Parte 3 - portfólio de Cristina Moreno de Castro

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S EXTA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2010 Q

Joel Silva/Folhapress

Estudantes reunidos no vão do Masp, centro de SP

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Estudantes protestam contra Enem, descaso e quase tudo CRISTINA MORENO DE CASTRO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não há dúvida de que eles querem protestar, mas a discussão se prolonga na hora de definir contra o quê. Os estudantes de ensino médio de São Paulo se reuniram na tarde de ontem para dar corpo a um movimento

que surgiu na internet, em uma comunidade do Orkut, por causa da indignação comum contra falhas no Enem. A “Proteste Enem 2010” foi criada na segunda à noite e, no início da noite de ontem, já possuía 5.345 membros. E são organizados: criaram tópicos e enquetes para marcar protestos em 19 Estados. No

Rio, será hoje, às 13h30. Os 35 estudantes paulistas de 17 a 22 anos que se reuniram por duas horas no vão do Masp, na Paulista, discutiram uma longa pauta sobre como será o protesto da próxima segunda-feira, às 15h. Eram principalmente de cursinhos particulares, como o Etapa, Objetivo e Anglo,

mas também havia representantes de escolas públicas. Dos tópicos votados, apenas a cara pintada (de amarelo, cor da prova que teve mais problemas) não foi bem acatada pelo grupo. Mas a maioria votou pelo uso de traje preto (“luto”), nariz de palhaço, mochila nas costas, hino (a música “Até quan-

do”, de Gabriel O Pensador) e o grito de guerra —“Contra o descaso na educação e dignidade para a população”— sinal da abrangência da causa. Fazem questão de frisar que, em relação ao cancelamento do Enem 2010, não são “contra nem a favor”, o que é a maior divergência do grupo. A maioria, no entan-

to, concorda que a ideia do exame é boa. Ambicionando parar a Paulista, com apoio de artistas e da imprensa —discutiram até o discurso a adotar com jornalistas—, eles vão descer a avenida Consolação e retornar ao Masp. “Queremos chamar a atenção do governo”, resume a criadora da comunidade do Orkut, Laryssa Valverde, 19. Colaborou FELIPE CARUSO , do Rio

Edital do Enem ajudou empresa, diz gráfica

Concorrente alegou que exigências não eram ‘imprescindíveis’ na disputa, mas Inep não aceitou argumentos Procurador federal investiga a licitação; RR Donnelley venceu todas as licitações do Inep neste ano FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO

O processo de escolha da gráfica que imprimiu o Enem 2010 favoreceu desde o início a empresa vencedora, afirmou uma das concorrentes. Um procurador federal investiga essa licitação.

MEC afirma que exigências foram discutidas antes DE SÃO PAULO

www.

Em resposta ao pedido de mudança do edital para o Enem, a área técnica do MEC disse que as exigências não apresentavam “nada de extraordinário”. E que os critérios de segurança foram “amplamente debatidos” após o vazamento do Enem em 2009. A gráfica RR Donnelley foi procurada ontem, mas não retornou até o fechamento desta edição. Também ontem, em nota, o MEC disse que as exigências do edital foram discutidas em audiência pública. E que não houve contestações, “o que inclui a Gráfica Plural [parceria do Grupo Folha e da Quad Graphics]”. A pasta diz que estuda sanções à RR Donnelley devido aos problemas de impressão.

Logo após o lançamento do edital, em junho, a Posigraf (do Grupo Positivo) pediu impugnação do processo, alegando que parte das exigências não eram “imprescindíveis” para a disputa e que havia “fundado receio de que apenas a RR Donnelley” atenderia aos pedidos. A alegação não foi aceita pelo Inep (órgão de avaliação do Ministério da Educação), que entendeu que as exigências eram necessárias devido à segurança. A Posigraf desistiu do processo. Na disputa, a gráfica Plural [parceria do Grupo Folha e da Quad Graphics] ofereceu o melhor valor, mas o Inep alegou na Justiça que a empresa não conseguiu comprovar capacidade técnica para a impressão com “sigilo e segurança”. A Justiça aceitou a argumentação, e venceu a RR Donnelley. A multinacional admitiu que errou na impressão de 21 mil provas. Esse é um dos problemas que levou a Justiça a suspender o exame. Além do Enem, a RR Donnelley venceu mais duas licitações do Inep deste ano. Deve ganhar a quarta, em processo a ser finalizado hoje. Marinus Marsico, representante do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, pediu explicações ao MEC sobre dois dos contratos —o do Enem e dos pré-testes para o Enem. A licitação do segundo chegou a ser suspensa por 14 dias. “Foram processos um pouco conturbados. Quero avaliar o que ocorreu.” O Ministério da Educação e a RR Donnelley se aproximaram após o vazamento do Enem de 2009 (impresso na Plural). Escolhida emergencialmente, a RR Donnelley imprimiu a segunda versão. Antes do vazamento, o ministério contratava, por meio de licitação, um consórcio, que escolhia a gráfica.

