aplaude os poetas do seu tempo: Rossini Correia, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Roberto Kenard, Viriato Gaspar, Valdelino Cécio, João Ubaldo, Celso Borges e outros. Respeita e admira a nova

79 CUNHA, Wanda. FRANCISCO TRIBUZI: ENTRE O VERBO E A COR (Reportagem). In RECANTO DAS LETRAS, Disponível em http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2394790, acessado em24/04/2014. 50ANOS DE FRANCISCO TRIBUZI. In Suplemento Cultural e Literário JPGUESAERRANTE, publicado em 29 de novembro de 2005. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina224.htm, acessado em24/04/2014

geração: “Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, irmã de Zeca Baleiro, Fernando Abreu... Os poetas da nova geração estão coesos e estão tentando fazer um trabalho mais organizado junto à AME”. Mas desabafa: “A Literatura Maranhense é muito individualista”.

Seu pai, Bandeira Tribuzi, num plano espiritual superior, certamente retribui o orgulho que o filho sente do pai. E em nome do pai, do filho e da poesia, Francisco Tribuzi encontrou sua própria identidade: “Por mais que eu não quisesse, todos os dias eu amanheceria com a poesia norteando todo os meus caminhos. Por mais queeu quisesse fugirda poesia,ela continuariameperseguindo e eu mesinto feliz,porserum eterno aprendiz dela.”

Francisco Tribuzi é da geração de Rossini Corrêa e Cunha Santos Filho. De livro, publicou apenas Verbo Verde, poesia, composto e impresso pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, São Luís, MA, julho, 1978. No entanto, participou de várias antologias, entre outras, A Atual Poesia do Maranhão, organizada por Arlete Nogueira Machado; As Lâmpadas do Sol, organizada por Carlos Cunha, e em outras antologias como Hora de Guarnicê I e II, Poetas da Ponte; Poesia Maranhense do Século XX, organizada por Assis Brasil.Também participou darevistaliterária UmDegrau.Tem premiaçãoem váriosconcursos: Menção Honrosa Especial do 5º Concurso Nacional de Poesia, organizado pelo Instituto de Poesia Internacional, Porto Alegre-RS, dezembro, 1972; 1º lugar no Concurso de Poesia Dia de Luz, da Companhia Energética do Maranhão – CEMAR, em 1995, com o poema DeliriumTremens, Medalha de Ouro no 18º Concurso Nacional dePoesia,promovidopelarevistaBrasília,1996.ÉmembrofundadordaAssociaçãoMaranhensede Escritores (AME). Tem alguns livros inéditos:Azulejado e Tempoema, poesia, e Sob a Ponte, conto.

Ode Ao Jornalista

Acorda que a cidade dorme e o silêncio perpetua a imensidão das coisas. Acorda que a madrugada é fria e principia a manhã sonhada.

Acorda que logo mais o jornaleiro estará nas ruas e as notícias cruas desvendará:

o que aconteceu, a vida que morreu nessa noite a mais.

Noite em que o jornalista não dormiu e a tudo assistiu madrugada afora, e colheu a notícia na hora e aproveitou a essência da rosa recém-nascida para colocar em manchete no jornal de seus olhos onde não dormem nunca o Segredo e a Madrugada. (Poema do livro Verbo Verde)

Delirium80

Vomitando nuvens no dia de chuva atropelo sonhos dos jardins de ócio no fel da fantasia falsa da uva criatura expulsa, réu do mau negócio Arrepios dissonantes de tantas noites vãs tecendo as trevas do abandono apagando os sóis telúricos das manhãs incendiando a noite irreal, no sono tanto mar defronte e tanta brisa eu turvando a vida do lado de dentro

http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina221.htm

80

com a alma solta o corpo agoniza distorcendo o mundo no perdido centro Ó pesado álcool que me aprisiona ao submundo mudo dos precipícios na cadeia escura e cruel da zona onde bebo e como todos os hospícios

Onde Deus que me levantasse desse chão de cuspe medo e solidão e me arrependesse e me atirasse desse mundo alheio para outro chão Onde sonhos sóbrios me arrematassem das trevas trêmulas da desilusão e num rio límpido me lavassem e me devolvessem pleno, salvo e são para o raiar de um novo dia feito do pão puro da poesia! (Do livro inédito Tempoema)

JOÃOALEXANDRE VIEGAS COSTAJUNIOR 81

JOÃOALEXANDRE JUNIOR

12 de dezembro de 1948

Fez seus primeiros estudos em Sergipe. De volta ao Maranhão, veio a colaborar na imprensa, publicando crônicas e peomas. Forma-se em Direito eAdministração, pela UFMA.

Tendo participado de vários movimentos literários, seus poemas ainda aprecem nas antologias Esperando a missa do galo, de Nascimento Moraes Filho e Poesia maranhense hoje ou 50 anos de poesia de Carlos Cunha.

Incluído na antologia Hora de Guarnicê, em 1975, em breve viria a lume a edição de seu primeiro livro de poemas, Em Te Brigar Te Amando, título que já bem expressa a vocação do poeta para a ambigüidade e o paradoxo, elementos essenciais da poética da modernidade. Editado em 1979, Em Te Brigar Te Amando mereceu o prêmio do Concurso Literário “Bandeira Tribuzi”, em 1978 e foi publicado em co-edição SURCAP/SIOGE.

Pulmões do Azul

Tuberculou-se o firmamento

Golfada a cambraia pálida

Da camisa do dia

- hemorrágica! Lento!

No seu próprio debruo

Até que arfante a cálida

Gota engolfada na pia

Do mundo, em si se parte

O sol quebrando a louça do jantar

Vaza a cada dia o pulso do diário:

A tarde em seu indeclinável suicídio

Golfa sangue no Bonfim

Umedecendo o chagar notívago

Da boêmia incontrolada no boteco

É a noite que se estatela na baía...

Se abre a palma no olor

Do seu lancáster

E a Estrela resplandece

Em ruge e pó-de-arroz

Nostálgicas herdeiras

81 Brasil, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SECULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. O ADEUS DO POETA JOÃO ALEXANDRE JÚNIOR. In GUESSA ERRANTE, 1 de dezembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/12/1/Pagina421.htm, acessado em 13/05/2014

Legatárias do pecado-à-mostra

Da cidade

(do livro Em Te brigar Te Amando)

ROSSINI CORRÊA 82

JOSÉ ROSSINI CAMPOS DO COUTO CORRÊA

É de SÃO LUÍS, nascido em 08 de setembro de 1955.

Dedicado aosestudosjurídicos,teológicos,filosóficosesociais,RossiniCorrêa –queparticipoudeseminários jurídicos naPontifíciaStudiorum UniversitasUrbaniana,noVaticanoena LiberaUniversitàMaria Santíssima Assunta, em Roma, bem como na Universität Hamburg, na Alemanha e na L’Ecole Nationale de la Magistrature à Paris e de conferência na Sultan Qaboos University, do Sultanato de Oman –possui Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco (1978), Bacharelado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (1981), Mestrado em Ciência da Religião pelo Instituto de Ensino Superior Evangélico (1998), Mestrado em Direito Canônico pela Faculdade Teológica Panamericana (1998), Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco (1982), Doutorado em Teologia Th D, pela Faculdade de Teologia Antioquia Internacional (1998), em Theology, pela Antioch Christian University, em Sociologia, pela Universidade de Brasília (1987), Doutorado e Pós-Doutorado em Direito Internacional, pela American World University (2002 e 2008).

RossiniCorrêaédetentordeumadezenadeDoutoramentosHonorários,entreosquais,DoutorHonorisCausa em Ciências Jurídicas, pela Faculdade Ítalo Brasileira - FIB; Doctor of Letters Honoris Causa, pelaAcademia de Letras Machado de Assis; Honorary Doctor in Laws, pela Cambridge International University; Doutor Honoris Causaem Filosofia,pelaUniversidadeCatólicaOrtodoxaUnida; DoutorHonoris Causaem Filosofia, pelo Instituto Teológico Emill Brunner; Doutor Honoris Causa em Teologia, pela Faculdade Teológica Bereana Internacional; Doutor Honoris Causa em Direito Internacional, pela Emill Brunner Universidade Aberta; Doutor Honoris Causa em Letras, pela Academia de Ciências, Letras e Artes de Minas Gerais; e Doutor Honoris Causa em Ciências da Educação, pelo Instituto Euro Americano de Educação Superior, Pesquisa e Extensão. Atualmente é/ recentemente foi Consultor para Assuntos de Pós-Graduação do Centro Universitário de Goiás UniAnhanguera e Representante Técnico do Centro Universitário de Goiás-UniAnhanguera, no Convênio de Cooperação Internacional firmado com a Universidad de Extremadura-UEX-ES , Coordenador da Cátedra Daisaku Ikeda, sediada no Centro Universitário de Goiás-Uni-Anhanguera, ViceReitor da American World University, Assessor Jurídico da Igreja Memorial Batista, Presidente do Instituto Avocare e Pesquisador Visitante do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e CartográficosIMESC.

Advogado e Professor Universitário, Rossini Corrêa é Conselheiro Federal Titular, pelo Distrito Federal, da Ordem dosAdvogados do Brasil - CFOAB - 2013/2016, Membro Titular da Comissão Nacional de Educação Jurídica,doConselhoFederaldaOrdemdosAdvogadosdoBrasil-CFOAB-2013-2016,MembrodoInstituto dos Advogados do Distrito Federal – IADF, Membro da Academia Brasiliense de Letras – ABRL e detentor da Comenda Luís Vaz de Camões.

Rossini Corrêa foi Coordenador Nacional da Lei Sarney, Assessor Especial do Governador de Pernambuco, Secretário de Educação e Cultura de Jaboatão dos Guararapes, Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Maranhão, Assessor da Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, Advogado da Secretaria de Planejamento do Estado do Maranhão, Diretor do Centro de Pesquisas Estruturais da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais, Chefe de Cadastramento do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas de Natureza Cultural, Advogado do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal, Assessor Jurídico da CPI sobre Exploração Sexual de Crianças e de Adolescentes (CD/DF), Coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário UNIEURO, Professor do Curso de Mestrado em Direito do Centro Universitário de Brasília-UNICEUB, Professor do Curso de Formação de Oficiais (APM/DF), Professor da Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal, Professor da Associação Pioneira de Integração Social, Técnico de Nível Superior da Fundação Escola Nacional de Administração Pública, Coordenador de Estágio

http://www.thesaurus.com.br/autor/rossini-correa

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da Fundação Escola Nacional de Administração Pública e Diretor de Estágio da Fundação Escola Nacional da Administração Pública.

Autor de 25 livros publicados, Rossini Corrêa conquistou 20 prêmios literários e possui cerca de 50 obras inéditas. Eis a sua bibliografia mínima:

ALGUMAS TESES

Classe Média Posta em Questão: ensaio de revisão bibliográfica. Recife: UFPE, 1978. 170 p., Trabalho de Conclusão de Curso de Bacharel em Ciências Sociais.

Formação Social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís, SIOGE, 1993, 391 p.

O Liberalismo no Brasil: José Américo em perspectiva. Brasília, Senado Federal, 1994, 710 p.

Política Externa Independente: contribuição crítica à história da diplomacia nacional. São Paulo, USP, 1992. 160 p. Trabalho oferecido ao Programa de Pós-Doutorado em Política Internacional e Comparada.

· Elegias de Eraldo. Brasília, Instituto de Ensino Superior Evangélico, 1998, 150 p. Tese de Mestrado em Teologia.

Direito & Teologia: Amós, profeta de qual justiça? Brasília, Faculdade de Teologia Antioquia Internacional, 1999, 150 p., Tese de Doutorado em Ciências da Religião.

Bacharel, Bacharéis: Graça Aranha, discípulo de Tobias, companheiro da Nabuco. Brasília, American World University, 2008, 600 p., Tese de Doutorado em Direito.

FICÇÃO

O Prêmio Nobel. Brasília, Corrêa e Corrêa Editores, 1989, 60 p.

· Reino Unido do Brasil. São Luís, SIOGE, 1993, 157 p.

POESIA

Canto Urbano da Silva. São Luís, SIOGE, 1984, 100 p.

· Sinfonia Internacional para a Pátria América: liberdade. São Luís, SIOGE, 1986. 216 p.

Saltério de Três Cordas. Brasília, Guarnicê, 1989. 130 p. Co-autoria com Joaquim Haickel e Pedro Braga.

Almanaque dos Ventos. São Luís, SECMA/SIOGE, 1991. 140 p.

Baladas do Polidor de Estrelas. São Luís, SECMA/SIOGE, 1991. 120 p.

Dois Poemas Dramáticos para Vozes e Violinos. Brasília, Thesaurus, 2001, 64 p.

Champagne para Nirciene. Brasília, Kelps, 2005, 224 p.

SOCIOLOGIA

Mudança Social do Nordeste. São Luís, SIOGE, 1986, 186 p.

O Bloco Bolivariano e a Globalização da Solidariedade: bases para um contrato social universalista. Em parceria com Valdir Perazzo. Brasília, Corrêa & Corrêa Editores, 1998, 327 p.

Da Itália para o Brasil. Brasília, Editores Perazzo & Corrêa, 1998, págs 21 a 39 e 213 a 218.

Atenas Brasileira: a cultura do Maranhão na civilização nacional. Brasília, Corrêa & Corrêa: Thesaurus, 2001, 379 p.

· Os Maranhenses: Contribuição para a Teoria Geral do Maranhão. São Luís, IMESC, 2008, 48 p... il.

POLÍTICA

· 1945: a lição de transição no Brasil. São Luís, Edição do Autor, 1986. 68 p.

· RomadeBravos Guerreiros: oDiaboLoironahistóriapolíticadePernambuco.Em parceria com João Roma Neto. Recife, Instituto Frei Caneca de Estudos Políticos e Sociais, 1998, 330 p. Co-autoria com João Roma Neto.

HISTÓRIA

· O Modernismo no Maranhão. São Luís, UFMA, 1982. 108 p.; 2ª ed. ver. e aum. Brasília: Corrêa e Corrêa Editores, 1982. 292 p.: 3ª ed. São Luís: Jornal Vagalume, 1990/91, números esparsos.

Paraná: começo de um Brasil melhor. Brasília, Câmara dos Deputados, 1989.168 p.

DIREITO

Crítica da Razão Legal. 2ª Edição, Rio de Janeiro, América Jurídica, 2004, 325 p.

