Jornal Tabaré #04

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portoalegre agosto2011 #4 templadismo • getúlio • silicone • banheiros públicos • paris
ojornalquetembarnomeio
Os gOvernOs sabem

Arua paralítica das seis da tarde é um espetáculo que a cidade nos obriga a contemplar, como uma condena remetida do além, como uma ditadura de ditadores invisíveis. O trânsito lento, estéril e fumacento que este Porto Alegre aprendeu a imitar, com a benção estúpida e suicida de tantos governantes, crendo com inocência adolescente que o progresso veste gris e que a sinfonia da cidade é feita a buzinaços, esse trânsito que de trânsito tem pouco, que impõe aos cidadãos velocidades médias de 10 km por hora, inclusive àqueles que por opção ou por falta dela elegem outros meios de transporte, esse show cotidiano já nos cansouou deveria! - os ouvidos, os olhos e os pulmões. Pelos sinuosos caminhos que compõem nossa metrópole, multiplicam-se heróicos equilibrístas de duas rodas, que ao empunhar seus guidões subvertem a inexata lógica que escolhe perigosos caixotes de lata ao invés da salutar brisa de um ar puro que brinda o passo flutuante das bicicletas. Essa legião pacifista sobrevive diariamente ao peso de uma estrondosa manada de motores, pequenas fábricas de poluição tão benquistas por publicitários, petroleiros e economistas. Um atropelamento coletivo foi preciso para que resurgissem promessas sólidas como algodão-doce a respeito de um ambiente não hostil aos ciclistas. Mas já faz tempo que aprendemos a sacrificar a cidade sobre o altar do Deus-carro, mutilando sem lástima nem memória árvores, calçadas, praças, espaços de convívio, enfim. Vejam o Parque Marinha agora atorado ao meio, decepado em nome de uma duplicação viária que em uma década estará obsoleta, sem que uma voz sequer tenha podido se levantar com a devida força! Lamentem o asfalto esburacado ou não que cobre o paralelepípedo intacto de outros tempos, impedindo que a água encontre seu caminho primitivo e puro. Chorem ou insultem pela cidade perdida, pelos direitos pisoteados e pelo silêncio que costuma cobrir toda essa bosta. Chorem e insultem e façam diferente.

Ariel Fagundes, Chico Guazzelli, Dani Botelho, Felipe Martini, Gabriel Jacobsen, Guilherme Dal Sasso, Jéssica Dachs, Júlia Schwarz, Juliana Loureiro, Leandro Rodrigues, Luciana Bênia, Luísa Hervé, Luna Mendes, Maíra Oliveira, Matheus Chaparini, Marcus Pereira, Martino Piccinini, Michele Oliveira, Natascha Castro

Projeto Gráfico: Martino Piccinini

Capa: Santiago

Colaboradores: Bruna Andrade, Carolina Marostica, Eduardo Seidl, Prof. Jack Obus, Rafael Corrêa

Tiragem: 2 mil exemplares

Contatos: comercial@tabare.net tabare@tabare.net facebook.com/jtabare @jornaltabare

Faculdades • Fabico • Famecos • Instituto de Artes - UFRGS • Xerox da Clê • CECS • Jornalismo – Unisinos • UERGS (Montenegro)

Lojas • Palavraria • Espaço Contraponto • Jam Sons Raros (NH) • Letras & Cia (NH) • Bares • Alumiar • Café Cantante • Comitê Latino-americano

Ocidente • Tutti Giorni • Abbey Road (NH) • Centros culturais • Casa de Cultura Mario Quintana • CineBancários • Instituto NT

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[Rafael Corrêa] rafaelcartum.blogspot.com
TABARÉ

Romaria: petista mata verde

Um vereador de Franco da Rocha (SP) foi morto por um colega de bancada durante uma procissão. Após bate-boca, Leozildo Aristaque Barros, o Leo do PT, sacou diplomaticamente a garrucha, meteu quatro decorosos balaços no companheiro Rodrigo Federzoni, do PV, e fugiu. Os disparos também feriram outras duas pessoas. Testemunhas afirmam que os dois sempre foram amigos e que a discussão começou com uma piada do verde em relação à patroa do petista. O delegado responsável pelo crime disse que “muito provavelmente foi negócio de mulher”.

Revolta no Maraca

A reforma do palco da final da Copa de 2014 tá bombando! Os mil trabalhadores que estão recauchutando o estádio se revoltaram depois que um galão com resíduos de produtos químicos explodiu nas pernas do operário Carlos Felipe de Souza. O pessoal ficou puto e largou de mão o serviço ameaçando entrar em greve caso não melhorem suas condições de trabalho.

Em tempo

Apesar da faraônica reforma do Maracanã estar orçada em R$ 1 bilhão, seus operários não têm direito à vale-alimentação ou plano de sáude e ganham uma miséria.

Gangue da Matriz

Ali no Alto da Bronze. São trinta e seis contra onze.

Luxo do lixo

Primeiro foram as lindas lixeiras laranjas do Fogaça (PMDB) - os famosos kinder ovo - sempre lotadas ou estragadas. Agora é a vez do seu substituto, Fortunati (PDT), botar uns pilas públicos nas latas de lixo. Ou

CARTAS

melhor, nos contêineres de lixo. O novo sistema é modernérrimo e permite que a coleta seja mecanizada. As belezinhas vêm da Itália, e custam o mesmo preço de um terno de mafioso: R$ 4 mil cada (são 1200 ao todo, faz as contas aí). E, aliás, falando em máfia, desde a implantação, vários contêineres já foram incendiados. A prefeitura atribui os atentados à “máfia do lixo”.

