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ENTREVISTA
UM.PARTICULAR
COM DIEGO SIQUEIRA E GIOVANNA DUTRA
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A REVOLUÇÃO TRINUS
IARA NUNES
Inspirado nos grandes nomes do mercado financeiro, como Jorge Paulo Lehmann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, o diretor da Trinus Co, Diego Siqueira, se interessou pelo segmento ainda na adolescência, quando estudou a disciplina no ensino médio, nos Estados Unidos. Ao voltar para o Brasil, cursou Administração de Empresas na FGV, e, após atuar em uma das maiores gestoras de fundos do País, fundou, em parceria com a sócia Giovanna Dutra, a primeira empresa juntos, em 2009. De lá para cá, a Trinus Co e suas marcas não pararam de crescer, mesmo durante a pandemia da Covid-19. Fechou o ano de 2020 com patrimônio sob gestão em R$ 1,5 bilhão e 60 mil cotistas de todo o País em seus fundos de investimentos, além de 130 empreendimentos imobiliários investidos na carteira de seu fundo de investimento imobiliário. Definida como uma landtech, nomenclatura concebida por eles, a empresa, juntamente com as parceiras, une três mercados – o financeiro (fintech), o imobiliário (proptech) e o legal (lawtech), e se estabelece como uma ponte para unir o mercado financeiro ao imobiliário. Guiada pela tecnologia, a Trinus Co. lançará uma plataforma para o segmento imobiliário visando oferecer soluções simples e desburocratizadas para o empreendedor imobiliário regional e para o comprador final de imóveis. Para este ano, os planos são ousados. A expectativa é de chegar a R$ 2 bilhões em ativos geridos, além de dobrar o número de empreendimentos na carteira dos fundos geridos. Quanto aos cotistas, a meta é chegar a 100 mil. Confira a seguir os principais trechos da entrevista que a Leitura Estratégica fez com Diego Siqueira, que esteve acompanhado da sócia e também fundadora da Trinus Co., Giovanna Dutra - que é chamada a falar durante o bate-papo.

UM.PARTICULAR
Como nasceu a Trinus Co.?
Diego Siqueira – Conforme eu aprofundava meus estudos, percebi que a indústria de fundos imobiliários ainda era muito restritiva, e atendia uma parcela muito pequena dos empreendedores imobiliários. Além disso, era totalmente focada na Região Sudeste do País. Só que esses grandes negócios não representam 20% do mercado brasileiro, portanto 80% estavam na mão do pequeno e médio empreendedor regional, que nunca teve nem a oportunidade de conseguir acessar o capital dos fundos. Vi ali uma oportunidade. Em 2009, a Giovanna rapidamente aderiu a esse sonho e criamos a nossa empresa. Não é uma tese muito simples e fácil, porque requer transformação no que tange a governança. Esses empreendedores regionais, muitas das vezes, não possuem a excelência e transparência que o mercado de São Paulo exige. Começamos o negócio com quatro pessoas, e hoje somos mais de 350 para contribuir com a evolução do empreendedor regional. Foi um caminho muito difícil, mas trilhado com paixão e dedicação, acreditando que faz sentido. Vivemos hoje a materialização desse sonho.
Em quais segmentos atuam?
Diego – No mercado imobiliário nós estamos inseridos no segmento residencial, que é dividido em quatro tipos: loteamento aberto, condomínio fechado, incorporação de casas e incorporação de prédios. Isso representa em torno de 80% das nossas posições. No entanto, como investimos também, através do nosso fundo de investimento imobiliário, em desenvolvimento de novos bairros planejados, precisamos atuar também em alguns outros segmentos do mercado imobiliário como: centros comerciais, hotéis e ativos de renda urbana. Isso nos permite deixar 20% do patrimônio do fundo para esta estratégia complementar.
Sem dúvida alguma a nossa principal mudança e transformação de mercado imobiliário é através do residencial, da forma de morar do brasileiro, na concretização do sonho de ter o próprio lar.
No começo, em 2009, quais foram os principais desafios?
Giovanna Dutra – O primeiro grande desafio foi, com certeza, a parte regulatória. O mercado financeiro exige que você tenha autorização para executar suas funções, principalmente as específicas, como as concedidas pela CVM e pelo Banco Central. Hoje, nos orgulhamos em dizer que conquistamos todas as licenças necessárias para atuar no nosso ramo do mercado financeiro.