Jusfilosofia de Deus. Brasília, Editora Primogênitos de Deus, 2005, 370 p.

Saber Direito: tratado de filosofia jurídica. Brasília. Editora Rossini Corrêa, 2011, 637 p.

Bacharel, Bacharéis: Graça Aranha, discípulo de Tobias, companheiro da Nabuco. Brasília, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, 2013, 607 p.

MEMÓRIA

· Um Fio de Prosa Autobiográfica com Ignácio Rangel. São Luís, IPES/UFMA/SIOGE< 1991. 166 p. il. Co-entrevistador, em cooperação com Maureli Costa, Pedro Braga e Raimundo Palhano, e autor da introdução e das notas.

Brasis que Vivi: memórias de Moura Cavalcanti. Recife, Fundação Joaquim Nabuco/Massangana, 1992, 308 + LXXVII p. il. Entrevistador, pesquisador e responsável pela forma literária.

· Ad Immortalitatem. Brasília: Thesaurus, 1999. 54 p. Discurso de posse na Academia Brasiliense de Letras.

Integra os Conselhos Consultivos da Fundação Casa de Penedo (AL), da Fundação Bandeira Tribuzi (MA) e da Escola de Formação de Governantes (MA), bem como o Conselho Pedagógico do Centro de Estudos Constitucionais e Gestão Pública (MA). Foi membro do Conselho Deliberativo da Escola Superior de Advocacia da Ordem dosAdvogados do Brasil (DF) e componente da Comissão de Ensino Jurídico da Ordem dos Advogados do Brasil (DF). Tornou-se Cidadão Honorário de Brasília por proposição do DeputadoAlírio Neto, aprovada por unanimidade.

É, ou foi, membro dos Conselhos Editoriais do Centro de História da Igreja na América Latina e no Caribe, da Câmara dos Deputados, da Editora América Jurídica, da Revista Anhanguera, da Revista CESUC e da

Editora Guerra Jurídica e Consultor ad hoc para Filosofia do Direito da Revista CEJ, do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal e do Conselho Editorial da Revista Prisma, do Mestrado em Direito das Relações Internacionais, do Centro Universitário de Brasília. É presidente do Conselho Editorial da Editora Rossini Corrêa. Possui dezenas de artigos jurídicos publicados em órgãos especializados, a exemplo da Revista da Escola Nacional deAdvocacia, do Conselho Federal da OAB. É Presidente do InstitutoAvocare. No Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil foi nomeado Presidente da Comissão de Direitos Difusos e Coletivos. É integrante do Colégio de Vice-Presidentes da Associação Brasileira dos Advogados –ABA e Vice-Reitor da American World University – AWU/USA, para o Brasil e demais países de língua portuguesa.

Recebeu ainda os títulos de Comendador da Soberana Ordem dos Valores Cristãos, de Teólogo Imortal e da Cruz do Mérito Teológico e Educacional e a Medalha do Mérito Candango e foi membro do Conselho Editorial da Câmara dos Deputados.

É membro efetivo da Academia Brasiliense de Letras , cadeira N° 7, cujo patrono é Joaquim Nabuco e da Academia Brasileira de Ciências da Religião, cadeira Nº 10, que tem como patrono Dom Helder Câmara.

CARTA AOS EFÉSIOS

Efésios eterna na branca colina da paisagem azul: são os templos, são as fontes, são os homens, são os deuses, são os barcos, são as fêmeas, são os frutos, são os pastos, cantando martelo na beira do mar. Romanos e gregos na rua, boca de lobo de qual verdade? Gregos e Romanos pintando o sete, bordando a ouro como argonautas pelos mares gregos ou como romanos valentes soldados, ambos senhores da rosa dos ventos boiando nos ares, cantando martelo na beira do mar. São os banhos, são os carros, são as lanças, são as cabras, são os peixes, são os vinhos são os vícios, são os vícios, Efésios eterna na branca colina

da paisagem azul, sem mais martelo na beira do mar.

IBÉRIA

Avistei terras de Espanha, de Espanha e de Portugal. E foi uma miragem tamanha, que o azul emocionou a nau.

Que o azul lacrimejou o ser, esperto bicho, só de alegria mascarado, logo a renascer, pintando de colorido o dia.

Colorido dia de Espanha, de Espanha e de Portugal: (este ouro que o azul apanha e transforma em mel e sal).

EM RHODES

Ao sol da Grécia, fértil, tu explodes: abaixo, tua Pérsia. Agora, vês Rhodes.

Desprezas o colosso. Tens o teu, privado. Nirciene, céu e poço no mar do seu amado.

SALOMÃO EM PARIS

Pelo vitral, Paris dançava: o sol na bruma.

E eu, em suma, o azul escutava no mel, no sal.

(Quanta parede e poucos meios: a vida, apenas...)

Tenho 2 Senas: são teus seios à minha sede...

(Não tenho rede e também feitos à luz de sábios).

Éfesos, julho, 2007.

Madrid, julho, 2007.

Rhodes, julho, 2007.

Tenho lábios, tenho 2 leitos: sou sono e sede!

POR QUEM OS SINOS DOBRAM

Paris, dezembro, 2009

“nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram:eles dobram por ti”. JOHN DONNE

Empresta-me, John Donne, o celeste verso terreno, o terreno verso celeste: permite-me que eu o clone e, com este coração pleno, ninguém a mim me conteste.

Tal como Dante, eu também tenho agora uma vida nova - sem fel, choro ou grito... Pois a dor que a vida tem, o mel do amor bem a renova: rosa de perfume infinito.

(Estrela de um céu menino, romã dos pomares de Deus, pétala da melhor das rosas, rosa total do meu destino do nada a tornar-me Zeus). Musa das manhãs licorosas,

amém! Amém por tu existires. Por tu seres, por tu estares, O vento a cantar: Nirciene... Amém por tu vires ou não vires, ó sal singular dos meus mares: morena safra, mãe do dia vezes ene!

São todos teus os meus hinos, os hinos que dobram e dobram, din, don, din, don como nunca vi. Os meus hinos são teus sinos que em pássaros se desdobram, que os sinos dobram é por ti!

É por ti que os sinos dobram!”

QUINTO ENCONTRO

Eu vi Lisboa do alto (era um bolo confeitado ou um jardim iluminado?) Nuvem nevada o asfalto...

Conversava Dona Nuvem na molhada madrugada, rainha branca e alada: nunca, jamais se curvem.

Brasília, outubro, 2004

Nunca, jamais se turvem, mesmo à Lisboa do alto... Com uma vontade de salto, Lisboa, meu chão de nuvem.

Cheguei para teu abraço, com a rosa amada comigo, minha morena cor de trigo, contigo a disputar o espaço.

Eu, um escudeiro fiel, amei a amada em Lisboa. Em Lisboa a amada voa... Ela, eu, em Lisboa. O céu!

REGRA DE OURO

Vida (unha em si mesma encravada e dolorida): de repente, lépida lesma esvoaçante e/ou abduzida.

É melhor, enquanto tê-la, esmerilar o chão amigo e lapidar o azul estrela, colhendo o pão do trigo.

Não é motor a gasolina, muito menos a óleo diesel. A vida, minha doce menina, mar é, de fel e talvez mel.

A nossa tarefa – difusa e precisa – é pôr carinho, ó amada e morena musa, nos espinhos do caminho,

para, assim, poder vivê-la na beleza da mulher nua a iluminar céu e estrela, pois toda noite é de lua!

Lisboa, março, 2010

Pirenópolis,-GO, maio, 2014.

GERAÇÃO CASSAS

LUÍS AUGUSTO CASSAS83

2 de Março de 1953

Luís Augusto Cassas (2 de Março de 1953, em São Luis do Maranhão) nasceu longe, como as utopias, desenvolvendo a vocação para o horizonte. Trilha o caminho do meio, mas há risco de abocanhar o inteiro. Após ciclo de mortes e transformações, novo nascimento entre duas palavras. Tendência à profundidade, por estar sempre em queda. Teórico do mais. Hoje, discípulo do menos. Poeta do alto e do baixo, do externo e de dentro; às vezes é fogo; às vezes, vento. De índole solitária, não é membro de nenhuma academia, sindicato ou entidade de classe. Mas aprecia longas caminhadas e bom papo. Gosta de contemplar a unidade, dispersa na criação: "Embora o olho não perceba, sabe-o o coração'. A serviço da luz, do belo e do verso. Para ele, o mundo é pura poesia. Não é à toa que se chama universo84 .

No final de 2012, a Imago Editora, do Rio de Janeiro, fez o lançamento de A Poesia Sou Eu 85, em 2 volumes encadernados, com quase 1400 páginas, apresentando toda a sua jornada poético- existencial reunindo 16 livros publicados e 4 inéditos, além de alentada fortuna crítica. As partes e o todo finalmente se encontraram. A visão de conjunto infunde novo sopro vital e propicia novas leituras e interpretações. É um grande painel lírico, uma multiinstalação? Também.Além de uma visão panorâmica, permite a avaliação da jornada mental de um poeta frente à vida e ás questões do seu tempo. E a confirmação de que mesmo morando distante dos grandes centros de irradiação cultural, não se deixou abater nem quando teve de renunciar ao mundo, transformando chumbo em ouro, permanecendo fiel à sua interioridade e sem fazer concessões ao gosto pasteurizado da época.

Com 696 páginas, o Volume 1 encerra, além do livro de estréia, República dos Becos, os títulos A Paixão segundo Alcântara (na versão recente acrescida de novos poemas), Rosebud, O Retorno da Aura, Liturgia da Paixão, Ópera Barroca, O Shopping de Deus & A Alma do Negócio, Titanic – Boulogne: A Canção de Ana e Antônio e Bhagavad-Brita: A Canção do Beco. O Volume 2 agrupa em suas 672 páginas os livros Deus Mix: Salmos energéticos de açaí c/ guaraná e cassis, O Vampiro da Praia Grande, Em Nome do Filho: Advento de Aquário, Tao à Milanesa, (inédito) Evangelho dos Peixes para a Ceia de Aquário, Poemas para iluminar o Trópico de Câncer (inédito), A mulher que matou Ana Paula Usher: História de uma paixão, O Filho Pródigo: Um poema de luz e sombra, Bacuri-sushi: A estética do calor (inédito), A Ceia Sagrada de Miriam e O Livro, inédito que se desdobra dois: Livro I (O sentido – relatos da fumaça do incenso) e Livro II (O Paraíso Reencontrado).

APoesia Sou Eu, é um intenso e iluminado diálogo com o Verbo, um coro de muitas vivências interiores e um inusitado jogo verbal com o Eu Sou, matriz e self da Palavra

EPIGRAMA PARA UMA MANHÃ DE VERÃO

Se por amor ou justiça, um dia eu brilhar, Na constelação a que me endereçaste, que eu não reluza como o sol do meio-dia, que embora forte, ofusca e a muitos faz cegar,

83 http://www.youtube.com/watch?v=OZIJgeIciEI

http://www.youtube.com/watch?v=L6Jz1qWnVC0

LUIS AUGUSTO CASSAS: UMA LEITURA ALQUÍMICA DA INFÂNCIA DO FILHO EM SÃO LUÍS. In GUESA ERRANTE, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina285.htm http://hbois.blogspot.com.br/2012/03/poesia-luis-augusto-cassas.html

http://www.mallarmargens.com/2013/12/14-coqueteis-liricos-de-luis-augusto.html

http://severino-neto.blogspot.com.br/2014/04/a-poesia-segundo-luis-augusto-cassas.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/luac1.html

http://www.sobresites.com/poesia/poeta/cassas.htm

84 http://luisaugustocassas.blogspot.com.br/

85

http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/luis-augusto-cassas-entrevista-no-498/

mas resplandeça qual a luz de um sol de aurora, fogo fátuo que a tudo e a todos propicia, e em cuja luz, tênue e clara, dela ninguém foge, a não ser a inútil sombra da poeira das estrelas.

Liturgia da Paixão (Opus da Compaixão), 1997

HOMEM SENTADO NA PRAÇA JOÃO LISBOA86

Homem sentado na praça na solidão do domingo; na solidão desta tarde newyorquina, londrina, ipanemense, ludovicense. Homem sentado na praça entre rosas, estátua, namorados, o olhar sociológico perscrutando a multidão: homem universalmente sozinho como se estivesse sentado na tarde de Londres, New York, Paris, São Paulo, Buenos Aires, Rio, no Central ou no Hide Park na Praça de La Concorde da Sé ou 9 de Julho (o sol reclina-se nos bancos) o olhar baço-sol apagando fitando perto, nenhum lugar; o pensamento solto como pássaro cria projetos de paz e igualdade que as nuvens desfazem. Ah entardecer! Já pensou em soluções coletivas para a cidade e a humanidade (agora idealiza pombos na mão como se estivesse em Veneza). Homem sentado na tarde absorto, triste, indiferente, ruminando a solidão do domingo: e nem percebe quando as andorinhas como uma rajada de metralhadora batem asas contra a Igreja do Carmo avisando que a missa das seis já encerrou e a voz do padre e a tarde se extinguiram.

(CASSAS, Luís Augusto. República dos Becos. Rio de Janeiro - RJ: Editora Civilização Brasileira S.A., 1981, p. 86 - 87)

TRATAMENTO DE CHOQUE

Os verdadeiros loucos vestem uniformes brancos e dirigem os hospitais psiquiátricos amarrados em camisas-de-força.

86 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/25/homem-sentado-na-praca-joao-lisboa-1403.htm http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luis_augusto_cassas.html http://www.limacoelho.jor.br/index.php/Lu-s-Augusto-Cassas-animal-po-tico/

À noite, uivam como coiotes desterrados e tentam o suicídio com seringas hipodérmicas conversando com Stalin, Hitler e Mata Hari. Mas eu advogo que estão lúcidos pelo olhar furioso que destilam. Segundo um relatório assinado pêlos poetas Artaud, Ginsberg e Salomon, nunca terão alta.

