DIVINAS MULHERES

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UEMG - DIVINÓPOLIS CURSO DE JORNALISMO

ANO 01 - Nº01- OUT./2024

PROINPE 01/2024

DIVINAS MULHERES

CARLOS RENAN SAMUEL SANCHOTENE (ORG.)

EXPEDIENTE

UEMG – Unidade Divinópolis

Ano 01 - nº01 - out./2024

Publicação do projeto de extensão “Jornalismo literário: o livro-reportagem como extensão universitária”, desenvolvido através do Edital 01/2024 do Programa Interno de Incentivo à Pesquisa e à Extensão (Proinpe) da UEMG

Realização: Laboratório de Divulgação Científica do curso de Jornalismo

Coordenação: Dr. Carlos Renan Samuel Sanchotene

Diagramação e projeto gráfico: Lucas Henrique Rocha Froes

Revisão: Wesley Jean Vaz

Jornalista responsável: Carlos Renan Samuel Sanchotene (MTb 14758/RS)

Contato: carlos.sanchotene@uemg.br

APRESENTAÇÃO

Divinas Mulheres é um livro-reportagem produzido por futuros jornalistas Nele, histórias de vidas de mulheres mineiras unem-se diante de um mesmo fio condutor: luta, sobrevivência e superação

Que histórias elas carregam consigo? Quais desafios elas tiveram que enfrentar ao longo da vida? Elas sofrem com a ausência de oportunidades? Elas se sentem invisíveis à sociedade? Será que, apesar de tudo, existem histórias de superação?

Quais ensinamentos essas mulheres podem passar para quem está disposto a ouvi-las?

Através desses questionamentos, o leitor encontrará ao longo de seis reportagens, diferentes perfis de mulheres mineiras e diferentes contextos Os textos trazem a experiência imersiva dos jovens repórteres no contexto da narrativa literária Todas as histórias são articuladas com algum aspecto da arte, como música, literatura, pintura, cinema

No primeiro capítulo conheceremos a vida de Andrea, professora mineira, que há 30 anos dedica sua vida à educação Em seguida, Fatão e sua história de luta e superação A história de Tereza é marcada por renúncias e conquistas Já Luana, é uma artista plástica que vive da sua arte Dona Sônia é uma mãe preta que tem sua vida marcada por adversidades Por fim, Katiuscia é uma jornalista que carrega as marcas da violência no corpo

Assim, Divinas Mulheres nos conduz a uma reflexão, preenche lacunas, dá voz a diferentes pontos de vista e contribui para a formação crítica do cidadão

Carlos Renan Samuel Sanchotene

Professor do curso de Jornalismo da UEMG - Divinópolis

CAPÍTULO 1

MULHERES NA LUTA PELA EDUCAÇÃO

KAMILLY LARYSSA CASTRO FERREIRA

MARIA EDUARDA EMÍDIO

SARAH FARIA SANTOS

Historicamente, homens e mulheres sempre ocuparam papeis distintos na sociedade Aos homens, cabia tradicionalmente a tarefa de prover, enquanto às mulheres era atribuída a responsabilidade pelo cuidado da família e do lar O trabalho remunerado e o desenvolvimento de uma carreira não eram incentivados para as mulheres e, muitas vezes, eram até condenados

A partir de meados do século XIX, com a industrialização e as consequências econômicas e sociais das Grandes Guerras, houve um aumento na participação feminina no mercado de trabalho A legislação trabalhista, tentando acompanhar as mudanças sociais, foi se adaptando com a inclusão de dispositivos e previsões que visavam à "proteção" do trabalho da mulher Contudo, essa proteção focava especialmente nas questões reprodutivas e familiares que, em certos momentos, resultou em discriminação e dificuldades na contratação de mulheres As diferenças no tratamento do trabalho feminino pela legislação refletem as desigualdades estruturais da sociedade entre homens e mulheres, resultando em lutas contínuas e multifacetadas em diversos aspectos da vida das mulheres. A busca por espaço e igualdade no mercado de trabalho é marcada por conquistas, desafios e reconhecimento.

No campo da educação, existe uma história de perseverança e coragem. Desde os primórdios, as mulheres enfrentaram barreiras significativas para acessar a educação e, posteriormente, para se tornarem educadoras e pesquisadoras. Ao longo do tempo, a determinação feminina tem sido crucial para a transformação desse cenário, promovendo a inclusão, a igualdade de oportunidades e a valorização da educação como um direito fundamental.

As conquistas, até aqui, são resultado de décadas de mobilização e esforço coletivo. É a história de mulheres reais que desafiaram os destinos impostos e escreveram sua própria história. É a representação genuína do poder do papel social do “ser mulher”, especificadamente, neste contexto, na luta pela educação.

A educação nas telas do cinema

ARQUIVO PESSOAL DE ANDREA, CRECHE COMUNITÁRIA PEQUENO ALEXANDRE, 1999

Como representação de um grande símbolo de mulheres batalhadoras, a personagem Dora, interpretada por Fernanda Montenegro no filme Central do Brasil, dirigido por Walter Salles e exibido em 1998, é uma professora aposentada que trabalha na estação de trem que leva o título do filme Na estação, a professora é escritora de cartas para pessoas analfabetas no Rio de Janeiro Ela escuta diversas histórias de pessoas cheias de esperanças e sonhos, desde declarações de amor até cartas com indagações e revolta de pessoas que foram abandonadas As cartas saem do Rio e vão para diversos estados do Brasil

Logo no início, Dora conhece Josué e sua mãe, que morre saindo da estação É lá que a professora acaba se comovendo com a criança e decide ajudá-lo a encontrar seu pai, que pelas pistas que sua mãe ainda viva deu, ele morava em Pernambuco Foram longos dias de viagem até o destino final, com diversos desafios Com recursos já escassos, Dora teve a ideia de trabalhar como escritora no Nordeste, o que teve uma grande procura pela população nordestina Antes de estrear, no dia 3 de abril de 1998, o filme foi exibido em festivais da Europa e Estados Unidos Tornou-se um marco na história do cinema nacional, contribuindo para a retomada de produções relevantes no país Além disso, recebeu diversas premiações no mundo todo, sendo indicado ao Oscar no ano seguinte

A ficção por meio das telas de cinema é um reflexo da realidade Assim como Dora, a professora belorizontina Andrea Alves de Oliveira Vitorino, de 49 anos, também se dedica à educação Ela atua desde 1994 A psicopedagoga, desde então, se aprofunda na pedagogia através dos estudos, sempre buscando se profissionalizar Atualmente, cursa pós-graduação em neuropsicopedagogia

DIVINAS MULHERES

Andrea não queria ser professora. Seu antigo desejo era ser dentista, mas infelizmente não tinha condições financeiras de pagar o curso. Então, fez o magistério e se apaixonou pela psicologia. Com brilho no olhar, ela conta que se encontrou na profissão e se apaixonou pela educação. A professora segue um lema em que acredita que professores devem ser ouvintes dos alunos.