Diego – Para mim os maiores desafios estão atrelados à cultura, e, graças à Giovanna, a nossa sempre foi muito forte. Sempre buscamos trazer pessoas que se identifiquem com o nosso propósito, que mergulhem de cabeça e se dediquem. Outro ponto está ligado à tecnologia, algo que já revolucionou a nossa vida e que acreditamos que fará o mesmo com o mercado. Hoje respiramos tecnologia 24 horas por dia, ela é o nosso sobrenome. Mas sempre afirmo que apenas a tecnologia não basta. Não adianta ter acesso à tecnologia se os seus processos não são mapeados com clareza, bem como as funções de cada um, objetivos, jornada e percepção do cliente. Nos orgulhamos em dizer que tudo isso se materializou e se transformou em uma estrutura, uma plataforma tecnológica imobiliária. Daqui a pouco vamos lançar o nosso aplicativo

e a ideia é que todos os nossos clientes acessem de forma simples o nosso cardápio de soluções e produtos.
Como a ferramenta funcionará?
Diego – O empreendedor imobiliário poderá acessar todos os serviços vinculados ao empreendimento, como contabilidade, controladoria, administrativo, BackOffice, linhas de financiamento, e estrutura de parceria e de sociedades através desse sistema. Na outra ponta temos nosso cliente final, que pretende adquirir um lote, um apartamento, ou casa acessa funções como emissão de boletos, atendimento de pós-venda, descritivo do imóvel, evolução de obra...
Giovanna – Tudo com a maior transparência e conforto para acompanhar as informações do ativo que ele acabou de adquirir. Como nós optamos por seguir a linha residencial, nós sabemos o peso dessa responsabilidade, uma vez que vivemos em um País de classe média baixa e que essa aquisição possivelmente será o valor de maior importância que esta família vai adquirir ao longo de sua vida.
Como você enxerga uma empresa goiana, tão jovem, romper tudo que já foi feito numa área nova?
Diego – Na minha opinião, nós, talvez com um pouco de ingenuidade e muita vontade de causar uma transformação, mexemos em um dos setores mais tradicionais do nosso país, o mercado imobiliário. Só que fizemos isso por um viés financeiro. O que mais me encanta no nosso negócio é a junção desses dois mundos, que aparentemente viviam muito separados. O glamour do mercado financeiro com a materialidade da economia do mercado imobiliário. Viemos para fazer uma ponte para ligar esses dois universos.
O nosso negócio faz sentido e, mais do que ser uma empresa proveniente de Goiás, a gente também representa o interior do Brasil, buscamos empreendimentos imobiliários no Mato Grosso, Pará, Maranhão, Tocantins, Bahia, várias regiões que sempre se sentiram escanteadas pelo mercado financeiro.
Você poderia falar do legado da Trinus e as perspectivas para o futuro?
Diego – Um dos nossos principais objetivos é sermos o maior desejo de trabalho dos profissionais da Região Centro-Oeste. Queremos que os recém-formados, ao serem questionados sobre onde desejam atuar, respondam que sonham em trabalhar na Trinus.
Graças à cultura implementada pela Giovanna, hoje estamos alcançando esse objetivo. Muita gente nos envia mensagens neste sentido, seja por nos acompanhar pelas redes sociais ou por saber como atuamos. Com muita gente boa no time, queremos que nosso legado, como primeira landtech do mundo, seja levar ao País e aos empreendedores regionais o nosso propósito, que é inovar, desburocratizar, democratizar e transformar o mercado habitacional brasileiro. Esse sonho é grande e com certeza ainda temos muito a desbravar. É por meio do nosso legado que vamos transformar não apenas o mercado imobiliário, mas a vida dessas pessoas, lá na ponta, que conseguem conquistar seu lar de forma digna e com qualidade.

Existe algum arrependimento ou algo que precisava ser complementado que hoje faz a diferença?
Diego – É importante destacar que arrependimentos não, mas tenho a humildade de falar aqui que nem sempre
nós acertamos. Temos que olhar para o processo de forma crítica. Já são 12 anos de empresa, e com certeza neste período nós tivemos muitos acertos, mas também tivemos muitos erros, mas Graças a Deus nada irreparável.
Qual foi o impacto da pandemia no seu segmento?