(CASSAS, LuisAugusto. Rosebud. Poemas. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1990;103 p. Ilus. da capa Edgar Rocha. Diagramação e produção: Shirley Stefanowski. formato 21x21 cm. autografado. Col. A.M. (EA))

Adailton Medeiros

Cunha Santos Filho

Eloy Coelho Neto

ANTROPONÁUTICA

O Movimento “Antroponáutica” nasceu no Liceu87 entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)88

Bernardo Filho

Celso Borges

CÉSAR WILLIAM DAVID COSTA89

22 de maio de 1967

Poeta, escritor, autor dos livros: "O Errante" (1988), "Nós Outros", "Teorema do Inominável Sentido", "Sol Maior" (poemas inéditos); "Carona Azul" (contos juvenis inéditos), "Professor de mim" (memória autobiográfica - inédito)e "Situação Quase Crônica" (crônicas publicadas em diversos jornais), em preparo. SouprofessordeLínguaPortuguesa,LiteraturaBrasileira,PortuguesaeProduçãoTextual,graduadoemLetras pela Universidade Estadual do Maranhão -UEMAe pós-graduando em Literatura pela Universidade Estadual do Piauí -UESPI.Iniciei a carreira como autodidata. Ainda na 3ª séirie do 2º Grau, já ministrava aula para alunos desta série. Escrevo para vários jornais, geralmente no âmbito cultural. Sou editor cultural do Jornal Tribuna do Maranhão, em que assino uma coluna, Caleidoscópio Cultural. Também atuo na radiofonia, participando de diversos programas de rádio, na cidade de Timon -MA. Sou amante das letras, casado com a literatura.Atualmente sou coordenador, revisor e elaborador de projetos de leitura da Secretaria Municipal de Educação de Timon-MA.

Participou de inúmeras performances poéticas e de grupos literários. Desde cedo iniciou suas atividades literárias. Navidaestudantil foivencedordeinúmerosfestivais, dentreeles, oIFestival Intercolegial dePoesia Falada (11/1984). Depois obteve outras premiações e menções honrosas, por meio do Festival de Poesia Falada, promovido pelo DAC/UFMA, evento que ele e outros poetas ludovicenses mudaram o nome para Festival Maranhense de Poesia, do qual se tornou membro da comissão de organização e parte do júri literário. Em 1988 publicou seu primeiro livro de poemas, “O Errante”. Obra que fora relançada no ano seguinte, na Fundação Assis Brasil, em Parnaíba, sob os auspícios da Academia Parnaibana de Letras –APAL, com apresentação do seu então presidente,o escritor Lauro Andrade Correia. Mais tarde, o escritor Assis Brasil o insere entre 66 poetas maranhenses do século XX, ocasião em que alguns poemas do livro “O Errante” foram inclusos na antologia “A Poesia Maranhense no Século XX”. Participou da coletânea “Poemático MMVIII”, organizada pela Halley, Teresina, PI. O poeta tem participação em mais de 20 antologias poéticas, algumas da sua terra e outras de caráter nacional. Na década de 1990 passou a ser colaborador com crônicas e matérias (sempre de teor cultural) em vários jornais de São Luís: “O Imparcial” (neste fora revisor), “O Estado do Maranhão”, “Jornal Pequeno”, “O Debate” etc. Tem participação em inúmeros suplementos literários e revistas, “Vaga-lume”, “Sacada Cultural”, “Guesa Errante” etc. Cedo também começou a ministrar aulas de Língua Portuguesa, Literatura e Redação, como autodidata. Passou por várias escolas particulares de ensino médio e por inúmeros cursinhos pré-vestibulares em São Luís, chegando inclusive a ser proprietário de dois deles, o Curso Explanação e o Oficina de Redação (este último em Santa Inês-MA). Mas, depois de ter sido aprovado em vários vestibulares e sem às vezes sequer chegar a se matricular, resolveu em 2005 cursar Letras.Fizera novamente vestibular da Uema e conseguira a 4ª colocação. Hoje está no 7º período de Letras do Centro de Estudos Superiores de Timon e paralelamente ao curso, continua ministrando aulas, realizando festivais, debates, encontros de poetas, exposição de poemas. No CESTI/UEMA idealizou e fundou um jornalzinho para divulgar os eventos da instituição e idéias dos universitários e da comunidade, o “Folha Desgarrada”(jána4ª edição).Édeletambém aidealizaçãodaEXPOMAPI – ExposiçãodePoemasdeAutores Maranhenses e Piauienses, cujo objetivo é difundir obras dos autores desses dois estados, unindo-os por meio das letras.Além do mais, é editor cultural do jornal Tribuna do Maranhão. Há quase dois anos vem divulgado

87 Escola fundada em1838, hoje Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”, onde SoterodosReisfoiprimeirodiretore professor.

88 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de Educação e Cultura, s.d.

89 CESAR WILLIAM – POEMAS – Blog do Cesar William, disponivel em https://www.blogger.com/profile/15567991677970763915

BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994.

a cultura timonense, maranhense e piauiense em sua página que ele batizou com o nome de uma coluna que mantém na mesma, “Caleidoscópio Cultural”.Além de publicar crônicas e matérias no Tribuna do Maranhão, vem esporadicamente publicando textos também no jornal O Dia e em alguns portais literários. Possui três livros de poemas inéditos, um de contos e outro de crônicas. César William, apesar do vasto espaço de tempo sem publicar nenhuma obra, não se considera um poeta bissexto, já que vem militando diuturnamente em prol dos seus ideais e está sempre defendendo que jamais abandonará as letras, sobretudo a poesia.

PARTICIPAÇÃO DO POETA CÉSAR WILLIAM NO GRUPO CURARE 90

O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro. Notou-se, afinal, que os encontros eram apenas um pretexto para impulsionar o ato de escrever [...] O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Pólo Haickel. [...] A primeira grande oportunidade, todavia, surgiu quando a Secretaria do Estado de Cultura decidiu publicar, em 1996, uma antologia de jovens poetas, posteriormente chamada Safra 90 [...] Mas lá estavam os integrantes das primeiras reuniões do grupo Curare: Antônio Aílton Santos Silva, Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior), Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito), Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa, Jorgeane Ribeiro Braga, Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos), este cronista (Ricardo André Ferreira Martins), entre outros. [...] Surge então a idéia de uma exposição e recital, a qual foi colocada em prática em inícios de 98, intitulada Sygnos.doc, no Palacete Gentil Braga, promovida pelo Curare com o auxílio do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, principalmente na figura de seu diretor, Euclides Moreira Neto. [...] O evento, entretanto, finalmente aconteceu, garantindo um marco existencial e histórico para o Grupo Curare, ao qual se somaram novos nomes, como os poetas César William, Couto Corrêa Filho, Eduardo Júlio, Dylson Júnior, Gilberto Goiabeira, Judith Coelho e Rosemary Rego. [...]Para que o grupo pudesse se firmar, passou-se a participar mais regularmente de concursos. O resultado veio em forma de premiações e publicações, com as quais a maioria saía do completo anonimato.

Livro de estréia: O Errante (1988)91:

o errante

Por um erro me fiz errante,

Mais errante que o erro do errado

Mil tropeços no meu passado, Os infernantes constando

Dos meus retalhos.

Sem dúvida, com mágoas

Meu sorriso pichado.

Ó triste dor tão infinita:

Não me inflame agora

Não me deixe ser um errante, O mesmo que ontem amava

Nas curvas de um delitante.

Um errado errante, Um facínora

Um desamante.

Tantos sonhos refeitos, Tantos tombos levados...

90 LEÃO, 2008,disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 91 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/cesar_william.html

Viver numa clausura com incúria

Tamanha fera, qual a rua desabitada.

Nos degraus de uma ponte pitoresca?..

Na esquina de um velho sobrado?..

Não importa

É um errado, Um errante de sonhos mutilados

Pelo poder da censura

Labirinto

Libertei-me da muralha,

Agora sou escravo das profecias.

Estou nutrindo-me de migalha

Em cada canto das periferias.

Agora sou hálito infame

No cume da cumplicidade.

Entre mil doenças... "Derrame"...

A centelha da humanidade.

Continuo perdido

À procura de outra "muralha"

Agora sou parto ferido

Nutrindo-me de nova migalha...

De nada adiantaram as leituras

Se agora sou somente vestígio

em um ermo de mil amarguras

Não sei mais o que fazer (perdi o prestígio)

Sou agora o único sobrevivente

Deste labirinto medonho.

Preciso de um verso urgente

Para findar este sonho...

Sufocação

Uns me afogam

Inundam-me de fantasias.

Outros me cortam o sorriso,

Rompendo-me os dias.

E assim vou balbuciando

Com meus versos pródigos.

Sinto o que os outros sentem

O que não me deixaram sentir (?)

E assim vou levando a vida

Sem deixar me permitir...

Outros me sepultam

Sem antes deixar que eu nasça...

E assim vou levando (a vida)

No cemitério ou na praça -

(O Errante/1988)

Couto Correa Filho

Cunha Santos

Eduardo Júlio

.......................................

Eudes de Sousa

Fernando Abreu

IVAN CELSO FURTADO SARENY COSTA92

IVAN SARNEY

13 de maio de 1946

O ensino fundamental e médio cursou-os no Liceu Maranhense. Formou-se em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal do Maranhão. Na Escola de Administração Pública do Estado, fez o curso de Administração de Empresas. Homem culto, versátil, cuja ordenação do conhecimento, nas décadas de 70 e 80, lhe permitiu acesso a leituras de poetas de primeira linha, como Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, T.S. Eliot, Maiakovski, Manuel Bandeira, dentre outros. Afora isso, há a carga de vivência pessoal que, para os escritores, é sempre o lastro definidor, diferenciador e decisivo da marca do estilo, que imprimirá à sua poética. Ivan Sarney transitou por vários caminhos da arte, passando pela ficção e pelo teatro, cinema e poesia. Essa experiência pessoal é significativa e, literariamente, tem-se em conta o pretexto que o escritor usará para compor o seu discurso, exercitando aí sua criatividade ou o poder de manipular a alegoria em vários níveis: metafórico, metonímico, sinestésico, sinedóquico, aliterativo, paradoxal, ambíguo, enfim mimético.

Jornalista militante, assina há vários anos, no jornal O Estado do Maranhão, a seção Hoje é Dia De, uma crônica semanal, na qual se inscreve sempre com o toque poético.

Um dos fundadores e primeiro presidente da Sociedade dos Amigos de São Luís e Alcântara, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, foi também diretor regional da Secretaria de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tendo atuado na Fundação Pró-Memória.

O poeta Ivan Sarney, segundo a palavra autorizada do eminente ensaísta e escritor Assis Brasil, cuja obra repercute a nível nacional, “pertence, histórica e esteticamente, à terceira geração modernista do Maranhão, ao ladodos estreantesdessafase,como FranciscoTribuzi, Luís Augusto Cassas,RaimundoFontenele, Rossini Corrêa, e mais alguns que ficaram apenas na colaboração esparsa dos jornais, sem terem chegado ao livro.

Bastante elogiado como contista e cineasta, tendo sido premiado em festivais de cinema, a poesia de Ivan Sarney Costa tem também a sua importância. É mais um bom poeta lírico, já livre das formas, principalmente do contumaz soneto e que, entre o eu nostálgico e o passado de sua cidade, cria os seus poemas com certo gosto e linguagem pessoais. Sempre num tom elegíaco, a sua linguagem poética se mantém no nível da norma, sem complicações ou invencionices.

Além de detentor da Medalha do Mérito Timbira, do Governo do Maranhão, e João Lisboa, do Conselho

Estadual de Cultura, Ivan Sarney Costa foi eleito vereador à Câmara Municipal de São Luís, em 1992. Entrou para a Academia Maranhense de Letras em 1982, tomando posse no ano seguinte.”

Vereador por várias legislaturas, Ivan Sarney é, atualmente, Presidente da Câmara de Vereadores de São Luís.

Poema inspirado numa canção dos beatles

Quando eu for bastante idoso, quando eu já for velho, meus cabelos se tornarem brancos e meu rosto se cobrir de rugas, você ainda me amará, como hoje?

Você ainda precisará de mim, querida?

Você dormirá ainda nos meus braços e, ansiosa, desejará ouvir minhas estórias: (– as estórias que só eu sei contar)

Ou não?

Você também estará velha, eu sei disso.

Será que ainda amarei você, como hoje?

Que ainda lhe direi meus versos e me orgulharei de você, como me orgulho agora?

Ou será que apenas nos suportaremos pelo que somos

92 BRASIL, Assis. A Poesia Maranhense no Século XX. São Luís: SIOGE; Rio de Janeiro: IMAGO, 1994. p.277.)

IVAN SARNEY: DA RELEITURA MODERNA DA POESIA LÍRICO-AMOROSA À POESIA SOCIAL. In GUESA ERRANTE, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina326.htm, acessado em 13/05/2014

e pelo que fomos, quando seus cabelos já forem brancos?

Hoje, nós passeamos pelas tardes e tudo é verão.

Eu sou seu poeta preferido e tudo o que eu escrevo é você.

Como será quando já formos velhos?

Será que, de manhãzinha, desejarei passear com você, pelos jardins, e você irá pelos meus braços, sorridente, com alegrias de hoje?

Ou não?

Talvez você se torne ranzinza. Talvez eu fique louco!

Quem sabe?

Como será quando formos velhos, querida?

Hein?

Sempre que for domingo, nós iremos à igreja, à tardinha.

Você toda empoada, os cabelos alinhados e brancos, e um véu ainda mais branco na cabeça.

Eu irei todo importante ao seu lado, e toda a gente nos comentará. Será mesmo assim quando já formos velhos?

Ou não?

Ou você fará tricô e não quererá sair de casa?

Você usará óculos?!

Eu apenas amarei minha biblioteca?! Ou amaremos somente nossos filhos?!

Será que nossos filhos serão lindos? Será que serão bons?

Você olhará, às vezes, seus álbuns de retratos, e chorará saudades do passado.

Será que minha dor ainda será sua dor?

Ou não?

O futuro é distante e não traz a certeza de nós dois, portanto, amemo-nos agora, querida, enquanto nosso amor é carne e osso, e espírito, na soma dos nossos sentidos; enquanto eu te amo e tu me amas, e tua pele é macia e morna, e tua alma branca é única no mundo.

Aumentemos o fogo de nossos beijos, hoje, querida. Eu não sei como será mais tarde, quando já formos velhos, e nossos cabelos se tornarem brancos.

(São Luís, novembro de 1969, p.15-16)

Como na tarde em que estivemos juntos

Como na tarde em que estivemos juntos.

O vento varre o bosque e sacode os meus cabelos. Os barqueiros retornam da pescaria. As velas desfraldadas. Um após outro os barcos se estreitam no canal.

Como na tarde em que estivemos juntos.

Ligeiros pássaros, cantantes. Já não estás comigo.

O silêncio das coisas me sugere teu nome, brandamente, e apesar da melancolia das horas cai sobre mim, como uma sombra,

e me faz triste. Entardece, e eu sinto te buscar, meu pensamento.

