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4 POEMAS DE FERNANDO BRAGA
Publicado em maio 16, 2018 por Carvalho Junior
Fernando Braga (São Luís/MA, 29 de maio de 1944 + Brasília-DF, 11 de março de 2022). Poeta, ensaísta e pesquisador brasileiro, formado em Ciências Jurídicas e Sociais e pós-graduado em Ciência Política na Universidade de Brasília – UnB, com estágio em Direito Penal Comparado pelo Centre d’Etudes de Civilisation Française da Universidade de Paris-Sorbonne. Publicou dez livros de poemas, com participações em importantes antologias nacionais e internacionais. Seus livros mais recentes são Poemas do Tempo Comum, [Prêmio Gonçalves Dias, São Luís, 2009], O Puro Longe [Caldas Novas, GO, 2012] e Magma [Goiânia, 2014, lançado em Aveiro, Portugal].
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MAGMA
Esta é minha palavra, o meu conjunto confuso e inextrincável de elementos…
É o poema que me busca e me trás para a superfície, para que eu possa dizer-me e ouvir-me tantas vezes, e expor-me a pensamentos aonde sou sujeito e objeto…
Este é o magma do meu logos racional, do meu dever-ser mais- que- perfeito e natural, poético, crístico e complexo…
COMPULSÃO
Se vós não tendes sal-gema não entreis neste poema (Jorge de Lima)
Esconde-me das mandíbulas famintas e calça-me as sandálias dos pescadores, para que eu me sobre em outras águas. Desprende-me das grades dessa tortura
que me tão prende e tão não me liberta. Leva-me às sacanas canções de Aretino, enclausura-me naquele intemporal ofício e embarca-me entre rijas carnes e coxas,
para que eu não escape ileso de tal fome, e dessa feroz sede que insaciavelmente se me faz implorar a outras samaritanas
o doce cântaro divino e de barro santo. Sagra-me com o velho pecado original e traze-me aquele cálice de verde vinho
O POETA MAIS QUE CONCRETO [À memória de Déo Silva]
Olhos e vozes. rostos e órbitas, atenção acesa: no espaço u’a maçã que não cai sobre a mesa e nem esbarra no antigo relógio parado na parede. Um poeta faz-se preceptor a contemplar o fruto que gravita diante de sua explicação. A maçã vagueia, incomum e concreta a fazer-se conceitual às lições do poeta. Lá fora apenas um ângulo noturno…
MEUS VERSOS “Aprendi esta língua como se consegue o amor de uma mulher” Valéry Larbaud
Meus versos surgem de repente, sem anúncios preconcebidos, e assim, a esmos e inconsúteis, se amesendam nas múltiplas intransitividades que na vida hei passado como poeta e bruxo.
Há entre mim e eles, uma brancura bipartida em orgânica dualidade, simples e ressurgida, numa cumplicidade inconsciente e consentida, mas comedida, necessária, útil e dependente.