Giovanna – Está sendo um período de provação. Optamos por seguir todos os protocolos sanitários, mandamos todo mundo para casa, e procuramos estar sempre próximos dos nossos clientes por meio da tecnologia. Tivemos a provação de construir uma aproximação com os clientes, e para a nossa alegria conseguimos resultados muito bons, crescemos os fundos, entregamos e mantivemos as metas de rentabilidade.
Liderar é um ato solitário?
Diego – Eu penso que liderar é um desafio que requer principalmente preparo, até mesmo psicológico, e, para mim, ter sócios é uma grande ajuda neste ponto. Eu vejo muito isso na minha relação com a Giovanna. É um grande desafio porque necessariamente haverá altos e baixos, ainda mais em um país como o nosso.
Além de ter um preparo psicológico, ter pessoas para debater e tomar as decisões com confiança é muito importante. E talvez dentro dessa mesma psicologia, baseado nisso, que nós buscamos mais reforço.
Pelas respostas, imagino que fusões estejam sendo desconsideradas no momento?
Diego – Na verdade, pensamos muito mais em trazer mais sócios estratégicos para o nosso negócio, que contribuam para a conquista do nosso sonho. Sócios com excelentes histó-
GIOVANNA DUTRA
DIEGO SIQUEIRA
ricos que possam nos ajudar a ultrapassar todos os desafios que vamos encontrar pela frente. Focando sempre em tecnologia e cultura organizacional.
Por último, fale um pouco sobre os empreendimentos que são a base de 80% da carteira do fundo imobiliário?
Diego – No início, tínhamos maior atuação no Estado de Goiás por ser o nossos Estado de origem, hoje expandimos nossa atuação para outras regiões, a primeira região é o Cinturão da Soja, Mato Grosso – Pará, a segunda é o MATOPIBA, formada por parte dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. E a terceira região inclui o Estado de Goiás, o triângulo mineiro expandido até a grande Belo Horizonte e o interior de São Paulo. Se pegarmos essas três regiões, vemos uma mancha central no meio do Brasil.
Esses Estados são, como eu mencionei, a centralização de nossos investimentos, onde a gente ativamente busca novas oportunidades de empreendimentos, ancorados na experiência do empreendedor imobiliário regional. Nós entendemos que os empreendimentos imobiliários regionais são a oportunidade de transformar o mercado imobiliário habitacional brasileiro. Fortalecer os empreendedores regionais com governança e capital. E permitir através de uma ferramenta de tecnologia que o comprador final de imóvel seja atendido em todas as suas demandas.
Confira no STG TV, canal do Portal STG News no YouTube, entrevista e making off da entrevista do Diego Siqueira à Leitura Estragégica ACESSE O VÍDEO PELO QR-CODE


MATO GROSSO, O PROTAGONISTA DO CENTRO-OESTE
ESTADO TEM CRESCIMENTO DIFERENCIADO, REDUZ DIFERENÇA PARA GOIÁS E,SE AMBOS MANTIVEREM O MESMO RITMO DOS ÚLTIMOS ANOS, PODE SUPERAR O PIB GOIANO ATÉ 2035

ROLDÃO BARROS E LEANDRO RESENDE
Por muito tempo, convencionou-se a comparar os desempenhos de Goiás e do Distrito Federal ao falar dos destaques econômicos do Centro-Oeste. Mas cada um ficava com seu ‘título’, pois os goianos triunfavam no setor privado e o DF, amplamente no setor público. E assim caminhavam as hegemonias, praticamente sem qualquer ameaça por décadas. Eis que começa a aparecer no retrovisor dos líderes, muito longe, depois mais perto, agora bem visível, o Mato Grosso – com um foco de setor privado, claro. E respeitem seus números e sua potencialidade econômica, pois os vizinhos fizeram o dever de casa. Na verdade, hoje, os mato-grossenses são os protagonistas do Centro-Oeste.