Em tempo

Além do valor das latas, o sistema custa quatrocentos mil contos de réis por mês.

Londres abaixo de pau

O couro tá comendo na terra da rainha! A onda de violência iniciou em Nottingham após um protesto pelo assassinato de Mark Dugan, 29 anos. Ele foi morto pela polícia dois dias antes das manifestações em um suposto tiroteio. Uma história muito mal contada que os próprios colegas de polícia ficaram de dar uma investigadinha. Rapidamente a quebradeira se espalhou por outros bairros e cidade vizinhas. O governo nega que seu plano de austeridade, o alto índice de desemprego e a crescente pobreza da população sejam as causas dos distúrbios. Aham, sei... A velha história: o sistema

Venho cumprimentar a iniciativa do Tabaré e prestar apoio à maneira como aborda seu conteúdo de maneira transgressora e independente. Parabéns a todos colaboradores, e que essa criatividade pulsante e efervescência cultural sejam mantidas sempre. Enquanto houver mídia underground nossa identidade será conservada em plenitude.

Mauricio Castro, leitor.

Agradecidos, chê! Temo que conservar nossa identidade mesmo, custa mais de 40 pila pra fazer uma nova...

Ô, Seu Tabaré. Tive com a moça. Aquella. Me dilacera o peito, mano velho. Já fui forte, hoje amo. No mais, bom trabalho pr’ocêis. Beleza de jornal! Armando Beck, dramaturgo É assim mesmo, companheiro. Porque el amor cuando no muere, mata. Porque amores que matan nunca mueren.

Lendo o Tabaré descobri que a qualidade dos jornais é inversamente proporcional a seus preços. Diego Gelain, engenheiro engenhoso.

quebra, o Estado fale, o povo paga. Já morreu uma meia dúzia e os presos passam frouxo dos mil, entre eles, uma guriazinha de 11 anos e um piazote de 12.

Em tempo

Quando mataram o Jean Charles, aconteceu o quê mesmo?

Pastor preso dá cheque sem fundo Espirrou grana pra tudo que é lado nesse último rolo do Ministério do Turismo. Ainda assim, o pastor Wladimir Furtado diz que sobrou de guaiaca nua. Um dos 36 presos na Operação Voucher, ele teve a cara de pau de passar um cheque sem fundo para pagar a fiança de R$ 109 mil e ainda pode voltar pro xilindró. Temendo a cana dura, o líder evangélico foi a público pedir que fieis, amigos e familiares aderissem à sua causa com polpudas doações na conta de sua mulher. Foi ela quem assinou o voador e não se descarta a possibilidade de uma algema conjugal.

Em tempo

Até o fechamento desta edição, Furtado conseguiu recolher pouco mais de R$ 15 mil.

É bem pelaí, gracias mil! Só lamentamos não poder dizer o mesmo em relação a vinhos, por exemplo.

Ai, que nojo esse cocô liquefeito, hein, Tabaré! Patrícia de Padre Chagas, sanitarista.

Querida, todo mundo faz e todo mundo bebe.

Legal, mas o que que é atraque?

Mara Lise Zanini, professora.

É uma prática comum entre os brigadianos que não é nada mara, Mara.

[...] Devorei o tabloide. Mesmo com eventuais indigestões aqui ou ali. A provocação ao movimento gay (sic) é desnecessária e politicamente contraproducente. [...] Thiago Batista, leitor.

Buenaça tua análise, Thiago. Mas como este espaço de cartas é mais curto que coice de porco, publicamos teu recado lá no tabare.net. Hasta siempre!

agosto/2011 #4
@tabare.net 3
[Luísa Hervé]

El sur también existe

Daniel Drexler, músico da Banda Oriental com mais de dez anos de estrada, veio a Porto Alegre neste inverno para apresentar seu Micromundo no palco mais nobre da cidade, o Theatro São Pedro. O guitarreiro aproveitou pra charlar um pouco com o Tabaré sobre o Templadismo, esse Tropicalismo às avessas que oferece um tijolo a mais na construção de uma identidade comum entre estas terras do pampa, filhas do mesmo céu e da mesma dúvida.

Daniel Drexler: Aqui no Sul tem uma motivação muito forte que vai muito além da música, que tem a ver com coisas que tão acontecendo com a gente, coisas que estamos começando a discutir com o Vitor Ramil, com o Zelito, com o Marcelo Delacroix... Coisas muito interessantes, ligadas a muitas questões históricas, à própria Estética do Frio, ao Templadismo.

Tabaré: O que une essas regiões “templadistas”, o Uruguay, o Rio Grande do Sul, a Argentina?

Comecei em 2001, 2002, a falar dessa coisa engraçada que acontece na Bacia do Prata, onde você tem uma fronteira linguística, três fronteiras políticas, no?, mas a cultura tem como uma comunhão de

identidade que transcende as fronteiras. Eu achava isso engraçado e tratei também de pensar se isso tinha a ver com o clima, com essa sensação que a gente tem de estar afastado do resto do mundo, com a melancolia... Numa região que tá no meio entre o Equador e o Pólo, a gente sempre procura estar na média, somos gente com muitas dúvidas. O clima tá mudando o tempo todo, você quando acorda de manhã leva um tempo pra decidir com que roupa sair... Eu morei em Israel quando tinha 10 anos, e lá tem nove meses em que não chove. A gente já acorda com uma dúvida... somos gente com muita dúvida, muita melancolia, não sabemos bem o que somos, se somos europeus que estamos aqui ou o quê. Mais o Uruguay que tá aí no meio entre Brasil e Argentina.