Em 30 anos de profissão, Andrea já presenciou inúmeros momentos em diversas situações, mas alguns acontecimentos a marcaram de formas mais impactantes, como o seu primeiro contato com a educação em uma creche que atendia crianças em vulnerabilidade social. Alguns desses casos marcantes foi o de uma criança que desmaiou de fome em seus braços na sala de aula. A professora recorda que durante seu trabalho na creche municipal da cidade, havia um aluno que não recebia a devida atenção alimentar em seu lar e, infelizmente, chegou ao ponto de desmaiar em circunstância da fome. Para ela, isto era algo que só via acontecer na televisão e nunca havia vivenciado este tipo de situação, pois era algo fora de sua realidade.

Além deste caso, Andrea lembra de outra história que a marcou de forma expressiva. É o caso de um aluno adolescente do 6º ano que causava muitos problemas na escola, inclusive relacionados à agressão contra colegas de turma e professores. Andrea conta que no primeiro contato com o aluno buscou conhecer a história do adolescente que vivia em um ambiente familiar problemático, tendo o pai e mãe presos por tráfico de drogas. Observando o comportamento do aluno, ela notou que ele gostava muito de música e sempre estava com um aparelho tocando canções. Então, Andrea usou dessa paixão do adolescente para o encantar com o estudo através de escritas de músicas para que ele pudesse aprender. Assim, transformou um aluno problemático, que não sabia escrever, em um aluno esforçado que conseguiu dominar a escrita e escrever canções que gostava.

Além de creches, Andrea trabalhou em outras instituições de educação, como escolas municipais e estaduais Desde os anos 90, presencia muitos desafios dentro do ambiente escolar, e sempre busca adaptar sua forma de ensino de acordo com a necessidade da criança Um desses desafios exigiu que a professora enfrentasse as próprias regras da escola, em 2016 lecionando para uma turma do 4º ano Ela trabalhou com vários alunos com dislexia e foi contra todas as regras impostas na escola para oferecer um ensino funcional para esses alunos, de forma que eles apreciassem o conhecimento escolar de acordo com suas necessidades Ela ressalta que trabalhou de uma forma personalizada com cada aluno e caminhou contra um sistema escolar de forma que pudesse formar estes alunos na educação básica E conseguiu

Andrea conta que aprendeu muito durante sua jornada profissional, e recorda de algumas situações mais severas que atingia de forma preocupante seus alunos

“Em minha trajetória trabalhei em um ambiente que a realidade das crianças era muito diferente da minha, e eu as via sofrerem com a vulnerabilidade social em níveis extremos Um exemplo disso, e que sempre me lembro, era de uma escola municipal em um bairro carente Eu observava que os alunos tinham medo de chuva e, ao procurar saber o motivo, descobri que para eles o significado da chuva era uma possível destruição de suas casas, pois eles sabiam que se chovesse, seus lares ficariam alagados Em tempos chuvosos, já tive alunos levados pela chuva nas vilas em que moravam Alguns ficaram internados por muito tempo em razão desta situação Era uma realidade muito triste e diferente de tudo que já havia presenciado”, recorda

ARQUIVO PESSOAL DE ANDREA, ESCOLA CEI HELEY DE ABREU, 2024

ARQUIVO PESSOAL DE ANDREA, CRECHE COMUNITÁRIA PEQUENO ALEXANDRE, 1999

Educação: paixões e desafios

Apesar de ter vivido tantas situações desafiadoras, Andrea evidencia o sentimento pela educação e ressalta que ama estar no ambiente escolar Em seus 30 anos na educação, viu a discrepância social na sua frente Já trabalhou e viveu esses nuances em várias escolas, públicas e particulares Vivenciou, assim, o contraste dessas situações em salas de aula

Para todos os seus alunos, Andrea ensina que o conhecimento é sempre uma riqueza própria, e trabalha a autoestima da criança repetindo frases como: “estudar é o caminho”, “você é capaz”, “você consegue” A professora menciona que motivar as crianças a acreditarem em si e que a educação transforma vidas é combustível para que elas entendam a importância do conhecimento

Uma mulher de muita fé, a professora diz que dia após dia a razão de sua motivação dentro da educação é Deus, e que para ela o senhor de sua fé a capacita Além da religiosidade, o ponto mais importante para a sua profissão são os estudos contínuos e destaca que procura sempre a prática da leitura cotidiana e a busca de conhecimento, se atualizando no mundo da educação em suas diversas peculiaridades

A sua rotina é muito agitada, e seus planejamentos de aula devem ser sempre preparados antes de lecionar Então, ela necessita se organizar com antecedência, assiste muitos vídeos educacionais e faz leituras dinâmicas para promover um

ARQUIVO PESSOAL DE ANDREA, ESCOLA CEI HELEY DE ABREU, 2024

ensino especial, do uso de recursos para promover um ensino que consiga ser inclusivo. Andrea observa que recebe muitos alunos com transtornos do espectro autista. Ela destaca que a escola e o governo não oferecem condições para o desenvolvimento dessas crianças. Segundo a professora, é essencial observar os alunos e entender o que eles gostam para que possa saber conduzir com excelência o ensino para as crianças, como no caso de crianças autistas.

Andrea explica que as gerações mudaram e o espaço escolar se tornou um lugar onde muitos pais não aceitam as regras da própria escola. Para ela, o respeito com o ambiente escolar também mudou negativamente. “Percebo que os pais não apresentam a consciência do que é o intuito da escola e confundem o trabalho de educação escolar dentro da instituição para as crianças com a educação de vivência básica e aprendizado de comportamento. Sinto que as famílias não instruem de forma adequada as crianças, e esse tipo de educação ministrada no lar atrapalha o ambiente escolar, e culmina na falta de respeito das famílias com os professores”, desabafa.

O ambiente familiar pode moldar as crianças, e um ambiente não tão estruturado pode afetar as crianças. Andrea afirma que a construção das regras escolares é essencial para lidar com os problemas e costumes carregados de casa, desconstruindo práticas que não são viáveis na escola. Para ela, a conversa e a escuta são essenciais para identificar e resolver esses problemas com os próprios alunos.

Andrea diz que as crianças trabalham muito os sentimentos e vivências através de desenhos e brincadeiras, e que é possível identificar situações como o da violência dentro de casa. Foi assim que ela percebeu um caso de uma criança de 4 anos que usava folhas de papel para reproduzir a prática da preparação de drogas para venda. Ao saber mais sobre a história e composição familiar da criança, descobriu que o pai vivia do tráfico e embalava drogas ilícitas em casa para serem vendidas, e a criança sempre estava presente nesses momentos.

Outro caso que a professora lembra foi o de um aluno que se tornou violento na escola. Ao descobrirem, a criança presenciava a violência doméstica em casa - o pai agredindo a mãe. O aluno presenciou, inclusive, o pai quebrar o braço da mãe, o que impactou no comportamento da criança na escola. Atualmente, Andrea trabalha em uma escola com alunos em situação de vulnerabilidade social, onde as mães ganham a vida como garotas de programa e pais que estão no tráfico. A professora explica que não se deve interferir no ambiente familiar e que a prioridade e o foco para ela são o ambiente escolar.