LICITAÇÕES NO INEP Empresa que errou a impressão de parte das provas do Enem ganhou todas as licitações neste ano RAIO-X Prova

Vencedora

Pré-teste de itens para o Enem

RR Donnelley

Enem

Valor esperado pelo Inep Valor ganhador R$ 291 mil R$ 980 mil

RR Donnelley

R$ 70,8 milhões R$ 68,8 milhões

Enade

RR Donnelley

R$ 9,2 milhões R$ 7,5 milhões

Encceja (certificação de jovens e adultos sem diploma)

Resultado deve sair hoje (RR Donnelley ofereceu o melhor preço)

Não divulgado R$ 4,9 milhões (oferecido)

Como foi A Speed faz a melhor oferta, que é recusada. A Indústria Gráfica Brasileira (2º melhor preço) diz não ter condições de atender as regras e vence a RR Donnelley

FUNDAÇÃO Chicago,

Gráfica Plural faz a melhor oferta, mas o Inep recorre na Justiça. A VMI, 2ª colocada, diz não conseguir baixar seu preço e desiste; vence a RR Donnelley

UNIDADES Três no Brasil

Editora Paranaíba oferece melhor preço, mas desiste. Vence a RR Donnelley

45 mil funcionários

Duas empresas disputam o pregão. A RR Donnelley oferece o melhor preço. Inep pede diminuição dos custos e adia o pregão para hoje

Faturamento anual de

em 1864

FILIAL Chega ao Brasil

em 1995

(Barueri - SP, Osasco - SP e Blumenau - SC). Todas com certificação de qualidade ISO 9001

no mundo todo

R$ 7,2 bi (mundial)

AGU recorre de decisão da Justiça Polícia Federal não vê indício de Federal do CE de suspender a prova vazamento do tema da redação LARISSA GUIMARÃES DE BRASÍLIA

A AGU (Advocacia-Geral da União) recorreu ontem da decisão da Justiça Federal do Ceará de suspender o Enem. O órgão não informou quais argumentos usou no recurso, mas tem defendido que é contra convocar todos os 3,3 milhões de estudantes que fizeram a prova, mas apenas os “poucos” prejudicados pelos erros do exame. No sábado, primeiro dia da prova, parte dos exemplares saiu com folhas repetidas ou erradas. No cabeçalho da folha de respostas recebida por todos os alunos, o espaço para o gabarito das questões

de ciências da natureza estava incorretamente identificado como ciências humanas. O MEC diz que, entre 21 mil provas com problemas, só localizou, até agora, 200 estudantes em todo o país que não tiveram seus exames trocados de imediato. Para estes, o ministério programa a realização da nova prova —com mesmo grau de dificuldade, diz a pasta— nos dias 4 e 5 de novembro. Ontem, no Twitter, o ministério pediu desculpas “pelos termos pouco elegantes” usados em outra mensagem, na qual acusou participantes da prova “que já dançaram” de tentar tumultuar a aplicação do exame.

DE BRASÍLIA

FÁBIO GUIBU

ENVIADO ESPECIAL A PETROLINA (PE)

De acordo com a Polícia Federal, até o momento, não há qualquer indício de crime no suposto vazamento do tema da redação do Enem. Um estudante de Petrolina (780 km de Recife) relatou à Folha, na condição de não ser identificado, que quando chegou ao local onde faria a prova, se deparou com alunos dizendo que o tema da redação seria escravidão. O trabalho escravo foi o título de um dos textos de apoio da redação, cujo tema foi “O trabalho na construção da dignidade humana”.

A PF ouviu, desde anteontem, seis pessoas na cidade, entre alunos e professores. Ontem, o estudante se reuniu com a diretoria da escola onde estuda e, segundo a Folha apurou, reafirmou que soube do tema ao conversar com outros alunos. Ele foi acompanhado por seu pai na reunião. Assim como a escola, os dois se recusaram a dar entrevista. À Folha o aluno havia afirmado ter ouvido que o vazamento ocorreu no Piauí, em São Raimundo Nonato (546 km de Teresina). A coordenadora de aplicação do Enem no local, Rosa Maria de Oliveira, 55, negou o vazamento na cidade.


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