Aliás, a matéria traz dados sobre os Estados, a característica e a evolução de cada um nos últimos anos e parte para um exercício de futurologia: A economia do Mato Grosso vai superar a goiana? Pela velocidade da sua expansão na última década e a dinâmica da economia mundial, muitos especialistas já não perguntam se um dia vai, mas quando. No entanto, essa corrida tende a acirrar porque Goiás não quer ser ultrapassado e conta com um platô, palavra herdada da pandemia que vem do francês 'plateau' e remete a planalto, ou seja, algo plano e elevado - números estabilizam no alto, mas não crescem tão rápido como em um primeiro momento. Em números, o Mato Grosso tem alguns em que era quase nulo ou de pouca relevância há poucos anos, mas hoje já consegue se destacar, como indústria (tanto só foi incluído recentemente na pesquisa do IBGE, nem fazia parte), mas também já ‘puxa’ ranking em emprego regional em alguns meses, produção agrícola em vários segmentos, domina quase metade da lista das 50 melhores cidades do agronegócio para investir no País, produtividade de primeiro mundo em várias lavouras, PIB em explosão, entrou no Top-5 da exportação nacional, entre outros indicadores e números positivos.
No ano passado, por exemplo, a cada seis empregos formais gerados no País, um esteve do Mato Grosso, segundo dados do Cadastro Geral de Emprega-
dos e Desempregados (CAGED). Isso, no entanto, não é exclusividade ou sorte de um bom desempenho em 2020. Na linha histórica traçada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 2012, o Estado se mantém com a menor taxa de desemprego da região, por exemplo, passando de 4,6% no quarto trimestre de 2012 para 10,3% no último trimestre de 2020 – agora nessa época de ‘vacas magras’. No mesmo período, Goiás passou de 5,1% para 12,4%.
Para entender o que aproxima e o que distancia os dois Estados economicamente, no entanto, é necessário, primeiro, uma retrospectiva histórica do crescimento na região. Começando pelo início do século 20, quando São Paulo, centro econômico do País, começava a levar o eixo de desenvolvimento para o interior do Brasil, iniciando o processo por Minas Gerais e, a partir do Triângulo Mineiro, chegando a Goiás.
Depois, a Marcha para o Oeste, do então presidente Getúlio Vargas, avança ainda mais no desenvolvimento da região. É nesse período, final dos anos 1930, por exemplo, que nasce a primeira capital planejada da região: Goiânia.
Logo vem a segunda capital planejada, Brasília, na década de 1960, e uma segunda onde de expansão regional. O Centro-Oeste, região de poucos Estados encravada no meio do Brasil – o que limita seu poder político –, entra no mapa das grandes decisões nacionais por sediar os poderes centrais do País. Entra no mapa, ótimo, é a sede, mas senta discretamente no fundo, sem protagonismo político – mas já é alguma coisa. Os programas de desenvolvimento do período militar, que desejavam consolidar a ideia do País como uma potência mundial, passam a aumentar a importância da região. Com o protagonismo de Goiás, o Centro-Oeste é lançado no






circuito de produção agrícola nacional e se inicia a transformação dos Estados-satélites ao Distrito Federal como o celeiro agrícola do Brasil, que recebe pesado investimento federal nas décadas de 1970 e 1980. Nos anos seguintes, entra a iniciativa privada, com salto e superávits de produção agropecuária e, enfim, a industrialização – principalmente, em Goiás, via incentivos fiscais.
A consolidação de Goiânia e Brasília cria um eixo de desenvolvimento no centro do País e transforma a história da região, que, no entanto, interliga mais com Minas Gerais (Triângulo Mineiro) do que com o Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul. A expansão acelerada mato-grossense pode se interligar, de fato, neste eixo central de negócios.
O corredor econômico Triângulo Mineiro-Goiânia-Anápolis-Brasília é o terceiro maior de consumo do País, com R$ 705 bilhões, uma população de 18 milhões de pessoas e uma massa salarial anual de R$ 243 bilhões – com dados e previsões do IBGE e Urban Systems. Estudos apontam que entre 2020 e 2025, mais de 70 mil empresas serão abertas neste corredor – que é multidisciplinar, com serviços (Brasília), indústria (Anápolis), comércio e serviços (Goiânia e Uberlândia-Uberaba).
O avanço do Mato Grosso vai consolidar esse corredor que já se formou nas últimas três décadas, expandindo neste eixo central do País uma linha econômica de integração com o Sudoeste Goiano e a economia do Mato Grosso, adicionando os elevados ganhos do cenário “agropecuário-industrial-exportador” que hoje é uma das âncoras da economia nacional.
“Nos anos 1990, quando o País tem um colapso provocado pelo endividamento externo e temos a renegociação, criam-se os eixos de integração e desenvolvimento, onde as regiões se conectam com os mercados internacionais.

