O São Paulo - 3446

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Que Nossa Senhora Aparecida nos ensine a dizer sim a Deus

Mantendo uma tradição de 122 anos, a Arquidiocese de São Paulo foi em romaria ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no domingo, 7.

“Com Maria, vivamos a nossa vocação” foi o tema que animou os romeiros de diferentes paróquias da Arquidiocese, em sintonia com o 3º Ano Vocacional do Brasil. Eles par-

Francisco propõe o encontro do ser humano com o amor de Deus

ticiparam da missa das 10h, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer. Na homilia, ele destacou que a Arquidiocese de São Paulo foi a Aparecida para pedir a Nossa Senhora, “a vocacionada por excelência”, que a todos ensine a dizer sim a Deus nas mais diferentes vocações.

A romaria também foi ocasião para que

A mensagem do Papa Francisco, para além do óbvio

recém-comemorado

Os 10 anos do pontificado de Francisco são destacados nesta edição do Caderno Fé e Cultura. Em seu magistério, o Papa anuncia que Deus se manifesta nas diferentes realidades cotidianas e que diante dos desafios contemporâneos as melhores soluções partem do amor ao próximo e do respeito à casa comum.

os fiéis rendessem graças a Deus pela superação da pandemia de COVID-19 e agradecessem a intercessão e a ajuda de Nossa Senhora Aparecida na realização do 1º sínodo arquidiocesano, colocando nas mãos da Virgem Maria os propósitos e as preocupações levantados no processo sinodal.

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Encontro com o Pastor

O pós-sínodo deve levar a novas atitudes e ações evangelizadoras

de seu ponti cado, procuramos trazer, para a re - xão, aqueles aspectos menos conhecidos, que fogem

Igreja em missão: a eclesiologia do Papa Francisco Pe. José Ulisses Leva* OEvangelhofoiprimeiroproclamadoporJesus,na PalestinadoséculoI,periferiadoImpérioRomano.A

Editorial

Com Francisco, os sinais do Senhor nas alegrias e nas dores do mundo

Mônica, Rita de Cássia e Gianna Berreta: boas mães e santas da Igreja

SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO Ano 68 | Edição 3446 | 10 a 16 de maio de 2023 www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00 www.arquisp.org.br
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Use o QRCode para CadernoInternet,Cultural com mais artigos links citados. Edição 10 10 de maio de 2023 Num tempo marcado por crises econômicas, tragé- dias migratórias, uma pandemia catastró ca, acir- ramento das polarizações e con itos ideológicos, ganhamos providencialmente um papa que encarna magni camente o espírito cristão de misericórdia e perdão, amor aos
Muito
ele; por isso,
Francisco vem apresentando a Igreja com misericórdia e amor. “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” (Evangelii gaudium EG 1). Carinhosamente, exorta-nos ao dinamismo da Igreja de Jesus Cristo: a propõe “em saída
caminho
Senhor
todos somos
aceitar esta
pobres e aos excluídos, cuidado com o próximo e com toda a criação. Não é à toa que Francisco se tornou, não só para os católicos, mas para o mundo, um sinal de ternura, compromisso so cial e esperança.
se tem dito e escrito sobre
no
décimo aniversário
”. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o
que o
lhes pede, mas
convidados a
propostadoPapaFranciscoéanunciá-loàsperiferias geográ caseexistenciaisdomundodehoje.Aolongo oseumagistério,nãotemditotantascoisasnovas,mas temapresentadoaspalavraseternasdeCristocom novidade.Estátrazendodinamicidadeealegriaao anúnciodoEvangelhodeNossoSenhor. outros propósitos e metas. Ele não nos pede uma corrida desenfreada e sem sentido, mas nos indica que precisa- mos agir com con ança em Deus. Ele nos propõe abertura às indagações e às angústias do homem e da mulher do nosso tempo. Permite e convoca para
Reprodução
Peregrinos de São Paulo participam da missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer na 122ª Romaria Arquidiocesana ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no domingo, 7 Luciney Martins/O SÃO PAULO

Com o encerramento das ações programadas para o sínodo arquidiocesano e a publicação da Carta Pastoral pós-sinodal, no dia 25 de março passado, teve início a fase da recepção do sínodo arquidiocesano. Este foi um exercício fecundo de ver-ouvir-discernir-propor sobre a ação evangelizadora e pastoral de nossa Arquidiocese. Fizemos um bom diagnóstico sobre a nossa situação religiosa e pastoral. Por certo, não se pretende car apenas no diagnóstico, mas partir para novas atitudes e ações, que possam ajudar a alcançar os frutos desejados.

Conservam ainda toda a sua validade a constatação e o apelo dos bispos na Conferência de Aparecida (2007), repetidos depois pelo Papa Francisco (2013): não podemos ir adiante, fazendo de conta que ao nosso redor nada mudou e que tudo continua como sempre esteve na nossa Igreja. Não podemos continuar a fazer uma pastoral de mera conservação; precisamos rever nossos modos de fazer as coisas e dar à nossa ação pastoral uma conotação fortemente missionária.

Os

do sínodo prosseguem

A primeira parte da Carta Pastoral é um convite à Arquidiocese inteira para trabalhar, agora, a “comunhão, a conversão e a renovação missionária” propostas pelo sínodo, priorizando algumas questões como: viver a comunhão eclesial de forma nova; crescer no sentimento de pertença e participação na Igreja; promover uma verdadeira renovação missionária e tornar mais missionárias as nossas comunidades e organizações eclesiais; dar nova valorização à família, como “Igreja doméstica”; priorizar a catequese em todas as fases da vida; recuperar o sentido do Domingo, dia de Deus e da comunidade. Os frutos do sínodo serão alcançados se esses pontos forem devidamente assumidos em todas as expressões da Igreja em nossa Arquidiocese.

A segunda parte da Carta Pastoral traz as propostas sinodais especí cas para as diversas dimensões da vida pastoral, elaboradas pela assembleia sinodal arquidiocesana. Cada grupo ou organismo pastoral na Arquidiocese precisa agora confrontar-se com as propostas, que poderíamos também chamar de “propósitos sinodais”. A partir dessas propostas, muita coisa vai se renovando na vida pastoral da Arquidiocese. Mas o sínodo também propôs

a revisão e atualização de diversos instrumentos pastorais e administrativos de nossa Arquidiocese, como o Plano de Manutenção, o Diretório dos Sacramentos, o Diretório da Formação Presbiteral, entre outros. Vários instrumentos referenciais novos deveriam ser criados, como um Regimento interno da Cúria, um Diretório Litúrgico da Arquidiocese, um Diretório da Vida Pastoral. Foi sugerida a criação de dois Vicariatos para a Arquidiocese: da Pastoral da Saúde e da Pastoral da Catequese. En m, a renovação pastoral também requer a adequação da própria organização pastoral da Arquidiocese, para torná-la mais integrada e funcional. A reorganização pastoral da Arquidiocese na fase pós-sinodal deverá contemplar também a elaboração de um novo Plano de Pastoral para a Arquidiocese, para os próximos anos, que leve em conta as indicações do sínodo.

Para seguir o trabalho com uma metodologia sinodal, foram nomeados e encarregados 12 grupos de trabalho especí cos, que deverão preparar as propostas dos instrumentos administrativos e pastorais que lhes foram pedidos. Esse trabalho será expressão importante da corresponsabilidade pela organização e a vida pastoral da Arquidio-

cese, sobretudo do clero. Os grupos de trabalho deverão levar em conta o grande propósito sinodal, que está expresso no tema do sínodo: que nossa Arquidiocese faça “um caminho de comunhão, conversão e renovação missionária”. Trata-se de uma mística que deve permear a organização, a ação e toda a dinâmica da vida eclesial.

Alegra-nos saber que nosso caminho sinodal arquidiocesano se cruzou com o caminho sinodal proposto pelo Papa Francisco. Ele pede que toda a Igreja seja sinodal – em comunhão, participação e missão. Ser “sinodal” não é algo novo, pois assim foi a Igreja desde os apóstolos. Comunhão, participação e missão zeram parte do ser da Igreja desde as origens, desde que Jesus chamou e formou o grupo dos apóstolos e os enviou em missão.

Com o passar do tempo, issocou um tanto esquecido e a Igreja passou a ser vista mais como uma organização clerical de benefícios espirituais e religiosos. No entanto, ela é o povo de Deus, formado por todos os batizados, chamados a viverem como discípulos, missionários e testemunhas de Jesus Cristo, a santi carem o mundo e a darem testemunho de que o Reino de Deus já chegou.

As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura

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2 | Encontro com o Pastor | 10 a 16 de maio de 2023 | www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br
CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER Arcebispo metropolitano de São Paulo
trabalhos
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Cardeal Scherer participa do encontro do Conselho para a Economia do Vaticano

REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

No início deste mês, o Cardeal Odilo Pedro Scherer esteve no Vaticano para participar do encontro do Conselho para a Economia, do qual ele é um dos membros. O organismo foi criado pelo Papa Francisco no âmbito da reforma dos órgãos administrativos da Santa Sé, e hoje tem como grande guarda-chuva a Secretaria para a Economia, que acompanha e controla os vários órgãos administrativos da Santa Sé.

Em entrevista à rádio Vaticano – Vatican News, Dom

Odilo explicou que “há entre a Secretaria para a Economia e as decisões do Papa – que tem a decisão superior –, o Conselho para a Economia, que acompanha as questões econômicas sem tomar decisões, ele não é executivo”. Trata-se, portanto, de um conselho para o discernimento e para apresentar propostas, sugestões, em vista de decisões a serem tomadas pelo Santo Padre.

Na mais recente reunião do Conselho para a Economia, um dos temas tratados foi a Fábrica de São Pedro, como é mais conhecida a administração da Basílica de São Pedro, que a cada ano é visitada por mais de 20 milhões de turistas.

Questionado sobre como estão as nanças do Vaticano, o Cardeal Scherer lembrou que “a Santa Sé não é uma ilha feliz em um mundo de crise econômica” e, assim, se empenha para manter as contas em dia. “No nal do ano, o orçamento é geralmente no vermelho ou quase no vermelho. Essa situação não é nova e a solução sempre foi a generosidade, com pequenas ou grandes doações dos éis e dos órgãos da Igreja”, detalhou, enfatizando que a Santa Sé se preocupa com a transparência na gestão de suas nanças.

A íntegra da entrevista pode ser ouvida no link a seguir: https://curtlink.com/0CFED5.

CRISMAS NA REGIÃO BELÉM

Na noite do domingo, 7, o Cardeal Scherer presidiu missa na Paróquia Coração Eucarístico de Jesus e Santa Marina, na Vila Carrão, na Região Belém, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 26 jovens e adultos. Concelebraram os Padres Marcos Roberto Souza Oliveira, SAC, Pároco, e Emerson José da Silva, SAC, Vigário Paroquial. (por Pascom Paroquial)

Espiritualidade

REUNIÃO COM O CLERO NO IPIRANGA

Na manhã da terça-feira, 9, Dom Odilo Pedro Scherer participou da reunião geral do clero atuante na Região Episcopal Ipiranga, ocorrido na Cúria regional. O Arcebispo de São Paulo apresentou a Carta Pastoral e propostas sinodais do 1º sínodo arquidiocesano. (por Karen Eufrosino)

O que Deus espera dos jovens na próxima Jornada Mundial da Juventude em Lisboa?

www.osaopaulo.org.br

Na última semana, o Papa Francisco enviou uma mensagem, convidando os jovens para participarem da JMJ que se realizará dentro de três meses em Lisboa, Portugal, de 1o a 6 de agosto de 2023. A nossa Arquidiocese será representada por um animado grupo de cerca de algumas centenas de jovens. E os demais poderão acompanhar os eventos da Jornada pela TV e pela internet em suas casas e nos grupos de jovens das suas paróquias e comunidades. A JMJ é um evento de repercussão mundial: os jovens serão o centro das atenções da imprensa, TVs, jornais, revistas, rádios...

Será uma grande manifestação de fé pelas ruas e praças: gente jovem e alegre, rezando, cantando por todos os lados.

O que Deus espera dos jovens? O que

o Papa espera dos jovens? Vale a pena recordar umas palavras do Papa Francisco pronunciadas depois da JMJ no Rio: “No domingo passado, eu estava no Rio de Janeiro. Concluía-se a Santa Missa e a Jornada Mundial da Juventude. Acho que todos juntos temos que agradecer ao Senhor pelo grande dom que foi este evento para o Brasil, para a América Latina e para o mundo inteiro... Nunca devemos esquecer que as Jornadas Mundiais da Juventude não são ‘fogos de artifício’, momentos de entusiasmo com ns em si mesmos; são etapas de um longo caminho, começado em 1985, por iniciativa do Papa João Paulo II... Lembremo-nos sempre: os jovens não seguem o Papa, seguem Jesus Cristo, carregando a sua Cruz. E o Papa os orienta e os acompanha neste caminho de fé e de esperança. Gostaria de pedir-vos que rezem por mim para que os jovens que participaram da Jornada Mundial da Juventude possam traduzir essa experiência na sua jornada diária, no comportamentos de todos os dias; e que possam traduzi-lo também em escolhas importantes de vida, respondendo ao chamado pessoal do Senhor.”

É inegável que a JMJ mexe muito com as pessoas. Mas há um perigo de

que seja apenas um momento de empolgação, de sentir fortes emoções ao ver a multidão vibrante de jovens de todos os lugares, ouvir as palavras do Papa, cantar juntos, rezar em silêncio na vigília e nas missas etc.

Conhecemos muitas pessoas que, depois da JMJ, se transformaram, tomaram decisões sérias, encontraram a sua vocação, descobriram o que Deus esperava de suas vidas e hoje são sacerdotes, religiosos, religiosas ou leigos que encontraram a sua vocação de entrega Deus no meio do mundo, no Matrimônio ou no celibato apostólico.

Queremos que esta JMJ seja “o encontro com Jesus vivo, em sua grande família que é a Igreja, e enche o coração de alegria, porque o preenche com a vida verdadeira, de um bem profundo, que não passa e não apodrece”, como o Papa dizia. Queremos que a JMJ seja um momento de alta temperatura espiritual que se transforme em movimento, em mudança, em crescimento. Não queremos que o calor se esfrie com o passar do tempo. Por isso, penso que o mais importante virá depois da JMJ, em como serão as mudanças nas nossas vidas, pelas decisões corajosas e de nitivas que tomarmos.

Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Francisco ressalta os princípios para uma espiritualidade contra o abuso de menores na Igreja https://curtlink.com/ZjYu8d5

Papa: amar Jesus é a bússola para alcançar o Céu https://curtlink.com/lxKg0K

Comissão Pastoral da Terra promove a Semana Nacional da Comunicação e Combate ao Trabalho Escravo https://curtlink.com/0jONd9

Festival Halleluya: em 11 de junho, evangelização juvenil, arte, música e solidariedade em SP https://curtlink.com/lexG5X

Desde quando a Igreja Católica dedica atenção aos mais pobres?

https://curtlink.com/Xix5Yj

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LEMA
BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE E VIGÁRIO EPISCOPAL PARA A EDUCAÇÃO E A UNIVERSIDADE
DOM CARLOS
GARCIA
Pascom paroquial Karen Eufrosino

O Papa não é óbvio... Editorial

No passado pré-conciliar, todo mundo – até quem não ia à missa –conhecia seu pároco, enquanto o papa era uma referência distante. A fé e o conhecimento sobre a Igreja vinham, principalmente, da relação com os padres que estavam mais próximos. Atualmente, pelo contrário, mesmo quem vai à missa frequentemente não conhece o padre celebrante, mas todos – frequentemente via jornais que nada têm de católicos – acreditam conhecer o papa e suas ideias. Os sumos pontí ces, mais do que nunca, são uma referência sobre o que é a Igreja para a opinião pública. Assim, todos acreditam conhecer o pensamento e o carisma do Papa Francisco. Muitos se sentem encantados por ele, outros não gostam dele...

Neste tempo em que o papado se tornou o rosto público mundial da Igreja, os pontí ces são chamados a se apresentar ao mundo como “sinal de contradição”, como denúncia – explícita ou implícita – daquilo que não está certo. Infelizmente, nós, católicos, nem sempre estamos abertos a esse aspecto polêmico da missão dos papas. Aclamamos quando a contradição apontada é a dos outros, rejeitamos quando a contradição apontada é a nossa... Temos di culdade em perceber que Deus nos pede, por meio do carisma particular de cada papa, um passo diferente no caminho

de nossa conversão e da conversão do mundo.

Quando Bento XVI faleceu, a editoria do nosso Caderno Fé e Cultura se deu conta de quantos aspectos de sua personalidade passavam despercebidos da comunidade católica. Daí nasceu o Caderno “Bento XVI desconhecido”, no qual apresentávamos rapidamente sua ênfase no amor de Deus e sua humildade, que quase nunca eram apresentados até mesmo nas mídias católicas. No décimo aniversário do ponti cado de Francisco, a equipe se defrontou com uma questão similar. Agora, todos parecem conhecer a mensagem do Papa, ainda que reduzida a um esquematismo que parece óbvio, mas no fundo é uma caricatura que distorce muitas das suas posições. Por isso, esta edição do Caderno intitula-se “A mensagem de Francisco, para além do óbvio”.

