ojornalqueéloucoeaindabebe portoalegre junho2011 #2 atraque•hospital colônia•true•peito ou bunda•inquisição BISSEXUAL COM QUALQUER ROUPA EU PODERIA SER
Pois bem! Mês passado, macunaimamente, nasceu o jornal Tabaré. E, antes que começasse a ser gauche na vida, o periódico passou por uma espécie de batismo: a festa de lançamento. Foi um estouro! Muita gente bonita, artistas, intelectuais e curiosos passaram pelo Comitê Latino-americano. Sem dúvidas, um evento digno de figurar entre as atrações do Amaury Jr.
A celebração foi tão badalada que até as autoridades compareceram. Nossos “amigos” da corporação desembarcaram da carruagem oficial por volta da uma da madrugada. Estavam atrasados, é verdade. Mas, todo cidadão notório sabe que é charmoso chegar tarde. Aliás, falando em charme, como são distintos aqueles homens! Mal chegaram à festividade, e logo prenderam a atenção de todos – inclusive dos anfitriões. Assim, cordialmente, eles não apenas prestigiaram o evento, como também
TABARÉ
protagonizaram a cerimônia de encerramento.
Com um look bem particular, os representantes do Estado ofuscaram até as meninas do camarote tabareño. Mas, tudo bem! É natural! Afinal de contas, nem o estilista da Lady Gaga seria capaz de superar a garbosidade daqueles uniformes: calça e camisa acinzentados, botas miraculosamente lustradas, boné branco que resplandece ao luar... Uma vestimenta que é um verdadeiro desacato à cafonice! Uma vestimenta desenhada para algemar a admiração de qualquer transeunte!
Ademais, ainda no que tange às roupas dos nossos ilustríssimos convidados, chamo atenção para um assessório que, às vezes, pode passar despercebido: o colete! Essa peça alia magistralmente elegância e funcionalidade. Elegância, porque é um assessório preto, uma cor discreta
que combina com tudo. Funcionalidade, porque protege a autoridade do disparo de maus-olhados de qualquer calibre. Aliás, um paparazzo do Tabaré flagrou o momento em que um convidado dispara à queima roupa um olhar invejoso. Segundo algumas fontes, o rapaz estava inconformado por não ser o centro das atenções, por isso, tentou roubar a cena. De qualquer forma, nada aconteceu ao nosso “amigo” da corporação. Por quê? Porque, ele estava vestindo o seu belíssimo colete à prova de inveja!
Por tudo isso, as autoridades marcaram o ápice da festa de lançamento do jornal Tabaré. E, olhem, realmente foi um estouro! Muita gente bonita, artistas, intelectuais e curiosos... Sem dúvidas, um evento digno de figurar entre as atrações do Amaury Jr. No entanto, o lançamento foi apenas a primeira página da história do Tabaré. Agora, sigamos adiante, pois esta já é a página dois e outras virão.
Projeto
Capa:
Tiragem:
tabare.net
Ariel Fagundes, Chico Guazzelli, Felipe Martini, Gabriel Jacobsen, Guilherme Dal Sasso, Leandro Rodrigues, Luísa Hervé, Luna Mendes, Maíra Oliveira, Matheus Chaparini, Marcus Pereira, Martino Piccinini, Natascha Castro
Gráfico: Martino Piccinini
Laerte Coutinho
Colaboradores: Afonso Badanhas, Alexandre De Nadal, Dani Botelho, Gemma Domínguez, Jéssica Dachs, Marília Má, Ruben Castillo
2 mil exemplares
Livrarias Letras & Cia Palavraria Faculdades Espaço Contraponto Fabico Famecos Instituto de Artes - UFRGS Jornalismo – Unisinos UERGS - Montenegro Xerox da Clê Bares Café Cantante Comitê Latino-americano Ocidente Tutti Giorni Centros culturais Casa de Cultura Mario Quintana CineBancários Instituto NT
[Jéssica Dachs]
Vai, Lacraia! Vai, Lacraia!
E foi... A comunidade funkeira chora a perda de um ícone. A dançarina Marco Aurélio Silva Rocha, 33 anos, a eterna Lacraia, partiu dessa pra melhor. A notícia foi tuitada pelo sei-la-o-quê De-De-Deivid Brazil. Amigos comentam que ela estava internada tratando de uma doença crônica que ninguém quis dizer qual era. A musa deixou um filho, um sobrinho e um promissor projeto de música eletrônica. Os corações tabareños batem de saudade: pocotó, pocotó, pocotó...
Revelação Sub-2
Um time holandês fechou contrato com a mais nova revelação do futebol mundial. O detalhe é que o piá ainda caga nas fraldas. O VVV-Venlo (isso mesmo, 4 V’s) fechou contrato de dez anos com o craque Baerke van der Meij, de apenas um ano e meio de idade. Em nota, o clube afirmou: “a posição de preferência do menino ainda não está determinada, mas podemos dizer que tem um bom pé direito.” Quer ver o vídeo que tornou o guri famoso? Vai lá no tabare.net
Em tempo
Já correm boatos sobre o comportamento boêmio da jovem promessa. Fontes do Tabaré na Holanda afirmam que ele foi visto inúmeras vezes mamando fora de hora.
Se todos os maconheiros do mundo dessem as mãos... ...quem iria segurar o baseado? Em sua 13ª edição, a Marcha da Maconha aconteceu em 350 cidades em todos os continentes, 19 delas no país do cigarro verde e amarelo. Dessa vez, o direito à liberdade de expressão, baseado na Constituição, só foi ignorado no Rio – onde nove manifestantes foram presos – em Salvador (que
CARTAS
proibiu a marcha) e em São Paulo, onde a polícia agrediu manifestantes e jornalistas que cobriam o evento, além de motoristas e transeuntes desprevenidos.
