Synapse Airlines | número zero

UM PROJETO_

| LEANDRO ANDRADE | HÁTELIÊ | jiboia editorial | 2020 _ EM PROCESSO

número Z E R O

UM TEX TO

ASSIM COMO UM LIVRO, UM JORNAL, UM FILME, UMA PINTURA OU UM EDIFÍCIO, PODE SER PENSADO COMO UMA ESPÉCIE DE LADRÃO NO MEIO DA NOITE, FURTIVO, CLANDESTINO E SEMPRE COMPLEXO, ELE ROUBA IDÉIAS DE TUDO A SEU REDOR, A PARTIR DE SEU PRÓPRIO AMBIENTE E DE SUA PRÓPRIA HISTÓRIA, OU AINDA A PARTIR DO SEU LADO DE FORA, PARA DISSEMINÁ-LAS EM OUTRO LUGAR.

NÃO É

APENAS UM CANAL PARA A CIRCULAÇÃO DE IDÉIAS, COMO CONHECIMENTOS OU VERDADES, MAS UMA PASSAGEM OU UM PONTO DE TRANSIÇÃO DE UMA CAMADA (SOCIAL) OU ESPAÇO PARA OUTRO.

UM TEXTO NÃO É A REPOSITÓRIO DE CONHECIMENTOS OU VERDADES, O LUGAR PARA ARMAZENAR INFORMAÇÕES (...) MAS EMBARALHA -LAS, MISTURANDO TERMOS, CONCEITOS E PRÁTICAS, FORJANDO VÍNCULOS, TORNANDO -SE UMA FORMA DE AÇÃO. (…) TEXTOS, COMO CONCEITOS, FAZEM COISAS, PRODUZEM COISAS, REALIZAM CONEXÕES, SUGEREM NOVAS ALIANÇAS.............................................................

ELIZABETH GROZS

UM PROJETO PROTO / PÓS PANDÊMICO UMA QUASE REVISTA DE ARTES VISUAIS | ARQUITETURA | LITERATURA |

CIDADE | & ATIVISMOS | AFINS |

EPISTEMOLOGIA | CIÊNCIAS COGNITIVAS | LINGUAGEM | FÍSICA | FILOSOFIA | PSICANÁLISE | QUADRINHOS | FICÇÃO CIENTÍFICA | COTIDIANO | MISCELÂNEA | | |

©2020

número ZERO /

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URBANISMO SE FAZ COM OS PÉS.

BERNARDO SECCHI

SIM, AINDA ACREDITAMOS QUE A MELHOR FORMA DE CONHECER A CIDADE É CAMINHANDO POR SUAS RUAS, DEMORANDO -SE EM SUAS PRAÇAS, CIRCULANDO EM SEUS MERCADOS, DESCOBRINDO SUA CULTURA, ENCONTRANDO NOS COM AS PESSOAS.

NA ATENAS CONTEMPORÂNEA, OS TRANSPORTES COLETIVOS SE CHAMAM METAPHORAI. PARA IR PARA O TRABALHO OU VOLTAR PARA CASA, TOMA-SE UMA METÁFORA – UM ÔNIBUS OU UM TREM. OS RELATOS PODERIAM TER ESTE BELO NOME: TODO DIA, ELES ATRAVESSAM E ORGANIZAM LUGARES; ELES OS SELECIONAM E OS REÚNEM NUM SÓ CONJUNTO; DELES FAZEM FRASES E ITINERÁRIOS.

ACREDITAMOS NO OLHAR QUE SE TORNA VER ENQUANTO MUDAMOS, A CADA MOMENTO, NOSSO PONTO DE VISTA. UM PONTO DE VISTA NÃO É APENAS UM CAMPO DE VISÃO: O PONTO DE VISTA DO PERCORREDOR E OBSERVADOR DA CIDADE RETÉM NÃO APENAS A IMAGEM DO ESPAÇO. RETÉM, TAMBÉM, E DE FORMA INTENSA, A DURAÇÃO: O TEMPO DO OLHAR PARA PODER VER.