Não se trata de apresentar pontos desconhecidos de seu magistério ou de tentar alterar ideias já arraigadas. Um dos méritos de Bergoglio é deixar bastante claro aquilo que lhe interessa dizer. Contudo, é importante ir além de uma interpretação esquemática e super cial. Tendemos a acreditar que “o Papa pensa como nós” ou que “o Papa pensa contra nós”. Num caso e no outro, perdemos a chance de descobrir “o que mais Deus, ao nos dar esse Papa, quer que nós pensemos”.

Nesse Caderno, duas coisas sal-

Liturgia e Vida

tam aos olhos. Em primeiro lugar, Francisco é um místico. Não no sentido que em geral se dá ao termo, mais próximo do conceito de esotérico, mas no sentido de ser um homem que vê o mistério de Deus escondido no mundo. Seu empenho social não nasce de uma redução sociologizante, mas de uma elevação mística. Não é um mundanismo que se dobra aos problemas e às tendências politicamente corretas da atualidade. São as demandas do mundo que ascendem, tornando-se espaço de encontro do ser humano com o amor de Deus. Em segundo lugar, para nós, brasileiros –pelo menos – as posições político-sociais de Francisco não são “mais do mesmo”. É a nossa leitura esquemática de sua mensagem que não percebe que quase sempre ele dá uma resposta diferente daquelas convencionais aos problemas que aborda.

O discernimento, que ele tanto valoriza, é encontrar os sinais de Deus nas alegrias e nas dores do mundo. Acontece que aquele que vê o mundo na perspectiva dos sinais de Deus, vê coisas que os outros não veem, dá respostas que os outros não dariam. Se não formos capazes de segui-lo nesse caminho, boa parte de seu anúncio poderá se perder. Mas a culpa não será de um papa que não soube mostrar a face de Deus ao mundo, mas, sim, de um mundo que não quis perceber com que face Deus se manifesta neste momento.

PADRE JOÃO BECHARA VENTURA

‘Amar’ signi ca pensar, servir, compreender e rezar por alguém. Se quiséssemos bem a uma pessoa, mas não lhe zéssemos alguma obra corporal ou espiritual, ainda que uma simples oração, o nosso amor seria incompleto. São Josemaría dizia que “obras é que são amores, não boas palavras”. O mesmo vale com relação ao Senhor! Se nada ou pouco muda em nós por causa de Deus, é sinal que nos falta amor a Ele! Quando amamos, mudamos hábitos, opiniões, planos e gostos.

Na conversão em Damasco, a primeira palavra de São Paulo ao saber que estava diante de Jesus foi: “Senhor, o que queres que eu faça?” (At 9,6, Vulgata). A porta de entrada do amor é querer “fazer algo” a quem se ama! Assim como Nossa Senhora nas bodas; ou Marta, servindo o Mestre; ou Jesus, lavando os pés aos discípulos… Quem ama une a própria vontade à vontade do outro. Duas pessoas que se amam, sejam dois recém-casados, pai e lho, dois irmãos ou mesmo dois amigos, têm em comum o fato de que, em questões importantes da vida, olham numa mesma direção, com o mesmo querer. Isso não é diferente no que se refere ao amor a Deus. O caminho da santi cação consiste em, cada dia mais, querer o que Deus quer! Temos que aprender a ver como com os seus olhos, para amar o que Ele ama e aderir à sua vontade! Este é o sinal claro de que o amamos! Jesus nos deu o exemplo de amor ao Pai eterno quando, em grande agonia, rezou: “Pai, não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,42). Por isso, Ele a rma: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15). Se amamos a Deus, obedecemos-lhe como a um Pai!

A adesão à vontade de Deus, contudo, contém diferenças importantes em relação aos amores somente humanos. Em primeiro lugar, porque o que Ele quer para nós é sempre o melhor. O Senhor jamais pede algo que seja mau, abusivo ou despropositado; sua vontade é a única que pode nos realizar plenamente. Além disso, Cristo promete que quem obedece a seus mandamentos recebe “o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber” (Jo 14,17). Então, passa a haver um “círculo virtuoso”. Obedecendo aos mandamentos, o Espírito Santo nos é dado. Comunicando-nos sua graça santi cante, conhecimento e uma maior capacidade de amar, Ele nos predispõe a obedecer melhor ao Senhor. E como resultado, segundo Jesus: “Quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14, 21). Cristo se dá a conhecer a quem lhe obedece. Há pessoas que têm di culdade de compreender a fé, a doutrina moral ou os sacramentos. Talvez o que lhes falte – além de pedir a Deus o dom da fé – seja começar a obedecer aos mandamentos no dia a dia. Com essa boa disposição – acompanhada de uma Con ssão sincera – virá o Espírito da Verdade. E, com Ele, virá a aceitação, a compreensão e até mesmo o deslumbramento com as realidades sobrenaturais. Isso é obra do Espírito Santo! Então, o coração se lança naturalmente a Deus: “Senhor, o que queres que eu faça?”!

4 | Ponto de Vista/Fé e Vida | 10 a 16 de maio de 2023 | www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br
6º DOMINGO DA PÁSCOA 14 DE MAIO DE 2023
‘Se me amais, guardareis os meus mandamentos’

Liberdade de imprensa: em busca do direito à verdade

CRISLEINE YAMAJI

A liberdade de imprensa diz respeito à própria liberdade da pessoa humana. Deve ser ampla, muito embora não seja absoluta e ilimitada. Trata-se de um poder-dever que exige de cada um de nós a responsabilidade no agir com o outro, na escuta e na transmissão de princípios e valores; um direito, portanto, interrelacional e não autorreferencial, e que tem, ao seu lado, um dever da imprensa quanto à verdade.

A liberdade de imprensa, baluarte da liberdade, serve para que se alcance o bem comum. Caracteriza-se pela livre manifestação de pensamento, expressão e informação, sob qualquer forma, processo, meio ou veículo. A ela, portanto, não cabe embaraços, contanto que se construa em absoluto respeito ao outro, levando em consideração essa sociedade que expressa suas angústias e problemas e que busca a dignidade do

homem em um contexto de fraternidade social.

Em nosso País, a liberdade de imprensa pode se sujeitar constitucionalmente a restrições em situações bastante especí cas, caso, por exemplo, da decretação de um estado de sítio por comoção grave de repercussão nacional, veri cação de fatos que evidenciem a ine cácia de medidas tomadas durante um estado de defesa, declaração de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira. Sem prejuízo e distante da redação constitucional, essa liberdade se encontra cada vez mais sitiada e enfraquecida, especialmente se considerarmos o estado de polarização e desrespeito à pluralidade de opiniões.

A prerrogativa de divulgar uma informação depende do testemunho da verdade que se faz cada vez mais urgente no Brasil e no mundo; todavia, tem sido usada para manobrar uma sociedade con itual, focada em interesses indivi-

duais e de grupos, com uma leitura partidária e ideológica da realidade, servidora de propaganda de governos populistas e fomentadora de tensões sociais.

No m, o mau uso dessa prerrogativa, com interferência na independência jornalística, tem suprimido o próprio direito à verdade na transmissão das informações, com grave afronta à cidadania, pois a liberdade de imprensa é também liberdade constitucional inerente à própria cidadania, a qual se compõe de direito de informar e de se informar.

Um recente relatório e ranking mundial de liberdade de imprensa, publicado pela associação Repórteres sem Fronteiras (Reporters sans Frontières), demonstra quantos prejuízos tivemos à liberdade de imprensa mundial com a difusão de desinformação e notícias falsas, aumento de violência, perseguição e censura contra jornalistas. Constatou, ainda, o uso da pandemia como

Você Pergunta

PADRE CIDO PEREIRA osaopaulo@uol.com.br

Eis a pergunta do Adriano Santos. Meu irmão, há um prefácio de missa em que se canta e se reza assim: “Ainda que nossos louvores não vos sejam necessários porque nada acrescentem à vossa glória, eles nos aproximam de vós”.

Podemos dizer a mesma coisa em relação às nossas orações de súplica. “Ainda que elas não sejam necessárias porque vós, Senhor, nos conheceis e estais atento às nossas necessidades, elas nos aproximam de vós, elas nos lembram sempre de que, sem vós, nada somos, eles criam entre nós e vós uma intimidade que nos anima, nos aquece, nos enriquece, nos santi ca.”

É claro que Deus cuida de nós. É claro que Ele está atento às nossas necessidades. O próprio Jesus nos garantiu: “Olhai os lírios do campo, como eles são lindos. Nem Salomão com todo o esplendor do seu reino se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a or do campo que hoje está viçosa e amanhã está seca e morta, como deixará de cuidar de vocês?” Também é confortador ouvir Jesus dizendo: “Não cai um pardal do telhado sem que Deus não saiba. E vocês valem muito mais do que os pardais. Até os os de cabelos de vocês estão contados.”

Como já disse, porém, orar é conversar com Deus, é perceber nossa fragilidade, é manter-se na intimidade deste Deus que é só amor, é só carinho, é só ternura por nós.

um pretexto para obstrução da liberdade de imprensa em quase metade dos 193 países-membros da Organização das Nações Unidas. Nesse relatório, o Brasil foi considerado em situação problemática, com identi cação de uma violência estrutural contra jornalistas, alvos de ataques, hostilidades e censuras, forte concentração midiática nas mãos de poucas empresas do setor privado e graves efeitos da onda de desinformação.

É preciso coragem para proteção e reconstrução de um espaço democrático, a m de que nós, cidadãos, possamos ter a garantia do nosso direito à verdade, com justa medida e de nição do dever à verdade marcante e de nidor da liberdade de imprensa, não somente da imprensa tradicional, mas, também, das mídias digitais e redes sociais.

CrisleineYamaji éadvogada,doutora emDireitoCivileprofessoradeDireitoPrivado. E-mail:direitosedeveresosaopaulo@gmail.com

Por tudo isso, a oração é muito importante. Jesus é um mestre em oração. Na oração, Ele louva o Pai porque ouve suas preces, porque revela seus segredos aos pequeninos. Na oração, Ele grita por socorro – “Pai, afasta de mim este cálice” –, mas se entrega nas mãos de Deus – “Faça-se a tua vontade e não a minha”. Na oração, ele reclama: “Por que me abandonaste?”. Jesus passa a noite em oração, e nos momentos decisivos de sua missão Ele ora no deserto, passa a noite em oração. Jesus ora baixinho para si mesmo, ora alto diante de todos. E nos ensina a orar e a dizer: “Pai nosso que estás nos céus...”.

Vamos ser homens e mulheres de oração, porque pela oração nós, seres humanos, nos divinizamos, transformamos a nossa vida, a vida dos outros e o mundo.

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‘Se Deus olha as nossas necessidades, por que precisamos rezar para pedir as coisas?’
Comportamento
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Ministério da Saúde: término da emergência global não é o fim da COVID-19

osaopaulo@uol.com.br

Após a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciar na sexta-feira, 5, que a COVID-19 não é mais uma emergência de saúde pública de importância internacional, a ministra da Saúde do Brasil, Nísia Trindade, alertou que isso não signi ca que a pandemia terminou.

“O m da declaração de emergência não signi ca o m da circulação da COVID-19. Por isso, a vacinação continua como ação fundamental. Precisamos da mobilização de todos para ampliar a cobertura vacinal”, enfatizou a ministra, em discurso em rede nacional, na noite do domingo, 7.

A própria OMS, em seu comunicado,

a rma que a doença ainda é um problema de saúde pública em escala mundial, o que a caracteriza como uma pandemia. Nísia Trindade reforçou que a vacinação foi a responsável pela redução de mortes em todo o mundo. Em 24 de abril, o Ministério da Saúde liberou a todas as pessoas a partir dos 18 anos a

vacina bivalente de reforço contra a COVID-19. Compete a cada cidade esquematizar o calendário de vacinação, conforme a disponibilidade de doses.

No Brasil, a COVID-19 ocasionou mais de 700 mil mortes e foram noticados 37,4 milhões de casos.

Comissão Vida e Família lança itinerário para encontro de casais em nova união

A Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou na última semana a publicação “Bom Pastor: Itinerário para Encontro de Casais em Nova União”.

Com o material, a comissão busca “levar a re exão sobre a situação em que se encontram os casais em nova união, acolhê-los, fazer discernimento e integrá-los à vida da Igreja”.

O itinerário orienta a atuação do Setor Casos Especiais da Pastoral Familiar na condução do Encontro Bom Pastor, em consonância com o capítu-

lo oito da exortação Amoris laetitia, do Papa Francisco.

A publicação – em formato físico e com materiais digitais de apoio – está dividida em cinco partes: objetivos do itinerário; método e orientações gerais para o encontro; sugestão de cronogramas; síntese das atividades, palestras, dinâmicas e círculos; e equipes que irão promover os encontros.

“O itinerário é um encontro espiritual com Cristo. Há documentos que nos baseiam, mas se você não tiver um encontro pessoal com Cristo, não

entenderá o que é ser esta ovelha nos ombro do Bom Pastor. Não estamos lá para falar sobre a Eucaristia, sobre o processo de nulidade, mas para falar que somos lhos amados de Deus. E a graça de Deus supera tudo”, explicou o Padre Fernando Francisco, Assessor da Comissão para a Vida e a Família da CNBB.

Para a aquisição do material, os canais de contato são o da Secretaria Executiva Nacional da Pastoral Familiar: www.lojacnpf.org.br ou WhatsApp (61) 3443-2900.

Fonte: CNBB

Regional Sul 3 da CNBB realizará coleta em prol da missão em Moçambique

Por meio do projeto “Igrejas Solidárias”, o Regional Sul 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que compreende as dioceses localizadas no Rio Grande do Sul, tem realizado ações missionárias na Arquidiocese de Nampula, em Moçambique. Os missionários enviados pelo Regional fazem o acompanhamento pastoral de duas paróquias naquela Arquidiocese: São Paulo Apóstolo, em Larde; e São Miguel Arcanjo, em Micane, auxiliando na organização dos ministérios e serviços, na promoção vocacional e na formação de animadoras e animadores leigos.

Também são desenvolvidos projetos sociais nas áreas de educação, com uma biblioteca comunitária, além de um projeto de reforço escolar e alfabetização de crianças e mulheres. A primeira equipe missionária foi enviada em julho de 1994.

Essa missão que se aproxima dos 30 anos de existência é mantida a partir das doações das dioceses do Regional. Uma grande coleta é realizada anualmente na celebração de Pentecostes em todas as paróquias e comunidades do Rio Grande do Sul, este ano nos dias 27 e 28 de maio.

Também é possível colaborar via transferência bancária:

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Banco Sicredi

Cooperativa: 0116

C.C: 82987-2

Fonte:RegionalSul3daCNBB

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REDAÇÃO
Fonte: Ministério da Saúde Luís Oliveira/Sesai-MS

Vaticano

Presidente português pede desculpas ao Brasil

JOSÉ FERREIRA FILHO osaopaulo@uol.com.br

O presidente de Portugal, professor Marcelo Rebelo de Sousa, em recente pronunciamento durante as comemorações pela Revolução dos Cravos, que marcam o aniversário da redemocratização do país, em 1974, após a longa ditadura salazarista, a rmou que Portugal deve desculpas ao Brasil pelas dores do processo de colonização, em especial pela escravização de milhões de africanos, transportados a bordo de navios negreiros para produzir as riquezas que zeram a prosperidade do império. Diante do presidente Lula, que estava em visita a Lisboa, Rebelo de Sousa admitiu:

“Não é apenas pedir desculpas –devidas, sem dúvida – por aquilo que zemos, porque pedir desculpas é às vezes o que há de mais fácil: pede-se

desculpas, vira-se as costas, e está cumprida a função. Não! É o assumir a responsabilidade para o futuro daquilo que de bom e de mau zemos no passado”.

Durante mais de 300 anos, Portugal e Brasil foram responsáveis pelo trá co de quase 6 milhões de africanos, a metade do total transportado para as Américas. Continuaram sócios no negócio de comprar e vender gente mesmo depois da independência brasileira, em 1822. Até 1850, ano da lei Eusébio de Queirós, que proibiu de nitivamente o trá co, os maiores comerciantes de gente no Brasil eram os portugueses.

Houve, ainda, a assinatura da lei do Ventre Livre, em 1871, pelo Visconde do Rio Branco, que concedia liberdade, a partir de então, a todos os lhos nascidos de ventre escravo; e, também, da lei dos Sexagenários, em 1885, pelo

Coreia do Sul

Barão de Cotegipe, a qual previa a liberdade para escravos com mais de 60 anos. Finalmente, em 13 de maio de 1888, – ou seja, há 135 anos – a Princesa Isabel assinou a lei Áurea, que pôs m à escravidão no Brasil, gesto pelo qual foi laureada com a Rosa de Ouro pelo Papa Leão XIII.

Sobre o pronunciamento do presidente português, o ministro dos Direitos Humanos do Brasil, Silvio Almeida, disse que Rebelo de Sousa deu um passo “extremamente positivo”.

“Nós continuamos sofrendo no Brasil os re exos de uma herança de escravidão”, disse Almeida em um comunicado”. “Reconhecer a exploração dos milhões de escravizados durante mais de três séculos é um passo para caminharmos em direção a uma sociedade menos desigual”, concluiu.

