O SÃO PAULO - 3036

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www.arquidiocesedesaopaulo.org.br | 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2015

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Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Encontro promovido pela cip no Dia da Memória das Vítimas do Holocausto clama: Genocídio, nunca mais! Edcarlos Bispo edbsant@gmail.com

“Meu pai morreu no gueto, de fome. Eu sobrevivi a guerra. Sobrevivi e lembrei-me do meu juramento no campo, se caso Deus me permitisse sobreviver a guerra, contarei ao mundo a história, não somente minha, mas de todos judeus. Contarei ao mundo a eliminação física dos judeus, dos crematórios, dos fuzilamentos em massa, dos enforcamentos coletivos [...]. Estou aqui conscientizando nas escolas públicas, principalmente as novas gerações.” Com essas palavras, emocionado, Ben Abraham, sobrevivente do holocausto, contou, para uma plateia de cerca de 800 pessoas, como foi sobreviver ao campo de concentração. O seu depoimento foi dado no último domingo, 25, em evento realizado pela Congregação Israelita Paulista (CIP), para lembrar as vítimas do holocausto. Há 70 anos, no dia 27 de janeiro de 1945 as tropas soviéticas chegaram ao sul da Polônia, no campo de concentração de Auschwitz e libertaram os prisioneiros que ainda estavam vivos. A Organização das Nações Unidas (ONU), há 15 anos declarou o dia 27 como o “Dia da Memória das Vítimas do Holocausto” para lembrar todos os que morreram nos campos de concentração nazista. A historiadora professora Maria Luiza Tucci Carneiro, em entrevista ao O SÃO PAULO, destacou que ao rememorar essa data, a sociedade, de forma geral, para e pensa no significado do holocausto. “O dia de hoje nos traz a questão para pensar no perigo do racismo, do ‘negacionismo’ – ainda hoje há pessoas que negam o holocausto apesar de todos os arquivos que comprovam

Líderes de diversas religiões participam de evento promovido pela CIP no Dia da Memória das Vítimas do Holocausto

70 anos do fim de Auschwitz

Ben Abraham, sobrevivente do holocausto, conta como foi sobreviver ao campo de concentração de Auschwitz

sua veracidade - e o ‘revisionismo’ de intelectuais e acadêmicos que fazem valer sua verdade em nome da negação do holocausto”. Para professora Tucci, o Dia da Memória das Vítimas do Holocausto é uma ocasião para lembrar que 6 milhões de judeus foram assassinados pelos nazis-

tas. “Com isso você passa a ter uma dimensão do que foi o holocausto enquanto um genocídio singular. Único na história pelas dimensões que teve e principalmente por ter sido pensado, idealizado e colocado em prática pelo Estado em nome de uma nação que queria ser forte”.

Um encontro inter-religioso

No evento promovido pela CIP, estavam presentes rabinos e líderes de outras denominações religiosas. Por parte da Igreja católica, participaram do encontro os Cardeais Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB,

Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, Dom Francisco Biasin, bispo da Diocese de Barra do Piraí (RJ), e o Conêgo José Bizon, diretor da Casa da Reconciliação e encarregado da pastoral do diálogo ecumênico e inter-religioso da Arquidiocese de São Paulo. Dom Odilo, em entrevista ao O SÃO PAULO, destacou que as religiões têm muito a contribuir para que momentos como o do holocausto não voltem a acontecer, passando, em primeiro lugar, de acordo com o Cardeal, a “preservar a noção da dignidade da pessoa humana, segundo a noção da justiça da ética que é inerente essencialmente a própria adoração a Deus. Não se pode de forma alguma pensar, por exemplo, fazer violência à pessoa humana em nome de Deus ou em nome da religião”. Além disso, o Cardeal destaca que “é fundamental manter viva a memória” e interessarse pelos fatos, acompanhá-los e interpretá-los à luz da história, pois “quando se esquece, não se tem a relação com o conjunto da história, a gente arrisca cometer os mesmos erros do passado, por isso para a juventude é muito importante manter viva a memoria e interessar-se pelos fatos que aconteceram”. O rabino Michel Schlesinger, destacou que “ainda vivemos em um mundo repleto de desafios, intolerâncias e preconceitos. Genocídios estão acontecendo a todo momento. Quando lembramos o holocausto, na verdade, de maneira simbólica, estamos lembrando todo tipo de perseguição que existe e contribuindo para um mundo livre dessas perseguições, um mundo de paz”. Michel acrescentou ainda que as religiões ensinam que todos os homens são filhos de Deus e tem o mesmo direito à vida e à dignidade. Para o rabino é preciso ensinar para as novas gerações que “o ódio só traz mais ódio, matança traz mais matança e que nós temos que encontrar uma maneira de ver na diversidade humana uma benção e não uma ameaça”.


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