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MARLOS NOGUEIRA
MARLOS NOGUEIRA
Advogado especialista em fusões e aquisições da Marlos Nogueira Advocacia de Negócios e associado à Magma Brasil
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O BRASIL
À VENDA
Acabamos de divulgar mais uma transação assessorada pelo nosso time: a venda da participação controladora detida pela General Mills - dona de marcas conhecidas no Brasil, desde os sorvetes Haagen-Dazs às pipocas Yoki – na fabricante de lácteos Carolina, que faturou R$ 228 milhões em 2020. Havíamos assessorado a Carolina quando a General Mills a adquiriu, em 2015, mirando trazer de volta para o País a festejada marca francesa de iogurtes Yoplait, comprada pelo grupo em 2011. Agora, apenas cinco anos depois deste movimento, atuamos na recompra do negócio junto à multinacional francesa por uma empresa nacional.
Atuando com fusões e aquisições há quase 15 anos, já conduzimos várias transações com estrangeiros. Na maioria das vezes ouvíamos que o Brasil, com seu mercado interno relevante (dependendo do setor situado entre os cinco ou dez maiores em nível mundial) e com seus já conhecidos e enormes gaps de desenvolvimento, é uma boa alternativa para um capital que busca rentabilidade atrativa em negócios com alto potencial de crescimento. Essas características peculiares são geralmente percebidas como oportunidades nas várias áreas da economia brasileira para aqueles que estão dispostos a tomar os riscos ligados a uma economia de renda média em desenvolvimento como a nossa, porque são inegáveis e variadas as dores a serem resolvidas - de infraestrutura à saúde, de tecnologia à educação, passando por alimentos, logística, agronegócio...
Mas, se é assim, por que temos visto mais notícias como a da General Mills? Estrangeiros vendendo posições no País? Será que os fatores pra entrar ou ficar no País passaram a ser menos relevantes do que as razões para sair? Por que Ford, Audi e Mercedes, Sony e Nikon, WalMart e Fenac, Roche e Eli Lilly ou LafargeHolcim decidiram recentemente encerrar operações locais? Nunca o adágio que diz que o Brasil não é para amadores pareceu fazer tanto sentido. Mas amadores em quê? Qual seria então o profissional que dá certo neste País? Se amador é quem busca um ambiente de negócios que seja tão lucrativo quanto juridicamente seguro, mesmo se plenamente cumpridas as regras tributárias, trabalhistas, ambientais, concorrenciais, regulatórias, de compliance, então o ditado está correto. Se não for isso, precisamos rever esse nosso ditado popular.
Nunca o custo Brasil pesou tanto. A moeda mais desvalorizada do último ano, a rentabilidade baixa, a insegurança política, a complexidade tributária e regulatória, o descaso ambiental, o crescente risco fiscal, a devastação desproporcional da pandemia em nosso País (que vitimou quase seis mil indústrias e 25% das empresas nacionais), são elementos que estão afugentando o capital estrangeiro. A solução passa pelo amadurecimento do nosso povo, da nossa consciência de cidadania. Maturidade que não está na reivindicação e garantia do direito, mas na consciência e responsabilidade – e o consequente compromisso – com o bem comum. Por aqui nestas paragens, ainda estamos tentando descobrir de quem é a culpa ao invés de assumirmos a nossa parcela de responsabilidade como povo. A transformação de uma nação não acontece quando se identificam os culpados, mas quando os conscientes assumem a responsabilidade e agem decisivamente para provocar a mudança positiva essencial.
Talvez e tão somente assim levantem-se os líderes e liderados que, olhando para um interesse único e de cidadania, deixem de executar aquilo que destrói valor e passem a implementar o que é essencial. Tudo isso para que, enfim, façamos a transição entre sermos somente a promessa de um País de futuro e passarmos a viver a realidade de uma nação forte no presente.