Número de católicos aumenta no país

Segundo o recente relatório divulgado pelas “Estatísticas da Igreja Católica da Coreia do Sul”, a população de católicos aumentou no país em 2022.

O estudo recolheu dados das 16 dioceses locais no ano passado e o número total de católicos é de 5.949.842, sendo que 42,9% deles são homens e 57,1% são mulheres, espalhados pelas 1.784 paróquias do território sul-coreano. Esse número representa 11,3% da população total da Coreia do Sul.

O documento que foi apresentado pela Conferência dos Bispos da Coreia também mostra um aumento de 3% no número de pessoas que participam da missa aos domingos. Em 2022, 699.681 pessoas disseram ir com frequência aos ofícios dominicais, perfazendo 11,7% dos éis.

O aumento no número de batismos foi de 13,3%, sendo que, ao todo, 41.384 pessoas foram batizadas nas igrejas sul-coreanas em 2022. É interessante notar que os batismos são classi cados em três formas no relató-

rio: batismos de crianças, de adultos e de moribundos. Os batismos de crianças tiveram um aumento de 22%, os de adulto, 9,3%, e os batismos no leito de morte aumentaram 16%.

Austrália

Verdade, sinodalidade e reconciliação são as

Aconteceu, entre os dias 3 e 5, em Sidney, na Austrália, a conferência “Um só coração, muitas vozes”, organizada pela Pontifícias Obras Missionárias (POM) australianas. Formações, workshops, momentos de oração e partilha, além de apresentações artísticas, animaram os três dias em que participaram mais de 300 pessoas de todo o país, algumas delas conectadas virtualmente.

A prioridade deste encontro, que ocorre a cada dois anos, é oferecer conteúdo e experiências que possam fortalecer o espírito missionário, enfocando

Papa Francisco: dialogar é respeitar o caminho dos outros

“É importante dialogar” com aqueles que pensam diferente de nós, porque Deus “que é o Pai de todos, nos leva a dialogar” e a respeitar o caminho dos outros: foi o que disse, em síntese, o Papa Francisco ao receber na sexta-feira, 5, os participantes do congresso promovido pelo Instituto de Diálogo Inter-Religioso da Argentina.

Compartilhando suas lembranças de infância, o Papa enfatizou que “as con ssões religiosas nem sempre dialogaram. A mudança está no fato de que, antes, se falava com o espelho; olhava-se para si mesmo e respondia, e condenava-se os que estavam de fora, catalogando-os”.

“Com os judeus”, diz Francisco, “sempre tive uma grande proximidade graças à escola, tive vários companheiros judeus, às vezes estudávamos juntos. E quando eu era Arcebispo, acompanhei um desses companheiros judeus que, mesmo no seu leito de morte, não havia negado sua fé”.

“É importante”, disse o Pontí ce, “que aquele diálogo que cada um de nós teve com o espelho da própria con ssão seja ampliado e feito entre irmãos, e que não haja medo do diálogo fora do espelho. E menos ainda a ânsia de convencer um ao outro, de converter o outro. Dialoga-se, cada um conta sua própria experiência, que é uma experiência de Deus. E Deus se manifesta em todas as culturas, à maneira daquela cultura, Ele se manifesta em povos que trilharam um caminho diferente na história, povos que trilharam outro caminho, mas Ele é o mesmo Deus. E Ele, que é o Pai de todos, nos conduz ao diálogo. Em nossa vida, há sempre um caminho que vai do diálogo com o espelho ao diálogo com a realidade, ao diálogo com nossos irmãos; com a realidade viva que são nossos irmãos. É a mão estendida”.

Ele, então, observou que “não somos ilhas” e que, no diálogo, não se deve dizer aos outros: “Minha Igreja é a única, a verdadeira, vocês são de segunda ou quarta categoria”. E acrescentou: “Estou convencido de que o caminho que estou seguindo é aquele que Deus quer que seja verdadeiro para mim. Portanto, quando falo sobre minha con ssão religiosa, por coerência, não digo ‘Esta é a verdadeira’, mas respeito o caminho de outros que, por sua vez, referindo-se à própria con ssão, dizem ‘Esta é a verdadeira’. E isso não é relativismo, é respeito e convivência”.

Fonte: Vatican News

bases de evento missionário

os temas e desa os nos quais a Igreja está engajada.

Verdade, sinodalidade e reconciliação são as palavras-chave desta conferência que, no primeiro dia, propôs o tema da inclusão e da diversidade. Dom Shane Mackinlay, Bispo de Sandhurst e Vice-presidente do quinto Conselho Plenário da Igreja Católica australiana, foi um dos palestrantes na ocasião.

O segundo dia, que abordou os temas do diálogo inter-religioso, da conversão ecológica e do envolvimento dos jovens na Igreja, foi conduzido por Chiara Porro,

embaixadora da Austrália junto à Santa Sé, que destacou a importância do trabalho em rede, do cuidado e da atenção ao meio ambiente e sustentabilidade.

No último dia, os participantes tiveram um espaço para re exão e discussão sobre as muitas ideias e temas abordados nos dois dias anteriores e compartilharam suas experiências pessoais de missão, o que aprenderam durante o evento e o que se comprometem a fazer quando voltarem às suas comunidades.

Fonte:AgênciaFides

8 | Pelo Mundo | 10 a 16 de maio de 2023 | www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br
Fonte: Laurentino Gomes e UOL
Portugal
Fonte: Gaudium Press Archidiocese of Seoul

Edição 10 10 de maio de 2023

A mensagem do Papa Francisco, para além do óbvio

Num tempo marcado por crises econômicas, tragédias migratórias, uma pandemia catastró ca, acirramento das polarizações e con itos ideológicos, ganhamos providencialmente um papa que encarna magni camente o espírito cristão de misericórdia

e perdão, amor aos pobres e aos excluídos, cuidado com o próximo e com toda a criação. Não é à toa que Francisco se tornou, não só para os católicos, mas para o mundo, um sinal de ternura, compromisso social e esperança. Muito se tem dito e escrito sobre ele;

por isso, no recém-comemorado décimo aniversário de seu ponti cado, procuramos trazer, para a re exão, aqueles aspectos menos conhecidos, que fogem do óbvio, mas que permitem uma visão mais profunda de sua mensagem e dos ensinamentos da Igreja.

Igreja em missão: a eclesiologia do Papa Francisco

Francisco vem apresentando a Igreja com misericórdia e amor. “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” (Evangelii gaudium, EG 1). Carinhosamente, exorta-nos ao dinamismo da Igreja de Jesus Cristo: a propõe “em saída”. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhes pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho (EG 20).

O Papa lança a Igreja em meio aos desa os na sociedade, para que no mundo ela desenvolva a missão de evangelizar: “São João Paulo II convidou-nos a reconhecer que ‘não se pode perder a tensão para o anúncio’ àqueles que estão longe de Cristo, ‘porque esta é a tarefa primária da Igreja’ (Redemptoris missio, RM 34). A atividade missionária ‘ainda hoje representa o máximo desa o para a Igreja’ (RM 40) e ‘a causa missionária deve ser (…) a primeira de todas as causas’ (RM 86). Que sucederia se tomássemos realmente a

O Evangelho foi primeiro proclamado por Jesus, na Palestina do século I, periferia do Império Romano. A proposta do Papa Francisco é anunciá-lo às periferias geográ cas e existenciais do mundo de hoje. Ao longo o seu magistério, não tem dito tantas coisas novas, mas tem apresentado as palavras eternas de Cristo com novidade. Está trazendo dinamicidade e alegria ao anúncio do Evangelho de Nosso Senhor.

sério estas palavras? Simplesmente, reconheceríamos que a ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja Nesta linha, os bispos latino-americanos a rmaram que ‘não podemos car tranquilos, em espera passiva, em nossos templos’ (Documento de Aparecida, DAp 548), sendo necessário passar ‘de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária’ (DAp 551). Esta tarefa continua a ser a fonte das maiores alegrias para a Igreja” (EG 15).

“A Igreja ‘em saída’ é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não signi ca correr

pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes, é melhor diminuir o ritmo, pôr à parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar ou renunciar às urgências para acompanhar quem cou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do lho pródigo, que continua com as portas abertas, para, quando ele voltar, poder entrar sem di culdade” (EG 46).

Marcadamente, o Papa Francisco nos pede um deslocamento das nossas atividades já conhecidas e muitas vezes seguras, para estarmos prontos para respondermos a outros chamados. Ele nos sugere que devemos sair dos nossos refúgios para irmos ao encontro de

outros propósitos e metas. Ele não nos pede uma corrida desenfreada e sem sentido, mas nos indica que precisamos agir com con ança em Deus. Ele nos propõe abertura às indagações e às angústias do homem e da mulher do nosso tempo. Permite e convoca para que estejamos presentes no deserto, na periferia e na fronteira. Precisamos experimentar, segundo a necessária imaginação e criatividade cristã, onde o risco é maior, onde é mais necessária a atividade profética para sacudir a inércia em que a Igreja em sua totalidade está se petri cando ou para denunciar com mais energia o pecado.

O Papa Francisco projeta a missão atual da Igreja, sem a modi car, sem perder a beleza e inteireza de Cristo, nem a transformar amalgamando-a ao mundo, mas retomando-a para anunciar o Evangelho com misericórdia e alegria. Vivendo com a Igreja nestes tempos marcadamente difíceis, sejamos abertos ao Espírito de Deus e atentos aos ensinamentos do Sumo Pontí ce.

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Caderno Fé e Cultura é uma publicação mensal do jornal “ SÃO PAULO”, com coordenação editorial do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP. Diretor responsável e editor: Padre Michelino Roberto. Coordenação editorial: Francisco Borba Ribeiro Neto. Revisão: José Ferreira Filho e Daniel Gomes. Diagramação: Jovenal Alves Pereira. Impressão: Grá ca OESP. Conselho editorial: Alexandre Gonçalves, Alline Luiza de Abreu Silva, Bruno Muta Vivas, Diogo Chiuso, Gustavo Catania, Ivonete Kuerten, João Cortese, Luís Henrique Marques, Maria Nazaré Lins Barbosa, Rodrigo Pires Vilela da Silva e Vandro Pisaneschi. *Professor de História da Igreja na PUC SP.

e a ética social do Papa Francisco*

Na misericórdia, o Papa Francisco encontra “a própria substância” (Carta ao Cardeal Poli), “o núcleo” (Misericordiae vultus, MV 9), a “palavra-chave” (ibid.), a “síntese” (MV 1), a “lei fundamental” (MV 2), o “feixe mestre” (MV 10) da Boa-Nova de Jesus, “a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade” e “o caminho que une Deus ao homem” (MV 2). “Do próprio coração da Trindade, da mais profunda intimidade do mistério de Deus, brota e corre sem parar o grande rio da misericórdia” (MV 25). Sua primeira viagem como Papa fora de Roma, a Lampedusa, foi um grande gesto em direção ao futuro que simboliza esta chave decisiva de interpretação.

Cristo, à luz do Espírito, é o “rosto da misericórdia” (misericordiae vultus) do Pai – cujo “atributo mais admirável” consiste precisamente na sua misericórdia, segundo São João Paulo II (Dives in misericordia, DM 13, citado em MV 11), “não [...] um sinal de fraqueza, mas antes a qualidade da onipotência de Deus” (MV 6). Por isso, não pode haver dúvida de que, para Francisco, a misericórdia tem uma raiz trinitária, sobre a qual se funda em última análise a dimensão social do Evangelho (Evangelii gaudium, EG 176). O amor innito do Pai confere a cada homem e a cada mulher uma dignidade in nita (EG 178). O sangue redentor do Filho “redime não só a pessoa individual, mas, também, as relações sociais entre os homens” (ibid.). A ação vivi cante do Espírito Santo “age em todos”, “penetra em todas as situações humanas e em todos os vínculos sociais”, “desamarra os nós dos acontecimentos humanos, mesmo os mais complexos e impenetráveis” (ibidem). Por isso, “o próprio mistério da Trindade recorda-nos que fomos feitos à imagem desta comunhão divina, para que não nos possamos realizar nem nos salvar sozinhos” (ibid.), mas como povo el de Deus e do seu Reino (EG 176).

Mas, além de ser a substância do Evangelho, a misericórdia é uma das necessidades do nosso tempo, em que “a globalização da indiferença” se realiza em muitos lugares, enquanto, sofremos uma crise socioambiental que ameaça a sobrevivência do planeta (cf. Evangelii gaudium e Laudato si’). Portanto, não basta uma mera “teoria da misericórdia” (Misericordia et misera MeM 20), mas “onde houver cristãos, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia” (MV 12), pois, como seguidores de Jesus, “somos chamados a fazer crescer uma cultura da misericórdia”

Ao ser chamado pela Editora Vaticano para escrever um volume sobre a ética social do Papa Francisco, para a coletânea La teologia di Papa Francesco, logo pensei que o o condutor deveria ser o da misericórdia, que não só inspira sua doutrina social, mas, também, todo o seu agir, ensinar, governar e viver. Este uxo de água viva conduz imediatamente a outra característicadoSantoPadre:oseudesejode“umaIgreja pobre para os pobres”, com todas as consequências que isto implica,mesmoemrelaçãoànossafrágil“irmãmãeterra”. Este não é apenas o conteúdo, mas, também, o método de sua ética e doutrina social.

Assim, considero que a misericórdia é o o de ouro transversal tanto à ética social quanto a todo o ponti cado de Francisco. Quando se tornou bispo, escolheu um lema que ainda hoje conserva como Papa: a frase de São Beda, o Venerável, miserando atque eligendo, referindo-se a Jesus que olhou para Mateus com amor misericordioso e o escolheu (Misericordiae Vultus,MV8).Éassimqueelenãosósereconhececomo pecador e destinatário da misericórdia e do perdão de Deus, mas, também, vê sua eleição. Por isso, sente-se chamado a vivê-la, praticá-la e ensiná-la. Pela minha parte, penso que, para Bergoglio, essa frase não é apenas um lema, mas um carisma, um temperamento de espírito existencial, uma doutrina viva, um modo de governo. O que ele a rma em geralpodeseraplicadoaele:“souamado,logoexisto;estou perdoado, por conseguinte renasço para uma vida nova; fui ‘misericordiado’ e, consequentemente, feito instrumento da misericórdia” (Misericordia et misera, MeM 16). E assim ele experimentaecomunica“aalegriadoEvangelho”.

(MeM 20), até “realizarmos uma verdadeira revolução cultural” (ibidem).

No micro e no macro. Francisco lembra que “a proposta é o Reino de Deus (cf. Lc 4, 43); trata-se de amar a Deus, que reina no mundo. Na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos. Por isso, tanto o anúncio quanto a experiência cristã tendem a provocar consequências sociais” (EG 180). O seu “princípio de discernimento” é a universalidade, como São Paulo VI indicou em relação ao desenvolvimento: “todos os homens e o homem todo” (Populorum progressio, PP 14), isto é, “todas as dimensões da existência, todas as pessoas, todos os ambientes de convivência e todos os povos” (EG 181). É assim, por exemplo, que a exortação pós-sinodal Amoris laetitia (AL) transmite não só a alegria do amor, mas, também, a compreensão benevolente para o condicionamento de tantos matrimônios em “situações irregulares” (Cap. 8), num espírito de misericórdia sem prejuízo da verdade e da justiça.

No início de Misericordia et misera, o Papa contempla, com Santo Agostinho, o encontro “face a face” entre Jesus, “rosto da misericórdia” do Pai, e a pecadora miserável, que representa cada um de nós (incluindo ele mesmo, que muitas vezes se declara pecador), como motivo para abrir o coração à misericórdia e à reconciliação com os nossos irmãos pecadores e sofredores (MeM 1).

Mas, como já dito, refere-se não apenas ao encontro interpessoal, às microrrelações, mas, também, às macrorrelações (Caritas in veritate, CV 2), mediadas por estruturas e instituições sociais, políticas e econômicas. Por conseguinte, trata-se também de reconciliação e de paz entre os povos e até entre grupos sociais de um mesmo povo dilacerado em con itos internos.

Sem dúvida, a misericórdia não suplanta a justiça, mas a supõe e excede, impedindo-a de “cair no legalismo, falsi car o seu sentido original e obscurecer o valor profundo que a justiça tem” (MV 20). Francisco mostra como o próprio Jesus e, no seu seguimento, Paulo, superaram a perspectiva legalista dos fariseus do

seu tempo, concluindo nalmente: “A justiça de Deus é o seu perdão (cf. Sl 51, 11-16)” (ibid.).

Igreja pobre, dos pobres e para os pobres. Se tivermos em conta tanto as preferências do amor misericordioso de Deus Amor quanto a atual gravíssima crise socioambiental, sofrida sobretudo pelos mais frágeis, desembocamos quase espontaneamente no anseio do Papa por “uma Igreja pobre para os pobres”. Francisco a rma que se vê melhor a realidade em sua totalidade a partir da periferia do que do centro. É por isso que ele olha para a Igreja e para o mundo a partir de Cristo em sua kenosis, a partir dos pobres e excluídos, dos marginalizados. Com essa perspectiva, movido pela misericórdia, expressou, no início do seu ponti cado: “Quero uma Igreja pobre para os pobres” (EG 198). Desse modo, assume a agenda inacabada do Vaticano II. Logo antes do Concílio, São João XXIII a rmara: “Diante dos países pobres, a Igreja apresenta-se como é e deseja ser: a Igreja de todos, mas especialmente a Igreja dos pobres” (Mensagem radiofônica, 11/ set./1962) [...]