Em tempo
Se Leonardo da Vinci porque é que 75 milhões de pessoas em todo o mundo (segundo a ONU) não podem dar dois?
Marcha das vagabundas
Sirigaitas de todo o mundo, uni-vos! - gritavam as moças de saias curtas e convidativos decotes. O movimento foi motivado pela declaração infeliz de um policial canadense. O tira sugeriu que as mulheres parassem de se vestir como vagabundas para não se tornarem vítimas de violência sexual. A marcha repercutiu pelo mundo e ajuntou cerca de 3 mil pessoas nas ruas de Toronto, 2 mil em Boston e 300 em São Paulo. Os simpatizantes da causa – e das moças – empunhavam cartazes com frases como “Jesus ama as vagabundas.”
Mais um jornaleco sensacionalista da internet. Parabéns por fazer do Papagaio uma celebridade. Sem dúvida o que ele respondeu é muito surpreendente e relevante.
Márcio Rosa, ombudsman
Ficamos felizes... finalmente entenderam o espírito deste Tabaré! Só há uma correção a ser feita, porém: somos um jornaleco sensacionalista impresso.
Caralho, muito bom!
Gustavo Flores, estudante
Se tu gosta...
Li o Tabaré e pensei que fosse a Playboy! Só faltava as orelhas e os rabinhos!
Alexandrino Alves, porteiro
Já tamo providencioando os pompons!
Gente, adorei! Quero comprar e indicar. Onde compro a primeira edição? Tenho um filho adolescente e a escola está fazendo com que ele leia mais jornal, coisa que ele não gosta de fazer. Mas, com o Tabaré, acho que vai passar a gostar. A linguagem é bastante interessante e parece muito jovem, o que pode atrair este público. Gostei muito.
Suzeina Sabal, mãe coruja
Mas ah! Ficamo mais faceiro que pinto no lixo com teu recado, Suzeina. Traz o teu filhote em alguma das nossas reuniões! Todas as sextas ali em frente ao Itaú Cultural.
Me desprendo del abrazo, salgo a la calle.
En el cielo, ya clareando, se dibuja, finita, la luna.
La luna tiene dos noches de edad. Yo, una.
Eduardo Galeano, gênio
Em tempo
Procurada pela reportagem do Tabaré, Maria Madalena não quis se manifestar.
OAB acaba com o crack em Santo Ângelo
A Câmara de Vereadores da cidade missioneira aprovou por unanimidade a lei municipal 3.494 que muda o nome do crack para “pedra da morte”. A iniciativa foi da OAB local e a alegação é de que “crack” remete a “craque” que, na gíria boleira, é algo positivo. Como se tivesse tanto craque na cidade pro povo confundir. Isso lembra o goleiro Bruno, que era um craque, que tinha um advogado que fumava crack, que não era craque, que era crack.
Em tempo
Agora em Santo Ângelo só tem pedra da morte. Quem quiser crack, vai ter que buscar noutra cidade.
Macanudo ver uma carta tua, Dudu! Celebremos com uma promoção: o leitor que der a melhor interpretação presse trechito do Libro de los Abrazos ganha
3 meses de assinatura!
Sou estudante de jornalismo da Famecos. E lá vocês causaram o maior “frisson”. Críticas e elogios. Mais críticas relacionadas à ética. Porém vocês arrumaram um defensor e admirador deste jornal. Discuti com vários colegas meus por isso. Chega de quadradice no jornalismo! Sou fã, e pesquiso o tabloide “O Pasquim”. Isto me ajudou a entender a maneira anárquica de fazer este tipo de jornalismo. Da “esquerda festiva”. Hehehe!
VIDA LONGA AO TABARÉ.
Jornal de qualidade. Harlem Neto, estudante
Gracias pela palavra “frisson”, Harlem. Fazia tempo que a gente não escutava isso. Vida longa a todos nós! Se bem
que com tanta festividade fica difícil do figo aguentar tanto...
Como assim, “o jornal que dá na pleura”? Nelson Pirovsky Primo, patrão
Oi, Nelson, tudo em riba? A gente adoraria te responder, mas essa resposta é exclusiva pros assinantes tabareños. Manda uma e-carta pro comercial@ tabare.net que daí a gente dá uma charlada.
Caro Tabaré, estávamos, eu, o Barba e um casal de rastafaris amigos dele fumando um baseado numa ruazinha aqui do Centro. Mesmo com todo esse cuidado, tomamos um atraque. Che, e agora? Que que eu faço?!
Armando Beck, artesão
Caro Armando, essas coisas acontecem. Para te ajudar, o Tabaré elaborou um manual que está na página 10. Segue nossas instruções, tudo vai dar certo.
junho/2011 #2
3
[Maíra Oliveira]
cartas@tabare.net
João, Maria e Hansen
por Leandro Rodrigues e Natascha Castro
Havia um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas (...). Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico. Até os cães iam lamber-lhe as feridas” (Lucas 16, 19-21). Assim começa a parábola de Jesus que é um dos registros mais antigos da hanseníase. Hoje, ela é curada de forma relativamente simples, mas por milênios foi uma epidemia que assombrou o mundo todo.
