www.arquisp.org.br | 6 a 12 de abril de 2016
| Análise | 13
mundo mostra Igreja em transformação L’Osservatore Romano
is batizados %, de 2005 a especialmente pela zação na e na Ásia
A Igreja firme na América e na Oceania
No continente americano, poucas mudanças ocorreram nos últimos nove anos, do ponto de vista numérico. A quantidade de fiéis católicos cresceu 11,7%, enquanto a população total da região aumentou 9,6%. “A América continua sendo o continente ao qual pertence quase metade dos católicos batizados”, conclui o documento do Vaticano. A situação é, portanto, tida como estável. Ou seja, a Igreja Católica continua
Católicos com o Papa Francisco na ásia com sua expressiva robustez numérica nas Américas, mas ligou o alerta para as mudanças. Afinal, a tendência no Ocidente, em geral, é de envelhecimento populacional e queda no número de fiéis praticantes. Também na Oceania, as estatísticas mudaram pouco. Os católicos batizados se expandiram menos que a população geral: 15,9% batizados ante 18,2% no total. Porém, o Vaticano avalia a situação como constante. Os batizados na Oceania, um continente pouco populoso, se mantêm em cerca de 0,8% do total de católicos.
Uma Igreja cansada na Europa?
No mesmo encontro, o Cardeal Tagle foi perguntado pelo padre jesuíta Antonio Spadaro, italiano, sobre como enxerga a Igreja na Europa. “Escutei tantas vezes a expressão ‘o cansaço da Igreja na Europa’. Está cansada de quê?”, brincou o Cardeal. “Parece-me que esse cansaço
EUROPA 23% dos batizados de 2014 + 2% de católicos +1,5% de população
RICA % dos batizados de 2014 41% de católicos 3,8% de população
ÁSIA 11% dos batizados de 2014 + 20% de católicos +9,6% de população
OCEANIA 0,8% dos batizados de 2014 + 15,9% de católicos + 18,2% de população * Os percentuais relativos à quantidade de católicos e da população nos continentes são do período entre 2005 e 2014.
Dados: Vaticano / Arte: Jovenal Pereira/O SÃO PAULO
sibilidade asiática. A mesma história [de Jesus] pode ser contada a partir de novos pontos de vista”, afirmou, em evento organizado pela revista jesuíta La Civiltà Cattolica, ao qual O SÃO PAULO compareceu. Naquela ocasião, o Cardeal filipino alertou que essa “narrativa” deve ser construída seja na liturgia e na oração, seja na interação com as pessoas, “especialmente com os mais pobres”. Para isso, é necessário fortificar a identidade da Igreja presente na Ásia. “Em grande parte da Ásia, a fé cristã é considerada uma coisa estrangeira”, disse. Histórias de vida são o melhor modo para demonstrar essa identidade, avalia, defendendo não só a missão ad gentes (para as nações), mas também inter gentes (entre as nações) e “com os povos”.
é motivado pela falta de capacidade de dizer que o Espírito Santo nos convida a uma nova ideia de ser Igreja”, disse, firmemente. “Uma nova forma de ser Igreja termina e outra começa. A Igreja não tem tempo de estar cansada. A cada dia, busca a mão do Espírito que a guia.” As estatísticas mostram também isso. “Embora hospedando quase 23% da comunidade católica mundial em 2014, [a Europa] se confirma como área menos dinâmica em absoluto, com um crescimento de pouco mais de 2% no inteiro período”, observa o Vaticano. Há que se ponderar que o crescimento populacional na Europa também é muito baixo e praticamente equivale aos mesmos 2%. Isto é, em termos numéricos, o catolicismo europeu se manteve estático nos últimos anos, mas com viés negativo. Na prática, a situação é insustentável. A maioria dos católicos tem idade avançada, e, além disso, diminuem a participação nos sacramentos e as vocações religiosas. “Sob diversos aspectos, o Cristianismo é um corpo estranho na Europa”, afirma o cardeal austríaco Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, em livro publicado há dois anos sobre o assunto. “Parece que voltamos atrás, parece que estamos num mundo que é mais ‘pagão’, no qual o estilo de vida cristão praticado por séculos foi esquecido. Hoje dominam a astrologia, o aborto, a superstição e a ganância. Embora os cristãos sejam substancial maioria na Europa, aqueles que o praticam são uma minoria”, lamenta. Mas, ao mesmo tempo, pondera: “É uma situação estimulante e cheia de oportunidades.” Uma crise é sempre uma oportunidade de mudança, avalia Dom Schönborn. E a História já mostrou que, muitas vezes, “a Igreja tem uma capacidade impensável de se renovar”, recorda. “Por que o futuro não poderia nos reservar o mesmo tipo de surpresa que São Francisco de Assis trouxe ao mundo de 800 anos atrás?”
Diaconato permanente: vocação que mais cresce
A dinâmica das vocações religiosas no mundo segue tendência geográfica
parecida com a do número de batizados. Porém, o destaque é para o aumento na quantidade de diáconos permanentes, grupo que, segundo o relatório, apresentou a mais forte evolução. De 33 mil em 2005, chegaram a 45 mil em 2014, um acréscimo de 33,5%. De acordo com Frei José Gabriel Mesa Angulo, doutor em Teologia especializado no diaconato permanente e reitor do Colégio Jordán de Sajonia, na Colômbia, há razões positivas e negativas que explicam o aumento do número de diáconos na Igreja. Entre os aspectos positivos estão “a novidade do ministério diaconal, que há cinco décadas foi restaurado pelo Concílio Vaticano II”, explica. “Hoje existe mais conhecimento e informação sobre o diaconato. Há experiências muito positivas do serviço humilde desempenhado pelos diáconos permanentes em vários lugares do mundo.” Entre os aspectos negativos, segundo o Frei colombiano, estão “a falta de agentes de pastoral comprometidos com a evangelização e o enfraquecimento do testemunho de alguns sacerdotes”. De qualquer modo, houve um claro aumento no número total de sacerdotes entre 2005 e 2014, de 406,41 mil para 415,79 mil, seguindo uma dinâmica parecida com a do número de batizados. Na África, o número subiu 32,6%, e na Ásia, 27,1%. Já na Europa, caiu 8% e, na Oceania, 1,7%. Registrou-se estabilidades nas Américas Central e do Sul, mas leve tendência negativa na América do Norte. Em geral, o número de padres filiados a ordens religiosas diminuiu. O que sustenta o dado total é o aumento nas vocações dos diocesanos. Para as religiosas, em 2014, a Igreja Católica tinha 682,72 mil irmãs, 10,2% a menos que em 2005. Aumentaram as vocações somente na África e na Ásia. “Temos muito o que aprender da mulher, nós religiosos, sacerdotes, bispos e demais servidores da Igreja”, acrescenta o Frei Mesa. “A vida religiosa se renova onde há valentia, novidade, profetismo e capacidade de mudança”, completa.