O SÃO PAULO - edição 3019

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2 | Ponto de Vista |

18 a 23 de setembro de 2014 | www.arquidiocesedesaopaulo.org.br

editorial

Quem diz a verdade é amigo O debate promovido pela CNBB em 16 de setembro foi uma iniciativa bem intencionada, mas pouco eficaz. A metodologia empregada salvaguardou os principais candidatos de perguntas difíceis e deu amplo espaço para críticas transversais. No fim, os eleitores não puderam confrontar com clareza propostas e ideias entre os candidatos sobre temas que foram, fica registrado, muito bem apresentados pelos bispos. No primeiro bloco, todos os candidatos tinham que responder a uma pergunta feita pela presidência da CNBB, a saber, se estes

estavam de acordo ou não com o projeto de reforma política elaborada pela entidade católica. Como resposta, uma parte dos candidatos gastou seu tempo esmerando-se por apresentar seu “ilibado curriculum católico” sobrando pouco tempo para comentar a proposta da CNBB, exceção, justiça seja feita, aos candidatos Dilma, Luciana Genro, Marina e Aécio. Nos dois blocos seguintes, os candidatos responderam a perguntas dos bispos e de jornalistas da mídia católica. O sistema de sorteio e a ausência de comentários de um outro candidato enfraqueceram o

debate, transformando-o em uma entrevista minguada, em que os três principais candidatos se quer tiveram o trabalho de explicar suas propostas para questões importantes, como as relacionadas à família, ao aborto, à educação e segurança pública. Como resultado, o eleitor ficou sem ter como confrontar as ideias e os projetos presidenciáveis sobre cada uma das questões. Dilma ganhou de presente o tema fácil da desigualdade, Aécio, o da educação, Marina o da juventude. Mais eficaz teria sido se todos os candidatos tivessem que responder a todas as perguntas propostas.

No quarto bloco, o debate se acirrou mais pelas críticas transversais e trocas de farpas entre os candidatos do que por diversidades de propostas e explicações sobre planos de governo. Neste, Luciana Genro e Eduardo Jorge roubaram cenas do debate com críticas pesadas aos três principais candidatos e com suas (PSOL E PV) defesas à descriminalização do aborto, ao “casamento gay” e, nos dizeres da candidata do PSOL, da necessidade de colocar “a salvo” as questões políticas dos valores religiosos e cristãos. Cristofobia a vista?

opinião

Do racismo à ‘Cristofobia’ Sergio Ricciuto Conte

Roberto Zanin

As ofensas racistas dirigidas por alguns torcedores do Grêmio ao goleiro Aranha, do Santos, receberam a justa indignação da sociedade. A incessante divulgação do ato, simbolizada na torcedora flagrada pelas onipresentes câmeras de televisão, disseminou a discussão sobre essa prática abominável e frequentemente dissimulada. Escrevo esta coluna em jornal de inspiração católica e não posso deixar de citar o Compêndio da Doutrina Social da Igreja Católica que dedica alguns tópicos sobre o racismo. Nele se lê, por exemplo, no parágrafo 144: “Deus não faz distinção de pessoas” (At 10,34; cf. Rm 2,11; Gal 2,6; Ef 6, 9), pois todos os homens têm a mesma dignidade de criaturas à sua imagem e semelhança... e uma vez que no rosto de cada homem resplandece algo da glória de Deus, a dignidade de cada homem diante de Deus é o fundamento da dignidade do homem perante os outros homens. Esse é o fundamento último da radical igualdade e fraternidade entre os homens independentemente da sua raça, nação, sexo, origem, cultura, classe”. Todos nós, brancos ou negros, amarelos ou vermelhos, refletimos a glória do nosso Pai comum. Lato sensu, todos nós, ricos e pobres, letrados ou analfabetos, homens e mulheres, crianças ou idosos, somos como as cores que se desprendem do prisma

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

do Criador. Todos iguais na dignidade de sermos humanos. Nesse sentido, a Doutrina Social da Igreja declara, no parágrafo 433, que “de modo particular, é moralmente inaceitável qualquer teoria ou comportamento caracterizado pelo racismo ou pela discriminação racial”.

Triste pensar que muitos dos que se declaram cristãos tragam em seu DNA pensamentos e comportamentos racistas, não necessariamente ofendendo abertamente àqueles que julgam serem inferiores, mas por meio de ironias, piadas e discriminações veladas. Coloco um ponto final na ques-

tão dessa chaga justamente combatida pela mídia, e abro aspas para começar falando sobre outro tipo de discriminação, perseguição até, que presenciamos em nossa sociedade: a “Cristofobia”. A justa indignação só é despertada pelos arautos da pós-modernidade quando a ofensa é de cunho racial, comportamento sexual e até religioso, desde que a vítima seja de fé tida como minoritária. Quando o objeto de vilipêndio é a fé cristã, a maioria dos formadores de opinião se cala com a mordaça do laicismo. Como se isso não bastasse, com frequência vão além do silêncio cúmplice e aplaudem, por exemplo, manifestações “artísticas” que zombam de dogmas que julgam obsoletos. Como se também isso não bastasse, vão ainda mais além: quando alguns, infelizmente, poucos, cristãos reagem a esse tipo de intolerância, são rotulados como “fanáticos”. Isso vale também para a agenda eleitoral. Cobram-se dos candidatos agendas políticas públicas para as minorias, mas ai de quem quiser defender causas como as da família tradicional, a liberdade religiosa ou o direito à vida, desde a concepção até a morte natural. Combatamos todos os preconceitos. Não apenas os que o politicamente correto aplaude. Roberto Zanin é jornalista e assessor de imprensa master em gestão de empresas de comunicação, diretor da RZ.com Jornalismo e Comunicação.

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