Até 1962, a lei brasileira previa o isolamento compulsório dessas pessoas, tratadas muitas vezes de forma absolutamente desumana. Junto a organizações não-governamentais, o poder público criou pequenas comunidades para o tratamento dessa doença em todo o país. Foi o caso do Leprosário Itapuã, criado em 1940, a partir da parceria entre a Sociedade Pró-Leprosário Rio-Grandense, a Igreja Católica e o governo Getúlio Vargas. O vilarejo ainda existe e está localizado a cerca de 60 km da capital, às margens da Lagoa dos Patos.
A CoL ôni A Raul Martins, atual administrador do Hospital, admite que é quase um prefeito, já que o local é praticamente uma cidade. Já no começo da entrevista foi claro: “nada de Leprosário, este é o Hospital Colônia Itapuã (HCI)”. Mas explica: lepra, leproso, leprosário são termos pejorativos, construção simbólica de anos de preconceito e discriminação.
A cidade hoje parece um set de filmagem de tão vazia, mas foi construída para abrigar quase mil pacientes. Havia uma infraestrutura auto-gerida, com tratamento de água, templos católico e protestante, cinema e até mesmo um cassino. Ali viviam os “indesejados”.
E o regime era severo. Nos anos 50, os 700 habitantes eram proibidos de manter qualquer contato com pessoas de fora e todas as suas ações deveriam ser autorizadas pelo administrador. No RS, todos os portadores do mal de Hansen eram afastados de suas famílias e internados em Itapuã. Por vezes, eram brutalmente caçados como animais e transportados em caminhões de carga. Para agravar, funcionários e médicos do HCI não se aproximavam dos enfermos, que conviviam isolados uns dos outros. Uma dúzia de freiras caridosas às vezes fazia companhia aos doentes. Os filhos recém nascidos dos pacientes eram separados das mães e levados ao Amparo Santa Cruz, no bairro de Belém Velho, em Porto Alegre. Um ato violento para evitar que as crianças contraíssem a doença.
Com o avanço no tratamento e o fim da internação compulsória, a população reduziu-se a cerca de 400 pessoas na década de 60, e todos trabalhavam na limpeza, organização e manutenção da comunidade.
Fe L izes Casados há mais de 40 anos, João e Maria levam uma vida tranquila. Recebem atendimento, segurança e, aparentemente, não têm reclamações sobre o lugar. “Tinha muito preconceito [com os hansenianos], hoje em dia não tem mais. Talvez ainda se encontre no interior, mas com a turma aqui eu me dou bem. Todo mundo me conhece, sempre respeitei as pessoas e eles me respeitaram”.
João Pedro Martins lembra bem do dia em que chegou a Itapuã. Era setembro de 1961 quando deixou Lagoa Vermelha, com apenas 21 anos, para ser internado por um período de três meses. Mas João segue lá até hoje. Ele conta que as freiras franciscanas organizavam a chegada dos novatos, que eram instalados nos pavilhões, dividindo quartos com outros internos. “Tinha que deixar a família e se acostumar com outro ambiente... Eu me adaptei bem com a turma”. Tão bem que casou com outra moradora do hospital, a Maria.
O casal vive em uma das casas geminadas, criadas para famílias que se formaram no local. Eles acompanharam muitas mudanças, principalmente com a descoberta da cura para o Mal de Hansen (1981), e o consequente despovoamento do HCI. Na década de 80, presenciaram também a chegada dos pacientes do Hospital Psiquiátrico São Pedro e a luta contra o preconceito aos hansenianos.
Hoje, cerca de 80 pessoas vivem no local. Do passado restaram muitos pavilhões abandonados e uma população envelhecida. Os serviços de saúde e segurança foram mantidos, enquanto outros, como
a energia elétrica, foram incorporados. A água, que era tratada lá, agora vem canalizada. Permanecem em funcionamento a padaria e a lavanderia locais.
A impressão que fica é de que o tempo parou por ali. O lugar à beira da Lagoa dos Patos possui uma qualidade de vida que grandes cidades desconhecem. Nem parece que essas ruas foram testemunhas de lágrimas, solidão, sofrimento e revolta. O que encontramos não lembra em nada a prisão que imaginávamos. A liberdade e o respeito já não são apenas um desejo dos pacientes. Passaram a ser a realidade da população que vive no Hospital Colônia Itapuã. João e Maria sabem do que estamos falando.
• Em 1874, Gerhard Hansen descobriu o bacilo Mycobacterium lepraea, bactéria causadora da doença antigamente chamada de lepra.
• A hanseníase (ou “mal de Hansen”) é transmitida através das secreções das vias respiratórias ou pela saliva.
• A cura surgiu em 1981 e, no Brasil, o tratamento é gratuito.
• Calcula-se que apenas 10% da população seja vulnerável ao bacilo.
• Os principais sintomas são dormência na pele (perda da capacidade de distinção entre calor e frio, evoluindo para a diminuição da sensibilidade), manchas na pele, entre outros.
• Após o contágio, os sinais da doença podem levar entre dois e sete anos para aparecer.
tabare.net
“
[Natascha Castro]
Sobre mais que quatro paredes
Muros,arteepolíciaporTrue
por Ariel
Foi em 95, 96 que eu comecei a pintar através do grafiteiro Trampo. Vendo como que ele usava o rolo, o spray. Vendo ele, tive a certeza de que eu podia fazer aquilo. Vi desenhos meus se encaixando em lugares na rua.
Tabaré: Tu começou com grafite ou com pichação?
Era um misto dos dois. O grafite usa uma assinatura na rua - que é o tag -, que é uma pichação menor, na real. Aí quando eu não tinha muito material, apenas fazia a assinatura do meu trabalho. E quando tinha, fazia personagens e a estética da letra do grafite.
Tu faz grafites legais e ilegais, qual é a motivação pra escolher um ou outro?
