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ONDE FICA A RUA DA AMARGURA?

Rafael Rigolon

A Rua da Amargura está na cidade histórica de Alcântara, ali na região metropolitana de São Luís, Maranhão. Antigamente, se chamava Rua Bela Vista já que contava com uma linda vista para o oceano Atlântico. Era uma rua glamurosa onde se encontrava o comércio de secos e molhados e residiam as famílias mais ilustres e abastadas da raissoçaite alcantarense. O declínio econômico ocorrido na segunda metade do século XIX fez com que hoje só restassem as ruínas daqueles antigos palacetes. Será que é por isso a origem do nome da rua?

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‘Amargura’ é o mesmo que ‘amargor, sabor amargo’ (“não gosto da amargura do jiló”), mas, no sentido figurado, representa angústia,tristeza ouaspereza. Deveria, então,haver naquelarua algo que fosse bem triste. Os guias de turismo gostam de contar duas versões pseudoetimológicas para a origem do nome: a primeira diz que o nome vem da angústia que viviam os escravos já que ali havia um mercado escravista e um pelourinho; a segunda afirma que a amargura se deve à dor da despedida, pois lá era a rua da qual os pais viam seus filhos embarcarem no antigo Porto das Barcas para estudar na Europa. Há, no entanto, meus amigos, uma explicação mais plausível.

Além de Alcântara, A Rua da Amargura também é nome de logradouro em várias cidades e vilas desse Brasilzão, como em João Pessoa-PB, Governador Lindeberg-ES, Elesbão Veloso-PI e Milho Verde (distrito deSerro-MG).TambémemPortugalhámuitasruascomomesmonome,comoemBragança,Machico,Caldas da Rainha, Atalaia e Teixoso.

Cada localidade tem lá seus motivos para nomear uma rua com um nome tão amargo. Sabe-se lá o que aconteceu...Masaexpressão‘ruadaamargura’fazreferênciaaumaúnicaruadomundo,aqueJesuspercorreu carregando sua cruz até o Calvário, mais conhecida como ‘Via Dolorosa’, em Jerusalém.

Muitas cidades históricas de Portugal têm uma rua com o nome de ‘Rua da Amargura’ porque havia (ou ainda há) a tradição de se representar nelas a Paixão de Cristo. Por influência portuguesa, é o caso de Alcântara, em cuja antiga Rua Bela Vista havia os Passos da Paixão e também se representava a Paixão na Semana Santa. O nome da rua de Alcântara e a expressão ‘rua da amargura’ vêm da ‘Via Dolorosa’. Segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo, foi o padre português Pantaleão de Aveiro que, por ter percorrido a ‘Via Dolorosa’, em 1563, traduziu o nome da via para ‘Rua da Amargura’.

Então, por metáfora, estar na ‘rua da amargura’ é ver-se numa situação de sofrimento e desamparo tal pela qual Jesus passou.

Bom, se você já conheceu alguma Rua da Amargura, espero que um dia chegue à Rua da Consolação – fica na capital paulista. Vale para o sentido figurado também.

Referências: ‘Grande diccionario portuguez’, por Domingos Vieira (1871); ‘Alcântara: subsídios para a história da cidade’, por Antônio Lopes (1957); e ‘Afinal, onde fica a ‘rua da amargura’’, por Lívia Lombardo, na página ‘Aventuras na História’ (ago. 2017).

Foto: Rua da Amargura, em Alcântara-MA, por Daniela Aranha (fev. 2021).

Sugestão: Daniel Michel Margotti.

Turma de Pedagogia do Câmpus Codó produz livro sobre culturas codoenses

Organizado por professores do Centro de Ciências de Codó da Universidade Federal do Maranhão, Cristiane Dias Martins Costa e Danilo Araújo de Oliveira, o livro “Encantar-se pelas Culturas de Codó (MA)” será lançado nessa quinta-feira, 13, a partir das 18h, no Instituto Histórico e Geográfico de Codó. Os amantes da literatura regional poderão adquirir o livro no dia do lançamento por R$ 35 ou, gratuitamente, por meio do site da Editora Pedro e João, após seu lançamento. Fruto de um projeto de pesquisa, o exemplar foi produzido por estudantes do curso de Pedagogia do Câmpus Codó.

A educação como transmissora da cultura é a palavra. Dividido em dez temas, as histórias do livro são narradas pelos próprios moradores da cidade, que contam e visibilizam aspectos variados das culturas codoenses. O grande desfecho da obra, segundo Danilo Oliveira, são os saberes históricos contados a partir das próprias experiências das pessoas, que trazem para as narrativas elementos substanciais de relações históricas e socioculturais.

O contato com a vizinhança foi o principal alicerce para a produção do livro. A proposta inicial, como revela o professor, era que os alunos fizessem um trabalho de pesquisa, entrevistando moradores locais. “Foi um trabalho difícil, pois dependeu da agenda e disponibilidade das pessoas entrevistadas. E, com as entrevistas já prontas, os discentes as transcreveram e prepararam um seminário apresentando os dados. Diante disso, adoramos o resultado final e aceitamos o desafio de produzir o livro”, comenta Oliveira.

Conheça a história de Codó

O ano de 1780 marcou o início do povoamento de Codó. Sua economia era baseada em atividades agrícolas desenvolvidas por portugueses e senhores da aristocracia rural maranhense. Um dos primeiros exploradores foi o agricultor Luís José Rodrigues e o português Francisco Marques Rodrigues. O povoamento também teve a participação de escravos africanos que trabalhavam nas lavouras, índios Barbados e Guanarés e de imigrantes sírios e libaneses.

No período colonial, Codó destacou-se pela produção de algodão, tendo êxito na participação do processo de industrialização do Maranhão. A primeira indústria do município foi construída em 1892 e se chamava

Companhia Manufatureira e Agrícola, de propriedade de Emílio Lisboa, que posteriormente teve seu monopólio passado para Sebastião Archer.

Por: Lucas Araújo

Produção: Sarah Dantas