Há quem diga que o Rio Grande tá entre o Brasil e o Uruguay...

Sí... a mesma coisa. E eu achei isso um pouco estranho, porque eu comecei, na verdade, pensando muito, mas sem conhecer o RS. Eu sempre tive uma grande admiração pela cultura brasileira e um grande amor pelo país. A gente tirava férias aqui, mas não no Rio Grande. A gente ia pra Santa Catarina, pro Rio

ou pra Salvador. E eu adorava música de Jobim, de Buarque, do Caetano, de Gil, Djavan... quase a metade da música toda que eu ouvia era brasileira, mas não era música do Rio Grande. Quando eu comecei a descobrir o Vitor [Ramil]... foi um descobrimento muito forte, eu me dei conta de que eu estava saltando algo que acontecia no meio e que tinha muito a ver com a minha própria história. E aí foi muito forte porque aquela ideia do Templadismo pegou muito na Argentina, também no Uruguay, foi muito discutida lá, com brigas muito fortes... brigas carinhosas, mas brigas. Eu me dei conta de que aqui cumpria um papel quase tão importante quanto o que cumpria no Uruguay, porque na Argentina eles têm sua própria identidade, eles sabem bem quem são. É um país muito grande, poderoso... mas a gente aqui do Uruguay e do Rio Grande têm muita coisa em comum por aquela questão de nunca saber bem onde se pode estar, não?

Me aconteceu uma coisa muito interessante, tem um cara aqui de Porto Alegre, o Lucas Panitz, e ele fez a sua tese de mestrado sobre o Templadismo

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e a Estética do Frio. Ele disse que aquela tese foi feita buscando como a paisagem se reflete na criação dos artistas da região. Ele pegou uma música minha, uma do Vitor, do Jorge [Drexler, seu irmão], da Ana Prada... e tratava de encontrar os reflexos dessa paisagem na música. Ano passado ele veio falar comigo e me disse “cara, agora vou fazer minha tese de doutorado e vou trocar o tema, vou tratar de ver como as ideias se refletem na criação do espaço”. Entenderam?

Só as palavras...

Ele me disse “tu não acha que depois que tu começou a pensar no Templadismo teu espaço vital mudou?”

E, pá! Era isso. Era isso que eu tava sentindo. Para mim agora Montevideo e Buenos Aires e Rosario e Córdoba e Porto Alegre e Pelotas são cidades do meu espaço, tô morando nelas. Então tá acontecendo uma coisa muito bacana, isso realmente muda a vida da gente. Isso é uma coisa maravilhosa: você tem a capacidade de criar o universo em que quer viver. Tendo uma ideia e persistindo nela. Eu tomei uma decisão em 2001, 2002, quando eu já desenvolvia trabalhos na Espanha e tinha a possibilidade de ir morar lá. Eu vi o que acontecia com a vida do meu irmão morando longe da sua região, e achei mais interessante pra mim morar aqui. Morar em Montevideo e romper uma fronteira que existe lá com o Rio Grande, romper a fronteira com a Argentina. É isso que tá acontecendo agora na minha vida.

Sobre a questão da quebra do colonialismo cultural.

Tu acha que o RS tende, culturalmente, a se aproximar do Brasil ou do Prata? Porque se de um lado tá a história, a paisagem, o clima, do outro tá o Estado brasileiro, a mídia. Tu acha que algum lado tá puxando mais forte? Eu acho que é igualmente importante que o Rio Grande assuma a sua identidade platina e a sua identidade brasileira. Eu não gosto de regionalismos fechados, de tradições fechadas. Eu acho que o potencial do Rio Grande, que é a mesma situação do Uruguay, é reconhecer a capacidade de dialogar com os dois mundos, ter a capacidade de manter um diálogo direto com o Rio, e ter um diálogo direto com Mondevideo e Buenos Aires.

O Templadismo acaba quebrando com um colonialismo cultural? Era essa a intenção? Criar como se fosse um... Não. Primeira coisa importante, o Templadismo não é um movimento, eu não falaria de músicos templadistas. Não é como o Tropicalismo que foi “Nós, os Tropicalistas”, eu não posso falar de nós, eu só estou falando por mim. Eu não fiz um manifesto, nem uma carteirinha de templadistas. O Templadismo é uma ferramenta, que está ali e você pode pegá-la. Como diz o Vitor: “você vai construindo na viagem”, não tem uma direção. Eu simplesmente estou tratando de escrever o que eu penso, o que eu vejo. O que, sim, acontece, é que o Templadismo funciona como um catalizador muito forte. Um catalizador dos encontros, como uma ferramenta de excitação cultural, de diálogo. Muita gente debatendo, mesmo aqueles que estão brigando contra o Templadismo. Esses encontros teriam acontecido mesmo sem o Templadismo, mas ele acelerou o processo. A imprensa procurou rapidamente tratá-lo como se fosse um movimento. Eu constantemente afirmo que isso não é um movimento. Qual era mesmo a pergunta?