Mas em casos extremos, é feita uma reunião com os responsáveis da criança para dialogar sobre as condutas

Em relação ao investimento educacional por parte dos gestores e poderes públicos, Andrea avalia que o governo precisa investir em materiais pedagógicos nas escolas para que os profissionais tenham a oportunidade de desenvolver de forma significativa a educação das crianças Na atual instituição em que trabalha, na cidade de Ibirité (MG), ela cita a precariedade da estrutura da educação na cidade, uma situação que é bem diferente da capital Belo Horizonte, onde lecionou por 27 anos Andrea destaca que os investimentos através do município nas escolas são mais significativos, mas o investimento do estado nas escolas estaduais é escasso, fato que prejudica o ensino e o trabalho dos profissionais da educação

Andrea Vitorino é uma mulher mineira que luta pela educação desde 1994 Assim como a personagem fictícia de Central do Brasil, ela acredita que a educação é a maior ferramenta de transformação na vida do ser humano, é uma conquista pessoal que nada e ninguém tem o poder de tirar

CAPÍTULO 2

VÓ GORDA, MÃE PRETA

“PELO AMOR DE DEUS, VAMOS ACORDAR

VAMOS TER CONSCIÊNCIA NA NOSSA LUTA

PORQUE ELA NÃO PARA”

Nunca vou esquecer quando reencontrei a Fatão. Estava na Casa Coletiva depois de quase dois anos de isolamento e, mesmo nunca tendo sido "das plantinhas", não consegui deixar de notar que o arbusto seco em um vaso na entrada - exibia flores lindas e saudáveis de diversas cores. Tínhamos acabado de almoçar e me sentei com a Juju, para jogar conversa fora. Lembrei do arbustinho e perguntei que mágica tinham feito. Juju deu uma cachimbada tranquila e disse: "Foi uma preta velha cabulosa que teve aqui e jogou uns axés nela...”. Imagina a surpresa quando, depois de um dia longo gravando com a Fatão, estávamos comendo uma feijoada que ela tinha feito e Juju soltou: “Ah! Lembra que cê me perguntou da florzinha? Então, foi ela que fez a macumba...” .

Conhecia a Fatão da época em que trabalhava no Centro de Memória da UEMG –Divinópolis, onde sempre aconteciam oficinas dela. Era cozinheira, quitandeira e artesã, igual à minha vó Gorda. Era baixinha, gordinha e sorridente, igual à minha vó Gorda. Era crítica, afiada e divertida, igual à minha vó Gorda. Cursava História e era o centro das atenções em todos os rolês. Ora bebendo e perdendo a linha, ora dando bronca em quem bebeu e perdeu a linha. Tornava qualquer república insalubre em um ambiente acolhedor só por estar presente.

Fátima passou por todos os abusos impostos a toda "rainha africana brasuca sulamericana". Era semianalfabeta até os 38 anos, quando decidiu estudar e formarse pelo EJA. Ingressou na universidade pública pela ampla concorrência por não conhecer cotas raciais e construiu sua trajetória acadêmica se aquilombando para sobreviver. Dava aulas, desenvolvia projetos e vendia quitandas. Depois de uma vida inteira de fome, era capaz de se desdobrar em mil para ter sempre uma jantinha pronta para receber qualquer irmão passando por alguma dificuldade, igual à minha vó Gorda. Ganhava corações de jovens e velhos, alunos e professores, pobres e ricos, pretos e brancos, igual à minha vó Gorda. Se graduou com louvor e foi convidada a apresentar sua pesquisa de conclusão de curso na Universidade do Porto, em Portugal. Não tinha dinheiro.

Os eventos, caldos, quitandas e oficinas não foram suficientes para bancar nem sua ida, quem dirá sobreviver na colônia Já tinham sequestrado seu povo, estuprado suas ancestrais, roubado todo o ouro do pindorama e deixaram as cicatrizes mais cruentas que o homem é capaz de causar Agora queriam levar outra riqueza afro-brasileira, mas o que eles mesmos criaram não deixou

Eu tinha viajado mais de 300 km e ainda estava na metade do caminho O assunto com meus pais havia se esgotado Lembrei de um review que tinha visto uns dias atrás, baixado e ainda não escutado A obra de arte era o primeiro álbum pós morte da Elza Soares, No Tempo da Intolerância Coloquei meus fones e comecei Logo na introdução, já clamava por justiça Ganhou minha atenção À medida que escutava, imaginava aquelas exatas palavras na boca da Fatão Mensagens afiadas sobre intolerância, coragem e resistência, tão acolhedora, educadora Preta Não consegui deixar de associar com tudo o que tenho aprendido nos últimos anos

Voltei da viagem e não conseguia parar de imaginar a reação da Mãe Preta ouvindo aquele álbum que eram suas palavras cantadas Como ela ainda estava em recuperação de uma cirurgia, não quis insistir, mas quando sua fisioterapia saiu pelo SUS ficou muito feliz e me chamou para tomar um café Levei as quitandas que ela mais gostava, as mesmas que minha vó Gorda Finalmente, tive a oportunidade de pedir para colocar uma música que tinha certeza que ela iria gostar

Coloquei Mulher Pra Mulher (A Voz Triunfal). Logo, no primeiro verso, ela já estava presa.

“Não tem sido em vão!

A gente vê hoje as mulheres já com mais empoderamento

A mulher já podendo gritar mais

A mulher podendo reivindicar, entendeu?

E tendo hoje o eco de respostas, mais aberto, mais triunfal”

Escutou atenta e a cada frase arregalava mais os olhos. Quando o verso se repetiu largou a broa de milho que mais gostava, a mesma que minha vó Gorda Jogou os braços para cima e começou a cantar em coro. Tenho certeza de que vi uma lágrima tímida escorrer de seu olho.

Terminou de ouvir, limpou os olhos e suspirou. Esperei ela se recuperar e perguntei o que tinha achado A primeira coisa que falou quando se recuperou foi: “Se eu falar que eu sou uma privilegiada, eu tô mentindo pra você gay, porque eu sou uma sobrevivente!”

Qualquer pessoa que conhecesse minimamente a figura, sabia muito bem que a última coisa que ela seria capaz de fazer é romantizar. Abaixou a cabeça pensativa. Pensou por alguns segundos e pediu para ouvir de novo. Na segunda vez, já cantou a música quase toda aos berros Quando terminou, exibia um sorriso leve, como se tivesse colocado muita coisa para fora.

“Quem você pensa que é pra dizer a alguém que pode parir. Onde ela deve ou não deve ir”

Tomou um golinho de café, mordeu a broa e mastigou segurando um risinho e disse: “É Elza. Quando a gente descobre a força que a gente tem, patriarcado não guenta a gente, não”. E deu risada.

A música retratava muito o que ela passou e, ainda passa, mesmo sendo uma mestra do saber Pela falta de reconhecimento, ainda precisava dividir o aluguel de seu barracão para ter onde dormir.