Como adejavam teus risos e a tímida candura de tua voz!

Como era intensa a paz de tua companhia, a meiguice dos teus gestos.

E a doce serenidade dos teus olhos.

E eu fui me envolvendo em teus encantos, até não poder mais encontrar-me; até não poder mais te encontrar.

Como pudeste fugir depois de tanto encontro! Eu bem sei.

Como pude emudecer, depois de tantas frases! Tu bem sabes.

(...)

Muitas verdades eu guardo que tua boca não disse.

Por isso, eu amei teu silêncio, como na noite em que dançamos e eu parecia me encontrar num país distante, composto de sonhos guiado pelo toque mágico de tuas mãos e a densa nuvem de teu perfume. (São José de Ribamar, julho de 1971, p.21-22.)

Sou apenas um homem

(...)

É necessário que acreditem no que digo.

Não direi muito porque não conheço muito.

Na verdade, eu sei tão pouco.

Tudo o que aprendi foi me extrair das coisas e me integrar às coisas.

Nesse processo, sou poeira, limo, sujo, folhas, frutos, pétalas, pau e pedra.

Sou fonte do passado e daquilo que há de vir.

Me confundo com o anônimo das faces.

Me escureço com o asfalto do chão.

Às vezes, brilho e resplandeço como as paredes de azulejos e as luzes da noite.

Me recolho, às vezes, e nada me toca.

Não sou nada além disso.

Nem vim de longe. Eu sempre estive aqui.

Trago os olhos da rua no sangue.

Tenho o sangue das ruas nas veias.

Pés descalços, suor e sofrimento fazem parte de mim.

Caminhei pelos bairros.

Joguei damas com homens, nas calçadas.

Entrei nos becos e nas palafitas.

Vi dançar o bêbado ridículo, a fome gemer nas bocas das crianças, mulheres chorando a gravidez, meninas novas se prostituindo.

Vi miséria e crueldade.

No entanto, não vivi tais coisas.

Como não ter vivido coisas?

Não sei se seria mais importante viver ou aprendê-las. Acredito que as aprendi.

Tenho muitas estórias para contar.

Talvez eu saiba contar estórias. Me deixem penetrar em vosso abrigo e acordar vosso sono, porque as horas dormem e a noite é profunda como um suspiro, e parece não ter fim.

(São Luís, março de 1977, p. 58-59)

Tempo compulsório

Compulsoriamente as pessoas viverão agora. Deixarão seus carros nas garagens, sem gás, sem apego, sem esperanças, e sairão pelas calçadas, respirando a rua.

Sorrirão um sorriso compulsório, porque o riso, o doce riso, o riso fácil, espontâneo e feliz, se escondeu amargurado no desespero, não há como mostrar-se ao dia.

Compulsoriamente haverá sol sobre os telhados aplacando as feridas;

áurea de luz crepuscular e santa, colorando a tarde.

A noite virá de forma compulsória, com a mesma escuridão e os mesmos crimes.

Sequestros, seduções, homicídios de todas as classes, maconha, ladrões, vadios e meretrizes.

Tudo será compulsório dentro da noite, o assalto, a promiscuidade, o bêbado, a indigestão, a emergência dos hospitais e os suicidas, porque os olhos da polícia estão vazados de escuridão e a sociedade adoece de fome, miséria e vícios. Os impostos de todos os gêneros. As filas intermináveis da previdência. A velhice e a angústia das horas.

O que não será compulsório?

Compulsoriamente também haverá o medo.

O medo de ser, de confiar, o medo de parir que habitará as consciências, tolhendo as ações. O homem será um ser medroso, mudo, e viverá de olhos espantados aderindo às idéias, às omissões, à fantasia e ao pesadelo, de forma compulsória.

Porque já não é possível eleger.

O espaço, o tempo, os homens se tornaram inelegíveis.

Haja morte então para calar as bocas, terra para cobrir os mortos, vazio para afogar as consciências.

Haja chão para os passos do homem e caminhos a percorrer, sem ter sossego. A morte será então o fim compulsório, de toda a compulsoriedade.

(São Luís, maio de 1978, p.60-61.)

Vozes da noite

Apagaram-se as luzes da cidade. Longa e densa se compôs a noite. Onde está o homem de ontem, o verdureiro, o vendedor de carvão?

Anônimos polichinelos das ruas, alegria de todas as manhãs.

(A noite os consumiu no tempo). Os sepultou no tempo. Laje fria de horror e mistério sobre os risos efêmeros da vida.

Há pouco piou uma rasga-mortalha.

– Sinal de agouro!, diria meu avô. No entanto, o vôo da rasga-mortalha é a única esperança dentro da noite.

Há sonhos aqui de amores reprimidos, acenos de mãos desencontradas, vozes caladas, corações ausentes, um peito só que quer conter o mundo.

De que me vale, às vezes, fazer versos, se meus versos são cheios de egoísmo e não tocam a boca do homem da rua, não cantam o desespero, nem são armas de combate?

Farei um grande e verdadeiro poema, com lágrimas, suor e revolta, um dia. Poderia sair para olhar as estrelas. Que esforço esse das estrelas para brilharem na escuridão da noite!

Que esforço o da alma para suportar o corpo! O corpo mergulha na materialidade, a alma quer éter divinizado. Não haverá corpo, nem sofrimento amanhã.

Haverá espaço vazio, recordações de rumos palmilhados, lembranças perdidas, amargura e solidão. Nada mais.

(...)

(São Luís, maio de 1977, p.54-55)

Joe Rosa

LUÍS INÁCIO ARAÚJO93

LUIS INÁCIO OLIVEIRA COSTA

Dezembro de 1968

Nasceu em São Luis, onde sempre morou. Formando em Direito pela UFMA, dedicando-se mais tarde ao professorado, leciona Filosofia do Direito na mesma UFMA. Preocupado com a literatura, escreveu alguns ensaios ao lado da pr´tica da poesia. Escreve desde a adolescência. Seu primeiro livro, Vôo ávido é de 1991

As Indefinidas Palavras

Qualquer palavra que eu te diga ou te silencie é tão sem sentido para o meu poema que é só bruma voz muda esferográfica: e o que sobre é esse silêncio pesando sobre os corpos, esse chumbo, o exaurir do carbono, o vão dos corpos.

Agora quero inventar um poema com isso que em mim é aresta, arpão, fratura exposta, berro içado sobre setembro, estilhaço, beijo esgarçado, grifar minha mudez sem fundo afundada de tantas palavras. Solto o poema como uma vertigem, desse perigo não há fuga: a nona sinfonia arrebenta num revés de crepúsculo. Inverter o caos da tarde em melodia ou aceitar o que um poema fabrica de naufrágio? pela página?

Num lapso: me escapam o salto e o grito irisado, e daqui fotografo o abismo em cores kodak. Palavras desabam numa catástrofe: quero agora o vazio das margens, a intransferível brecha, o vão da palavra impronunciável.

93 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SÉCULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, ,1994 http://www.escritas.org/pt/biografia/luis-inacio-araujo

Em que poema jogar fora as palavras onde sempre esbarro?

Vida & Morte

Deus & Sexo

Escrever é o que se arquiteta do deserto de uma falta, infância e cio, o turvo de alguém, antro de uma boca.

Mas o que escrevo é noite cava, emparedamento, poço e não cabe no estreito de nenhum poema. É só por afronta e voracidade que escrevo escavo: indefinidamente até preencher com o poema a branca ausência: impreenchível. Luís Moraes

Agreste94

Não mais recuo: o que escrevo é escassez e fendas, é contra esse modo reto e seguro de escrever que escrevo - em desaprumo. Bebo o gosto travado desse poema numa cobiça de ser dito: um laivo de sangue escorre de minha boca.

o processo vital subsiste ainda na artéria, a manhã poluída prossegue sua lenta engrenagem, seu incêndio diário, sua as simetria - apesar do azinhavre no garfo do pêndulo, do cotidiano cigarro igual ao trabalho noturno da morte num corpo.

Mas pra nomear o que respira secretamente por trás dessa vida de veias nervos assombros penhoras e sofre desfiladeiros poços terrenos baldios, a mais inexplicável vertigem nenhuma palavra é possível: nenhum selo.

A paIo seco

Meu poema armado com lacônicas palavras (contundente arpejo) canta-se assim torto como não convém e maneja facas lâminas secas pra te dizer certas coisas que te fariam sangrar: profundamente. 94 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luis_inacio_araujo.html

Arquitetura

Procura a ordem desse silêncio que imóvel fala: silêncio puro. João Cabral de Meio Neto

Um dia escreverei um poema que não precise dizer nada um poema: apesar das palavras arpejo relógio ou pedra silêncio que ninguém suporte lâmina dentro da goela de João Cabral de MeIo Neto voz e fino topázio a linguagem apenas tece a trama de nenhuma sintaxe um dia escreverei um poema no azul vazio da lousa em ecos um silêncio adormece

(Vôo Ávido/ 1991)

Morano Portela

Raimundo Fontenele RONALDO COSTA

ROBERTO KENARD95

Roberto Kenard Fernandes Rios

São Luís / 18 de outubro de 1958.

Jornalista,éautor depenetrantestextos ensaísticos publicados naimprensa. Distinguidocom diversos prêmios conferidos por concurso literários promovidos em São Luís e em outras capitais brasileiras.

Além de figurar em antologias poéticas, publicou os livros de poemas No meio da vida, Do lado esquerdo do corpo e O camaleão no espelho.

Câmera indiscreta

O poeta lírico - barbado babuja no bar

seus poemas boa tarde elegante bardo cuidado com o vento suas folhas íntimas não resistem ao menor sopro o coração sobre a mesa breve o garçom virá removê-lo um barco atraca no cais lugar de coração é no peito teimoso bardo curió exposto aos turistas

http://www.saoluisdomara.xpg.com.br/paga.htm

95

a mulher burguesa batom e ruge ergue o braço garça o garçom passa o poeta velho brada: liturgia do inútil tudo desaba asa do vento navalhada na tarde provinciana e cinza.

( O camaleão no espelho/1990)

A FAMÍLIA

Tem alguém no telhado

Talvez a avó louca

Embriagada de tiquira

Tem alguém no telhado

Possível o neto

Esperando a lua

Tem alguém no telhado

Provável o gato

Com medo dessa família

No meio da vida, 1980

SôniaAlmeida

VIRIATO SANTOS GASPAR 96

7 de março de 1952 / Nome literário deViriato Santos Gaspar, que nasceu em São Luís, no dia 7 de março de 1952. Filho de Clóvis Roxo Gaspar e Sebastiana Santos Gaspar. Fez seus estudos no Liceu Maranhense. Participou do Movimento Antroponáutica. Foi classificado em vários concursos literários, entre eles conquistou prêmios de concursos da Academia Maranhense de Letras, da Prefeitura de São Luís e da Sociedade de Cultura Artística do Maranhão. Em 1970, foi Menção Honrosa no Concurso Antonio Lobo, da Academia Maranhense de Letras com o livro Portos sem Rumos. No mesmo ano, venceu o prêmio Sousândrade, do Concurso Cidade de São Luís, instituído pela Prefeitura Municipal desta cidade, com o livro Teodisséia. Em 1971, novamente ganhou o mesmo prêmio com 50 Sonetos. Colaborou em vários jornais de São Luís. No final da década de 70, viaja para o Rio de Janeiro e, posteriormente, estabelece-se definitivamente em Brasília, onde vive atualmente. Em livro, estreou em 1984 com a obra Manhã Portátil, a que se seguiram Onipresença, 1986, Lamina do Grito , 1988, e Sáfara Safra, 1994, obra premiada pelo Plano Editorial do SIOGE. Vários críticos se pronunciaram sobre o poeta. Oswaldino Marques ao comentar textos de autores novos da Literatura Maranhense disse que o poeta “ mais próximo da autonomia de vôo é Viriato Gaspar. Surpreende-se nele inventividade, assenhoreamento formal, linguagem plástica, límpida, a inteligência do metamorfismo da expressão que o dota dos meios de manipulação apurada da palavra.” Lago Burnett: “...um poeta absolutamente senhor de seu instrumental.” Chagas Val, ao referir-se ao livro Manhã Portátil, declarou “ ... um livro forte e denso.” Moacyr Félix, “Com nitidez percebe-se, atrás do seu bem elaborado artesanato, a presença verdadeira de um poeta. Literatura e não literatice.” Wilson Pereira, “ Manhã Portátil já revela a energia criadora do autor, dotado de sopro mágico e de capacidade para articular a linguagem com expressivos recursos estilísticos.”

Percorrendo o caminho vertiginoso por onde Viriato Gaspar manipula a linguagem no texto poético de Sáfara Safra, desaguadouro singular de inúmeras conquistas modernas a que teve acesso, percebe-se que ele tem o 96 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina191.htm

descortínio da estrada por onde os bons poetas começam e seguem, ao criar poemas que são paradigmaticamente, pela concisão e maturidade, exemplares.

Se atentarmos para o que disseram Todorov, Pound, T. S. Eliot, na esfera internacional e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, aqui no Brasil, o aspecto paródico ou a recriação é que constitui a grande literatura, ou seja, encontrar uma nova maneira de dizer a mesma coisa já dita de infinitas maneiras. O próprio texto bíblico nos diz que “Não há nada de novo sob a face do Sol.” E Lavoisier, “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” É só aplicar o princípio científico a qualquer forma de arte e, então, chega-se à conclusão de que o que há, em verdade, são geniais arranjos.

No caso Viriato Gaspar, as pegadas e rastros vão-se configurando e redesenhando através das dedicatórias dos poemas. Os nomes escolhidos soam como legítimas epígrafes: O Rastelo (a Ezra Pound); O Zôo (a Paul Éluard); O Selo (a José Saramago); O Escuro (a Mário de Sá-Carneiro); Os Restos Vitais (a Paul Valéry); Postal Vadio (a Jean-Arthur Rimbaud);ALogopéia (a Jules Laforgue); Fremilúnio (a Paul Verlaine); Boca da Noite (a Mário Faustino); OAnjo (a Garcia Lorca);A Porta (a Fernando Pessoa); A Gaze (a Gertrude Stein); O Salto Mortal (a Rainer Maria Rilke); O Carrapato (a John Donne); OAluno (a Joaquim de Sousândrade); O (S)oco (a T. S. Eliot); O Brasão (a José Paulo Paes); As Tatuagens (a Stéphane Mallarmé); O Em Canto (a Carlos Drummond deAndrade); Hacéldama (aAnderson Braga Horta); Haiku (a Matsuo Bashô);AGangorra (a Benjamin Moloise); O Pugilato (a Florbela Espanca);AÚlcera doAzul (a José Chagas);AFomem (a Nauro Machado); A Clave (a Jorge de Lima); A Tempestade (a Cecília Meireles); A Engenharia (a João Cabral de Melo Neto); OArmazém (a Cesário Verde); O Prisma e oArco-Íris (a Oswaldino Marques); O Trampolim (a Vladimir Maiakóvski); A Pirraça (a Manuel Bandeira); A Ponte (a Rainer Maria Rilke); Matinal (a Lago Burnett) e O Vôo (a Haroldo de Campos).