DESEJAMOS, SEMPRE, CONHECER A CIDADE, USANDO AQUI UM CONCEITO DO LINGUISTA MIKHAIL BAKHTIN**, COMO CRONOTOPO: ESPAÇO E TEMPO INDISSOCIÁVEIS NA FORMAÇÃO DAS MEMÓRIAS DURADOURAS.

E IS A CIDADE E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS. HOJE, O TEMPO DA CIDADE É UM OUTRO TEMPO. O QUE SABÍAMOS SOBRE A CIDADE, TORNOU-SE, AGORA, UM MOTIVO DE NOSTALGIA. NOSSO CONHECIMENTO SOBRE A CIDADE TORNOU-SE MATÉRIA DA HISTÓRIA. A PANDEMIA FEZ EM PEDAÇOS A CIDADE CONTEMPORÂNEA. LITERALMENTE EM INCONTÁVEIS PEDAÇOS. O ISOLAMENTO E O DISTANCIAMENTO SOCIAL TROUXE, PARA O COTIDIANO FÍSICO DA VIDA URBANA, A VIVÊNCIA DAS BOLHAS, ANTES VIRTUAIS. APRESSADAMENTE, URBANISTAS, GEÓGRAFOS, ECONOMISTAS, SOCIÓLOGOS, ENTRE OS CIENTISTAS URBANOS, SE PÕEM A DEBATER E A CUNHAR TEORIAS E PREVISÕES SOBRE A CIDADE PÓS -PANDÊMICA. PARECE HAVER PRESSA EM DAR RESPOSTAS À PERPLEXIDADE! MAS, TALVEZ, ESTEJAMOS TODOS CORRENDO DEMAIS NA BUSCA DE VERDADES, SEMPRE PROVISÓRIAS, PARA SUBSTITUIR NOSSAS VELHAS VERDADES MORTAS. PORTO ALEGRE, INVERNO 2020.

SÃO PERCURSOS DE ESPAÇO.

A IMAGINAÇÃO É A LOUCA DA CIDADE

MICHEL DE CERTEAU

NO COMEÇO DOS TEMPOS FOI ASSIM: PARECIA O FIM DO MUNDO. NO COMEÇO, FOI ASSIM E PARECIA UM PANDEMÔNIO. TANTO QUE ALGUÉM CRIOU UM ETERNO RECOMEÇO: A NOITE SUCEDENDO O DIA SUCEDENDO A NOITE. E INVENTOU-SE O SONO. E COM O SONO, OS SONHOS.

s napse

NO COMEÇO FOI TODA ESSA ENORME CONFUSÃO: UM DEUS -NOS -ACUDA. SABEMOS TODOS MUITO BEM COMO ESSA HISTÓRIA CONTINUA: OS CICLOS SUCESSIVOS DE RECOMEÇAR O QUE NUNCA SE TERMINA. E EIS, POIS, O EXATO MOMENTO NO TEMPO -ESPAÇO EM QUE ESTAMOS AGORA, E PARECE O FIM DO MUNDO.

PODE CONTINUAR ASSIM POR HORAS, EMBORA NESTE MOMENTO A QUESTÃO ESPECÍFICA DAS RATAS NÃO DEIXE MUITO TEMPO PARA SE PERDER NAS POSSÍVEIS VARIANTES.

JULIO CORTÁZAR

ATAR A RATA.

ATAR A RATA.

ATAR A RATA...

ATAR A RATA. ATAR A RATA.

ATAR A RATA.

DESDE O COMEÇO DO FIM, AS COISAS SAÍRAM UM TANTO MAIS DOS EIXOS. SOB CERTA LUZ, SOB CERTO REGIME DE SOMBRAS, TODA COISA PODE VIRAR QUALQUER COISA EM APARÊNCIA. E ASSIM É, SE VOS PARECE, UMA VEZ QUE, COMO SE SABE, NADA É O QUE PARECE SER.