A euforia inicial tinha passado e, agora, se mostrava reflexiva e um pouco abalada. Lembrou de seu filho, que havia casado e dado um neto lindo para ela, mas acabou se tornando distante. Falava baixo. Não quis insistir para não tocar em nenhum ponto sensível. Lembrou de seu período na universidade. Racismo. Misoginia. Etarismo Suspirou

FATÃO PALESTRANDO NO PROGRAMA INSTITUCIONAL ENCONTRO DE SABERES DA UEMG – DIVINÓPOLIS (FOTO: ARQUIVO PESSOAL)

De mulher pra mulher

Como um dos muitos filhos da mãe preta, a carapuça serviu perfeitamente Por mais que tenha consciência de que colaboro com ela em tudo que consigo, senti uma pontada de culpa

Temos o hábito de conversar bastante sobre tudo desde que entrei para seu aquilobamento e sabia que nos últimos anos os abusos que mais tinham atravessado sua vida vinham de mulheres, brancas e pretas, ditas feministas, mas que elas ainda conseguiam compreender suas questões

Alguns meses antes tinha acolhido uma mana. Filha de uma mãe solteira de quatro filhos, criada pela avó, Preta retinta. Tinha conseguido uma boa nota no ENEM e conseguiu o curso que queria. Conseguiu um trabalho precário, mudou-se para a cidade e foi morar em um quartinho de república com duas meninas brancas. Aguentou algumas semanas sem problemas, mas rapidinho estava jantando miojo porque não tinha condições de comer fora e se sentia deslocada em usar a cozinha para fazer comida. Visitou a Fatão em um domingo e, conversando, contou da sua situação. “Eu falei: Opa, vem pra cá, deixa eu te abraçar mana. Comida eu dou conta de te dar uai. Enquanto você não tiver eu vou aí, colaborando com você”.

Mudou-se para o quartinho onde era a dispensa do coletivo até conseguir alguma coisa melhor Poucas semanas depois conseguiu uma bolsa de iniciação à docência e saiu do trabalho Passou a ser mais uma das muitas que aproveitavam da sua bondade Dormia até tarde, quando estava em casa só queria saber de telefone, não ajudava mais nas obrigações da casa Sempre que íamos fazer comida para os irmãos da rua aparecia um trabalho da faculdade atrasado Lavava o prato que comia e voltava para o quarto Não passou muito tempo e conseguiu uma vaga em república e se mudou Sumiu por quatro meses

Logo após fazer a cirurgia, outra mana que colava com o Coletivo precisou dormir lá por uns dias O contrato do apartamento onde morava havia vencido e o local para onde se mudaria ainda ia demorar um mês para ficar vago Seria perfeito, pois a Fatão estava precisando de companhia durante a noite para aliviar o revezamento que suas filhas estavam fazendo

Na primeira semana foi perfeito Na segunda semana, de réveillon, chegou bêbada e apagou três dias seguidos Na terceira, dormiu com o namorado um dia e deixou a Fatão sozinha em casa, de novo Nessa noite, sentiu muita dor e não tinha com quem contar Quando o apartamento desocupou e foi se mudar, conversaram sobre o período juntas Ao falar o que sentiu por estar sozinha algumas noites, a mana retrucou Argumentou que aquele mês estava ajudando no aluguel, tinha esse direito, e não podia parar sua vida por ela

“O mínimo que as mulheres brancas tinham que fazer era nos acolher toda vez que nos veem dificuldade ( ) Acolher com amor e com respeito Agora conversa não enche barriga”

Apesar de ainda estar se graduando, a mana branca já trabalhava e ganhava relativamente bem Estava numa fase de aproveitar a vida, não se preocupar muito

“Ah, mas que tem mulher branca pobre, tem Eu sei que tem Mas se ela sair arrumadinha para arrumar um serviço ali e for eu e ela, ela pega o serviço e eu fico pra trás, entendeu?”

Sua perna começou a doer e precisou deitar Levantou-se meio chorosa Me lembrei da noite em que perdi minha vó Gorda Engoli o choro e perguntei se ela estava bem, se precisava de alguma coisa Fez que não com a cabeça e suspirou

“Eu não precisava passar por tanto abuso que eu passei na vida Se eu tivesse a consciência de hoje, já tinha perdido o meu réu primário há muito tempo”

Deu uma gargalhada e entrou mancando pro quarto

CAPÍTULO 3

TEREZA E SUAS PEDRAS

MATHEUS ANTÔNIO VIEIRA

MARIA RAQUEL DE RESENDE TEODORO ANA BEATRIZ DE OLIVEIRA VITORINO

Nascida em Pitangui, no centro-oeste de Minas Gerais, Tereza Luciana de Faria Nicolau é uma de vinte dois irmãos. Filha de Maria Vasconcelos Faria e José Modesto Faria, começou a trabalhar aos quatro anos de idade ao lado dos irmãos para ajudar a família. Tarefa que, apesar de muito difícil, ela lembra com saudade. Atualmente, aos 59 anos, Tereza é trabalhadora do setor de limpeza da Universidade do Estado de Minas, em Divinópolis. Sentados em roda, nós três e Tereza, ouvíamos ela contar suas pedras.

Uma estrada,

Uma dessas pedras, foi abandonar Pitangui, onde vivia o restante da família Se mudaram para Pará de Minas em busca de trabalho e vacinas, quando ela ainda era bem jovem A região é próxima da capital Belo Horizonte, permitindo que tivessem acesso à vacinação Na década de 1970, a epidemia de meningite assombrava o país A doença havia pegado dois irmãos, deixando um com sequelas, até hoje “Tivemos que mudar para Pará de Minas, devido ao acesso a essas vacinas Lá, pegávamos o transporte da prefeitura e íamos para Belo Horizonte nos prevenir”, lembra Em 2007, se mudou para Divinópolis para viver com o marido Alexandre Nicolau, com quem tem um filho, Gabriel Eles estão casados há 30 anos

Uma casa,

Morando em casa com dezessete deles, Tereza lembra com nostalgia sua juventude e convívio com os irmãos. De manhã, eles levavam café para os pais na cama. Para ela, um sinal de respeito, frequentemente suscitado em sua fala. Os irmãos ainda dividiam todas as tarefas domésticas: lavar a roupa no rio, cozinhar, pegar frutas no mato. Os mais velhos, saiam para trabalhar. Não havia brigas entre eles.

“Fazíamos muita bagunça Mamãe custava dar conta de nós Entrávamos nos córregos, subíamos nas árvores, corríamos na chuva, tínhamos uma vida muito saudável Uns lavavam as roupas, e outros faziam a comida Isso tudo para nós era diversão O mais bonito disso é que não haviam brigas, éramos muito unidos Dormíamos todos juntos Cinco em uma cama, quatro em outra e, assim íamos”, conta

Em 1969, com apenas quatro anos, Tereza saía à rua para vender doces feitos pela própria mãe, junto com os irmãos Era uma das formas de complementar a renda da casa Nós ouvimos todo seu relato, enquanto ela mantinha um semblante tranquilo e feliz relembrando esses momentos Tereza olha para seu passado com apego, apesar de todas as dificuldades vividas pela família No meio daquela roda era difícil encontrar um equilíbrio entre o que sentíamos com sua história, e a forma no qual ela nos contava: feliz e nostálgica Sua menor preocupação eram as pedras que atravessaram sua vida Ela queria transmitir um ensinamento, sobretudo

Um leito,

Ao falar dos pais, Tereza se emociona. O seu pai era o principal provedor da casa, e trabalhava como pedreiro. Ela conta que ele chegou a se formar como chefe de obras pelo Instituto Universal Brasileiro, através do ensino à distância do Correios, na década de 1960. À mãe, o trabalho cabia cuidar dos dezessete filhos, incluindo o seu irmão debilitado pela meningite. Tereza nos revela que os outros cinco irmãos haviam falecido ainda no útero. Tradicionalmente, famílias católicas costumam enumerar os filhos independente do nascimento, justificando porque nos contou sobre os vinte e dois filhos. A família vivia em uma casa de dois cômodos, incluindo a avó de Tereza. Vinte pessoas. Ela relata que era comum ter que racionar comida entre eles. A mãe Maria, que era a cozinheira da casa, ainda ensinou os filhos a compartilhar o que tinham com os demais, o que transformou a lembrança amarga em lição: doar-se e ser gentil. A família lhe ensinou a compartilhar o pouco que tinha, inclusive a comida, com àqueles que precisavam. “Herdei isso dos meus pais, sempre dividimos tudo. Quando minha mãe fazia biscoitos, os vizinhos também ganhavam”, comenta.