É pelo suporte mesmo. Às vezes, tu tem autorização pra pintar um muro que não tem visibilidade; e o que não é legalizado dá mais visibilidade pro teu trabalho.
O grafite veio, cresceu e foi mostrado ao mundo de uma forma ilegal. Quando o grafite é legalizado já não é mais grafite, é uma pintura mural, porque o grafite de verdade é feito sem autorização. Essa é a realidade, só que as pessoas sempre tentam tapear isso e transformar numa arte tentando dar regras ao grafite. Só que o grafite veio quebrando as regras. O cotidiano da cidade oprime a pessoa e ela vai pra rua botar aquilo que sente nas paredes. Isso é o grafite. E nem todo grafite ilegal é feito em lugar impróprio. Tem
uns que são feitos em casas que tão com as janelas todas fechadas, ou pra alugar há 20 anos e ninguém alugou...
Colocam o grafite dentro de regras, mas antes nem era tido como arte. Sim, se eu fizesse uma tela há dez anos atrás, era assim: “ah, legal essa tua pintura de rua na tela”. Não era uma arte, não era uma expressão. Hoje, tu pode chegar a uma galeria com um trabalho de grafite. Colocam o grafite como “street art” (sendo irônico), a “arte das ruas”. Alto nome pomposo, mas no frigir dos ovos, não tem nada pra nos pretender. É o mesmo grafite de rua de sempre, só que num outro espaço.
e como acontece a repressão?
A repressão chega a ser ridícula. Já aconteceu de eu estar rodando – “rodar” é ser preso pintando – sendo que do outro lado da rua tinha um cara cuidando um carro pra roubar, outro fumando pedra. Me liberei porque eu falei: “eu não sou bandido. Eu não tenho ficha criminal, tô fazendo simplesmente essa pintura aqui”. É assim como ela trata a pessoa: “mão na cabeça!” e atira o cara no chão e
mas ao mesmo tempo a autoridade tem coerência e tu acaba sendo liberado. Isso também acontece. E, com a experiência dos anos, tu vai vendo onde pode inserir teu trabalho sem problemas. Tu vai te moldando perante a cidade: já não sai mais de boné, já não sai mais de mochila e vai com uma sacolinha, com uma roupa mais tradicional.
o grafiteiro ou pichador tem direito de pintar qualquer lugar?
Não, eu falo por mim que faço grafite. Tudo depende da hora e da ocasião. Hoje em dia, até prefiro pegar um lugar maior, conseguir autorização e fazer um trabalho mais elaborado. Porque um trabalho sem autorização tem que ser feito em pouco tempo, tu não pode fazer uma coisa muito elaborada. Quer dizer, até pode, mas é perigoso. Agora, a pichação é uma coisa sem regra e não vai ter regra nunca. Podem inventar as regras, mas, quem faz, vai burlar.
serve até como incentivo pras pessoas se superarem. É uma autoafirmação sempre. Até tenho o exemplo de um amigo que cortou a mão, tava com quatro pontos, e mesmo assim escalou um prédio de nove andares. Ele queria muito fazer aquilo e nada impediu ele.
Tu tem críticas em relação ao grafite e à pichação? A maioria dos grafiteiros caem de pau em cima da pichação. Eu já sou bem diferente, assim como me respeitam, eu respeito todos da rua. Não tenho problema com ninguém, se tem primeiro o tag de um cara novato, eu respeito e não faço em cima. Tem que ter respeito mútuo. Eu acho que nem é pichação. Pra mim, as paredes estão falando. No ponto de vista social, são letras que ninguém consegue ler. Mas eu respeito porque sei que eles se privaram de tomar um refrigerante, de comer um xis, pra estar na rua fazendo esse trabalho. Eles não têm outra maneira de lançar a arte deles na rua, então eu respeito.
#acessa truedves.wordpress.com
3
junho/2011 #2
5
Fagundes, Felipe Martini, Maíra Oliveira e Martino Piccinini
[Martino Piccinini]
O TABARÉ!
ASSINA
O jornal que depende só de ti tabare@tabare.net
edições
15,00
25,00
R$
6 edições R$
UM AGITADOR DE SAIA
tabare.net
por Ariel Fagundes e Marcus Pereira fotos: Dani Botelho
Domingo. Dia das Mães. Já anoiteceu. Esperamos a celebridade do FestiPoa Literária aparecer. Hoje é o encerramento e pretendemos fazer a entrevista antes que a celebração inicie. Aguardamos, aguardamos, aguardamos... “Ei, olha lá, acho que chegou.”
Saiu do taxi com delicadeza. Atravessou a rua com prudência. E, por incrível que pareça, o altar do salto alto mais beatificava do que sensualizava. No entanto, as botas também dificultavam o caminhar e, por isso, os passos eram contidos. Mesmo assim, o ar de elegância era mantido. A roupa discreta ajudava a sustentar um ar moderno e respeitoso: um xale preto sobre a camiseta listrada e um vestido preto sobre a meia-calça lilás. Além disso, os quase 60 anos de idade ajudavam a perfumar de austeridade aquela silhueta sem curvas graves. Um pronome de tratamento feminino se adequaria bem para chamar-lhe a atenção. Mas, preferimos o nome próprio: “Laerte, com licença...” Foi assim que o famoso cartunista concedeu essa entrevista ao Tabaré, nas dependências da boate Beco.
Enquanto entramos no edifício antigo, os olhos esquadrinham os detalhes do entrevistado. A curiosidade aumenta.