Sáfara Safra é uma abundante colheita, uma viagem por alguns dos melhores caminhos poéticos da poesia neo-simbolista e moderna universal. A seleção de homenageados é um pretexto para que o poeta possa proceder a uma viagem lúdica por vários laboratórios poéticos.

Referência, reverência via releitura, humildade necessária para, descobrindo a verdadeira tradição poética não acadêmica, saber, a partir de um paideuma (ordenação do conhecimento poético) cada poeta encontrar-se na soma de poetas que leu e assimilou.Apoética de Viriato Gaspar tem esse viés.

Postal Vadio

(A Jean-Arthur Rimbaud) eu quero escancarar as minhas portas para que entrem nuvens de mendigos e arrastem pelas minhas veias tortas os ferros velhos dos verões antigos eu quero escancarar a minha aorta para que sangre o vento pelas ruas e biquem em minha boca as aves mortas os crespos corpos das mulheres nuas eu quero arregaçar a minha alma, deixá-la calcinada na calçada, até que as minhas mãos saltem das palmas e mordam o mundo em mar e madrugada, e jorrem pelos poros dos meus dentes os rios que bebi nas mãos alheias e nos meus olhos sujos luas cheias da mesma insônia antiga dos doentes eu quero escancarar os meus sapatos, rasgar meu coração em postas turvas, deixar entrar em mim todos os gatos para lamberem o hálito da chuva.

(p.46)

Hacéldama

(a Anderson Braga Horta)

ó árduo território, onde Te lavro, semente de clarão, luar de fogo, e onde me jogo todo e turvo o roubo da noite-escuridão, oh descalabro da carne a descascar-me em sangue e lava: o coração é um sapo, em cujo aboio a alma se perde, dona, mãe, escrava, cheirando a trigo e recendendo a joio.

ó árduo território do plausível, noturna obsessão de luas calvas, aqui Te lavro, Verbo, oh impossível jaula de vento, canavial das almas. aqui Te planto, Verbo, neste chão, agreste como as solas dos sapatos, para que roas o anzol do coração, para que cortes com teus dentes gastos a palma de meus dedos retorcidos, as lâminas das minhas clarabóias, e planes pelo mar dos meus sentidos teu brilho de punhal, sangrentas bóias, e mordas com teus olhos fulmegantes, com a luz de tuas trevas pelos flancos, não só as minhas mãos, mas meus instantes, e invadas toda a vida, como um cancro. II

ó carne, lua magra a se espichar por entre os ossos podres na gamela do tempo (porto ou pedra?) pó & mar, vitral de vícios, vulvas amarelas, raiz de solidão, jaula de vidro, que a vida é pouca (a vida é sempre pouca) e só nos restam as mãos, nossos sentidos, para inventar o sol da nossa boca, para rachar ao meio o que mais seja, e o que vier que venha (e sempre mais), que a vida é curta e a morte brotoeja por trás de cada instante, cada cais, a tocaiar-nos solta nas esquinas, a nos chamar do fundo do salão, cegueira escancarada nas retinas, punhal atravessando o coração.

GRUPO DO GUARNICÊ

Celso Borges

Ivan Sarney

Joaquim Haickel

Nagib Haickel Filho

Roberto Kenard

Ronaldo Braga

Dulce Brito

GRUPO CURARE

Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito)

Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior)

Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa

MARCO PÓLO HAICKEL.97

M. P. HAICKEL

Maranhense, professor de Literatura Brasileira, Língua Espanhola, voluntário no projeto O Livro na Rua e colabora na Revista Eletrônica Nós Fora dos Eixos.

HAICKEL, M. P. Poemas de um amor ao ocaso. 3ª. edição. Brasília, DF: Virus Editora, 1994. S.p. 10,5x15 cm. Col. Bibl.Antonio Miranda

PARTINDO

Nossos palavras brigavam, perdidas...

Era preciso tanto orgulho? Tanto ódio?

Naquela tarde nada se fundia; prendidas, nossas vidas eram entorpecidas por óplol

Era mesmo preciso tanto desamor?

Esse frio solitário ao calor?

Esse vazio naquela viagem Infinita.,, Era ausência de ópio naquela tarde esquisita..

Brasília entardecendo, entardecia com soluços reprimidos em nossa angustia, nossa melancolia..,

Eu entardecendo, entardecia naquele teu olhar, tua mirada e o amor de letal desvanecia.

O POEMA NOTURNO

No escuro, me estico na cama e lentamente imagino meu rosto enrubescido pela brasa do cigarro num lento trago.

Saboreio...

Uma música melodiosa ao fundo me entranha num torvelinho de sentimentos, A fumaça parte rumo ao inusitado, e junto vai o meu pensamento suavemente subindo...

Assombra-me esse pensamento!

Não multo longe, respira pausadamente, meu mundo, minha espécie.

Nesse momento, o mundo na minha concepção já foi conquistado. Só me resta - não vivê-lo, mas sim, -

97

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/m_p_haickel.html,Páginapublicada emmaiode2014,acessada em 23 demaio de2014.

Intensificá-lo, e assim o faço cautelosamente.

Também, nesse momento, a vida se faz completa pois está vazia de pensamentos fixos...

Talvez um breve suspiro, um frémito repentino me desperte desse preâmbulo, esse misto de sonho, torpor e cansaço.

Resta-me a noite como companheira e a pena como aliada.

Eu tenho os pensamentos longe e o rosto não mais intumescido nessa solidão de ser.

Aos poucos tudo passa a ser como um porto e solidão.

Jorgeane Ribeiro Braga

Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos)

Ricardo Leão (Ricardo André Ferreira Martins)

Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito)

Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior)

Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa

Marco Pólo Haickel.

Jorgeane Ribeiro Braga

Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos)

Ricardo Leão (RicardoAndré Ferreira Martins)

SAFRA90

Bioque Mesito

César William

Couto Corrêa Filho

Dylson Júnior

Eduardo Júlio

Gilberto Goiabeira

Henrique Gomes Brito

Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior)

Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa

Marco Pólo Haickel.

Jorgeane Ribeiro Braga

Judith Coelho

Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos)

Ricardo Leão (RicardoAndré Ferreira Martins)

Rosemary Rego

SYGNOS.DOC

AKADEMIA DOS PÁRIAS

Ademar Danilo

Antonio Carlos Alvim

FERNANDOABREU

98

Maranhense de São Luís

Fernando Abreu também é letrista de música popular, tendo entre seus parceiros, Chico César, e os maranhenses Chico Nô, Neto Peperi, Gerson da Conceição, Zeca Baleiro e Nosly. Os três últimos gravaram parcerias com o autor em seus discos, sendo as mais conhecidas, Alma Nova, Rock do Cachorro Doido e Guru da Galera, lançadas por Zeca Baleiro. Livros anteriores de poesia: Relatos do Escambau (Exodus, 1998) e O Umbigo do Mudo (Clara Editora, 2003). Editou a revista de poemas Uns & Outros, com os integrantes do grupoAkademia dos Párias.

“(...comecei a experimentar algumas ideias que me pareceram instigantes, marcadas por associações mais livres, abertura para sugestões do inconsciente e da intuição. Confiança na lógica interna do poema, em sua funcionalidade como matéria verbal autônoma.” FernandoAbreu

ANUNCIAÇÃO

Não é o mal quem te espreita sob a pele

Quando afagas os desvãos do rosto

Explorando a estatuária paciente

Que só no alvo dos dentes se revela

Ritual de mútuo reconhecimento

Onde jamais falsidade se admite

Nenhuma lâmina elide esse momento

Nem estátua de sal corrompe o mito

Aos poucos um sorriso se insinua

Músculos que estalam em degelo

Espelhos secretos que se instalam

Entre a cal da carne e a alma nua

Até que toda a tua face se ilumina

Luz que te reveste feito um manto

Disfarce para os dias transparentes

Blindagem para as noites mais escuras.

A LOUCURA MOSTRA AS UNHAS

Sempre que a loucura mostra as unhas de gato

Para arranhar teus ossos sob a paz do beco

Deixa elétrica dor dizer na lata e a seco

Vida de gado na mesmice desse mato

Fingindo ser farinha de outro saco

Cão e gato se lambem à luz do gueto

Erguendo brindes comem o mesmo naco

Da tua carcaça crua em branco & preto

Exposto assim ninguém aguenta o tranco

Entrega os pontos antes do último ato

Um pirata perneta caolho troncho e manco

Surge do fundo para afundar teu barco

98 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/fernando_abreu.html

Dança com esse lobo até soltar o pêlo

No fim tem sempre um olho atrás do palco

Uiva de escalpo em punho e fim de papo

Pouco importa saber quem paga o pato.

Gisa Goiabeira

Guaracy Brito Junior

Henrique Bóis

João Carlos Raposo

Maristela Sena

Paulinho Nó Cego Paulo Roberto Gomes Leite Vieira - Pedreiras

Raimundo Garrone

Ronaldo Reis

Rozendo

Sonia Jansen

POEME-SE

Claudio Terças

Elício Pacífico

Eduardo Julio

José de Ribamar.

Luis Resende

Paulo Melo Sousa, Rosa Ewerton

Wilson Martins

POEISIS

Bioque Mesito, DanylloAraújo, Geane Fiddan

Jorgeana Braga

Mobi

Natinho Costa.

Nilson Campos

Rosemary Rego,

UNDEGRAU

Celso Borges

Edgar Rocha

Emilio

Érico

Henrique Bóis

Garrone

Geraldo Reis

Itamir

JOÃO BATISTARIBEIRO FILHO 99

, 100

Nasceuem 19 deabril de1955,nobairrodaCoréia, nainconfidenterua21deabril, em SãoLuís,predestinado a lutar pelo decoro da arte maranhense. Com os pais, o feirante João e a operária têxtil Amália, seguiu as trilhas arrasadas pela guerra da sobrevivência: Diamante, 18 de Novembro, Cavaco e Desterro. É poeta e compositor – e costuma ser chamado de Joãozinho Ribeiro. Participou ativamente do movimento pela democracia nos anos 70 e 80: fundou a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, integrou o Comitê Brasileiro pela Anistia, foi eleito delegado para o Congresso de Reconstrução da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Salvador(BA), participou daliderança da histórica Greve daMeiaPassagem, em 1979, e foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). Ainda na década de 80, compôs trilhas sonoras de filmes e peças teatrais, como “A Urna”, em parceria com o Marco Cruz, do consagrado Walter Durst, e “Cabra Marcado pra Morrer”, texto de Ferreira Gullar. Em 1997, foi convidado para presidir a Fundação Municipal de Cultura de São Luís (MA), onde iniciou o processo de construção de políticas públicas de cultura, como a Lei de Incentivo à Cultura, o Conselho de Cultura, Fundo de Preservação e Revitalização do Centro Histórico e o Fórum Municipal de Cultura (até hoje em atividade). Dez anos depois, foi convidado para ser secretário de Estado de Cultura, quando realizou o I Fórum Estadual de Cultura e publicou o Plano

Estadual de Cultura, concretizando o pensamento de políticas publicas descentralizadas e com participação ativa da sociedade civil.

ENTREVISTA101

João Batista Ribeiro Filho, mas este nome quase é intraduzível no mundo cultural brasileiro: Joãozinho Ribeiro. Eu sou do Maranhão, de São Luís, sou artista, produtor cultural, gestor de cultura.

Enquanto em mim restar na boca alguma fala, em lúcido lampejo ferindo o pensamento, por mais que se apodere de mim o desencanto, ainda assim resiste, e pra resistir eu canto.

Eu comecei cantando, fazendo música, participando de festivais universitários, isso em final dos anos 70 do século passado, quando havia todo um movimento de redemocratização do país – e hoje eu tenho no mundo musical mais de 60 músicas gravadas. Andei também trabalhando com literatura e teatro e toda esta construção coletiva com várias outras pessoas da minha terra, da minha aldeia e depois de outros estados resultaram neste cidadão.

O que a gente costuma chamar de cultura popular no Brasil antigamente era para diferenciar da cultura erudita, mas esses muros que foram construídos entre segmentos culturais são muros que foram construídos artificialmente ou geralmente por uma divisão acadêmica, para facilitar a vida de pesquisadores ou então para marcar, delimitar espaços entre uma cultura mais evoluída e outra menos evoluída. Que é uma coisa

99 (www.guesaerrante.com.br)

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/joaozinho_ribeiro.html

100

http://www.producaocultural.org.br/slider/joao-batista-ribeiro-filho/ 101

http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/prod-cultural/integra/integra-joao-batista-ribeiro-filho.html . Exsecretário de Cultura do Maranhão. Íntegra da entrevista, gravada no dia 16 de maio de 2010 no estúdio Cine & Vídeo, em São Paulo (veja a entrevista em vídeo clicando em)

que eu não defendo, não advogo e eu acho que as culturas são diferentes. O hip hop hoje conversa com o repente do Nordeste, com a embolada e aí se dão muito bem. Se criou, pela primeira vez, uma Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural, ou seja, para tentar construir políticas públicas para vários segmentos da população que não eram contemplados, como os quilombolas, indígenas, as culturas emergentes como o hip hop, as culturas GLBT, ciganos e também aprofundando a política de editais, de seleções públicas para fugir da política do balcão e do aviamento cultural. Eu creio que isso aí é uma janela que está se escancarando e que é necessário ampliar, porque ela permite que vários segmentos que nunca pararam de produzir e de criar neste país se revelem, se vejam e possam de uma forma bastante positiva para construir novos diálogos.