Tereza é uma mulher muito religiosa. Os pais são figuras a serem respeitadas, e para ela Deus foi seu guia perante as dificuldades enfrentadas. “Com Deus, a gente pode tudo. E honra pai e mãe, que é a única coisa que a gente tem, infelizmente. A vida da gente não foi fácil, mas muito bonita”, relata com os olhos cheios de lágrimas.

COLEÇÃO DE FOTOS DO ARQUIVO PESSOAL DE TEREZA.

Os companheiros,

Tereza foi a única da família a completar o ensino médio, depois dos 20 anos À época do ensino fundamental, estava grávida do seu filho Gabriel Ao comentar sobre o marido e o filho, sua voz fica estremecida, prestes a chorar Seu maior orgulho é ter construído um mundo junto ao marido, no qual o filho pode completar a educação básica “Meu filho é o amor da minha vida, farei tudo por ele, sempre”, conta

Gabriel tem 22 anos, e foi morar com sua tia no exterior O que também desperta outra fragilidade de Tereza, a saudade Ela ri, e diz: “sou milionária” Ela se refere ao sucesso de sua família, incluindo os irmãos que também melhoraram suas

condições de vida Uma irmã que vive no exterior, e cada um dos irmãos que possuem casa e carro próprio

Entre pedras,

Remover pedras e plantar roseiras nas dificuldades da vida, foi algo que aprendeu em meio a lágrimas e sorrisos ao longo de sua trajetória. Há pouco mais de um mês, Tereza descobriu um nódulo na região da garganta e terá que passar pelo procedimento de radioterapia. Embora seja um processo delicado e exaustivo, ela não se deixa abalar. “Isso aqui não tem nada, é só um procedimento. Eu já sei que estou curada, Deus já me curou. Ele me curou, antes mesmo do diagnóstico”, afirma.

Tereza sabe o que está por vir, mas, através de sua fé, demonstra uma positividade perante os acontecimentos. “Sei que onde há Deus, há preparação para tudo. Já disse para o médico que ele terá orgulho de mim. O que eu tenho que passar, ninguém nessa vida passará por mim, porque isso já estava escrito na linha da minha vida. Tenho muito o que viver ainda pela frente (risos)”, diz.

Tereza nos mostra que, embora sejam difíceis as pedras da vida, precisamos enfrentar cada desafio. Pois, todo o percurso nos torna mais fortes e mais preparados para o futuro.

Cresceu a minha poesia

No tempo livre, ela produz arte a partir de materiais recicláveis O lixo vira ornamentos, caixas, molduras, e flores de papel Tudo o que ela aprendeu, aprendeu sozinha “Eu sou artista”, explica Além de ser mãe, filha, irmã, e esposa, Tereza sonha nas brechas de suas horas vagas em conquistar uma graduação Ela se anima e conta que gostaria de cursar Serviço Social para ajudar as pessoas ou Mate

Matématica, para se tornar uma professora “Sempre tive vontade de fazer serviço social para ajudar ainda mais as pessoas Eu amo ajudar, ajudo dentro da universidade e ajudo lá fora também”, relata

Tereza tem orgulho em dizer que é concursada como auxiliar de limpeza e como é gratificante para ela poder atuar nessa profissão “Os alunos são os meus filhos, amo muito tudo isso”, afirma Assim como a poeta Cora Coralina que transformou pedras em poesia, Tereza as transforma em ensinamentos E, não há dúvidas que viverá no coração dos jovens

CAPÍTULO 4

AS CORES DE LUANA

A manhã de sábado era tranquila. O céu ensolarado acima das pequenas casas em frente a uma estrada de chão, parecia sempre igual. Porém, dentre tantas casas, uma se destacava. E se destacava pela vida das notas musicais que dela saíam. Enquanto todos passavam pela calçada, podiam ouvir a doce melodia do violão que o pai tocava, enquanto a avó, ex-atriz do cinema mudo, ia para frente e para trás em sua cadeira de balanço, apreciando a música. Já a pequena Luana dançava, acompanhando o ritmo de seu pai.

Sua família sempre foi muito ligada à arte e à cultura; o amor e a necessidade de expressar suas emoções e pensamentos corriam por suas veias. Isso não a impediu de ser uma criança, de viver sua infância como qualquer outra, brincando de subir em árvores e aprendendo a montar em um cavalo.

Conforme a pequena Luana crescia, ela se descobria mais e mais como mulher e artista. Guiada pelos passos de seus familiares das artes musicais, ela inicialmente começou a trabalhar como produtora musical. Durante a pandemia de covid-19, com todos confinados dentro de casa, a artista se viu determinada a dedicar 100% do seu tempo à sua carreira como artista plástica. Em 2021, Luana Pozzolini abriu seu próprio ateliê de pintura.

Natural da Cidade do Divino (MG), a artista de sensibilidade única sempre teve gosto pela música. Por volta do ano de 2004, começou a trabalhar com produção artística, produzindo a cantora e compositora mineira Dorothy Ferreira. Em 2006, seu trabalho tomou uma proporção maior e ela passou a exercer a atividade com o Grupo Elas, de Divinópolis. Em 2007, assessorou o CD Impressão Musical de Dorothy e, em 2008, produziu o show de lançamento do primeiro trabalho autoral do Grupo Elas, o CD Elas Em Canto, no Teatro Municipal Usina Gravatá. Num show emocionante, o detalhismo da produção chamou a atenção de todos, destacando a capacidade profissional de Luana perante o público, músicos e a imprensa. Já em 2010, alçando voos ainda mais altos, ela acompanhou a produção da Banda Gang Lex, da empresa Lex Luthor Produções e Eventos, a convite do artista e empresário Sávio Fernatti.