22 das 50 cidades mais ricas do agro estão no MT
Se o agronegócio há uma década é quem segura as pontas da economia brasileira, com sucessivos superávits e recordes de produção, a Pesquisa Municipal Agrícola do IBGE) dá a dimensão do poderio do Mato Grosso.
Entre as 50 cidades mais ricas do agronegócio brasileiro, 22 delas estão em território mato-grossense. O dado é o último, de 2019, mas essa 'ocupação' cresce ano a ano – pode até ter ampliado este número. Tem tanta cidade que algumas são até bem desconhecidas do público em geral. Começa das mais ‘famosas’, como Sorriso – então, a líder nacional – Sapezal, vice; Campo Novo do Parecis (4a), Diamantino (8a), Nova Ubiratã (9a) e Nova Mutum (10a), todas mato-grossenses. O somatório dos valores da produção agrícola somente destas 22 cidades do MT daria R$ 37,1 bilhões.
A lista do MT prossegue: Campo Verde, Primavera do Leste, Lucas do Rio Verde, Campos de Júlio, Itiquira, Paranatinga, Querência, Canarana, Brasnorte, Ipiranga do Norte, Tapurah, São Félix do Araguaia, Porto dos Gaúchos, Sinop, Gaúcha do Norte e Santa Rita do Trivelato.
São tantas cidades em expansão no MT, que Rondonópolis, um destaque regional do Estado e disparada líder de exportação, com força pioneira em grãos e uma das melhores plataformas logística multimodal do agronegócio brasileiro, não conseguiu entrar no ranking das 50 maiores.
Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul alcançam bons números neste ranking, mas ficam bem atrás, ambos com seis cidades. As goianas são: Rio Verde (5a), Cristalina (6a), Jataí (7a), Mineiros (29a), Chapadão do Céu (34a) e Montividiu (44a).
A Região Centro-Oeste domina a 'riqueza' produzida pelo agronegócio brasileiro: 35 das 50 cidades ficam na região. O valor da produção brasileira em 2019 foi de R$ 361 bilhões. Deste montante, R$ 107,9 bilhões são oriundos apenas do Centro-Oeste, tendo como principais produtos soja, milho, cana-de-açúcar, algodão herbáceo e feijão. Deste total regional, R$ 58,4 bilhões são de Mato Grosso. O Estado configura a primeira posição entre os Estados com maior valor de produção.
Em Sorriso, com R$ 3,9 bilhões em produção, R$ 2,1 bilhões são referentes a 2,1 bilhões de tonelada de soja. Já em Sapezal, de R$ 3,4 bilhões, R$ 1,9 bilhão é de produção de algodão herbáceo, que teve 898,8 mil toneladas coletadas.
Melhora, inclusive, a infraestrutura de transporte”, lembra Murilo Pires, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A partir de então, temos a integração da Região Centro-Oeste com o mercado internacional e, nos anos 2000, o boom das commodities e a integração com o mercado chinês. O uso da tecnologia aumenta consideravelmente a produtividade e, nesse ponto, o Mato Grosso acaba saindo (muito) na frente. Isso porque, por ter uma cultura industrial há menos tempo que Goiás – que estava se industrializando desde as investidas de São Paulo – o parque industrial do MT acabou sendo mais atual e moderno.
Ao mesmo tempo, o Estado passou a investir forte em infraestrutura, com parcerias público-privadas. “Antigamente, era praticamente só rodovia, e o modal ferroviário a partir de Rondonópolis funcionando bem. A BR-163 ajuda a consolidar outras regiões do Estado. O acesso fluvial também, além da expansão gradativa da ferrovia e investimentos da Rumo na concessão”, explica
CLÁUDIA HECK, doutora em Economia (UFMT)

Edwal Portilho Tchequinho, presidente-executivo da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial de Goiás (Adial).
OPORTUNIDADES
Perguntados sobre as oportunidades dos dois Estados, os especialistas entrevistados pela Leitura Estratégica foram unânimes: dá para produzir mais valor aproveitando o que já existe nos dois Estados para a produção de commodities. “Você tritura o milho e tem etanol, ração animal e óleo. Com o DDG (grãos de destilaria, co-produto para outras finalidades) de milho, você tem um ganho energético muito interessante, passa de 20% para cerca de 90% na alimentação de bovinos”, cita Tchequinho, ao afirmar que a produção de biocombustíveis tem se mostrado uma boa oportunidade.