É importante recordar que, depois do Sínodo sobre a Justiça (1971), que declarou a luta pela justiça no mundo como uma dimensão constitutiva da evangelização, surgiu a questão de saber se ela é um constitutivo essencial desta ou apenas integrada a ela. Pois, por exemplo, minhas mãos são partes integrantes de mim mesmo, mas, se estiverem faltando, não perco minha identidade. Em vez disso, minha alma e meu corpo compõem minha própria essência. Essa pergunta só foi claramente respondida por São João Paulo II que, na Redemptor hominis (RH), a rmou:

“A Igreja [...] considera esta solicitude pelo homem, pela sua humanidade e pelo futuro dos homens sobre a face da terra e, por consequência, pela orientação de todo o desenvolvimento e progresso, como um elemento essencial da sua missão, indissoluvelmente ligado com ela. E o princípio de uma tal solicitude encontra-o a mesma Igreja no próprio Jesus Cristo” (RH 15).

Os pobres como sujeitos. Em um artigo, o teólogo venezuelano Pedro Trigo compara a expressão de São João XXIII “Igreja dos pobres” com a de Francisco, e diz que poderiam ser interpretadas de três modos distintos: (1) uma Igreja para os pobres, a seu serviço, mas não necessariamente ela mesma pobre,

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o que não corresponde à ideia de Francisco; (2) uma Igreja em que os pobres “se sintam em casa”, que São João Paulo II e o próprio Francisco a rmam explicitamente (cf. EG 199) e, na minha opinião, já foi amplamente alcançado; (3) além disso, os pobres se tornarem sujeitos ativos e privilegiados da vida e da missão da Igreja. Penso que o desejo expresso por Francisco é tornar realidade esta terceira interpretação, incluindo as outras duas.

Na Evangelii gaudium, o Papa a rma: “Para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou losó ca. Deus ‘manifesta a sua primeira misericórdia a eles’ (cf. São João Paulo II, Homilia durante a Santa Missa pela evangelização dos povos) [...] Como ensinava Bento XVI, esta opção ‘está implícita na fé cristológica naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza’.[165] Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus dei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvíca das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles:

não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas, também, a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar por meio deles” (EG 198).

De um parágrafo tão rico, gostaria agora de tomar dois pontos-chave. Em primeiro lugar, o caráter de sujeitos ativos – não só pessoalmente, mas também comunitariamente ativos – que é reconhecido aos pobres. E, em segundo lugar, que eles devem ser “colocados no centro do caminho da Igreja” (ibid.), isto é, no centro da sua vida e missão.

Para o povo de Deus e todos os povos. Mas para Francisco não se trata apenas da Igreja, do povo de Deus concebido como um poliedro em que os pobres ocupam um lugar central, mas também dos poliedros que devem compor cada povo e a comunidade global dos povos, numa globalização justa e solidária, em cuja construção os pobres devem desempenhar um papel não só comunitário e ativo, mas, também, criativo e protagonista, em alternativa à atual. Daí a estima que o Papa demonstra pelos movimentos populares e por sua rede mundial. É por isso que, quando os reuniu pela primeira vez em Roma, em 28 de outubro de 2014, exortou-os, dizendo:

“Vós sentis que os pobres não

esperam mais e querem ser protagonistas; organizam-se, estudam, trabalham, exigem e, sobretudo, praticam aquela solidariedade tão especial que existe entre quantos sofrem [... Solidariedade] é também lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, a terra e a casa, a negação dos direitos sociais e laborais. É fazer face aos efeitos destruidores do império do dinheiro: as deslocações forçadas, as emigrações dolorosas, o trá co de pessoas, a droga, a guerra, a violência”. (Discurso aos participantes no Encontro Mundial dos Movimentos Populares, 28/ out./2014)

Francisco contrasta a exclusão pelo sistema, a consequente cultura do descarte e a globalização da indiferença, com a criatividade e a criação de novidade na história, que ele observa nos movimentos populares: “Não obstante esta cultura do descarte, esta cultura da demasia, muitos de vós, trabalhadores excluídos, em excesso para este sistema, inventastes o vosso trabalho com tudo o que parecia não poder ser mais usado, mas vós, com a vossa habilidade artesanal, que Deus vos deu, com a vossa busca, com a vossa solidariedade, com o vosso trabalho comunitário, com a vossa economia popular, conseguistes e estais a conseguir... E, deixai que vos diga, isto, além de ser

trabalho, é

poesia! Obrigado”

(idem.)

Enquanto na Evangelium gaudium, se referiu ao papel central ativo dos pobres na Igreja, Francisco em seus três encontros mundiais com os movimentos populares mostra outro aspecto mais amplo dessa realidade. Com efeito, leva a nível mundial a opção pelos pobres e pela Igreja dos pobres, sem distinguir fé ou não fé, esta ou aquela con ssão religiosa ou não religiosa, abraçando-os todos como criadores de um futuro possível e melhor. Observa:

“Sei que entre vós há pessoas de diferentes religiões, ofícios, ideias, culturas, países, continentes. Hoje, eles estão praticando aqui a cultura do encontro, tão diferente da xenofobia, da discriminação e da intolerância, que vemos com tanta frequência. Entre os excluídos, há aquele encontro de culturas no qual o todo não anula a particularidade” (Ibidem).

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* Agradecemos à Revista Teologia, da Caravaggio, Vocação de São Mateus (detalhe). Capela Contareli, Roma.

Povo e democracia no pensamento de Jorge Bergoglio / Papa Francisco

Rodrigo Guerra Lopes*

A raiz corrompida de uma sociedade global baseada no descarte leva a uma tensão estrutural no interior da condição humana, uma tensão que pode mostrar, mais uma vez, que cada pessoa e cada comunidade é feita para transcender, para buscar a plenitude da vida na verdade, bondade, beleza e justiça. Assim, partindo sempre de baixo e da periferia, com modéstia e perseverança, poderemos mostrar que “a reconciliação restauradora nos reanimará e nos fará perder o medo de nós mesmos e dos outros” (Fratelli tutti, FT 78 )

Quem deve ser o sujeito da política? Alguma classe social? O governo? Os partidos? Os “políticos”? Jorge Mario Bergoglio observou que os políticos, os grupos políticos e as instituições do Estado moderno vivem uma ruptura essencial com a vida real das pessoas concretas. “A nossa política não esteve, muitas vezes, decididamente ao serviço do bem comum, tornou-se um instrumento de luta pelo poder ao serviço dos interesses individuais e setoriais, de posicionamento e ocupação de espaços, em vez de conduzir processos. Não soube (não quis ou não soube) estabelecer limites, contrapesos e equilíbrios ao capital, de modo a erradicar a desigualdade e a pobreza que são os agelos mais graves de nosso tempo” (BERGOGLIO, J.M. Nosotros como ciudadanos, nosotros como Pueblo. Buenos Aires: Comisión de Pastoral Social, 2010).

Para ele, o dé cit da política, sua dissolução, reside no fato de que não nasce do povo, não se faz junto-com-o-povo e, portanto, muitas vezes não serve ao povo. O ressurgimento da

Para Jorge Mario Bergoglio / Papa Francisco, a realidade social e política não se constrói a partir da lógica do poder e dos poderosos, mas do ethos, o modo de ser, com seus valores e particularidades, que anima a vida das pessoas. Não coloca unilateralmente a questão política nas dinâmicas do poder, mas olha sobretudo –não exclusivamente – para a importância da construção de um sujeito social inscrito num percurso histórico.

política ocorre quando os cidadãos se descobrem parte de um povo. Descobrir-se “povo” é uma rica experiência: fraternidade cotidiana, generosidade sem expectativas, valorização de um ethos vivo que norteia a existência, rejeição da massi cação e, portanto, do anonimato. Descobrir um povo signica usar a tradição como hipótese a ser veri cada em cada geração e como impulso para repensar o que deve ser feito para promover concretamente o bem comum.

O povo não é adequadamente explicado a partir da racionalidade que rege as sociedades atuais (cf. FT 158, 163). O povo é uma comunidade constituída por uma cultura e uma história, o povo é o lugar de pertencimento natural do ser humano, onde herda, caminhando com os outros, um patrimônio, que recria com seus esforços rumo ao futuro. O povo tem que emergir na responsabilidade cívica, na participação social e na luta política responsável – que não deve ser separada de sua raiz, mas, sim, estar a seu serviço.

Isso requer pessoas e comunidades nas quais, por meio da pertença, se possa desenvolver um caminho educativo comum: “Nada sólido e duradouro

pode ser obtido se não for forjado por meio de uma vasta tarefa de educação, mobilização e participação construtiva dos povos” (BERGOGLIO, J.M. Prólogo [in] CARRIQUIRY, G. Una apuesta por América Latina. Buenos Aires: Ed. Sudamericana, 2005).

Populismo e democracia. Nessa leitura, o populismo a que se refere a Fratelli tutti (FT) é viabilizado pela fragilidade da cultura democrática de algumas nações. A sua natureza surge quando um líder cativa a população procurando “instrumentalizar politicamente a cultura do povo, sob qualquer signo ideológico, a serviço do seu projeto pessoal e da sua permanência no poder. Outras vezes, procura aumentar a popularidade fomentando as inclinações mais baixas e egoístas de alguns setores da população. E o caso agrava-se quando se pretende, com formas rudes ou sutis, o servilismo das instituições e da legalidade” (FT 159). Algo que deve ser destacado, nesta citação, é que Francisco aponta que o populismo atual pode ocorrer “com qualquer signo ideológico”, há neopopulismos de direita e de esquerda.

O neopopulismo, embora pretenda

estabelecer-se como expressão autêntica do povo, ao minar a sua liberdade, ao manipular o seu ethos cultural e histórico, “ignora a legitimidade da noção de povo” (FT 157). A realidade do “povo” se for fragilizada, deformada ou manipulada, condiciona a existência das democracias, pois estas, em qualquer das suas de nições, apelam precisamente ao povo como dimensão constitutiva e incontornável.

É por isso que o Papa Francisco aprecia muito o potencial dos “movimentos populares” que crescem de baixo e, pouco a pouco, se encontram e criam sinergias entre si. Para entender o real papel desses movimentos, é preciso dizer que fazer política “para o povo” não é o mesmo que fazer política “a partir do povo”, ou seja, a partir do afeto e do pertencimento real a uma comunidade unida por sua cultura e sua história, que se põe em movimento. A democracia, como toda realidade política, é frágil, imperfeita e gera decepções. No entanto, em seu nome mora o ideal de uma participação mais igualitária que limite o despotismo e sua violência. Hoje, mais do que nunca, a democracia precisa do povo, do povo real, como remédio saudável. A democracia exige ser capaz de gerir a vida humana imperfeita, individual e comunitária, respeitando as condições que a impedem de cometer suicídio político.

No povo está a resposta. Bergoglio não para de insistir em olhar para a realidade do povo, ou seja, para a necessidade de viver em simbiose com o povo, de ser povo, para gerir o bem comum e não provocar uma separação metodológica e existencial entre os políticos e as pessoas reais, aquelas que sofrem e das quais é muito fácil falar sem realmente compartilhar suas vidas. Repensar a política e reconstruí-la em sua natureza autêntica não envolve tanto círculos intelectuais ou grupos supostamente “estratégicos” que buscam reorganizar a sociedade de acordo com o bem.

As elites e os grupos políticos só contribuem realmente para o bem comum quando vivem e trabalham a partir de uma profunda pertença e adesão voluntária a um estilo de vida que não está separado do povo, de sua história, de seus desejos, de seu ethos real. Só assim é possível compreender o potencial mobilizador e sensibilizador da categoria “povo que caminha na história”. Só assim é possível reconstruir, a partir de baixo e da periferia, aquilo que muitas vezes o “vértice” e o “centro” não conseguem construir.

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Ciências Sociais.
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O diálogo socioambiental a partir da Laudato si’

São Paulo VI já se referia à questão ecológica e à crise ambiental, na Octogesima adveniens (OA 21), de 1971. Em um discurso à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em 1970, antes mesmo da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Estocolmo, 1972) já advertia: “Por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, [o ser humano] começa a correr o risco de destruí-la e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação”. Seus sucessores continuaram a se referir ao tema, mas a comunidade católica mundial só incorporou sistematicamente a perspectiva socioambiental com a Laudato si’ (LS), do Papa Francisco, publicada em 2015. É a partir daí que podemos pensar num diálogo efetivo entre movimento ambientalista e pensamento social católico, com ambos se enriquecendo mutuamente.

A contribuição do ambientalismo.

Ainda que tanto interesses econômicos quanto posicionamentos ideológicos e partidários contaminem os debates sobre o tema, existe atualmente um consenso sobre a gravidade dos desa os ecológicos, por força da observação empírica, dos dados cientí cos e da sucessão crescente de desastres naturais que acometem o planeta. Assim, seguindo todos os papas desde São Paulo VI (cf. LS 3-6), também a comunidade católica vem se comprometendo cada vez mais com essa luta pela “casa comum”.

A Laudato si’ marca o reconhecimento de nitivo desta crise ambiental, tanto em nível mundial quanto local, pela comunidade católica. A “ecologia integral”, que considera a interligação entre todas as coisas e o aspecto social das ameaças ambientais, aporta uma consciência crescente da necessidade de incluir a dimensão ambiental nos trabalhos e na espiritualidade das comunidades cristãs.

A crise do ambientalismo utópico e a contribuição de Francisco. O movimento ecológico tem originalmente um aspecto utópico, de busca de “um outro mundo possível”. Contudo, à medida que a crise ecológica e seus desdobramentos passaram a ser reconhecidos por governos, empresários e lideranças sociais em geral, as metas ambientalistas, para muitos, não foram pensadas nessa perspectiva utópica, mas apenas como possibilidade de “evitar o pior para este mundo”, oportunidades para o econegócio e a expansão capitalista, minando a busca por um outro modo de viver, crítico ao consumismo e ao materialismo ocidental – para desgosto de muitos militantes desejosos de uma mudança mais profunda da sociedade. Nesse contexto, Francisco e a Laudato si’ surgiram como uma injeção

O Papa Francisco, na Laudato si’ (LS) lê a realidade a partir do confronto entre o amor/cuidado que respeita, inclui e protege os fracos e toda a criação, e o poder/ dominação que degrada, explora e descarta as pessoas e a natureza. Não fomos educados para um “reto uso” tanto da ciência quanto da economia (LS 102-105) e porisso,precisamosda‘conversãoecológica’pessoalLS 202ss)edodiálogosocialepolíticoparasuperarmosa crise ecológica e construir uma sociedade mais justa e humana (LS 163ss).

as coisas integradas e a experiência religiosa, que “religa” o ser humano ao Criador de todas as coisas e à sua criação.

Falando sobre a conversão ecológica, à qual todos estão chamados, o Papa escreve: “Ajudam a enriquecer o sentido de tal conversão várias convicções da nossa fé, como, por exemplo, a consciência de que cada criatura re ete algo de Deus e tem uma mensagem para nos transmitir ou a certeza de que Cristo assumiu em Si mesmo este mundo material e agora, ressuscitado, habita no íntimo de cada ser, envolvendo-o com o seu carinho e penetrando-o com a sua luz; e ainda o reconhecimento de que Deus criou o mundo, inscrevendo nele uma ordem e um dinamismo que o ser humano não tem o direito de ignorar [...]Convido todos os cristãos a explicitar esta dimensão da sua conversão, permitindo que a força e a luz da graça recebida se estendam também à relação com as outras criaturas e com o mundo que os rodeia, e suscite aquela sublime fraternidade com a criação inteira que viveu, de maneira tão elucidativa, São Francisco de Assis” (LS 221).

de idealismo, esperança e amor a revitalizar o movimento ecológico e energizar a juventude. O Papa que se despira dos sinais de poder eclesiástico, que testemunhava com seus gestos um amor concreto pelos excluídos e empobrecidos, abraçava a questão ecológica não apenas com o pragmatismo ditado pela gravidade da crise ambiental, mas com o

carinho de quem “sonha” um mundo mais humano – como retoma na Querida Amazonia, com seus quatro sonhos: social, cultural, ecológico e eclesial. Com a mediação da gura de São Francisco de Assis, a espiritualidade cristã retoma seu papel seminal diante do movimento ecológico – e não se pode deixar de notar a a nidade entre um movimento que vê todas

A ecologia integral é afetiva e espiritual. A falta de vivência com a questão ecológica levou os próprios cristãos a pensar na ecologia integral da Laudato si’ a partir do paradigma “todas as coisas estão interligadas”. Tal paradigma está presente, de fato, na ecologia integral, assim como em todo o pensamento ecológico. A especi cidade do adjetivo “integral” está em outro lugar: na capacidade de integrar a dimensão afetiva, a estética e a espiritual à militância ambientalista. Também aqui não se pode falar propriamente numa “exclusividade”, essas dimensões sempre foram importantes para os ambientalistas, mas raras vezes foram vistas como essenciais para a resolução dos problemas ecológicos. Segundo Francisco, para solucionar os problemas ecológicos, “é necessário recorrer também às diversas riquezas culturais dos povos, à arte e à poesia, à vida interior e à espiritualidade. Se quisermos, de verdade, construir uma ecologia que nos permita reparar tudo o que temos destruído, então nenhum ramo das ciências e nenhuma forma de sabedoria pode ser transcurada, nem sequer a sabedoria religiosa com a sua linguagem própria” (LS 63). Essa integração é possível a partir de um amor que “cuida” tanto da natureza quanto dos irmãos: “o amor social impele-nos a pensar em grandes estratégias que detenham e cazmente a degradação ambiental e incentivem uma cultura do cuidado que permeie toda a sociedade” (LS 231).