Ah, sí. Outra coisa que me marcou muito foi morar em Madrid e estar em uma capital central do mundo, uma cidade que está onde foi o império mais importante da humanidade, e perceber a seguridade que a gente tem. “Nós estamos no centro. Vente para Madrid”. E eu senti um pouquinho de inveja daquela situação. Porque eu me criei sempre com aquela sensação de não saber se estou vivendo no lugar correto, e isso influi muito em qualquer coisa que você pense na vida, mas particularmente se você quer fazer uma tarefa criativa. Porque você não sabe o que fazer, se vai copiar um modelo de fora. Na verdade você não gosta da sua própria vida, então você não quer falar da sua vida porque você sente vergonha de ser uruguayo, ou de ser de Porto Alegre. Eu na verdade adoro a minha cidade, é maravilhosa, mas tem sempre essa coisa “eu quero ser parecido a..., parecido a...”. E ao mesmo tempo tem o outro pólo, os caras que reagem contra isso, que também é produto desse mesmo problema. Tem uma reação desproporcional, e fica naquela coisa fechada de regionalismo, e “não, não, você não pode tomar a erva desse tipo e...”. Ah, chega, como diz o Vitor: “chega de milonga” (risos). Quando estávamos jantando eu disse pra ele “quero mostrar uma milonga nova que eu fiz” e ele “Dani, chega de milonga, chega de milonga”. Pra mim foi muito importante descobrir o Manifesto Antropofágico. Quando eu li aquilo eu disse “isso é o que eu quero”. Porque eu adoro os Beatles, eu adoro Björk, por que tenho que escolher uma coisa ou outra? E o que tem de novo no Templadismo e na Estética do Frio é que é uma visão urbana, cosmopolita e antropofágica da cultura da Bacia do Prata. Outra coisa que me aconteceu na Espanha é que eu via a possibilidade de desenvolver meu trabalho em Madrid mas também em Barcelona, Valencia, Sevilla, todas diferentes mas ao mesmo tempo com pontos de contato e todas cidades grandes, dialogando. E o que aconteceu no Uruguay? Você só tem Montevideo, depois não tem, o resto das cidades são muito pequenas, não têm força para criar uma identidade. Parece que está em uma sesta permanente. Quando você começa a pensar

que tem Montevideo mas também tem Porto Alegre, tem Buenos Aires, Rosario, Córdoba, Santa Fe, o tema muda, muda muito. E Porto Alegre, por ser uma cidade dentro de um país tão grande quanto o Brasil, sabe que pra se posicionar tem que fazer força. Montevideo não tem que fazer nenhuma força, então segue fechada. Eu tinha família aqui em Porto Alegre e eles me contaram que na década de 50 eles iam para Montevideo para ir ao teatro, para ir ao cinema, para comprar roupa, era como ir à cidade grande. Hoje está acontecendo um show do Jack Johnson, e ele veio tocar em Porto Alegre, mas não vai tocar em Montevideo, Paul McCartney tampouco tocou em Montevideo.

É evidente que o Templadismo e a Estética do Frio não se propõem a ser movimentos, mas tu acha que haveria espaço para um movimento?

Eu acho que não, mas pode acontecer. Eu acho que também... tá ruim para falar em Português...

Pode falar em Castelhano.

Se pode falar direto em Castelhano? OK. Yo creo que los tiempos de los ismos también tienen que ver con los procesos históricos, sociológicos, que tienen que ver con el inconsciente colectivo de la humanidad. No es en vano que en la década del 60 o en la década de 50 o principios de siglo pasado hayan aparecido tantos ismos y tanta gente haciendo manifiestos: manifiesto comunista, manifiesto socialista, manifiesto de mayo de 69 (sic), el Tropicalismo... Yo creo que hubo un cambio muy, muy grande en la humanidad que todavía estamos como acomodándonos. No es un momento para que alguien baje con las tablas de la ley del Monte Sinai para decir ‘yo, eso, eso y eso...” Estamos en una etapa donde todo es mucho más caótico y las verdades son más relativas que nunca. Yo por lo menos no me animaría a bajar con un manifiesto. Yo simplemente lo que quiero es plantear mis dudas. Y los textos que hice del Templadismo están llenos de dudas, si vos los leés vas a ver que están todos escritos “podría ser que...”, están todos en condicional. Estamos entrando en un etapa donde las grandes verdades se están diluyendo.

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“ Como diz o Vitor Ramil: “chega de milonga”!

NÃO É SEGREDO DE ESTADO

Estou no pátio interno do Colégio Militar de Porto Alegre e o senhor de alvas madeixas que me encara é Ademar Gevaerd, um dos maiores ufólogos brasileiros. Pesquisador respeitado mundialmente, é um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores, além de representar no Brasil os grupos Mutual Ufo Network e Center for Ufo Studies. Apesar de formado em Química, desde 1985 edita a revista Ufo, que afirma ser a mais antiga sobre o tema no mundo todo.

Não consigo ignorar os rifles à volta enquanto ele me conta quantos milhares de documentos confidenciais das forças armadas ajudou a tornar públicos. Mas eu sei que a tensão é infundada: no salão Brasil, bem ao nosso lado, uma multidão assiste à Semana Ufológica, evento que acontece no local já há três anos. Em meio a homenagens a ditadores e sob as bênçãos da bandeira nacional, Gevaerd revelou o que os governantes admitem que sabem sobre os discosvoadores, mas se esquecem de nos contar.

Tabaré: Desde quando os governos investigam esse fenômeno?

Ademar Gevaerd: Os EUA estudam desde os anos 40, o Brasil começou em 1954. O Uruguai começou em 1979 e lá é oficial: você vai à Força Aérea Uruguaia e eles te recebem para tratar do assunto. No Chile, investigam desde 1997; no Peru, desde 2002. Todos governos sérios pesquisam o assunto.

Com comissões formais?

Dentro das suas forças aéreas! Mas são poucos os que admitem isso. A Argentina tem uma comissão que nunca havia sido admitida até dezembro do ano passado (a Comisión de Estudios del Fenómeno Ovni de la República Argentina). A Colômbia tem uma comissão oficial de pesquisas ufológicas, só que não é um assunto público. O México também, a Costa Rica...