Eu tenho comigo que num país que é desigual... E o Brasil, embora a gente cante e recante com esta diversidade cultural, nós não podemos esquecer que o Brasil é um país bastante desigual... E toda vez, num país desigual, que você faz mais do mesmo, você acentua esta desigualdade e dá um cheque em branco para que esta desigualdade se institucionalize e se aprofunde. Então, trabalhar com a diversidade – e, como diz o professor Boaventura: "Graças às nossas diferenças, e não apesar delas" – é possibilitar que novas vozes, novas vozes de vários Brasis possam ser ouvidas e que a gente consiga construir uma política cultural que represente a fala destes muitos Brasis.

Não, eu acho que caminha para outra direção, eu acho que teve a inclusão de um contingente muito grande na economia brasileira de cidadãos que eram considerados de quinta categoria, que estão comendo, que estão reparticipando da economia, mas como dizia a música do Titãs: "A gente não quer só comida, a gente quer diversão, a gente quer arte", a gente quer cidadania e isso é fundamental no mundo da cultura. Eu creio que estes coronelados, estas forças reacionárias que ainda resistem a este fenômeno da democracia, elas passaram.

SANGRANDO102

Lá no fundo insatisfeita

A voz

Da poesia assim desfeita

Rimando

Infeliz da própria sorte

(ah! Quantas pás de terra

Ainda cobrirão este corpo

Onde há cinquenta abris

Eu me escondo e me descubro ?)

Presença da morte ha sala

Flores cheirando a saudade

E um luto de quatro semanas

Mantendo as janelas fechadas

E os meninos proibidos de brincarem na rua.

De geração em geração, Naquela casa

A vida se reproduzia.

Com seus rituais

E a morte era um deles: O luto traduzido

Nas janelas fechadas ou semi-abertas; Denunciavam a hierarquia

Doméstica do atual defunto

102 De RIBEIRO, Joãozinho.. Paisagem feita de tempo. São Luis do Maranhão: 2006. 102 p. ilus. Composto pela Dupla Criação em fonte Garamond, corpo 11. Diagramação:Beto Nicácio,acompanhamentográficodeWilson Martins. Capa de Beto Nicácio. Ilustrações de Érico Junqueira. Foto da 4ª capa apresenta reprodução do diploma do Jardim de Infância de João Batista Ribeiro Filho. Formato 20x20 cm. Col.A.M. (EE) http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/prod-cultural/integra/integrajoao-batista-ribeiro-filho.html

Beijávamos os pés dos mortos

Para evitar as visitas assombrosas, Nas noites, de escuridão, Sob a forma de visagem

Os anos verdes apodreceram

Dentro dos invernos que se sucederam

Como bagaços decana nos alambiques da vida

Povoando o existir

Escrito hoje

Com letras feitas de tempo

Joe Rosa

Josias Sobrinho

Lúcia Santos

Luis Pires

Marcelo Silveira Mondego

Noberto Noleto

Paulinho Lopes

Paulinho Nó Cego Paulo Roberto Gomes Leite Vieira - Pedreiras

Ramsés Ramos

Ribamar Feitora

Sérgio Castellani, Solange Bayma.

Zeca Baleiro

Bioque Mesito

BrunoAzevedo

César Borralho

Cyro

DANIEL BLUME é maranhense de São Luís, nasceu em 27.10.1977, filho de Sonia Almeida (professora universitária, poeta, escritora e membroAML) e DjalmaAlmeida (engenheiro civil e empresário). Estudou na escola Literato, cursou Direito na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e se especializou em Processo e Direito Eleitoral pela Faculdade Cândido Mendes (RJ). É advogado militante, procurador do Estado do Maranhão e professor da Escola Superior daAdvocacia (ESA) da OAB-MA.Autor do livro Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas (Lithograf, 2003), já teve publicados os seguintes trabalhos jurídicos: A Inconstitucionalidade de Normas Constitucionais (Revista da OAB/MA n. 02, 2002), Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas (Revista do Tribunal de Contas do Distrito Federal n. 27, 2001), Parlamentar e Tributo (www.pge.ma.gov.br e JUS-MA, 2007) e Publicação da Sentença Condenatória em Jornais de Grande Circulação (Júris Síntese e Revista da OAB/MA n. 05, 2008). É colaborador eventual do jornal O Estado do Maranhão, na condição de cronista, e poeta com poemas publicados na I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: Latinidade (1998), Antologia de Poesias e Crônicas Scortecci (1998), II Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: Latinidade (2000) ePalavras de Amor (2000). Em 2009, lançou o livro de poesias Inicial pela Editora Belas Artes. Atualmente exerce a Presidência da Associação dos Procuradores do Estado do Maranhão –Aspem e da Comissão daAdvocacia Pública da OAB-MA. É membro do Conselho Federal da OAB e do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão.

SÃO LUÍS SITIADA

Sempre é tempo de gritar que a violência em São Luís está avassaladora e generalizada. Parece ter saído das frias páginas policiais, que muitas vezes pareceram narrativas de uma realidade longínqua, para a esquina ao lado. Ninguém a salvo. Não reconheço mais a cidade em que cresci. Até quando?

Sem exceção, todos os dias, conversas, jornais, redes sociais dão conta de mais uma vítima de assalto, golpe, latrocínio, assassinato. Destaco o caso da Sra. Lena Murad, pessoa, mulher, mãe, cidadã que – ao terminar uma simples caminhada na Lagoa da Jansen – foi abordada por bandidos menores de idade, que a alvejaram com um tiro no rosto, ao pôr-do-sol, num dos principais pontos turísticos da Cidade. Quase o seu pôr-da-vida. Na Litorânea, os crimes idem são constantes.

Não se pode dizer que o problema se agrava porque as autoridades estariam isentas desta realidade. Todos estão sujeitos aos riscos a que a violência expõe. Cito o vereador Ivaldo Rodrigues e o Secretario de Estado Alberto Franco, pois divulgaram os incidentes. Outros casos – apesar de ter conhecimento – deixo de especificá-los, seja por falta de autorização, seja mesmo por ausência de espaço. Não disponho aqui de tomos. Da mesma forma, um semnúmero de cidadãos, cada dia sempre e mais. Eu próprio já fui roubado na Lagoa à mão armada, oportunidade em que me foram levados tênis, relógio e tranqüilidade.

Talvez o primeiro passo a ser dado seja reconhecer o problema como grave e real. Sabe-se que o crescimento da violência é um problema nacional, porém, em São Luís, os índices são singularmente alarmantes. No ano de 2012, tivemos seiscentos e trinta e cinco homicídios. Em 2013, já foram duzentos e vinte e três. Só em abril, há registro de nada menos que setenta e seis assassinatos na Ilha, segundo mês mais violento da história. Terra que sangra encurralada, cercada não apenas de água, mas especialmente de criminalidade.

Todavia, para desespero ou revolta de muitos, alguns integrantes da segurança pública preferem minimizar a endemia, tratando-a como uma doença tópica, pontual. Pior que há quem afirme que a escalada da violência seria ilusória, não passaria de ficção, sensação artificial. Absurdo.

Estaríamos então loucos, vivendo em O Alienista de Machado Assis? Será que tiro na cara e revólver na nuca são pura ilusão? Cada gota de lágrima e de sangue das vítimas que vão (e das que ficam) seriam obra da imaginação popular, uma espécie maligna de folclore?

A tranqüilidade, a integridade e a dignidade da população de São Luís não merecem e não podem ser tratadas com sofismas. Sangue humano não é ficção.

Desde 2007, na crônica O Sangue de São Luís já lamentava que, infelizmente, homicídios e assaltos passaram a fazer parte do nosso dia a dia. Agora, não estão eles apenas esporadicamente noticiados nos jornais lidos pela manhã. O terror está, com freqüência, na porta de casa, na lagoa, na litorânea, nos shoppings, nos semáforos, nos bares, nos cafés, nos restaurantes. No cotidiano, temor.

Disse, na época, que a violência que atinge São Luís gera espanto até em cariocas que nos visitam. Porque, mesmo no Rio de Janeiro (capital marcada pela violência urbana protagonizada pelo tráfico organizado de drogas),

OUTROS *

não se vê encapuzados entrando nos bares e restaurantes para roubar ou matar, especialmente, na dita área nobre da cidade. Mas isso ocorre aqui em São Luís. O ludovicense ou mesmo o turista nem pode mais passear com sua família tranqüilamente. E se for, deve ir preparado para uma agressão. Lamentável. Todas estas afirmações permanecem atuais e alarmantes, haja vista também o crescimento demográfico da Capital.

Assim, não se pode compreender como alguns insistem em dizer que a sensação de violência de São Luís é artificial ou que está (quase) tudo bem com a segurança pública em nossa cidade. As evidências dispensam comentários, vez que revelam o oposto.

Ainda urge providência. Frente à São Luís sitiada, fica o até quando...

PASSAGEIRA

Desta forma ela vem: rápida, mas sorrateira. Insana, porque cega, violenta e incontrolável. Temerária.

Enfim, sem ser amor, há paixão: aflita e duvidosa, mas urgente e imprescindível.

Perigosa e mordaz, e imprecisa, e intensa, e desequilibrada e terrível, ela invade a estacão, derrete a neve.

No máximo dos frios, ela altera invernos.

Mas, de passagem, ela vai.

CEM VEZES

Às vezes, cem motivos pra chorar, sorrindo. Cem razões para fugir, parado. Sem olhar, mas enxergando, sendo tudo como foi...

Sem ética e moral. Cem controvérsias. Cem paradoxos.

Sem vontade de gritar – calado. Sem força para andar – parado. Cem motivos pra ficar. Sem vontade de estar cantando. Cem motivos para estar vivendo.

Cem sonhos, no entanto, pra sonhar. Cem cenários no olhar. Sem sentido de sorrir. Sem força centrípeta. Sem centro: perdido.

Sem razão para aceitar,

Dílson Junior

Dyl Pires

sendo tudo como está...

Cem semanas se passaram: memória. Cem semestres chegarão, talvez. Sem-números pra contar.

Sem sóis, cem luas, sendo sempre como é...

Cem sentenças para o ser sentido. Cem senzalas para estar sentindo, sendo tudo como irá...

Cem motivos.

Só cem passos para ir. Cem saberes encantados. Cem vezes, às vezes.

No encanto, caminho.

VERDADE

Há casos

em que omitir é melhor que dizer a verdade; ou mesmo melhor é mentir para deixar...

a realidade punhal coberta pela bainha

IMPUREZA

As palavras esgotaram-se, o descobrir, não. Persiste crescente, infelizmente.

Agora o dizer finda, entregue ao cansaço e à impaciência.

Dizem: é a maturidade.

Silêncio. A criança dorme.

DaniloAraújo

Elias Rocha

Geane Fiddan

Hagamenon de Jesus

José Neres

Jorgeana Braga

Mauro Cyro

JORGEANTÔNIO SOARES LEÃO

JORGE LEÃO Nasceu em São Luis, 27 de março de 1975, na Rua doAlecrim, em casa de seu avô. Na universidade, como estudante de filosofia, junto com um grupo de amigos, formou o grupo Evoé! de poesia. Atualmente, trabalha como professor de Filosofia do IFMA, Campus Monte Castelo, e participa em um projeto no bairro da Divineia, pelo Movimento Familiar Cristão, com um grupo de crianças e adolescentes, chamado Semeando a Vida.

SONETO 1103

Aquele que cultiva a terra repõe o jardim no sertão da mata que gera, em guerra, as aves partindo da mão. Seu vôo, contínuo, refaz o chão pisado por pés rachados, como barco sem cais, sem norte, na vida dos Zés... Tudo, porém, é distante. Nada, contudo, é ausente da terra que volta ao presente. Como nos tempos marcados do santo naquela estante, dos grãos na terra pisados.

SONETO 2104

Vejo e tudo o que vejo e revejo é desejo de volta ao arado parado em terra preta. Quando anoitece, mais difícil é pensar em pedras opacas, pois no céu o relampejo reacende a ternura da água, feito trombeta a soar nos ouvidos de quem vive a chorar... Contudo, a chegada da chuva fecunda a tristeza, logo em seguida as crianças acordam, saindo das casas, vencendo a dureza do chão, com úmidos sorrisos, saúdam a tempestade da vida ao som da beleza terrena, a lavar os sonhos que mudam: agora o que vejo é o pasto habitado pelo frescor do arado, agora movido, molhado...

SONETO 3105

Eis que chega o que adormece, no encanto cristalino das rosas plantadas no segredo que cresce em silêncio, na espera das prosas ao redor da fogueira, com os olhos contando as lembranças do distante passado voltando. É sentida a hora da dura partida

103

OAGRICULTOR- Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 -2007
OAGRICULTOR- Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 -2007
OAGRICULTOR- Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 -2007
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ao além, de inteiro e freqüente plantar na aridez da terra da alma a tortura do calor na ferida. É quente o vestígio na palma da mão, que se entrega a lavrar a semente da aurora no doce momento dos sapos cantando ao canto do vento.

ENTRE AS RUÍNAS DA ANGÚSTIA EM NAURO MACHADO106

O encontro do poeta com as ruínas da cidade, vendo-se enquanto visceral angústia de ser o pó que a cada dia perpassa a decrepitude do tempo. Eis o percurso inglório da poética naurina, em vigoroso processo de afirmação de um eu lírico perpassado pela angústia de fazer da poesia sua jornada humana por excelência.

Como exemplo disso, é possível observar, em Pátria do Exílio (2006), que Nauro Machado lança-se a si mesmo e sua cidade natal, São Luís do Maranhão107, como horizonte poético de sua própria busca, mais uma vez vitalizando em sua poesia a “exploração aguda de todos os estados mais angustiantes da consciência humana” (LEÃO, 2001, p. 97).

É neste cenário que a alma do poeta torna-se desse modo abrigo de um inquieto semblante fecundo, a narrar o percurso de suas periclitantes agonias diante das ruínas do tempo. Assim, diz o poeta:

Sou a pátria do exílio agora, nela andando em minha essência. (MACHADO, 2007, p. 23)

Ao tematizar sobre o drama de sua exploração mundana, no ser que caminha na fugacidade da existência, os versos de Nauro Machado nos apresentam uma cidade calcada pela dor de saber-se única em sua contínua asfixia. Este tema acompanha a obra poética do autor, como um traço manifesto de seu olhar sobre sua cidade natal.

