Caldas da Rainha - luta coordenada contra a diabetes

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Doenças vasculares subdiagnosticadas e subvalorizadas

Nelson Pires Jaba Recordati com ADN e cultura portuguesas

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Publicações

www.justnews.pt

dos cuidados de saúde primários Nesta edição:

Diretor: José Alberto Soares Mensal • Julho 2016 Ano IV • Número 38 • 3 euros

Constituída por uma equipa que representa duas gerações, a USF D. Francisco de Almeida vai permitir reduzir em 40% o número de utentes sem médico de família numa região com elevado nível de envelhecimento. _ P. 16/18

Abrantes já tem USF

Inaugurada pelo ministro da Saúde

Luís Campos Doentes crónicos não podem continuar a ser tratados através das urgências _ P. 4

DOSSIER Eficácia dos contracetivos de longa duração é superior a 99%

Caldas da Rainha Luta coordenada contra a diabetes _ P. 20/21

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Laboratórios clínicos esperam mais estabilidade para o setor

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8.º Encontro Nacional das USF _ P. 25/31 Nota:

Este Jornal Médico inclui uma “capa falsa” patrocinada pela Boehringer Ingelheim.


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Reportagem Ucfd do ACES Oeste Norte/CHO-CR Unidade Coordenadora Funcional da Diabetes (UCFD) do ACES Oeste Norte/Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha

Falta de recursos não impede que equipa dê o melhor Falta de recursos, de um Hospital de Dia e de uma Consulta de Pé Diabético, multidisciplinar e não apenas da Enfermagem, são os grandes desafios a enfrentar pela UCFD do ACES Oeste Norte/UID-Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha. Nada que impeça os profissionais de darem o seu melhor e de acreditarem num futuro mais promissor. Afinal, os progressos na área da diabetes têm acontecido, de forma mais ou menos célere, como o pode comprovar Manuel Ferreira, utente diabético e ex-enfermeiro diretor do Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha. Manuel Ferreira sofre de diabetes há ano e meio. Não é apenas mais um dos muitos portugueses que descobrem ter a doença, mas o enfermeiro que, durante 38 anos, trabalhou na Unidade das Caldas da Rainha do Centro Hospitalar do Oeste (CHO). “Cheguei a ser enfermeiro diretor, mal sabia que, depois de aposentado, voltaria ao hospital por causa da diabetes.”

hospitalares. “É fundamental o facto de se falar a mesma linguagem e de os procedimentos serem uniformes, só contribui para um melhor acompanhamento dos doentes.” E acrescenta: “Nas aldeias, quem está próximo são os CSP, logo, são estes que têm de dar resposta, nada melhor que haja essa forma igual de trabalhar, para que o utente não sinta diferen-

tão factual. A observação do pé diabético, a avaliação do risco e a educação para a saúde são pontos fundamentais que têm permitido, segundo o Observatório Nacional da Diabetes da Direção-Geral da Saúde (DGS), diminuir as amputações major. A criação das UCFD também otimizou o trabalho feito nesta área. Quer no ACES Oeste Norte como no CHO – Caldas da

Rainha garante que a aposta na diabetes é cada vez mais forte com a UCFD, embora já antes se desse atenção a esta patologia. “Os cuidados aos diabéticos sempre foram prestados nas nossas unidades, quer num registo mais individual (porventura, em modelo mais “antigo”), quer numa dinâmica de equipa, em que o médico se organiza com o seu enfermeiro de família e juntos definem um plano conjunto de cuidados e de educação para diabéticos.” Quanto à educação para a saúde, sempre existiu algum enfoque nesta doença e, apesar de o médico de Saúde Pública Jorge Nunes fazer parte da equipa da UCFD, “não há nenhum representante específico na área da educação para a saúde, dado que todos os profissionais – principalmente os dos CSP – fazem desse investimento uma mais-valia real para os verdadeiros ganhos em saúde”. Como acrescenta Marta Félix, “representantes na educação para a saúde somos todos!”

profissionais. “A afetação de recursos humanos que permitam assegurar o número de profissionais previstos (que ainda não está completo) e o alargamento das equipas às restantes áreas multidisciplinares, como Nutrição e Podologia, é o nosso objetivo.”