Mas Portugal pesquisa, a Itália pesquisa oficialmente, a Espanha também. Entre os países que fizeram admissões públicas de manterem arquivos estão alguns que a gente nem suspeitava. Noruega! Noruega? Além de bacalhau eles pesquisam discovoador. Também a Islândia, a Dinamarca (que abriu seus arquivos), Nova Zelândia, Austrália...

Por la Banda Oriental... É nesta base em Montevidéu que fica a Comisión Receptora e Investigadora de Denuncias de Objetos Voladores No Identificados (Cridovni). Há mais de 30 anos, o órgão permanece de plantão para qualquer ocorrência ufológica. “São os verdadeiros Arquivo X! Eles ficam numa salinha trabalhando até que alguém liga do interior: ‘ó, aqui nós vimos um negócio pousar’, aí eles vão lá, de farda e tal”, conta Gevaerd. O trabalho dos uruguaios é referência no continente: seus profissionais costumam ser requisitados pela Oficina de Investigación de Fenómenos Aéreos Anómalos, órgão subordinado à Força Aérea Peruana.

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Arquivo Revista UFO

Mas é na América Latina onde há mais governos investigando oficialmente. Por quê? Acho que foi um efeito cascata... E porque os militares daqui têm um relacionamento entre si. Uma vez, um brigadeiro me explicou como funciona - é muito simples: os presidentes passam, os militares ficam; os presidentes podem ser amigos ou se odiar, os militares têm que manter um certo nível de diálogo senão é a guerra. Então eles conversam... Os militares argentinos sabem das iniciativas ufológicas ocorridas no Brasil. Os chilenos também, os uruguaios...

Há maior incidência de ovnis aqui do que em outros lugares?

Na verdade, é mais ou menos randômico. A mesma quantidade de observações feitas em Nova Iorque são feitas na Bolívia. O que leva a crer que em um lugar aparece mais do que em outro é que a população de lá já está mais habituada com o fato e fala mais sobre o assunto.

A batalha de Los Angeles Parece o que houve em fevereiro de 1942 em Los Angeles. Nessa noite, o ovni da foto foi visto por toda cidade (e não foi com bons olhos).

Os americanos a recém haviam entrado na 2ª Guerra e os gatilhos estavam frouxos: quilos de munição foram gastos tentando derrubar o objeto. Mas ao invés disso, as baterias antiaéreas mataram três civis e danificaram vários prédios. Outros três morreram de ataque cardíaco, fruto do stress causado pelos bombardeios.

voltou e atingiu o joelho dele – o cara não cuidou direito e teve que amputar a perna.

Quando isso?

Tem uns 30 anos já... Pelotas também é conhecida porque lá havia pesquisadores divulgando os fatos.

E quando o Brasil admitiu o fenômeno ufo?

investigar o assunto e divulgar esse fato à nação. Isso foi feito em 1954! Nenhum outro país tinha feito alguma declaração sequer semelhante.

Que documentos oficiais já foram revelados?

Muita gente diz que os pontos de maior incidência de discos-voadores no Brasil são Chapada dos Guimarães, Chapada dos Veadeiros... Por quê? Quem vai pra lá é turista que vai olhar o céu, lá tem observação de 360° na horizontal. Onde o cara tem mais chance de ver um disco-voador, lá ou no centro de São Paulo?

Isso explica porque algumas cidades são consideradas capitais de discos-voadores. No RS, é Alegrete. Disparado! Lá aconteceram casos muito sérios. Não foram observações que alguém contou, mas casos de gente atirando em naves, inclusive sentinelas de quartéis atirando em naves. Teve o caso de um cara que atirou numa nave, a bala

Em 1954. Houve uma reunião na Escola Superior de Guerra, no RJ, das forças armadas com jornalistas e, na ocasião, o Coronel João Adil de Oliveira falou abertamente sobre os discosvoadores. Relatou o que havia visto nos EUA a respeito do assunto, o que já estava acontecendo no Brasil e disse que é papel das forças armadas

Ufos gaudérios

Em 1954, o RS foi atingido pelo que se chama de “onda ufológica” - quando muitos casos são relatados em determinado lugar durante um curto intervalo de tempo. Em outubro daquele ano, a Base Aérea de Canoas relatou avistamentos de várias pessoas, assim como o Corpo de Bombeiros de Pelotas. No mesmo período, ovnis também foram vistos em Osório e Torres.

O governo liberou cerca de 5 mil páginas que cobrem dos anos 50 até 2009. Isso é resultado da campanha: “Ufo: liberdade de informação já”. Nós fizemos um abaixo-assinado, recolhemos 70 mil assinaturas, mandamos pro governo, que nos fez um monte de promessas e não cumpriu nenhuma, mas a partir do momento em que a gente bateu mais forte, começou a liberar.

Tá pra sair em janeiro os documentos de 2010. Vai ser sempre com a diferença de um ano: em janeiro de 2013 saem os de 2011 e assim vai. São boletins de missões com o quê foi visto, citando as horas de vôo, quem pilotou, quem falou o quê pra quem... Tem também os resultados das pesquisas realizadas pelas comissões oficiais que lidaram com o assunto, como o Sioani e a Operação Prato. Tem relatórios preliminares, relatórios finais, cartas trocadas entre bases aéreas relatando casos... Documentos de várias naturezas relatando a presença do fenômeno ufo e a sua pesquisa pelo Exército e pela Força Aérea Brasileira (FAB).