O prédio tem dois andares: festa vai se limitar ao andar de cima, por isso, o andar de baixo está fechado. Subimos até o segundo piso. Nas escadas, Laerte Coutinho se refere a si mesmo ora no masculino, ora no feminino. Novamente, surge a dúvida de como tratá-lo: Senhor? Senhora?
Cara? Devemos parabenizá-lo pelo Dia das Mães?
Complicado. O melhor é permanecer no nome: Laerte!
Tabaré: Queria começar te perguntando como é o relacionamento com a tua mãe. e la é viva ainda?
Laerte: É, tá viva. E o relacionamento é ótimo. Minha mãe é uma criatura dotada de um humor que eu considero minha melhor herança! (risos)
Tu acredita que ela possa ter sido uma inspiração?
Não, uma inspiração não! Ela foi minha formação. Ela e meu pai, né!? Em casa, sempre se... sempre se leu, sempre... (guitarra distorcida) A banda vai passar som agora? Vai ser foda isso.
Pois é, achei que já tinha passado. Dá pra pedir pra abaixar essa música... (um repórter vai falar com a organização do evento)
Se possível... Então, lia-se muito, tivemos acesso desde criança a um material muito farto de produção cultural. Pra mim sempre foi... (músicaeletrônica muitoalta) De repente a gente sai daqui...
É, desse jeito é impossível. Tu já conhecia essa casa?
Não! Eu só vim a Porto Alegre há, sei lá, vinte anos atrás.
e tu gosta daqui?
Essa é a primeira vez que eu venho e, de alguma forma, vivo alguns dos encantos da cidade. É muito linda, bem gostosa. A dimensão da cidade é agradável para alguém como eu (risos), que vem de São Paulo, onde tudo é meio
Recentemente, Laerte transformou seu último personagem, Hugo, na travesti Muriel
intocável. Aqui, você consegue sentir um controle de trajetos, de dimensões. É uma sensação muito boa.
E, ao mesmo tempo, não é uma cidade pequena. Porto Alegre tem várias características legais. Tô sentindo isso pela primeira vez. Minha memória não guardou muita coisa das outras visitas. Algumas delas foram a trabalho mesmo, então francamente não vi nada.
Mudando de assunto, o que as roupas representam pra ti?
Roupas? São formas de expressão. Uma maneira com que o ser humano se expressa e se conduz na sociedade. Do meu ponto de vista, as roupas representam a forma mais visível de furar o bloqueio do código de gêneros binário: masculino/feminino. Tenho achado muito rico, muito alegre. Me deixa com um espírito muito bom experimentar o vestuário feminino. Não só isso, mas os modos de expressão, o gestual, o modo de exercer certas coisas. A essa altura da vida, outros comportamentos que fazem parte do código de gênero, eu já quebrei! Já demoli há muito tempo. Mas a roupa...
o que tu demoliu?
Ah, esse tipo de imbecilidade de que homem gosta de futebol e mulher, de ir às compras. Desse tipo de coisa, já me desvencilhei há muito tempo. Mas códigos de gênero são meio brutais, tendem a ser totalizantes, a definir todas as dimensões do comportamento humano. “Homens devem se comportar assim, mulheres assado”. De muitas formas esses códigos são quebrados, mas o vestuário é um assunto especialmente delicado. Pra um homem sair usando roupas femininas, é uma complicação.
Tu vê alguma semelhança entre o metrossexualismo e o crossdressing?
Se você quiser ler assim, não tem problema nenhum. O que me interessa são os momentos e as formas como a rigidez do código de gêneros é rompida.
É uma questão mais política?
usando essa bosta que é o terno, que é uma prisão (risos) o s homens têm se tornado mais femininos e as mulheres assumiram características que eram atribuídas ao sexo masculino...
É? Onde cê tá vendo isso? (risos)
sinto no meu dia-a-dia... Mas o que tu acha?
Acho que você tem razão de algumas formas, bem menos do que seria necessário. As mulheres conquistaram o uso de formas de expressão, tanto de vestuário quanto em postura cultural e agressividade social. Aliás, o século XX deve seus progressos principalmente à luta das mulheres. A transformação na cara das sociedades é responsabilidade das mulheres... (piano muito alto e volta do repórter que foi falar com a organização)
olha só, eles vão passar o som. A gente pode fazer a entrevista no andar de baixo.
Vamos?
“ É comum levar uns tapas por causa disso
É, o que se chama de metrossexualismo – eu nem sei se ainda existe esse tipo de nicho cultural – tava representado por alguns cuidados com a aparência. Mas não desafiava os códigos de roupa. Homens continuavam
Eu tava falando da mudança de modos femininos e masculinos. Hoje, as meninas passam por processos educacionais relativamente mais livres do que eram antigamente. Mas não de forma disseminada. Em muitas escolas, as mulheres ainda são confinadas a modelos que buscam a eternização da imagem do feminino como algo frágil, especialmente delicado, sensível, e sei lá mais o quê. Esse tipo de lorota assim. Aos homens ficam reservadas as áreas da agressividade, da expansão física. Ainda é um modelo muito praticado. O ódio com que muitos grupos sociais se expressam em relação à transgeneridade, à travestilidade e à homossexualidade também é sinal de que as coisas não estão tão mudadas assim. O ódio e a liberdade com que essas agressões são praticadas no Brasil é bastante impressionante.
junho/2011 #2 7
***
“ Não é uma perversão, ufa!
Mas há uma tolerância bem maior também. E uma agressividade bem maior também. Essa tolerância é acompanhada do crescimento de grupos skinheads, por exemplo.