LUCAS GONÇALVES RIBEIRO MARIANA VELLOSO

Expandindo ainda mais seus conhecimentos, trabalhou numa megaestrutura com 28 profissionais em sua equipe de produção A Lex Luthor, com 17 anos de mercado, tornou-se referência em todo o Brasil em grandes shows e espetáculos

Realizando o sonho da pequena Luana, agora já adulta, estreou sua participação em exposições, comemorando uma data tão importante para as mulheres e ainda poder contribuir com uma entidade social, tinha um grande significado “Quero levar um pouquinho de colorido para a praça e poder contribuir com o Centro Espírita Jesus de Nazaré, que tem feito um importante trabalho social em Divinópolis”, explica a artista

A pequena Luana agora cresceu e se formou em Pedagogia e Educação Inclusiva, pós-graduada em Educação Especial e Inclusiva, trabalhou 12 anos na área cultural de Divinópolis, em grupos e bandas musicais, produção e gestão cultural Desde pequena, ela já se encantava com o mundo das cores; os lápis de cor eram seus companheiros de brincadeira na escola primária Cada cor era uma possibilidade, uma porta para um mundo novo E assim, apaixonada pelas infinitas nuances das tintas, Luana mergulhou no universo das artes plásticas Ela seguia seu instinto dando asas à imaginação Cada pincelada era um voo, cada tela, uma

s Seus quadros não cias, sentimentos e ores, ela acreditava razendo um brilho a eu lado criativo Vejo um brilho a mais para diz Luana, enquanto

DO ARQUIVO PESSOAL DE LUANA DIVINÓPOLIS - MG

FOTO

Cores e inspirações

A cada dia sua paixão pelas artes visuais se aflorava. Sendo grande fã das cores, logo se identificou com Pollock, Romero Britto, Eduardo Kobra e, principalmente, Van Gogh. Assim, percebeu que esse deveria ser o caminho certo a seguir.

Jackson Pollock, nascido em Wyoming nos Estados Unidos, é uma das principais referências no movimento expressionista abstrato, corrente artística surgida na década de 1940 durante o período da Segunda Guerra Mundial, e que possui características muito específicas, como a criação espontânea, o subjetivismo, a emoção. Além de características de outros períodos artísticos, como o expressionismo alemão, o cubismo, o surrealismo e elementos da vanguarda. A arte de Pollock busca combinar a simplicidade com a pintura pura, com características monumentais em suas obras de maiores dimensões, além de um forte uso de “gotejamento”, técnica que é bastante presente nas obras de Luana, buscando criar padrões imprevisíveis em sua arte por meio do derramamento de tinta sobre a tela.

Romero Britto é um dos artistas plásticos brasileiros mais conhecidos e renomados no mundo inteiro, produzindo quadros para personalidades como Michael Jackson, Madonna e Dilma Rousseff. Sua arte é destacada pelo forte uso de cores vibrantes, buscando criar uma atmosfera alegre em seu trabalho, sendo considerado uma das figuras mais famosas no movimento Arte Pop, que busca reproduzir temas relacionados ao consumismo, a publicidade e o estilo de vida americano. Seu uso de cores vibrantes é a influência mais notável nos trabalhos de Luana, e estão presentes em todas as suas obras.

Eduardo Kobra, por outro lado, se destaca em outro ramo das artes, o grafite. Nascido em São Paulo, ele é considerado um dos maiores muralistas do mundo ganhando reconhecimento por seu trabalho, que busca abordar temas relacionados ao meio ambiente, como o combate a pesca predatória, o aquecimento global, as poluições da água e do ar, o desmatamento, o repudio ao garimpo ilegal etc. Seu estilo é marcado pelo uso de pintura 3D, que busca “enganar os olhos” de quem aprecia a obra criando um efeito de profundidade. O dinamismo em seu trabalho é a influência mais notável nas pinturas de Luana, que também busca criar um efeito de transposição e desencaixe.

Van Gogh, em contrapartida, não requer explicações, sendo um dos artistas plásticos mais famosos da história, e uma das figuras mais influentes da arte ocidental, e do período do pós-impressionismo.

O feminino é uma expressão colorida

Em um mundo predominantemente masculino como o das artes, claro que Luana, assim como toda mulher, se sente orgulhosa de ter conquistado o seu espaço e não tem medo de fracassar, pois apesar da falha parecer dolorosa, a dor da desistência se mostra muito maior e persistente, e que persegue a todos com a probabilidade do “e se?”

Assim como Luana, a artista Tarsila do Amaral foi criada em uma fazenda, por uma família que sempre foi ligada às artes, cresceu ouvindo a mãe tocar piano e o pai recitar poemas em francês, idioma que aprendeu desde muito cedo Tarsila que mesclou as tendências da arte moderna da Europa com as suas ideias sociais e cores mais vibrantes e nacionais, se tornou a artista plástica feminina mais importante, criando o quadro mais valioso da história do Brasil

Tarsila fazia parte de um grupo chamado O Grupo dos Cinco, onde também conheceu outra artista plástica muito famosa, Anita Malfatti Anita também teve muito contato com o mundo das artes, pois sua mãe dava aulas de pintura e de idiomas Considerada pioneira da Arte Moderna no Brasil, Malfatti reuniu, em 1917, 53 de suas obras com forte tendência expressionista, a fim de expor individualmente em São Paulo na “Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti”. Mesmo que sua primeira exposição individual tenha ocorrido em 1914, a pintora só ficou conhecida em 1917, devido a uma crítica negativa feita pelo escritor Monteiro Lobato. Apesar do ambiente das artes ser predominantemente masculino, isso não impediu que Malfatti se tornasse percursora da Arte Moderna no Brasil.

E, para todas as mulheres que se identificam com Tarsila, Malfatti ou Luana Pozzolini, ela reflete: “Atuar em um mercado de trabalho predominantemente masculino, como o das artes, sendo mulher, já é, por si só, arte.”

CAPÍTULO 5

O QUARTO DE DESPEJO DE SÔNIA

Essa é a história de uma mulher negra enfrentando situações adversas, lutando por sua vida e buscando dignidade em meio à pobreza e à marginalização Essa narrativa está presente no livro "Olhos d'água”, da escritora mineira Conceição Evaristo e no livro “Quarto de Despejo”, da escritora Maria Carolina de Jesus Em “Olhos d'água”, personagens negras são silenciadas pelo racismo, pelas imposições econômicas e condições degradantes de trabalho

As mulheres são as personagens centrais desse contexto de desigualdade social Já em “Quarto de Despejo”, Carolina relata sua vida, suas dificuldades e de um modo detalhado, conta sua rotina ao tentar sobreviver no meio onde vive - a extinta favela de Canindé, dos anos 50 Um “diário” lançado em 1960 se torna atual para dona Sônia, em 2024

Nascida em 1972, Sônia Aparecida Zacarias, também conhecida como dona Sônia, teve uma infância difícil Nascida na cidade de Divinópolis (MG), aos quatro anos de idade seus pais decidiram se mudar em busca de novas oportunidades Foi morar em uma cidadezinha chamada Paracatu, no triângulo mineiro junto a seus sete irmãos

Vivia em um barracão sem ter acesso à energia elétrica Por ser a filha mais velha, tinha a função de cuidar de todos os outros irmãos quando seus pais estavam trabalhando Quando criança, criava artesanatos para brincar E, aos nove anos, teve sua infância interrompida O pai, que sempre teve atitudes violentas, chegou em casa e começou a discutir com sua esposa Sônia recolheu seus irmãos e os levou para um quarto do barracão, a fim de que eles não presenciassem a briga e ficassem assustados

Ao voltar para ver se a discussão tinha encerrado, presenciou a morte de sua mãe Seu pai desferiu 52 golpes de faca em sua mãe, vítima de um feminicídio, e fugiu Sem reação, Sônia ficou parada, vendo o crime acontecer A polícia só chegou ao local cinco horas depois do ocorrido Trataram o caso como se fosse algo normal

Disseram que tentariam fazer alguma coisa para ajudar Mas nunca fizeram

Na sua adolescência, Sônia voltou para Divinópolis e foi morar com seus parentes, onde precisava trabalhar como doméstica para sustentar seus irmãos. “Eu saía para trabalhar na casa dos outros e era muito difícil. Naquela época, se eu quebrasse um copo na casa dos donos eles me batiam e descontava do meu salário ainda por cima. Eu era muito nova e aceitava, pois precisava do emprego”, lembra. As violências vividas no emprego também se repetiam quando chegava em casa, o que fez com que ela perdesse a essência de viver sua adolescência.