INSTAUROU-SE, ASSIM, ESSE REINO FANTASMA, DOMINADO PELAS COISAS QUE NÃO SÃO O QUE PARECEM SER. EIS O MOVEDIÇO MUNDO DO QUE NOMEAMOS REALIDADE. O MUNDO É UM POUCO ISSO TAMBÉM: MÁQUINA DE DESAPARECIMENTO. NO SENTIDO DA CAMUFLAGEM DO SENTIDO QUE SE DÁ AO QUE SE VÊ.

VIDA QUE SEGUE SEM BRILHO OU BARCO SEM LUZ OU ARCO SEM SOM OU FÚRIA APENAS SEGUE FIO DO TEMPO RIO ABAIXO .

memória

deriva

raiz matéria

ATÉ QUE UM VÍRUS – UM MINÚSCULO MAS SUPERREPLICANTE FRAGMENTO DE RNA – ASSUMIU O CONTROLE, PRIMEIRO DOS CORPOS, DEPOIS DOS HOSPITAIS E, FINALMENTE, DA PRÓPRIA CIDADE JÁ TÃO COMBALIDA PELA VIRULÊNCIA (TAMBÉM, ULTRARREPLICANTE) DAS REDES SOCIAIS -DIGITAIS E SUAS BOLHAS DE SABÃO BRILHANTE. REPENTINAMENTE, REPTILINEAMENTE, FOMOS LANÇADOS EM UM ADMIRÁVEL MUNDO NOVO QUE COMEÇAVA A ACONTECER, NÃO DENTRO DOS LIVROS NEM NO ESCURINHO DO CINEMA, MAS DIANTE DOS NOSSOS OLHOS (NA VERDADE, DAS NOSSAS BOCAS E DOS NOSSOS NARIZES, SOBRETUDO). SUBITAMENTE (QUE, PAULISTANAMENTE, SE SABE QUE SIGNIFICA SUPER-DE-REPENTE), O QUE ERA DEIXOU DE SER. A CIDADE CONTEMPORÂNEA FOI ANIQUILADA NO QUE TINHA DE MAIS CONTEMPORÂNEO: A ANOMIA NÃO APENAS CONSENTIDA MAS ESTIMULADA PELA POLÍTICA (QUE, COMO SE SABE DESDE PLATÃO, É APENAS UM CAPÍTULO DA ARTE DO CAPITAL). A DISTOPIA EXIGE NORMAS. MESMO QUE ENGENDRADAS PARA SEREM TRAMPEADAS OU USADAS EM FAVOR DE CERTAS VELHAS CASTAS POLÍTICAS.

CUIDA DA SUA VIDA!

CALA BOCA!

A CIDADE É RAIZ E DERIVA.

FURE A BOLHA ENQUANTO HÁ VIDA!

A CASA DELE ERA CERTAMENTE PECULIAR, E JÁ QUE ESSA FOI A PRIMEIRA COISA QUE

FENCHURCH E ARTHUR ENCONTRARAM, SERIA BOM SABER COMO ERA. ERA ASSIM. O LADO DE DENTRO ERA FORA. (...) O QUE HAVIA REALMENTE DE ESTRANHO ERA O TELHADO. DOBRAVA-SE SOBRE SI MESMO, COMO ALGO QUE MAURITS C. ESCHER (SE FOSSE DADO A NOITES DE FARRA, O QUE NÃO É O PROPÓSITO DESTA NARRATIVA SUGERIR, EMBORA SEJA DIFÍCIL NÃO IMAGINAR ISSO OLHANDO SEUS QUADROS, PARTICULARMENTE AQUELE DOS DEGRAUS DESARRUMADOS) PODERIA TER SONHADO.

DOUGLAS ADAMS

É CLARO QUE ERA DO LADO DE DENTRO QUE FICAVA O LADO DE FORA.

DOUGLAS ADAMS M. ESCHER

(...) O LADO DE FORA INSINUA A SI MESMO EM PENSAMENTOS, DESENHANDO UM CONHECIMENTO FORA DE SI, FORA DO QUE É ESPERADO, PRODUZINDO UMA CONCAVIDADE QUE PODE HABITAR – SIMULTANEAMENTE UM DENTRO / FORA OU FORA / DENTRO. ELIZABETH GROZS

VALEU O PEIXE!