Mas dá pra falar em avanços. Por exemplo, a recente aprovação desse novo estágio civil da união homoafetiva. É um avanço, não dá pra dizer que não. É o reconhecimento de que isso não é um crime (risos). Não é uma perversão, ufa! (risos) Já é alguma coisa, mas até você reconhecer que são seres normais que devem gozar dos mesmos direitos que os outros, é um longo caminho. É preciso que os direitos sejam absolutamente idênticos. Que as pessoas possam se casar independente do sexo. Os avanços indicam o quanto há ainda para ser feito.
Pra ti, crossdressing é uma questão de gênero e não de sexo. Queria que tu explicasse isso.
Sexo biológico é o que a gente nasce: basicamente, macho e fêmea. Gênero são códigos culturalmente estabelecidos de comportamento e padrões de desempenho para os indivíduos conforme o sexo biológico que eles tenham. São coisas culturalmente estabelecidas. Sociedades diferentes elaboram códigos diferentes para homens e mulheres. Isso é gênero.
Mas em todas épocas e em todas sociedades, sempre houve o comportamento transgênero, que é a inconformidade com os códigos vigentes. Isso é transgeneridade.
É aí que tu te enquadra?
É aí que eu e todas as travestis do mundo nos enquadramos (risos), junto com todos que desejam muito praticar a travestilidade, mas não fazem por medo de perder seus empregos, amigos, parentes, o amor do seu círculo social. A quantidade de enrustidos e enrustidas é muito grande. A experiência de me travestir tem me mostrado uma ansiedade muito grande das pessoas, que, no meu entender, traduz uma grande vontade reprimida de exercer o poder da liberdade da travestilidade.
É comum ver um menino se vestindo com roupas femininas quando criança. Sim, e é comum levar uns tapas por causa disso.
o que mudou na tua vida com a travestilidade?
Mudou meu contato com as pessoas, de forma geral. Existe uma inquietação: em alguns casos, ela evolui pra retomada da normalidade. Em outros, não: é um estranhamento que continua.
Eu me sinto melhor. Mais livre, mais autêntico. Não sei que tipo de palavra usar, mas me sinto mais perto de algo que é eu mesmo.
Ajudou o personagem Hugo também?
O Hugo é uma espécie de balão de ensaio. Tenho mantido ele como personagem ativo porque é uma forma de eu pensar nesse assunto. Não faço mais personagens. Tô procurando não desenhar da forma caricatural que eu desenhava, nem construir piadas
Cosméticos
da forma como eu construía. De certa maneira, tô recuperando minhas tradições gráficas da adolescência. Modos de trabalhar que eu tinha deixado de lado em nome do exercício profissional de humorista.
o crossdressing significou uma libertação artística? Não sei se “significou” alguma coisa. Colocar nos termos de causa e efeito é complicado pra mim. Eu sei que tá vinculado. É todo um procedimento, uma travessia que eu tô fazendo. Me travestir tem a ver com isso. Vocês falam em crossdressing. Não sei... Tenho uma certa implicância com essa palavra (risos)
o que tu prefere?
Travesti.
Como tu administra o masculino e o feminino dentro de ti?
Masculino e feminino são conceitos culturais. Tenho administrado procurando descobrir o que são esses limites e rompê-los, explorando a linguagem feminina. Tô, de certa forma, fazendo uma auto-oficina com o vestuário.
Uma questão de auto-conhecimento?
Não sei se chega a ser de auto-conhecimento. O que distingue homens e mulheres, se é que há tanta coisa assim, são certas características biológicas. O resto é prática, prática social. A sociedade muda, só que muitas vezes mantém de forma reacionária certos bolsões e aquilo acaba sendo um ponto de honra: “Não! Homem de saia, jamais! Batom ok, mas saia jamais!”.
Você falou dos metrossexuais, mas é um termo absolutamente infeliz porque procura vincular sexualidade a exercício de gênero. Isso é falso pra mim. Gênero é uma coisa, sexualidade é outra. Sexo biológico é macho e fêmea; orientação sexual é pra onde o desejo da pessoa aponta: pra homens, mulheres, pros dois, enfim; e gênero é outra coisa.
o fato de tu te travestir não afeta em nada a sexualidade. Não é necessário que afete. Deve ser entendido como um exercício de expressão. Pode se conectar também com orientação sexual. Eu sou bissexual, mas eu poderia ser bissexual vestindo qualquer roupa.
Até porque na hora não se usa roupa, né?
É! Não a de pano...
Tu já trazia dentro de ti a vontade de se expressar de uma forma feminina?
Acho que sim. Não é uma coisa muito clara, mas desconfio que sim. De alguma forma, tava lá, desde a minha infância e adolescência, a vontade de frequentar o mundo das meninas.
e tu tem claro por que...
Não! Nem precisa terminar a pergunta. Não tenho claro isso. Só sei o que não é pra ser feito: bloquear. O que eu não quero é continuar bloqueando essas coisas.
Mas não tem alguma ideia de porque isso se expressou agora, depois de uma certa idade?
Eu suponho que é porque eu já tava me sentido livre e desimpedida daquilo que me tolhia (risos)
e o que tava te tolhendo?
As mesmas coisas que bloqueiam milhares de pessoas mundo afora: sentimento de inadequação, o medo do ridículo, de si própria, do que pode ser liberado junto com essa novidade... O medo da liberdade, né? “Ok. E agora que eu sou livre, como hei de me compreender?”.
tabare.net
PRODUTOS NÃO TESTADOS EM ANIMAIS Shopping Iguatemi Av. João Wallig, 1800, 2º piso, loja 2244 Tel: (51) 3273-1294 mahogany.iguatemipoa@mahogany.com.br
por Gemma Domínguez
La meva llar és una Barcelona abocada a un Mediterrani cada cop més transitat. L’hotel on treballo sembla un altre sense l’Avinguda Diagonal a ple rendiment, sense la recent celebració de l’últim títol aconseguit per l’admirat Barça, ni tampoc amb els turistes encuriosits demanant com arribar a La Rambla. Clar que són les quatre de la matinada i tot això en breu serà només un record.