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Francisco e a economia que faz viver

O século XX foi aquele em que se tentou uma crítica sistemática do capitalismo, mas justamente no momento em que este atingia o seu apogeu. O movimento socialista e o movimento social-cristão tinham em comum a busca de algo novo que superasse a forma capitalista sem renunciar a muitos dos elementos civilizatórios do mercado – as muitas ‘terceiras vias’.

No século XXI, o capitalismo tornou-se o ambiente em que vivemos e pensamos e, por isso, perdemos a capacidade cultural de olhá-lo, analisá-lo e criticá-lo, para poder colocar-lhe as questões fundamentais da justiça, da verdade e da igualdade. Mesmo as diversas formas de empresa responsável, ou a própria economia social e sem ns lucrativos, muitas vezes são concebidas dentro da lógica capitalista, à qual seguem, e se mostram cada vez mais necessárias para o bom funcionamento do sistema. Na verdade, como o sociólogo francês Luc Boltanski há muito lembra, a característica típica desse capitalismo é sua capacidade de “reciclar” seus inimigos e colocá-los a seu serviço.

Nos tempos de São João Paulo II e Bento XVI, a Igreja geralmente subestimou o signi cado ‘religioso’ e idolátrico do capitalismo, porque estava comprometida, em um caso, com a luta contra o comunismo e, no outro, na batalha teológica contra o relativismo – e não percebeu que um inimigo muito mais sutil estava vestido com a roupagem cultural do Cristianismo (como nos lembrava W. Benjamin: o capitalismo é um parasita do Cristianismo), ocupando a alma do Ocidente e do mundo inteiro.

A economia que mata. Neste clima cultural dentro e fora da Igreja, o

O Papa Francisco sempre deu grande importância às questõeseconômicas.Ébemconhecidasuacondenação à “economia que mata”, mas também encontramos, em seu magistério, o estímulo à construção de uma economia que faz viver, como demonstrado pela Economy of Francesco, que congrega milhares de jovens e inumeráveis projetos em todo o mundo.

discurso do Papa Francisco sobre a economia representa uma descontinuidade em relação aos seus predecessores imediatos, embora esteja ligado, de certa forma, à Popolorum progressio de São Paulo VI.

O Papa Bergoglio escreveu a primeira palavra sobre economia, em seu ponti cado, na noite de 13 de março de 2013, quando escolheu seu nome. Francisco é uma mensagem, uma mensagem plural, e é, também, uma mensagem para a economia. Não é apenas sobre a pobreza, porque Francisco é também uma mensagem dirigida à teoria econômica e às nanças. A primeira escola de economia da Idade Média oresceu dos franciscanos, e deles nasceram os primeiros bancos populares europeus: são os Monti di Pietà, centenas de instituições de crédito nascidas dos observantes franciscanos entre 1458 e o Concílio de Trento. Francisco de Assis não é só pobreza, é também riqueza, ainda que na perspectiva paradoxal e profética do Evangelho, que proclama “bem-aventurados os pobres”.

O Papa Francisco atribuiu imediatamente grande importância à economia. Suas encíclicas, incluindo Amoris laetitia – sobre a família, têm muitas palavras e parágrafos dedicados às questões econômicas. Percorrendo seu ensinamento econômico

da Evangelii gaudium (EG) à mensagem para os jovens da ‘Economia de Francisco’ em Assis em setembro de 2022, podemos tentar um primeiro balanço e dar uma primeira olhada no todo.

No início, o Papa Bergoglio apresentou uma visão crítica e substancialmente negativa da economia, que via essencialmente como um lugar de exploração dos pobres, que descartava pessoas e produtos para o meio ambiente. Este é o sentido das teses da Evangelii gaudium, encerradas na sua frase mais conhecida: a economia que mata (EG 53ss).

Esse seu olhar crítico sobre a economia surgiu, sobretudo, da sua visão das nanças, que acabou por abarcar toda a realidade econômica. Além disso, a grande atenção de Francisco à ecologia e ao meio ambiente (outra nota franciscana) produziu e produz um julgamento muito duro sobre o capitalismo que está prejudicando seriamente a criação.

A economia que faz viver. Ao longo dos anos, graças ao diálogo e à sua capacidade de escuta, Francisco explicitou mais a coexistência, na economia, entre a luz e a sombra, o trigo e o joio, os vícios e as virtudes, falando inclusive da economia do ‘bom samaritano’, a parábola em torno da qual construiu a Fratelli tutti, que na Igreja

cresce ao lado da ‘economia de Judas’ e que a supera (Discurso na Assembleia da Con ndustria, 12/set./2022). Esse olhar mais positivo inspira também todas as suas quatro mensagens (2019, 2020, 2021 e 2022) aos jovens da ‘Economia de Francisco’ –até porque, se falamos aos jovens, a crítica deve ser sempre acompanhada de um olhar generoso, que é essencial para eles (mas também para todos). O sistema econômico de amanhã só vai melhorar se, ao mesmo tempo em que denunciamos a economia que mata, apontamos para aquela outra economia que faz viver.

Habitar a ambivalência. Em conclusão, a avaliação espiritual e ética da economia do Papa Francisco é marcada pela ambivalência. A vida econômica nada mais é do que uma expressão da vida dos indivíduos e dos povos – e a vida é ambivalente. A antropologia bíblica sabe que Adão é o pai de Abel e Caim, assim como sabe que Judas foi um dos doze apóstolos, não apenas o administrador dasnanças da comunidade.

Habitar a ambivalência da economia signi ca, sobretudo, evitar as ideologias, de direita ou de esquerda, que, esquecendo essa ambivalência, consideram apenas os aspectos bons ou maus de cada posição econômica, como se estes representassem tudo.

O magistério de Francisco é, portanto, uma cura para a ideologia econômica dominante, uma cura que é a expressão concreta de um dos princípios metodológicos que ele enunciou no início de seu ponti cado: a realidade é superior à ideia. Até na economia. universitário.

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--Vatican Media

Sinodalidade e família a partir do Papa Francisco

Na exortação apostólica pós-sinodal Amoris laetitia (AL)doPapaFrancisco,lê-seque“aIgrejaéfamíliade famílias, constantemente enriquecida pela vida de todas asigrejasdomésticas”(AL87).Dosmuitosevariados temas concernentes à família ou às relações familiares dentro e fora da Igreja abordados pelo documento, vale a penadestacaranoçãodeIgrejacomofamíliadefamílias, pois, no contexto de 10 anos de ponti cado, Francisco resolveu enfrentar decididamente as questões relativas à vida familiar e à vida eclesial na atualidade. Ademais, as duas temáticas envolvem dois conceitos-chave para o Papa: a alegria e a fraternidade.

Retomando o relatório nal do Sínodo ordinário (2015) para a família (Relatio nalis), a Amoris laetitia (AL) a rma que “em virtude do sacramento do Matrimônio, cada família torna-se, para todos os efeitos, um bem para a Igreja. Nesta perspectiva, será certamente um dom precioso, para o momento atual da Igreja, considerar também a reciprocidade entre família e Igreja: a Igreja é um bem para a família, a família é um bem para a Igreja” (AL 87). Se situamos essa relação no momento atual da Igreja, é possível, e até necessário, elaborar uma analogia entre Igreja e família numa perspectiva de sinodalidade desejada para o hoje e o amanhã da missão da Igreja, entendida na concreta comunhão e participação.

No contexto da crise atual. O Papa, na Evangelii gaudium (EG), constata que “a família atravessa uma crise cultural profunda, como todas as comunidades e vínculos sociais. No caso da família, a fragilidade dos vínculos se reveste de especial gravidade, porque se trata da célula básica da sociedade” (EG 66). A crise cultural que marca os vínculos comunitários e sociais não afeta somente a família em suas relações, mas, também, a “família de famílias” ou “comunidade eclesial”, aproximando as expressões como o faz o Documento de Aparecida (DAp 119).

A analogia é clara quando a Amoris laetitia retoma novamente o relatório nal do Sínodo ao postular que “os cônjuges são de certo modo consagrados e, por meio duma graça própria, edi cam o Corpo de Cristo e constituem uma igreja doméstica (cf. Lumen gentium, LG 11), de tal modo que a Igreja, para compreender plenamente o seu mistério, olha para a família cristã, que o manifesta de forma genuína” (AL 67). O ser igreja doméstica da família cristã se concretiza por aqueles elementos mesmos das primeiras comunidades cristãs que desenham o rosto da Igreja, família de famílias, presentes nos

Atos do Apóstolos: “Os que haviam se convertido eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2, 42).

Se é verdade que para a Igreja compreender plenamente o seu mistério faz-se necessário olhar para a família cristã, torna-se urgente, senão vital para a vida eclesial, levar mais a sério a analogia entre Igreja e família sobretudo no que concerne ao modus vivendi (o modo de vida) da família, num contexto de transformação dos vínculos e das relações familiares a partir do encontro com Jesus Cristo.

Por uma forma eclesial familiar. Com a proposta de sinodalidade lançada pelo Papa Francisco, o modus vivendi (modo de viver) da Igreja está sendo debatido, a m de deixar transparecer mais e melhor o seu modus essendi (modo de ser). Propor uma forma eclesial familiar signi ca operar uma analogia capaz de suscitar inadiáveis e fundamentais transformações no modus vivendi da Igreja. Nesse contexto, surge, de imediato, um questionamento sobre uma relação eclesial ainda muito “verticalizada”, marcadamente hierárquica, muitas vezes engessada num estilo “quase militar” do tipo superior-subalterno, veri cado nas relações não só entre bispos, sacerdotes e diáconos, mas destes últimos com o restante do povo de Deus, e até mesmo no meio deste, em nossas diversas comunidades espalhadas pelo Brasil.

As relações familiares na contemporaneidade, sem tender para nenhuma ideologia, são, de fato, muito mais “horizontalizadas”. A rma-se que na família cada membro é visto em sua totalidade. Pais e mães, mantendo a autoridade e a responsabilidade sobre os lhos, em particular os menores, procuram exercer seu ofício de modo mais dialogado, especialmente a partir da adolescência, por meio de argumentos convincentes sobre o que é o bom a ser buscado e o mal a ser evitado, sobre os projetos de

vida e as decisões pessoais e sociais. A relação entre o homem e a mulher tende a ser de reciprocidade mútua, em igual dignidade, valorizando ao mesmo tempo aquilo que é próprio do universo feminino e masculino. Em suma, as relações familiares, embora também provocadas pelas transformações e mudanças, podem ser exemplares para uma Igreja chamada a ser família de famílias.

No caminho sinodal. Se é verdade que todo corpo humano necessita de uma coluna vertebral, que se con gura como “eixo vertical” desse corpo, também é verdade que sem uma estrutura óssea e uma massa muscular correspondentes – a dimensão “horizontal” do corpo, por assim dizer – esse corpo tende a se encurvar, dobrando sobre si mesmo, adquirindo uma postura irregular, de ciente e doentia. Sem negar, portanto, a necessidade de uma hierarquia – não somente entendida como aquela o cial – que seria a dimensão vertical da Igreja, reconhece-se que ainda há muito o que fazer para dar lugar a uma dimensão mais horizontal da vida eclesial. O modus operandi (modo de operar ou de fazer) eclesial ainda carece muito de transformações para se chegar a um modus vivendi de uma Igreja família de famílias. Com o afã de levar a cabo missões, planos de pastoral, projetos de evangelização ou até mesmo de ação social, muitas vezes as pessoas, incluindo os ministros ordenados, são quase que “instrumentalizados”, pois, o que conta, ao nal, parece ser o bom êxito da ação. Nesse sentido, alegria e fraternida-

de no seio da família cristã e da vida eclesial cam somente como palavras de documentos ou belos discursos. Re etindo sobre o modo de se relacionar em família, o Papa Francisco a rma: “A pessoa amada merece toda a atenção. Jesus era um modelo, porque, quando alguém se aproximava para falar com Ele, xava nele o seu olhar, olhava com amor (cf. Mc 10, 21). Ninguém se sentia transcurado na sua presença, pois as suas palavras e gestos eram expressão desta pergunta: ‘Que queres que te faça?’ (Mc 10, 51). Vive-se isso na vida cotidiana da família. Nela, recordamos que a pessoa que vive conosco merece tudo, pois tem uma dignidade in nita por ser objeto do amor imenso do Pai. Assim oresce a ternura, capaz de suscitar no outro a alegria de sentir-se amado” (AL 323).

A proposta de uma forma eclesial familiar sugere que tais atitudes vividas no seio da família, inspiradas nos gestos de Jesus, tornem-se igualmente atitudes eclesiais. Espera-se, assim, que com as perguntas: “você pode fazer isso?”, “você está disponível para essa missão?”; façam-se outras, tais como: “o que você pensa sobre isso?” e “como você está?”, a m de que a Igreja, família de famílias, possa encarnar, de fato, a alegria e a fraternidade advindas da experiência de fé em Jesus Cristo.

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Dicastério para os Leigos a Família e a Vida

Dois Franciscos: o Pobrezinho e o Papa

O lema do Papa Francisco é “Miserando atque eligendo” (olhou-o com misericórdia e o escolheu). As palavras são de uma homilia de Beda, o Venerável (Hom. 21; CCL 122, 149151): “Vidit ergo Iesus publicanum et quia miserando atque eligendo vidit, ait illi: Sequere me” (Jesus viu o publicano, e o viu com misericórdia, escolhendo-o, e lhe disse: Siga-me).

O encontro entre o mísero e a misericórdia é a fonte do chamado ao seguimento de Jesus Cristo, ao seu discipulado. São Francisco de Assis fez a experiência da conversão crística e evangélica como o encontro com o Deus do amor e com amor de Deus em sua gratuidade e ternura, amor que, em face da fragilidade e à miséria humana, se mostra como misericórdia. Em seu Testamento, Francisco de Assis recorda que sua passagem para o mundo da graça se fez ao ter sido conduzido pelo Senhor para entre os leprosos e ao fazer misericórdia com eles. O Papa Francisco nos evoca tal experiência, ao se lembrar dos últimos, dos menores, ao convidar ao encontro terno com eles, vindo-lhes em socorro, provoca-nos à experiência da compaixão e da misericórdia, essencial num mun-

Nomen est omen. Nome é presságio, diz um dito latino. Quando o Cardeal Bergoglio, em 2013, recebe o nome de Papa Francisco, inspirado na recomendação do franciscanoDomCláudioHummes–“Nãoseesqueça dos pobres!” – é um destino que de antemão se delineia. No coração de Bergoglio, São Francisco de Assis se apresentou como o homem da pobreza, da paz, do amor e da guarda do criado. O nome Francisco evoca o desejo de uma Igreja pobre para os pobres. Para reformar a Igreja, porém, é preciso que seja transformada a sua mente e o seu coração. Recordemos algumas direções desta transformação.

do tão dilacerado pelo sofrimento, pelas guerras e con itos, pelas culpas humanas. Só a misericórdia de Deus, revelada em Jesus Cristo, pode salvar a humanidade e a própria Igreja.

Da misericórdia e de sua força que perdoa e salva, propiciando um recomeço ao ser humano, nasce a alegria e a paz. O Evangelho é uma mensagem de alegria, de jovialidade. Agraciado com a jovialidade do Cruci cado e Ressuscitado, o ser humano pode se alegrar e viver em paz. A jovialidade conduz o ser humano ao livre e ao luminoso, à dimensão da cháris, isto

é, da benevolência, da gratuidade e graciosidade do amor-caridade. São Francisco de Assis foi o homem da perfeita alegria, que vem da gratuidade do amor, que se experimenta na união com o Cruci cado e que faz experimentar a força de sua Ressurreição, do novo céu e da nova terra que Dele nasce, da nova criação que irrompe no coração da velha criação. Assim, as exortações apostólicas do Papa Francisco chamam à alegria, ao gáudio, à exultação pascal.

O amor fraterno, gratuito e universal é a marca da identidade do

discípulo de Cristo. Esse amor revoluciona a convivência humana e propõe uma vida comunitária e social baseada não apenas na justiça, mas também na amizade social. A Fratelli tutti traça esse caminho de fraternidade universal vivida por São Francisco de Assis, de quem é tirado o nome da encíclica. O mundo moderno fez revoluções em nome da liberdade e em nome da igualdade, mas não fez em nome da fraternidade. A Fratelli tutti aponta nessa direção. E a Laudato si’ estende o amor universal e o princípio da misericórdia àquela que São Francisco de Assis chamou de irmã e mãe Terra, bem como aos seus lhos, dando-lhe dimensões ecológicas.