[DO LATIM INSINUARE.] INTRODUZIR, FAZER PENETRAR, NO ÂNIMO, NO CORAÇÃO; PERSUADIR. 2. DAR A ENTENDER DE MODO SUTIL OU INDIRETO. 3. INCUTIR O CONHECIMENTO DE; PRETENDER PROVAR. 4. REGISTRAR EM ESCRITURA PÚBLICA. 5. INTRODUZIR, FAZER PENETRAR, NO ÂNIMO, NO CORAÇÃO. 6. INTRODUZIR SUTILMENTE OU DESTRAMENTE. 7. DAR A ENTENDER DE MANEIRA SUTIL OU INDIRETA. 8. DAR A ENTENDER ALGO DE MODO SUTIL OU INDIRETO. 9. INTRODUZIR-SE SUTILMENTE, COM HABILIDADE OU DISSIMULAÇÃO 10. PENETRAR NOS INTERSTÍCIOS, OU POR ELES. 11.

CAPTAR A AMIZADE OU A BENEVOLÊNCIA DE ALGUÉM.

A T A R

A

R

A T A

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EXTREMA ORDEM TRAZ EXTREMA DESORDEM...

ROBERT SMITHSON

dyna mic colla ges

ROBERT SMITHSON A RAZÃO ENTRE ORDEM E DESORDEM É CONTINGENTE.

Recortar é seduzir

dyna mic colla ges

Fernando Fuão

dynamiccollages

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> esqueça a cola mas abuse da tesoura!

casas tomadas

A MAIOR PARTE DOS MEUS CONTOS NASCEU DE MEUS SONHOS E PESADELOS, TODOS ELES FORAM ESCRITOS IMEDIATAMENTE DEPOIS, NUMA ESPÉCIE DE SEGUNDO ESTADO ONÍRICO. SOU DOMINADO PELO AMBIENTE GERAL DO CONTO, SEM SABER DE FATO O QUE VAI SE PASSAR. ESCREVO PARA ME CURAR DE UMA ESPÉCIE DE OBSESSÃO.

SOB CERTA LUZ, SOB CERTO REGIME DE SOMBRAS SOB CERTA LUZ, SOB CERTO REGIME DE SOMBRAS, ENTRE A SABEDORIA DE CERTAS CORES, TODA COISA PODE VIRAR QUALQUER COISA EM APARÊNCIA.

E ASSIM É, SE VOS PARECE, UMA VEZ QUE, COMO SE SABE, NADA É O QUE PARECE SER. INSTAURA-SE, ASSIM, ESSE REINO FANTASMA, DOMINADO PELAS COISAS QUE NÃO SÃO O QUE PARECEM SER. EIS O MOVEDIÇO MUNDO DO QUE NOMEAMOS ARTE. E ARTE É UM POUCO ISSO, TAMBÉM: MÁQUINA DE DESAPARECIMENTO. NO SENTIDO DA CAMUFLAGEM DO SENTIDO QUE SE DÁ AO QUE SE VÊ.

SE O FILÓSOFO É O AMIGO DO CONCEITO (COMO EVOCAVA DELEUZE), O ARTISTA É AMIGO DE QUEM? OU DO QUÊ? OU O QUE É QUE O ARTISTA QUER COM ESSA SUA TEIMOSIA?

quadros em uma exposição*

RENOVAR DIA SOL A SOL DIA RENOVAR EZRA POUND |HAROLDO DE CAMPOS

* MUSSORGSKY, MAS TOCADO POR ELP...

DEIXA EU TE DIZER UMA COISA: SER IDIOTA NÃO É NENHUMA CAIXA DE CHOCOLATE.

FORREST GUMP, ISTO É, WINSTON GROOM

SOLIDÃO, DESORIENTAÇÃO TEMPORAL, CRISE DOS PUDORES, EMERGÊNCIA DOS SURTOS CRIATIVOS...

ALÉM DAS UTOPIAS, AS LUTAS!



CRIAÇÃO E PRODUÇÃO

Reprodução e Distribuição

Número ZERO| outubro 2020