Nesse ponto, o líder empresarial compara os Estados. Em sua análise, o Mato Grosso cresceu muito em etanol de milho, mas está geograficamente afastado dos grandes centros consumidores, o que favorece os goianos. Ao mesmo tempo, Goiás possui um complexo maior de indústrias e destilarias, ainda subaproveitadas na sua capacidade de produção, pois vários projetos de expansão foram paralisados nos últimos anos.
“O ideal seria focar em biocombustível, em buscar ainda mais de agregação de valor na produção de proteínas animais, fortalecer a pecuária e laticínios. Temos plantas industriais que estão ficando ociosas aqui em Goiás. Precisamos dar atenção a isso, no que precisa-

ANÁLISE
Comparativo da dinâmica da indústria de Goiás e de Mato Grosso (de 1996 a 2016)
As transformações produtivas nos Estados do Centro-Oeste iniciaram-se no final dos anos 1960 quando os planos de desenvolvimento regional do governo federal, Programa de Desenvolvimento dos Cerrados – POLOCENTRO (1975); Programa de Desenvolvimento da Região Geoeconômica de Brasília (1979); Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados PRODECER I e II (1979 - 1985), inseriram o cerrado no circuito produtivo nacional.
O setor agropecuário incorporou inovações tecnológicas (mecânicas, físico-químicas e biológicas) em suas unidades de produção, ampliando, assim, o excedente agrícola, especialmente, na cultura da soja. Com a expansão da produção agrícola, as Trading foram se instalado na região, após os anos 1980, com o objetivo de demandarem boa parte do excedente.
Com a crise fiscal e financeira dos anos de 1980, o governo federal reduziu os estímulos provenientes das políticas de desenvolvimento para a região e coube aos Estados centrooestinos entrarem em cena com os seus planos de incentivo e benefícios fiscais. Além disso, financiamentos públicos realizados pelo Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), pelo Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), pelo BNDES e privados tiveram um papel singular para efetivarem os investimentos nos setores industriais desse espaço regional.
Com o aprofundamento da crise fiscal e financeira do governo federal nos anos de 1990, o Centro-Oeste foi integrado aos mercados internacionais por intermédio dos Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento – ENID. Esse fato favoreceu o incremento da produção agrícola da região, particularmente das culturas de soja e milho, bem como reforçou a inserção dos elos produtivos locais as cadeias de produção internacional. É neste contexto que os setores industriais da região foram se transformando e impulsionando o crescimento industrial regional. E, em 1996, a participação do Centro-Oeste no do Valor Bruto da Transformação Industrial (VBTI) nacional era 2,4%, ao passo que em 2006 era 3,7% e, em 2016, correspondia 6% - mais que duplicou sua participação.
Por Estado, em 1996, Goiás detinha 1,2% do VBTI nacional, em seguida, Mato Grosso (0,6%), Mato Grosso do Sul (0,5%) e, por fim, o Distrito Federal (0,2%). Em 2016, Goiás concentrava 2,9% do VBTI nacional, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ambos com 1,4% e, por fim, o Distrito Federal com 0,3%.
A taxa de crescimento do VBTI entre Goiás e Mato Grosso foram muito próximas entre os anos de 1996 e 2016, uma vez que Goiás apresentou um crescimento real de 6,6% a.a. e o Mato Grosso 6,5%.
Mas a taxa de crescimento não MURILO PIRES, economista, doutor pela Unicamp em desenvolvimento regional
foi homogênea entre os setores industriais estaduais, uma vez que o setor de diferenciados de Goiás apresentou a maior taxa de crescimento entre os demais setores, porém seguido pelo setor de diferenciado do Mato Grosso.
Na sequência, vêm os setores: o intensivo em trabalho; o baseado em ciências; e o intensivo em escala, todos do Mato Grosso. Logo após, os setores intensivos em trabalho e os baseados em recursos naturais, de Goiás; baseado em recursos naturais do Mato Grosso, e, por fim, o setor intensivo em escala e o baseado em ciências, ambos de Goiás.