A Terra é, entre os pobres, entre os esquecidos, a mais pobre e mais esquecida. A miséria da Terra e a dos pobres andam juntas. O Papa Francisco não cansa de chamar a uma conversão nesse sentido para o cuidado com a casa comum. É um chamado a habitar a Terra de outro modo: ao modo do cuidado do amor universal-concreto.

A missão e o discernimento na trajetória do Papa jesuíta*

Jorge Mario Bergoglio pertence a uma ordem missionária, nasceu e cresceu num continente de missão. Como papa, o mundo se torna seu campo de missão e a índole missionária molda seu comportamento como pontíce. Sua proposta eclesial não começa com mudanças estruturais, mas, sim, com “a transformação missionária da Igreja” (Evangelii gaudium, EG 19ss), “indo às periferias”, sendo “Igreja em saída”. Não se trata de um ativismo... O missionário vive, de um modo ou de outro, nas periferias materiais ou existenciais, seu modus operandi é sempre “em saída”, procurando se adequar às necessidades do outro e encontrar a melhor forma de comunicar-se com ele. A paixão que move o missionário não é de ordem celebrativa, social ou política. Seu desejo é viver com Cristo e levá-Lo aos demais.

Nesse sentido deve ser lido, por exemplo, seu sonho eclesial em Querida Amazonia (QA): “Seria triste se [os pobres] recebessem de nós um código de doutrinas ou um imperativo moral, mas não o grande anúncio salví co, aquele grito missionário que visa ao coração e dá sentido a todo o resto [...] Sem esse anúncio apaixonado, cada estrutura eclesial transformar-se-á em

Émuitomaisdoqueumacoincidênciaqueoprimeiro papa latino-americano seja também o primeiro papa jesuíta. Não seria possível contar, de forma dedigna, a história de nosso continente sem falar na presença jesuíta. No Papa Francisco, encontramos essa estreita imbricação entre a alma latino-americana e o espírito inaciano. Ainda que Francisco faça questão de explicitar quenãosetratadeum“jesuitismo”nopapado,omodo de ser jesuíta é fundamental para entendê-lo.

mais uma ONG e, assim, não responderemos ao pedido de Jesus Cristo: ‘Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura’ (Mc 16, 15)” (QA 63-64).

Numa entrevista concedida ao também jesuíta Antonio Spadaro, o Papa Francisco faz, provavelmente, a mais longa explicitação do signi cado da Companhia de Jesus em sua vida. Nela, declara que o discernimento é a maior ajuda que a espiritualidade inaciana deu para viver seu ministério. Em outra ocasião, disse que o discernimento é uma das grandes contribuições da Companhia de Jesus à Igreja.

Em 14 catequeses, Francisco ex-

plicita como entende o discernimento. Mesmo que implique inteligência, perícia e esforço, não é algo apenas racional. Envolve os afetos e a vontade –pois podemos até entender uma coisa e nem assim aderir a ela. Não se resume também a uma análise da situação e da busca da solução mais racional. O discernimento é a ajuda para reconhecer os sinais pelas quais o Senhor se deixa encontrar nas situações e aderir às indicações que daí nascem. Pressupõe a amizade e a intimidade com Cristo, cultivadas na oração, o olhar atento para si mesmo, para as próprias potencialidades e pecados, bem como para a realidade.

Nesta prática do discernimento, podemos encontrar as raízes de muitos traços característicos de Francisco. Quem se conhece e vive na amizade com Cristo, se sabe pecador e tem a liberdade humilde de se confessar como tal e julgar o mundo a partir de sua condição de pecador redimido. A realidade se torna o palco apaixonante da revelação do amor de Deus por nós, as surpresas e mesmo as perturbações se apresentam como novas oportunidades para compreender melhor Sua vontade. As regras e as normas não perdem a validade, mas precisam continuamente ser compreendidas à luz da intimidade com Cristo, da atenção à realidade e do amor aos que sofrem.

Também da prática do discernimento vem sua insistência no ouvir, ponto forte da sinodalidade: “Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta, ciente de que escutar é mais do que ouvir. É uma escuta recíproca, na qual cada um tem algo a aprender” (Comemoração do Cinquentenário do Sínodo dos Bispos, 17/out/2015).

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Rafael D’Aqui

Nos centros urbanos ou nas comunidades rurais praticamente inacessíveis; em bairros bem planejados ou em meio aos bolsões de pobreza nas periferias das cidades. Em todo o lugar e em qualquer contexto, sempre haverá a presença da Igreja e cristãos dispostos a testemunhar a fé, a esperança e a caridade. E é para apoiá-los e para assegurar a dignidade de vida de quem mais precisa que foi criada, em 1947, a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), que somente no ano de 2021 deu apoio a quase 5,3 mil projetos, em 132 países, entre os quais o Brasil, onde a instituição mantém um escritório desde 1997.

Nas últimas semanas, Rafael D’Aqui, que desde 2020 é diretor de projetos da ACN para a América Latina, sendo também responsável pela aprovação de projetos no Brasil, visitou dioceses em diferentes partes do País e dialogou com os bispos sobre os desa os que enfrentam para a evangelização e de que forma podem ser ajudados pela ACN, conforme detalha na entrevista a seguir, na qual também agradece a todos os benfeitores que apoiam essa rede de ajuda à Igreja que sofre, cujos trabalhos podem ser conhecidos no site https://www.acn.org.br

O SÃO PAULO – Desde 1997, a ACN mantém um escritório no Brasil e já apoiou mais de 6,9 mil projetos no País. Se pudéssemos fazer uma comparação dos tipos de projetos que receberam apoio naquela época com os que a instituição apoia hoje, o que mudou em relação aos pedidos?

Rafael D’Aqui – A ACN sempre buscou socorrer a Igreja em necessidade, auxiliando projetos pastorais. Aqui no Brasil, isso se traduziu na construção e reforma de seminários, igrejas e capelas; ajuda para sacerdotes e religiosas nas regiões mais pobres, distribuições de mais de 10 milhões de exemplares da Bíblia da Criança e tantos outros projetos que sempre tiveram como intenção permitir que membros da Igreja possam levar o Evangelho aos lugares mais distantes e difíceis.

No nal da década de 1990, nosso histórico de projetos mostra que havia no Brasil uma necessidade muito grande de ajudar a Igreja a expandir sua presença na mídia, levar a Boa-Nova por meio dos canais de televisão e de rádios. Nesse ponto, auxi-

liamos também as emissoras de tevê e rádios católicas para que pudessem ter um maior alcance.

Hoje, os projetos que recebemos do Brasil continuam a pedir melhor infraestrutura para a Igreja. Existe uma grande necessidade na região Norte, onde muitos padres precisam de barcos para visitar as comunidades mais distantes. Em regiões do Amazonas, um sacerdote precisa passar dias em um barco para chegar a uma comunidade. O problema é que muitas vezes o padre não o possui e, então, a ACN pode ajudá-lo a conseguir esse meio de transporte. No Nordeste, as distâncias também são enormes, padres são responsáveis por dezenas de comunidades e, muitas vezes, não as visitam por não terem um veículo adequado. Há pedidos de ajuda também para auxiliar no sustento de religiosas e missionários inseridos nas realidades mais pobres dos grandes centros urbanos do Brasil. Essas missionárias e religiosos são muitas vezes a mão estendida da Igreja que chega até os mais vulneráveis.

Quais são os principais balizadores para que a ACN apoie um projeto total ou parcialmente? Como se dá o processo de contato da paróquia ou da congregação religiosa com a ACN?

O principal balizador para que um projeto seja apoiado pela ACN é sua natureza pastoral e a necessidade. Ou seja, ajudamos aqueles lugares em que os cristãos já não têm mais a

quem pedir socorro. Para muitas comunidades, é quase impossível conseguir construir uma capela ou sustentar a presença de um missionário apenas com os recursos do povo. Para o processo de envio do pedido, é necessário sempre a aprovação por escrito do bispo local ou superior geral, no caso de congregações. Uma vez que o pedido chega até a nossa sede administrativa, é analisado e, se aprovado, fazemos as campanhas para que os benfeitores da ACN possam ajudar com suas doações. A nal, são os benfeitores que fazem toda essa obra de amor acontecer.

Recentemente, o senhor foi a dioceses brasileiras e também esteve, em abril, na 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Nessas conversas com os bispos e com outras lideranças diocesanas, quais foram as maiores necessidades apontadas?

Eu encontrei muitas histórias da Igreja no Brasil em lugares desa antes. Distâncias enormes, centenas de quilômetros a serem percorridos pelos padres e religiosas. Outro aspecto são as realidades culturais, diversas etnias indígenas inseridas em uma mesma diocese. Há também zonas de con ito social. Existem dioceses que estão onde há atividade de garimpo ilegal e a Igreja vive esse drama junto com a população local. Outro ponto são os lugares de violência. Muitos bispos relatam sobre a realidade das drogas e da violência gerada como

uma grande chaga que afeta a vida pastoral. Mas também encontrei uma gratidão muito grande dos bispos com os benfeitores da ACN, por tudo o que estes têm feito pela Igreja que sofre no Brasil, na região Amazônica, no Sertão, do Oiapoque ao Chuí. Encontrei bispos que manifestaram, em lágrimas, a gratidão porque podem realizar seu ministério pastoral graças ao apoio de homens e mulheres generosos, os benfeitores da ACN.

A realidade pandêmica impactou a saúde de muitas pessoas e também as condições financeiras das famílias, que acabam por bater às portas das igrejas em busca de algum auxílio. Diante disso, o perfil dos projetos que requerem a ajuda da ACN aqui no Brasil mudou após o início da pandemia?

O per l dos projetos mudou durante a pandemia. Vamos recordar que muitas paróquias caram sem a ajuda nanceira de seus éis durante o isolamento. Recebemos muitos pedidos emergenciais de padres que não tinham o mínimo para continuar sua missão. Paróquias que estão nas regiões mais pobres também não tinham os meios para fazer a transmissão on-line da missa. Por isso, a ACN ajudou com muitos projetos de equipamentos para transmissão.

Já no momento atual, percebemos que os projetos são mais para manter as estruturas da Igreja, pois o Brasil –e consequentemente a Igreja – passa por um tempo econômico muito difícil. Muitos éis gostariam de ajudar mais a sua Igreja local, mas não têm condições. Muitos bispos me relataram que não sabem o que poderia ter acontecido nos últimos anos sem a ajuda da ACN.

Qual mensagem o senhor deixa aos que são benfeitores da ACN? E o que diz àqueles que ainda estão em dúvida se colaboram ou não com essa rede que ajuda à Igreja que sofre? Aos benfeitores da ACN, meu muito obrigado. Qualquer ajuda nos permite dar as mãos para os que estão em necessidades. Essa doação transforma a vida das pessoas. Juntos, tornamos a Igreja mais viva e mais próxima das pessoas. Para aqueles que ainda não são benfeitores da ACN, digo que, se as necessidades da Igreja no Brasil e no mundo tocam o seu coração, torne-se um benfeitor da ACN. Precisamos de você para tornar a Igreja mais viva e dinâmica, para que muitas pessoas possam descobrir a felicidade que é ser santo.

‘A ACN ajuda aqueles lugares em que os cristãos já não têm mais a quem pedir socorro’
As opiniões expressas na seção“Com a Palavra”são de responsabilidade do entrevistado e não re etem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br | 10 a 16 de maio de 2023 | Com a Palavra | 9
DANIEL GOMES osaopaulo@uol.com.br
ACN Brasil

Unidas a Deus, elas amaram seus filhos até o fim

SANTAS MÔNICA, RITA DE CÁSSIA E GIANNA BERRETA MOLLA TESTEMUNHAM O VERDADEIRO AMOR DE MÃE

“Mãe”. Essa palavra tão curta, quase sempre é acompanhada de muitos adjetivos afetivos a cada mulher que se abre

ao dom da vida e aos cuidados com os lhos, desde quando eles são concebidos até quando a vida dela chega ao m. Alegrias, angústias e incertezas envolvem a maternidade, mas, também, um forte laço de união dessas mulheres

com Deus, como testemunharam três mães que foram canonizadas pela Igreja. A seguir, o jornal O SÃO PAULO recorda suas biogra as, em homenagem ao Dia das Mães, comemorado no segundo domingo de maio.

SANTA MÔNICA: O PODER DA ORAÇÃO DE UMA MÃE POR SEU FILHO

Assídua à oração, à frequência aos sacramentos e à missa, Santa Mônica (331-387), nascida em Tagaste, no atual território da Argélia, casou-se aos 22 anos de idade com Patrício. Ela é sempre descrita como doce, benévola e disposta ao diálogo; Ele, como ambicioso e possessivo. Tiveram três lhos: Navígio, Perpétua e Agostinho, o primogênito, a quem a mãe dedicou incessantes anos de oração para que se reencontrasse na fé cristã com a qual foi educado na infância.

“Deus ouviu as preces desta santa mãe, à qual o Bispo de Tagaste dissera: ‘É impossível que se perca um lho de tantas lágrimas’. Na verdade, Santo Agostinho não só se converteu, mas decidiu abraçar a vida monástica e, regressando para a África, ele mesmo fundou uma comunidade de monges (...) Durante anos, o seu único desejo tinha sido a conversão de Agostinho, que agora via orientado até para uma vida de consagração ao serviço de Deus”, recordou o Papa Bento XVI, na re exão do Ângelus de 30 de agosto de 2009.

Santa Mônica, que cara viúva aos 39 anos de idade, morreu aos 56 anos. Seus últimos diálogos com Agostinho, na cidade de Óstia, na Itália, quando aguardavam para voltar à África, são reveladores da alegria da mãe em vê-lo abraçar verdadeiramente a fé cristã: “As minhas expectativas aqui na terra já se esgotaram. Somente uma coisa me fazia permanecer aqui embaixo... ver, antes de morrer, que você [Agostinho] se tornou cristão católico. Meu Deus me satisfez completamente, porque vejo que você até despreza a felicidade terrena para servir a Ele”.

Ao escrever sobre sua mãe, Santo Agostinho enfatizou: “Ela foi o meu alicerce espiritual, que me conduziu em direção à fé verdadeira. Minha mãe foi a intermediária entre mim e Deus”.

Canonizada pelo Papa Alexandre III, no ano de 1153, Santa Mônica é a Padroeira das mães cristãs, justamente por ter sido a responsável pela conversão do lho.

SANTA GIANNA BERETTA MOLLA: FIRME TESTEMUNHO DO SIM À VIDA

Médica pediatra e cirurgiã bem-sucedida na região de Milão, na Itália, Gianna Beretta Molla (1922-1962) tinha uma vida estabilizada e feliz com o esposo, Pedro Molla, e os lhos Pedro Luís, Mariolina e Laura, quando cou grávida pela quarta vez, em 1961.

Ao nal do segundo mês de gestação, porém, uma notícia abalou a tranquilidade daquele lar cristão: Gianna fora diagnosticada com um broma no útero, o que tornou sua gravidez de altíssimo risco. Recebeu a recomendação médica de abortar a criança, mas recusou veementemente essa indicação.

A mulher de 39 anos, que na juventude integrou a Ação Católica e se dedicou à caridade com os idosos e os necessitados nas conferências vicentinas, prosseguiu com a gravidez e a todos externou um pedido: “Se deveis decidir entre mim e o lho, nenhuma hesitação: escolhei – e isto o exijo – a criança. Salvai-a”.

Em 21 de abril de 1962, nasceu Joana Manuela. A criança e a mãe permaneceram internadas. A menina sobreviveu, mas Gianna faleceu uma semana depois. Em seu leito de dor, repetia em oração: “Jesus eu te amo, eu te amo”. Conforme a biogra a escrita por seu esposo, Gianna se considerava “apenas o instrumento da Providência para que aquela nova criaturinha viesse ao mundo”.

Considerada a Padroeira da defesa da vida, Santa Gianna Beretta Mola foi canonizada por São João Paulo II em 16 de maio de 1994. “Esta santa mãe de família manteve-se heroicamente el ao compromisso assumido no dia do Matrimônio. O sacrifício eterno que selou a sua vida dá testemunho de que somente quem tem a coragem de se entregar totalmente a Deus e aos irmãos se realiza a si mesmo”, disse o Pontí ce na ocasião.

SANTA RITA DE CÁSSIA: INTENSA MATERNIDADE FÍSICA E ESPIRITUAL

Às mães de todo o mundo, Santa Rita de Cássia (1371-1447) ensina que é mais importante pedir a Deus a salvação eterna de um lho do que seu triunfo momentâneo.

Nascida em uma família de humildes camponeses de Úmbria, na Itália, Margarida Lotti recebeu formação escolar e religiosa dos frades Agostinianos na cidade de Cássia. Ainda na adolescência, Rita, como era mais conhecida, casou-se com Paulo de Ferdinando de Mancino, sempre envolto em rivalidades políticas e que tinha uma vida desorientada. Ela sempre rezou para que o esposo se convertesse e isso aconteceu, mas as inimizades que ele cultivou ao longo da vida culminaram com seu assassinato.