El torn de nit que faig a recepció, no farà pas que deixi de trobar-me amb aquests visitants. Tinc pensat anar a la platja de tarda i fer un cafè pel centre, i això suposa una retrobada amb els benvinguts.... però no hi ha plantejaments ni sorpreses.
Els turistes i els ciutadans conviuen amablement i, de manera més rellevant, des de fa ja més de dues dècades.
En procés està el tema d’immigració i l’apreciada multiculturalitat de la qual tan se’ns parla, però que tan ens desconcerta per poder dormir a les nits.
Mica en mica ens hi anem fent amb el reggeaton.
Som doncs, un poble pacient i lleial a una ciutat de marcat interès internacional, turístic-cultural, que sembla de vegades vulgui amagar les ànsies d’un canvi imminent.
Puc dir, per exemple, com sembla mentida, tot i estant a l’acomodada Europa, que el jovent s’independitzi als trenta anys dels pares. Així com aquest propi país català es veu sotmès encara i pateix per independitzar-se de la “Madre Patria”.
Però bé, fora maldecaps, Barcelona continua tenint caire de poble a cada barri; entre bohemis, platges, paelles i plataners. La ciutat on visc està considerada ja com una de les grans, però per mi no deixa de ser casa meva. Així quan surto de l’hotel a les set del matí, surt el sol per a autòctons, immigrants i turistes.
De ben segur que al llarg d’aquest nou dia, el cap ens portarà a tots en algun instant a la reflexió d’en Peret i la seva rumba d’ençà les Olimpíades ‘92 “Gitana hechicera”.
I és que: “Barcelona té molt poder!”. #em português no tabare.net
Semear
Afonso Badanhas
Ah, minha cara, Florbela... Meu ser é daquele jeito: Semente. Se mente? Talvez.
Mas, da minha mentira cultivada em teu ser, há de nascer a mais florbela Verdade.
Mas, tenho medo de morrer ontem tanto que morrerei anteontem: Antes do desconhecido sêmen-ar minha mãe, Antes de eu te apresentar a ti, Antes de eu sêmen-ar tuas palavras.
Tenho tanto medo da charneca do meu espírito que só planto bemfazejo em jardins férteis: Quando enterro meu amor, profano e lascivo, no delta do teu santíssimo corpo; Quando rego a tua face com minhas cremosas esperanças de vida nova.
Tenho tanto medo de romper o lacre do segredo que jamais revelo a caixa preta do coração:
E escondo de ti os teus próprios desejos confessados por teus lábios aos beijos: desejos de seres poeta!
E quando tenta me arrancar tal segredo, acariciando minha cabeça ingrata, cuspo-te na face assim.
Ah, minha cara, Florbela...
Nada pode ser semeado no homem Tudo na Mulher.
Homens têm todos os sonhos femininos que a mulher não conhece.
E a Mulher, todos os desejos masculinos que o homem não tem.
Por isso, semeei em ti teus sonhos de ser poeta. Então, vai, que tu já és poeta, poetisa! Vai...
junho/
9
[Luísa Hervé]
[MaríliaMá]euartrock@gmail.com
[Luísa Hervé]
Zil zil
por Matheus Chaparini
Conversando com uma amiga esses dias, depois de dar muitas voltas, o assunto chegou ao Tabaré e eu comentei com ela sobre a pauta do meio a meio desta edição.
-Sério? Mas não vai ter ninguém pra defender...
-Bunda?
-Peito!
Essa amiga - é bom que se diga – é mulher, hétero, bunda grande, peitos pequenos: na medida. Importante colocar também que se trata de uma historiadora e cabe, aqui, uma crítica aos historiadores: estão sempre um pouco atrasados. Se fosse até alguns anos atrás, este raciocínio – o dela – estaria perfeitamente adequado. Estamos no Brasil – embora existam controvérsias - e o Brasil é historicamente o país da caipirinha, do futebol e do carnaval. E o que é o carnaval – pelo menos esse que
A língua dos seios
Dedicado a Tânia e a Lourdes, minhas amas de leite
por Marcus Pereira
Oh! Atrás dos seios femininos, há um coração que pulsa. E beijar o busto da musa é mais que simplesmente pisar no acelerador da libido: é saborear o pulsar daquela existência. Nada é mais inspirador! Por mais que os poetas exercitem a língua a procura do verso perfeito, são as lambidas no seio da mulher que revelam o sabor do lirismo apaixonado. Por isso, os trovadores deveriam aprender uma lição: é inútil recitar redondilhas, sonetos ou alexandrinos. Pois, o menestrel só fará poesia de verdade, quando os seios da musa estiverem lhe amordaçando a boca. Eis, então, o Poema Maior em silêncio ofegante. De qualquer forma, os ourives da palavra insistem em versejar, declamar, cantar... o que, apesar de ser imperfeito, também é justo. Afinal, a comunicação é necessária e é por isso que existe a fala – e, por onseguinte, a escrita. Tudo bem. Estralemos a língua então, em busca da palavra maravilhosa. Mas, não
mostra na TV, pra gringo ver – se não a bunda? A bunda pintada, a bunda de fora, a bunda na janela. E bunda grande!