É, com efeito, a imagem de um corpo em decomposição, que aproxima o poeta de seu espaço em torno da miséria e do tempo em ruínas, tornando-se fecundo narrador de sua peregrina passagem pelas ruas de seu tempo existencial. Vejamos o soneto 10, de sua obra A Rosa Blindada (1990):

Cantar-te-ei, cidade, qual se amada fosses até o final dos que têm ossos, para, no amor, cantar-te desamada a destroçar-me ao chão dos meus destroços. Cantar-te-ei, cidade, em todo e em cada imundo beco ou rua aos passos nossos, e em moribunda noite à madrugada trazendo o chumbo dos soluços grossos. Cantar-te-ei, cidade, o início e o fim com todo o corpo. E até no podre rim carregado por crápulas fiéis, cantar-te-ei, de imunda, o Senhor Morto me conduzindo ao cais do último porto onde dormirei eterno sob teus pés. (MACHADO, 1991, p. s/n)

A cidade constitui, com isso, o encontro do poeta com a sua angústia cotidiana, sobretudo quando a vê em ruínas, abandonada pela vulgar passagem de quem apenas reflete sobre ela o traço dominante da atroz perda de memória com o seu útero. Por isso, a poesia de Nauro Machado reveste-se de imagens viscerais para dar ao corpo, que é também ruína, o espaço real de sua peregrinação. De modo a proclamar em Lamparina da Aurora (1998): Minha ofensa tomba Aos teus pés, cidade.

(Inatingido alto

106 Referências

LEÃO, Ricardo. Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 2001.

MACHADO, Nauro. A vigésima jaula. Rio de Janeiro: Olímpica Editora, 1974.

______. A Rosa Blindada. Brasília: EditoraAlhambra, 1990.

______. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Imago Editora; Fundação Biblioteca Nacional Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.

______. Pátria do Exílio. (Terceiro e último canto do poema Trindade Dantesca). São Luís, Lithograf, 2007.

107 Onde nasce no dia 2 de agosto de 1935.

do meu chão corpóreo.) (MACHADO, 1998, p. 333)

A fugacidade da existência, que todo momento se volta como ponto reflexivo em sua obra, nos conduz à problemática visceral do corpo, e, desse modo, o poeta sente-se em estado de vigília sobre o encontrar-se no tempoespaço permanente de seu ethos108 natal, como um peregrino lutando por dar à sua lida diária o olhar de quem resgata do abandono e da miséria o pensamento situado como espaço a ser habitado pela poesia. Isto reflete a própria angústia do humano, como essencial peregrinação do ser diante da finitude.

Contudo, será por meio de um verbo inaudito e avassalador que o traço poético do autor encontrar-se-á diante das contraditórias artimanhas de um tempo fatalmente arruinado pela busca do valor infértil das coisas produzidas em seu lócus citadino.

Este conflito traz à angústia de sua peregrina memória poética o espaço propício capaz de desconstruir com o fim meramente utilitário das coisas e de seu pretenso domínio fugaz, enquanto redução do humano a uma inautêntica existência. Será, pois, com a palavra que se reconhece, no poeta, a remissão do humano, pois somente nela é possível a liberdade criadora da própria existência. Assim nos diz o autor de A vigésima jaula (1974):

Pois sem palavra não pesa um corpo morto, e sem ela, a palavra, é morta a vida, só a palavra diz do peso, inda que a sustente o etéreo. (MACHADO, 1974, p. 7).

Palavra que assume o compromisso de fazer-se presença daquilo de que se ocupa o poeta: a angústia do ser humano diante de sua finitude. Por isso, ainda nos afirma Nauro, em O cavalo de Tróia (1998):

Não entra no poema o exterior a ele: o sossego infinito do universo. (MACHADO, 1998, p. 239)

E não seria outro o ofício deste peregrino do ser, uma vez que é no interior do poema que se encontra a fecundidade da existência. Por isso, o poeta adoece com a realidade. O seu pathos, ou seja, sua capacidade de estar ligado poeticamente ao mundo, é de onde se vê inaugurado o desassossego do humano. A realidade é tomada pela angústia do poeta, ao lançar-se como tecelão da existência. Ele vai tecendo a existência, enquanto traça em versos os incansáveis gritos de sua agonia telúrica.

Na mesma obra, ainda nos apresenta o autor a seguinte afirmação sobre a angústia:

Não me aposentarei jamais da angústia (meu simples deglutir digere a angústia) a perseguir-me neste único emprego sem paga e valia, exceto a de ser-me. (Idem, p. 238).

O poeta é, desse modo, penetrado existencialmente por saber-se como um contínuo processo de fazer-se como poeta no mundo. Assim, ele se faz no mundo como prisioneiro consciente de sua tarefa ocupacional, que reverbera em si o passar do tempo como momento oportuno, afirmando-se pela fecundidade da palavra.

Por duas mil angústias, ó poeta, as coisas todas, que falam a sós, falarão por ti a voz plural. Completa. (MACHADO, 1990, p. s/n).

Como Prometeu acorrentado à pedra do destino inexorável, o poeta existe na experiência cotidiana de sua arte, como devorado pela águia de um deus inclemente, ao visitá-lo pelo acordar a cada dia sedento por um novo parto da palavra. Neste espaço situado, ele se descobre alguém que fala da angústia humana, pois a traz consigo visceralmente.

Como Ariadne, ele lança seu fio existencial no labirinto do tempo. Contudo, não espera ser libertado por Teseu deste seu habitat visceral. Por debaixo dos espinhos das linhas em branco do papel à sua frente, o poeta aprende, assim, a cada hora sofrida, a deitar-se ao lado de seu destino humano, e de sua ocupação originária, fecundada pela angústia de ser poeta por toda a existência.

108 Palavra gregaparadesignar “morada”, “habitação”,“cuidado”.

E em sua cidade este drama renasce a cada dia. Será neste cenário, escavado pela solidão do fazer-se duramente poeta, que a palavra ressoa nas ruas, ruínas e becos da vetusta cidade. Enquanto corpo, pelo cotidiano de seus passos, o olhar arguto do poeta refaz a trajetória de uma história fadada à decrepitude no tempo do seu findar-se.

Não obstante este drama fatídico, o poeta descobre-se, pelo encantamento de sua fecunda imaginação, refazendo-se em busca de um ser mais pleno de poesia. Ainda que seja desesperador viver diante do perceber-se faminto de vida, tendo à frente a sua terra natal abandonada pelas pedras de uma visão turva e envelhecida, o poeta lança sua sina como um chão a ser pisado pelas torturantes feituras de seu próprio fenecer.

Ó terra do meu medonho

Despertar horizontal, No imaginário que ponho

Aberto para o real, Querendo sonhar meu sonho

Antes do sono final! (MACHADO, 2007, p. 77).

Na solidão de seus estreitos espaços, a cidade fecunda a imaginação do poeta, enquanto observador da morte em vida, vendo com isso o drama de sua existência enquanto fertilidade do ser, transmutado pela dor em seu abandono temporal.

Ó São Luís, chão que é mais

Do que tudo o que me fez:

Se é Natal, e tudo é paz, Sem Maria alguma em prenhez, Eu sou quem morto em mim jaz, Vivendo a morte outra vez. (Idem, p. 72).

Encontramos, portanto, uma leitura da angústia indissociável do ser que se situa no espaço-tempo de sua cidade. Aqui reside uma das mais percucientes abordagens existenciais da poesia naurina. Por lançar-se como cenário cotidiano de si mesmo, o poeta, e com ele a cidade, encontram-se em constante processo de interlocução, no chão árido de suas vicissitudes

E pela terra interposta

Entre mim e a sua medida, Esse sonho é como a aposta

Que fiz entre mim e a vida:

Eu, a carregá-la na costa, Ela, a olhar-me em despedida (Idem, p. 78).

Como palavra situada no pesadume de sua finitude, o poeta invoca a dor de uma existência que se doa no espaço de uma vida dedicada diuturnamente ao drama inquebrantável de sua peregrinação mundana.

Assim, vê-se na poesia de Nauro Machado um trajeto onde o ser do poeta está entranhado com o ser de sua cidade, pois nela se faz e refaz a angústia de tornar-se o que é, ou seja, poeta, que se vê na dureza de seu ofício a fecundar a palavra com o ser de sua alma em angústia.

Josualdo Rego

Mateus Gato

Natanílson Campos, Natinho Costa

Reuben da Cunha Rocha

Ricardo Leão

Rosimary Rêgo

ALGUNS POEMAS REPRESENTATIVOS

http://ailtonpoiesis.wordpress.com/2014/05/08/painel-da-poesia-contemporanea-nos-400anos-de-sao-luis-alguns-poemas-representativos/

J. M. CUNHASANTOS FÁBIO

Teus dias sem idade tuas viagens nos pássaros dos mamonas assassinas

Avontade de fugir de ti para ti por dentro as vozes partidas na tua cabeça e um discurso de louco que não acabava mais Assim lembro teu aço, teu osso assim recordo teu pânico comandando gangues sem pele e sacando revólveres da imaginação

Um dia, Fábio, Também terei idades e pânicos também viajarei nos pássaros ouvirei músicas e fugirei para esse lugar em nós longe de qualquer um

Vozes do Hospício, 2008

CELSO BORGES

SUNSET 3

em frente ao sobrado a tarde grita aflita seu pôr-do-sol e reflete raios na grade de ferro forjado que sustenta a parte de cima da porta

- restos mortais de um trapiche da Rua da Estrela

SUNSET 4

O Incêndio da Casa dos Lordes e dos Comuns

do outro lado do mundo beira de um rio londrino o pintor Joseph Mallod Willian Turner toca fogo no fim do céu 109

http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/painel-da-poesia-contemporanea-nos-400-anos-de-sao-luis-4401.htm

ERRANTE PAINELDAPOESIACONTEMPORÂNEANOS 400
LUÍS109
GUESA
ANOS DE SÃO

no dia seguinte a tate gallery anuncia o leilão do pôr-do-sol

Belle époque, 2007

SALGADO MARANHÃO

O OURO DAS COISAS

Daqui destes becos absolutos luta-se no fórum do lítero, onde o reles relativo transcende seus delitos.

Daqui destes estames (tramem o Samadhi-ser: o nada náufrago sob o Nadalume) amanhece.

E quilhas vazam marés aqui desteAshramaxé: o imaginário templo de maravilhas.

Que a palavra solavanque o ouro das dez mil coisas

ALuísAugusto Cassas Sol sanguíneo, 2002

FERNANDOABREU

HOMEM COMUM

Para o inglês W HAuden escrever poesia era lembrar a si próprio sua condição, porque antes e depois do poema não tinha tanta certeza de ser poeta.

O brasileiro Ferreira Guliar diz que só às vezes é o poeta Ferreira Guliar. Ou seja, nos momentos em que o clarão do poema ilumina sua face.

O galês Dylan Thomas vociferava seus metros direto no ouvido de Deus, segundo ele próprio, para a glória de Seu nome e em louvor do Homem. Quanto a este que afirmam ser eu, é só mais um homem comum, vergado ao peso da coragem que inventa. Comum, quando as engrenagens do poema rangem dentro de seus ossos, ao ponto em que é preferível escrevê-lo,

embora nada no mundo dependa disso. Comum, quando por dentro tudo é deserto, e ele se perde na multidão, que também disfarça e espera.

Aliado involuntário, 2011

PAULO MELO SOUSA

SABENÇA

na sozinhez das metáforas inexatas um bicho doido assopra perplexidades mordendo os calcanhares da imemória no casulo pânico das palavras incriadas lambendo a espumosa baba do sol a cada coice dos impropérios da morte viver no sonho incrédulo da criatura é abusar da paciência de Deus

Banzeiro, 2010

RONALDO COSTAFERNANDES

CHURRASCO

Da minha janela, vejo fornos crematórios. As pequenas chaminés se sucedem como um i sem pingo. Da fumaça que lhe escapa há rumor de tédio, carne e sal grosso. Durante a semana os campos de concentração, que são quintais, se mantêm vazios e sem prisioneiros além das árvores inúteis que parem sem que ninguém as olhe. Nos fins de semana, começa o sacrifício de bois e rins e a fumaça se evola, em suas cólicas cinzas, a passagem das horas, o riso grotesco dos feriados, o ritual de queima e álcool, a embriaguez da vida cuja ressaca é a morte.

Amáquina das mãos, 2009

ALEX BRASIL

NAVALHA

O menino nasce no fio da navalha. Anavalha fome fere o menino. Anavalha rua rói o menino. Na navalha dor dorme o menino.

Anavalha nega o menino. Anavalha poder pune o menino. O menino cresce entre mortalhas, e no fogo dessa fornalha, o menino faz-se navalha, lâmina sem piedade na minha, na tua carne, na carne da sociedade.

Todas as Estações –Antologia Poética, 2003

SONIAALMEIDA

VIAGEM

Coloco a palavra na asa do poema e faço o que mais quero: vou na asa da palavra vôo na alma do verso e, sempre que preciso, flutuo nas (a)venturas do signo.

Penumbra, 2003.

DYLERCIADLER

COBRANÇA

Cobro-te

cobras-me cobra venenosa com veneno fatal cobro-te quando me cobres com teu corpo enroscado tipo cobra no meu corpo intumescido rígido sensual

Crônicas & Poemas Róseos-Gris, 1991

CHAGAS VAL

RELVAS

O luar alvíssimo se tece entre as verdes cortinas de árvores e trêmulo, ouve-se-lhe um terno sussurrar de folhas fremindo como estrelinhas cadentes em uma contínua iluminação de límpidos espelhos entre as fissuras de folhas ou nos finos folíolos da relva.

Escritura do silêncio, 2009

RITADE CÁSSIAOLIVEIRA

O EQUILÍBRIO

O equilíbrio foi gerado por Hércules e Minerva. Falou-me o sábio. Aforça e a sabedoria se enlaçaram na mais sublime relação, dando origem à geração do equilíbrio. Pouso da alma que não pende frente ao vendaval. Ponto no espaço que ancora o tempo na vastidão das existências e mortes registradas no livro de São Jerônimo. Do alto do Senado, o ancião julga as vidas e as mortes que se prolongam nas existências...

Quem somos?

Somos a soma e a divisão na eternidade. Somos a multiplicação e a subtração no mundo temporal. Asombra que escurece parte da terra não detém a nossa figura, que se traça na passagem das portas da geração, da degeneração e da morte...

