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Uern comprometida com religiões de matriz africana

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Fora dos padrões

Fora dos padrões

>> Uma série de ações e iniciativas reforça o papel de uma instituição que promove inclusão e reconhecimento e combate o preconceito e a intolerância religiosa organizado em parceria com terreiros de Mossoró e Areia Branca, que passa posteriormente a integrar o calendário de celebrações do aniversário da Universidade, também mostra o apoio na visibilidade e luta contra a intolerância religiosa que essas religiões historicamente são vítimas.

O mapeamento das comunidades de terreiros realizado pelo Neabi por meio de uma pesquisa da professora Eliane Anselmo e a criação do Fórum das Comunidades Tradicionais de Terreiros de Matriz Afro-Ameríndia de Mossoró/RN, no ano de 2019, é um marco dentro dessa trajetória de ações. Foi também nesse contexto que a Assembleia Legislativa do RN lançou a Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Tradicionais.

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Os dados do mapeamen- to colaboraram, por exemplo, com a distribuição de cestas básicas pelo Governo do Estado para o povo de terreiro em situação de vulnerabilidade no período da pandemia da covid-19.

“Nossa Universidade, sempre disposta e atenta ao fortalecimento dessas pautas, tem dado apoio a ações e projetos importantes para a comunidade negra e tradições de matriz africana. Não se pode negar que a Uern é, de fato, uma universidade inclusiva, includente e socialmente referenciada, que promove inclusão, reconhecimento e abre espaços para o combate ao preconceito e a intolerância religiosa”, completa a docente.

A exposição fotográfica “Negro e Lindo”, organizada pela professora Ivonete Soares, o Projeto Pontos Cantados nos Xangôs de Mosso- ró e o documentário “Filosofia das Pessoas Sábias: um dedo de prosa sobre as histórias de vida dedicadas à Jurema Santa e Sagrada”, que a Uern, através do Neabi e do Grupo de Estudos Culturais (Gruesc) realizaram, são algumas das ações concretas e de impacto direto na vida das pessoas das comunidades de religiões de matriz africana, para além de projetos de pesquisa e extensão, eventos e outras ações mais pontuais realizadas ao longo dos últimos anos.

Para o Pai Bolinha de Ogum, cartomante Francisco Wellington e coordenador de articulação sócio, político e religioso do Fórum de Terreiros de Mossoró, é muito gratificante a atuação da Uern ao longo dos anos.

“É muito importante esse trabalho porque dá visibilidade, quebra o preconceito, nessa luta constante contra a intolerância religiosa. Abre o espaço pra gente e isso tem só pontos positivos para todos nós, para a nossa crença, a nossa fé. Esse diálogo interreligioso proporciona às pessoas poderem se conhecer mesmo tendo crenças diferentes, conhecer um ao outro e o espaço do outro, a crença do outro. Isso é muito importante”, argumentou.

Lucas Súllivam Marques Leite, coordenador geral do Fórum das Comunidades Tradicionais de Terreiros de Matriz Afro-Ameríndia de Mossoró, reforça que “a Uern vivencia uma longa caminhada na direção da construção de uma universidade socialmente referenciada, melhor dizendo, afrorreferenciada”.

Para ele, que é licenciado em Filosofia e mestre em Educação pela Uern, existem quatro momentos que sinalizam um processo de enfrentamento ao racismo nas suas diversas faces e cenários de silenciamento, o qual acontece dentro e fora de seus muros. daTa

Ele cita a formação sobre preconceito racial, facilitada pelas professoras da Faculdade de Serviço Social, Ivonete Soares e Vanda Camboim (in memoriam), que aconteceu na Associação de Docentes da Uern em 1999; a criação do Neabi; a institucionalização da Lei de Cotas Raciais e Comissões de Heteroidentificação; e a criação da Diaad em 2022.

“Nesse contexto, a Uern fortalece diretamente os povos de matriz africana e afro-ameríndia. Em destaque, o apoio à manutenção das tradicionais manifestações culturais e religiosas - como a Louvação ao Baobá em Mossoró e o Cortejo de Iemanjá em Areia Branca -, assim como o apoio à manutenção do Fórum das Comunidades Tradicionais de Terreiros de Matriz Afro-Ameríndia de Mossoró. Em reconhecimento, este mesmo Fórum assume, em sua carta manifesto, à defesa do Neabi”, finaliza Lucas Súllivam.

O Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé já marca o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em referência ao Massacre de Sharpeville.

Nesta data, no ano de 1960, em Joanesburgo, na África do Sul, um protesto de 20 mil pessoas acontecia contra a segregação racial da Lei do Passe, que obrigava a população negra a portar um cartão que continha os locais onde era permitida sua circulação. E mesmo tratando-se de uma manifestação pacífica, a polícia do regime de apartheid abriu fogo sobre a multidão desarmada resultando em 69 mortos e 186 feridos.

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