A mulher brasileira tem a bunda grande, desde sempre! É essa a característica física que mais a destaca em relação às demais. As europeias não têm bunda. As estadunidenses também não têm muita coisa na poupança. Mas estas têm peitões. Ô, se têm!
E é daí que vem essa moda, essa mania de peitão. A introdução do peito na cultura nacional veio com a invasão yankee! Sempre eles. Roliúdi, festifudi, Golpe de 64, Rede Bobo. E peito! A necessidade de grandes seios como padrão de beleza é contra a constituição genética do zil-zil. Só serve para enricar cirurgiões plásticos e fábricas de silicone.
Além de que, pensando em termos puramente práticos, os seios são adorno. Um belo adorno - nada contra eles – mas um adorno. A bunda é extremamente funcional. É por onde se pega, por onde se segura, por onde se embala.
Que esta argumentação não soe machista. Nada disso! Para se apreciar uma bela bunda não é preciso ver uma mulher como um objeto. Existe um milhão de ângulos pelos quais se pode enxergar uma mulher, todos eles são válidos. Para este momento escolhi este: o de trás.
esqueçamos a origem de todos os verbetes: os seios! Sim, de fato, a língua existe por causa dos seios. Essa é a tese do famoso lingüista da poesia, Roman Jakobson. Segundo o estudioso, a palavra “mama” possui equivalentes fonéticos (ou seja, com sonoridade análoga) em 1072 idiomas. É a primeira palavra pronunciada por bilhões de pessoas mundo afora. E, mais do que isso, Jakobson sustenta que esse vocábulo tem origem no ato de mamar. A compressão dos lábios para pronunciar o fonema “m”, e a abertura da boca para pronunciar o “a”, ambos repetidos duas vezes (ma-ma), sugerem o movimento de sucção do seio materno. Portanto, as pomas não só nos suprem a infância com nutrientes, mas também nos enchem a boca de palavras. Não tenho dúvidas que todo poeta começou na mama. Sendo assim, se estamos tendo essa discussão sobre peitos ou bunda, devemos agradecer às mamas femininas. Afinal, foram elas que ensinaram a língua às nossas línguas. Essa é a origem da fala, da poesia, da canção, desse debate. Então, oh poetas, lambamos a maciez de seda dos seios da musa, e deixemos que o mamilo rijo nos aponte o caminho da inspiração...
atraque
1. Você acaba de perceber a aproximação. Fique parado, se estiver andando, siga andando. Nunca corra. Não dê sinais de nervosimo. Quem não deve não treme.
2. Se ainda for tempo, dispensa a ponta. Se não, sinto muito, é o trabalho deles. Lembre-se: O crime é o porte; não carregue flagrante.
3.
* Tenha seus documentos à mão;
* Seja educado, mas não puxa-saco;
MANUAL DE INSTRUÇÕES: o que NÃO dizer
* Só fale o indispensável e só responda o que lhe perguntarem;
* Preze por sua privacidade: Não é sua vida pessoal que está em questão.
4. Se nada foi encontrado, tudo não passou de um mal-entendido e você pode ir pra casa. Em caso contrário, aguarde os trâmites legais: eles virão.
Sob hipótese alguma peça a baga de volta.
5. Mantenha o respeito: Ele tem uma arma, algemas e conhece muito bem o caminho do Central.
Exija respeito: é só um baseadinho - o pior que pode acontecer é tu assinar um termo e frequentar umas sessões do N.A.
Calma aí seu Polícia! É só um fininho de cadeia, eu sou estudante, além do mais tu nem pode me prender!
tabare.net
PEITO OU BUNDA?
[Maíra Oliveira]
Galileu abre o joGo: ela se move
Em conv E rsa d Escontraída, o ciE ntista prafrE nt E x E xplica o chiliqu E da i nquisa
Seu Galilei conversou com o Tabaré numa luminosa tarde de verão. O sol de Florença dourava seus cabelos brilhosos de graxa, denunciando que o forte do astrônomo não é o cuidado com a estética. Entre um capuccino e outro (a bebida) ficamos sabendo do babado acontecido no dia anterior, no tribunal da Santa Igreja (deeva!)
Galileu, apesar de ser uma simpatia só, não escondeu seu desconforto causado pela “conversinha” que tivera com a tchurma do Papa. Entre uma queixa e outra, nos explicou que desistira “com sinceridade de coração e fé genuína” de convencer a gurizada da corte dos Médici (ô familiazinha!) de que a Terra não era o centro do Universo: “até porque todo mundo sabe que é o Alegrete”, comentou.
Nosso bom velhinho também confessou sentir saudades do amigo Giordano, que se queimou feio com a galera de Roma: “nunca
Há 378 anos em Tabaré (23/06/1633)
gostei de churrasco”, disse, para desgosto desta redação rio-grandense. No final da conversa, nos contou que pretende passar os próximos anos em casa, lendo salmos penitenciais, entre outros passatempos.
“Ela [a Terra] se move... mas eu é que tenho que ficar parado aqui!”, lamentou.
[RubenCastillo] www.rayandopiedra.blogspot.com
ANUNCIA
junho/2011 #2
11
DROGAS DA VIDA MODERNA
R Pes TAos s DA e oÇÃiD A n T e R R:io
1. Bento XVI 2. Lula
3. Bush 4. Osama 5. Chávez 6.
Obama 7. Kim Jong Il 8. Fidel 9. Berlusconi
jornal
fim do mês. comercial@tabare.net
NO TABARÉ! O
que só teme o
[Alexandre De Nadal] alexandredenadal.com.br
[PepeMartini] Das Dores TABARÉ