Desde então, a oração de Rita foi para que seus lhos, Giangiacomo e Paulo Maria, não buscassem vingar a morte do pai, e, assim, não houvesse mais derramamento de sangue na família. Incessantemente, ela pedia a Deus para que os lhos não cometessem o pecado mortal de assassinar alguém, preferia até que Deus os lavasse para Si. Não demorou muito para que ambos adoecessem. Antes de morrerem, converteram-se cristãos e concederam o perdão ao assassino do pai.

Já sem familiares vivos, Rita ingressou no Mosteiro de Santa Maria Madalena de Cássia, onde permaneceu até o m da vida assistindo a idosos, enfermos e pobres.

“A lição da Santa concentra-se nestes elementos típicos de espiritualidade: a oferta do perdão e a aceitação do sofrimento, não já por uma forma de passiva resignação ou como fruto de feminina debilidade, mas em virtude daquele amor por Cristo”, declarou São João Paulo II, em 1982. “Rita interpretou bem o ‘gênio feminino’, viveu-o intensamente na maternidade tanto física como espiritual”, a rmou o São João Paulo II no ano 2000, quando se comemorou o centenário da canonização da Santa, ocorrida em 24 de maio de 1900.

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Imagens: Reprodução

A memória, a arte e a espiritualidade de Cláudio Pastro atravessam gerações

REFERÊNCIA NA ARTE

SACRA BRASILEIRA, ARTISTA, MORTO EM

2016, FOI TEMA DE UM SIMPÓSIO REALIZADO NO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DE SÃO PAULO ROSEANE WELTER

Para celebrar os 75 anos do nascimento de Cláudio Pastro (1948-2016), no sábado, dia 6, no Mosteiro de São Bento de São Paulo, aconteceu um simpósio promovido pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão da Faculdade São Bento, pelo Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS) e a Ideia Viva - Escola de Cultura.

Na 2a edição do simpósio “Memória, arte e espiritualidade – 75 anos de Cláudio Pastro” aproximadamente 130 pessoas se reuniram para re etir sobre o legado do artista, autor de pinturas, ícones, painéis, projetos arquitetônicos e objetos litúrgicos espalhados em centenas de igrejas, capelas, catedrais, conventos e mosteiros no Brasil e em outros países, como Alemanha, França, Espanha e Vaticano.

PIONEIRO E PROFÉTICO

Wilma Steagall De Tommaso, doutora em Ciências da Religião e amiga de Pastro, recordou-o como artista de personalidade singular e um homem culto. “Pastro foi um profundo conhecedor dos documentos conciliares, ‘decodicou o Concílio Ecumênico Vaticano II’. Corajoso, ousou colocar nas igrejas sua arte inovadora a partir dos anos 1980 em um País cuja cultura era predominantemente a do Barroco. Foi pioneiro e profético ao introduzir seus traços e sua mística nas igrejas”, ressaltou.

A pesquisadora Hilda Souto trouxe um “Panorama da obra de Cláudio Pastro” e a rmou que ele deixou um legado para a arte e impulsionou a própria Igreja a compreender a missão dos artistas sacros. “Cláudio foi, com certeza, responsável por um grande movimento de valorização da arte que aconteceu no Brasil”, a rmou.

‘ARTISTA QUE EVANGELIZA’

Madre Martha Lúcia Ribeiro Teixeira, OSB, abadessa do Mosteiro Nossa Senhora da Paz, em Itapecerica da Serra (SP), falou sobre a trajetória de amizade de Cláudio Pastro com as monjas e a in uência do carisma de São Bento na vida do artista.

“O primeiro contato se deu por meio da Madre Dorotéia Rondon Amarante (1916-2015), que foi sua mais marcante e duradoura in uência artística. E, desde então, manteve a amizade e a vivência do carisma e espiritualidade monástica”, recordou, mencionando que Pastro se

identi cou de tal forma com a Regra de São Bento que se tornou um oblato beneditino, adotando o nome de Irmão Martinho.

A Abadessa descreveu Pastro como um homem que buscava a Deus apaixonadamente em tudo o que fazia. “Sua intensa atividade artística brotava do amor que consagrava ao Senhor. Ele a rmava que sua escola sempre foi a liturgia, a participação nos sagrados mistérios, a Lectio Divina e o Ofício Divino”.

“Ele era um artista que evangelizava enquanto trabalhava, sempre preocupado em elucidar os elementos essenciais de cada projeto, suas referências bíblicas, litúrgicas e teológicas”, completou Madre Martha Lúcia.

A Madre revelou que em breve será inaugurado ao público o memorial dedicado ao artista, em anexo ao Mosteiro, junto à casa onde ele morou.

PERSONALIDADE MARCANTE

Em entrevista ao O SÃO PAULO, José Carlos Marçal de Barros, diretor executivo do MAS, mencionou que Pastro, “além de um grande artista, é uma personalidade marcante do século XX, que em seu pioneirismo inovou no conceito de Arte Sacra a partir de uma releitura dos documentos do Concílio Vaticano II”.

Diretor da Ideia Viva - Escola de Cultura, Luís Rodolfo Souza Dantas destacou que pensar Cláudio Pastro por ocasião de seus 75 anos é uma oportunidade para resgatar o papel da Arte Sacra no fortalecimento da fé: “Vale ressaltar que a Arte Sacra não é uma expressão da vaidade do artista, mas, sim, visa a enaltecer o propósito litúrgico, pastoral e catequético que, por meio da linguagem simbólica, potencializa a Palavra no coração do cristão”. Ele lembrou, ainda, que a “verdadeira Arte Sacra não é um mero ornamento, mas um propósito que contribui para uma efetiva metanoia no indivíduo”.

EVIDENCIAR O ESPAÇO DO SAGRADO

Lucia de Souza Dantas, docente e coordenadora da Faculdade São Bento, recordou a dimensão losó ca e teológica nas obras de Pastro. “Resgatar a dimensão mística na contemporaneidade é uma maneira de entender de fato qual é a diferença do objeto sagrado e qual é a diferença do espaço sagrado. Por isso, eu entendo que Pastro é um artista que tem um papel importante para resgatar o elemento sagrado e o espaço da igreja. Nesse sentido, é um artista basilar para se entender a Arte Sacra à luz da estética losó ca e teológica”, destacou.

Dom Camilo de Jesus Dantas, OSB, Diretor Geral da Faculdade São Bento, lembrou que Pastro é pioneiro na atualização da estética da Igreja: “Seus dons artísticos, somados à profundidade teológica e espiritual, proporcionam aos éis uma experiência de oração e mística. Como leigo consagrado, evangelizou por meio do belo, e pela sua arte, renovou a estética da Igreja”.

REFERÊNCIA E APRENDIZADO

Leonardo Caetano de Almeida, 38, é professor de Arte Sacra e desenhista. Ele tem Pastro como fonte de inspiração. “Pastro é referência em meu trabalho por seus traços precisos, permeados de espiritualidade e pautados na essência do Evangelho e nos ensinamentos da fé cristã”, pontuou.

Bruna Rodrigues de Sene, 21, é monitora cultural no Santuário Nacional de Aparecida. Ela salientou que participar do simpósio foi uma oportunidade para beber da fonte e transmitir esse conhecimento aos devotos que vão à Casa da Mãe e contemplam as obras de Pastro:

“É nítido o encantamento das pessoas ao se depararem com as pinturas e ícones do artista sacro que conduzem a uma experiência e ao encontro pessoal com Cristo”.

CONHEÇA MAIS SOBRE A VIDA E A OBRA DE CLÁUDIO PASTRO

Nasceu em São Paulo, no bairro do Tatuapé, em 15/10/1948; De família humilde, começou a pintar em papéis de saco de pão; Em 1972, formou-se em Ciências Sociais pela PUC-SP. Cursou Teoria e Técnicas de Arte na Abbaye Notre-Dame, de Tournay (França), no Museu de Arte Sacra da Catalunha (Espanha), na Academia de Belas Artes Lorenzo de Viterbo (Itália), na Abadia Beneditina de Tepeyac (México) e no Liceu de Artes de São Paulo;

A partir de 1975, dedicou-se à Arte Sacra, assinando vários projetos arquitetônicos, pinturas, vitrais, azulejos, altares, peças litúrgicas e livros.

As suas primeiras obras estão na Capela do Mosteiro Nossa Senhora da Paz, em São Paulo. Em seguida, fez criações para o Colégio Santo Américo;

Na Arquidiocese, várias igrejas têm elementos da sua arte, entre as quais a Catedral Metropolitana e o Pateo do Collegio;

A partir de 1999, esteve à frente da criação dos painéis e vitrais do Santuário Nacional de Aparecida, sendo o autor do nicho que abriga a imagem de Nossa Senhora, da cúpula central. É também o idealizador do medalhão comemorativo dos 300 anos da aparição da imagem mariana;

Em 2007, recebeu o título Doutor Honoris Causa pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, por sua relevante contribuição à Arte Sacra;

Em 2013, criou as peças litúrgicas usadas pelo Papa Francisco em Aparecida (SP) e no Rio de Janeiro (RJ), em sua vinda ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude.

Faleceu em 19/10/2016, em São Paulo (SP), aos 68 anos.

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PARA O SÃO
ESPECIAL
PAULO
Luciney Martins/O SÃO PAULO

BRASILÂNDIA

Servidores do altar participam de encontro regional

ROBERTO BUENO COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Na tarde do sábado, 6, na Paróquia Nossa Senhora das Dores, Setor Jaraguá, aconteceu a formação regional para os servidores do altar, ministrada por Dom Carlos Silva, OFMCap., Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, e pelo Padre Álvaro Moreira Gonçalves, Assistente Eclesiástico Regional da Pastoral da Liturgia e dos Coroinhas, Acólitos e Cerimoniários.

Dom Carlos destacou que a felicidade caminha de mão dada com a delidade, e que diante das di culdades é preciso ser como as águias “que fazem a escolha de se renovar em um determinado momento da vida delas no qual suas garras e bico se enfraquecem”, comentou, destacando que renovar-se pode ser dolorido, mas é algo necessário.

O Bispo respondeu a perguntas feitas pelos servidores do altar. Chamou-lhe a atenção o questionamento de um jovem sobre qual dom o Bispo era como pessoa. “Sou um caminheiro, porque quem está em movimento, não para, e isso é bom demais. Sou um missionário de Jesus, apaixonado pelo que faço. Eu escolheria ser tudo isso quantas vezes fosse necessário”, a rmou Dom Carlos.

Foi uma tarde de aprendizado bem descontraída com dinâmicas e testemunhos, como o do Irmão Mateus Broeren, CSSp, que falou de sua vivência como missionário. Houve a distribuição de brindes, livros

de Catequese, Terços e camisetas. Além do Bispo e do padre assessor, participaram os Padres Walter Merlugo Júnior, Severino Araújo, Rafael Araujo e Gilson Feliciano.

Com o tema “Só Deus basta!”, aconteceu no sábado, 6, o 4o Encontro de Mulheres ‘Única como Maria’, que reuniu mais de 200 mulheres na Paróquia Santa Cruz, na Vila Itaberaba. Houve a apresentação da cantora católica Adrielle Lopes e as pregações da Irmã Thaynara Cabral, CMES, Michelle Lopes e Renata Ferreira. A animação cou por conta da banda Roda de Louvor. O evento foi aberto com missa presidida pelo Padre Carlos A. Ribeiro, Pároco. Depois, houve um momento de adoração conduzido pelo Padre Maycon Wesley da Silva, Pároco da Paróquia Cristo Libertador, Setor Jaraguá. Toda a acolhida, organização e alimentação das mulheres foi feita pela equipe de servos, formada somente por homens. (por Bruno Melo)

No domingo, 7, aconteceu no Santuário Mãe Rainha do Jaraguá a festa anual “Um dia na casa de Maria”, com o tema “Com amor, a Mãe acolhe e transforma os corações”. Cerca de 950 peregrinos participaram de atividades de Con ssão, adoração ao Santíssimo Sacramento, louvor, cinema temático sobre o Fundador da Obra Apostólica de Schoenstatt, Terço dos Homens, Ofício a Nossa Senhora, missa e coroação da imagem da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt. A missa foi presidida pelo Padre Gustavo Hanna Crespo, Reitor do Santuário, e concelebrada pelos Padres Pedro Cabello, Vandemir Meister, Gabriel Oberle, todos do Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt. (por Sueli Vilarinho)

SANTANA

Aconteceu no domingo, 7, na Paróquia Nossa Senhora da Expectação, Setor Freguesia do Ó, o sorteio das 21 famílias guardiãs da bandeira do Divino. Essas famílias carão por um ano com a bandeira, sendo incumbidas de proporcionar orações e ações com a família, vizinhos e amigos. O sorteio faz parte dos preparativos para a 202ª Novena e Festa do Divino, que terá início em 19 de maio, às 20h. Toda programação pode ser conferida nas redes sociais da Paróquia. (por Rael Pimenta e Marta Gonçalves)

No sábado, 6, na Paróquia São Domingos Sávio, no Setor Tremembé, foi celebrada a festa do padroeiro, com missa presidida por Dom Jorge Pierozan. Na foto, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana aparece com o Padre Salvador Ruiz Armas, Pároco, e o ministério de musica “Pequeno gigante”, cujo modelo é inspirado em São Domingos Sávio. A festa foi iniciada com um tríduo preparatório. (por Pascom paroquial)

6, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zatt, foram batizadas nove crianças e jovens que estão se preparando para primeira Eucaristia e a Crisma. O Cônego José Renato Ferreira, Pároco, reforçou o papel dos novos batizados na aliança com Deus, e dos pais e padrinhos, como exemplos na caminhada de fé e vivência da Eucaristia. (por Priscila Rocha)

No sábado, 6, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zatt, aconteceu festa e ação entre amigos para arrecadar fundos para o retiro dos crismandos que ocorrerá em junho. Houve a venda de comidas e bebidas, além diversas rodadas de prêmios que foram doados pela própria comunidade. (por Priscila Rocha)

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No sábado,
Pascom paroquial
J.L.
Alex Formigoni Pascom paroquial
Priscila Rocha

Como acontece todo primeiro domingo de cada mês, a Pastoral de Rua Irmãos em Cristo da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, Setor Perdizes, entregou, no dia 7, refeições a pessoas em situação de vulnerabilidade. Desta vez, 1.007 necessitados foram contemplados. Criada em 2014 e contando atualmente com a ajuda de aproximadamente 100 voluntários e com o apoio do Insanos Motoclube, seu objetivo é oferecer não somente alimentos aos necessitados, mas, também, uma palavra de amizade e solidariedade e uma oportunidade de oração. (por Fabiola Malavazi)

Entre os dias 27 de abril e 1º de maio, a Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários, Setor Brás, comemorou os 48 anos de elevação da capela a Paróquia. A data remonta à criação da comunidade pelos ferroviários do Brás, no início dos anos 1930. Em honra a Nossa Senhora Aparecida, os operários passaram a organizar procissões e missas em 1º de maio, celebrando tanto o Dia do Ferroviário, em 30 de abril, quanto o Dia do Trabalhador, em 1º de maio. Houve um tríduo e a procissão, partindo da antiga capela até a matriz paroquial, onde foi celebrada a missa em honra a São José Operário, copadroeiro da Paróquia, no dia 1º, presidida pelo Padre Lorenzo Nacheli, Pároco. Na sequência, a programação festiva contou com um bingo, venda de bolo de São José e outros comes e bebes. (por Lívia Miranda)

No sábado, 6, e no domingo, 7, na Paróquia Santíssimo Sacramento, Setor Paraíso, realizou-se a 3ª etapa do Encontro de Casais com Cristo (ECC). A missa conclusiva foi presidida pelo Cônego Aparecido Silva, Pároco. (por Cassiano e Norma Pesce)

Sob o tema “A vivência da sinodalidade”, aconteceu, na quinta-feira, 4, na Cúria da Região Sé, a primeira reunião de 2023 do Conselho Regional de Pastoral (CRP), com as presenças de Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, que participou pela primeira vez; do Cônego José Arnaldo Juliano, Coordenador Regional de Pastoral; do Cônego Aparecido Silva, Vigário-Adjunto; e dos assistentes eclesiásticos, coordenadores de pastorais, coordenadores de setor, representantes das equipes setoriais, membros de novas comunidades e movimentos atuantes na Região. (por Centro de Pastoral da Região Sé)

No dia 1º, sete jovens receberam o sacramento do Crisma na Capela das Irmãs de Santo André, Setor Perdizes. A missa foi presidida por Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, e concelebrada pelo Padre Mauricio Gris, M.I., Capelão. (por Patrícia Coppio)

No sábado, 6, Dom Cícero Alves de França, conferiu o sacramento da Crisma a 65 jovens e adultos na Paróquia Jesus Ressuscitado, no Jardim Santa Bárbara. Alguns deles receberam também a primeira Eucaristia. Na missa, concelebrada pelo Padre Luiz Carlos Batista, OSA, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém ressaltou que a Crisma é o sacramento do amadurecimento, e exortou os crismandos a viverem a fé. (por Fernando Arthur)

Na noite da sexta-feira, 5, a Rede Mundial de Oração do Papa (Apostolado da Oração) na Paróquia Santa Adélia, no Jardim Santa Adélia, se reuniu para uma missa, presidida pelo Padre Arlindo Teles, Assessor Eclesiástico para a Rede Mundial de Oração do Papa na Região Belém e Pároco da Paróquia São José do Maranhão. Ele recebeu novas zeladoras do Apostolado e ressaltou a importância da oração na vida comunitária e pessoal. Para o Sacerdote, que vem visitando as paróquias e conhecendo os grupos da Rede Mundial, “foi um momento de espiritualidade e despertar para que novos leigos e leigas possam fazer parte deste apostolado, que reza pelo Papa, pelas vocações e pela Igreja”. (por Padre Arlindo Teles)

Na segunda-feira, 8, foi realizada, no Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração, na Vila Formosa, a missa em ação de graças pelo aniversário de um ano de ordenação episcopal de Dom Cícero Alves de França, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém. (por Fernando Arthur)

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BELÉM
No domingo, 7, Dom Cícero Alves de França presidiu missa na Paróquia Sagrada Família, no Sapopemba, durante a qual conferiu o Sacramento da Crisma a 10 jovens e adultos. A missa foi concelebrada pelo Padre Adilson Pinheiro da Silva, Pároco. (por Kaique Mazaia) Fabiola Malavazi Lívia Miranda Alexandre Brígido Pascom paroquial Miguel Ibarra Escalante Pascom paroquial Kaique Mazaia Irmãs de Santo André

Encontro regional motiva os jovens para a JMJ

BENIGNO NAVEIRA COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

No sábado, 6, na Paróquia São João Bosco, Setor Leopoldina, a coordenação regional do Setor Juventude promoveu um encontro com os jovens de paróquias da Região Lapa que se unem em preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Lisboa, em agosto.