Aos 17 anos, engravidou de sua primeira filha, que se chamava Priscila Mara. Ela era deficiente auditiva e, aos 35 anos de idade, viria a falecer por uma parada cardiorrespiratória, o que fez com que dona Sônia desistisse de lutar, pela primeira vez. “Eu estava em casa me arrumando para sair para um show. Foi quando ela entrou e escorou na parede tendo dificuldade para respirar e caiu nos meus braços. Ali, eu senti que a Priscila estava sem vida. O SAMU demorou muito, uns 30 minutos. Ficou eu e a Priscila no sofá, eu a chamei, mas senti que ela já estava sem vida. Do mesmo jeito que ela veio ao mundo, ela se foi, no meu colo”, recorda.

Nos relacionamentos que teve, até então, passou por experiências de humilhações, abusos e violência doméstica. Seu último relacionamento durou 18 anos e dele vieram dois dos seus cinco filhos. Assim como nos outros relacionamentos, o pai a abandonou com as crianças ainda pequenas. Com isso, ela teve que sair do seu emprego formal, que lhe demandava horário comercial, e voltou a trabalhar como doméstica - que tinha horário mais flexível, pois não tinha onde deixar seus dois filhos pequenos. Trabalhando como doméstica, conseguia levá-los, já que os donos da casa não estavam na residência.

“Passei a vida inteira trabalhando. Nunca desisti de nada. Tudo que coloquei como meta na minha vida eu tive: minha casinha, meu carro. Mesmo que ele mal funcione, está lá firme, parado, mas eu consegui. Vejo que apreciei a vida apesar das minhas dificuldades. Me diverti, dancei bastante, beijei muito na boca, mesmo trabalhando muito para os outros”, relata.

Sônia sempre esteve em seu quarto de despejo. As dificuldades e vulnerabilidades voltaram depois dos filhos criados. Aos 53 anos de idade, dona Sônia ainda continua buscando seu lugar na sociedade, enfrentando todas as situações adversas e lutando por uma vida melhoria. Acorda às 3h da madrugada para dar faxina em salões de festas e casas de alunos universitários. Muitas vezes, só com o café da manhã na barriga e sem almoço. Não pode reclamar, pois na sua idade é difícil arrumar um emprego formal.

COLEÇÃO DE FOTOS DO ARQUIVO PESSOAL DE DONA SÔNIA.

“Eu trabalho para acabar de pagar o túmulo da minha filha, já que ninguém me ajuda, eu tenho que dar um jeito. É difícil porque tenho que manter minha casa, mas pra Deus nada é impossível. O rapaz vem me buscar às 3h da manhã para limpar o Fazendão sozinha. Eu lavo tudo, recolho todo o lixo, cato as latas que sobram e, por volta das 13h da tarde eu acabo. Venho andando de lá até o centro para pegar o ônibus. Um dia, eu caí sozinha e não tinha ninguém para me ajudar. Achei que ia morrer antes de ver meu filho formar, mas estou aqui, de pé, firme e forte”, explica.

A vida de Sônia nunca foi fácil. Mas ela nunca imaginaria que, após tantos acontecimentos, as coisas poderiam piorar. Morando em casas populares, e lutando todo dia, ela nunca demonstrou estar cansada. Para ela, a maior luta são os filhos criados. “Filho criado é trabalho dobrado. O meu mais velho foi preso e eu passava a maior humilhação para visitá-lo. Hoje, ele fala que não pedia para ninguém ir visitá-lo. O outro, só lembra de mim na hora do aperto, com as pensões atrasadas. A mais nova, eu queria que conversasse mais comigo e o outro, é mais na dele, estuda, trabalha, mora sozinho e vive na dele. Eu larguei minha vida por eles, e alguns não largam a vida um minuto por mim”, diz.

Ela sonha com o dia que não vai precisar lutar mais para sobreviver. Formada em curso técnico de farmácia, nunca teve oportunidade de atuar na área. Relata que as pessoas não dão oportunidade. Mesmo assim não reclama. Quando era pequena, ouvia os contos de fada e sonhava também em ter um castelo e um príncipe encantado.

Queria, também, viver feliz para sempre. Mas veio a vida e mostrou que não seria bem assim. Hoje, mesmo com todas as adversidades, dona Sônia descobriu que o “felizes para sempre” é uma luta diária e uma superação constante. Para ela, a vida parece um ciclo e, mesmo na maturidade, volta a ser aquela adolescente assustada, em busca de objetivos. Às vezes, sem ter para onde ir, mas querendo crescer e continuar sonhando.

CAPÍTULO 6

180 GRAUS CONTRA A VIOLÊNCIA

JOÃO BORELA

JONNY REISLE

TÚLLIO VIRIATO

A arte, ao longo dos séculos, sempre foi uma ferramenta para externar problemas que ocorrem diariamente na sociedade. Filmes, pinturas, obras literárias ou canções feitas com o intuito de propagar mensagens socioculturais, geralmente constroem uma conexão com inúmeras vidas que se identificam com o assunto abordado. A música “180”, do DJ Alok, não é uma exceção. Lançada em 2021, ela direciona um holofote ao debate sobre a violência contra a mulher, problemática essa que impacta milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Uma delas é Katiuscia Freitas, jornalista e mãe de quatro filhos. Ela enfrentou ao longo dos mais de quarenta anos de vida inúmeros relacionamentos tóxicos, que a deixaram marcas físicas, mentais e espirituais, que permanecem até hoje.

Ninguém manda no seu coração

Atualmente, essa frase é bem aplicada ao modo de vida que Katiuscia escolhe seguir. Dona de suas próprias escolhas, independe de terceiros na criação dos filhos, ela decide quais rotas seguir. Quando jovem, Katiuscia entrou na vida adulta e se relacionou com o homem que viria a ser o pai dos seus dois primeiros filhos. Casou-se com ele antes da maioridade, e os anos juntos com ele a marcaram eternamente. Katiuscia foi criada em uma escola de freiras, ensinada a abaixar a cabeça para àqueles do sexo oposto, o que foi corroborado pelo pensamento desse ensino também ser similar no ambiente familiar. A jornalista cresceu em um ambiente machista, onde violências, abusos e a subordinação aos homens eram normais, e justificados pela superioridade que a eles era atribuída.