Portanto, salienta-se que o Mato Grosso, mesmo apresentando uma participação menor no VBTI que Goiás, vem apresentando grandes avanços nas últimas décadas, em particular, na incorporação de inovações tecnológicas em suas unidades de produção agrícola e industrial. Este fato tem favorecido para o incremento da produtividade do trabalho seja na agricultura como na indústria, o que vem impulsionado o crescimento dos produtos nesses dois agregados setoriais.
mos fazer para estimular essa retomada e até mesmo a não migração. Muitas empresas optaram por abrir plantas no Mato Grosso a duplicar a fábrica goiana. É uma realidade estratégica e que se tornou caminho natural. Cada Estado vai defender sua produção, mas o MT agora está entrando no páreo”, reforça.
Já a economista Cláudia Heck, doutora em Economia e professora na UFMT, vê como oportunidade a expansão da agroindústria em outras regiões de Mato Grosso. “O mercado de carne ainda está em desenvolvimento”, garante. A especialista apenas avalia que a base econômica poderia receber mais investimento voltado para sua diversificação, preocupação que, segundo ela, não existia na esfera governamental até 2011.
“Como a crise foi se instalando no mercado interno, o Mato Grosso foi se voltando para fora, para não se prejudicar”, ressalta a economista, observando que, por outro lado, o mercado internacional é hoje a plataforma de crescimento do Estado, favorecida pela explosão na compra de commodities e a valorização cambial.
É preciso que o Mato Grosso se atente para não ficar refém de apenas um caminho, destaca o economista Cláudio Henrique, fazendo analogia com o estrago que um surto de aftosa fez na Economia do Estado tempos atrás e destacando que além do mercado externo, seria importante o Estado ter força no mercado interno (ampliar a industrialização seria um dos caminhos). “Cenários precisam ser testados, mesmo que nunca ocorram. Imagina MT sem exportação ou mesmo com uma queda de 50% - sem preocupar aqui em levantar motivos que possam levar a isso. Para onde iria tanta soja, milho e carne? Qual efeito para toda cadeia do
MURILO PIRES, economista
agro? Ter uma economia muito dependente funciona na alta, mas economia é um ciclo, é preciso prever soluções para os tombos e criar alternativas.”
PONTOS FRACOS
Se o Mato Grosso tem como pontos fortes a malha industrial recente e em expansão, o investimento em infraestrutura e aumento da competitividade, há ainda pontos fracos que pesem na comparação com Goiás. A começar pela baixa complexidade atual de sua economia, muito focada em commodities absorvidos pelo mercado externo, como citou Cláudio Henrique.
“Apesar de ter se diversificado com a industrialização, a economia do Estado está especialmente baseada na indústria alimentícia e de bebidas. Ela precisa se ‘complexificar’ para ficar menos dependente da exportação”, explica a Cláudia Heck, professora da Faculdade de Economia e membro do Núcleo de Pesquisas Econômicas e Socioambientais (Nupes/UFMT).
Em Goiás, no entanto, a estrutura industrial é bastante mais diversificada, conseguindo destaque na fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (maior fabricante de remédios do País em volume de produção) e com a indústria automobilística. “Como os programas de fomento em Goiás são mais antigos, eles promoveram a vinda de mais setores”, explica Murilo Pires, doutor em Economia pela Unicamp.
Outro ponto é que, apesar de sua grande extensão territorial, o MT também enfrenta como desafio a industrialização de seu interior, já que o Estado é bem menos populoso que Goiás e, além de ter menos municípios, tem também menor qualificação da mão de obra para, por exemplo, o emprego industrial. “Goiás já ter esse histórico de décadas com a indústria é um ativo de Goiás. De cada dez cidades, nove tem pelo menos algum tipo de indústria. O setor está presente em mais de 200 municípios”, considera Tchequinho.
Nesse ponto, sobre o Mato Grosso, a docente e economista Cláudia Heck concorda, mas frisa que o Estado tem expandido sua ocupação produtiva também no eixo da BR-158. “Durante muito tempo, o Mato Grosso era a BR-163 e, hoje, a produção está se expandindo, o que cria um potencial de desenvolver a agroindústria em outras regiões do Estado. Isso é uma força muito grande que podemos desenvolver”, relembra.
Um grande problema no País, que também se reflete na região, é o baixo investimento no desenvolvimento científico e tecnológico, o que faz com que o País dependa cada vez mais da exportação de produtos de baixo valor agregado, por exemplo. “Falta uma política de incentivo de ciência e tecnologia no Centro-Oeste, sobretudo em Goiás. Acho isso uma questão muito grave. Tem de criar algo que agregue valor na estrutura industrial em Goiás”, ressalta Murilo Pires, do Ipea. “Eu brinco que se a China tiver uma gripe, o Centro-Oeste pega uma pneumonia”, reforça.