A iniciativa foi conduzida pelo Padre Eduardo Augusto de Andrade, Assistente Eclesiástico da Pastoral da Juventude regional, e contou com a participação dos Bispos Auxiliares Dom José Benedito Cardoso, Vigário Episcopal na Região Lapa, e Dom Carlos Lema Garcia, Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade e Referencial para o Setor Juventude da Arquidiocese, além de outros sacerdotes.

Mais de 100 jovens participaram dos momentos de espiritualidade, adoração e oração, além de outras atividades, cujo encerramento se deu com a missa presidida por Dom José Benedito Cardoso.

Na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no Parque Continental, Setor Butantã, realizou-se, nos dias 6 e 7, o 1º Encontro de Adolescentes com Cristo (EAC), com a participação de 58 jovens. As atividades foram preparadas e coordenadas pelo Padre Pedro Augusto Ciola de Almeida, Pároco, que contou com a ajuda de mais de 200 agentes de pastorais. Houve dança, teatro e apresentação de músicas ao vivo, compostas pelos próprios jovens, além de palestras e formações com temáticas próprias e momentos de oração e adoração ao Santíssimo Sacramento, concluídas com a missa presidida pelo Sacerdote.

(por Benigno Naveira)

No sábado, 6, na Paróquia Santo Alberto Magno, no Jardim Bon glioli, Setor Butantã, foi realizado o Encontro formativo para os ministros extraordinários da Sagrada Comunhão (MESCs) das paróquias dos Setores Pirituba, Butantã e Rio Pequeno. A atividade foi conduzida por Benigno Naveira, coordenador paroquial e regional dos MESCs, e reuniu cerca de 40 pessoas. Outros assessores falaram sobre a Pastoral da Saúde, as funções de ministro da Palavra e das Exéquias e o papel dos MESCs no serviço do altar e da distribuição da Eucaristia.

(por Benigno Naveira)

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LAPA
Lucimar Rodrigues dos Santos Benigno Naveira Fotos: Instagram EAC Sagrado

IPIRANGA

Altar e a igreja da Paróquia Nossa Senhora Aparecida são dedicados

Nas comemorações dos 90 anos de ereção da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Moema, Setor Vila Mariana, aconteceu, no sábado, 6, em solene celebração eucarística, a dedicação da igreja matriz e do novo altar.

A missa foi presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, tendo entre os concelebrantes o Pároco, Padre Samuel Alves Cruz, SDS; e o Superior-provincial dos Salvatorianos no Brasil, Padre Francisco Sydney de Macêdo Gonçalves, SDS.

O rito de dedicação foi marcado por diversos símbolos e gestos, como a aspersão com água benta sobre o povo, as paredes da igreja e o altar; a deposi-

ção sob o altar das relíquias de santos e mártires – nesta Paróquia, foram depositadas as de São Clemente, Papa e Mártir do século I; Santa Felicidade, Virgem e Mártir do século II; e do Bem-aventurado Francisco Jordan, Presbítero e Fundador da Sociedade do Divino Salvador – Salvatorianos –; a unção do altar e das paredes da igreja com o óleo do Crisma; a incensação do altar, e seu posterior revestimento e iluminação com velas.

“Estamos contemplando este novo altar e se olhamos para as 12 colunas da igreja, vemos 12 cruzes, que depois de ungidas simbolizarão também que a igreja é dedicada ao louvor de Deus e ao culto do povo cristão. Queremos elevar nossa ação de graças a Deus, porque temos este templo”, disse Dom Ângelo na homilia.

A Paróquia São João Batista, Setor Pastoral Imigrantes, está preparando a festa do Padroeiro. A cada encontro, há a Adoração ao Santíssimo e o aprofundamento da Carta Pastoral e das propostas do 1º sínodo arquidiocesano de São Paulo. Na sequência, as equipes das barracas e serviços se encontram para acolher quem chega para servir, construir e viver o slogan escolhido para este ano, em que a Paróquia celebra seu jubileu: “Festa de São João, 60 anos de comunhão”. (por Pascom Paroquial)

No sábado, 6, aconteceu mais uma etapa da formação para ministros extraordinários da Sagrada Comunhão da Região Ipiranga, no auditório do ITESP, no bairro do Ipiranga. A palestra foi ministrada pelo Padre Antonio Sagrado Bogaz, sobre ministérios na Igreja. A formação também foi apresentada em Libras – Língua Brasileira de Sinais, incluindo, assim, uma pessoa com de ciência auditiva.

(por Karen Eufrosino)

Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu no sábado, 6, missa na Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, Setor Pastoral Cursino, concelebrada pelo Padre Je erson Mendes de Oliveira, Pároco. Na ocasião, foi apresentada a imagem peregrina da Sagrada Família, que neste mês percorre as paróquias do Setor Cursino, em preparação ao XXI Congresso da Pastoral Familiar do Regional Sul 1 da CNBB. (por Pascom Paroquial)

Na sexta-feira, 5, os éis da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Imigrantes, celebraram o 6º dia da trezena da padroeira, com missa presidida pelo Padre Sidinei Lang, e concelebrada pelo Padre Anderson Pereira Bispo, Pároco. Na ocasião, foi inaugurada a nova sala de catequese, cujo nome faz homenagem ao Padre Sidinei, que foi responsável pela comunidade no processo de transição para tornar-se Paróquia, em meados de 2008.

(por Pascom Paroquial)

Evento destaca o Missal Romano à luz da carta Desiderio desideravi

REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

A Comissão Arquidiocesana de Liturgia (CAL) realizou no sábado, 6, a primeira formação litúrgica deste ano, no auditório da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom), com a participação de aproximadamente 300 pessoas das seis regiões episcopais da Arquidiocese.

Inicialmente, o maestro Delphin Porto conduziu a oração de abertura, com a Hora Média. Na sequência, todos foram saudados pelo Padre Helmo Cesar Faccioli, Assessor Eclesiástico arquidiocesano da CAL, e por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial para a Liturgia Arquidiocesana.

A assessoria foi do Padre Damásio de Medeiros, salesiano, que, inicialmente, exibiu um vídeo no qual Dom Edmar Peron, Bispo de Paranaguá (PR) e que foi Presidente da Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB, apresentou detalhes sobre a terceira edição do Missal Romano.

Depois, Padre Damásio falou sobre a Instrução Geral do Missal Romano com seus nove capítulos, os Lecionários, o Missal e o Hinário Litúrgico.

Na sequência, apresentou a carta apostólica Desiderio desideravi – sobre a formação litúrgica do povo de Deus – que é iniciada com o versículo bíblico “Tenho desejado ardentemente comer esta Ceia Pascal” (Lc 22,15). Falou, também, sobre a arte de celebrar, com explicações detalhadas sobre os Ritos Iniciais, a Liturgia da Palavra e a Eucarística, Ri-

tos de Comunhão e Rito Final.

Padre Damásio recordou um dos trechos da carta: “Toda esta riqueza não está

longe de nós: está nas nossas igrejas, nas nossas festas cristãs, na centralidade do domingo, na força dos sacramentos que celebramos. A vida cristã é um contínuo caminho de crescimento: somos chamados a deixar-nos formar com alegria e na comunhão” (Dd 62).

Por m, deixou uma pergunta para que todos re etissem: “Como levar a sério a mistagogia da ‘arte de celebrar’ presente na Instrução Geral do Missal Romano?” – e respondeu a dúvidas dos participantes.

A próxima formação da Comissão Arquidiocesana de Liturgia acontecerá em outubro.

(Colaborou:RuyHalaz–apartirdasinformações apresentadas pelo Padre Damásio de Medeiros)

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PADRE SAMUEL ALVEZ CRUZ, SDS COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO Pascom paroquial Pascom paroquial Pascom paroquial Ruy Halasz

122ª Romaria Arquidiocesana

Fiéis da Arquidiocese de São Paulo agradecem à Mãe Aparecida pelas vocações

IRA ROMÃO

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO, EM APARECIDA (SP)

Pouco mais de 10 mil romeiros estiveram no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no domingo, 7, para participar da 122ª Romaria da Arquidiocese de São Paulo, com o tema - “Com Maria, vivamos a nossa vocação”, em sintonia com o 3º Ano Vocacional do Brasil.

Fiéis de diferentes paróquias e comunidades das seis regiões episcopais e representantes de pastorais sociais, como a do Menor e do Povo da Rua da Arquidiocese se uniram a peregrinos de outros lugares na missa das 10h, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, e concelebrada pelos sete bispos auxiliares de São Paulo e o clero arquidiocesano.

SIM A DEUS

Na homilia, o Arcebispo Metropo-

“Que Nossa Senhora Aparecida nos ensine a dizer sim, com generosidade, e a viver estes chamados com grande doação e alegria, como ela viveu”, exortou.

GRATIDÃO

Ainda na homilia, Dom Odilo frisou que a Romaria era também em ação de graças pela saúde, pela preservação da vida e pela superação da pandemia de COVID-19.

Ele também agradeceu a intercessão de Nossa Senhora na realização do 1º sínodo arquidiocesano, colocando nas mãos de Maria os propósitos e preocupações levantados no processo sinodal.

IGREJA EM COMUNHÃO

O Cardeal reforçou que, assim como o Papa Francisco sempre pede, é preciso que a Igreja siga em comunhão.

“Uma Igreja que caminha junto. Que,

Organização Mundial da Saúde (OMS), do m do estado de emergência da pandemia de COVID-19.

“Aparecida é um lugar referencial para muita gente e certamente com o aviso da OMS deve ter aumentado a vontade das pessoas de se encontrarem. Ainda é importante manter o cuidado e seguir com a vacinação. Nossas comunidades responderam e vieram à Romaria”, disse.

AMPLA ADESÃO DAS PARÓQUIAS

A Região Brasilândia foi a que mais levou ônibus para a Romaria, 55 no total.

Um destes partiu da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zatt. “Um mês antes, nosso pároco nos apresentou vários aspectos não apenas do sínodo arquidiocesano, mas também da questão da comunhão que temos que ter com a Igreja”, contou à reportagem a catequista Priscila Rocha, 49.

“Foram trabalhadas re exões para

Joana Mota, 59, saiu da mesma Região, mas da Paróquia Santa Edwiges, no Sacomã. “Estávamos ansiosos para vir. Foi a primeira vez que nossa Paróquia conseguiu trazer quatro ônibus. Nosso pároco rezou em todos antes de sairmos”, contou com entusiasmo.

O Diácono Nilo Carvalho, 55, e a esposa Valéria Carvalho, 53, foram de carro a Aparecida.

“É muito bonito ver a devoção do povo, ver a Basílica cheia e poder encontrar aqui pessoas da Arquidiocese que a gente conhece. É uma bênção ver todo o povo reunido em torno de Nossa Senhora e mais, libertos da pandemia”, disse Valéria.

Por causa de outro compromisso após a Romaria, o casal não viajou com os demais paroquianos da Paróquia Santa Teresinha, que se localiza na Região Santana, de onde partiram 30 ônibus para Aparecida.

Os jovens também marcaram presença, como foi o caso de Gilberto Júnior, 26, da Paróquia São Bernardo de Claraval, na Região Ipiranga.

“É muito grati cante estar aqui, porque vemos que a juventude tem percebido a importância de viver a fé. Estar na casa da Mãe é também uma renovação”, disse.

RETOMADA

Houve quem voltou à Romaria pela primeira vez desde o começo da pandemia. Foi o caso de Rita de Cássia Soares, 64, da Paróquia Nossa Senhora do Líbano, do Jardim Líbano, Região Lapa.

“Estava com saudades. Não viemos no ano passado quando houve a retomada ao presencial porque em nossa Paróquia há muitos idosos. Mas desta vez, viemos e voltaremos revigorados”, expôs.

litano destacou que os romeiros da Arquidiocese foram pedir a Nossa Senhora “a vocacionada por excelência, que acolheu e viveu bem a sua vocação” que ensine a todos a dizer o sim a Deus.

Enfatizando que é da família que surgem as vocações, o Cardeal destacou o “sim” dos casais, que devem ter coragem para manter-se na presença de Deus.

“Aos que estão se preparando para o Matrimônio, pensem em formar a família cristã como a Igreja ensina. Aos que já têm família, perseverem nesse chamado de Deus com todas as obrigações e alegrias que isso comporta”, orientou.

Dom Odilo destacou ainda que os batizados são chamados a viver a própria vocação, “sendo um povo que deve no mundo falar das maravilhas de Deus”, assim como “também as vocações especiais dentro da igreja, tão necessárias”, disse em alusão aos ministros ordenados, às religiosas e religiosos consagrados e aos leigos que abraçam os muitos serviços e ministérios na Igreja.

hoje, aqui na casa da Mãe, possamos renovar nossos propósitos e intenções em relação a uma caminhada renovada de nossa Igreja para, assim, cumprirmos bem a nossa missão”, disse.

Dom Odilo frisou, ainda, que é preciso caminhar unido como povo de Deus. “Quem se dispersa e não caminha com a comunidade da Igreja, acaba errando o caminho. Nós não cremos sozinhos. Cremos com a Igreja e, mais, cremos como crê a Igreja.”

PRESENTES À CASA DA MÃE

Os éis da Arquidiocese de São Paulo se dirigiram até o Santuário em grupos, divididos em 222 ônibus, duas dezenas a mais do que no ano anterior, isso sem contar os que foram em seus próprios carros.

Para o Padre Tarcísio Marques Mesquita, Coordenador do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, o aumento da presença de éis pode ter como uma das razões o decreto, na sexta-feira, 5, pela

que nós, participantes, entendêssemos o porquê estamos hoje aqui. Foi enfatizado que não era uma ‘romaria por romaria’ e que deveríamos repassar o que fosse vivenciado”, acrescentou.

Da Região Ipiranga saíram 32 ônibus. Dois deles da Paróquia Santa Ângela e São Serapião, na Vila Morais. “Nós nos organizamos em 15 dias. E se tivéssemos conseguido um terceiro ônibus, o teríamos lotado também”, contou a paroquiana Mariana Ribeiro, 33.

“No trajeto, seguimos a orientação do nosso pároco. Viemos rezando e cantando para transmitir a todos que era uma romaria e não uma excursão”, a rmou.

Emocionada, Mariana a rmou ser “uma satisfação estar em Aparecida. Mas é preciso entender que não se trata de um passeio e é fundamental estar com o coração aberto”.

Padre José Antônio Filho, Pároco, destacou o fato de o Santuário estar lotado de éis. “Uma expressão de fé e uma busca profunda”, mas disse ter sentido a falta de mais sacerdotes entre os romeiros. “Este momento é ímpar, é a Arquidiocese em comunhão”, observou.

LAÇOS DA ROMARIA

Maria Janete Jopetipe, 50, da Paróquia Santíssima Trindade, no Recanto dos Humildes, na Região Brasilândia, se emocionou ao contar que no ônibus foi sentida a ausência de pessoas queridas que já faleceram. Ela se recordou, especialmente de uma paroquiana que era conhecida como dona Branca.

“Ela foi a primeira vítima da pandemia em nossa Paróquia. Ontem, completaram-se três anos que faleceu. Ela vinha todos os anos com a gente. As poltronas 5 e 6 eram dela. De certa forma, hoje também estamos aqui em sua homenagem. Entre risos e memórias, seguimos. Não morre quem é lembrado. Ela está viva entre nós e está fortalecendo a nossa romaria”, concluiu.

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Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO
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