Em mulher não se bate nem com flor

Mergulhada há anos neste primeiro casamento, os traços que Katiuscia via em casa começaram a acontecer com ela Não apenas os abusos físicos, mas também outros tipos de violência, especialmente o psicológico e o patrimonial, além de inúmeros casos de traição Comentários sobre sua aparência, satisfação da libido do marido, e os constantes sumiços dele colocaram Katiuscia em um limbo, um váco

vácuo solitário, em que ela não possuía suporte de basicamente ninguém, e perdia uma guerra constante com seus pensamentos, que eram alimentados pelo ambiente familiar construído no casamento. A ciência de que estava em um relacionamento tóxico veio à tona anos depois, quando ao adentrar à faculdade, Katiuscia teve o autoconhecimento do que realmente ocorreu com ela. A autoestima deteriorada, os traumas físicos e mentais, e a relação com os filhos foram todos tópicos que se desenrolaram por anos, e que Katiuscia aprendeu a conviver, por mais que alguns resquícios ainda estejam presentes, até hoje, no cotidiano da jornalista.

Vi meu herói se tornando um vilão

Após conseguir uma escapatória do primeiro casamento, Katiuscia foi em busca de uma coisa: independência Preferia distanciar-se da vida amorosa à época, seu desejo por ter filhos foi dizimado após a perda da guarda para o ex-marido Então ela foi atrás de uma faculdade, e cursou jornalismo Em meio a esse percurso, ela encontrou um homem, e viu nele um caminho para conseguir seu objetivo

Esse namorado a ajudava, contribuía para que ela terminasse a graduação tão sonhada Portanto, Katiuscia se encontrava novamente em um relacionamento, este que começou bem, mas que rapidamente rumou a uma destinação já conhecida Ela via essa nova subordinação a abusos sexuais, violência física e psicológica como um sacrifício para alcançar o diploma, que já conseguia sentir com a ponta dos dedos, mas a relação não podia continuar Foi nesse momento que algo inesperado aconteceu O pai de Katiuscia, machucado ao ver o estado da filha, propôs a ela uma escapatória Com lágrimas nos olhos, ela aceitou largar o relacionamento, e seu pai arcaria com a parte financeira da faculdade Anos depois, o pai de Katiuscia faleceria, sofrendo com a depressão

Marcas que esse falso amor te trouxe

“Ele tentou me matar! Teve um dia que estávamos dentro do carro e ele falou que queria me matar. Foi quando ele acelerou o carro, se jogou dele em movimento e o carro bateu. Naquele dia eu quase morri. Levei vários pontos em todo meu corpo, eu achei que ia morrer”, recorda.

Após, finalmente completar o curso de jornalismo, era a hora de Katiuscia seguir o caminho que quisesse, não fosse por Julya, sua terceira filha, fruto do segundo namoro. Recém-formada e mãe solteira, Katiuscia a criou sozinha, já que o pai se envolveu em diversos casos policiais, alguns expostos pela própria em denúncias para a polícia. O objetivo da jornalista era fazer do futuro da filha um lugar onde ela não ganhasse as marcas, dores e traumas sofridas pela mãe. Queria que ela fosse uma pessoa independente, destemida e corajosa. As trajetórias que Katiuscia seguiu a colocaram na linha de fogo, várias vezes. Enfrentou tentativas de assassinatos em um acidente de carro proposital, abortos espontâneos. As marcas são parte do que a definem. 32 DIVINAS MULHERES

ela não ganhasse as marcas, dores e traumas sofridas pela mãe. Queria que ela fosse uma pessoa independente, destemida e corajosa. As trajetórias que Katiuscia seguiu a colocaram na linha de fogo, várias vezes. Enfrentou tentativas de assassinatos em um acidente de carro proposital, abortos espontâneos. As marcas são parte do que a definem.

Depois que ela se libertou

Katiuscia construiu uma noção de todo mal direcionado a ela anos depois de libertar-se do primeiro relacionamento A jornalista pôde construir o seu futuro ao ter um melhor olhar do passado, entendendo um pouco mais sobre si e criando um autoconhecimento sobre os crimes cometidos ao longo da vida Essa noção foi inflada especialmente após a entrada dela na faculdade, e esse processo da reconstrução da autoestima, felicidade e dignidade da jornalista progrediu Iniciou terapia, afastou-se de relacionamentos, e focou em si, em suas vontades próprias Concursada, entrou para a assessoria da Prefeitura de Divinópolis (MG), e é uma das personalidades dos meios de comunicação mais respeitadas da cidade Em meio a reconstrução deste autorretrato, a criação de uma nova filha, e a perseguição da independência financeira, Katiuscia alcançou algo inigualável, a quebra da corrente Alcançou inúmeros objetivos por conta própria, desmembrouse de relacionamentos tóxicos e tomou ciência do que eles significam, desvinculou-se do machismo implementado em todo lugar durante seu crescimento, e hoje luta contra ele

O que muitos anos teve de aguentar silenciosamente, Katiuscia tenta espalhar o máximo para conscientizar àqueles em volta dela, inclusive Matheus, seu filho mais novo Ela o cria com o intuito de moldá-lo para ser o oposto daqueles homens que conheceu ao longo da vida Mateus, para ela, é mais um desafio que veio inesperadamente, mas que foi aceito de braços abertos, e como uma forma de deixar no mundo um legado de toda luta, sofrimento e superação Katiuscia, hoje, é uma das líderes de um programa contra o abuso no trabalho, feito por servidoras da prefeitura Participa de várias rodas de conversas sobre o tema, e procura dar a quem precisa a ajuda que nunca recebeu da família Já abrigou pessoas que sofreram de violência sexual em sua própria casa, além de ajudar ao máximo amigas

“Teve um momento em que acolhi na minha casa uma vítima de abuso, coloquei ela dentro da minha casa porque quando eu precisei, ninguém fez Infelizmente, não tive a melhor experiência porque ela me roubou, mas sei que aquilo foi importante tanto para ela quanto para mim”, recorda

DIVINAS MULHERES

Ela tem consciência de que essa corrente só será quebrada na sociedade se esse recado se expandir para todos os indivíduos, independente de gênero, raça ou classe social. “Hoje percebo que sofri abuso a vida inteira, desde quando era criança, sempre passei por essa situação. Lembro de amigos do meu pai e tios me colocando no colo e passando a mão em mim. Nada explicito, mas você sabe quando acontece”, lembra.

Esse fato moldou as próximas duas décadas da vida da jornalista, que se traumatizou e submeteu aos maus tratos em relacionamentos. Ela tem ciência de que é uma das exceções à regra, pois quebrar o ciclo, especialmente na época e ambiente em que viveu, é uma exclusividade de poucas mulheres. Com o passar do tempo, esse assunto tornou-se mais comum em plataformas de maior alcance, mas casos de feminicídio ainda são múltiplos diariamente, e isso só mudará com a ajuda de todos. Esse é o papel da arte, passar uma específica mensagem para a população. E, a música 180, do DJ Alok, é um exemplo do que deve ser feito para que a igualdade de gênero seja a realidade, e não a utopia.

FOTOS DO ARQUIVO PESSOAL DE KATIUSCIA. DIVINÓPOLIS - MG

Realização:

Programa Interno de Incentivo à Pesquisa e à Extensão (Proinpe) Edital 01/2024

Projeto de extensão “Jornalismo literário: o livro-reportagem como extensão universitária”

Coordenação: Carlos Renan Samuel Sanchotene UEMG – Unidade Divinópolis

Curso de Jornalismo

Ano 01 - nº01 - out./2024

Laboratório de Divulgação Científica do curso de Jornalismo da UEMGDivinópolis

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