E por que essa questão não chega ao público? Infelizmente, por inércia da população. Ainda hoje as pessoas perguntam se disco-voador existe porque não sabem que o governo brasileiro admite isso, como os governos de vários países. Quem hoje nega isso é quem não tem a menor informação. A França liberou 100 mil páginas de documentos, a Inglaterra umas 40 mil páginas – tá tudo no site dos caras! É só baixar! Nos documentos franceses, por exemplo, dá pra conhecer o caso de Trans-en-Provence, que é uma cidade da França onde pousou uma nave. Todos procedimentos científicos de análise do solo, com os elementos queimados e a comprovação inequívoca do fenômeno pelo Centro Nacional de Estudos Espaciais da França, tá tudo no site! [www.cnes.fr]

Não se admite, por exemplo, que um professor universitário não saiba do assunto. O pior é que eles nem se interessam em pesquisar. Se passar um disco-voador em cima do Morro Santa Teresa, quem vai pesquisar? Ufólogos civis. Vai ver se um professor de alguma instituição científica vai ir. Ninguém vai! Em 82, eu estudava na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, e a UFMS tem um estádio de futebol que é dela. Lá aconteceu um caso em que 23.500 pessoas estavam assistindo a um jogo e todos viram uma nave passar. Quem pesquisou o caso? Eu.

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LosAngelesTimes | 25.02.1942
[Maíra Oliveira]
“ Todos governos sérios pesquisam

Operação Prato

Colares era só uma pequena comunidade pesqueira do Pará até 1977. Nesse ano, o vilarejo foi atacado por incontáveis ovnis que visitavam o local diariamente. Além de impedir o trabalho dos pescadores, os objetos emitiam feixes de luz que deixavam as pessoas atingidas com queimaduras e orifícios na pele, anemia e grave fraqueza muscular. Pelo menos quatro pessoas morreram depois dos ataques.

O povo em pânico apelidou o fenômeno de “chupa-chupa”. Vigílias populares foram feitas com armas e fogos de artifício, muitos começaram a fugir e as autoridades locais se viram obrigadas a pedir a ajuda do Exército.

Foi aí que surgiu a Operação Prato: cerca de trinta militares foram enviados à região para descobrir o que estava acontecendo por lá. Mas levaram poucas armas e farto equipamento fotográfico. Suas câmeras Minolta e Yaschica, lentes teleobjetivas com zoom de 100-400mm e filmadoras Canon registraram centenas de fotos e 16 horas de vídeos de ovnis. Os oficiais testemunharam

Nenhum professor da UFMS, que fica a 50m do estádio, se interessou em pesquisar o fenômeno!

O Brasil é rico em casos como esse?

Sim. Em tudo de mais quente na ufologia mundial, o Brasil contribuiu com vários casos. Os primeiros pousos, os primeiros contatos com tripulantes, as primeiras abduções, o primeiro caso conhecido em que houve relação sexual de um homem com uma fêmea extraterrestre foi de um mineiro.

E o que foi a “Noite Oficial dos Ufos no Brasil”?

Foi de 19 pra 20 de maio de 1986, especialmente sobre o Rio e São Paulo, mas também atingindo

ArquivoRevistaUFO

muitos avistamentos, mas, quanto aos ataques, não puderam fazer muita coisa.

De forma abrupta, a Operação Prato foi encerrada (oficialmente) em dezembro de 1977, apenas três meses depois que iniciou. Vários documentos a seu respeito estão disponíveis à consulta pública, mas nenhum vídeo foi liberado até hoje.

Goiânia, Belo Horizonte e Brasília. 21 ufos de 100m de diâmetro (eram esféricos) foram radarizados e vistos do solo por muita gente. Entupiram os radares e congestionaram o tráfego aéreo de Congonhas, Galeão, Santos Dumont e Pampulha. Os aviões não podiam sair por causa daqueles colossos lá em cima.

A FAB determinou o lançamento de sete caças a jato Mirage e F-5E, que saíram de várias bases aéreas no Rio, São Paulo, Goiânia e Anápolis, para perseguir os ufos. Perseguiram durante três horas sem parar pra lá e pra cá. No dia seguinte, o Comandante da Aeronáutica, que era o brigadeiro Otávio Moreira Lima, foi à televisão admitir publicamente o fato e prometeu à nação um relatório oficial em 30 dias, que nunca saiu.

Por que o governo não fala disso?

As prioridades dos governantes, oficialmente, são educação, saúde, segurança... Se eles já não cumprem seu papel nisso, que dirá com relação a outras coisas! Os únicos parlamentares que lidaram com a questão foram o deputado Wilson Picler (PDT/PR), que falou várias vezes sobre o tema, e o deputado Chico

EstassãoalgumasdasnavesqueoExército brasileiro fotografounointeriordoParáduranteaOperaçãoPrato

Alencar (PSOL/RJ) que é um aliado dos ufólogos. Ele tá (dando palmadas na coxa) ba-ten-do na Marinha! O Exército liberou uns documentos e a FAB liberou muitos, mas a Marinha nem toca no assunto.

Há uma campanha de desinformação?

Não no Brasil, nem na maioria dos países. Nos EUA, o governo nega que esteja investigando – o governo brasileiro não nega, não toca no assunto, mas não nega. Governos que se envolveram em manobras de desinformação hoje estão correndo atrás do prejuízo vindo a público admitir que a coisa é séria. Alguns países da Europa estão fazendo isso, os próprios aqui da América do Sul, até o Vaticano já admite que discos-voadores existem. Inclusive o astrônomo oficial do Vaticano, que é duas vezes p.h.D. em estrelas binárias, disse abertamente: “Claro que discos-voadores existem, os extraterrestres existem e são nossos irmãos”. Que mais que a gente pode querer?! #quer ver todososdocumentosqueoBrasil jáliberousobreovnis?acessatabare.net

Militares ufólogos

Em 1969, a FAB criou o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani) que ficava nessa sede no Cambuci, São Paulo. “Numa época em que o mundo inteiro estava acobertando a questão ufológica, o Brasil tinha essa que era ‘a’ instituição de pesquisa”, comenta Gevaerd. A entidade existiu até 1972 e produziu farto material sobre inúmeros avistamentos, pousos de naves e contatos com extraterrestres.