Lúcia Mota Enfermeiro/diabético | Manuel Ferreira voltou ao CHO, onde trabalhou 38 anos como enfermeiro, por causa da diabetes

Sabendo bem o que implica esta doença sistémica e crónica, tenta cumprir tudo com rigor. “Com esforço e dedicação, é possível manter os valores controlados. Comecei por ter 10 de HbA1c e já estou nos 5/6, controlando a alimentação, praticando exercício físico, vindo sempre às consultas.” Para Manuel Ferreira, este empenho em controlar a diabetes fá-lo sentir-se satisfeito com ele próprio, mas não só. “Não se trata apenas de ver que cumpri com os objetivos e que assim tenho o problema controlado, mas também é uma maneira de dizer aos meus colegas de profissão que o seu trabalho vale a pena.” Olhando para a realidade atual da diabetes, considera que a criação das UCFD veio trazer uma melhor comunicação entre cuidados de saúde primários (CSP) e

ças e possa aderir melhor à terapêutica.” Olhando para outros anos, sente-se muito satisfeito como enfermeiro e como utente pela evolução que vê na Diabetologia. “A evolução foi muito significativa e, agora como doente, estou descansado, até me veem o pé!” Os procedimentos sofreram, de facto, algumas alterações significativas. “Lembro-me que a diabetes era acompanhada, sobretudo, nos CSP, quando se chegava ao hospital a situação era sempre muito grave. Muitos pés chegavam em situação de gangrena e só havia uma solução: amputar.”

Faltam recursos, mas motivação mantém-se Com a maior aposta na prevenção da diabetes, amputar já não é uma realidade

Rainha, o pé é observado a nível hospitalar e também nos CSP. Na UCSP Bombarral existe mesmo uma sala com o equipamento necessário para que se possa avaliar e tratar o pé. Muitos dos casos que eram enviados, há uns anos, para o hospital já são seguidos nos cuidados primários. Fungos nos pés, unhas micóticas e encravadas, pequenas feridas e úlceras são tratadas por profissionais formados em pé diabético na UCSP. Esta é uma das unidades do ACES Oeste Norte que tem uma melhor adequação de recursos, em termos de material específico para a consulta do pé diabético, além das de Peniche, Alcobaça e algumas na zona das Caldas da Rainha. Marta Félix, coordenadora da UCFD do ACES Oeste Norte/CHO – Caldas da

Marta Félix

Mesmo assim, o ACES Oeste Norte, no seu Plano Local de Saúde 2014/2016, liderado pela Unidade de Saúde Pública, priorizou a diabetes com dois relevantes projetos: um primeiro, de sensibilização e formação dos profissionais de saúde e utentes, e outro de identificação precoce de fatores de risco. As atividades destes projetos já foram alvo de uma primeira avaliação em janeiro de 2016, “com resultados bastante positivos”. Uma aposta que vai continuar no futuro, que se espera vir a contemplar mais

Na Enfermagem também são precisos mais recursos humanos, como aponta a enfermeira Lúcia Mota, representante da Enfermagem nos CSP na UCFD. “O enfermeiro é um dos elementos que enfrenta os constrangimentos de todos e que se prendem cada vez mais com questões orçamentais e que exigem aptidões de otimização/rentabilização de recursos, de modo a manter o mesmo nível de exigência e qualidade com menos.”

Futuro deve passar por um Hospital de Dia e pela consulta multidisciplinar do pé diabético Na Unidade Integrada da Diabetes (UID) do CHO – Caldas da Rainha, os constrangimentos também assentam, sobretudo, na falta de profissionais que se possam dedicar à diabetes. A coordenadora da


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Reportagem Ucfd do ACES Oeste Norte/CHO-CR

de si

UID e médica internista Manuela Ricciulli sublinha que “nem sempre se consegue ter o número suficiente de pessoas com formação em diabetes, quer para darem apoio à Consulta de Diabetes, quer para observação e tratamento do pé diabético, para o rastreio e tratamento da retinopatia diabética, bem como na área da Nutrição.” E continua: “Não dedicamos o nosso tempo apenas à UID, trabalhamos todos para o hospital, logo, é preciso prestar apoio em vários serviços, nomeadamente no Internamento e nas Urgências.” No caso da Oftalmologia, há três anos que se conseguiu alguém para dar resposta às várias necessidades. Contudo, a equipa de cuidados oftalmológicos não consegue ainda realizar todos os rastreios necessários para prevenir e detetar atempadamente a retinopatia diabética. “Vamos devagarinho, mas já existem algumas mudanças progressivas. Acredito que esta realidade possa melhorar”, afirma Manuela Ricciulli. Os doentes que não conseguem fazer o rastreio no hospital são encaminhados para outras instituições, como a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal

Manuela Ricciulli

(APDP), com a qual os CSP estabeleceram um acordo de cooperação. A criação da UCFD é uma mais-valia para a coordenadora da UID, por permitir maior comunicação entre profissionais de cuidados primários e secundários. Mas ressalva que a atenção ao diabético já acontecia antes da UCFD/UID. “Já existia uma equipa multidisciplinar na Unidade de Diabetes, composta por vários profissionais, como médicos internistas, enfermeiros, uma enfermeira com formação em Podologia, dietista, psicóloga e oftalmologista.” Além da atividade assistencial habitual no seguimento de qualquer diabético, continuam a realizar-se atividades de educação para a saúde, nomeadamente no Dia Mundial da Diabetes, que se assinala a 14 de novembro. “São essenciais para alertar que o aparecimento da diabetes pode ser evitado, praticando um estilo de vida saudável, e para a importância do bom controlo da doença, diminuindo o risco de aparecimento de complicações, evitando internamentos, reduzindo os custos diretos e indiretos desta patologia, quer para a sociedade em geral, quer para o próprio doente. ”

mais acessíveis e que também permitem evitar úlceras e outras complicações.” Esta consulta também existe, nos mesmos moldes, no CHO – Peniche, que também pertence a esta UID/UCFD. “Falamos todos a mesma linguagem, os procedimentos são uniformizados, porque só assim se consegue dar o melhor acompanhamento às pessoas com diabetes.” Quanto às sessões de educação para a saúde, Elsa Ramos defende que se deveria ter mais tempo para as ações em grupo. Mas, para isso, é preciso ter mais recursos. “Não estamos apenas a trabalhar no âmbito da equipa UID/UCFD.” Independentemente das dificuldades com recursos humanos, toda a equipa está satisfeita com o empenho dos vários profissionais. Manuela Ricciulli garante que “estão todos muito motivados, inclusive alguns internos.” A coordenadora da UID ressalva ainda que o trabalho desenvolvido pela equipa engloba também formação, realização de trabalhos científicos, apresentados em eventos nacionais e internacionais, assim como publicação de artigos científicos, o que exige muita dedicação e muito trabalho “fora de horas”. “Todos pensamos no melhor para o doente.” No futuro, o grande desafio é a cria-

ção de um Hospital de Dia e a Consulta do Pé Diabético multidisciplinar, “que vai ajudar os doentes e reforçar o trabalho da equipa da UID/UCFD”. A nível dos CSP, Marta Félix também está satisfeita com a vontade e a motivação de todos os que contribuem para a luta contra a diabetes e com a própria UCFD e espera que este modelo de cuidados venha reforçar cada vez mais o apoio que se dá aos diabéticos. E que os próximos tempos também tragam mais recursos humanos.

Enquanto as equipas não são reforçadas, continua a dar-se o máximo apoio possível a quem se deparou um dia com o diagnóstico de diabetes. Independentemente dos recursos, Manuel Ferreira e os outros pacientes podem ficar descansados, porque toda a equipa que integra o modelo UCFD garante que vai lutar por melhores cuidados. Não esquecendo, contudo, que o doente e a família são uma das partes da luta contra as comorbilidades da diabetes.

UID | Manuela Ricciulli e Elsa Ramos com a restante equipa

Testemunhos

Gostar dos médicos e dos enfermeiros, mas com dificuldade em mudar estilos de vida Ana Cristina Gomes 63 anos, Famões

António Domingos 60 anos, Delgada

Maria Emília Monteiro 57 anos, Caldas da Rainha

António Eduardo 64 anos, Santa Susana

“Sempre tive assistência médica e não tenho razão de queixa. Descobriram que tinha diabetes há cerca de 2 anos e sinto que me apoiam nas mudanças que sou obrigada a fazer. Tenho de ter cuidado com a alimentação, fazer caminhadas, medir os valores… Não é fácil, mas os médicos e os enfermeiros dão-nos todo o apoio.”

“Sou diabético há 3 anos. Gosto da maneira com sou atendido e é sempre bom vir às consultas e saber o que fazer, como comer… A diabetes não foi uma novidade para mim, porque o meu pai também já tinha esta doença. A picada não custa nada, o pior é caminhar. Nem sempre o faço, mas sinto-me bem…”

“Soube que era diabética há 15 anos, mas só há 4 ando no hospital. Gosto muito da maneira como sou acompanhada. Para mim, não é nada fácil ter esta doença, nem sempre consigo cumprir com o que me pedem. Ando até a ser seguida pelo psiquiatra. Não é fácil…”

“Depois de ter sido internado há 20 anos, descobri que tinha diabetes. Sempre gostei do modo como me tratam, ensinam-me muita coisa. O que mais me custa é fazer caminhadas. Nem sempre há tempo…”

Elsa Ramos

Elsa Ramos, a enfermeira do Serviço de Ambulatório e representante dos cuidados de enfermagem hospitalares na UCFD, também fala da escassez de recursos, mas é com orgulho que apresenta o espaço da Consulta de Enfermagem do Pé Diabético. “Além da observação do pé e do tratamento, o enfermeiro tem um papel fulcral como educador em saúde, envolvendo o utente e a família/cuidador, sempre que possível. Nesta sala ajudamos a salvar pés.” É também preciso ter em conta o contexto socioeconómico de cada pessoa. “Os objetivos a alcançar têm de ser realistas. Não se pode exigir, por exemplo, que uma pessoa com uma situação financeira mais complicada compre sapatos caros, nesse caso tentamos recorrer a outros


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