Poíesis, 2007

LÚCIASANTOS FAÇANHA

eu não nasci com estrela na testa eu não subi o monte everest nem cruzei a seco o sertão do agreste no meu talento a playboy não investe nem a seleção do reader’s digest

nunca rezei terço como irmã dulce eu não atravesso o rio nilo a nado nunca cantei fado como a bem fadada amália eu não sou amélia eu não sou adélia (se bem que pasto no mesmo prado)

eu não sei direito a idade da loba eu não peito para alimentar R ô m u l o e R e m o eu não vou entrar pro livro dos recordes nem robert redford dormirá em meu leito

a poesia é meu grande defeito

Baton Vermelho, 1988

COUTO CORRÊAFILHO

AS BANDARILHAS

As bandarilhas arpoam a vida e de par em par a esperança. Tenebrosos punhais de Espanha.

As bandarilhas invadem a carne e hasteiam-se como marcos de conquistas. Terríveis pavilhões da morte. As bandarilhas abrem sulcos no couro e dançam a tragédia do touro. Dolorosos pingentes fúnebres. As bandarilhas tremulam na tarde e se esfriam adereçando o fim. Duras hastes de metal e papel de cor.

XIIIAntologia poética Hélio Pinto Ferreira, 2001.

EDUARDO JÚLIO

ALGUMATRILHAALÉM

encontro com um passo que perdi há sete anos

ele reconhece em mim o seu passado e passa

volto para casa com a solidão dos sapatos

Alguma trilha além, 2005

JORGEANABRAGA

THE END

Tem uma serpente

Correndo aqui atrás Como a minha mãe

Cuspo o meu pai

Cerca viva, 2011

DYLPIRES

SOTERO

Um homem solitário. Nunca o percebi para além dos hábitos. Pela manhã dos gatos cuidava.Ao entardecer o pôr do sol lhe ocupava. Um dia, os gatos morreram. E para se recompor começou a tecer bolsas e tapetes felpudos como os gatos, belos como o olhar deles; agora reinventados no sol que espiava. Outro dia o vi mancando. Numa solidão que excedia a ausência de uma bengala. Pela primeira vez me comovi com sua solidão. Acordei para o que nele era falta.Acordei para os seus imperceptíveis rituais de ausência. Ele me sorriu.

O perdedor de tempo, 201

BIOQUE MESITO

VANGUARDADE HÉCATE

entre vírus e computadores guerras e bebés de proveta aproveito para compreender a vida

ouço piano leio livros assisto à televisão nos jornais a novidade quase extinta

entre importados e sem importâncias softwares ou luas de sábado questiono a vida do meu jeito

atrás do atraso a ciência no café da manhã o capitalismo

entre dogmáticos e crianças prodígio parafernálias e clones do século novo aproveito para descrever meus mitos

Aanticópia dos placebos existenciais, 200

HAGAMENON DE JESUS

UM DOS CÂNTICOS DOS CÂNTICOS

Os que lutam com oAnjo

Estão no alto do Empire State Building.

São os que abrem o coração para Deus

Os que lutam com oAnjo

Estão mais alto que o Edifício Empire State Building.

São os para quem foi escrito

“Que o amor é uma guerra perdida”

Os que talvez se matem.

Mas ardentes e comuns, senhores só do Sol

Da incerteza de Canaã,

Ainda caminham ombro a ombro.

Aqueda é uma chance.

Mas que não se enganem e/ ou perturbem

Se, eternamente,os olhos de Prometeu estejam bicados (a impermanência é sempre a questão

Do sangue no azul, é o alimento da Eternidade).

Que não se enganem e / ou perturbem

Com os olhos de Édipo nas TV’s, O silencio da arca cheio de objetos, e os arcos

As alianças, com aquilo que não vêem ,

O amor

Ainda arde, em arco íris, no coração do CD’s.

Os que lutam com oAnjo

Estão no alto, no vértice do Empire State Building: E cantam.

Aqueda é uma chance.

Mas também o beijo,amor,o vôo

The Problem, 2002

ANTONIOAÍLTON

O JARDIM DE PO CHÜ-YI

Dizem aí que Fulano é um grande poeta que tem estilo, e até consegue imitar a si mesmo, para conservar sua marca

Que é como Picasso depois de Les Demoiselles

Quanto a mim, sei que meu pequeno jardim não é como o das grandes casas de portões vermelhos dos poetas que olham desdenhosos o outro lado do bulevar

Não é como os planejados para a entrada dos grandes colégios

nem como os que embelezam ainda mais os fluxos do sol que rebatem nas vitrines das grandes empresas

Em meu pequeno jardim, eu sei, há flores grandes e minúsculas, coloridas e tristes, às vezes

perfumadas

e há também flores falsas como é natural das plantas flores enjambradas e ervas daninhas que tenho preguiça de tirar, ou não sei como

então deixo aos poucos amigos quando vêm beber vinho olharem e dizer: “ô, isso cresceu aí...”, e respondo: “foi mesmo...”

Então vamos beber um pouco mais de vinho, e aponto uma velha espreguiçadeira herdada de Po Chü-yi poeta mais sábio que todos nós juntos, e que após ouvir o alaúde

perguntava:

“Por que suspirar por grandes terraços, açudes quando um pequeno jardim é tudo quanto basta?”

[tempo TEMPO e caramujo], inédito.

MORANO PORTELA

DENTRO DO DIA

Sol e marulho

No meio da rua

No meio do dia

No meio da vida

Onde se cavam cavam Entre humanos abismos

Abismos abismos

De linguagem vazios

Na asa turva da vertigem, 2010

DANIELBLUME

Maranhense de São Luís, nasceu em 27.10.1977, filho de Sonia Almeida (professora universitária, poeta, escritora e membro AML) e Djalma Almeida (engenheiro civil e empresário). Estudou na escola Literato, cursou Direito na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e se especializou em Processo e Direito Eleitoral pela Faculdade Cândido Mendes. É advogado militante, procurador do Estado do Maranhão e professor da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB-MA. Autor do livro Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas (Lithograf, 2003), já teve publicados os seguintes trabalhos jurídicos: A Inconstitucionalidade de Normas Constitucionais (Revista da OAB/MA n. 02, 2002), Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas (Revista do Tribunal de Contas do Distrito Federal n. 27, 2001), Parlamentar e Tributo (www.pge.ma.gov.br e JUS-MA, 2007) e Publicação da Sentença Condenatória em Jornais de Grande Circulação (Júris Síntese e Revista da OAB/MA n. 05, 2008). É colaborador eventual do jornal O Estado do Maranhão, na condição de cronista, e poeta com poemas publicados na I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: Latinidade (1998), Antologia de Poesias e Crônicas Scortecci (1998), II Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: Latinidade (2000) e Palavras de Amor (2000). Em 2009, lançou o livro de poesias Inicial pela Editora BelasArtes.

IMPUREZA

Esgotam-se as palavras, o descobrir, não.

Agora o dizer finda, entregue ao cansaço e à impaciência.

Dizem: é a maturidade.

Silêncio. Acriança dorme.

Inicial, 2009

JOSUALDO RÊGO SOUSÂNDRADE

Aqui erguemos nossa lírica, sem o coloquial, sem o resenhista de plantão.

Aqui arquitetamos nossa ruína, em casebres e palafitas à beira-mar, nesta carinhosa decadência.

Aqui o pássaro mora longe, invisível e sorrateiro.

Variações do mar, 2012

SAMARONE MARINHO

O PALACIO DOS LEÕES

dá-se um punhado de dores aos miseráveis incautos

no quintal do palácio a legião de templários vê a ave picotar

os vestígios das sombras

Reuben da Cunha Rocha

São Luís está em chamas / Não é hora para joguinhos literários

Não é hora para o artista se esconder / Palavras secretas e cânticos

Não dão mais em nada / Chegou a hora de arder / Arder e gozar

O POETA DE VANGUARDA

Wybson Carvalho

O poeta de vanguarda - NOCA - O portal da credibilidade

Déo Silva

Raymundo Nonato da Silva, conhecido nos meios literários pelo pseudônimo de Déo Silva, nasceu em Caxias a 15 de agosto de 1937 e era filho de Jefferson Antônio da Silva e de Araçy Carneiro da Silva. Seus estudos se iniciaram com o curso primário, concluído no Grupo Escolar Gonçalves Dias em Caxias-Maranhão. O curso ginasial, iniciado no Colégio Caxiense não chegou a concluí-lo.

Autodidata, tinha um verdadeiro fascínio pela Gramática e possuía um estilo incomum quando escrevia. Militou nos primórdios de sua carreira literária, como jornalista, integrando o corpo redacional dos principais jornais de São Luis, entre os anos 1953 e 1954. Foi redator-chefe do Suplemento Literário do "Diário da manhã" de 1957 a 1959. Atuou como locutor-redator, nas rádios: Ribamar, Timbira e Difusora em São Luis entre 1953 a 1958.

Lançou seu primeiro livro: " Ngulo Noturno" (prosa e poesias em 1959, obra que, de certo modo, revolucionou as letras maranhenses, inclusive por apresentar experiências gráfico-jornais. Fez parte, ao lado de Bandeira Tribuzzi, Ferreira Gullar, Nauro Machado e José Chagas, do Movimento Concretista, que se esboçou no Maranhão, imprimindo a força e vigor do seu talento.

Ao tempo em que era chefe regional da Carteira de Crédito Agrícola e industrial do Banco do Brasil S/A (CREAI), divulgou, através da imprensa, um trabalho de pesquisa sócio-econômico pertinente à cidade de Pinheiro, na baixada maranhense, tendo com resultado uma alteração substancial e proveitosa na vida creditícia e produtora daquela região. Em 1970 se ausentou do Maranhão durante seis anos. Em Manaus, vinculado ao Clube da Madrugada, órgão que congrega os escritores daquela região, publicou, através da imprensa, vários artigos e poemas que obtiveram grande receptividade.

Participou, em 1973, da Primeira mostra de Arte Concreta Brasileira, realizada em Fortaleza-Ceará. Representando o Estado do Maranhão, apresentou, ao ensejo, o produto de suas pesquisas estéticas, veiculadas após pela imprensa alencarina. Participaram nesse conclave autores de nome nacional como Décio Pignatari, Goebel Weyne e outros.

Em 30/10/1977, recebeu do "Clube Recreativo Caxiense", o diploma de poeta-filósofo. Em 31/07/1978 recebeu, em Teresina, o certificado de "Homem de Ouro", de preferência pública, pela sua atuação

literária durante aquele ano. Em 30/07/1979, indicado pela Presidência da extinta, Fundação Cultural do Maranhão, de quem era Assessor, participou, com destaque, do "Seminário como Núcleo de Altos Estudos Amazônicos", promovido pela Universidade Federal do Maranhão.

Conhecedor da região amazônica , onde fez diversificadas pesquisas, lá assistiu, na tribo dos Ticunas, à festa da "Menina Moça". Naquela ocasião, o Cacique deu-lhe, de presente, um colar (trabalho artesanal) contendo as mais importantes aves e répteis da região, feitos de tucum. Em 1980 foi publicado seu segundo livro "Equação do Verbo" (prosa e poesia), obra premiada através do plano Editorial - 80, FUNC/SIOGE.

Figura, com certo mérito, em vários livros de crítica. O respeitável escritor brasileiro Walmir Ayala , atravésdo Jornal do Brasil (Rio) assim se expressou relativamente à poesia de DÉO: "labiríntico exercício de ser uma certa melancolia, tendendo à poesia pura".

Suas atividades no Banco do Brasil nos Estados do Maranhão (Caxias e Pinheiro), Pará ((Marabá), Amazonas (Tefé) e São Paulo (Jaboticabal), foram marcadas pelo seu talento criativo e renovador. Foi chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Caxias (1977-1978). Assessor da Provedoria do Hospital "Miron Pedreira" em Caxias de 1976 à 1978. Exerceu o cargo em Comissão de Assessor Cultural do Departamento de Assuntos Culturais da Fundação Cultural do Maranhão. Déo faleceu a 27 de setembro de 1983, quando se deslocava de Caxias para São Luis. Ele sempre dizia que era quase semelhante àquela cidade... “ Ela, a cidade, cercada de águas por todos os lados... Ele, o poeta, rodeado de ilusões por toda a vida...” D.S.

Obras Inéditas:

1. "Nuvens do Fantástico" (estórias e lendas);

2. "História das Igrejas de Caxias";

3. "Grandeza e Mistério do Amazonas" (prosa);

4. "Escada de Betel" (poesia);

5. "Djébel" (poesia);

6. "Coisa das Coisas" (poesia);

7. "Pacto e impacto";

8. "O Maranhão e a Gramática", (estudo crítico).

Dois poema de Déo Silva:

Fotografia

Eis minha angústia perto da manhã, a crescer, como um arbusto, na planície vã. D.S.

Noite Ludovicense

São Luis, um beco escuro, um ladrão e eu:

_ Mãos ao alto... a bolsa ou a vida?

_ Consulte-as, ambas estão vazias. D.S.

i PLANO EDITORIAL DA SECMA: PRÊMIO GONÇALVES DIAS DE LITERATURA: “Quando em 1994, a governadora Roseana Sarney extinguiu o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, uma instituição que iria completar 100 anos de serviços prestados ao Estado, os artistas se ressentiram de um golpe jamais esperado. Com isso, houve um sensível prejuízo para os Planos Editoriais existentes do próprio Sioge, da Secretaria de Cultura do Estado e da Fundação Cultural do Município de São Luís, já que os livros eram editados na gráfica daquele Órgão. http://www.guesaerrante.com.br/2009/11/19/Pagina1204.htm, 19 de novembro de 2009

ii Instituído pela Prefeitura de São Luís, através da Fundação Municipal de Cultura – FUNC, atendendo o que rege a Lei Municipal nº 560, de 03/09/1995 e objetivando descobrir, divulgar e premiar valores artísticos e culturais do Maranhão. De caráter competitivo e classificatório, aberto a 6 (seis) gêneros artísticos e literários de obras inéditas (exceção para os trabalhos de jornalismo) em língua portuguesa de autores maranhenses ou comprovadamente radicados a pelo menos 1 (um) ano no Estado. DAS CATEGORIAS: 1 – Prêmio Aluízio Azevedo: para obra de ficção compreendendo novelas, romances, contos, peça teatral e literatura infantil; 2 – Prêmio Antonio Lopes: para obra de erudição, compreendendo crítica literária e pesquisa folclórica; 3 –Prêmio Sousândrade: para livro de poesia; 4 – Prêmio Zaque Pedro: para obra literária na área das artes plásticas, que resgate a memória de artistas, obras ou movimentos artísticos maranhenses; 5 – Prêmio Inácio Cunha: para obra literária na área musical, que resgate a memória de artistas maranhenses; 6 – Prêmio para Jornalismo: para trabalho de jornalismo impresso.

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