Nãofaltaramrelatóriosarespeitodoqueocorreuna“NoiteOficialdosUfosnoBrasil”,de19pra20/05/1986.

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Rua Demétrio Ribeiro, 662 • Porto Alegre • alumiar.art.br 19h
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SILICONE?

Silicone, sim!

Silicone nos seios... Por que não? Há quem diga que isso é não valorizar o próprio corpo, não gostar de si mesma, ou não se aceitar. Algumas das mulheres – que ao tentar evitar a vaidade podem chegar ao extremo do desleixo – taxam as siliconadas de fúteis,

MANUAL DE INSTRUÇÕES:

BANHEIRO PUBLICO

Orgânico é melhor

Nossa sociedade assemelha o corpo da mulher ao barro com o qual são forjadas estátuas e esculturas passíveis de manipulação - não é a toa que existe o termo “corpo escultural”. Escultural pela ausência de defeitos, por ser tão perfeito como se houvesse sido moldado. No entanto, se essa fosse apenas uma expressão para se referir a mulheres com tal característica, tudo bem. O problema é quando um adjetivo norteia e sequela mentes femininas estipulando um padrão de beleza que deve ser consumido - custe o que custar.

A indústria da beleza vem se apropriando paulatinamente do direito feminino ao corpo, ditando os padrões estéticos do momento de modo a manter uma circulação de capital que garanta a sua constante renovação. O que leva as mulheres a aceitarem que lhes digam como

incapazes de perceber valores mais profundos do que a aparência, e ludibriadas pela mídia. Ninguém é totalmente imune aos apelos estéticos da grande mídia, mesmo quando se sabe que boa parte destes têm como único propósito a criação de novos produtos. Sabemos que o silicone não é a salvação da lavoura pra auto-estima de qualquer mulher. O que caracteriza uma diva não é só a beleza, mas também a gentileza, a inteligência, a confiança e a austeridade.

No entanto, às vezes, o silicone é tudo que falta para uma mulher inflar o peito de alegria. Neste caso, a mamoplastia de aumento sai muito mais barata que anos de terapia. Para dar aquela turbinada, não são necessários mais que quatro encontros com

ser, é uma sociedade que objetifica o humano e que o desvincula do seu ser para nele injetar necessidades de mercado. A insegurança que leva uma mulher a buscar intervenções cirúrgicas é forjada e o que o silicone satisfaz é uma necessidade exógena muito mais psicológica do que física. Uma necessidade de pertencimento a um padrão e a um discurso que impõe o que é bonito e aceitável. Discurso esse que rejeita o diferente e só sabe conviver com aquilo que é igual, padronizado.

Felizmente existem aquelas que se opõem e conseguem se sentir felizes e seguras com seus peitos pequenos e de diferentes formatos. Que percebem que a auto-estima não é uma questão exclusivamente relacionada com a aparência física e que se sentir bem e feminina não se reduz a ter um corpo nos padrões das mulheres-capasde-revista, mas está relacionado com o saber apreciar sua própria forma de ser, agir e pensar.

o doutor, e o preço final se sabe desde o início. Botar silicone não é sinônimo de futilidade, e sim, vontade de fazer do seu corpo a própria obra de arte. No jogo de atração que rege os seres que tem relações sexuais, se sentir gostosa é, de fato, fundamental. Dá segurança, libera a glamurosa dentro de cada uma de nós! Esse é um dos motivos pelos quais cresce no mundo - inclusive no Brasil - o número de cirurgias estéticas. Isso não é, de forma alguma, antagônico à compreensão de valores mais profundos, apenas uma forma de expressão da vaidade feminina. Mulheres de plástico? Não! Mulheres de carne, osso e muito peito pra enfrentar os preconceitos!

agosto/2011 #4
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[CarolinaMarostica]carolinamarostica.blogspot.com Férteis | Gravura em Metal | 2009

París, mon amour, no es como la imaginaba... Ventanas abiertas, calles naufragadas, la luna y el sol en constante batalla, disputando ese cielo, ahí afuera, tan primaveral. Son las diez y yo aquí, semi acostada, semi pensante, dando vueltas en esta minúscula habitación. La baranda me llama, los malvones me llaman, todos juntos en una sola cançó.

Aquí en frente, la rue des Morillons, y en la esquina, Don Quijote - un cuchitril andaluz que me ha resultado muy simpático desde que llegué. La noche, tierna, suave como el caer de una pluma va abrazando al guitarrero que desde el bar hace sonar la vida con la simplicidad de un acorde. Bajo para contemplar el universo y reflexionar un poco, con algo de prisa, pues París no sabe trasnochar. Después de las diez se cierran las puertas y la Tour Eiffel es iluminada por luciérnagas.

Entre inmigrantes españoles, turcos y árabes - y una que otra botella de vino - me pregunto dónde andará la bohemia de los años 1920, 1930 y 1968. “¿Donde está la París tan dulce y tan simple que Cortázar, Doisneau y Truffaut compartían conmigo? Esa gente, se habrá perdido en el tiempo?”

