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ATÉ LOGO PAPAI

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EDITORIAL

EDITORIAL

Com a notícia da minha concepção ele já sabia: “é a Andreza Maria!” Como quem já me esperava há muitos anos para contar-me histórias de “mangudas e Jejês” e a me embalar com cantigas que me faziam dormir no aconchego de seus braços. Desde criança tenho comigo que ele era meu amparo, meu abrigo, minha proteção, por isso, dormíamos juntinhos e acordava com ele dizendo: “bençoe Derê”. Cresci admirando sua inteligência e os pronomes bem colocados. Tenho deliciosas lembranças dele em sua biblioteca lendo para mim a História do Brasil para Crianças, de Viriato Correia. Consigo sentir, ainda hoje, o cheiro do livro aberto enquanto eu no colo, apoiava a cabeça em seu ombro. Vivi entre essa e tantas outras histórias na infância com o papai. Era meu único amigo. Mamãe sempre fez o papel de mãe, mas era ele o meu cúmplice. Tínhamos muita afinidade, o mesmo gosto para tudo! O mesmo temperamento, o mesmo humor e o mesmo sentimentalismo: dois chorões! As mesmas perninhas grossas…. Ah, e claro, o mesmo gosto para comida! Embora eu não seja maranhense, aprendi com ele a comer com farinha de puba e a tomar Jussara na tijela com farinha e açúcar, como também, azeite português e vinho (na fase adulta), estes por influência de vovô, José Ernani, português, que infelizmente não conheci, mas pelas belíssimas histórias que papai contava com tanto amor, consegui ter o mesmo sentimento.

Desde pequena eu dizia a ele que éramos um só e ele respondia que eu era a cachaça dele. O doce que eu ganhava no colégio, eu guardava na mochila para dividir com ele em casa. A pasta que ele levava para o trabalho era cheio de bilhetinhos meus que eu colocava escondido com declarações de amor que inclusive, ele guardou até hoje em um envelope com muito apreço. As marcações dos livros que ele lia eram de desenhos meus, de vez em quando ainda encontro dentro de um livro ou outro…. sua chegada do Senado Federal, onde trabalhava, era muito esperada por mim. Eu me

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enfiava dentro de seu palitó e a abraçava sua barriga. Sem falar nada, ficava do ladinho da pasta esperando ele tirar o que me trouxera. Sim, todos os dias trazia uma guloseima para mim e para meus irmãos. Era sempre um pão de mel delicioso na forma quadrada e bem recheado ou um saquinho de balas moles de hortelã.

Eu sempre soube da grandeza de papai, não por ser meu pai, mas por reconhecer o gênio literário que eu tinha em casa. Advogado, poeta, ensaísta e pesquisador. Conhecido em sua terra natal, São Luís do Maranhão, bem como no interior de Barra do Corda, e em outros países como Uruguai (onde participou de um festival de poesia sul americana) Peru, Bolívia, Equador e Portugal (onde lançou o livro Bocage, o Injustiçado Cantor de Inês). Algumas poesias de papai viraram músicas na voz do uruguaio Leonardo Figueira, figura simpatissíssima que tive a oportunidade de conhecer aqui em Brasília juntamente com outros uruguaios que vieram a um Café aqui da Asa Norte para prestigiar meu querido pai. Vivemos assim, nesse entrelaço de amor e cumplicidade há 31 anos, inseparavelmente!Fui seus olhos, suas pernas, seus braços… com muito amor e carinho, até o último dia de vida aqui na Terra. Não era hora! Não era esperado! Estávamos fazendo planos, pois acabara de ser eleito como membro da Academia Maranhense de letras. A posse seria em março, justamente em março… Mas Deus precisou dele consigo para escrever e declamar poesias que é para alegrar o céu e também do seu bom humor na companhia de seus outros bons amigos que lá estão. E eu sigo aqui, de coração partido com uma saudade de rasgar o peito, tentando sobreviver sem sua presença marcante, sem sua linda voz e sem o joia que me dava sempre que me olhava. Ah…que saudade que doí! Que vontade de acordar disso tudo e correr para contar desse pesadelo. O único conforto que tenho é que nada, absolutamente nada, nos separará, pois como eu disse anteriormente e ele sempre soube: SOMOS UM SÓ! Seja nesse plano ou na eternidade, vamos nos reencontrar como energia e assim, seremos uma única força de amor. Sei que aí do céu esta intercedendo por nós juntamente com Deus. Virou meu guia, meu anjo da guarda. Tenho muitíssimo orgulho de ser filha de Fernando Braga, meu velho poeta! Obrigada por ter sido o melhor pai do mundo, o melhor marido e o melhor amigo de quem teve o prazer de ter sua amizade. Minha vida, meu amor, meu mestre, meu melhor amigo, meu paizinho… jamais direi Adeus… é apenas um até logo! Agora entendo o porquê tanto me esperou aqui na Terra e já sabia antes da medicina revelar meu sexo que era a sua Andreza Maria. Nós precisávamos um do outro até o fim como duas metades. Só tenho a agradecer a Deus por ter me dado esse maravilhoso pai. Te amarei INFINITAMENTE e fico feliz por ter provado esse amor até o último momento. Prometo que enquanto eu estiver aqui na Terra não deixarei seu nome no esquecimento, pois sempre será o “velho Fernando Braga”, nosso poeta imortal!

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