TEOREMA DO CENTRO-OESTE
Não se tem uma resposta exata para a pergunta do título. O que se tem é Mato Grosso uma série de indicadores acumulados na última década favoráveis à eco- pode superar nomia do Mato Grosso e, em se falando de PIB e em frequência, se mantido o Goiás até ritmo de expansão da última década para os dois Estados, teremos claramente 2035? uma nova redução da distância entre Goiás (o maior PIB privado bilhões. Goiás, teve desempenho infeentre Estados do Centro-Oeste). Essa rior. Em 2002, era R$ 37 bilhões (quase aproximação é fato, tende a continuar e, o dobro do MT). Em 2007, saltou para mantidas as mesmas condições alcan- R$ 65 bilhões (o vizinho, aproximou). Na çadas até então, podemos sim ter uma década seguinte, ambos cresceram, Goiultrapassagem. Garantido? Não. Possi- ás acelerou na industrialização, agregou bilidade real? Sim, pois a evolução do mais valor no produto interno, enquanto PIB do vizinho goiano é bem mais visto- o MT teve um ganho na produção prisa nesta última década. mária e nas exportações – e já industria-
As condições para essa movimenta- liza forte. Goiás estaria próximo de R$ ção se consolidar estão colocadas. Mato 205 bilhões (não teve atualização, são Grosso tem uma força exportadora (cor- previsões). Em duas décadas, a diferenrente de negócios externos) três vezes ça do PIB de Goiás e Mato Grosso caiu maior que Goiás. O mercado interno, de 85% para 38%. Mas um indicador só que poderia equilibrar para os goianos, não faz verão. está cambaleando desde 2014/15. O ex- Para quem gosta de 'brincar' com os terno, com dólar nas alturas, só cresce. números, se ambos os Estados mantiGoiás tem limites para chegar na loco- verem os mesmos ritmos de expansão motiva exportadora mato-grossense? dos últimos 18 anos, a aproximação se Sim. Hoje é mais fácil para o MT melho- torna ultrapassagem por volta de 2035. rar seus números – porque a plataforma Como dizem os matemáticos, lógicos e já firmou –, do que Goiás em pouco tem- filósofos, para consolidar o teorema, se e po, firmar e ter resultados superiores ao somente se, Goiás não reagir. vizinho concorrente. No mesmo período, o PIB per capi-
Vamos ao que interessa, o PIB. Todos ta mato-grossense saltou de R$ 7.928 números a seguir são do IBGE. Observe (2002) para R$ 15.204 (2007). Neste que o PIB do Mato Grosso em 2002 era espaço de tempo, os bons resultados gaR$ 20 bilhões. Dobrou em 2007, para rantem ao MT superar o PIB per capita R$ 40 bilhões. Em pouco mais de uma médio do Brasil. Em 2002, era em média década, quase triplicou de novo: R$ 148 R$ 396 menor que o nacional. Em 2007, já o supera em R$ 1.568.
Na comparação com Goiás, o PIB per capita teve o mesmo desempenho.
Em 2002, era R$ 7.078 (menor que o MT), e, em 2007, chegou a R$ 11.547 – muito abaixo do Estado vizinho e da média nacional. Goiás só vai bater nos
R$ 15 mil anuais três anos depois, em 2010. Estudo da MB Associados aponta que os Estados com economias ligadas ao agro devem registrar em 2021 um crescimento maior do que o nacional e liderar a retomada da economia brasileira até 2022. De novo, Mato Grosso puxa a lista de todos Estados brasileiros, com 4,97%. Goiás é o quinto colocado, com 3,8%, mais de um ponto porcentual atrás. A média nacional é de alta de 3,1%. DF, o outro vizinho, o número é bem tímido: 2,4%.
O estudo da MB traz um gráfico interessante. Avalia, por Estados, de 2010 até 2022 (números consolidados mais estimativas). Veja o diferencial MT. O Estado lidera com 41,1% de crescimento. Goiás é só 9º lugar, com 19,6%. Nesta simulação, que abrange 12 anos, MT dobra Goiás em expansão. Um novo ciclo neste ritmo, considerando que o vizinho cresceu e está mais forte para acelerar, 2035 pode trazer um novo líder para o Centro-Oeste – protagonista, já é.