He llegado hace unos días con todas las pilas. Una cámara en cada hombro, para evitar que ningún

detalle se perdiera en la efímera memoria de la retina. Enquanto caminaba podía oír a Jules diciendome: “ Oh, que la vie est quotidienne...” y en el eco de ese verso respiré cada arboleda y oí el cantar de cada cuervo. Del otro lado de la calle, me mira un chien très expressif. Enfoco, lo capturo y en el mismo instante el dueño me mira con una mezcla de rabia y euforia. Atraviesa la calle, para darme la bienvenue, I suppose.

-Vous, les touristes, vous êtes tous pareils! Pourquoi tu passes pas ton temps à prendre des photos de ta mère? Efface cette photo tout de suite!

- Pardon, monsieur, mais je n’ai pris aucune photo de vous. I took a photo of your chien. I’m very sorry, but these are both film cameras, it’s imposible to erase it.

- Je peux voir l’appareil?

- Bien sûr, il n’y a pas de problème. -Ouais, il y a pas de problème.

And the gentleman, very clever, apretó el botoncito que abre la tapa y con mucha delicadeza me arruinó la película. No supe qué hacer, ni cómo reaccionar. Guardé las dos cámaras y seguí mi camino.

Después de tres copas me río sola, imaginando a Prévert corriéndolo con un paraguas a Doisneau en seguida de haberle tomado su retrato. O Bresson, que se lleva una baguette por la cabeza después de fotografiar a esos gorditos que hacían un picnic al borde de la Seine. ¿Cuántas piñas no se habrán llevado esos pobres fotógrafos...? ¿Y que le vamos hacer? Todavía me quedan 10 días, algunas puteadas más y muchas noches bajo este techo andalou.

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texto e foto: Jessica Dachs

1 Praça de dimensões modestas que demarcava os limites da Porto Alegre colonial. Suas placasatuaishomenageamoantigo conde desta cidade.

2 Antiga área quase inteiramente cercada pelas sinuosas águas do Riacho. Foi berço do carnaval porto-alegrense e lar de Lupicínio Rodrigues. Sua completa desfiguração ocorreu, ironicamente, com a execução do Projeto Renascença.

3 Praça da mais bucólica região do Centro Histórico, próxima à antiga Ponta do Arsenal e conhecidapelacuriosapresençadeseu Castelinho. Seu nome popular, o único conhecido pela população da cidade, referencia a antiga donadeumprostíbulodoentorno.

4 Maisantigaerepresentativavia da cidade, testemunha de alguns dos mais importantes acontecimentos da história do RS. Dona de rico e variado patrimônio ar-

Há 57 anos em Tabaré

quitetônico, chama a atenção também pelo desencontro entre o nome popular que mantém e a sua atual geografia, modificada aolongodosséculosporsucessivos aterros sobre o Guaíba.

5 Curso d’água de aproximadamente 20 km de extensão, filho das águas do cerro Santana e outrora responsável por inúmeras enchentes nos bairros Partenon, Azenha, Santana e Cidade Baixa. Em seu trajeto original,

encontrava o Guaíba ao banhar a face sul da península central.

6 Logradouro notório pela série de crimes atípicos supostamente ocorridos ali, em meados do século XIX. Seu nome original e espontâneo, de inclinação poética e resistente persistência na memória da cidade, foi oficialmente substituído pela Câmara Municipal ainda em 1870, levando hoje o nome de um heroi (sic) da Guerra do Paraguai.

O balaç O que calO u O b rasil: Freud explica

Exclusiva com analista do G E túlio

PROMOCÃO: O primeiro leitor que mandar todas as respostas corretas pro tabare@tabare.net ganha o livro Gente e espaços de Porto Alegre, do historiador Sergio da Costa Franco.

Um dia após o suicídio, Tabaré entrevista, com exclusividade, o analista de Vargas. Ele recebeu a equipe do jornal em seu rancho, na cidade de Bagé, mas preferiu não ser identificado.

Preciso começar com a pergunta que todos estão se fazendo: por quê?

Olha, é muito difícil de definir. Passei as últimas 24 horas criando milhares de hipóteses... Tens tempo?

É... veja bem. Na verdade, preciso fechar o texto até as seis...

Ah. Bueno. Neste caso, eu faço uma versão resumida. Mas já vou avisando que a entrevista não fica a mesma coisa!

O Getúlio vinha enfrentando muitas críticas. Aquele calhorda do Lacerda não deixava ele em paz, estava acabando com a reputação dele. Ainda mais depois daquele atentado, aquela imbecilidade do Climério... Imagina! Toda uma vida construindo uma imagem e ter que ver um jornaleco acabar com tudo sem poder fazer nada! Se ainda fosse no tempo do Estado Novo, dava-se um jeito no sujeito. Tinha aquele esquema do arame. A gente enfiava no pên...

O senhor realizou esse tipo de prática?

Não, não! De forma alguma! Mas era uma das coisas que ele mais

gostava de contar. Me fascinava... O jeito como ele contava, claro.

Como o senhor se sentiu quando soube da notícia?

Um fracasso. Assim que soube telefonei para o meu psiquiatra e, desde então, estou à base de remédios.

Quando foi o último encontro de vocês?

Na véspera. Ele me telefonou, precisava de uma consulta urgente, depois saiu para uma reunião... Não parecia o mesmo homem. Sabe? A vida política acaba com uma pessoa. Eu ainda tentava aconselhálo de que não valia a pena: “Getúlio, sai dessa história e vai viver tua vida”!.

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RESPOSTAS DA EDIÇÃO ANTERIOR:
Oliveira]
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NOMES DA ANTIGA PORTO
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ALEGRE
(25/08/1954)
[Eduardo Seidl] PortaldasAguadas TABARÉ

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